Fernanda Gil Costa: “Universidade de Macau não tem interesse no português”

Fernanda Gil Costa defende ao HM que a Universidade de Macau deveria assumir um papel mais preponderante na ligação com a sociedade civil, papel esse que tem sido protagonizado pelo IPM. A académica conta que chegou a propor a criação de um centro de pós-graduação destinado a professores de português na China, semelhante ao que existe no IPM, mas o projecto ficou na gaveta

[dropcap]L[/dropcap]ança este ano um livro sobre autores contemporâneos de Macau. Fazem falta mais estudos por parte do Instituto Politécnico de Macau (IPM) e da Universidade de Macau (UM) nesta área?
Por parte da UM sem dúvida, porque na UM faz-se muito pouco ou nada. E não há incentivos nenhuns.

Como explica essa inacção?
A explicação que encontro é que a UM não tem interesse no fortalecimento da língua portuguesa, não investe na interacção entre o departamento de português e a comunidade macaense. Assisti a isso várias vezes e participei de alguns episódios. As autoridades da UM não entendem que a universidade deve ter esse papel. Aliás, esse papel é reclamado pelo IPM constantemente e a UM não faz nada. Isso está muito bem definido na sociedade de Macau, pois quando se fala do português é o IPM que toma a iniciativa e aparece como o rosto.

Há também maior ligação do IPM ao poder político da China.
Sim, na China e em Portugal também. Não conheço o novo reitor da UM, mas o reitor que conheci, Wei Zhao, não tinha como prioridade desenvolver o português, apesar de me ter dito pessoalmente várias vezes. É possível dar aulas de português com mais ou menos alunos, mas o que falta é uma ligação com outras comunidades académicas e com a sociedade civil de Macau, sobretudo com as instituições do espaço público.

Chegou a apresentar projectos específicos que foram negados?
Não foram negados directamente, mas não me disseram que sim. Houve uma altura que tive um projecto e pareceu-me que o reitor gostou muito dele, e que consistia em criar na universidade um centro de pós-graduação destinado aos professores de português na China. O IPM pegou nisso como pode, pois não me parece que, até hoje, tenha uma acção muito visível. Mas isso nunca avançou (na UM) por várias razões.

Como por exemplo?
Algumas dessas razões são políticas e tem a ver com o facto de os professores chineses não poderem estar em Macau mais do que um determinado período por ano, porque precisam de vistos especiais e isso não é possível de obter, ou é muito difícil. Cheguei a falar com o doutor Sou Chio Fai (director do Gabinete de Apoio ao Ensino Superior), que se mostrou interessado em resolver o problema, mas disse-me que isso tinha de ir ao Ministério da Educação Chinês e percebi que era difícil.

Com o reitor Wei Zhao, a UM virou costas a Macau?
Quando cheguei ele já lá estava, e havia opiniões muito divergentes sobre a acção dele e as suas preferências. Comigo foi sempre muito simpático, não tenho razões de queixa dele em termos pessoais. Provavelmente não foi por causa dele, mas o que se passa na UM é que há níveis, sobretudo do intermédio para cima, em que a informação não passa. Havia um projecto, feito com base numa avaliação internacional que foi feita ao mais alto nível, e que iria servir para desenvolver o departamento de português, que nunca avançou. Isso aconteceu apesar de, no Senado, Wei Zhao ter dito que o projecto era muito interessante e que tinha o seu apoio. Mas depois, sabe como é, nunca mais se fala nisso. Ninguém fala, ninguém se lembra.

Lamenta o facto de ter sido feito um grande investimento em termos de instalações e, ao mesmo tempo, a UM não desempenhar devidamente o seu papel de formação de quadros em língua portuguesa?
Sei que a universidade tem áreas de ponta ao nível da engenharia e informática, mas noutras áreas não tem e é bastante deficiente em relação a quadros, a professores de uma certa carreira internacional. Mas, como digo, não sei qual foi o plano estratégico da universidade. Quando fui para lá (em 2012) disseram-me que queriam desenvolver o português. Wei Zhao chegou a dizer-me que os departamentos de português e de inglês, logo a seguir ao de chinês, deveriam ser os mais importantes. Depois dividiram a faculdade, algo com o qual eu não contava, e isso mudou tudo, incluindo as prioridades.

Aconteceu a polémica redução do número de turmas dos cursos opcionais de português, em meados de 2015. Essa questão foi negada pela directora da faculdade.
Ela negou, mas isso não é verdade. São factos. Se no ano anterior tinha havido, por exemplo, 27 turmas, e naquele ano iriam abrir 20, estamos perante uma redução. Como é que se desmentem factos? Não se pode. Isso era em relação aos alunos da faculdade que frequentam o português como língua opcional, e isso é importante. Muitas vezes os alunos optam depois por fazer um minor ou por continuar a estudar português de outra maneira. Havia um prejuízo colectivo quanto à difusão do português.

À altura foi-lhe explicado porque é que essas turmas iriam ser reduzidas?
Uma das razões apontadas foi a redução do número daqueles professores, que chegaram a ser muitos e que eram necessários para manter estas turmas a funcionar. Não tinham contrato com a universidade e eram pagos à hora. Estes professores foram muito reduzidos na altura. Hoje não sei quantas turmas há, mas não parece que sejam entre 27 a 30 turmas como abriram nessa altura. Espero que a UM esteja a cumprir os objectivos que entende serem o seu desígnio maior. Como portuguesa gostaria de ver o departamento crescer o mais possível, até porque há muito interesse por parte dos jovens chineses. Verifiquei isso, escreviam-me a pedir para abrir turmas. Isso era uma constante.


Novo livro sai dentro de um mês

“Recuperar Macau – A sobrevida das letras em português na cidade chinesa de Macau” é o novo livro de Fernanda Gil Costa. Actualmente no Centro de Estudos Comparatistas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Fernanda Gil Costa contou ao HM que começou a trabalhar de forma mais profunda na obra quando saiu de Macau.

“Enquanto estive na UM tive acesso e direito a um projecto de investigação, que no caso de ser aceite seria financiado. Fui mantendo os contactos mas não consegui escrever nada, porque o trabalho que desenvolvia lá e a forma como a universidade encara esse tipo de funções não é compatível com a reclusão necessária para escrever uma coisa assim, mais longa.”

O objectivo do livro, segundo a autora, é “tentar contextualizar a situação daquilo que eu chamaria de espaço público da língua portuguesa em Macau”. Este espaço “é muito escasso, mas, apesar de tudo, tem uma grande vitalidade”.

Fernanda Gil Costa dedica capítulos à obra de vários autores, tal como Carlos Morais José e Fernanda Dias, dois autores que, para si, mais espelham o retrato de autor de língua portuguesa com uma carreira consagrada no período pós 1999.

Há também a análise a “escritores de transição entre o português e o chinês, e do chinês traduzidos em português, como é o caso de Yao Jingming e o Joe Tang, que tem essencialmente duas obras bastante interessantes”. Uma das obras de Joe Tang que Fernanda Gil Costa destaca é “O Assassino”, traduzida para português por Ana Cristina Alves, e que interessa à académica porque enfabula “uma figura histórica controversa, que é o Governador de Macau do século XIX”.

Quanto a Yao Jingming é “mais poeta no sentido tradicional do termo”, apesar das traduções que já fez, de autores portugueses como Camilo Pessanha e Eugénio de Andrade.

Ainda assim, o livro de Fernanda Gil Costa retrata a mistura de géneros literários da obra de Carlos Morais José, incluindo as suas crónicas publicadas nos jornais. “O Carlos, quando escreve crónicas, escreve também prosa rítmica, com muitos traços de ficcionalidade. Poesia e prosa na obra dele estão completamente misturadas e é um caso extremamente interessante de olhar para a literatura de uma maneira que é tudo menos tradicional. Não estou a dizer que é o único que faz isso, mas em Macau será mesmo o único.”

Produção literária após a transferência

Fernanda Gil Costa destaca o facto de Fernanda Dias e Carlos Morais José terem conseguido cimentar a sua obra após a transferência de soberania. “São duas figuras que não iniciaram o seu perfil literário depois de 1999, mas confirmaram-no. As grandes publicações de um e de outro situam-se mais no depois do que no antes, isso para mim é um facto e é algo que deve ser olhado tentando buscar um sentido. A vontade e o interesse de o fazer é uma forma de afirmação da língua e da cultura portuguesa, o que é muito interessante.” Para a autora, “o que se publica em português é muito importante por parte dos autores que escrevem directamente em português, mas também para o facto de se publicarem traduções em português de autores chineses”. “É muito pouco, mas apesar de tudo faz-se alguma coisa. O livro trata, além das questões teóricas, do facto de Macau ser uma cidade pós-colonial, dessa grande contextualização que se faz ao que aconteceu depois do handover”, acrescentou.

24 Jun 2019

Embaixador de Portugal apela aos jornalistas timorenses que aprendam português

[dropcap]O[/dropcap] embaixador português em Díli apelou hoje aos jornalistas timorenses que aprendam português, salientando a importância da comunicação social em língua portuguesa na construção democrática de Timor-Leste.

“Aprendam português pela vossa identidade, pela vossa profissão, pelo mundo imenso da Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa, a CPLP, que vos pertence”, disse José Pedro Machado Vieira.

“Sabemos todos da importância da comunicação social, bem como do papel que o acesso a informação certa e rigorosa cumpre na construção das democracias, pelo que não podemos descurar a formação permanente dos jornalistas”, referiu José Pedro Camacho Vieira, num seminário “Jornalismo em tempo de luta: relatos em português”, organizado pela embaixada e pelo Camões no âmbito da Semana da Língua Portuguesa e da Cultura da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Actualmente, encontra-se em implementação o projecto “Consultório da Língua para Jornalistas”, fruto da parceria entre o Camões, I.P. e a Secretaria de Estado da Comunicação Social de Timor-Leste, que tem como objectivos “a capacitação de profissionais da comunicação de Timor-Leste em língua portuguesa para a transmissão de informação fidedigna ao público”. Actualmente, existem cerca de 80 formandos neste projecto.

“Estudantes, jovens profissionais, peço-vos que aproveitem o conhecimento. No vosso percurso, privilegiem o mérito, a competência e a ética”, disse aos jornalistas timorenses.

Na sua intervenção, o embaixador português recordou que no último ranking de liberdade de imprensa, Timor-Leste, subiu 11 lugares mas ainda se encontra em “situação difícil”, motivo pelo qual a cooperação portuguesa “tem vindo a apoiar a Comunicação Social de Timor-Leste, através da formação de jornalistas, da redacção do quadro legal e mesmo do impulso à criação do Conselho de Imprensa, em 2015”.

O encontro, que juntou jornalistas com experiência de cobertura do país, entre os quais o delegado da Lusa, permitiu celebrar “a língua, sublinhando o valor da palavra em português”, salientou a diplomata.

Perante uma plateia de dezenas de jornalistas timorenses, os jornalistas veteranos Adelino Gomes e Max Stahl recordaram o trabalho feito no passado.

Adelino Gomes, que está em Timor-Leste numa iniciativa do Conselho de Imprensa e da Embaixada de Portugal, mostrou excertos dos seus blocos de notas da altura e descreveu os condicionalismos técnicos de operar na altura no território.

Max Stahl, que filmou o massacre de Santa Cruz em 1991, aproveitou a sua participação no seminário para falar do período de 1999, nomeadamente durante o período de grande violência após o referendo de 30 de Agosto.

O jornalista referiu-se ao facto dos vários poderes usarem imagens ou outros instrumentos para tentar manipular a opinião pública e apresentar versões diferentes da realidade.

Já Virgílio Guterres, presidente do Conselho de Imprensa timorense, recordou os seus primeiros passos no jornalismo, nomeadamente nos últimos anos da ocupação indonésia – que terminou em 1999.

Guterres salientou a criação de publicações como a Talitakum ou a Vox Populi, algumas revistas pioneiras na luta contra a ocupação indonésia.

