Notas de fim de ano

[dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]á fui acusado (isso mesmo, acusado!) no passado de “não gostar da Tailândia” – assim como também já fui acusado de não gostar dos U2, ou dos Black Eyed Peas. Há de tudo. Ora bem, este ano, e pela primeira vez na vida, fui passar o Natal à Tailândia. E gostei, como gosto sempre, mas isto não muda aquilo que penso que está mal com este país, que para os portugueses que residem em Macau é o equivalente a passar férias no Algarve. E não falo só do facto de ser mais fácil encontrar uma prostituta em Bangkok do que uma zona para fumadores. É todo o resto, desde ao trânsito à poluição e à sujidade, passando pelos motoristas de táxi e de tuk-tuk, para quem cada turista é um pato. Mas foi bom, e seria sempre melhor do que nada. Ou que ficar em Macau.

Num outro prisma, em Portugal, a indignação natalícia teve a ver com que uma tal Padaria Portuguesa dispôs do Bolo Rei que não conseguiu vender, acomodando-o num caixote de lixo em frente a uma das suas lojas. A imagem dos bolos reis a transbordar do lixo correu o país de lés a lés, e causou a revolta de quem achou – e bem – de que não se faz isto com a comida; é um insulto aos pobres.

O problema é que nem os pobres devem gostar de Bolo Rei. Contam-se pelos dedos de uma mão as pessoas que conheço que gostam daquele pão seco, e ainda menos as que apreciam as frutas cristalizadas que o decoram. Mas eu gosto, e só até capaz de comer duas fatias no mesmo dia, e guardar o resto para comer torrado com manteiga e um chá nos dias que se seguem, contando que sejam frios, tristes e chuvosos. Mas uma vez que este é um cenário que nem sempre se proporciona, que tal substituir o bolo rei autêntico por uma imitação, de plástico, ou melhor ainda, de loiça? Já que ninguém o come, e assim evitava-se o desperdício.

E a ceia de Natal? Ora bem, neste aspecto assisti a discussões acesas sobre qual deve ser o prato principal na consodada, com as opiniões a dividirem-se entre o peru e o bacalhau. Eu gosto dos dois, e como não se trata aqui da “Escolha de Sofia”, não tenho preferência de um pelo outro – não me sinto com vontade de comer bacalhau quando há só peru, nem vice-versa. Entretanto parece que há quem prefira borrego assado no forno, ou em algumas regiões do norte e do interior, polvo. Sim, polvo, o molusco cefalópode, e descobri que há quem considere comer polvo pela consoada como algo de “provinciano”, ou “rústico”, e li ainda comentários do tipo “o que tem o polvo a ver com o Natal”? Provavelmente tanto quanto o Menino Jesus ou o Pai Natal têm a ver com perus e bacalhaus.

Discussões fúteis, estas, a da quadra natalícia. Parece que nos esquecemos que no mundo existe quem seja capaz de matar por uma sandes de mortadela, para enganar a fome. E depois esquecemo-nos daquilo que é mais importante do que a ementa da Consoada: com quem a passamos. O preferível será sempre que seja junto daqules que consideramos mais queridos e mais próximos de nós, e longe dos “diabos” que nos aparecem pela frente durante o resto do ano. Na Tailândia vi estrangeiros a jantar sozinhos na véspera de Natal, ou outros ainda cuja única companhia era uma “providenciadora de afectos profissional” (para não repetir a palavra “prostituta”). Sorte tem quem passou o Natal em boa companhia, independentemente do animal falecido sobre a mesa.

Para todos os leitores do Hoje Macau, um excelente final de 2017, e boas entradas no ano de 2018. Com ou sem Bolo Rei.

28 Dez 2017

Perfil no Wechat servirá bilhete de identidade oficial

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] governo de Cantão, no sul da China, iniciou um projecto para que a aplicação de telemóvel Wechat sirva para identificar os utilizadores, como um passaporte ou bilhete de identidade. De acordo com o diário “South China Morning Post”, o projecto experimental iniciado esta semana vai estender-se em poucos dias à província de Guangdong, uma das mais prósperas do país, havendo também a intenção de a testar a nível nacional a partir de Janeiro.

Através da tecnologia de reconhecimento facial, em grande desenvolvimento na China, o passaporte ou bilhete de identidade virtuais poderão ser usados para fazer registos em hotéis ou aceder a determinados serviços de instituições oficiais sem necessidade de um documento de identificação convencional.

O projecto foi desenvolvido pelo Ministério de Saúde Pública e o gigante electrónico Tencent, dono do Wechat. A consolidar-se o uso do Wechat como documento de identidade, a aplicação, com perto de mil milhões de utilizadores, sobretudo no interior da China, ganhará ainda mais relevância.

Criado em 2011 como um serviço de mensagens instantâneas similar ao Whatsapp, o Wechat tornou-se na rede social mais popular do país, ao incluir, pouco tempo depois, um serviço de “microblogs” semelhante ao Twitter, uma vez que tanto este, como o Whatsapp estão bloqueados pelo regime chinês.

Além disso, nos últimos anos, o Wechat incluiu um sistema de pagamentos electrónicos que se popularizou tanto entre vendedores como compradores da China, ao ponto de muitos cidadãos da segunda economia mundial terem praticamente deixado de utilizar dinheiro em numerário.

28 Dez 2017

Hato | Reparo de estragos custa mais de 14 milhões

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] empresa Lei Ka Chi Construtor Civil será a responsável pelas “Obras de Manutenção e Reparação Emergentes das Instalações Danificadas pelo Tufão “Hato”, recebendo por esse projecto mais de 14 milhões de patacas, a serem pagas até ao próximo ano. As informações constam num despacho publicado ontem em Boletim Oficial.

Arquitectos portugueses desenham edifício da PSP

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] empresa Luís Sá Machado, Conceição Perry & Isabel Bragança — Arquitectos, Limitada foi a escolhida para desenvolver o projecto da “Empreitada de Construção do Novo Edifício de Comando do Corpo de Polícia de Segurança Pública e Unidade Táctica de Intervenção Policial na Zona E1”, localizada nos novos aterros. Segundo o despacho publicado ontem em Boletim Oficial, o Governo vai pagar ao atelier quase 26 milhões de patacas, um valor a ser pago gradualmente até 2022.

Seac Pai Van | Escolas custam quase 800 milhões

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo adjudicou ao consórcio composto pela Companhia de Decoração San Kei Ip, Limitada e Sociedade de Construção e Engenharia — Grupo de Construção de Xangai — SCG (Macau) a “obra de construção dos edifícios escolares e instalações educativas” num dos lotes do complexo de habitação pública de Seac Pai Van, em Coloane. Por este projecto, a realizar até 2019, o Executivo vai pagar quase 800 milhões de patacas, aponta o despacho publicado ontem em Boletim Oficial.

Israel : Ministro propõe estação ferroviária “Donald Trump”

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] ministro dos Transportes israelita defende a extensão da linha ferroviária de alta velocidade até à zona de Kotel, Jerusalém, onde quer construir uma estação com o nome “Donald Trump”. O ministro propôs que a estação venha a ter o nome do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que reconheceu Jerusalém como capital de Israel. O porta-voz do ministro dos Transportes, Avner Ovadia, disse que o projecto vai custar mais de 700 milhões de dólares e vai demorar quatro anos a construir, caso venha a ser aprovado. Segundo a Associated Press é provável que o projecto venha a ser contestado pela “comunidade internacional” que não reconhece a soberania de Israel sobre Jerusalém Ocidental. Entretanto, a construção da linha ferroviária de alta velocidade entre Telavive e Jerusalém deve estar concluída durante a primavera de 2018.

Governo britânico perde milhares de documentos

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]ilhares de documentos oficiais do Governo britânico, alguns deles com informações sensíveis sobre episódios controversos da história do Reino Unido do século XX, desapareceram dos Arquivos Nacionais, noticiou o jornal The Guardian. Segundo o diário britânico, entre o material desaparecido figuram documentos sobre a Guerra das Malvinas ou sobre o conflito na Irlanda do Norte. O The Guardian salienta que os documentos foram levados dos Arquivos Nacionais por funcionários do executivo britânico para Whitehall (edifícios governamentais), dando, posteriormente, conta do desaparecimento. Outra documentação que não foi possível recuperar, acrescenta o jornal, contém dados sobre o mandato colonial britânico da Palestina, provas da vacina contra a poliomielite ou sobre a disputa territorial mantida entre o Reino Unidos e a Argentina sobre as Malvinas (ou Falkland).

28 Dez 2017

Criado mecanismo de cooperação com Paquistão e Afeganistão

Aliança com Paquistão e Afeganistão não visa isolar a Índia

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s ministros dos Negócios Estrangeiros da China, Paquistão e Afeganistão realizaram na terça-feira a sua primeira reunião tripartida focados em alcançar um consenso em temas como economia, segurança regional e conectividade. O MNE anfitrião, Wang Yi, pretendia neste encontro “promover também a reconciliação e criar confiança entre seus outros dois interlocutores, cujos países mantêm tensões por um diferendo territorial” revelou a Xinhua.

A realização do encontro foi decidida em Junho passado, quando os MNE dos três países decidiram estabelecer um mecanismo de cooperação para analisar questões de interesse comum.

Como preâmbulo, Wang recebeu o seu homólogo afegão, Salahuddin Rabbani, e pediu que aproveitasse a reunião desta terça-feira para abrir o caminho ao entendimento e à normalização das relações com o Paquistão. Também conversaram sobre as possibilidades de ampliar a colaboração através do projecto económico Uma Faixa, Uma Rota.

Índia não deve temer

O novo mecanismo de cooperação e desenvolvimento lançado pela China com os vizinhos Paquistão e Afeganistão “não é dirigido contra países terceiros”, disse ontem o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, perante receios de que a estratégia vise isolar a Índia.

“Não é dirigido contra terceiros, inclusivamente queremos que beneficie outros países”, disse em conferência de imprensa a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, indicando que “é bastante normal que a China, Paquistão e Afeganistão mantenham diálogo e cooperação”.

Os ministros dos Negócios Estrangeiros dos três países reuniram-se na terça-feira em Pequim para lançar um mecanismo de cooperação conjunta e estudar a inclusão do Afeganistão no Corredor Económico China-Paquistão, uma iniciativa que inclui planos de infra-estruturas e transporte avaliados em cerca de 57.000 milhões de dólares.

O Paquistão e o Afeganistão “são vizinhos da China e têm grandes desejos de melhorar as suas economias e a vida dos seus cidadãos”, disse a porta-voz.

Os planos de cooperação internacional com esses países estão integrados nas Novas Rotas da Seda, grande plano de infra-estruturas e telecomunicações da China com a Eurásia e outras regiões.

Pequim e Nova Deli mantêm há décadas uma relação complicada, pelas mútuas reclamações fronteiriças, mas também por questões como o conflito tibetano, dados que o Dalai Lama, líder espiritual daquele povo, vive no exílio de Dharamsala (norte da Índia) desde 1959.

28 Dez 2017

Bienal de Arquitectura | Escolhida equipa para representar Macau em Veneza

O território será representado na 16ª edição da Bienal de Arquitectura de Veneza com um projecto dos arquitectos Ieong Chong Tat, Vong Ka Ian e Chu Hou San e com curadoria de Lam Manuel Lap Yan. O desenvolvimento de Macau nos últimos anos será peça central do projecto

 

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma equipa jovem, com uma média de idades de 30 anos, e que trabalha em Macau. Assim se pode falar dos nomes por detrás do projecto que vai representar Macau na 16ª Bienal de Arquitectura de Veneza, a realizar-se em Maio do próximo ano.

