Olavo Rasquinho VozesPontes e muros Num mundo em que ainda se constroem e reforçam barreiras físicas entre povos de culturas, regimes políticos ou religiões diferentes, é reconfortante saber que existem também ações em sentido contrário que consistem na construção de pontes que reforçam os laços de amizade entre os povos. Talvez a barreira atual mais irracional e antinatural é a que divide a península da Coreia em dois estados. Desde 1953 os coreanos do Norte e do Sul permanecem fisicamente separados, fruto da intolerância e irracionalidade humanas. Uma faixa de aproximadamente 250 km de comprimento e 4 km de largura impede as relações entre os coreanos do Norte e os do Sul. Esta zona de separação inclui Panmujom (localidade na Coreia do Sul onde foi assinado o Armistício em 1953), a Linha de Demarcação Militar, que se estende aproximadamente ao longo do paralelo 38° N, e a Zona Desmilitarizada, conhecida internacionalmente por DMZ (do inglês DeMilitarized Zone). Esta zona tampão está cercada por arame farpado, minas terrestres e forças militares. Um outro exemplo de barreira consiste no muro que separa os EUA e o México, tão criticado pelo partido democrático quando na oposição, mas que ainda permanece mesmo depois de Trump ter perdido as eleições em 2020. Também o muro que separa o Estado de Israel da Faixa de Gaza ilustra a separação entre povos de culturas e religiões diferentes. Mas não é apenas nas Américas, no Médio-Oriente ou na Ásia que existem estas barreiras. A queda do Muro de Berlim, construído em 1961 e derrubado em 1989, poderia ser o prenúncio de uma Europa sem barreiras entre os povos. No entanto, a ânsia de notoriedade por parte de um estado euro-asiático com tendências párias fez com que novas barreiras estejam a ser construídas, como acontece com a que está a ser levantada entre a Finlândia e Federação Russa. Também entre a Polónia e a Bielorrússia se ergueu recentemente uma barreira de arame farpado a fim de evitar a invasão de migrantes arremessados pelo regime bielorrusso, com o intuito de criar problemas aos vizinhos polacos. Ainda na Europa foram levantadas outras barreiras, nomeadamente entre a Hungria e a Sérvia e entre a Bulgária e a Turquia, com o intuito de dificultar o fluxo migratório. Entre a República da Irlanda (membro da União Europeia) e a Irlanda do Norte (pertencente ao Reino Unido), embora não se trate de barreiras físicas, foram criados, no contexto do Brexit, pontos de controlo que dificultam o trânsito de mercadorias. A República de Chipre, pertencente à União Europeia, está separada da designada República Turca de Chipre do Norte, pela chamada Linha Verde, à qual corresponde no terreno, não propriamente a um muro, mas a uma sequência de inestéticos amontoados de pedras, veículos degradados, entulho, sacos de serapilheira cheios de terra, etc. Esta situação perdura desde 1974, aquando da invasão da ilha por tropas turcas. Contrariando a tendência de criar obstruções entre os povos, são frequentes as atitudes amistosas, como a geminação de cidades de países diferentes. Assim, por exemplo, entre Portugal e a China, com o intuito de promover a cooperação em várias áreas (nomeadamente intercâmbio cultural, turístico e económico), são consideradas cidades-irmãs: Porto e Macau; Lisboa e Pequim; Coimbra e Xangai; Cascais e Zhuhai. Também entre Portugal e o Japão há exemplos de atitudes deste tipo, como a geminação entre Lisboa e Tóquio; Porto e Nagasaki; Vila Nova de Gaia e Iwata. Outro exemplo de manifestação de amizade por parte do Japão em relação a Portugal consiste na atitude das autoridades do município de Chiba, cidade sensivelmente à mesma latitude do Cabo da Roca. Em homenagem a Portugal foi erigido um monumento no Cabo Inubo onde está gravado “Cabo Inubo e Cabo da Roca – Monumento à Amizade – Aqui, onde o mar se acaba e a terra começa”, em analogia com monumento erigido no Cabo da Roca, onde se pode ler uma das estrofes do canto III de Os Lusíadas “Onde a terra se acaba e o mar começa”. Ainda no município de Chiba, na estação ferroviária de Inubo, encontra-se um mosaico que consta de um mapa português da Ásia, datado de 1630. Em tempos em que se constroem muros entre os povos, é gratificante constatar que também se edificam pontes. Meteorologista