8 Mai 2019

Da identidade dos Macaenses e de outros portugueses do Oriente

3. Portugal e a falta de solidariedade para com as Cristandades Crioulas Lusófonas do Oriente
(continuação)

 

[dropcap]R[/dropcap]elativamente à contribuição do Leitorado de Português no renascimento do Papiá-Cristão, o Dr. Pinharanda Nunes lembrou que o ensino do Português foi introduzido na Universidade Malaya desde 1988, destinado aos estudantes do Departamento de Linguística, mas também com cursos abertos a outras pessoas que desejem aprendê-lo. “À primeira vista, pode parecer improvável que isso ajude a renascer ou a promover o conhecimento do Kristang.

Contudo, assim não é. Todos os anos, cerca de cinquenta licenciados do Leitorado de português aprendem também algo sobre o Papiá-Cristão. Um dos principais objectivos do ensino do Português aqui, é o de promover o interesse entre os estudantes na elaboração de estudos e investigação nesta língua ou na sua influência em outras línguas, designadamente o Malaio e o Papiá-Cristão. Tive um estudante que concluiu a licenciatura com uma tese sobre palavras portuguesas na língua malaia. Mas ainda não tive quem escolhesse o Kristang como tema de investigação. Contudo, sei que outros colegas que estão orientando teses de licenciatura têm estado recentemente a encorajar os seus estudantes na investigação do Papiá -Cristão. Tenho a certeza que ao ter-se iniciado o ensino do Português aqui, despertou-se a atenção para a relevância da investigação em tal matéria.”

Em seguida, o Dr. Pinharanda Nunes apresentou um balanço da acção cultural do Leitorado de Português na Universidade Malaya, em coordenação com os Serviços Culturais da Embaixada de Portugal em Bangkok, para concluir que na respectiva acção de divulgação da Cultura Portuguesa, a Comunidade de Luso-descendentes de Malaca em toda a Malásia pode beneficiar bastante, propondo empenhar-se para que um maior número de eventos culturais portugueses em Bangkok e Kuala Lumpur possam também ser levados a Malaca, incrementando os contactos entre os Luso-descendentes e a Cultura Portuguesa dos nossos dias.

No domingo, dia 7, os trabalhos da Conferência abriram com a comunicação do Prof. Pierre Guisan, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A sua intervenção centrou-se em aspectos técnico-linguísticos e históricos que não corresponderam às expectativas dos membros presentes da Comunidade de Luso-descendentes de Malaca, tendo em conta que o orador fez a sua tese de mestrado sobre o Papiá-Cristão. Defendeu que a Comunidade deveria rejeitar a ideia de que descende dos portugueses e classificou os Crioulos como “línguas derrotadas”.

O desagrado com que tais teses foram recebidas pelos presentes foi expresso pelo Dr. Jorge Morbey no debate que se seguiu, ao afirmar: “Negar a origem portuguesa dos Luso-descendentes é um modo de interpretação soviética da História por pretender apagar factos históricos incontroversos, o que é inaceitável. E é também um erro monstruoso classificar os Crioulos como ‘línguas derrotadas’. A origem histórica dos Crioulos situa-se na ‘Língua Franca’, cuja utilidade e prestígio levaram os holandeses, desde o século XVII, a procurar difundi-los entre as populações que dominaram nesta região do Mundo. Os navios holandeses e ingleses, até finais do século XVIII, não dispensavam a existência de um ‘língoa’ a bordo (designação portuguesa antiga de intérprete), para comerciarem em Português, tantas vezes acrioulado, nos portos que escalavam.

Muitos tratados entre holandeses e ingleses com os poderes locais no litoral asiático foram redigidos em Português. Apenas no século XIX, após a instalação do clima que propiciou a agudização do fenómeno colonial marcado pela Conferência de Berlim, em 1885, com a doutrina da ocupação efectiva dos territórios e a desqualificação social, económica e cultural de Povos de vastas regiões, em quatro dos cinco continentes, as línguas locais – incluindo os Crioulos – foram remetidas para um estatuto de inferioridade fundado em puro racismo e sem nenhum fundamento científico. Mas essa enfermidade de que o Mundo padeceu durante um século aproximadamente pertence ao passado. As línguas de todos os Povos recebem hoje o tributo inerente à sua eminente dignidade. Tendo-se tornado independentes, antigas colónias elegeram o seu Crioulo como Língua Nacional – ainda que mantenham também como língua oficial o idioma dos colonizadores – e os Crioulos reganharam o seu estatuto de línguas de cultura e comércio dos nacionais de diversos países.

Seguiu-se a comunicação do Dr. Jorge Morbey intitulada “Papiá-Cristão: o eterno abraço da Cultura Portuguesa ao Sueste Asiático”, apresentada em Português e com traduções em Inglês e em Crioulo de Cabo Verde (S. Vicente). Defendendo que “a preservação do Papiá-Cristão é vital se a Comunidade Cristã de Malaca quiser manter-se fiel à sua própria Cultura”, chamou a atenção para a necessidade de se conhecer o número dos respectivos falantes nas últimas décadas, “não só em Malaca, como também nas diversas partes da Malásia e em Singapura”, desagregando-o segundo escalões etários. A verificar-se a diminuição do número de falantes entre os que têm menos de dez anos, “uma solução parcial poderia ser a criação de jardins infantis onde o Papiá-Cristão fosse ministrado em regime de imersão total”.

Afirmando estar convicto que os participantes locais estão em melhores condições para apontar as medidas mais correctas para o renascimento do Papiá-Cristão, sugeriu um conjunto de questões para ponderação pela Comunidade: viabilidade de um estatuto de língua oficial no contexto multilingue da Malásia; língua de opção nas escolas, a requerimento de um mínimo de estudantes; tempos de emissão nas estações de rádio e televisão; e possibilidade legal de se fundarem estações locais de rádio e televisão.

Reflectindo a sua naturalidade caboverdeana, o Dr. Jorge Morbey afirmou ser “herdeiro do património comum de todos nós: a Língua Portuguesa que se tornou Língua Franca, há quinhentos anos”, acrescentando, “o Papiá-Cristão e o Crioulo de Cabo Verde – que tenho o orgulho de falar como língua materna – são línguas irmãs com várias outras da mesma origem: os Crioulos indo-portugueses em Diu, Damão, Korlai, Mangalor, Cananor, Mahé e Cochim, o Crioulo do Sri-Lanka, o Patois macaense, o Crioulo de Java e os Crioulos da Guiné-Bissau e de S. Tomé e Príncipe.

Identificando os Crioulos que se tornaram línguas nacionais, admitiu a existência de razões compreensíveis de natureza política, para os outros Crioulos que são línguas circunscritas a determinadas minorias nacionais, afirmando que “o diferente estatuto político entre os Crioulos não priva aqueles que não são línguas nacionais do direito ao respeito e de receberem apoio dos governos dos países a cujo património nacional pertencem”.

Preconizando a internacionalização da questão dos Crioulos, o Dr. Jorge Morbey defendeu que “o robustecimento de cada Crioulo não é apenas um assunto interno dos países onde são falados.

Todos nós, falantes de Crioulo, temos de iniciar um trabalho conjunto no entendimento da dimensão universal do nosso património comum”, unindo as diversas comunidades falantes de Crioulo para a estruturação dos interesses comuns.

Finalizando a sua intervenção, o Dr. Morbey afirmou esperar que num futuro próximo “representantes das nossas Comunidades se encontrem para se conhecerem, para trocarem experiências e para procederem ao inventário das nossas necessidades”.

A última comunicação apresentada à Conferência foi da autoria da Profa. Hyacinth Gaudart, da Faculdade de Educação da Universidade Malaya em Kuala Lumpur que explicou o complexo Sistema Educativo da Malásia, em consequência da enorme variedade de línguas acolhidas nos diversos graus de ensino do País. Sustentando a incontroversa legalidade de introduzir o Papiá-Cristão como língua de ensino, “bastando que quinze pais o requeiram”, asseverou que não vê possibilidade prática de que tal aconteça num futuro próximo, dada a inexistência de professores habilitados, de materiais de ensino, e de técnicos habilitados para os produzirem, para além de outras questões complicadas.

Em seu entender, a solução possível a mais curto prazo poderia assemelhar-se à que foi encontrada para o ensino veiculado em japonês. Isso passaria pelo forte empenho do Governo Português em recursos materiais e humanos e implicaria a adopção do Português moderno como língua veicular no ensino, em detrimento do Papiá-Cristão. A seu ver, esta solução seria muito mais vantajosa para a Comunidade Cristã de Malaca que, em lugar de ficar confinada aos reduzidos limites do Kristang na Malásia, passaria a dispôr de um amplo acesso ao Mundo através do Português moderno.

No termo da Conferência, foram elaboradas as seguintes conclusões:

1. Dar início ao incremento do Papiá-Cristão na educação infantil dos membros da Comunidade;
2. Diligenciar a formação universitária em Portugal de jovens da Comunidade de modo a poderem empenhar-se no ensino do Português e do Papiá-Cristão, após regressarem à Malásia;
3. Realizar um trabalho de pesquisa para avaliação do número de Luso-descendentes interessados na aprendizagem do Papiá-Cristão;
4. Prosseguir a publicação da secção de lições de Papiá-Cristão, no jornal “Nobis”;
5. Constituir um grupo de trabalho para a elaboração de um manual de ensino do “Papiá-Cristão”;
6. Dirigir um pedido ao Bispo de Malaca-Johore para que providencie a colocação de um sacerdote português em Malaca;
7. Investigar sobre a viabilidade de instalação de uma agência, balcão ou escritório de um banco Português em Malaca;
8. Avaliar as possibilidades que a Comunidade Cristã de Malaca tem para se ligar à Comunidade de Povos de Língua Portuguesa;
9. Cooperar na realização de um encontro periódico de representantes das comunidades falantes de Crioulo;
10. Propôr a organização de um Pavilhão representativo das comunidades falantes de Crioulo na EXPO 98.

Língua e Cultura Portuguesa nos Países do Índico e do Pacífico

Em 1986, para além do reduzidíssimo uso do português entre a população chinesa de Macau (97% da população total), em toda a vasta região do Índico e do Pacífico, a língua e a cultura portuguesa tinham uma presença insignificante: o ICALP, antecessor do actual Instituto Camões, presidido por Fernando Cristóvão, mantinha um leitor no então Instituto de Línguas Estrangeiras de Pequim e uma caricatura de leitorado na East Asia University, na ilha da Taipa; o Instituto de Línguas Estrangeiras de Xangai tinha um professor recrutado no Brasil; as universidades japonesas, com licenciatura em Estudos Portugueses, face à decisão insólita do ICALP de despedir os seus leitores naquele País, decidiram contratá-los. Entre as atribuições do Instituto Cultural de Macau, criado em 1982, incluiam-se: “Promover a preservação dos valores da Cultura Portuguesa e a sua difusão nas vizinhas áreas geográficas” e “Promover a difusão da Língua Portuguesa e o estudo da história portuguesa e suas relações com povos do Extremo Oriente”. Daí resultou a assinatura de um protocolo (inspirado em Tordesilhas) que colocava os países da região do Índico e do Pacífico na esfera de competência do Instituto Cultural de Macau, presidido por Jorge Morbey.

No ano lectivo de 1986/87: abriu-se o leitorado da Universidade de Jinan, em Cantão, onde trezentos estudantes chineses de Macau frequentavam diversas licenciaturas; preparou-se a abertura do leitorado na Universidade de Estudos Internacionais de Xangai; e organizou-se o I Curso de Férias de Língua e Cultura Portuguesa para 33 estudantes universitários de Cantão, Xangai, Pequim e da Universidade Nacional da Malasia. No ano lectivo de 1987/88, subsidiou-se o leitorado da Universidade de Estudos Estrangeiros de Kyoto, abriu-se o segundo leitorado da East Asia Universirty, o segundo leitorado da Universidade de Jinan e organizou-se o II Curso de Férias para 91 estudantes universitários de Cantão, East Asia, Pequim, Taipé, Kyoto e Sta. Bárbara (Califórnia).