Ieong Chong Tat, Vong Ka Ian e Chu Hou San são os arquitectos responsáveis pelo projecto, que tem a curadoria de Lam Manuel Lap Yan. A equipa foi escolhida por um júri composto por alguns arquitectos, um deles Carlos Marreiros, que analisou as diversas propostas a partir de Outubro. O Instituto Cultural e a Associação dos Arquitectos de Macau foram duas entidades envolvidas neste processo.

O tema deste ano da bienal é “Espaço Livre”, que engloba “imaginação, períodos e memórias de liberdade, pegando em ligações do passado, presente e futuro para unir o antigo com o moderno, tendo por base aspectos culturais que advém de tradições continuadas”.

Nesse sentido, a equipa vencedora decidiu materializar no projecto o desenvolvimento que o território vivenciou nos últimos anos.

Os arquitectos escolheram “propositadamente como elemento base do seu projecto a ‘carta de jogar’, um símbolo do rápido desenvolvimento económico de Macau”.

“Através de diferentes conjugações e formatos da ‘carta de jogar’ e de técnicas abstractas, revelam construções ricas em características locais e que estão numa relação próxima com os residentes, como mercados, jardins e escadarias, entre outros. No processo de exploração e reconstrução, é possível experienciar de novo o espaço local, reflectir sobre a relação harmoniosa que se estabelece entre pessoas e espaço, desafiar planos e os limites da autonomia e explorar um equilíbrio interactivo”, explica o comunicado.

Uma questão de maturidade

Os elementos do júri consideraram que o projecto apresentado pela equipa vencedora “faz uso de características da cidade de Macau e incorpora elementos com valor cultural, revelando uma imagem de Macau de forma perceptual e apresentando o tradicional de uma nova forma, tendo por isso bastante interesse e unicidade”.

Além disso, “a equipa vencedora mostrou-se merecedora de ser seleccionada por ter ainda revelado bastante maturidade a nível da linguagem e representação arquitectónicas bem como a capacidade de destacar as características culturais de Macau”, aponta o comunicado.

A Bienal de Arquitectura de Veneza realizou-se pela primeira vez em 1980 e é um dos eventos de arquitectura e dos círculos académicos mais influentes do mundo, constituindo uma plataforma importante de intercâmbio cultural e de arquitectura. Desde 2014 que o IC já organizou a participação por duas vezes de arquitectos locais a este grande evento.

28 Dez 2017

Xadrez : Campeã mundial recusa jogar na Arábia Saudita

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] ucraniana Anna Muzychuk, de 27 anos, é dupla campeã mundial de xadrez. A sua irmã, Mariya Muzychuk, dois anos mais nova, seguiu-lhe os passos. E não apenas no desporto, mas também nas convicções. Entre 26 e 30 de Dezembro realiza-se o campeonato mundial de xadrez na Arábia Saudita e as irmãs não vão estar presentes: recusam-se a usar uma veste feminina saudita, a abaya [túnica larga].
Num post no Facebook, partilhado a 23 de Dezembro, a campeã explicou o motivo da decisão. “Em poucos dias vou perder dois títulos mundiais, um a um. Apenas porque decidi não ir à Arábia Saudita. Por não jogar com as regras de outros, por não usar abaya, por não ter de ir acompanhada à rua, e finalmente por não me sentir uma criatura secundária”, lê-se.
Na imagem partilhada, Anna surge com as duas medalhas recebidas o ano passado, sorridente. “Há exactamente um ano ganhei estes dois títulos e era a pessoa mais feliz no mundo do xadrez, mas agora sinto-me muito mal. Estou preparada para lutar pelos meus princípios e faltar a este evento, onde, em cinco dias, esperava ganhar mais do que numa dezena de competições”, refere a campeã.
Contudo, a publicação serve principalmente para marcar uma posição, demonstrando as diferenças existentes entre os vários países, no que toca às mulheres. “Tudo isto é irritante, mas o mais perturbador é quase ninguém se importar realmente. Este é um sentimento amargo, mas ainda não é o que vai mudar a minha opinião e os meus princípios. O mesmo vale para a minha irmã Mariya — e estou muito feliz por partilharmos este ponto de vista. E sim, para aqueles poucos que se importam — vamos voltar!”
Esta não é, contudo, a primeira vez que uma jogadora se nega a participar numa competição por motivos de vestuário feminino dos países em questão, conta o El País.
Em Fevereiro de 2017, Nazi Paikidze, campeã americana, não competiu no Irão por se recusar a cobrir a cabeça com o hijab [véu islâmico]. Neste campeonato, Anna Muzychuk esteve presente e competiu de véu na cabeça. Em Outubro, Dorsa Derakhshani, campeã de xadrez iraniana, foi proibida de jogar pelo seu país por também recusar o véu islâmico, passando depois a jogar pelos Estados Unidos.
No passado mês de Novembro, quando Anna soube do campeonato na Arábia, marcou a sua posição, defendida agora. “Primeiro Irão, depois Arábia Saudita… Pergunto-me onde serão organizados os próximos campeonatos mundiais femininos. Apesar do recorde de títulos, não vou jogar em Ryad, o que significa perder dois títulos de campeã mundial. Para arriscar a tua vida, para usar abaya o tempo todo? Tudo tem os seus limites e os véus no Irão já foram mais do que suficientes”.
A publicação desta semana já foi partilhada mais de 6 mil vezes e são muitos os comentários de apoio às irmãs. Até ao momento não há qualquer reacção por parte da organização do Campeonato do Mundo de Xadrez, que apenas refere no seu site que o campeão mundial masculino, o norueguês Magnus Carlsen, estará presente nos torneios. A FIDE, Federação Mundial de Xadrez, também não se manifestou quanto ao sucedido, publicando apenas no Twitter a indicação dos sorteios femininos.

28 Dez 2017

Instituto Internacional de Macau: Henrique d’Assumpção ganha Prémio Identidade

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s órgãos sociais do Instituto Internacional de Macau deliberaram atribuir o Prémio Identidade do ano de 2017 a Henrique d’Assumpção, mais conhecido por Quito entre os amigos, pela sua muito relevante contribuição para a preservação do património e da identidade macaense, disseminando a sua genealogia, história e cultura, no espaço cibernético, em Português e Inglês.

Natural de Macau, donde jovem partiu para prosseguir estudos na Austrália, “Quito” d’Assumpção desempenhou funções de relevo no Governo daquele País, com uma invejável folha de serviços e vários títulos e comendas honoríficas. Depois de se ter aposentado da vida académica como Professor Emérito da Universidade de South Australia, passou a dedicar-se de corpo e alma, nos últimos 20 anos, a criar um repositório permanente para a preservação de registos culturais e históricos dos macaenses e, apesar dos seus outros inúmeros compromissos profissionais e oficiais, conseguiu recolher e disponibilizar um grande acervo de dados.

Ampliando a documentação existente sobre a genealogia das famílias macaenses, enriquecendo-a com milhares de fotografias e variadas outras informações, coligindo mais de 200 receitas da culinária macaense, reunindo versos, um léxico e áudio do velho dialecto de Macau; logrou digitalizar esses elementos numa plataforma electrónica com documentação biográfica relativa a mais de 55.000 nomes, e preparou o desenvolvimento dessa base “indefinidamente para o futuro”, sem perseguir fins pessoais e num esforço digno dos maiores encómios.

O Prémio Identidade, instituído desde 2003, decidido por deliberação de todos os órgãos sociais do IIM, visa galardoar pessoas ou instituições que, de forma continuada, hajam contribuído para o reforço e valorização da identidade macaense. Entre os contemplados incluem figuras como o Monsenhor Manuel Teixeira, Henrique de Senna Fernandes, Arnaldo de Oliveira Sales, e instituições, tais como a Diocese de Macau, a Santa Casa da Misericórdia, a Universidade de Macau, a Escola Portuguesa de Macau e outros organismos, locais e do exterior, ligados à diáspora macaense.

28 Dez 2017

Trabalho | Macau com mais 595 trabalhadores não residentes 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]té ao final do mês passado, trabalhavam Macau 178.492 não residentes contratados, ou seja, mais 595 trabalhadores do que no ano passado, de acordo com dados oficiais. Em termos mensais, a RAEM registou mais 1.823 trabalhadores não residentes, de acordo com dados da Polícia de Segurança Pública (PSP), publicados no portal na internet da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais.

A China continua a ser a principal fonte de mão-de-obra importada de Macau, com 111.727 trabalhadores (62,5 por cento do total), mantendo uma larga distância das Filipinas, que ocupa o segundo lugar (28.377), seguindo-se o Vietname (14.835). Os sectores da hotelaria e restauração absorvem a maior fatia de mão-de-obra importada (50.531), seguido do da construção (30.727).

As actividades culturais e recreativas, lotarias e outros serviços agrupavam 13.661 trabalhadores do exterior, dos quais 942 eram trabalhadores da construção civil contratados directamente pelas empresas de lotarias e outros jogos de apostas. A mão-de-obra importada equivalia a 45,6 por cento da população activa e a 46,5 por cento da população empregada, estimadas no final de Outubro.

Os trabalhadores não residentes ultrapassaram os 100 mil pela primeira vez na história da Região Administrativa Especial chinesa em 2008. No final de 2000, Macau contava com 27.221 trabalhadores não residentes, em 2005 com 39.411, em 2012 com 110.552, em 2014 com 170.346, em 2015 com 181.646, e em 2016 com 177.638. Apesar de perfazerem mais de um quarto da população de Macau (27,2 por cento dos 648.500 habitantes estimados no final de Setembro), os trabalhadores não residentes não contam com um mandatário formal no seio da Concertação Social. A ala laboral tem assento, mas a situação dos trabalhadores não residentes difere da dos locais, sendo regulada por uma lei específica.

28 Dez 2017

Creches | Governo tem plano pioneiro para os próximos cinco anos

O Instituto de Acção Social apresentou ontem o primeiro plano do Executivo para o desenvolvimento de creches no território. Com uma aplicação em cinco anos, o Governo pretende garantir o aumento do número de vagas, da qualidade das creches locais e uma formação especializada com mais docentes e funcionários qualificados

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] primeiro plano de desenvolvimento de creches foi ontem dado a conhecer pelo Instituto de Acção Social (IAS). A iniciativa prevê duas etapas a serem executadas entre 2018 e 2022 de modo a garantir o desenvolvimento dos serviços e aumentar de forma sustentável o número de vagas nas creches subsidiadas de Macau.

Numa primeira fase, chamada de preliminar, para ser implementada nos primeiros dois anos, o IAS pretende criar cinco creches apoiadas pelo Governo. O objectivo, afirma o documento oficial, é “aumentar para 52 por cento a proporção das vagas dos serviços de apoio às crianças com idade inferior a três anos”.

Já na segunda fase, que compreende os três anos que vão de 2019 a 2022, o IAS pretende continuar a alargar o número de creches de modo a chegar aos 55 por cento da proporção das vagas.

Vagas para a maioria

As crianças com idade inferior aos dois anos são o principal foco do plano apresentado ontem, sendo que está previsto um número total de 7000 vagas nos primeiros dois anos de implementação da iniciativa.

Para o ano vai ser ainda criado um sistema que dá prioridade de entrada nos estabelecimentos subsidiados pelo Executivo às crianças consideradas em situação vulnerável. Para o efeito vão ser “efectuadas uma revisão e uma alteração das directrizes sobre os procedimentos de admissão”.

Na segunda fase, este sistema será alvo de análise e dos devidos ajustes considerados necessários.

