“Uma Faixa, Uma Rota” | Xi Jinping pede consenso que garanta sustentabilidade do projecto

Xi Jinping reafirmou, perante uma plateia que incluía 37 chefes de Estado ou de Governo, a necessidade de união de esforços para garantir uma maior interconectividade, face ao clima de instabilidade económica global que se vive actualmente

 

Por João Pimenta, da agência Lusa 

[dropcap]O[/dropcap] Presidente da China, Xi Jinping, pediu sábado aos participantes no fórum “Uma Faixa, Uma Rota” para reflectirem e alcançarem um consenso que garanta a “qualidade e resistência” dos projectos, numa altura de críticas à iniciativa.

“Sob o actual contexto global, marcado por uma situação económica complexa, crescente instabilidade e incerteza e falta de dinamismo, o fortalecimento da cooperação internacional para maior interconectividade torna-se mais significativo”, disse.

Xi Jinping lembrou que, em Dezembro passado, durante a primeira sessão do conselho consultivo da iniciativa, publicou um relatório de sugestões políticas com “opiniões valiosas” para melhorar a coordenação.

“A interconectividade é o objectivo principal da construção conjunta da ‘Faixa e Rota'”, defendeu.
Xi recordou que, na primeira edição do fórum, foi alcançado esse consenso importante para a superação dos entraves ao “desenvolvimento económico” e que serve como “força motriz para o desenvolvimento” dos respectivos países.

A cooperação nesta área já “floresce e dá frutos”, garantiu Xi, destacando a construção de autoestradas, linhas ferroviárias e portos.

O líder chinês acrescentou que a tarefa agora é “ampliar os interesses” e dar “passos sólidos” para garantir a “sustentabilidade e benefícios mútuos”.

Todos juntos

Xi Jinping inaugurou na sexta-feira o segundo fórum “Uma Faixa, Uma Rota”, no qual participam 37 chefes de Estado ou de Governo, incluindo o Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa.

Bancos e outras instituições da China estão a conceder empréstimos para projectos lançados no âmbito daquele gigantesco plano de infraestruturas.

A visão geoeconómica da China inclui uma malha ferroviária e autoestradas a ligar a região oeste do país à Europa e Oceano Índico, cruzando a Rússia e a Ásia Central, e uma rede de portos em África e no Mediterrâneo, que reforçarão as ligações marítimas das prósperas cidades do litoral chinês.

Pelo caminho, estão a ser erguidos aeroportos, centrais eléctricas e zonas de comércio livre, visando dinamizar o comércio e a indústria em regiões pouco integradas na economia global.

As palavras de Xi surgem numa altura em que críticos alertam que os planos chineses subverterão a actual ordem internacional e alargarão a esfera de influência de Pequim – os países aderentes ficarão encurralados pelo investimento chinês, tornando-se Estados vassalos, permitindo à China exportar o seu excesso de capacidade industrial ou poluição.

O presidente do Banco do Povo Chinês (banco central), Yi Gang, afirmou na sexta-feira que o país vai trabalhar para resolver a capacidade dos Estados em cumprir os seus empréstimos.

“Precisamos de avaliar objectivamente a questão da dívida dos países”, disse Yi, perante uma plateia que incluiu a directora do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde.

Os novos critérios de financiamento, definidos pelo ministério chinês das finanças e do banco central chinês, destinam-se a atrair parceiros de investimento estrangeiro, visando aliviar as preocupações quanto à capacidade dos países aderentes cumprirem com as suas dívidas.

A China deverá agora levar em conta a dívida total e a capacidade de financiamento na moeda local do respectivo país e tornar públicos os detalhes dos contratos. Lagarde considerou estas mudanças um “passo bem-vindo”.

Problemas resolvidos

Nas vésperas do fórum, Pequim resolveu algumas das disputas relacionadas projectos, que ameaçavam prejudicar a reputação da iniciativa.

A Malásia negociou uma redução equivalente a 5,4 mil milhões de dólares para a construção de uma linha ferroviária na costa leste, de 668 quilómetros de comprimento, que liga a costa ocidental do país aos estados rurais do oeste.

A Etiópia, que tem tido dificuldades em pagar um empréstimo avaliado em 4 mil milhões de dólares, contraído para construir uma ligação ferroviária entre Adis Abeba e o Djibuti, entrou também num processo de reestruturação da dívida.

No Sri Lanka, um porto de águas profundas construído por uma empresa estatal chinesa, numa localização estratégica no Índico, acabou por ser um gasto incomportável para o país, que teve de entregar a concessão da infraestrutura e dos terrenos próximos à China, por um período de 99 anos.

Lisboa quer incluir uma rota atlântica no projecto chinês, o que permitiria ao porto de Sines conectar as rotas do Extremo Oriente ao oceano Atlântico, beneficiando do alargamento do canal do Panamá.

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