No ano lectivo de 1988/89, entraram em funcionamento os leitorados da Universidade Malaya, em Kuala Lumpur, da Universidade de Pusan, na Coreia do Sul e da Universidade de Chulalongkorn, na Tailândia, e concluiram-se as negociações com as Universidades de Hua Qiao, na Povíncia de Fujian.

25 Abr 2019

Da identidade dos Macaenses e de outros portugueses do Oriente

3. Portugal e a falta de solidariedade para com as Cristandades Crioulas Lusófonas do Oriente

[dropcap]A[/dropcap] incapacidade de Portugal nesta matéria é uma evidência secular. Filha da ignorância e do preconceito, como atestam alguns exemplos que se registam de seguida e que ocorreram num intervalo de tempo pluri-secular:

O Bispo de Macau, D. Alexandre Pedrosa Guimarães, em carta ao Rei D. José I, de 22 de Dezembro de 1774, refere que as mulheres macaenses “falam uma linguagem, que é mistura de todos os idiomas e gírias, imperceptível aos que não são criados no país, por culpa dos maridos e pais de família, que há dois séculos não cuidaram em introduzir o idioma português correcto, sobre o que vou trabalhando, por ser esta coisa aquela em que cuidam todas as nações em seus domínios”.

José Joaquim Lopes de Lima, oficial de marinha e administrador colonial, governador de Timor que cedeu a ilha das Flores aos holandeses, no seu “Ensaios sobre a Statistica das Possessões Portuguesas no Ultramar..” (1844) dá uma pequena amostra da desconsideração e desrespeito nutrido em relação às Cristandades Crioulas e à língua por elas falada. No que respeita ao Crioulo de Cabo Verde, classificava-o de “gíria ridícula, composto monstruoso de antigo Portuguez, e das Linguas de Guiné, que aquelle povo tanto présa, e os mesmos brancos se comprazem a imitar”.

Em 1988, na qualidade de Presidente do Instituto Cultural de Macau, devidamente autorizado pelo Governador, transmiti ao Secretário da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Albino Cleto, a disponibilidade do Governo de Macau em apoiar a ida de religiosos portugueses para a Missão de S José de Singapura e para a paróquia de S. Pedro de Malaca. Nessa altura já se encontravam retirados, por doença e velhice, os últimos padres portugueses enviados pelo Bispo de Macau.

Respondeu-me S. E. Reverendíssima – de um modo que me pareceu tocado de algum complexo colonial – que a iniciativa deveria partir do Arcebispo e Bispo respectivos. Sugeri que, ao menos, a Conferência Episcopal Portuguesa os convidasse para as comemorações do Centenário da Missionação e, nessa altura, se abordasse o assunto. Nem o Arcebispo de Singapura, nem o Bispo de Malaca estiveram nessas comemorações.

Em Janeiro de 1996, teve lugar em Malaca uma Conferência sobre “O Renascimento do Papiá-Cristão e o Desenvolvimento do Património Malaco-Português”, a que tive a honra de presidir, na qualidade de Conselheiro Cultural da Embaixada de Portugal e a convite da respectiva Comissão Organizadora. Entre as comunicações apresentadas, abordaram-se temas da maior importância:

– as dificuldades que sobreviriam para os pescadores, representando 30% da Comunidade, em consequência dos planos de desenvolvimento local que previam extensos aterros, afastando o mar para longe das suas casas;

– o estudo, então em curso, para avaliação do número de falantes do Crioulo [Kristang] e das necessidades para o respectivo ensino, por inciativa do Dr. Mário Pinharanda Nunes, então leitor de português em Kuala Lumpur;

– o crescente interesse da população estudantil da Malásia, espelhado em teses versando a influência do Português sobre o Malaio e de docentes universitários daquele país empenhados em trabalhos de investigação sobre o Papiá-Cristão;

– a sumariação dos crioulos existentes no mundo, seus diferentes estatutos, intercâmbio dos seus falantes para troca de experiências, inventário das respectivas necessidades, modos de entreajuda e internacionalização desse património comum espalhado por vários países;

– a complexidade do sistema educativo da Malásia em que coexistem várias línguas e que permite a inclusão de qualquer idioma – incluindo o Papiá-Cristão e o Português padrão – mediante requerimento de quinze pais ou encarregados de educação.

Expressa ou implicitamente, os oradores apelaram ao apoio de “Portugal e das Fundações Portuguesas”. Estávamos no início do ano de 1996. Uma das dez conclusões da Conferência consistiu no pedido de avaliação das possibilidades de ligação das Cristandades Crioulas Lusófonas do Oriente à Comunidade de Povos de Língua Portuguesa (CPLP). Outra propunha que Portugal viabilizasse a organização de um pavilhão das Cristandades Crioulas Lusófonas do Oriente na EXPO 98.

Tudo foi transmitido ao Governo português pelos canais habituais. A primeira resposta recebida enviava o preçário de arrendamento dos pavilhões! Insistiu-se, através de nova diligência, procurando explicar melhor o sentido e alcance do que se pretendia. A resposta, ignorante, foi a de que cada Comunidade deveria diligenciar a sua inclusão nas representações dos respectivos países. Assim se encerrou definitivamente o assunto. A surdez, quando causada pela burrice, é mais irritante e cansativa…

Como me referiu o Arcebispo Emérito de Mandalay, na Birmânia, U Than Aung – descendente de portugueses – onde a maioria do clero católico é de origem portuguesa e cuja Comunidade tem as suas origens na cidade de Pegú no ano de 1600, quem nunca recebeu a mais ténue manifestação de solidariedade de Portugal nada tem a esperar daí.

Há de reconhecer-se que este Portugal do nosso tempo que esquece os “seus”, constrói Mesquitas, e anseia escancarar as suas portas às vítimas que sobrevivem à travessia do Mediterrâneo, padece de doença grave e, provavelmente, incurável, do foro psiquiátrico.

Os portugueses euro-asiáticos são originários das regiões costeiras do Índico e do Pacífico onde os portugueses europeus, africanos e de outras regiões da Ásia e da Oceania se estabeleceram e com cujos povos mantiveram relações duradouras, desde o século XVI. São católicos-romanos e falam um crioulo de base portuguesa.

Portugueses, da Índia e do Sri Lanka

Conferência em Malaca

Sob o título “RESSURGIMENTO E DESENVOLVIMENTO DO PAPIÁ-CRISTÃO E DO PATRIMÓNIO MALACO-PORTUGUÊS”, reuniram-se em Malaca intelectuais e académicos, luso-descendentes de Malaca, malaios e de outros países, incluindo Portugal, no fim de semana de 6 e 7 de Janeiro de 1996.

A convite da Comissão Organizadora do encontro, liderada pela luso-descendente de Malaca Joan Margaret Marbeck, presidiu à Conferência o Dr. Jorge Morbey, Conselheiro Cultural da Embaixada de Portugal em Bangkok. Esta Embaixada, além de representar Portugal na Tailândia, assegura as relações diplomáticas com o Camboja, Laos, Malásia, Myanmar, Singapura e Vietname.

Na sessão de abertura, Joan Marbeck, falando em Papiá-Cristão e Inglês, agradeceu a presença dos convidados e os apoios recebidos de entidades de Malaca e do Instituto Português do Oriente, afirmando a dado passo que “na descoberta daquilo que nos distingue, temos de manejar elementos de identidade e de integração com o máximo cuidado. Não é nosso desejo sermos separatistas. Pelo contrário, desejamos empenharmo-nos no património colectivo com outras comunidades e, ao mesmo tempo, preservar os valores Kristang.”

Referindo-se concretamente ao estado actual do Papiá-Cristão que, de acordo com alguns linguistas está dando os seus últimos passos, afirmou dever preservar-se o sonho de consolidar a língua materna da sua Comunidade na Malásia plurilingue, pondo de parte ideias feitas e apostando no seu renascimento, através da formulação de um plano de acção em direcção ao ano 2000, a ser apresentado ao Primeiro-Ministro da Malásia, Dr. Mahatir Bin Mohamad.

A primeira comunicação foi apresentada por Gerard Fernandis, secretário do Conselho do Regedor do Bairro Português e assistente do Consul Honorário de Portugal em Kuala Lumpur. Chamou a atenção para as consequências dos planos de desenvolvimento em curso em que se prevê um vasto aterro na zona ribeirinha do Bairro Português de Malaca, afastando o mar para longe das casas dos pescadores que constituem ainda 30 % da Comunidade. A dado passo, afirmou:

“Aceitamos o desenvolvimento, mas não à custa do nosso bem-estar económico e cultural. O Estado, a Comunidade e os investidores têm de entender que é forçoso o crescimento da Comunidade a par do desenvolvimento e que os aspectos culturais têm de ser preservados”.

Para preservar o património português de Malaca, Gerard Fernandis apelou a “Portugal e às Fundações portuguesas”, enfatizando que a Religião Católica é o elemento aglutinador e identificador da Comunidade Kristang e que os elementos mais visíveis do seu património são o Papiá-Cristão, a música e a dança.

Intervindo a seguir, o Dr. Mário Pinharanda Nunes, leitor de Português na Universidade Malaya, em Kuala Lumpur, apresentou um conjunto de reflexões intituladas “Ressurgimento do Papiá-Cristão: Reflexões sobre como promover o renascimento do Papiá-Cristão em Malaca e em outras partes da Malásia”. Defendendo que o Leitorado pode desempenhar um papel importante no renascimento do Papiá-Cristão, deu testemunho da sua própria experiência pessoal que, ao ensino de línguas estrangeiras, se alargou ao interesse pelo Kristang e pelos Crioulos em geral. Opondo-se frontalmente à afirmação de que o Papiá-Cristão é já uma língua morta, o Dr. Pinharanda Nunes manifestou a convicção de que tal ideia resulta do menor número de Luso-descendentes de Malaca que o falam actualmente, em comparação com o que se passava nos decénios anteriores, à aparente perda de prestígio no conjunto das línguas faladas na Malásia – quando foi uma das principais durante a ocupação portuguesa e após ela – e ao desconhecimento da sua existência por parte de muitos malaios, mesmo daqueles que trabalham na área das línguas.

Sobre a situação actual do Papiá-Cristão, afirmou: “se por um lado o seu renascimento implica o crescimento do número dos seus falantes, o qual requer o seu ensino, por outro lado podemos entender por renascimento apenas atribuir-lhe um maior valor na opinião pública e difundir o conhecimento da sua existência”. Para a primeira hipótese, o Dr. Pinharanda Nunes sublinhou a necessidade de um mais exacto conhecimento do número de falantes, dos actos de fala em que o usam, com quem e com que frequência o falam, concluindo tornar-se necessário um trabalho de pesquisa, para avaliação do número de falantes e, assim, para avaliar a dimensão exacta da necessidade do ensino do Kristang.

Justificando a importância desse trabalho de investigação por se ter confrontado com números contraditórios sobre os falantes de Papiá-Cristão, o Dr. Pinharanda Nunes informou que elaborou um questionário para colheita dos dados entre as famílias Kristang, a realizar brevemente, e que os resultados e o respectivo relatório serão submetidos ao Conselho do Regedor e facultados a qualquer instituição malaia ou pessoa que o julgue útil para a definição de uma política de ensino do Papiá-Cristão.

Abordando em seguida a questão relativa à necessidade de materiais de ensino, referiu ser indispensável a normalização da ortografia do Papiá-Cristão, através da cooperação entre falantes locais e linguistas especializados na transcrição de línguas orais, para a fixação da sua ortografia oficial, à semelhança do que aconteceu com algumas das línguas do Sarawak..

(continua)

18 Abr 2019

Congresso internacional dedicado ao português em Novembro

[dropcap]P[/dropcap]rofessores e investigadores de todo o mundo vão reunir-se em Macau, em Novembro, para um congresso internacional dedicado à língua portuguesa, disse ontem à Lusa o director do Instituto Português do Oriente (IPOR).