Os funcionários destes estabelecimentos também são considerados no documento e, de acordo com o IAS, vão ser formados, na fase preliminar, 40 docentes qualificados. Paralelamente vão ser criados cursos de formação para os funcionários, assistentes e cuidadores. O objectivo é aumentar para 35 por cento a proporção de pessoal com formação.

Na segunda fase, o Governo quer aumentar esta proporção para os 70 por cento e elaborar manuais de funcionamento uniformizados.

28 Dez 2017

Macau já recebeu mais de 29,5 milhões de visitantes 

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]ntre Janeiro e Novembro deste ano, o número de turistas que visitaram Macau subiu 5,1 por cento, de acordo com dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), para um total superior a 29,5 milhões de pessoas. Sem surpresas, a larga maioria dos turistas são oriundos do Interior da China, 20,1 milhões, representando um crescimento de 7,8 por cento em relação ao período homólogo do ano transacto.

O país de proveniência de turistas que cresceu mais entre Janeiro e Novembro foi a Coreia do Sul, que subiu 34,7 por cento para um total de 797.112 visitantes. Os turistas provenientes de Hong Kong e Taiwan diminuíram, respectivamente, 3,8 por cento e 0,8 por cento nos primeiros 11 meses deste ano, em relação ao período homólogo de 2016. Até Novembro vieram da região administrativa especial vizinha 5,5 milhões de turistas, enquanto que os visitantes de Taiwan totalizaram 971.516.

Fora dos países asiáticos, a DSEC revela que os turistas provenientes dos Estados Unidos foram 168.633, da Austrália foram 79.528, do Canadá chegaram 67.103 visitantes, enquanto que os turistas oriundos do Reino Unido se ficaram pelos 52.622. Só no mês de Novembro chegaram a Macau 2,83 milhões de visitantes, mais 9,4 por cento, em termos anuais e menos 1,4 por cento em termos mensais. É de referir que Macau foi o destino escolhido por mais de 30 milhões de visitantes em 2016.

28 Dez 2017

Nam Yue vai demolir antigo mercado abastecedor

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stá escolhida a empresa que será responsável pela obra de demolição do antigo mercado abastecedor da Ilha Verde, com vista à construção do novo acesso fronteiriço Guangdong-Macau. De acordo com o despacho publicado ontem em Boletim Oficial, foi escolhida a Nam Yue, que vai receber dos cofres do Governo mais de 18 milhões de patacas, a serem pagas até ao próximo ano. O novo mercado abastecedor foi recentemente inaugurado, também na zona da Ilha Verde.

Além da passagem fronteiriça, o projecto inclui um parque industrial, onde fica o novo mercado abastecedor, uma reordenação do Canal dos Patos (onde se juntam as águas residuais de Macau e Zhuhai), um centro modal de transportes e um mega complexo de habitação pública, a nascer na zona da Ilha Verde, com ligação directa ao posto fronteiriço.

Este projecto implica a cooperação com as autoridades de Zhuhai, Zona Económica Especial chinesa vizinha de Macau e, por esse motivo e dada a sua dimensão, vai implicar custos avultados.

“Vamos ter em consideração as exigências dos utentes, o custo dos materiais e a sua previsão de subida. O montante a ser investido é astronómico e implica cooperação entre os governos das duas regiões. Mas vamos utilizar com racionalidade o erário público”, disse Chau Vai Man em 2014, durante uma sessão de perguntas e respostas ao Executivo na Assembleia Legislativa.

28 Dez 2017

Habitação Pública | Governo vai gastar mais de 12 milhões em reparações

O Governo vai investir mais de 12 milhões de patacas em obras nos complexos de habitação pública da Ilha Verde e do Fai Chi Kei. Apesar dos edifícios de habitação pública terem apenas três anos, serão alvo de reparações e melhorias a serem realizadas nos próximos meses

 

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oram adjudicadas pelo Chefe do Executivo empreitadas para melhorias e reparações nos lotes 1 e 2 de habitação pública no bairro da Ilha Verde e nos lotes E e F, situados na zona do Fai Chi Kei. De acordo com um despacho publicado ontem em Boletim Oficial (BO), o consórcio composto pela Companhia de Engenharia e de Construção da China (Macau), Limitada e pela Companhia de Construção de Obras Portuárias Zhen Hwa, Limitada vai receber mais de 2.7 milhões de patacas para o projecto na Ilha Verde.

No que diz respeito à obra no Fai Chi Kei, a Companhia de Fomento Predial Sam Yau vai receber quase nove milhões de patacas do Governo para fazer os trabalhos de reparação.

As obras têm lugar pouco mais de dois anos depois de terem sido terminados os edifícios de habitação pública daquelas duas zonas. Em 2009 o Governo anunciava a conclusão da segunda fase da Habitação Social do Fai Chi Kei para Setembro desse ano, com um total de 884 fracções, e composto por duas torres,

No entanto, só em Julho de 2015 é que o Gabinete para o Desenvolvimento das Infra-estruturas (GDI) anunciava a conclusão das mesmas. “Relativamente à construção da habitação pública no Fai Chi Kei e no Lote 3 do Bairro da Ilha Verde, estará concluída este ano e será entregue aos serviços de habitação”, garantiam ao HM.

No caso da Ilha Verde, o início das obras era prometido pelo Executivo para 2012, nomeadamente para os Lotes 1 e 2 para que viessem a albergar 3126 famílias, sem no entanto se saber o seu fim.

Ainda em 2012 era anunciada a conclusão de dois dos quatro projectos de habitação publica em atraso para esse mesmo ano e que tinham por objectivo as 19 mil fracções prometidas há anos pelo Governo.

Má qualidade generalizada

Os deputados à Assembleia Legislativa têm levantado vozes acerca da qualidade da construção de habitação pública no território, e os vários projectos do sector têm sido alvo de questões colocadas ao Governo.

Ho Ion Sang é um dos tribunos que mais tem insistido na necessidade de uma fiscalização apertada neste tipo de projectos. Em Fevereiro deste ano, o deputado, perante as queixas dos moradores relativamente ao mau estado de alguns edifícios de habitação pública, lembrava as palavras do Governo que dizia seguir as normas do Regulamento Geral da Construção Urbana.

No entanto, de acordo com Ho Ion Sang, o diploma está desactualizado e em vigor há mais de 30 anos, sendo que “não consegue dar resposta às necessidades actuais”, referia.

A desactualização do documento era admitida pelo Executivo já em 2009, e a sua actualização estava prevista nas Linhas de Acção Governativa deste ano.

Sem regras adaptadas à actualidade, Ho Ion Sang alerta para os riscos de segurança e qualidade das obras feitas até à data e que tiveram como base o regulamento em causa.

Em Maio, Ho Ion Sang voltava à carga com os problemas registados nas obras de habitação pública. O deputado dava como exemplo o projecto de Seac Pai Van em que os habitantes se queixavam de varandas enferrujadas. Perante as queixas, o Instituto da Habitação recordou que já tinham sido passados dois anos do final da construção pelo que as despesas com reparações teriam de ser sustentadas pelos inquilinos. No entanto, para o tribuno, três anos é um período de tempo muito curto para os edifícios começarem a degradar-se.

Já o Edifício do Lago, na Taipa, foi alvo de interpelação na passada terça feira por parte do deputado Leung Sun Iok que alertava para a necessidade de fiscalização dos projectos de habitação pública. Desta feita, está em causa o mau estado daquelas instalações “com azulejos partidos e tijolos deslocados que representam perigo para os residentes”.

28 Dez 2017

Orçamento | Deputados querem mecanismo para controlar dinheiros públicos

A criação e um mecanismo responsável por uma boa gestão dos dinheiros públicos é a sugestão de Song Pek Kei e de Si Ka Lon. Para os deputados, o orçamento tem de ser gerido com rigor e sem despesas desnecessárias

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Orçamento de 2018 atinge o montante das 109,6 mil milhões de patacas, mas, de acordo com a deputada Song Pek Kei, a população está preocupada com o destino dos dinheiros públicos, nomeadamente se serão utilizados estrategicamente e tendo em conta as necessidades dos residentes. De modo a garantir o controlo dos gastos a deputada defende a criação de um sistema de avaliação de caráter científico com o objectivo de monitorizar e fazer o melhor aproveitamento possível dos dinheiros públicos.

Em interpelação escrita, a deputada revela que revela que dentro das cinco tutelas do Executivo, há uma diferença muito grande no que diz respeito às despesas do orçamento. De acordo com Song Pek Kei, a área de assuntos sociais e cultura contabiliza a maior despesa do orçamento total, que atingiu 190 milhões patacas em 2016, e será reduzida, em 2018, para 86 milhões de patacas. Esta situação, afirma a deputada, faz com a população duvide do rigor orçamental.

Apesar do Governo destacar que tem cumprido o princípio da manutenção das despesas dentro dos limites das receitas, a deputada manifesta-se preocupada por não existir um mecanismo transparente e científico para a gestão do orçamento do Governo. Por outro lado, Song Pek Kei duvida que o Governo consiga ter um bom planeamento para a distribuição dos dinheiros públicos.

De modo a mudar a situação, a deputada questiona a Direcção dos Serviços de Finanças acerca da intenção de criar o mecanismo capaz de fazer uma boa gestão financeira do território.

Song Pek Kei desafio ainda o Governo a criar um outra estrutura. Desta feita com o objectivo de avaliar a eficiência das despesas.

Cinto apertado

Já o deputado Si Ka Lon, em declarações ao Jornal do Cidadão, sublinhou a necessidade de rigor na gestão do orçamento do território. Para o deputado há que manter esforços no sentido de reduzir as despesas e aumentar as receitas. Si Ka Lon vai mais longe e recorda as medidas de controlo que o Governo fez no passado, admitindo que deveriam voltar a ser aplicadas actualmente.

Tal como Song Pek Kei, Si Ka Lon sugere a criação de um mecanismo regulador das despesas do Governo de forma a garanti !uma boa utilizaçãoo de fundos”.

De acordo com a mesma fonte, Si Ka Lon alerta para os gastos crescentes do Executivo nomeadamente com “a adjudicação de serviços e aumento na contratação do pessoal na função pública”.

Relativamente à contratação de funcionários públicos, o deputado exige definir limites no orçamento, baseados na economia local. O objectivo, afirma, é “restringir as despesas dos serviços públicos na contratação de trabalhadores.

Ainda assim, Si Ka Lon defende o uso dos dinheiros públicos para a área social e volta a defender a criação de um seguro medico universal.

28 Dez 2017

Obras | José Chui Sai Peng ganha concurso para instalações na nova prisão

A empresa de José Chui Sai Peng ganhou o concurso público para o planeamento das instalações anexas da nova prisão, um equipamento cuja construção está a cargo da empresa de outro deputado, Mak Soi Kun

 

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]uito se fala na fiscalização dos gastos públicos na Assembleia Legislativa (AL) e na forma como o Governo deve controlar as despesas financiadas pelo erário público. Mas o que dizer quando deputados que devem fiscalizar as despesas do Executivo são eles próprios credores dessas despesas?

A empresa do deputado e primo do Chefe do Executivo José Chui Sai Peng, a CAA, Planeamento e Engenharia, Consultores Limitada, ganhou recentemente o concurso para a elaboração do projecto de instalações ao ar livre anexadas ao novo Estabelecimento Prisional de Macau. O contrato no valor de 3,9 milhões de patacas tem prazo de conclusão até 2019.

