Manchete SociedadeDia Mundial da Água | A maré vermelha no Nam Van João Luz - 23 Mar 201723 Mar 2017 [dropcap style=’circle’]Q[/dropcap]uem passeou nos últimos dias pelo Lago Nam Van pode ter-se apercebido da coloração um pouco mais escura das águas. A razão para a mudança de cor do local de lazer é a acumulação de organismos chamados dinoflagelados, formando um fenómeno mais conhecido como maré vermelha. Não sendo, necessariamente, causa para alarme, é uma situação que merece atenção e, como tal, foram observados pelos microscópios do Instituto de Ciências e Ambiente (ICA) da Universidade de São José. Não numa perspectiva de levantamento profundo, de ‘survey’, mas numa mera observação que revelou “que os dinoflagelados estavam a crescer em número abundante”. Quem o diz é David Gonçalves, director do instituto. Estes organismos podem, ou não, conter toxinas altamente prejudiciais para os humanos, principalmente se forem ingeridos, dependendo das espécies que causam as marés vermelhas. Neste aspecto, os bivalves podem ser uma deliciosa ameaça, uma vez que são criaturas filtradoras e vão acumulando dentro de si estes microrganismos. Quando foram servidos num prato e temperados por toxinas, quem os consome corre o risco de estar a prejudicar gravemente a saúde. As consequências para a saúde humana dependem do tipo de toxina. Algumas são neurotóxicas e podem causar problemas no sistema nervoso central; outras podem causar amnésia. Outra consequência para a saúde pode manifestar-se no sistema digestivo, provocando diarreia, náusea e vómitos. O contacto directo não provoca nenhum efeito de maior. Apesar disso, não é aconselhável nadar numa maré vermelha. O nadador incauto não arrisca a vida, mas pode ficar com irritação na pele e nos olhos. No Lago Nam Van podemos assistir “à morte de alguns organismos aquáticos nos próximos dias”, projecta David Gonçalves. No entanto, o director do ICA crê que o IACM vai tomar medidas para evitar as consequências, “nomeadamente através da renovação da água do lago”. Líquido essencial Como não foi realizado um estudo intensivo às restantes águas de Macau, David Gonçalves não pode adiantar o seu estado em relação às marés vermelhas. “Isto foi uma mera observação ocasional mas, do que reparei, no Lago Sai Van não me pareceu existir o mesmo problema”, conta. As águas mantiveram uma coloração normal. Também à primeira vista, os leitos do lado de fora do rio não apresentaram o mesmo problema verificado em Nam Van. No rescaldo do Dia Mundial da Água, uma efeméride assinalada pelas Nações Unidas, foi anunciado que uma em cada quatro crianças no mundo está em risco de ficarem sem acesso a água potável, de acordo com um relatório da UNICEF. O flagelo de um recurso essencial à vida aprofunda-se com as alterações climáticas, a industrialização e os movimentos demográficos. Por cá, os problemas com a poluição das águas verificam-se ao nível de diversos poluentes. As bacias hídricas de Macau contêm plásticos e micro-plásticos, metais pesados e “poluentes orgânicos que têm vindo a aumentar um pouco nos últimos anos”, conta o director do ICA. Relativamente a estes últimos, a sua proveniência pode ser dos afluentes das estações de tratamentos das águas residuais que não conseguem tratar totalmente dos resíduos. Depois, temos os problemas dos leitos de água que são contaminados por pesticidas vindos dos campos de exploração agrícola. Estes problemas de poluição verificam-se, principalmente, nas águas costeiras da região. Não obstante não ter sido realizado um estudo aprofundado das águas que circulam Macau, a indústria da pesca não é algo que seja aconselhável. Como tantos outros produtos, que se importe.