“Podemos esperar um grande encontro de lusitanistas, de nível mundial, não só dos países lusófonos, como de outras regiões”, afirmou Joaquim Ramos, sublinhando a “dimensão global” do evento.

O congresso “Macau e a língua portuguesa: Novas pontes a Oriente”, organizado em conjunto pelo IPOR e pelo Instituto Politécnico de Macau (IPM), vai realizar-se entre 27 e 29 de Novembro, num ano de várias celebrações. “Estamos a organizar isto em colaboração com Instituto Politécnico de Macau, onde vamos incluir também as celebrações dos 30 anos do IPOR, portanto acho que fazia sentido incluir aqui uma dimensão mais científica”, indicou.

Neste sentido, o congresso vai “reunir professores, investigadores, editores e pessoas ligadas à cultura”, para partilharem as suas pesquisas sobre temas relativos à língua portuguesa, disse Joaquim Ramos, sem adiantar nomes.

2 Abr 2019

Instituto Camões | Destacado entusiasmo dos macaenses pelo Português

[dropcap]O[/dropcap]presidente do Instituto Camões, Luís Faro Ramos, destacou o entusiasmo “notável” dos macaenses que querem aprender português como parte da sua afirmação de identidade.

Luís Faro Ramos falou à margem da sua primeira visita como presidente do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua à costa oeste dos Estados Unidos, onde reside a maior comunidade de luso-americanos do país.

O responsável falava da plataforma desenvolvida pelo Instituto Camões e pela Porto Editora para o ensino de português online que já reúne cerca de 600 utilizadores. O universo de utilizadores da “Português Mais Perto”, que foi lançada no ano lectivo 2017/2018, “é positivo e tem crescido”, considerou o responsável, explicando que há pessoas a aprender português de forma remota nos cinco continentes.

27 Mar 2019

Universidade Estadual da Califórnia terá dois cursos de português

[dropcap]A[/dropcap]Universidade Estadual da Califórnia, Fresno vai lançar dois cursos em Língua Portuguesa e Estudos Portugueses no próximo ano lectivo, disse à Lusa a professora Inês Lima, responsável pela criação dos novos cursos.

“Estamos à espera da aprovação das disciplinas novas”, adiantou a docente, que foi contratada em 2018 para leccionar Língua e Cultura Portuguesa no Departamento de Línguas e Literaturas Modernas e Clássicas da Faculdade de Artes e Humanidades.

A professora falava à margem da inauguração do novo Instituto Português Além-Fronteiras na Universidade Estadual da Califórnia, Fresno, que teve a presença de uma comitiva portuguesa liderada pelo presidente do Governo Regional dos Açores, Vasco Cordeiro.

A “minor” em Português irá focar-se na literatura e “num nível de língua portuguesa mais avançado”, enquanto a “minor” em Estudos Portugueses “será mais abrangente” e terá opções lectivas ensinadas em inglês, para que alunos de qualquer área de ensino possam “aprender sobre a cultura portuguesa e países lusófonos”.

De acordo com Inês Lima, o objectivo é começar com quatro disciplinas e mais tarde, ainda sem horizonte temporal concreto, avançar para uma “Major” em Português e Estudos Portugueses.
“Há de facto muito interesse”, adiantou a professora, que neste momento tem 50 alunos nas cadeiras de língua e cultura portuguesa.

“Tenho alunos que estão sempre a perguntar se já vão poder escolher as novas disciplinas para Setembro e quando é que temos disponíveis cursos de nível mais avançado de língua”, revela a professora.

Além dos estudantes com ascendência portuguesa, Inês Lima refere que muitos dos interessados pretendem estudar português “porque tem um ponto de contacto com as suas áreas”.

É o caso dos alunos de enfermagem e de segurança pública, que querem comunicar melhor com a população luso-americana da região do vale central da Califórnia, onde há elementos da comunidade que “não falam bem inglês”.

Há também alunos de Agricultura “que querem fazer um período de estudos ou mestrado em Portugal”.

Inês Lima lecciona actualmente Língua Portuguesa e Culturas dos Países de Língua Portuguesa, que abrange Portugal, Brasil, Moçambique, Angola e Cabo Verde e se debruça sobre “aquilo que partilham em termos de história, em termos de património cultural, e aquilo que é específico”.

As disciplinas eram leccionadas por uma professora da área de espanhol. “Agora viram que havia potencial para avançar e desenvolver os estudos portugueses”, afirmou Inês Lima.

A professora, natural do Porto, estava a dar aulas na Universidade de Massachusetts, Darmouth, e trocou a Nova Inglaterra pela Califórnia devido à “possibilidade de criar os cursos” numa universidade com potencial de crescimento.

As “Minor” serão leccionadas por Inês Lima e Diniz Borges, director do recém-criado Instituto Português Além-Fronteiras (Portuguese Beyond Borders Institute) na Universidade Estadual da Califórnia, Fresno, que vai iniciar um projecto de recolha das histórias orais da imigração portuguesa na região. No futuro, Inês Lima considera que “serão precisos mais professores” de português.

15 Fev 2019

Alexis Tam sublinha “grande esforço” de promoção da língua portuguesa

[dropcap]O[/dropcap] secretário para os Assuntos Sociais e Cultura afirmou ontem que o Executivo está a fazer “um grande esforço para promover a língua e cultura portuguesa” no território, uma estratégia apoiada directamente por Pequim.

Em declarações à Lusa, o responsável prometeu também mais apoios, num momento em que o número de professores aumentou para “quase o dobro”, um compromisso que segue “instruções do Governo Central”.
“Neste momento, há cerca de 6.700 alunos que estão a estudar língua portuguesa nas escolas secundárias.

Já não falo dos alunos que estão a estudar em Portugal, cada vez há mais alunos que vêm para Portugal para prosseguirem os estudos e também estamos a incentivar os alunos para virem”, disse.

Pelo contributo para o desenvolvimento da Educação e ensino da língua e cultura portuguesas, Alexis Tam vai ser distinguido pela Universidade de Lisboa com o título de doutoramento ‘Honoris Causa’, numa cerimónia agendada para Março. “Fiquei muito feliz com esta honra. Significa que eu e a minha equipa estamos a executar bem a política de promover a língua a cultura portuguesa em Macau. Penso que estamos a fazer bem o nosso trabalho, que é apreciado pela Universidade de Lisboa. Para nós, este título de ‘Honoris Causa’ pode encorajar-nos a fazer mais no futuro. Isso eu garanto, que o Governo da RAEM vai fazer mais no futuro”, sublinhou.

Amigos para sempre

Em declarações à Lusa, Alexis Tam lembrou que em 2019 se “celebram 20 anos de Governo da Região Administrativa Especial de Macau” e o território tem todas as condições para “servir de plataforma entre a China e Portugal para a área do comércio, economia e actividades culturais”. “Pode perguntar aos cidadãos de Macau ou da China, [todos] gostam muito de Portugal”, destacou Alexis Tam.

“Esteve aqui há pouco tempo o Presidente da China, Xi Jinping. Foi muito bem recebido pelo povo português e também já foi anunciado que o Presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa, vai visitar a China e Macau. Penso que todos os cidadãos vão ficar muito contentes com isso e por isso somos amigos. Os povos são amigos”, reforçou.

Sem abordar o futuro de Macau após 2049, quando termina o período de transição acordado entre Portugal e a China, o responsável prometeu que as relações entre a RAEM e os portugueses são inquebráveis.

13 Fev 2019

Guterres recebe hoje prémio da CPLP pela promoção da língua portuguesa

[dropcap]O[/dropcap] secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, vai receber hoje em Lisboa o prémio José Aparecido de Oliveira, atribuído pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), pelo contributo para a promoção da língua portuguesa.

Os chefes de Estado e de Governo da CPLP tomaram esta decisão em julho de 2018, na cimeira de Santa Maria (Sal, Cabo Verde), “pela atuação singular, com projeção internacional, na defesa e promoção dos princípios e valores da CPLP, bem como pelo elevado contributo na promoção e difusão da Língua Portuguesa”, adianta a organização lusófona num comunicado.

O antigo primeiro-ministro português e ex-alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados, António Guterres. participou, enquanto primeiro-ministro de Portugal, na cimeira constitutiva da CPLP, a 17 de julho de 1996.

O prémio homenageia a ação do embaixador José Aparecido de Oliveira, que “marcou, de forma indelével, o surgimento da CPLP, convertendo em realidade um sonho acalentado pelos povos dos países de língua portuguesa, espalhados por quatro continentes, e fazendo do seu autor um arauto do futuro”, acrescenta o comunicado.

O prémio, criado em 2011, seria atribuído pela primeira vez no ano seguinte ao antigo Presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.

Em 2014, receberam a distinção o antigo Presidente e primeiro-ministro timorense Xanana Gusmão e a Igreja Católica Timorense, enquanto em 2016 os distinguidos foram o antigo chefe de Estado português Jorge Sampaio, o ex-secretário executivo da Comissão Económica das Nações Unidas para África Carlos Lopes e o embaixador Lauro Barbosa da Silva Moreira, diplomata de carreira do Brasil e primeiro representante permanente junto da CPLP.

5 Nov 2018

Joaquim Coelho Ramos, director do Instituto Português do Oriente: “Nunca fechamos portas”

Nomeado director do Instituto Português do Oriente em Julho, Joaquim Coelho Ramos quer continuar o trabalho do seu antecessor, mas pretende internacionalizar mais a instituição de ensino e apostar na investigação. A criação de um laboratório de línguas está entre as novas apostas

[dropcap]C[/dropcap]omecemos pelas estratégias que traz para este mandato à frente do IPOR.
As estratégias que trago terão de ser ajustadas ao longo do tempo, uma vez que é assim que as coisas funcionam, porque temos de conhecer a realidade e as pessoas. Gostava de trabalhar em duas linhas: a primeira com a continuação do notável trabalho que deixou o meu antecessor, e essa fase será de consolidação em que será necessário terminar algumas tarefas e projectos que ficaram do anterior mandato. Há depois uma segunda fase que eu gostava de começar no prazo de um ano que consistirá na aproximação à rede que está ligada ao IPOR, aos nossos colegas de outros países aqui à volta. Queria, de facto, que a actividade do IPOR funcionasse mais em contacto com países como o Vietname, Tailândia, Timor-Leste e Austrália.

Como se explica o interesse pelo português no Vietname, Tailândia e até na Austrália?
O português é uma língua que não está a ser descoberta agora, está é a receber mais atenção por parte dos meios de comunicação. Mas a verdade é que vivemos uma segunda fase da ebulição do português, porque já foi a língua diplomática e a língua de negociação internacional. O que estamos a ver agora é um renascimento do português num novo contexto, que se justifica pelo crescimento de uma nova realidade, que é a comunidade dos países de língua portuguesa, que traz consigo fenómenos económicos e culturais de desenvolvimento que estão a atrair o interesse de outros países. A língua surge como instrumento de acesso a estas diferentes áreas.

Claro que as relações com a China também vieram ajudar à expansão da língua.
Não há grandes dúvidas com o facto de termos estas relações privilegiadas com os parceiros chineses, a nível cultural isso é muito significativo. Recordo-me que recentemente falei com curadores em Portugal que me disseram que há uma emergência de novos curadores, nomeadamente de Macau, que estão a aparecer em feiras internacionais, e que estão a surgir em Portugal em mostras de arte contemporânea. Isso está a despertar muito interesse da parte das comunidades que nós consideramos mais tradicionais. Esta relação com a China também aumenta não só a visibilidade da criatividade mas também áreas mais abstractas, com uma menor dimensão pragmática. Estou convencido que isso é para continuar, porque estamos apenas a descobrirmo-nos.

Encontrou alguns desafios e problemas que ficaram por resolver do mandato do seu antecessor?
Não. Encontrei, não lhe chamaria problemas, mas situações que tiveram o seu início e que estão a ter a sua continuação normal. São projectos que não são de conclusão imediata, têm um procedimento, e nesse contexto incluiria realidades como uma nova abordagem ao ensino do português, que se transformou de uma abordagem modular para abordagem de níveis. A produção de novos materiais didácticos que tentaremos exportar, e depois um reforço daquilo que são as competências e a oferta técnica do IPOR, para o qual contamos com generosos apoios da região.