Durante a presença Wong Sio Chak na AL para apresentação das Linhas de Acção Governativa para Segurança, levantou-se a questão de quando o estabelecimento prisional estaria pronto. Uma pergunta à qual Mak Soi Kun respondeu que iria fazer os possíveis para acelerar a obra. O deputado estava numa posição privilegiada para incrementar o andamento da construção uma vez que a sua empresa, a Sociedade de Engenharia Soi Kun, Limitada, está encarregue da obra. A segunda fase das obras estão previstas serem finalizadas até ao final de 2019 e vão custar aos cofres do Executivo mais de 1055 milhões de patacas.

Esta é uma das infra-estruturas que teima em ser concluída. Assim como o Hospital das Ilhas e o Metro Ligeiro, duas das promessas de longa data onde a empresa de José Chui Sai Peng também está envolvida.

No ano passado, o concurso para a gestão e fiscalização da obra do Complexo Hospitalar das Ilhas foi ganho pela AECOM, uma empresa de Hong Kong, que viria a convidar a CAA como parceira do projecto. O valor do contrato fixou-se nos 197 milhões de patacas e prevê-se que a obra esteja pronta em 2019.

Dezenas de concursos

Através de uma simples busca no Boletim Oficial, pode-se apurar que a empresa do primo do Chefe do Executivo venceu 42 concursos públicos para obras desde 2003. Por uma questão de foco, concentrámo-nos nos contratos referentes a 2017, deixando para trás, por exemplo, a construção do segmento do Cotai da 1.ª Fase do Metro Ligeiro e a construção do segmento dos Postos Fronteiriços da Taipa da 1.ª Fase do Sistema de Metro Ligeiro. Estes contratos, de 2015, são de um valor superior a 28 milhões de patacas.

O conjunto de contratos deste ano da CAA, Planeamento e Engenharia, Consultores Limitada atingiram os 22,91 milhões de patacas. Neste bolo está incluído o estudo para a optimização dos cruzamentos com semáforos (Zona Central e Zona de Ferreira de Almeida), as obra de reconstrução da Sede do Instituto de Habitação, a mais avultada deste ano no valor de mais de 11,5 milhões de patacas.

As outras obras já contratadas são o projecto de reparação das Portas do Entendimento e a 5.ª prorrogação da fiscalização da construção do segmento do Cotai da 1.ª Fase do Sistema de Metro Ligeiro e do Segmento dos Postos Fronteiriços da Taipa da 1.ª Fase do Sistema de Metro Ligeiro. Além disso, a empresa de José Chui Sai Peng foi escolhida para proceder à obra de reconstrução do Mercado do Patane, um despesa ainda sem valor publicado em Boletim Oficial.

Mak, o construtor

O candidato mais votado nas eleições directas à AL, Mak Soi Kun, não celebrou contratos novos para obras públicas este ano, mas tem em mãos um dos mais custosos projectos em curso, a construção da nova prisão, uma obra com um custo previsto de mais de 1055 milhões de patacas. 

Outra das construções de maior vulto é a habitação pública na zona de Tói San, uma obra em consórcio com a Companhia de Construção e Engenharia Civil China, Limitada/Sociedade de Engenharia Soi Kun, Limitada/Tat Cheong — Companhia de Construção e Engenharia, Limitada. A adjudicação foi publicada em Boletim Oficial em Outubro de 2011, com um valor de quase 464 milhões de patacas. O projecto sofreu sucessivos atrasos devido às características geológicas do terreno onde estava projectado e começou a ser construído apenas este ano.

A empresa de Mak Soi Kun ganhou ainda o contrato para a construção de uma passagem superior para peões, referente à empreitada da urbanização de Seac Pai Van, um negócio que foi reduzido no ano passado para 21,5 milhões de patacas.

28 Dez 2017

Relações China-Portugal | Tese conclui que Portugal não tem estratégia definida

A 9 de Dezembro de 2005 Portugal e a China assinavam a Parceria Estratégica Global, um documento que marcou uma nova fase das relações bilaterais após a transferência de Macau. Pedro Galinha, antigo jornalista em Macau e autor da tese de mestrado sobre o tema, concluiu que falta aos portugueses uma estratégia concreta e que o investimento chinês no país não gerou mais emprego. O Fórum Macau é burocrático e dependente da China, aponta o autor

 

[dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]á muito que se fala das relações diplomáticas entre Portugal e a China, sobretudo desde que as empresas chinesas começaram a investir no país. Contudo, não existia, até à data, um trabalho de investigação sobre a Parceria Estratégica Global, acordo de cooperação assinado em 2005.

Pedro Galinha, antigo jornalista em Macau, defendeu há semanas na Universidade Nova de Lisboa a tese de mestrado “China e Portugal: Dez Anos de Parceria Estratégica Global”, que veio colmatar essa lacuna. A tese analisa o período de relações entre o momento em que foi assinado esse documento, a 9 de Dezembro de 2005, e o ano de 2015. “A Parceria Estratégia Global actualizou a relação bilateral sino-portuguesa, que tinha perdido dinamismo após a transferência de administração de Macau”, adiantou ao HM Pedro Galinha.

Uma das conclusões deste trabalho prendem-se com a ausência de uma estratégia concreta da parte do Governo português entre 2005 e 2015, por contraste com os investimentos em áreas estratégicas que os chineses têm vindo a fazer. “A nível político e diplomático, cerca de 30 responsáveis de topo dos dois países fizeram visitas oficiais. Representantes de províncias e municípios chineses, como Guizhou, Zhejiang, Hubei, Guangdong, Pequim e Xangai também estiveram em Portugal. Este aspecto pode levar a que Portugal se direccione para áreas específicas da China. Mas para isso é preciso uma estratégia, que continua a ser quase inexistente”, conclui o autor.

Nesse sentido, Pedro Galinha considera que “seria bom explorar, cada vez mais, as redes de empresários chineses radicados em Portugal, que têm ligações às regiões de origem e até desempenham cargos em conselhos consultivos”.

O autor da tese de mestrado conta que decidiu partir para a investigação dada a inexistência de estudos sobre esta matéria. “É necessário criar um debate e massa crítica para as questões da China. Seria essencial promover as relações sino-portuguesas e, em concreto, a Parceria Estratégica Global a diferentes níveis: empresarial, cultural e académico”, contou.

Na conclusão da dissertação lê-se que, para Portugal, “a entrada de capital chinês cumpre uma necessidade imediata de liquidez”, dada a crise económica que levou à venda de capital de empresas públicas como a REN ou a EDP. Além disso, “é apontada a falta de reciprocidade, isto é, a dificuldade das empresas portuguesas em aceder ao mercado da República Popular da China (RPC)”.

Do lado chinês a postura é totalmente diferente. Luís Amado, que foi ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal por um longo período de tempo entre 2005 e 2015, disse ao autor da tese que constatou “uma consistente e progressiva ambição” da China face a Portugal.

“Isso é fruto de uma estratégia, assente em políticas centrais, como a internacionalização das empresas privadas ou estatais. Os interesses chineses em Portugal estão alinhados com as directrizes do Ministério do Comércio da China: energia, ambiente, seguros e saúde. Aqui, vemos a diversificação do investimento no estrangeiro, em áreas que correspondem ao interesse interno chinês”, explicou Pedro Galinha.

O trabalho de investigação concluiu também que “as aquisições e fusões de empresas europeias por grupos chineses configuram uma estratégia de médio-longo prazo, diferente do peso do turismo ou da compra de imóveis”.

O autor não deixa, no entanto, de notar o surgimento de algumas estruturas associativas que tentam promover as relações entre Portugal e a China. “O número de associados da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa tem crescido. Há ainda espaço para o surgimento de estruturas como a Associação de Jovens Empresários Portugal-China.”

Há, no entanto, uma lacuna na área cultural, sobretudo na área da sinologia, observa o autor. “O Observatório da China vai desenvolvendo algum trabalho, mas, por outro lado, deixou de ser organizado o Fórum Internacional de Sinologia, após a morte da investigadora e principal impulsionadora da iniciativa, Ana Maria Amaro.”

Investimento sem mais emprego

Os anos de uma crise económica mais acentuada que se viveram em Portugal tiveram algumas consequências nos resultados práticos da implementação da Parceria Estratégica Global.

“É muito difícil estabelecer uma relação causa-efeito entre a assinatura da Parceria Estratégica Global e o aumento do investimento chinês em Portugal. A crise financeira foi o factor-chave nesse fenómeno”, concluiu Pedro Galinha.

Isto apesar das “empresas chinesas terem apresentado as propostas mais vantajosas, o que, de certa forma, legitimou a entrada no mercado português”.

Apesar dos inúmeros e estratégicos investimentos efectuados, estes não se traduziram em mais postos de trabalho em Portugal, que continua a sofrer com uma elevada taxa de desemprego.

“É visível que os investimentos não corresponderam a mais emprego em Portugal. Essa é uma área que deve ser aprofundada a um alto nível”, frisou Pedro Galinha.

O autor, que alerta para o facto do Porto de Sines “se perspectivar como o grande dossiê no futuro”, defende que “os responsáveis políticos portugueses devem procurar captar investimento em indústrias transformadoras ou na agricultura”.

Uma relação “sem atritos”

Para analisar a posição da China no contexto da relação com Portugal, Pedro Galinha consultou uma publicação anual do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China “que detalha o estado das relações com os vários Estados”.

“Pequim tem reafirmado a importância e o interesse em aprofundar a Parceria Estratégica Global sino-portuguesa, reconhece o sucesso do processo de transferência de poderes de Macau, refere-se a Portugal como potência histórica e ponte para a lusofonia.”

Contudo, para que esta relação bilateral funcione, é “absolutamente essencial a inexistência de atritos”. “Ao longo do tempo Portugal tem reafirmado a defesa do princípio de ‘Uma só China’”, acrescentou Pedro Galinha.

“Não constituem polémica os temas mais sensíveis na relação com a União Europeia, como os direitos humanos, a situação no Tibete ou a autonomia de Taiwan. Isto deveu-se à não interferência dos sucessivos Governos portugueses nas questões internas da RPC”, lê-se na conclusão.

O embargo das armas

Pedro Galinha fez ainda referência a questões como o embargo de armas da União Europeia à China, e que não tem sofrido qualquer desenvolvimento. “Persistem questões como o embargo de armas à RPC, que vigora desde 1989, e o estatuto de economia de mercado da China. No texto da Parceria Estratégica Global Lisboa declarou apoio para discutir os temas, mas ainda não foi atingido qualquer resultado”, aponta.

O autor adianta também que “é possível afirmar, através deste tipo de acordo, que Pequim tenta enfraquecer a existência de uma frente unida europeia”. “Procura evitar posições coordenadas em assuntos sensíveis, que também se estendem à implementação dos pactos internacionais em matéria de direitos humanos”, lê-se ainda na conclusão da tese.

Ao assinar com a China a Parceria Estratégica Global, Portugal adquiriu “uma posição de realce, visto que é o nível mais elevado, atribuído por Pequim, numa relação bilateral ou multilateral”, lê-se na conclusão da tese de mestrado.

O documento levou a “uma actualização do relacionamento notória, com o alargamento da cooperação nas áreas político-diplomática, comercial e de investimento”. Houve ainda uma intensificação dos contactos bilaterais “visível no aumento do número e estatuto das visitas de alto nível”.

Contudo, antes de 2005 as relações dos dois países sofreram altos e baixos. Primeiro, Portugal não reconheceu a República Popular da China quando esta foi estabelecida, em 1949, tendo reatado a relação com o país em 1979. Entre essa data e 1999 “o futuro da administração de Macau e a negociação dos termos da transferência de poderes dominaram os contactos”. Depois de 1999, e antes da assinatura da Parceria Estratégica Global, só a criação do Fórum Macau, em 2003, foi um marco importante.

