Uma Comissão para o IV Centenário

[dropcap style=’circle’] O [/dropcap] s festejos para comemorar os quatrocentos anos da partida de Vasco da Gama de Lisboa para a Índia, ocorrida a 7 de Julho de 1497, passavam agora a ser para celebrar a sua chegada à costa indiana a 20 de Maio de 1498.

Para o relato das reuniões, onde por proposta do Governador Eduardo Galhardo são constituídas, primeiro uma comissão e na seguinte, as subcomissões para preparar as comemorações desse IV Centenário, socorremo-nos dos jornais, Echo Macaense, cuja primeira reunião aparece descrita a 23 de Janeiro de 1898 e no dia seguinte n’ O Independente (jornal fundado em 1867 e que já ia na quinta série, pois fora por quatro vezes interrompido e o seu director José da Silva com inúmeros processos em tribunal).

A convite do Sr. conselheiro Galhardo reuniram-se a 18 de Janeiro de 1898 no Palácio do Governo pelas duas horas da tarde os principais funcionários e cidadãos portugueses desta colónia e da comunidade chinesa, acima de cinquenta cavalheiros. Instalou-se a sessão na sala de dossel sob a presidência do Governador Galhardo, tomando assento na mesa de presidência, ficando à sua direita o Sr. juiz Ovídio d’ Alpoim e à esquerda o Sr. secretário-geral Bandeira de Lima. Expôs o presidente a finalidade da reunião e fez referência a duas circulares que o governo provincial recebeu da comissão executiva central de Lisboa para as comemorações desse IV Centenário do Descobrimento do Caminho Marítimo para a Índia. Propunha-se ali resolver a nomeação de uma comissão promotora de festejos para as celebrações em Macau.

Pediu a palavra o Sr. comendador Basto, Presidente do Leal Senado e em conciso discurso patenteou a prontidão em que estava o município para coadjuvar a S. Exa. o Sr. Governador na realização dos festejos que se pretendiam fazer para comemorar um facto histórico que tanto lustre deu a Portugal. Disse também achar conveniente que nesta festa se prestasse uma justa homenagem ao grande poeta Camões, cantor da viagem de Vasco da Gama e que a memória desta festa fosse consagrada por algum monumento duradouro. O Sr. Dr. Lourenço Marques logo deu exemplos de algumas obras e uma delas poderia ser feita, como, a continuação da Estrada da Praia Grande até à Barra, um passeio no planalto da Flora, um chafariz.

 

Comissão executiva

 

Em seguida o Sr. Bandeira de Lima propôs que o Sr. Governador formulasse a lista dos membros da comissão executiva e a apresentasse à assembleia geral para ser aprovada por aclamação; e assim se fez.

Ficou esta comissão executiva formada pelos seguintes cavalheiros: seria Presidente o Sr. Governador Eduardo Augusto Rodrigues Galhardo e vogais: Dr. Ovídio d’ Alpoim, juiz de direito; cónego Francisco Pedro Gonçalves, Governador do Bispado; Mário Pires Monteiro Bandeira de Lima, Secretário-geral; António Joaquim Basto, Presidente do Leal Senado; deão Manuel J. de Conceição Borges, Presidente do Cabido; conselheiro Arthur Tamagnini Barbosa, inspector da Fazenda; Dr. José Gomes da Silva, chefe do Serviço de Saúde; Tenente-coronel de engenharia Augusto d’ Abreu Nunes, Director das Obras Públicas; João Albino Ribeiro Cabral, professor e reitor do Liceu Nacional; Leôncio Alfredo Ferreira, procurador administrativo dos negócios sínicos; Câncio Jorge, administrador do concelho; Eduardo Marques, chefe da Repartição do Expediente Sínico; Dr. A. de Mello Alvellos [ou será Dr. Francisco de Melo Lemos e Alvellos], delegado do procurador da coroa; Capitão-tenente António Talone da Costa e Silva, Capitão do porto; Tenente-coronel Porphyrio Zeferino de Souza; João de Souza Canavarro, administrador do Concelho da Taipa; Pedro Nolasco da Silva, Dr. Lourenço Pereira Marques, Lu cau e Ho Lin-vong.

Em seguida, “o governador convidou os membros da comissão para se reunirem no dia seguinte a fim de tratar do programa dos festejos; e no entretanto apresentou à consideração da assembleia duas ideias acerca das quais queria ouvir a opinião dos cavalheiros aí reunidos, antes de propô-las à comissão executiva.

Disse ser <de justiça pagar uma dívida de gratidão ao benemérito Governador João Ferreira do Amaral, a cuja energia se deve a verdadeira autonomia de Macau, por isso propunha que entre os Festejos se incluísse a cerimónia de lançar a pedra fundamental para um monumento dedicado à sua memória e associá-lo ao nome do valente Vicente Nicolau de Mesquita, visto que aquele valente oficial salvou a cidade de uma invasão de chineses que poderia ter destruído a obra do dito governador, por isso lembrava que o mesmo monumento fosse também dedicado à memória do Mesquita>. A outra proposta era, como propusera o Presidente do Leal Senado, que <tendo sido Luís de Camões, o cantor das façanhas de Vasco da Gama, era de justiça que também nesta comemoração se prestasse homenagem ao grande poeta que imortalizou nos seus versos esta memorável viagem>, mais, <havendo em Macau a célebre gruta onde diz a tradição que o grande vate compôs parte dos seus poemas>. Aplaudida a dupla proposta, ficou resolvido tratar-se do programa no dia seguinte”, do Echo Macaense.

 

A reunião do dia seguinte

 

“A comissão, que se reuniu no dia 19, nomeou uma subcomissão de sete membros a fim de redigir o programa dos festejos e propor a forma de obter os meios necessários para a sua realização”, segundo O Independente e o Echo Macaense especifica, “Soubemos que foram nomeados para este fim os srs. António Joaquim Basto, Abreu Nunes, Tamagnini Barbosa, cónego Conceição Borges, Pedro Nolasco da Silva, António Talone da Costa e Silva e Lu cao”. E voltando ao jornal O Independente, “Esta subcomissão já assentou nos festejos a propor e na forma de se obterem os meios para se levarem a efeito, devendo em breves dias apresentar o seu relatório”. É ele apresentado e aprovado no dia 1 [para O Independente dia 2] de Fevereiro, no Palácio do Governo, aquando da reunião da comissão executiva dos festejos do centenário, onde também foram nomeadas subcomissões. Tal refere o Echo Macaense de 6 de Fevereiro de 1898, que ainda adita estar “a fábrica de cimento da Ilha Verde iluminada à luz eléctrica, podendo-se ver de Macau quatro focos bem luzentes todas as noites”.

O programa geral formulado pela comissão executiva local, na sua sessão de 2 de Fevereiro, só vem publicado n’ O Independente de 20 de Fevereiro. Assenta os dias em que se realizarão os festejos: 17, 18, 19 e 20 de Maio de 1898 e o programa de cada um desses dias, assim como refere a criação de uma pública biblioteca denominada Vasco da Gama, nome que se quer dar à avenida feita no espaço arborizado entre a Calçada do Gaio e o Monumento da Vitória. Sobre os monumentos, pretende-se colocar uma coroa de bronze no busto de Camões e erguer, em memória de Ferreira do Amaral e Mesquita, um obelisco, que será colocado sobranceiro ao passeio da Bela Vista e para custeá-lo promover-se-á uma subscrição em Macau e entre os portugueses estabelecidos em Hong Kong e nos portos da China, Japão e Indochina”.

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