Fala do Governo de Macau?
Sim. Falo também da criação do laboratório de línguas no IPOR, que é uma valência que estou convencido que, a prazo, servirá escolas, escolas bilingues, os nossos alunos, que estão em número crescente. Trata-se de um projecto que está a ser trabalhado em conjunto com o Governo de Macau, que tem sido, aliás, muito próximo e disponível para este tipo de apoios.

Quando é que esse laboratório estará em pleno funcionamento?
Não lhe posso dar já uma data, sobretudo porque temos situações técnicas que carecem de avaliação que fogem à minha competência, tal como programação informática e sistemas que têm de ser vistos. Há também detalhes que se prendem com questões de compatibilidade, pois o laboratório terá de ser compatível com outros sistemas que já existam no mercado. É minha intenção fazer um trabalho em rede. Queria que fosse lançado num curto espaço de tempo.

Que mais valias vai trazer este laboratório na ligação entre o IPOR e as escolas?
O laboratório de línguas é uma estrutura e um meio complementar de pedagogia mas também na oferta de outras áreas, tal como a investigação, e vai trazer muitos benefícios, por exemplo, a nível do desenvolvimento de competências na área da fonética. Também vai permitir aos nossos alunos algum tipo de experimentação ao nível dos textos orais, tendo em consideração que aqui no IPOR temos uma abordagem muito pragmática dos conteúdos dos cursos. Cursos na área da Administração Pública, por exemplo, tentamos dar material autêntico que permita pôr alunos, em fases iniciais, em contacto com essas realidades. Com o laboratório vamos poder fazer crescer essa oferta e as competências que vão estar ao dispor dos nossos professores, e permitir que os nossos alunos tenham outras condições de aprendizagem. Depois há uma dimensão a nível da investigação.

Em que sentido?
Gostava que o IPOR tivesse maior visibilidade internacional na área da investigação, sobretudo porque tenho falado com docentes do IPOR e tenho visto a categoria deles, que é sem dúvida bastante alta. Tenho neste momento cinco professores a fazer doutoramento e, sobretudo, têm desenvolvido trabalho de investigação, nomeadamente na área da didáctica, que está pouco divulgada externamente. Estou convencido que com o incremento destas valias tecnológicas podem atrair pessoas de fora para interagir com os nossos professores, para que possam ter novas experiências mesmo em contexto de laboratório. É o momento ideal para termos o laboratório.

Falando agora do número de alunos e do espaço físico do IPOR, são necessárias mudanças tendo em conta a tendência de aumento?
Para já temos as condições necessárias em termos de espaço. Teremos que, a breve prazo, rever as condições técnicas, porque isso faz parte da própria evolução, quer da intervenção pedagógica, que vai exigindo novas condições, quer dos formatos das próprias sessões. Há novas abordagens que passam pelo posicionamento dos alunos nas salas e também pelos meios técnicos que se oferecem em contexto de sala de aula, e estamos perante uma evolução constante. Em termos de espaço, estamos a rever a disposição de algumas salas para fazermos a máxima rentabilização e também é bastante vantajoso o facto de darmos algumas aulas fora do IPOR, nas escolas que nos contratam.

FOTO: Sofia Mota

Falemos da parte financeira. Está resolvido o processo de saída dos associados CESL-Ásia e Banco Espírito Santo (BES)?
O IPOR está muito bem em termos de associados. Temos associados de qualidade que estão empenhados no desenvolvimento da língua portuguesa na região. O nosso website não está actualizado relativamente a este aspecto porque a saída de um associado implica um procedimento, que vai desde a manifestação de interesse de saída, até à oficialização pela assembleia-geral. Não é um procedimento imediato mas em boa hora se fará. Estou a falar do BES, por questões que são conhecidas, e a CESL-Ásia que saiu de facto também. Mas gostaria de esperar pela próxima assembleia-geral para avançar com essa informação [se foi ou não manifestada a declaração de interesses na saída].

Patrícia Ribeiro, vogal da direcção – o BES já saiu há cerca de cinco anos. Foi uma saída pacífica, demonstraram vontade de sair. Na verdade, a assembleia-geral já considerou a saída da CESL-Ásia de associado do IPOR. Não existe ainda uma formalização, mas a declaração de interesses já foi entregue há vários anos.

O IPOR terá de encontrar novos associados?
A atracção de novos associados é sempre um desafio ao qual nunca fechamos portas, porque a abordagem do IPOR é de parceria. Há um interesse permanente em acolher novas entidades interessadas nesta dinâmica. O IPOR também tem os seus fundos próprios e está, neste momento, numa situação estável. A atracção de novos associados terá a ver com o interesse dos próprios e não é uma urgência.

Os relatórios e contas também não são tornados públicos desde 2012.
Não há aqui nenhuma intenção de ocultar informação, mas estamos desde há algum tempo a procurar fazer um novo site, que está em fase de conclusão. Queremos introduzir novas valências tendo em conta a modernização de que lhe falei há pouco. Os relatórios e contas podem ser tornados públicos assim que a assembleia-geral o entenda.

Perfis dos alunos. O IPOR tem cada vez mais alunos adultos, com diferentes profissões? O futuro vai passar por ter mais alunos que vêm dos países de língua portuguesa, do meio empresarial? O IPOR terá de dar resposta a esses alunos?
Algumas das fases que já referiu já estão contempladas na actual acção do IPOR. Temos a linha de orientação para os profissionais que tem a ver com pessoas que, com um contexto de trabalho, se dirigem ao IPOR para desenvolverem os seus conhecimentos na língua. Temos também alunos que ainda estão na sua vida académica e, porque procuram um complemento à sua formação, ou porque decidem procurar o português por sua iniciativa, que são acolhidos pelo IPOR. Temos oficinas para crianças também. A nível etário temos uma oferta abrangente. Quando me fala na relação dos países da CPLP, e tendo Macau como ponto de contacto, a ideia é desenvolver também essa área [empresarial] por vários motivos. O português é uma língua pluricêntrica e, neste contexto, é fundamental ter as diversas visões das culturas que lhe estão associadas. Quando abrimos concurso para professores temos tido candidaturas de vários pontos do mundo. É uma vantagem e é para continuar. O inverso também me parece oportuno. Há dias falei com professores e técnicos do instituto e transmiti-lhes a vontade de ver concretizados projectos de investigação com docentes de outros países.

Como é que isso poderá ser concretizado?
Quando temos alunos que aprendem português com a intenção de o aplicar no contexto de Angola, Moçambique ou São Tomé e Príncipe, eles têm de o aplicar em contexto. Essa ligação em projectos de investigação ou de criação de materiais didácticos tem de ser feita em duas vias.

10 Out 2018

IPM | Alunos de português aumentam 66,7 por cento

Han Lili, nova directora da Escola Superior de Línguas e Tradução do Instituto Politécnico de Macau, destaca o aumento do número de alunos na licenciatura em português, apesar de continuar a não dar resposta à procura de quadros qualificados. Neste ano lectivo, os estudantes de português são já cerca de 500

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] número de alunos de português no Instituto Politécnico de Macau (IPM) cresceu 66,7 por cento em três anos, um aumento que, mesmo assim, não consegue responder à procura, indicam números daquele organismo avançados à Lusa.

“Podemos ver esta tendência”, de crescimento, afirmou à Lusa a nova directora da Escola Superior de Línguas e Tradução (ESLT) do IPM, Han Lili, apontando para a necessidade de mais “cursos de português que possibilitem o aprofundamento dos conhecimentos da língua e da cultura dos países de expressão portuguesa”.

De acordo com os dados disponibilizados à Lusa, no ano lectivo 2016/2017 cerca de 300 alunos estavam a aprender português naquele instituto. Em 2017/2018 o número subiu para 350 devido ao “arranque do novo Curso de Licenciatura em Português e mais uma turma de licenciatura em tradução chinês-português”, disse a responsável. Neste ano lectivo, os estudantes de português são já cerca de 500.

Han Lili, que assumiu as novas funções no dia 16 de Agosto, explicou que uma das principais razões para o crescimento do número de estudantes de português neste ano lectivo tem que ver “com o arranque do novo curso de licenciatura em ensino de língua chinesa como língua estrangeira”.

O número de vagas disponíveis por ano para os cursos de português aumentou 50 por cento face aos últimos dois anos, em comparação com o ano lectivo de 2016/2017. Este ano havia 150 vagas para 800 candidaturas.

“Para ir ao encontro da procura cada vez maior dos talentos bilingues (chinês-português) qualificados pelo mercado, o IPM tem disponibilizado uma oferta diversificada dos cursos associados à aprendizagem de português”, argumentou a directora da ESLT.

Han Lili afirmou ainda que têm sido criados novos cursos, “nomeadamente o curso de relações comerciais China-Países lusófonos, curso de licenciatura em ensino de língua chinesa como língua estrangeira e o curso de português”.

“O curso centenário de tradução chinês/português do IPM continua a ser o curso com mais candidaturas”, assumiu. Esta escola “é uma família de verdadeira convivência cultural, com professores e alunos de diferentes origens culturais e linguísticas”, apontou.

Aposta nos PALOP

Os alunos dos países de língua portuguesa que estão a aprender chinês no IPM também registou um crescimento exponencial: aumentou cerca de três vezes em tantos anos.

“A partir do ano lectivo 2016/2017 começamos a recrutar alunos dos países de língua portuguesa de Cabo Verde, Angola, Moçambique, Portugal e Brasil, que vêm estudar chinês”, explicou a responsável.

Em 2016/2017 havia 23 alunos lusófonos a estudar chinês. No ano lectivo que começou em Setembro deste ano esse número aumentou para 70.

“Actualmente, temos três turmas. Está previsto, no plano de estudo, um ano de intercâmbio em Pequim, para aperfeiçoar a sua proficiência em chinês”, disse.

Ao número de alunos lusófonos a aprender chinês que frequentam o ESLT acresce-se todos os anos mais 25 alunos, uma turma do curso de tradução chinês-português do Instituto Politécnico de Leiria (IPL). “São alunos em mobilidade que vêm principalmente aperfeiçoar o chinês e as competências de tradução e interpretação”, explicou Han Lili.

A directora da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais (ESECS) do Instituto Politécnico de Leiria, Sandrina Milhano, enfatizou a importância desta “oportunidade absolutamente única” para os alunos do IPL, que durante “dois anos têm contacto com a língua e com a cultura chinesa”, uma mais valia para “entenderem não só a tradução, mas também a interpretação”.

“Os alunos fazem dois anos em Portugal e dois anos na China”, um em Macau no IPM e outro na Universidade de Língua e Cultura de Pequim, explicou à Lusa Sandrina Milhano, afirmando ainda que estas parcerias envolvem reciprocidade. Cerca de 35 alunos do IPM estão a estudar este ano no IPL.

A parceria não se estende somente aos alunos, há também intercâmbio de professores que vão ensinar para os diferentes institutos. “Há o envio de professores de Macau para Leiria e de Leira para Macau e também de Pequim”, disse.

Sandrina Milhano acrescentou que existe “um conjunto de protocolos estabelecidos que já remontam há cerca de 13 anos”, entre o IPL e o IPM, como por exemplo a publicação de artigos e manuais escolares em conjunto.

Também Han Lili defendeu, como uma das suas principais apostas, a elaboração de “manuais que se destinam aos estudantes estrangeiros na aprendizagem de chinês, bem como manuais em relação a tradução e interpretação”.

Por fim, Sandrina Milhano apontou que a procura do curso de tradução no IPL tem aumentado. Este ano cerca de 116 pessoas tentaram entrar no curso, em 1.ª fase, mas só 25 é que conseguiram.

8 Out 2018

Mercado de trabalho da língua portuguesa está a aumentar na Ásia, dizem professores 

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]rofessores de português na Ásia afirmaram que a procura da língua portuguesa está a aumentar devido às oportunidades crescentes no mercado de trabalho local.

