Desporto“Nós sofremos mais do que eles sofrem lá” Hoje Macau - 22 Jun 2018 [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] 10 mil quilómetros de terras lusas, reformados e pensionistas, macaenses, chineses, filipinos e, claro, portugueses, entre eles o Cônsul-geral de Portugal para Macau e Hong Kong, gritaram ao mesmo tempo o golo de vitória de Ronaldo frente a Marrocos. À hora de jantar em Macau, foi mais fácil reunir os sócios e os mais idosos na sede da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC) para assistirem em clima de festa ao segundo jogo de Portugal no Mundial de futebol. A menos de um quilómetro de distância, com uma média de idades bem mais baixa, funcionários, professores e alunos do Instituto Português do Oriente (IPOR), repetiam na sede daquele organismo a presença para assistir à transmissão de um jogo que, por várias vezes, colocou à prova a ‘diplomacia desportiva’ do Cônsul-geral de Portugal para Macau e Hong Kong, Vítor Sereno, em especial durante o assédio final marroquino. Na APOMAC, macaenses, chineses, portugueses, chineses e filipinos, uma boa parte deles a envergarem a camisola de Ronaldo, ainda estavam a provar as entradas quando o inevitável Ronaldo fez o 1-0, para lhes saciar pelo menos a fome de vitórias. “Estamos aqui portugueses, chineses, macaenses, de todas as etnias, para ajudar a equipa portuguesa. (…) O desporto é muito importante para a união de todas as comunidades em Macau”, sublinhou o presidente da APOMAC e um dos organizadores do jantar, Jorge Fão. “Assim que soubemos que o horário batia certo com o jantar, fizemos umas mensagens através do telemóvel para se inscreverem”, disse, destacando naquela noite a gastronomia que, sem ser portuguesa, cozinhada sobretudo por filipinos, fundia China e Macau no mesmo prato. “É chinesa, não é portuguesa. Está a ver aqueles pratos esquisitos, mas isto é tudo macaense, até a sopinha. Mas é coisa boa”, garantiu Jorge Fão, sossegado pelo golo madrugador e pelo copo de vinho tinto que veio do Algarve. José Avelino, funcionário da associação, mostrava-se, ao intervalo do jogo, cauteloso com a exibição da selecção lusa e exultante com a hora de início da partida, 20h em Macau, 13h em Portugal. “O jogo começou às oito, é bom para o pessoal estar aqui. Somos idosos, temos de nos deitar mais cedo. A maioria tem mais de 60 anos”, ressalvou. José Mariano Rosa, outro dos sócios da APOMAC, falou com a emoção que encurta distâncias para um país que não se esquece. “O jogo começar às 20h é muito bom para nós, que estamos habituados a ver os jogos de madrugada. (…) Isto significa muito. Nós somos portugueses, somos descendentes de portugueses. Quando a selecção joga mexe com o nosso coração. Nós sofremos mais do que eles sofrem lá”, desabafou. Jogar em casa Naquela que o cônsul de Portugal em Macau denomina como “a casa de todos os portugueses”, o IPOR, registou-se “casa cheia”. Tanto na APOMAC, referiu, como “aqui [no IPOR], a 10 mil quilómetros de distância, acho que é de louvar a portugalidade que se vive, o sentimento de pertença que se vive com a selecção nacional”. O nervosismo que o fez sofrer enquanto adepto estava mais sossegado com resultado final: “temos desbravado caminhos com a diplomacia desportiva”, salientou, lembrando também que “Ronaldo é um dos melhores embaixadores de Portugal, se não o melhor, (…) conhecido na China inteira”, e deixando a suspeita de que “não há no sudeste asiático quem não o conheça”. Para Vítor Sereno, “esta foi mais uma grande noite”. “Uma noite de sorte, mas [que serviu] para contrastar com as vitórias morais que durante tantos anos tivemos e que fomos para casa agarrados aos cachecóis a chorar. (…) Eu tenho muita fé. Fernando Santos dizia em 2016 que só voltava a 13 de Julho. Eu estou com a fé de que voltamos no último jogo do campeonato”, afirmou, convicto.