China | Indignação em caso de alegada brutalidade policial

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]ilhares de chineses pertencentes à emergente classe média do país participaram num abaixo assinado contra a decisão de uma procuradoria de Pequim de não acusar cinco polícias suspeitos da morte de um activista ambiental.

Lei Yang tinha 29 anos quando foi detido a 7 de Maio e algemado ao oferecer resistência para entrar no veículo da polícia. Pouco depois morreu afogado no próprio vómito num hospital na capital chinesa.

Segundo a decisão da procuradoria do distrito de Fengtai, emitida na sexta-feira, os cinco suspeitos, incluindo um subcomissário, “cometeram actos impróprios durante o seu trabalho que conduziram à morte de Lei e não pediram ajuda quando este se revelou doente”.

Tal comportamento requer sanções disciplinares “graves” mas não precisa de ser levado a tribunal, diz a decisão.

Num caso raro de demonstração pública de revolta da classe média chinesa contra as autoridades, dois baixos assinados foram iniciados ‘online’ por antigos estudantes universitários.

“Quando algo tão nefasto, tão difícil de aceitar, ocorre na sociedade, é como se deflagrasse um fogo interior, que sentimos nos ossos”, contou à Associated Press Yu Li, uma funcionária do ramo informático, que assinou o baixo assinado.

Os organizadores disseram não querer protestar nas ruas, por temer retaliações do Governo, mas o caso ilustra a crescente dificuldade do Partido Comunista Chinês em lidar com uma opinião pública cada vez mais exigente.

Questões como a injustiça no sistema judicial, poluição, corrupção ou escândalos de saúde pública ameaçam minar a legitimidade do partido junto de um segmento influente da sociedade.

O abaixo assinado reuniu mais de 2.400 assinaturas de antigos estudantes da Universidade Renmin, onde Liu se licenciou, e outras universidades chinesas de topo, como a Universidade Tsinghua e a Universidade de Pequim.

Entre os signatários constam académicos prestigiados e o presidente executivo de uma empresa de produtos alimentares.

Num país onde a brutalidade policial é “frequente”, o caso de Lei atraiu especial atenção devido ao seu perfil de jovem educado e activista ambiental que fazia parte de um centro de pesquisa do Estado.

Ser tansversal

Zhang Wen, um conhecido comentador chinês, disse à Associated Press que casos de injustiças contra camponeses ou trabalhadores migrantes são frequentes na China, “mas devido à sua classe social, os seus casos não geram oposição em massa ou consciencialização”.

“O caso de Lei Yang, porém, quebrou com as barreiras geográficas ou até de classe”, afirmou. “Se pode acontecer com ele, pode acontecer com qualquer um de nós. Qualquer um de nós podia ser o Lei Yang”, disse.

A Universidade Renmin, onde Lei se formou e cujo significado em português é Universidade do Povo, foi fundada pelo Partido Comunista, ainda antes da fundação da República Popular.

A maioria dos economistas, académicos e historiadores da instituição costumam apoiar as decisões do Partido.

Yu, que também assinou em protesto, disse que nunca se considerou activamente político, até que o caso de Lei o chocou.

“Nós esperávamos que este caso fosse resolvido com transparência e de acordo com a lei”, afirmou Yu, que estudou na Universidade Renmin, em 1996.

“Em vez disso, o que observamos é que o julgamento foi feito tendo em consta a estabilidade. Eles valorizaram mais a lealdade da polícia, do que as lamentações da população”, afirmou.

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