 

 

“Fórum Macau está à mercê da iniciativa chinesa”

Apesar da tese de mestrado não se focar no funcionamento do Fórum Macau, como o próprio autor faz questão de frisar, a verdade é que no contexto da Parceria Estratégica Global a entidade sediada na RAEM assume importância. 

“Apesar de Portugal ter know-how nas áreas referidas [educação, formação, agricultura], o Fórum Macau está à mercê da iniciativa chinesa. Os resultados do Fórum Macau são de difícil mediação, já que as relações de cada Estado-membro com a RPC antecedem o surgimento desta plataforma multilateral”, aponta o autor na conclusão da dissertação.

Ainda assim, Pedro Galinha assume que “o principal papel que tem [o Fórum Macau] passa pela formação de quadros e pelo intercâmbio de profissionais”. Em relação ao Fundo de Cooperação e Desenvolvimento China-Países de Língua Portuguesa, que terá a sua sede transferida de Pequim para Macau, “continua a ser demasiado burocrático e dependente do lado chinês”. Características que também estão associadas “a toda a dinâmica do Fórum Macau”.

Pedro Galinha adiantou ainda que Pequim “tem defendido o estabelecimento de cooperações trilaterais, enquadradas no Fórum Macau, com China, Portugal ou Brasil e um país terceiro”. Apesar disso, trata-se de “uma ideia repetida, sem desenvolvimentos”, sendo que, “a confirmar-se, está sempre dependente de Pequim”.

“Do lado dos países africanos e de Timor-Leste poderá existir alguma resistência. Já Portugal ou o Brasil não estão muito interessados em passar know-how porque já sentem muita competição chinesa no terreno. Será difícil criar uma convergência de interesses”, concluiu o autor da tese.

Transição: “Portugal não protegeu os seus interesses em Macau”

Pedro Galinha recorda, na conclusão do seu trabalho académico, que o dossiê Macau acabou por revelar “falta de experiência [da parte de Portugal] para lidar com a China”. Isto após 1987, data em que foi assinada a Declaração Conjunta e em que se iniciou um longo processo de negociações sobre a transição de poderes do território.

D.R.

“Durante as negociações Portugal não incluiu qualquer representante ou residente de Macau e revelou, mais uma vez, falta de experiência para lidar com a China”, assumiu Pedro Galinha, que lembrou também que, “numa fase inicial dos contactos [a partir de 1979], a parte portuguesa revelou falta de experiência em lidar com as questões da China”. Isto porque “os contactos passaram sempre por Macau.

No que diz respeito ao processo de transferência de soberania, Pedro Galinha defendeu que “a postura de Lisboa evitou conflitos, permitindo a Pequim definir a agenda”.

“Entre os principais temas que conduziram a um impasse estiveram a data da transferência e a questão da nacionalidade de entre 80 a 100 mil chineses de Macau que possuíam passaporte português. No final, Portugal não protegeu os seus interesses em Macau.”

Isto porque “a maior parte dos quadros qualificados nacionais não ficou na máquina da administração e os macaenses não foram apoiados para ocupar cargos de topo antes da transferência de poderes”. Além disso, “o êxodo de outros profissionais também foi uma realidade”, concluiu o autor do trabalho de investigação.

28 Dez 2017

Activista condenado a oito anos de prisão por subversão

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m tribunal chinês condenou ontem o activista Wu Gan, conhecido por denunciar injustiças, a oito anos de prisão por subversão contra o Estado. O Tribunal Popular Intermediário n.º 2 de Tianjin, cidade a cerca de 200 quilómetros a sudeste de Pequim, declarou Wu culpado de subversão contra o Estado e anunciou a sentença de oito anos de prisão.

Conhecido na Internet pelo nome “Super Carniceiro Vulgar”, Wu vai recorrer da sentença, anunciou o advogado Ge Yongxi. Depois da leitura da sentença, o activista disse “estar grato ao partido por lhe conceder tão sublime honra”, acrescentou Ge. “Vou manter-me fiel à nossa aspiração original, arregaçar as mangas e fazer um esforço extra”, afirmou Wu, usando as frases mais conhecidas do Presidente chinês, Xi Jinping, quando pede aos membros do Partido Comunista Chinês para melhorarem o seu trabalho.

O julgamento de Wu Gan começou a 14 de Agosto último. A última detenção de Wu ocorreu em Agosto de 2016, altura em que o activista acusou as autoridades de o terem torturado. Wu Gan foi detido pela primeira vez em Maio de 2015, na sequência de um protesto em Nachang (sudeste) contra a detenção e tortura de quatro homens que as autoridades queriam que admitissem um crime. Os quatro foram absolvidos no ano passado.

O activista também trabalhou como assistente administrativo da firma de advogados Fengrui em Pequim, conhecida por trabalhar em casos sensíveis, como por exemplo, na defesa das vítimas do leite em pó contaminado com melamina, em 2008.

A firma acabou por se tornar central na campanha das autoridades contra advogados e activistas dos direitos humanos, em Julho de 2015, durante a qual foram detidas e interrogadas cerca de 300 pessoas. Muitas foram libertadas posteriormente.

Wu tornou-se conhecido em 2009 quando denunciou o caso de uma jovem, Deng Yujiao, que matou um político local que tentou abusar sexualmente dela. O caso tornou-se muito mediático e inspirou parte do filme “Um Toque de Violência” do realizador chinês Jia Zhangke, cujo argumento foi premiado no Festival de Cannes de 2013.

27 Dez 2017

Birmânia: Livro desvenda presença portuguesa mais de 500 anos depois

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s antepassados chegaram entre 1510 e 1512. Hoje, não têm um nome português, nem sabem onde fica Portugal, mas dizem-se portugueses. Esta certeza está em histórias contadas oralmente desde que os exploradores portugueses aportaram à Birmânia. A história é contada no livro de James Myint Swe, “Cannon Soldiers of Burma”, cuja versão portuguesa vai ser lançada em Portugal e em Macau, no primeiro trimestre de 2018, pela Gradiva e a Macaulink, com o apoio do Instituto Internacional de Macau.

“É extraordinário que, na mesma zona onde os portugueses se estabeleceram pelo ano de 1633, em Ye U, uma localidade situada entre os rios Chindwin e Mu [norte da Birmânia], as populações continuem a sentir-se portuguesas”, sem qualquer contacto e a mais de nove mil quilómetros de distância, contou o autor à Lusa. “Não se sabe ao certo a dimensão destas populações… cerca de 200 a 300 pessoas por aldeia, o que nas localidades maiores poderá ir até às duas/três mil. As autoridades estão a tentar fazer um levantamento para saber quantas aldeias existem e quantas pessoas ali vivem”, acrescentou James Swe, que nasceu Chan Tha Ywa, na zona de Ye U, em 1947.

As pessoas desta zona “parecem europeus, o cabelo e a pele são mais claros, alguns têm olhos verdes” e são maioritariamente católicos, disse, lembrando que, nos anos 1970, o Governo não reconhecia esta população como birmanesa. “Para o Governo, erámos estrangeiros”, afirmou o autor, formado em ciência política pela Universidade de Western Ontario, Canadá.

À medida que a aposta das autoridades no ensino cresce no país e que os acessos à zona melhoram, os elementos mais jovens destas comunidades deslocam-se para as cidades para entrar nas escolas e “esta relação com Portugal começa a perder-se”, alertou James Swe, a residir no Canadá desde 1976.

Mas este afastamento já vem de longe e está retratado na declaração atribuída pelo investigador ao capitão António do Cabo que, em 1628, em Ava, no norte birmanês afirmou: “Muitos de nós nascemos em Portugal, ou pelo menos em Goa [Índia]. Passámos muitos anos aqui na Birmânia. Sempre nos sentimos como prisioneiros, ou hóspedes, ou visitantes. Agora chegou a altura de aceitar que a Birmânia é o nosso país. Ainda somos portugueses, mas nunca voltaremos a ver Portugal. Alguns de vós nunca viram”.

O objectivo deste livro, com primeira edição em inglês em 2014, era divulgar a história dos portugueses no país e, ao mesmo tempo, o papel de exploradores, comerciantes e soldados vindos de Portugal a partir do século XVI na estrutura actual da Myanmar, disse. “Com as armas que trouxeram e as alianças que cimentaram com os reinados Mon, Arakan [Rakhine, na atualidade] e Bama/Birmanês, os portugueses foram determinantes na construção da actual Birmânia”, sublinhou James Swe.

Os 300 anos que medeiam entre a chegada dos portugueses (1500) e os ingleses (1800) foram quase eliminados da história oficial do país, acrescentou. “Eu só conheci estas histórias porque, durante as férias do verão, os meus avós falavam da vida de Paulo Seixas ou Luísa de Brito”, afirmou sobre alguns dos longínquos protagonistas de guerras, alianças, traições e comércio no país, que faz fronteira com a China, o Bangladesh, o Laos e a Tailândia. “Foi no Canadá que descobri que a História e aquilo que os meus familiares contavam coincidiam”, disse, sublinhando as dificuldades de estender a pesquisa aos arquivos birmaneses, fechados desde 1962 pelo regime militar.

Para James Swe, é “altura de reaproximar os dois países”, num momento em que a Birmânia precisa de consolidar a implantação do regime democrático, depois da vitória eleitoral da Liga Nacional para a Democracia (LND), em 2015. A Birmânia é uma terra rica e de oportunidades de negócios. “Os empresários portugueses podiam começar com pequenos negócios, como restaurantes, e depois expandir para outras áreas”, considerou James Swe, cujas pesquisas se estenderam por dez anos, entre o Reino Unido, o Canadá e Portugal.

Impedido de entrar nos últimos 40 anos na Birmânia, Swe contou com a ajuda de amigos e familiares no país para investigar a história dos seus ancestrais. Neste período, voltou pela primeira vez a Myanmar, em 2012.

27 Dez 2017

Paulo Duarte defende inclusão de Sines na iniciativa Uma Faixa, Uma Rota

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] académico português Paulo Duarte defendeu que Portugal deve persuadir a China a incluir o porto de Sines na “Nova Rota da Seda”, um gigantesco projecto de infra-estruturas inspirado nas antigas vias comerciais entre Ásia e Europa. “Devemos mostrar à China que na faixa e rota os comboios não terminam em Madrid, mas em Lisboa ou Sines”, disse o autor do primeiro livro em português sobre a iniciativa “Nova Rota da Seda”.

Doutorado em Ciências Políticas e Sociais pela Universidade Católica de Louvaina, Paulo Duarte desenvolveu em Taiwan, Ásia Central e República Popular da China a investigação que deu origem à obra “Faixa e Rota Chinesa – A Convergência entre Terra e Mar”. Lançada em 2013 pelo Presidente chinês, Xi Jinping, a “Nova Rota da Seda” inclui uma malha ferroviária intercontinental, novos portos, aeroportos, centrais eléctricas e zonas de comércio livre, visando ressuscitar vias comercias que remontam ao Império romano, e então percorridas por caravanas. Um dos principais objectivos é criar uma ligação ferroviária de alta velocidade entre Pequim e Londres, que demoraria 48 horas a percorrer.

Gao Zhikai, antigo intérprete do líder chinês Deng Xiaoping e mestre em Ciências Políticas pela Universidade de Yale, considerou a “Nova Rota da Seda” uma “nova forma de pensar o desenvolvimento” e “combater a pobreza”, ao “complementar a falta de conectividade entre países”. “Mesmo na Europa, os problemas de pobreza estão ligados à falta de desenvolvimento ou a um desenvolvimento que não foi estruturado de forma racional”, comentou à Lusa.

