Ócios & Negócios PessoasCat Cave Cafe | Bebe um chá, leva um gato João Luz - 10 Mai 2017 Há um espaço comercial em Macau que pretende ser mais do que um negócio. De portas abertas há dois anos, o Cat Cave Cafe recebe gatos abandonados e tenta encontrar-lhes um novo dono [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]ão é um café temático, que tenha apostado em felinos como elemento decorativo ou de atracção. Os gatos estiveram na origem do café e Ivy Lei, proprietária do espaço, reconhece que os animais até podem funcionar como um chamariz, mas a ideia é bem diferente. “O meu objectivo era fazer com que as pessoas percebessem que é fácil conviver com gatos. O café funciona como um canal para a adopção”, conta ao HM. Foi a pensar nos animais abandonados – sobretudo nas crias que andam pelas ruas – que Ivy Lei abriu, em 2015, o Cat Cave Cafe, na zona do Lilau. A maioria dos gatos chega ao espaço com poucos dias de vida. “São trazidos por clientes e por pessoas que sabem que nós os acolhemos. Pedem-nos ajuda. E aqui ficam até serem adoptados.” A dona do estabelecimento não entra em números, mas acredita que, por causa do seu projecto, há hoje menos felinos nas ruas de Macau. E porque proporcionou um espaço onde humanos e gatos podem ter contacto, acabou com mitos e receios. “Há clientes que não tinham experiência com gatos em casa e, depois de terem passado pelo café, decidiram adoptar um”, conta. “Depois, tenho também clientes que perderam o medo. Foram lá com amigos e ficaram a gostar deles de gatos.” Os animais que não são adoptados recebem dos clientes festas e uma atenção que não teriam se estivessem na rua. O espaço, composto por duas salas diferentes, convida a estar – não é um local para um café ou um chá a correr. A maioria dos clientes gosta de gatos, claro está. “Vêm aqui sobretudo famílias com crianças, idosos e casais”, descreve a proprietária. A jovem empresária garante que o facto de haver felinos que se espreguiçam em sofás e pedem mimos aos clientes não é um problema. Ainda assim, já presenciou um ou outro episódio menos agradável. “De vez em quando, acontece haver pessoas que se assustam e gritam, o que é desconfortável para os outros clientes”, diz. Pouca gente, pouco dinheiro Além de bebidas, o Cat Cave Cafe serve refeições: do menu fazem parte pizzas, pastas, saladas e sobremesas. Ivy Lei assume que não há um prato especial – os clientes que lá vão com frequência, “duas ou três vezes por semana”, gostam sobretudo de brincar com os animais que dão vida ao espaço. Agora com 31 anos, a empresária decidiu abrir o café depois de ter levado um gato para casa. Os cafés com felinos entraram na moda nas cidades e o Cat Cave Cafe veio provar que, nalguns aspectos, Macau não foge à regra. Com dois anos de trabalho, Ivy Lei confessa que é mais difícil cuidar dos animais do que tratar do funcionamento normal de um café. A principal dificuldade vem do custo que os gatos implicam: além da alimentação e dos brinquedos, há as vacinas e a medicação. “As despesas podem chegar às 800 patacas por gato”, contabiliza. Apesar de o Cat Cave Cafe ser um sucesso no que diz respeito aos gatos que já saíram das ruas, as finanças ditam outra realidade. Ivy Lei explica que, ao fim-de-semana, o estabelecimento tem bastante movimento mas, durante a semana, “está mais vazio”. Os gatos são um motivo de atracção para quem gosta de felinos mas, continua a proprietária, “há muita concorrência entre cafés em Macau”. De cada vez que abre um espaço novo, o facto reflecte-se no dinheiro que entra em caixa. O Festival de Gastronomia, organizado anualmente na rotunda junto à Torre de Macau, também significa uma quebra no negócio. Ivy Lei depara-se ainda com outra dificuldade, partilhada pela grande maioria dos pequenos e médios empresários do território: a falta de recursos humanos. “É muito difícil recrutar pessoal por causa das quotas”, desabafa. O sistema de protecção à mão-de-obra local limita a importação de trabalhadores e não é fácil encontrar, entre os residentes de Macau, quem queira um emprego num café. “Estabelecimentos como este não conseguem garantir o número suficiente de trabalhadores. Por isso, é difícil manter as portas abertas.” Os problemas que vão surgindo não fazem com que Ivy Lei pense em desistir. “Vou lutar para continuar a ter o café, não tenho qualquer outro projecto em mente”, explica. Feitas as contas, o balanço é positivo: “Tudo isto contribui para que haja cada vez mais pessoas a adoptar animais”. Mais gatos em casa, menos gatos abandonados. Cat Cave Cafe Rua de Inácio Baptista Edifício Hou King (bloco I), r/c A Macau