Papa Francisco | “Não temam a ascensão da China”

O papa Francisco apelou ao mundo para que “não tema a ascensão da China”, numa entrevista publicada na revista Asia Times em que aborda o impacto da rápida modernização do país mais populoso do planeta.
“O medo não é bom conselheiro”, disse o Papa argentino ao ser questionado sobre os desafios gerados pela abertura de um “gigante” historicamente fechado ao exterior.
“Os homens e as civilizações tendem a comunicar (…) o mundo ocidental, o oriente e a China, todos têm a capacidade e a força de manter o equilíbrio da paz”, assinalou o pontífice católico.
A entrevista, dirigida pelo italiano Francesco Sisci, um especialista nas relações entre a República Popular da China e a Santa Sé, ocorreu numa sala do Vaticano decorada com o quadro da Nossa Senhora Desatadora dos Nós.
A China e a Santa Sé não têm relações diplomáticas e a única igreja católica autorizada pelo Governo chinês é independente do Vaticano.
Convictamente ateu e marxista, o Partido Comunista Chinês, que governa o país desde 1949, proíbe os seus membros – mais de 80 milhões – de seguir qualquer religião.

Obstáculos e avanços

Questionado sobre a política do “filho único”, um rígido controlo da natalidade que vigorou na China desde 1980 até ao início deste ano, o Papa qualificou-a de “dolorosa”.
“A pirâmide está invertida e uma criança tem de suportar o encargo de seus pais e avós. É exaustivo, exigente e desorientador. Não é a forma natural”, sublinhou.
Sobre as profundas alterações na sociedade chinesa, em resultado do trepidante desenvolvimento que transformou em três décadas um país pobre numa potência económica, o Papa lembrou que “o povo chinês está a avançar”.
“É necessário reconhecer a grandeza do povo chinês, que sempre conservou a sua cultura. E a sua cultura – e não falo de ideologias que existiram no passado – não lhes foi imposta”, referiu.
“Acredito que a grande riqueza da China hoje é olhar para o futuro a partir de um presente que é sustentado pela memória do seu passado cultural”, acrescentou.
Oficialmente, o número de cristãos na China continental rondará os 23 milhões, a maioria dos quais protestantes, o que não chega a 2% da população – 1.374 milhões de habitantes, ou cerca de 18% da humanidade.
Fontes ocidentais estimam que haja “dezenas de milhões” de outros cristãos ligadas às chamadas “igrejas clandestinas”.
Nas vésperas do país celebrar o Ano Novo Lunar, a grande festa que reúne as famílias chinesas, o Papa enviou ainda os melhores votos e cumprimentos ao povo e ao Presidente chinês, Xi Jinping.
“O mundo espera pela vossa sabedoria”, concluiu, na primeira mensagem em dois mil anos enviada por um Papa a um líder chinês por altura do Ano Novo Lunar.

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