No conjunto, o Banco de Desenvolvimento da China estima um investimento total de 900 mil milhões de dólares, distribuído por 900 projectos.

A ligação ferroviária mais longa e já em funcionamento vai desde Yiwu, um ‘hub’ comercial na costa leste da China, até Madrid, e atravessa o Cazaquistão, Rússia, Bielorrússia e Polónia, entrando na Europa central através da Alemanha. Lisboa tem insistido na inclusão de uma rota atlântica no projecto chinês, o que permitiria a Sines conectar as rotas do Extremo Oriente ao Oceano Atlântico, beneficiando do alargamento do canal do Panamá.

“Em Sines, os comboios podem descarregar os contentores, que daí seguiriam para as Américas. Temos aqui uma grande potencialidade para desenvolver Sines”, apontou Paulo Duarte. Para o académico português, a iniciativa chinesa visa projectar o país asiático como um actor internacional inclusivo e responsável, “credibilizar o regime chinês” e “dar trabalho às empresas e trabalhadores chineses”. Surge também numa altura em que os Estados Unidos de Donald Trump rasgam compromissos internacionais sobre o clima, comércio ou migração, impelindo a China a assumir a vontade de liderar em questões internacionais.

“É uma mudança histórica na posição da China no mundo”, disse He Yafei, antigo vice-ministro chinês dos Negócios Estrangeiros. “A Nova Rota da Seda combaterá a onda antiglobalização”, acrescentou, durante um fórum dedicado à iniciativa, realizado no mês passado em Zhuhai, no extremo sudeste da China.

Críticos do projecto chinês apontam, no entanto, os perigos para os Direitos Humanos e para o ambiente associados à exportação do modelo de desenvolvimento da China, e a contradição entre a retórica globalista de Pequim e a sua política interna.

Sob a direção de Xi, a China reforçou o combate à influência estrangeira na sociedade civil, meios académicos ou Internet, apontam organizações de defesa dos Direitos Humanos, enquanto Bruxelas e Washington criticam o país asiático pelas barreiras que impõe ao investimento estrangeiro em vários sectores.

No ‘ranking’ da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) que avalia a abertura ao investimento directo estrangeiro, a segunda maior economia mundial ocupa o 59.º lugar, entre 62 países.

27 Dez 2017

Moradores do Bairro das Missões, em Coloane, indignados com reportagem negativa

O Jornal Ou Mun publicou um artigo dando conta do descontentamento dos moradores do Bairro das Missões devido a uma reportagem feita por um jornal de Hong Kong. O Conselho Consultivo de Serviços Comunitários das Ilhas repudia a ideia de más condições de vida no bairro de Coloane

 

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma reportagem do Oriental Daily News de Hong Kong gerou alguma controvérsia em Macau. A peça descreve as parcas condições de habitabilidade do Bairro das Missões, perto do Estabelecimento Prisional de Macau, e relata a falta de água canalizada e electricidade em muitas casas, que poderiam ser descritas como barracas.

A reportagem motivou uma resposta de Ng Kun Cheong, coordenador-adjunto do Conselho Consultivo de Serviços Comunitários das Ilhas, diz que na opinião dos moradores mais idosos do Bairro das Missões o local reúne condições satisfatórias para ali se viver.

O responsável do órgão consultivo foi mais longe em declarações ao Jornal Ou Mun ao sugerir que como a maioria das pessoas que moram no bairro é estrangeira o Governo deveria apostar na habitação pública para benefício da população.

Inferno da terra

O Bairro das Missões têm sido, há algum tempo a esta parte, matéria de reportagem para o Oriental Daily News que descreve o lugar como um autêntico inferno, tecendo fortes críticas às insuficiências do Governo na gestão do bairro.

Ng Kun Cheong, responsável do Conselho de Serviços Comunitários das Ilhas, entende que a reportagem é intencionalmente exagerada e deslocada da realidade. Em declarações ao Ou Mun, representante do órgão consultivo insurge-se com a comparação do local a um inferno.

O terreno do Bairro das Missões foi concedido pelo Governo por arrendamento a uma organização religiosa que acabou por utilizar o local para acolher pessoas com dificuldade financeira. No fundo, em redor da igreja foram construídas pequenas habitações para pessoas pobres.

Segundo o relato de Ng Kun Cheong ao Ou Mun, após a reportagem do Oriental Daily News, a organização religiosa solicitou ao conselho consultivo de serviços comunitários que se façam visitas aos moradores e que se faça um levantamento demográfico e das condições de habitabilidade do Bairro das Missões.

Questionado sobre a possibilidade do Governo recuperar o terreno para outros fins, o responsável do órgão consultivo espera que se entre em comunicação com a organização religiosa a quem foi cedido o terreno. “Se calhar pode-se construir habitação pública para que as pessoas voltem a viver ali. Actualmente há muitas pessoas estrangeiras que moram ali como filipinos e quenianos, e não são locais”, disse ao Jornal Ou Mun.

Um morador idoso de apelido Wong do Bairro das Missões contou ao Jornal do Cidadão que não precisa pagar renda de casa, e não tem problemas com o fornecimento de água e de electricidade, acrescentando que o transporte é conveniente.

A outra moradora idosa de apelido Choi também considera que as condições residenciais no bairro são satisfatórias. A moradora ouvida pelo Ou Mun revelou que desde a publicação da reportagem pessoas dirigiram-se ao bairro para distribuir arroz, o que para a idosa não é necessário.

27 Dez 2017

Fundo chinês ajuda no desenvolvimento da África

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]urante os últimos dez anos, um fundo de desenvolvimento chinês investiu biliões de dólares em África. Chi Jianxin, presidente do Fundo de Desenvolvimento China-África, disse à Xinhua que o fundo tem US$ 4,5 mil milhões para investir em 91 projectos em 36 países, com mais de US$ 3,2 mil milhões já destinados. “Após a conclusão de todos os projectos, o fundo colocará mais de US$ 20 mil milhões das empresas chinesas na África”, assinalou Chi.

Para apoiar as empresas na África, o fundo foi estabelecido em 2007 depois da Cimeira de Pequim 2006 do Fórum de Cooperação China-África. A escala inicial do fundo era US$ 5 mil milhões, mas o volume expandiu para US$ 10 mil milhões em 2015. Investiu-se nas áreas de infra-estrutura, cooperação da capacidade de produção e agricultura.

Quando forem concluídos, os projectos produzirão 11 mil camiões, 300 mil aparelhos de ar condicionado, 540 mil frigoríficos, 390 mil televisões e 1,6 milhão de toneladas de cimento todos os anos, aumentando as exportações da África em US$ 2 mil milhões e a receita tributária em US$ 1 mil milhões anualmente, segundo Chi.

“Diferente à assistência ou empréstimos, o fundo leva mais capital à África com o seu próprio investimento”, acrescentou. “A medida é bem recebida, pois permite que os países impulsionem os projectos sem crescimento da carga de dívida e aumentem sua própria capacidade de desenvolvimento”, disse Chi.

Nos últimos anos, a África goza de uma situação política geralmente estável com um rápido crescimento económico, mais residentes urbanos e consumidores de classe média, e uma maior procura pelas mercadorias de consumo. Muitos países africanos têm vantagens geográficas, baixo custo de mão-de-obra e um bom ambiente de comércio. “A infra-estrutura, manufactura e campos agrícolas da África continuam com um desenvolvimento saudável e têm um enorme potencial, portanto, estamos confiantes nas possibilidades”, disse Chi.

O fundo planeia fazer mais investimento e destinar mais capital a África sob a iniciativa Uma Faixa, Uma Rota e as políticas chinesas sobre a cooperação internacional em capacidade de produção e manufactura de equipamento.

No processo, o fundo permanece uma atitude aberta para a cooperação com os países não africanos e as organizações internacionais, pois considera o desenvolvimento africano como a responsabilidade conjunta da comunidade internacional, assinalou Chi.

27 Dez 2017

Reciclagem do lixo | Proposta vai ser legislada no primeiro semestre de 2018

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] regime de gestão de resíduos de materiais de construção vai ser legislado no primeiro semestre do próximo ano.

De acordo com Direcção de Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), a proposta já foi melhorada após consulta pública e, desta feita, vai substituir a fracturação em papel relativa ao tratamento e transporte de resíduos por uma modalidade de cobrança electrónica.

De modo a proceder a esta medida a DSPA reuniu já com os sectores envolvidos e pretende com a iniciativa diminuir na fonte resíduos de materiais de construção com a colaboração da sociedade e dos sectores envolvidos”, lê-se em comunicado oficial.

Visão de futuro

Na reunião com os sectores que irão participar na iniciativa, foram ainda definidos os planos de tratamento de resíduos a curto médio e longo prazo.

O início das obras de melhoramento das características geológicas dos aterros é a prioridade. De acordo com a DSPA, o objectivo é “consolidar as lamas da camada inferior da zona de aterro, com métodos de execução das obras de construção civil, para as estabilizar e criar mais espaço”, refere o mesmo comunicado.

Está também projectado o destino dos materiais inertes resultantes de demolições e construções. “Depois de serem selecionados e servirem de material de enchimento podem ser aplicados no aterro da zona E1 dos Novos Aterros Urbanos”, explica o Governo. A intenção, afirma a DSPA, é atenuar a pressão no aterro actualmente existente.

Já a médio prazo, “planeia-se que se apliquem os materiais inertes de demolição, construção e lamas que satisfaçam a respectiva qualidade, servindo como alguns dos materiais de enchimento do aterro na zona D dos Novos Aterros Urbanos”.

O tratamento dos materiais inertes resultantes de demolição e construção mediante cooperação inter-regional é o plano traçado para ser concretizado a longo prazo.

27 Dez 2017

Portadores de deficiência | É preciso informação acessível a todos, diz Ho Ion Sang

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] necessário desenvolver meios para garantir o acesso à informação das pessoas portadoras de deficiência. Sem descurar a necessidade de construção de um ambiente sem barreiras, o deputado Ho Ion Sang alerta para outras dificuldades sentidas pelos portadores de deficiência, além das que estão relacionadas com a circulação.

Para o deputado ligado à União Geral das Associações dos Moradores de Macau “é necessário garantir a circulação sem barreiras na sociedade assim como a transmissão de informação junto dos deficientes”, refere em interpelação. A questão, diz, é também levantada por várias entidades de cariz social e ligadas à reabilitação.

Ho Ion Sang dá exemplos de casos que, considera, não se podem repetir. “Durante as eleições para os deputados à Assembleia Legislativa (AL) no passado mês de Setembro, vários portadores de deficiência auditiva manifestaram a falta de tradução gestual e de serviço de transmissão de informação escrita no dia do início da campanha eleitoral, sendo que era necessário entrar em contacto com o pessoal de instituições sociais para traduzir as informações”, exemplifica.

Tendo em conta a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, Ho Ion Sang sublinha a responsabilidade do Governo em assegurar a divulgação de informação de forma clara e eficiente às pessoas portadoras de deficiência e para o efeito criar os meios necessários para o fazer.

27 Dez 2017

Função Pública | Número de deficientes diminuiu face a 2015

Não subiu e até baixou. Dados relativos ao ano passado dos recursos humanos na Função Pública mostram que há 70 portadores de deficiência a trabalhar para o Governo, quando em 2015 eram 73. A tutela de Alexis Tam emprega 31 pessoas

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Assembleia Legislativa (AL) tem em mãos a análise de uma proposta de lei que visa dar reduções fiscais aos privados que contratem portadores de deficiência, mas no que toca ao funcionalismo público continuam a ser contratados poucos deficientes.

