Manuel de Almeida VozesA ditadura dos números [dropcap]N[/dropcap]úmeros, percentagens, estatísticas – “usa-se a estatística como um bêbado usa os postos de iluminação – mais para se agarrar do que para ter luz”, na opinião de Andrew Lang (1844 – 1912)”. A mim quando me querem enganar apresentam-me estatísticas, percentagens, números. Valores, preços, índices, inflação, queda, compra, venda, dívida, mercados, cifras, bolsa, Pib, é a linguagem corriqueira do dia a dia – usa-se e deita-se fora – é descartável. Mas o que não me dão a conhecer são os números das empresas públicas, os números de quanto recebem – institutos, associações, academias, organizações… -, os que realmente me interessam, assim já não seria tão facilmente manipulado/enganado. Todos aqueles que recebem dinheiro do Governo/Fundação Macau deveriam ser obrigados a publicar anualmente o seu relatório de contas – transparência. O enquadramento económico em que vivemos valoriza mais os números que as palavras. Tudo o que desejamos e conhecemos é mediado ou condicionado pelo dinheiro – é o quotidiano da economia/gestão. Deixámo-nos guetizar demasiado pelos números – existem mas não são nossos Amigos. Os números serão servos, não os senhores, num futuro não muito distante. É o caminho da História. Eu sei, escusam de me lembrar, quando se dão os primeiros passos na escola, começa-se pelos números, vindo depois a leitura, mas isso é uma degeneração da escola. Depois, existe o discurso económino dominante, que “arranjou uma novilíngua orwelliana recheada de anglicismos que afastam o cidadão do contéudo do discurso – yields, credit default swaps, hedge, bonds, etc.” – o que numa sociedade de grande iliteracia económica, mantém-nos ignorantes, aterrorizados, eu diria que, ameaçados. É um tsunami. Nesta sociedade de soberba e de números, o futuro será violento. Um capitalismo abstracto e devorador (existe o pecado da gula). O mundo tem de girar em sentido contrário – 1% da polulação detém a riqueza mundial. Mas o filme que se segue é de terror. A poluição vai aumentar de maneira desenfreada – as metas do Protocolo de Paris esqueçam – , vai-se procurar recuperar de maneira inconsciente o tempo perdido, nada será programado, nada será estudado. A mudança devia ser feita de forma gradual, global e planeada. Nenhum país, nenhum governo, tomará medidas estruturantes da sociedade (e eram fáceis ) – será o cada um por si e salve-se quem puder- será um caos. Já era, agora será pior, o mundo vai assentar só no pressuposto dos valores económicos e na procura incessante pelo lucro, vão – sem dó nem piedade -, substituir os valores humanistas – pelo poder da irracionalidade. Hoje, na dúdiva entre vida e dinheiro, sobrepõe-se o dinheiro. Não há objectivos públicos, há sim interesses económicos. O Mundo passou a ser matéria-prima – é desolador. A selva já era grande – em Macau então, não há palavras -, ter ou manter um trabalho vai ter um grande custo – frustação, ansiedade, irracionalidade, perseguição, solidão -, já que o trabalho não respeita, nem nunca mais respeitará a fragilidade da vida. É como diz a doutrina social da Igreja, “o trabalho é para o homem e não o homem (apenas) para o trabalho” – uma das medidas estruturantes da sociedade passaria por corrigir, emendar, aliviar, algumas medidas das actuais normas de trabalho – algumas normas actuais, ainda são reguladas como se estivéssemos nos princípios do séc. XVIII – e, lembrem-se das palavras de Michel Foucault, quando ele se referia ao século citado: “A vida não existe. Existem apenas seres vivos”, os “senhores mandam, os súbditos obedecem”. O que agora nos aconteceu – pandemia – é apenas uma pequena parte do assustador mundo que temos pela frente. As quatro grandes ameaças do século XXI – segundo Stephen Hawking (1942 – 2018), “por ordem de importância: a inteligência artificial, uma guerra nuclear, as alterações climáticas e a questão demográfica”. É altura de todas as Nações do mundo se unirem em objectivos comuns. O Mundo requer um novo olhar, um “misto de pragmatismo, flexibilidade e solidariedade”. Há deveres, não há direitos – a desumanização da vida! “Escrever é também não falar. É calar-se. É gritar sem ruído” Marguerite Duras (1914 – 1996)