“Muitos alunos escolheram o português porque agora têm um mercado de trabalho com grande procura pelas pessoas que falam português e chinês”, disse à Lusa a professora de português da Universidade de Pequim Li Jie, à margem da quarta edição do Encontro de Rede de Ensino de Língua Portuguesa.

A professora da Universidade de Pequim argumentou ainda que “há cada vez mais intercâmbios comerciais e culturais entre a China e os países lusófonos”.

Também a professora do Departamento de português na Universidade de Hanói seguiu a mesma tónica: “há cada vez mais emprego através do português, porque há cada vez mais empresas das Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) que querem investir no Vietname e também há cada vez mais turistas que querem visitar o Vietname”, defendeu Tran Thi Hai Yen.

A quarta edição do Encontro de Rede de Ensino de Língua Portuguesa reuniu em Macau, no Instituto do Português do Oriente (IPOR), cerca de 40 docentes provenientes de instituições de ensino superior da China (Pequim, Xangai, Cantão, Jilin e Sichuan), da Tailândia (Banguecoque), do Vietname (Hanói), da Austrália (Sydney), de Timor-Leste e também de Portugal.

A coordenadora do Centro de Língua Portuguesa do IPOR, Clara Oliveira, afirmou à Lusa que tem existido um crescimento notório na aprendizagem do português como língua estrangeira e que este encontro serve como “um momento de reflexão entre todos os professores de língua estrangeiras” destas regiões do globo.

“Na República Popular da China, em termos de instituições de ensino superior, nos últimos cinco anos passaram de 10 para 32”, explicou Clara Oliveira.

Para a professora da Universidade de Pequim, estes encontros entre os docentes são fundamentais pois são uma oportunidade de trocar “ideias e opiniões sobre o ensino e aprendizagem do português para os aprendentes asiáticos”.

“Este encontro é muito importante para nós e para mim é uma muito boa inspiração (…) tenho aprendido muito com as experiências dos restantes colegas”, acrescentou Tran Thi Hai Yen.

O encontro decorreu sob a forma de oficinas, de maneira a acentuar uma vertente prática e aplicada, através da promoção de espaços de partilha de experiências e de reflexões em torno de abordagens ao ensino de português como língua estrangeira.

2 Out 2018

Carlos Botão Alves, autor do primeiro dicionário de chinês-português: “Ninguém se lança numa coisa destas”

No princípio era o verbo e depois o dicionário. O desafio era enorme, mas passada uma década de trabalho ficou pronto o primeiro dicionário de chinês – português, de autoria dos professores Carlos Botão Alves e Leong Cheok I. Além da tarefa hercúlea que une dois mundos linguísticos bem distintos, o professor tem na calha um projecto de tradução de contos de autores chineses obscuros

[dropcap]C[/dropcap]omo surgiu a ideia para fazer este dicionário?
Comecemos pelo princípio, porque eu gosto de estórias bem contadas. Em 1985, quando cheguei a Macau, comecei a trabalhar com vários professores chineses que ensinavam português e uma das professoras estava a acabar o seu mestrado em português, a professora Leong Cheok I. Ela enveredou pelo doutoramento em linguística portuguesa, fê-lo com o Professor Malaca Casteleiro sobre valência verbal, que abre a hipótese de se fazer, sobretudo nas línguas latinas, uma análise gramatical baseando o ponto fulcral no verbo. Essa professora contactou-me depois do doutoramento, tínhamos um grande arquivo de erros e dificuldades que os alunos iam tendo. Trabalhámos nesse sentido na Universidade de Macau e da recolha, reflexão e discussão de todos os materiais que tínhamos dos alunos, percebemos que havia uma grande dificuldade para os alunos do intermédio, intermédio avançado de domínio dos enunciados em que há mais do que uma oração, a frase complexa. Comparámos também com alunos de língua nativa inglesa e eles apresentavam e, obviamente que havia uma vizinhança maior do que com o chinês. Então, decidimos lançar um projecto de construção de um dicionário. Nunca tinha pensado fazer um dicionário, nunca ninguém se lança numa coisa destas. Mas com a orientação à distância do Professor Malaca, lançámos um projecto e apercebemo-nos que precisávamos de redução de horário, é preciso uma certa liberdade porque às vezes uma frase destas leva-nos horas a discutir para percebermos o que é que está ali. Tem de haver uma determinada paz mental, espaço mental para fazer isto. Começámos e o que poderia ter demorado um ou dois anos demorou dez. Foi editado em 2016, ela defendeu a tese no final de 2006, 2007 lançámos o projecto e demorou 10 anos.

Como pensaram organizar o dicionário?
Tem 2040 entradas. Vale a pena dizer que para fazer um dicionário, normalmente, as pessoas baseiam-se em dicionários existentes. O nosso problema era esse. Não há nenhum dicionário de verbos em português cruzando com o chinês, a única língua que cruza com o chinês é o inglês. Obviamente, pela força do mercado, qualquer dicionário cruzando com o inglês é um sucesso editorial e a editora investe imenso e põe os investigadores a trabalhar. Não é o caso das outras línguas, não há mais nenhuma, nem mesmo com o francês. Este é o segundo que partindo do chinês, cruza com o chinês. Isto é para alunos, investigadores ou tradutores de chinês que chegam ao português. O português – chinês será feito a seu tempo. Optámos pelos caracteres tradicionais. Foi uma opção nossa porque a edição é feita em Macau. Aparece pela ordem fonética da leitura dos caracteres em mandarim, aparece em pinyin ao lado, para fazer com que os alunos de língua materna cantonense possam aceder tem também o sistema de romanização em cantonense. Depois do verbo em caracteres, aparecem os vários sentidos que o verbo pode ter em português. Para cada um destes sentidos, que estão numerados, dão-se frases modelos, foram estas que demoraram 10 anos a fazer, para encontrar o paralelo entre o que está em chinês e o que está em português. Nunca a frase pode deixar de ser uma frase natural numa das línguas, mas aqui não nos interessa estar a ensinar vocabulário.

O que vai ter a segunda edição?
A parte da organização está lançada. Agora é necessário continuar a alimentar o bicho. Vai ter mais 203 verbos, que estão a ser tratados. Temos para aí 70 tratados, com as frases modelo, etc. Não encontrámos nenhum erro até agora, mas outros sentidos para os que foram dados. Os meus ex-alunos, os tradutores aí todos, do Tribunal Superior, do Tribunal de Base, na Assembleia Legislativa, no Gabinete do Chefe do Executivo, de juristas, dois juízes, polícia, serviços de turismo, serviços de educação, temos gente de todo o lado que está a traduzir e oferecemos o dicionário. Leve, use e dê-nos o feedback, queríamos testar a coisa. Foi por isso que deixámos que em 2016 fosse editado o dicionário, o período de testagem, porque não estavam criados condições aqui na escola para se editar um dicionário. Com a antiga direcção não era possível trabalhar muito. Agora, com a nova directora da Escola de Línguas, acho que estão criadas condições, tivemos o feedback desses todos, temos uma série de críticas muito interessantes para reformular alguns dos verbos que aqui estão incluídos. Tentámos pensar todas as possibilidades de sentido na utilização de um verbo mas, obviamente não acautelámos todas. Há sempre uma outra forma de utilizar a língua que nós não estávamos, à partida, a considerar e, portanto, é necessário completar. Esse feedback dos tradutores é precioso. O que está vai ficar mais afinado e vai-se completar.

FOTO: Sofia Mota

Este instrumento dá muito jeito a muitos países, como é óbvio todos os de língua portuguesa e aos estudantes de português da China continental e de Taiwan…
A edição foi feita aqui no Instituto Politécnico e há um problema grande nestas edições feitas em Macau que é não atravessar a fronteira. É muito difícil fazer com que uma edição feita fora da China entre dentro da China. Aos alunos que estão a estudar português, ou que estão a estudar chinês em Portugal ou no Brasil, a seu tempo vamos exportar para Cabo Verde e Moçambique para ver como é que aceite nesses países. Mas o dicionário caminha, sobretudo, do chinês para o português, foi mais pensado para os alunos de língua materna chinesa que acedem ao português. Os alunos de língua materna portuguesa só quando tiverem um domínio bastante razoável do chinês é que poderão entrar no dicionário pelo chinês. Quando for feito o irmão gémeo, do português – chinês, aí já é para os dois caminhos.

Não pensa no irmão gémeo para o carácter simplificado?
Pensámos numa solução e acho que é o que vai acontecer quando sair este dicionário em CD-ROM há um programa que altera automaticamente, com alguma banda de erro, os caracteres para simplificado. Queremos que a próxima edição seja também em CD-ROM, para além do livro, e que chegue a todos os sítios onde é ensinado o português a chineses. Mas para isso precisamos de uma logística grande. O material está todo feito, só precisamos de duas ou três pessoas com grande paciência.

No dia 9 e 10 de Novembro vou a uma conferência que faz ponte entre China e países de língua portuguesa, qualquer coisa assim, que este ano acontece em Pequim. Para o livro poder atravessar a fronteira, vou fazer a apresentação para mostrar-lhes as vantagens de um material destes e, sobretudo, conseguir contactos institucionais para que se possa fazer o correspondente. Se isto for feito em rede, com um conjunto enorme de pessoas, seria ouro sobre azul e a edição poderia ser feita entre Lisboa, Macau, Pequim e Rio de Janeiro. Colocávamos as pessoas a trabalhar em conjunto, sei que elas estão mais que abertas a isso. Já passaram aqui dois grupos de alunos que vieram da China no segundo semestre do ano passado, ofereci-lhes o dicionário e eles acharam interessante e perceberam a muralha, o controlo editorial que existe no país, mas penso que será uma maneira airosa e correcta de entrar no mercado. A lei do ensino superior acabou de sair em Macau, o IPM vai abrir cursos de mestrado e doutoramento. A direcção nova da Escola de Línguas é bilingue percebe o que é ensinar e aprender, o que não acontecia antes. Penso que estão criadas, finalmente, condições para lançar materiais que possam despoletar trabalhos de investigação no campo da linguística, e da linguística aplicada, que não existem e são muito necessários.

Quando sai a segunda edição?
Estamos a pensar mais um ano, ou um ano e meio. Entretanto, a Professora Leong Cheok I está sempre entre Lisboa e Macau e eu tenho outro projecto de tradução de contos contemporâneos chineses desde 1978, desde o lançamento da política de abertura de Deng Xiaoping, até 2008 que foram os Jogos de Pequim. Portanto, 40 anos. Para cobrir este período, há um conjunto enorme de escritores chineses que editaram determinados contos que manifestam não só a imagética do momento, a parte ficcional do momento, como as mensagens que são lançadas para percebermos a evolução da mentalidade de uma juventude que passou esta mudança ao longo da história. São 99 contos que cobrem 40 anos. As traduções estão feitas. O primeiro livro deve sair durante este semestre. São interessantíssimos, escritos por pessoas sem o treino nem intenção de ser editados. Têm uma enormíssima franqueza.

Onde foi buscar estes autores?
Em Xangai, uma edição pequena, muitos deles editados em jornais. Passou tudo muito despercebido. Interessantíssimo em termos de história da crítica literária, porque não são os escritores do partido, não são do sistema, não são os escritores sequer do mercado. São escritores espontâneos. Três destes escritores voltaram a editar qualquer coisa, muitos deles apareceram localmente, a nível de cidade ou provincial, em concursos de escrita e ganhavam uns premiozinhos.

Mas é interessante, porque a mensagem importante não está à luz. Como é que num sítio onde não se pode dizer se diz? É nesse momento que se diz muito mais. Veja-se o que aconteceu nos antigos países da Europa de Leste, as edições eram brilhantes antes da queda do muro. Prometeu muito e afinal os Kunderas, etc, vieram para o Ocidente, produziram imensamente e brilhantemente e agora onde estão? Se calhar, o muro tem as suas potencialidades. Como o antes e o depois da censura em Lisboa. Prometiam uma coisa que depois acabou por não dar.