Hoje Macau SociedadePonte HZM | Macau paga mais de 3 mil milhões de patacas [dropcap]M[/dropcap]acau pagou cerca de 2,6 mil milhões de yuans (mais de 3 mil milhões de patacas) para a construção da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, noticiou a Teledifusão de Macau (TDM). A televisão indicou na quarta-feira à noite que o aumento dos preços com materiais e trabalhadores, devido a reajustamentos da concepção e do programa de execução, obrigou o Governo de Macau a pagar mais 590 milhões de yuans. No ano passado, os custos do projecto aumentaram cerca de 4,7 mil milhões de yuans a dividir pelos Governos das três regiões, que participam na construção e administração conjunta da nova ponte. A construção da ponte foi orçamentada em 38,118 mil milhões yuans, quando foi assinado, em 2010, o acordo tripartido que permitiu avançar com o empreendimento. O encargo de 15,73 mil milhões de yuans foi suportado por Hong Kong, Zhuhai e Macau. Em Novembro passado, as autoridades tinham estimado o aumento dos custos podia ser de 11 mil milhões de yuans, de acordo com o Gabinete de Desenvolvimento de Infra-estruturas (GDI). A comparticipação de Macau nos custos de construção é 12,59%, inicialmente orçados em 1,98 mil milhões de yuans, acrescentou. Iniciado em Dezembro de 2009, o projecto, com uma extensão total de 55 quilómetros, inclui uma ponte principal de 22,9 quilómetros e um túnel subaquático de 6,7 quilómetros, sendo uma infra-estrutura importante na estratégia de integração da Grande Baía de Guangdong-Hong Kong-Macau, que pretende criar uma região metropolitana de nível mundial. A 8 de Janeiro, o jornal China Daily tinha noticiado que a nova ponte podia abrir em Maio ou Junho próximos, dependendo dos trabalhos de construção dos postos fronteiriços em Zhuhai e Hong Kong. Sem precisar uma data para a abertura da ponte, o diário, que citou fontes não identificadas, acrescentou que o posto fronteiriço em Macau deverá ser o primeiro a ficar pronto, dado o ritmo dos trabalhos.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaPonte do Delta | Au Kam San questiona custos para Macau Contas são um mistério O deputado Au Kam San pretende saber o valor total que Macau terá de suportar face às derrapagens orçamentais com a construção da nova ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau. E questiona o silêncio do Executivo sobre o assunto [dropcap]A[/dropcap] nova ponte que vai ligar Hong Kong, Zhuhai e Macau deverá receber os primeiros veículos ainda este ano, tendo um orçamento superior a cem mil milhões de yuan. Porque o projecto foi sofrendo atrasos e derrapagens orçamentais, com Hong Kong a anunciar, recentemente, que as duas regiões administrativas especiais teriam de investir mais na obra, o deputado Au Kam San questionou o Governo sobre o valor da factura que será suportada pela RAEM. Numa interpelação escrita, o deputado lembra que o orçamento inicial do projecto estava estimado em 38 mil milhões de yuan, sendo que 15,73 mil milhões seriam nanciados pelas três regiões onde a ponte vai ser construída. Por sua vez, os restantes 20 mil milhões de yuan “seriam pagos através do crédito bancário a ser contraído pelo consórcio do empreendimento”. “De acordo com essa estrutura de nanciamento, Macau teria de assumir 1,980 mil milhões de yuan. Porém, com a contínua derrapagem orçamental que se tem veri cado nesse empreendimento, qual vai ser, a nal, o montante da des- pesa que Macau vai ter de assumir?”, questiona Au Kam San. O deputado alerta ainda sobre o silêncio do Governo sobre esta matéria, defendendo que “o público tem vindo a ser iludido e completamente deixado às escuras”. “Quando o membro do Governo responsável pela tutela desse projecto, Raimundo do Rosário, foi questionado sobre o assunto, apenas respondeu que o ‘Governo