O relatório dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP) sobre os recursos humanos, relativo a 2016, mostra que trabalham no Governo um total de 70 deficientes, um número ainda mais baixo do que em 2015, quando trabalhavam na Administração 73 portadores de deficiência.

A secretaria dos Assuntos Sociais e Cultura, de Alexis Tam, emprega 31 pessoas, enquanto que a secretaria para a Administração e Justiça, de Sónia Chan, emprega 22 pessoas.

O relatório dos SAFP aponta que se verifica “que mais de três quartos dos efectivos portadores de deficiência se encontram distribuídos por duas secretarias, a secretaria para a Administração e Justiça (31,4%) e secretaria para os Assuntos Sociais e Cultura (44,3%)”.

O mesmo relatório revela que “um quarto dos efectivos portadores de deficiência distribuem-se pelas outras secretarias e órgãos, exceptuando os serviços na dependência do Comissariado contra a Corrupção, Comissariado de Auditoria, a Assembleia Legislativa e o Ministério Público que não apresentam nenhum efectivo portador de deficiência”.

Olhando para os números do pessoal de toda a Administração Pública, os portadores de deficiência representam apenas 0,2 por cento, sendo que 72,9 por cento detém um contrato administrativo de provimento.

Deficientes motores em maioria

Apesar de trabalharem no Governo, os portadores de deficiência não desempenham cargos elevados. A maioria, um total de 44,3 por cento, pertence ao grupo de pessoal operário. Por sua vez, 35,7 por cento exercem funções de aplicação técnica e administrativas.

Há apenas um portador de deficiência nas áreas de pessoal de direcção e chefia e do pessoal assessor ou técnico agregado. “Não se verifica nenhum efectivo portador de deficiência nos grupos de pessoal de magistrados, docente e segurança”.

Na área administrativa trabalham 24,3 por cento dos deficientes, sendo que mais de 40 por cento são portadores de deficiência motora, enquanto que quase 30 por cento têm surdez. No sector da saúde 14,3 por cento dos trabalhadores são deficientes.

O relatório dos SAFP conclui que se observa “uma predominância de deficiência motora nos trabalhadores portadores de deficiência nas áreas dos recursos humanos, acção social, atendimento, informática, área jurídica, serviço auxiliar, área editorial ou de produção gráfica, administrativa e judicial”.

27 Dez 2017

Somos Contemporâneos do Impossível – Uma apresentação

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]omos contemporâneos do Impossível desdobra-se em quatro grandes frentes: I. Uma casa no Mar, II. A habitação do gesto, III. Fundamentos do Eco e IV. Corpo em queda. Cada uma destas partes faz sistema com um todo orgânico. Neste todo orgânico, há um espírito que aí encarna, que aí se incorpora, e o dota de uma alma que habita a forma especial deste corpo existir. A geografia peculiar do sentido de José Anjos raras vezes é directa, nem é de compreensão simples ou imediata. O mundo que lhe serve de referente não é “real” nem primária nem o mais das vezes. Não o é, pelo menos, numa primeira leitura, que se quisesse rápida ou desatenta.

Não o é também, porque a própria realidade objectiva, material, visada de modo literal, no indicativo, é já uma construção complexa resultante de despojamento, abandono, desaparecimento, morte.

O horizonte poético de Somos Contemporâneos do Impossível abre-se numa dimensão extrema da vida, onde tudo é radicalmente problemático. Tendencialmente, o ser do sou eu é extremo e vive a fazer espargata entre o horizonte de um passado havido (que não é já habitável) e o horizonte de um futuro por haver (que não está ainda à nossa disposição). Ambos fixam-se em projecções. O passado deixa uma marca indelével em nós. Não o recuperamos tal como terá acontecido. Tem uma vida independente no nosso espírito. As impressões que foram no passado deixadas em nós permanecem, mesmo adormecidas, à espera de nós na hora da nossa morte. São mutantes e metamorfoseiam-se. O futuro resulta muitas vezes da nossa capacidade de imaginação e fantasia para criar ficções, fora do âmbito da realidade, onde viver poderá ser possível.

Entre os escombros da memória e a fantasmagoria do futuro: real, onírico, ficcionado, o “si mesmo” procura um protagonismo que parece só ter de facto, mas não de iure. Todas as formas, outrora salientadas do plano de fundo da vida, encontram-se assim, imersas, latentes. Um acontecimento do passado pode durar uma véspera, a véspera de Natal, por exemplo. E, contudo, é trabalhado pelo olhar interior e ciclópico da vida, acabando por transformar o que quer que tenha acontecido: descobertas, invenções, modos de ser nossos e dos outros.

Ao passado só podemos aceder por processos complexos de melancolização de horizonte, exumação da existência das pessoas que aí estiveram connosco, reinvenção de cidades inteiras, antes vivas e, agora, fantasma. Os referentes podem ser os mesmos, mas o seu sentido, a sua conotação, é produzido pelo ser poético que os revisita, ou antes, que os recria, dando-lhes significação.

Nada já existe como era. O eu passado foi-se para sempre e com ele todos os que tratamos por tu. A entidade “nós” é irrecuperável como foi. Tudo se desmorona continuamente, existindo como ruínas, sob a acção (e na dependência) de uma memória afectiva e uma protensão de futuro que se projectam entre nós e o presente, resultante de uma incapacidade real para se poder ser, nos aguentarmos, conseguirmos estar vivos.

A constituição do presente, do passado e do futuro implica assim uma abertura a um horizonte que neutraliza, tanto quanto tal é possível, o facto da realidade e afirma exclusivamente a existência de significados. O referente existe em face da presença de espírito do poeta e, enquanto tal, parece existir de forma ainda mais presente do que todas as actualidades para o ponto de vista natural que lida apenas com realidades: situações, circunstâncias, conjunturas: coisas, pessoas, os próprios, as geografias das nossas vidas reais, o passado, futuro e o presente como achamos que são na realidade.

Mas este referente implica-se totalmente num (está absolutamente dependente de) um sentido. A exploração poética, a criação de um poema, é a produção do único horizonte de habitabilidade num mundo de escombros, num presente que lhe é devedor, num futuro que se perspectiva, no limite, como o lado negativo de um diapositivo em que a vida foi visivelmente a ponta de um iceberg, mas com uma base invisível, que é forma e fundo de todas as possibilidades não encaradas, muito menos concretizadas.

Em UMA CASA NO MAR, José Anjos abre o jogo. Lemos a descrição do tempo. Os verbos de movimento representam o ser. Topamos com as geografias complexas da superfície e da profundidade, constituídas em significado. Aqui, o regresso é apenas mental. Dá-se conta da sua irreversibilidade temporal. Identificamos a primeira ligação entre carne e espírito, corpo e alma.

Em Ecologia Fenomenal, a casa onde o tempo nasceu, podemos compreender como a lógica corresponde a uma tentativa de criar uma compreensão do sentido, no interior do habitáculo do humano, no seu nicho ecológico, no seu habitat natural. Mas também aqui se esboçam formas de compreensão para comportamentos e relações humanas que existem em prol de uma agenda que é tudo menos pragmática. A luta diária esforça-se por ser um combate contra a possibilidade da ininteligibilidade e, por vezes, da loucura. Os tópicos são para Anjos operatórios e não apenas paisagens descritivas da sua poesia.

Em causa está a criação de uma semiologia, de uma regra simbólica, que permita, ao mesmo tempo que está a ser inventada, descrever a própria realidade embebida em horizontes complexos de significação. O tempo é a dimensão em que cada um de nós nasce. É cada um de nós na sua singularidade individual. O tempo não é de um “eu” em que cada um caiba. Sou crónica e definitivamente temporal. Sou tempo. O tempo não é geral e universal no sentido em que é uma sequência a perder de vista para todo o sempre: a noite do passado, o presente, a noite do futuro. Antes, o tempo em que cada um nasce, a poder dizer “sou eu”, mergulha em si a casa onde se nasceu e na verdade é à escala mundial. Não apenas existe espalhado pelo mapa da sua existência. Ou antes, existe à escala universal. Este tempo de que cada um “sou” é portador tem como atmosfera inaugural a infância. A sua sequência é a da passagem. Ora toda a passagem é irrepetível, porque é irreversível. Nada é ultrapassável.

 

“no lago submerso

da infância

há uma casa habitada

pelo tempo que ficou

pendurado

na memória de um lugar

infinito sob os degraus”

(17)

 

Os primeiros instantes não são biológicos. São oníricos como todo o passado recuperado por uma memória afectiva e não cognitiva. Melhor, recuperados por uma memória simbólica:

 

“voo inaugural do sonho e

do corpo itinerante da cidade

empurrado pelo pulso de um remo

nas águas proibidas”

(15)

 

Numa tensão com a possibilidade de não vir a ser ou, sendo já, com a possibilidade de vir iminentemente a deixar de ser:

 

“depois do terror de quase ter desaparecido

sem ter perdido a lucidez”

(Ibid.)

 

Todo este espectro de sentido é um excesso relativamente ao que muitas vezes surge designado por “paredes”. A realidade material de uma casa é tão diferente, quando é tornada tão própria pela nossa habitação e partilha dela com outros. E é tão estranha, quando comparamos essa mesma casa habitada por nós com a casa que agora é: outra, alienada, estranha. Basta estar à venda e ser visitada por estranhos, ser habitada por outras pessoas ou já só um andar em ruínas:

 

“são memórias que transbordam como terra de um vaso

forçado à entrada do futuro em visita

ao seu próprio nascimento

repetido

discreto, vezes sem conta

– escoando pelas horas para dentro da casa

de onde nasce e ao mesmo tempo

deixa de pertencer”

(Ibid.)

 

O tempo da visita à casa sc. à infância escoa do lado de fora para o lado de dentro. É um fluir contínuo e discreto. Cada nascimento pode ser compreendido como cada visitação possível ao passado, pela chegada do passado até nós. Como pode ser entendida a compatibilidade do esquema da existência em geral com o facto de cada um de nós ter só uma vida e esta ser individual, singular? Cada ser humano encerra em si a marca do ser da vida e, por outro lado, é individual, único, singular. Cada um de nós existe desde sempre num escoar de fora para dentro e de novo de dentro para fora. A vida dá definição aos contornos dos corpos, em movimentos basculantes, oscilatórios, como um baloiçar sobre o posso do abismo. O escoamento, a infiltração, fomentam fantasmas negros. O envelhecimento é o tempo em que nos sobrevivemos a nós próprios. Ao envelhecemos, compreendemos que sobrevivermos a nós próprios. Tudo o resto fica alagado por esse significado do tempo inescapável.

 

“a cada nascimento produz-se um som tão definido

como o contorno de um corpo que perde volume

entra e sai da casa

como um baloiço sobre o poço (cada vez mais visível)

dos anos que se infiltram através das paredes

um fantasma negro

um bolor que cresce na carne até ser só carne e peso

e corpo que já não sabe ser corpo e que atira o corpo

e espírito ao chão

o tempo envelhece a casa

dentro do homem

como um visitante irreversível

até que nas paredes esboroadas

se abrem janelas lençóis esvoaçantes

por onde a vida inteira sai disparada

numa só respiração

frágil e determinada

como a flecha que o vento roubou das mãos de uma criança

para ir morrer dentro da árvore

.

.

.

infância:

lugar que esquece o sobrevivente

sem se fechar

nem o deixar sair”

(18-19)

 

Se o poema inaugural marca o princípio do fim, em PALÁCIO descreve-se, de alguma maneira, um desses momentos em que caio em mim à lupa: “entrar para dentro de mim” é ganhar a “nitidez dos contornos que se habituam/ à escuridão”, “devolver à luz baça da cozinha o seu amor pelas manhãs de sábado”, “as manhãs violentas e doces assim – com a sede/ à boca do leite e da manteiga” (20).