Andreia Sofia Silva VozesO problema dos números [dropcap]A[/dropcap]s esperanças estão depositadas num novo Governo que parece estar, finalmente, a agir ao invés de se limitar a existir. No entanto, é preciso percorrer ainda muito caminho para que o discurso político seja levado a sério sempre que é proferido. Os últimos governantes têm tido um problema com os números: não só a fiscalização dos gastos é muito difícil de fazer como quem governa gosta de fazer de nós parvos. Não se percebe como é que, em pleno hemiciclo, se diz que o Plano de Desenvolvimento Quinquenal foi cumprido em 80 ou 90 por cento, por exemplo. Como se chegaram a estes valores? O que se cumpriu, e como? Serviu quem, e o quê? Esta segunda-feira houve outro exemplo crasso no debate sobre a área dos Assuntos Sociais e Cultura. Falou-se dos gastos na saúde e aí, novamente, o mistério. Ao Ieong U apenas disse que 45 por cento do orçamento vai para pessoal médico, 25 por cento para a compra de medicamentos. E os valores? E as diferenças entre público e privado? Não se sabe. Entre 1999 e hoje apenas soubemos o orçamento do Centro Hospitalar Conde de São Januário uma única vez, no ano de 2015. Ficou a promessa, por Alexis Tam, de divulgação dos orçamentos posteriores, mas até hoje nada. A maior parte dos deputados assobia para o lado quando estas frases são proferidas na Assembleia Legislativa. Se a transparência é o mote deste Governo, então que se leve isto a sério.
Hoje Macau SociedadeMais de 600 mil turistas em apenas cinco dias [dropcap]M[/dropcap]ais de 600 mil turistas visitaram Macau em apenas cinco dias este Natal, um aumento de 15,23% em relação ao mesmo período do ano passado, informaram hoje as autoridades. O número total de turistas entre 22 e 26 de Dezembro foi de 607.524, com as autoridades a registarem a maioria das entradas nas Portas do Cerco, no norte da península de Macau, na fronteira terrestre com a China continental. Já na ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, inaugurada no final de Outubro, processaram-se 126 mil entradas. A 21 de dezembro, as autoridades do território anunciaram que mais de 32 milhões de pessoas visitaram Macau nos primeiros 11 meses do ano, um aumento de 9,1% em relação ao período homólogo de 2017. De acordo com a Direcção dos Serviços de Estatísticas e Censos (DSEC), o número de turistas (16.751.684) e de excursionistas (15.482.154) cresceu 7,2% e 11,1%, respectivamente, totalizando 32.233.838 visitantes em Macau de Janeiro a Novembro de 2018. Por visitante entende-se qualquer pessoa que tenha viajado para Macau por um período inferior a um ano, um termo que se divide em turista (que passa pelo menos uma noite) e excursionista (que não pernoita). Segundo a DSEC, a maioria dos visitantes é proveniente do interior da China (22.811.627), tendo-se registado uma subida de 13,3% face a igual período do ano passado. Só em Novembro foram contabilizados 3.266.283 visitantes, o que representou um aumento de 15,3% em termos anuais e um acréscimo de 3,6% em relação a Outubro. A DSEC justificou este acréscimo com a entrada em funcionamento da mega ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, através da qual 436.660 visitantes entraram na região administrativa especial chinesa de Macau. Em 2017, chegaram ao território 32,61 milhões de visitantes, mais 5,4% do que em 2016.