Em Macau não há nativos de língua portuguesa a fazer traduções, nem há nativos de língua portuguesa de Macau a ensinar quando todo o aparelho do Governo assenta, sobretudo, nesses nativos macaenses. Desapareceram como se não existissem. Tudo funciona por causa deles, a língua está aqui por causa deles. Nós não estamos aqui porque houve chineses que aprenderam português. Estamos aqui porque há uma comunidade pequenina, porque a cidade também não é muito grande, que garantiu a permanência da língua. Onde estão os professores dessa comunidade? Foram eles que fizeram avançar a administração durante largas décadas, séculos. A professora Leong é de uma família chinesa de Macau, apercebe imenso do imaginário português. É uma senhora que celebra o Natal, percebe o que é um folar, percebe coisas culturais de natureza diversa porque é de Macau e muito atenta. Aprendeu a língua. Uma pessoa qualquer que aprendeu a língua em Pequim, ou Xangai, não vai sequer aperceber-se das importâncias e do imaginário que rodeia a parte cultural da língua portuguesa.

27 Set 2018

Museu da Língua Portuguesa apresenta exposição itinerante em Lisboa

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]exposição itinerante “A Língua Portuguesa em Nós”, criada pelo Museu da Língua Portuguesa, no Brasil, chegará a Lisboa em Outubro, indicou à agência Lusa fonte da entidade.

De acordo com o Museu da Língua Portuguesa, a exposição “A Língua Portuguesa em Nós”, deverá ser apresentada no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), em Belém, onde poderá ser visto parte do acervo da entidade.
Esta exposição tem percorrido países da África onde se fala português e, desde Maio, já foi exibida em Cabo Verde, Angola e Moçambique, onde se encontra desde 15 de Agosto.
Inicialmente montada no Brasil, onde se estreou na 16.ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty, a mostra faz um percurso pela presença da língua portuguesa no mundo, que representa actualmente cerca de 270 milhões de falantes nos cinco continentes. Também é focado o conctato com outros idiomas e a sua participação na formação cultural brasileira.

Língua multifacetada

Várias experiências audiovisuais integram o acervo do Museu da Língua Portuguesa: “A Praça da Língua” reproduz a experiência-símbolo do museu numa instalação imersiva com obras da criação artística em língua portuguesa, que formam um mosaico de músicas, poesias, trechos literários e depoimentos, com textos interpretados por artistas como Maria Bethânia, que declama Fernando Pessoa.

Por sua vez, a área “Música e Culinária” aborda a relação entre língua, identidades e culturas, e no espaço “Cápsula de colecta dos falares”, o visitante é convidado a gravar em vídeo o seu depoimento sobre a relação com o idioma, testemunhos que passarão a fazer parte do acervo do Museu da Língua Portuguesa.

O museu – que em dez anos de funcionamento recebeu cerca de quatro milhões de visitantes – tem vindo a organizar uma programação cultural diversa e exclusiva para cada país onde a exposição é apresentada.

A exposição “A Língua Portuguesa em Nós” é uma iniciativa do Itamaraty, em parceria com o Governo do Estado de São Paulo, a Fundação Roberto Marinho, o Museu da Língua Portuguesa e o Instituto Internacional da Língua Portuguesa, com patrocínio da EDP e apoio do Instituto Camões e do Instituto EDP.

7 Set 2018

Museu da Língua Portuguesa apresenta exposição itinerante em Lisboa

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] exposição itinerante “A Língua Portuguesa em Nós”, criada pelo Museu da Língua Portuguesa, no Brasil, chegará a Lisboa em Outubro, indicou à agência Lusa fonte da entidade, que será visitada pelo ministro português da Cultura.

O ministro Luís Filipe Castro Mendes faz uma visita oficial àquele museu, em São Paulo, onde deverá visitar as obras de reconstrução do edifício, destruído parcialmente por um incêndio em 2015, à semelhança do que aconteceu no domingo, no Museu Nacional, no Rio de Janeiro.

O ministro terá uma reunião de trabalho com representantes do museu, na qual serão faladas questões relativas à cooperação estabelecida com o Instituto Camões, uma parceria que consiste em criar e adotar conteúdos relacionados com a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) para o museu.

De acordo com o Museu da Língua Portuguesa, a exposição “A Língua Portuguesa em Nós”, deverá ser apresentada no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), localizado em Belém, onde poderá ser visto parte do acervo da entidade.

Esta exposição tem vindo a percorrer países da África onde se fala português e, desde maio, já foi exibida em Cabo Verde, Angola e Moçambique, onde se encontra desde 15 de agosto.

Inicialmente montada no Brasil, onde se estreou na 16.ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty, a mostra faz um percurso pela presença da língua portuguesa no mundo, que representa atualmente cerca de 270 milhões de falantes nos cinco continentes.

Também é focado o contato com outros idiomas e a sua participação na formação cultural brasileira.

Várias experiências audiovisuais integram o acervo do Museu da Língua Portuguesa: “A Praça da Língua” reproduz a experiência-símbolo do museu numa instalação imersiva com obras da criação artística em língua portuguesa, que formam um mosaico de músicas, poesias, trechos literários e depoimentos, com textos interpretados por artistas como Maria Bethânia, que declama Fernando Pessoa.

Por sua vez, a área “Música e Culinária” aborda a relação entre língua, identidades e culturas, e no espaço “Cápsula de coleta dos falares”, o visitante é convidado a gravar em vídeo o seu depoimento sobre a relação com o idioma, testemunhos que passarão a fazer parte do acervo do Museu da Língua Portuguesa.

O museu – que em dez anos de funcionamento recebeu cerca de quatro milhões de visitantes – tem vindo a organizar uma programação cultural diversa e exclusiva para cada país onde a exposição é apresentada.

A exposição “A Língua Portuguesa em Nós” é uma iniciativa do Itamaraty, em parceria com o Governo do Estado de São Paulo, a Fundação Roberto Marinho, o Museu da Língua Portuguesa e o Instituto Internacional da Língua Portuguesa, com patrocínio da EDP e apoio do Instituto Camões e do Instituto EDP.

De acordo com o museu – inaugurado em 2006, e um dos mais visitados do Brasil – as obras de reconstrução terminam no segundo semestre de 2019.

A entidade tem como missão “valorizar a diversidade da língua portuguesa, celebrá-la como elemento fundamental e fundador da cultura e aproximá-la dos falantes do idioma em todo o mundo”.

Já foram concluídas as etapas de restauro das fachadas e esquadrias, e de conservação e reconstrução da cobertura do edifício, e atualmente está em curso a licitação para as obras de interiores, que têm previsão de início em setembro, seguindo-se a instalação da museografia.

A reconstrução do Museu da Língua Portuguesa integrou melhorias de infraestrutura e segurança, especialmente contra incêndios.

Entre as novas medidas, está um sistema de chuveiros automáticos para reforçar o aparato de segurança contra incêndio, sistema que possui sensores do aumento da temperatura ambiente e acionam a abertura dos bicos para combate contra o fogo, ainda em estágio inicial.

O Museu da Língua Portuguesa é uma iniciativa do Governo do Estado de São Paulo, através da Secretaria de Estado da Cultura, concebido e realizado em parceria com a Fundação Roberto Marinho.

Tem como maior patrocinador a EDP e ainda o Grupo Globo, Grupo Itaú e Sabesp e apoio do Governo Federal, por meio da Lei Federal de Incentivo à cultura. O IDBrasil é a organização social responsável pela gestão do museu.

5 Set 2018

Número de alunos de português aumenta 18% na Califórnia

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] número de alunos matriculados em cursos de língua e cultura portuguesas aumentou 18% na Califórnia no novo ano letivo, de acordo com dados preliminares da Fundação Luso-Americana para a Educação.

No ano letivo 2018/2019, que acaba de começar, deverá ser ultrapassada, pela primeira vez, a fasquia dos dois mil alunos de português, de acordo com informações fornecidas à Lusa pelo professor Diniz Borges, um dos encarregados pelo protocolo assinado entre a Fundação Luso-Americana para a Educação (LAEF, na sigla inglesa) e o Instituto Camões para coordenar o ensino da língua portuguesa na Califórnia.

Os dados referem-se a cursos no ensino primário e secundário, abrangendo escolas privadas e públicas.

“Nos últimos quatro anos foram criadas cinco escolas comunitárias e abriram-se cursos em três escolas do ensino secundário”, avançou o responsável, que coordena o protocolo com o professor José Luís da Silva.

Só neste ano escolar, a Califórnia terá mais duas escolas secundárias a ensinar português, em Ceres, Vale de San Joaquin, com duas professoras e 270 alunos.

Abriu também uma nova escola comunitária na cidade de Tracy, junto das montanhas que separam o vale da zona da baía de São Francisco.

Duas outras zonas “estudam a possibilidade da criação de escolas portuguesas”, Manteca no norte e Chino no sul, na zona de Los Angeles.

De acordo com Diniz Borges, foram ainda criados cursos em faculdades comunitárias, como é o caso da College of the Sequoias em Visalia, no Vale de San Joaquin, e da Universidade Estadual da Califórnia em Fresno, que vai abrir o semestre de outono de 2018 com quatro cursos de língua e cultura portuguesas.

As últimas estatísticas oficiais da Modern Language Association, referentes a 2016, apontavam para cerca de dez mil alunos de português em todo o território dos Estados Unidos no ensino pós-secundário.

Outros “cursos inovadores” estão abertos na CSUS em Turlock, na Universidade Estadual da Califórnia em San Diego e nas universidades da Califórnia em Santa Barbara e Berkeley, além do distrito escolar de Hilmar.

Está ainda a ser registado um crescimento nos cursos ministrados pela comunidade de origem brasileira no norte da Califórnia.

O incremento do número de alunos deve-se, segundo o professor, ao “trabalho constante da comunidade” após a assinatura do protocolo, que se refletiu na aposta em contactos com as entidades de ensino, aproximação às escolas comunitárias, formação de professores e criação de um plano estratégico para o ensino da língua e cultura portuguesas.

A Califórnia é “o primeiro estado norte-americano com semelhante projeto”, garantiu Diniz Borges, sendo que o plano estratégico juntou entidades dos ensinos público e privado, entidades políticas e líderes da comunidade de origem brasileira e macaense.

Além do ano letivo, o programa de ensino inclui dois projetos durante o verão, um curso da LAEF com meia centena de jovens e o programa Startalk do distrito escolar de Hilmar, com cerca de 100 crianças.

A adesão da comunidade e das entidades públicas a este plano estratégico cria “todas as probabilidades” para que o ensino da língua e cultura portuguesas tenha “um contínuo crescimento” anual, considerou Diniz Borges,

4 Set 2018

Português | Macau pode perder terreno na formação de docentes da China

Carlos André alerta para a necessidade crescente de inovação no apoio dado por Macau à formação de professores de português de forma a não ser ultrapassado pela China. O académico acredita que daqui a cinco ou seis anos o continente será auto-suficiente na formação de docentes da língua de Camões

 

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oi um recado dado à margem do lançamento da quinta edição do curso “Verão em Português no Instituto Politécnico de Macau” (IPM), destinado a professores de língua portuguesa de universidades chinesas. Para Carlos André, director do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa (CPCLP) do IPM, o ensino superior local terá de inovar nas ferramentas que disponibiliza aos docentes chineses ou Macau perderá o seu papel de formador daqui a poucos anos.

“O grande problema que vamos enfrentar nos próximos tempos é que tudo isto está em transformação. Não lhe dou mais do que cinco a sete anos para que estes professores tenham atingido um tipo de qualificação de topo. Aí, ou somos capazes de ser parceiros, ou se continuamos a pensar que continuamos a ser instrumentos, podemos ser perfeitamente descartáveis”, defendeu Carlos André.

Neste sentido, o território “tem de ser capaz de enfrentar uma nova realidade”, sendo que “tudo depende de como Macau se comportar”. “Se Macau continuar a pensar, como muitas pessoas pensam, de uma forma superior, de facto torna-se perfeitamente secundário, não tenho dúvidas nenhumas.”