Na lógica dos dias, sábado é o dia partilhado com a família, mas que é sempre diferente de domingo. O domingo é antes de segunda-feira. A segunda-feira já exerce pressão sobre nós. Sábado, pelo contrário, vem depois de sexta-feira e faz corpo com ela. É um dia com tempo. Está ligado ao verão da infância ou da primeira juventude:

 

“sinto a fragrância quente da tarde a tentar morder a penumbra

do meu quarto no verão”

(21)

 

As partes do dia de sábado são entidades complexas que fazem um sistema orgânico e com um sentido de tempo que nos constitui. O acesso a esse passado, não necessariamente o acesso a essas memórias (porque as memórias despertam quando o passado se acende, intrometendo-se entre nós e a actualidade real) resulta de uma canalização, de uma sintonização, com o havido de mim naquelas situações e circunstâncias. É como se ficassem acesos ou iluminados dias e dias de sábado da minha infância e juventude, perdidos para a escuridão:

 

“que penetro sem dor

sou como se respirasse uma leve brisa

que se acende e me faz entrar

por portas sublimes

até descobrir os sítios onde não sou

mas ainda consigo estar”

(21).

 

As portas não são metáforas para entrar ou sair, prender ou soltar. São os operadores activos que coincidem e estão sincronizados com o acesso. É complexa a condição para a lucidez despertar o haver sido, o ser e o haver de ser no horizonte da significação, do sentido. Não se trata aqui de possibilidades físicos que nos permitem transitar para espaços contíguos em geometrias simples. São portais que dão para dimensões de significação que não estão disponíveis para um olhar desprevenido ou ingénuo. E ao falar de canais devemos entender não a simples sintonização de um posto de rádio ou canal de TV, mas um meio de transporte telepático que encosta a nós dimensões mediúnicas que nos fazem entrar em transe, numa êxtase compreensiva sem nos fazer perder inteiramente na loucura da ininteligibilidade.

 

Em A ESTE VERÃO lê-se uma descrição desta êxtase centrífuga inteligível:

“há uma criança que corre pelos campos

deixa-se levar pelo tempo

como uma gazela caça o caminho

foi um lugar que me esqueceu

mas é impossível reduzir a produção do sol

a uma janela só”

(22)

 

Tal como em EXPLICAÇÃO DE UMA TEMPESTADE, há uma cristalização do domingo obtida por uma revisitação da cadência própria, do ritmo entediante de Domingo:

 

“bátegas que embatem contra

a parede lenta de domingo

desfazendo-se com a brevidade

de um pássaro acabado de voltar

a casa pedindo

para entrar no texto

como o vácuo pelo ar”.

(24)

 

Nos três NOCTURNA, identificamos a contradição paradoxal que anima o significado que se projecta sobre a realidade objectiva, existência em e por si que não é independente da realidade da subjectividade poética. Antes, depende inteiramente dela para dizer a impossibilidade da habitação: o peso do desaparecimento, a plenitude da morte.

A estratégia poética é a de alterar campos sensoriais e campos semânticos com um referente complexo já na rede de sentidos e significados, onde não há factos nem realidade. Um facto só existe pela anulação e neutralização paradoxal do que é já acamado num sentido. Um facto esvaziado de sentido tem ainda sentido, no limite é irredutível para um sujeito. É possível obter esta nudez de todo o revestimento de sentido a respeito de tudo quanto acontece a cada uma das nossas vidas. Mesmo até quando há diferentes pessoas a viver na mesma casa e a partilhar as mesmas horas, o sentido de “a mesma casa”, “partilhar as mesmas horas” pode ser intradutível por cada pessoa para cada outra pessoa. Sobretudo, quando a diferença é apurada no ser que faz de cada sou uma singularidade absoluta, expressa, por exemplo, em formulações como “morada exacta do tempo” (30) ou o próprio título do poema JANELA IRREVERSÍVEL (31).

Em NOCTURNUM, declara-se essa atmosfera:

 

“há um silêncio dentro desta casa que rasga

o manto de tranquilidade que deixaste para trás

nesse silêncio a casa resume-se ao sonho

de uma escuridão exterior – como se não tivesse portas

mas medo em vez delas

só uma réstia de luz derrama ainda

a consciência infinita de uma infância sonhada

entre estas quatro paredes

que agora se fecham nos meus pulmões

uma penumbra irreal desmaia

esmagada pelo peso da tua mitologia

 

é um silêncio inflamável, tempestuoso, que traz a aridez líquida

de um quadro pintado há muito tempo

escuro como a noite que nasceu do teu leito

e cai agora ao meu lado estremecendo

já sem qualquer espanto”

(25)

 

“Silêncio”, “manto de tranquilidade”, “sonho”, “escuridão exterior”, “sem portas”, “réstia de luz”, “quatro paredes fechadas”, “penumbra irreal”, “desmaio”, “esmagamento”, “mitologia”, “aridez líquida”, “noite”, “já sem qualquer espanto”. A ambiência gótica pode despegar-se da casa em que nos encontramos agora, por poder ser a mesma da infância. É a casa abandonada pelas pessoas que lá viviam, por mim que lá esteve. Agora que aquelas pessoas já não vivem e eu já não sou quem sou. Quem assoma o horizonte é outro e sou eu. Pode ser uma memória que emerge no horizonte e visitamos uma casa sem ninguém que era a nossa casa de infância. A casa e o prédio, a rua e o bairro surgem mergulhados neste halo onírico que nos transforma estruturalmente durante o tempo em que todo esse mundo perdido vem à memória e nós vivemos efectivamente a memória. Perdemos a percepção da própria realidade, ainda que possamos sentir frio ou calor conforme seja o caso. Mas estamos completamente metidos numa dimensão estruturante do passado que nos trabalha a partir do seu interior.

Em NOCTURNUM II lemos claramente:

 

“já não é uma casa

as divisões não são as mesmas

dentro delas o tempo sangra parado sobre mim

como uma recordação ferida

as horas que compunham o conteúdo dos dias

perderam o seu significado

por entre paredes trespassadas pelo seu próprio esquecimento

a casa perdeu a sua definição

onde antes era casa é agora outro lugar

embora com feições semelhantes e ainda a mesma

regra de tijolo, madeira e linho

materiais despidos de uma realidade que desapareceu

cofres de memórias apenas visíveis pela sua ausência

nos interiores demasiado amplos, demasiado obsoletos

para conter o deserto que agora esvazia a casa por dentro

como uma nuvem ardendo

depois da tempestade

a casa onde nasci era um ventre que se fechou

numa só madrugada

 

*

agora

há uma porta que se abre

para nada”

(25-27)

 

“Já não é uma casa”, “as divisões não são as mesmas”, “as horas que compunham o conteúdo dos dias perderam o seu significado”, “paredes trespassadas pelo seu próprio esquecimento”, “casa sem definição”, “antes casa, agora outro lugar”, “materais despidos de uma realidade que desapareceu”. Agora/ há uma porta que se abre para nada. A conclusão preparada pelas premissas Nocturnum I e II vem agora sem apelo nem agravo, a realidade pura e dura da atmosfera peculiar que habitamos em NOCTURNUM III:

 

“este lugar só agora existe

no futuro, é uma ruína

este lugar não existirá e será

para sempre uma casa

que o tempo trancou

chovendo à sua volta

sem parar”

(28)

 

O Futuro existe, mas aparentemente trancado, sem conteúdos inovadores ou sem a possibilidade deles. Não há vasos comunicantes nem um canal de sintonização que permita compreender que a cada instante a realidade do facto puro e duro, em bruto, é a única coisa que estará presente no futuro a haver. Mas, nesse futuro, as paredes não falarão connosco. Serão paredes habitadas por outras pessoas, gente estranha, que nunca poderá perceber como é que dentro de paredes as histórias falam para quem as olha mas são diferentes quando outras gentes as habitam.

Quando lemos UM COPO DE VINHO DA CASA, estamos já no universo poético onde há só sentido, significação, e o que possam ser factos ou a própria realidade só podem ser detectados a partir do esforço de cair na própria realidade ou então quando o sortilégio poético nos abandona e desaparece, fechando a sua dimensão.

Perdemos a sintonização. Quem aparece como gente surge a um ponto de vista dissociativo.

 

“e inundaram as praças de gente provisória e outras só casacos

ainda rígidos pelo repouso da obrigação

gente em cujo movimento fresco habitei contigo a vontade

– que tomei de empréstimo –

de descobrir o que sou sem saber qual a direcção

gente aos magotes toda unida (nós também)

na reinvenção diária da escolha

que tínhamos conquistado por direito e por dinheiro

 

Quem é esta gente?”

(29)

 

“Gente provisória” como eu que habitei a “vontade que tomei de empréstimo”. A descoberta de quem se é dá-se à custa de não se saber “qual a direcção”. “[G]ente aos magotes”- não em conjunto- a reinventar diariamente “a escolha conquistada por direito e por dinheiro”, ou seja, por tudo aquilo que não permite, genuína e autenticamente, fazer escolhas ou tomar opções. Esta gente não consegue sequer vislumbrar a hipótese hermenêutica que na verdade se constitui como um processo ou um encaminhamento que está plasmado em DE UMA JANELA IRREVERSÍVEL:

 

“A infância como possibilidade a perda da infância é a perda de possibilidade.

queria poder dar-te uma escada

para inverter o pensamento

tornar mais alta a distância

abreviar a infância inacabada

e o desaparecimento de todas as possibilidades”

(31)

 

“aí nesse sítio onde ainda era verão

vivias como um lugar sem lugar

como o silêncio vive por baixo

da chama”

(32)

 

A gente é adulta e não é já criança. A vida que perdeu a infância perdeu a possibilidade. Viver é ver desaparecer todas as possibilidades. Não esquecê-las, porque expor-se a elas é estar “nesse sítio onde ainda era verão” (32). A infância descrita em O HOMEM ACRESCENTADO é uma praesentia in absentia: a “morte uma longa irmã” (33). A casa da infância:

 

“um cristal de tempo

repetia-se todos os dias, rodopiando centrípeta

para dentro das supremíssimas cabeças

das crianças que conheceram o fortúnio – o tão legítimo fortúnio

de serem crianças sem o saber

ainda rodopia

talvez a tentar mudar

talvez a tentar fugir

talvez apenas eu já só force

a minha entrada

para a impedir”

(34)

 

Em II, na A HABITAÇÃO DO GESTO lemos uma meditação poética sobre a expressão do sentido ou do horizonte de significação que é a própria atmosfera que filtra a realidade. Esta parte analisa o sentido da semântica, a relação complexa entre palavras e coisas, entre poema como constituição do sentido e a realidade como o seu referente. em fingerspitzengefühl, lê-se

 

“procuro a porta a palavra

a fonte semântica

de todas as coisas”

(40)

 

E abre-se a porta à EXPLICAÇÃO DO POEMA que ainda não existe

 

“uma porta

uma chave para abrir

e outra para fechar

por dentro

a semente contínua de um gesto

a colher o homem

por fora, o eco

repetição interminável

de um corpo irrepetível

e o sonho de um gato depois de morrer

guardam a sua natureza

irreversível”

(41)

 

JOSÉ ANJOS (2017). Somos Contemporâneos do Impossível. Lisboa. Abysmo. https://www.abysmo.pt/livros/94-somos-contemporâneos-do-imposs%C3%ADvel

27 Dez 2017