IFFAM | “Lost Paradise”, de Tracy Choi, aborda assédio sexual

A secção “Industry Hub” da 3ª Edição do Festival Internacional de Cinema de Macau seleccionou 14 projectos para serem apresentados às produtoras e distribuidoras internacionais que marcam presença no evento. De Macau foram escolhidos os filmes “Lost Paradise” de Tracy Choi e “Wonderland” de Wang Chao Koi. Além dos três prémios monetários a ser atribuídos por esta secção, este ano há mais uma recompensa dedicada ao filme que melhor retrate o espírito de Macau

A redenção

[dropcap]O[/dropcap] assédio sexual é o tema central de “Lost Paradise”, a terceira longa metragem da realizadora local Tracy Choi. De acordo com a cineasta o objectivo “não é abordar o acto de assédio em si ou fazer uma perseguição a quem o faz”, mas antes trazer ao ecrã “a forma como as vítimas sobrevivem após terem sido sujeitas a assédio ou mesmo a violação”.

A escolha do tema deve-se a uma razão pessoal. “Tenho uma amiga que já foi violada e sinto-me responsável por não ter evitado a situação”, conta a realizadora ao HM. “Não éramos muito próximas, mas na noite em que foi violada eu estive com ela. Saímos para nos divertir. No final da noite fui-me embora e ela ficou com outras pessoas. Sinto-me sempre muito culpada por a ter deixado sozinha e não ter ficado com ela naquela noite”, explica.

No entanto, o período subsequente também não foi fácil para a vítima. “As pessoas sentem-se envergonhadas, tendem a não falar e a viver mais isoladas”, acrescenta Choi, salientando que é um filme de redenção e alerta para esta problemática.

Festival promissor

Acerca do festival de cinema que decorre em Macau até o dia 14, a cineasta confessa que, ao contrário do que se esperava depois de uma primeira edição marcada por muitos percalços, o evento tem tido um desenvolvimento assinalável.

Por outro lado, o destaque dado aos filmes locais é cada vez mais evidente. “Recordo que na primeira edição, e mesmo no ano passado, os filmes de Macau eram projectados em horários menos nobres, em que as pessoas normalmente não tinham disponibilidade para ir ver. Este ano não é assim, os filmes locais estão agendados para a noite e esta é também uma forma de promover o cinema que por cá se faz”, aponta.

Também na secção da indústria, o cinema local tem vindo a ser aceite, sendo que “no primeiro ano não foi seleccionado nenhum projecto de Macau, no ano passado já houve a presença de um e este ano estão dois realizadores a apresentar os filmes para financiamento e distribuição”, sublinha com entusiasmo.
Recorde-se que a primeira longa metragem de Tracy Choi, “Sisterhood”, foi a vencedora do prémio do júri na edição de estreia do maior evento local dedicado à sétima arte.

11 Dez 2018