tem verba já cabimentada para a ponte sobre o Rio das Pérolas’e, quando questionado sobre se aquele montante seria su ciente, apenas a rmou ‘vamos ver à medida que andamos’, sem acres- centar mais nenhuma informação para o público”, lembra Au Kam San. E AS LIGAÇÕES? Para Au Kam San, há também muito para explicar sobre o custo das instalações físicas da ilha arti cial. O projecto é da responsabilidade do Governo local, tendo as obras sido entregues a empresas da China Continental. Contudo, “não foram revelados por- menores quanto ao montante das despesas relativas a essa parte do empreendimento. Qual é o montante das despesas com essas obras? E quando é que as mesmas vão estar concluídas?”, inquiriu. “O público tem vindo a ser iludido e completamente deixado às escuras.” Au Kam San destaca ainda o facto de serem necessárias duas ligações para unir a futura ilha artificial aos novos aterros e também à península, além de serem “indispensáveis as infra-estruturas rodoviárias situadas na zona dos novos aterros, que estão relacionadas com essas duas ligações”. Também para estes projectos o de- putado deseja saber detalhes. “Quando é que vai ser iniciada a construção dessas três ligações? E quando é que estará concluída? Qual é o orçamento para cada uma das referidas ligações?”, perguntou. UM MILAGRE Na interpelação escrita, o deputado de- fende também que “Macau tem passado ao lado da construção da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau”, pois “olhando para o que está a acontecer, até agora nada se mexeu”. “Segundo o secretário Raimundo do Rosário, Macau vai tomar medidas necessárias para que a ponte seja aberta à circulação automóvel em finais do corrente ano. Mas ninguém acredita que, em dez meses, possa estar concluída a ligação do troço de Macau da ponte sobre o Rio das Pérolas, no qual se inclui o edifício da inspecção alfandegária de Macau.” O deputado duvida ainda que “estejam prontos os canais aquáticos que estabelecem a ligação da ilha artificial à zona dos novos aterros e a conexão desta área com a península de Macau, bem como as obras de infra-estruturas desses dois canais localizados nos referidos novos aterros”. Au Kam San questiona mesmo se “vai haver algum milagre” para que todos esses projectos sejam edificados a tempo e horas. Ainda assim, “até ao momento, a maior incógnita continua a ser o encargo da construção do troço de Macau da ponte sobre o Rio das Pérolas, e o montante da derrapagem orçamental e da despesa que Macau vai ter de assumir. E, além disso, ainda o montante das despesas com as infra-estruturas rodoviárias para a ligação entre essa ponte e a península de Macau”, rematou.
Hoje Macau SociedadeGoverno estuda construção de dois túneis subaquáticos [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] CCCC Highway Consultants Macau Branch foi ontem incumbida de dois serviços pelo Governo: um deles é a instalação de equipamento para monitorizar a saúde estrutural da Ponte da Amizade e o outro a elaboração de um estudo de viabilidade para a construção de dois túneis subaquáticos. Os anúncios foram ontem publicados em despachos no Boletim Oficial. Enquanto que pelo primeiro serviço a empresa vai receber 11,7 milhões de patacas – para a empresa proceder à prestação de serviços de instalação do equipamento do sistema de monitorização –, o segundo trabalho vai custar aos cofres do Governo 7,2 milhões de patacas. O estudo para a construção de dois túneis subaquáticos serve a Ponte Nobre de Carvalho. O HM tentou, sem sucesso, obter mais detalhes sobre a necessidade destes túneis, mas não foi possível qualquer resposta da tutela das Obras Públicas. A CCCC é uma das maiores empresas estatais chinesas, estando por exemplo encarregue de trabalhos como a Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau. Um relatório da Bolsa de Valores de Hong Kong refere que, em 2006, a empresa tinha como accionistas Li Ka Shing, considerado o homem mais rico de Hong Kong, e Joseph Lau, empresário de Hong Kong condenado por corrupção em Macau.