Para o ainda director do CPCLP, há académicos de outras nacionalidades capazes de dar formação em português e entender o universo da língua de Camões. “Não digam que eles não são capazes, porque eu conheço o mundo de formação em língua portuguesa e o melhor que foi surgindo nas últimas décadas não são portugueses mas sim franceses, italianos ou americanos. Não vamos imaginar que os estrangeiros não são capazes de saber tanto sobre nós como nós. Até podem saber mais.”

Manuais online

Uma das inovações que o IPM está a desenvolver é o projecto “Convergências”, financiado pelo Gabinete de Apoio ao Ensino Superior (GAES), e que coloca online todos os manuais que o IPM tem vindo a produzir para docentes de português do continente.

“Vamos comprar equipamento áudio e vídeo e software adequado, o que significa que, à medida que nos vão chegando os inputs do trabalho dos professores no interior da China nós estamos a transformar os materiais. Os materiais são postos online e estão sempre em transformação. É a grande revolução no fornecimento de materiais pedagógicos. Esta dinâmica tem outra vantagem, pois nós não conseguimos exportar os livros para o interior da China”, adiantou.

Carlos André, que está de saída da direcção do centro do IPM, explicou que está na calha a publicação de mais livros até 2019. “Temos dois volumes da professora Adelina Castelo relacionados com fonética e fonologia, temos um volume de vocabulário organizado por Rui Pereira. Também temos uma gramática de desvios, organizada pela professora Isabel Poço Lopes, um estudo feito com professores chineses sobre as suas principais dificuldades, onde se verifica que eles têm desvios na gramática. Já estamos com todos esses livros na forja para saírem até 2019”, explicou.

Na formação de docentes, que ontem teve início, participam 24 professores de 17 universidades chinesas. Na quinta edição a formação conta com a certificação do Instituto Camões.

“Conseguimos alcançar um modelo de formação certificado pela única entidade portuguesa que pode, de facto, certificar formações desta natureza. Isto dá mais currículo aos professores chineses, e do ponto de vista do conhecimento, obviamente, dá mais conforto ter uma certificação de uma entidade que é internacionalmente reconhecida”, rematou Carlos André.

12 Jul 2018

Ensino | Universidade de Macau realiza congresso sobre língua portuguesa

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]a conferência, que ocorre entre os dias 10 e 12 de Maio, “serão apresentadas comunicações orais de mais de 40 investigadores e professores”, refere a UM, acrescentando ainda que o evento “contará com a presença e participação de diversos académicos, educadores e alunos de pós-graduação”.

De acordo com a universidade, o encontro, que vai focar-se no ensino e na aprendizagem do português como Língua Estrangeira, vai receber professores e investigadores de vários países, nomeadamente Portugal, Brasil, Moçambique, França, Itália, Japão e China.

7 Mai 2018

Secretário-geral das Nações Unidas destaca importância da CPLP no Dia da Língua Portuguesa

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, destacou a importância da diversidade contra as tentativas de uniformização a que se assiste e disse que a CPLP tem nesta matéria um “papel essencial a desempenhar”.

No Dia da Língua Portuguesa e da Cultura da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), celebrado a 5 de Maio, António Guterres fez um pequeno discurso, em português, nos Jardins das Nações Unidas, em Nova Iorque, no qual elogiou a diversidade da CPLP, com países em todos os continentes.

“É necessário dizer que nós na CPLP nos orgulhamos da nossa diversidade, reconhecemos que as nossas próprias sociedades são multiétnicas, multiculturais, multirreligiosas, e que isso é um bem, não é uma ameaça, e que isso deve ser valorizado, e afirmado, e que isso deve ser uma lição para outras partes do mundo, outros povos, outras culturas. E penso que a CPLP tem aqui um papel essencial a desempenhar”, disse António Guterres no discurso, disponível na página oficial da ONU na internet.

Afirmando que a celebração de hoje foi a primeira clara manifestação da língua portuguesa nos Jardins das Nações Unidas, Guterres afiançou que um dos pontos fundamentais do seu mandato é “exprimir a importância do multilinguismo nas Nações Unidas”, contra um “mundo uniformizado em que todos falem a mesma língua”.

Porque é preciso um mundo em que cada um fale a sua língua, porque são precisas “umas Nações Unidas baseadas na diversidade”, disse.

Umas Nações Unidas baseadas na diversidade “contra essa tentativa de uniformização a que estamos assistindo e que causa um empobrecimento desnecessário da comunidade internacional”, disse António Guterres, insistindo que a diversidade é um valor essencial num mundo onde existem “várias tentativas de isolamento” e se se assiste ao reacender de “expressões de racismo, de xenofobia” e de condenação “do outro só porque o outro é diferente”.

Neste mundo os países da CPLP podem ser uma ponte e um fator de harmonia, capaz de ajudar os outros e de prevenir novos conflitos e tentar contribuir para a resolução de atuais conflitos, disse também o secretário-geral.

Guterres lembrou ainda os 20 anos da atribuição do prémio Nobel da Literatura a José Saramago e disse que muitos outros autores de língua portuguesa o mereciam, concluindo que tudo fará para que a língua portuguesa e a cultura dos países da CPLP tenham nas Nações Unidas “uma manifestação cada vez mais forte como símbolo da diversidade”.

O dia 5 de maio foi instituído em 2009 como Dia da Língua Portuguesa e da Cultura na CPLP.

6 Mai 2018

Internacionalizar a língua pode potenciar a economia, diz Isabel Pires de Lima

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] ex-ministra da Cultura Isabel Pires de Lima defendeu ontem, em Macau, a importância de internacionalizar a língua portuguesa, pois a “língua tem um potencial económico extraordinário”, sobretudo quando também transporta cultura.

Convidada a discursar no encerramento da conferência “Diálogos Contemporâneos”, promovida pelo Instituto Politécnico de Macau (IPM), a professora emérita da Universidade do Porto defendeu que a internacionalização da língua “permite transportar a economia e a cultura portuguesa para espaços e patamares muito importantes”.

A língua portuguesa tem, na sua opinião, a vantagem de estar presente em três países com um grande crescimento demográfico: Brasil, Angola e Moçambique. “O futuro poder da língua portuguesa depende do desenvolvimento desses países e da sua capacidade de exportarem as suas culturas”, disse.

Num discurso marcado, em grande parte, pela inclusão da literatura no ensino da língua, Pires de Lima defendeu uma “prática de tradução que não seja funcionalista, mas cultural”. “O movimento migratório que o mundo vive é uma oportunidade para a Europa, pois transporta diversidade cultural, versões alternativas da vida, narrativas de interpretações do mundo que nos podem estimular e acabar com o vazio ideológico em que estamos mergulhados”, sublinhou.

Quanto ao trabalho desenvolvido pelo IPM na projecção da língua portuguesa no mundo, Pires de Lima elogiou “um esforço extraordinário difícil de classificar”. Na opinião da ex-ministra, o papel de Macau como plataforma entre a China e os países da língua portuguesa tem sido “absolutamente extraordinário, sobretudo na formação de professores”. “Estamos a assistir a um trabalho aqui no instituto que já envolve níveis de mestrado e níveis de doutoramento”, destacou.

Questionada sobre os planos de apoio à Cultura, que motivaram manifestações nas últimas semanas, a ex-ministra do sector considerou que o “orçamento para a cultura continua a ser ridículo, o adjectivo não pode ser senão esse”. “Não há nenhuma mudança de filosofia deste Governo relativamente a todos os anteriores no que diz respeito à valorização da cultura”, frisou.

Pires de Lima defendeu, no entanto, que “este ou qualquer outro ministro [da cultura] não tem nada a ver com os resultados do concurso, uma vez que se limita a nomear um júri que depois faz a selecção e distribui o dinheiro”.

Durante dois dias, especialistas em tradução e interpretação portugueses debateram, no IPM, as “linhas de actuação” para melhorar a formação “integral e específica” dos estudantes da língua portuguesa.

25 Abr 2018

Conferência | Especialistas de tradução reunidos em Macau na próxima semana

A Escola Superior de Línguas e Tradução do Instituto Politécnico de Macau (IPM) organiza, na próxima semana, uma conferência que vai reunir quase uma dezena de especialistas das áreas da tradução/interpretação, formação de professores de português e educação em línguas

[dropcap style =’circle’]”D[/dropcap]Diálogos Contemporâneos” titula a conferência multidisciplinar sobre tradução/interpretação, formação de professores de português e educação em línguas que vai juntar, na próxima semana, no IPM quase uma dezena de especialistas, a maioria proveniente de instituições de ensino superior de Portugal.

“Proporcionar um espaço de reflexão e debate interculturais e multidisciplinares que permitam gizar linhas de actuação futura” com vista à “melhoria de formação integral e específica dos estudantes” figura entre os principais objectivos da conferência, que vai realizar-se na próxima segunda e terça-feira, indicou o IPM em comunicado. As temáticas a abordar, de uma perspectiva multidisciplinar, são: Investigação para fins académicos, formação de professores de língua portuguesa, formação de tradutores e intérpretes, questões de tradução e interpretação e educação em línguas.

No primeiro dia da conferência, António Nóvoa, embaixador de Portugal junto da UNESCO, vai ser outorgado com o título de professor coordenador honorário, indicou o IPM.

A lista de conferencistas convidados completa-se com Rui Vieira de Castro (reitor da Universidade do Minho); Isabel Pires de Lima (ex-ministra da Cultura e professora catedrática da Universidade do Porto); Fernando Prieto (director da Faculdade de Tradução e Interpretação da Universidade de Genebra); Alexandra Assis Rosa (subdirectora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), Manuel Rodrigues (Universidade de Aveiro); Luís Filipe Barbeiro (do Instituto Politécnico de Leiria) e Maria José Grosso (Universidade Macau/ Universidade Lisboa).

Outro lado da moeda

Além da aposta na tradução e interpretação, áreas que desenvolve em parceria com o Instituto Politécnico de Leiria, o IPM tem reforçado, desde o ano passado, a formação de professores no ensino de português e chinês. Isto depois de ter criado, há dois anos, uma Licenciatura de Ensino de Chinês como Língua Estrangeira e, no ano passado, uma Licenciatura em Português, com um dos seus dois ramos consagrado ao ensino de português.

O IPM e o Camões – Instituto da Cooperação e da Língua assinaram, na passada quarta-feira, um protocolo que visa a certificação, com a chancela do Camões, de cursos de professores de língua portuguesa administrados pelo IPM.

18 Abr 2018

Língua Portuguesa | IPOR organiza semana de leitura em Macau

Histórias para os mais novos e oficinas para os profissionais são as actividades que integram mais uma semana dedicada à promoção da língua portuguesa. O evento é organizado pelo IPOR e tem como convidado de honra o contador de histórias Luís Correia Carmelo

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] Instituto Português do Oriente (IPOR) em Macau organiza, esta semana, sessões de narração de histórias e de leitura em língua portuguesa para cerca de 500 crianças, jovens e docentes.

A iniciativa do IPOR pretende sensibilizar o público para a leitura do português, assim como promover o acesso a autores de língua portuguesa e “desenvolver competências” nesta área.

Luís Correia Carmelo é o contador de histórias e investigador na área da literatura oral com o qual o IPOR dá sequência ao programa de dinamização e mediação da leitura em língua portuguesa no território.

O programa de trabalho apresenta duas vertentes distintas e complementares, refere o IPOR na sua página oficial.

Nas escolas, Luís Carmelo apresentará sessões de narração de histórias pelas quais se procura, além do desenvolvimento de competências em língua portuguesa por parte das crianças e jovens, sensibilizar para a leitura. A ideia é transformar o acto de ler num “exercício em si e de acesso ao património imaterial expresso ou traduzido nessa língua”.

As sessões vão decorrer na escola Luso-Chinesa da Flora, na escola Zheng Guanying, no jardim de infância D. José da Costa Nunes e nas oficinas de língua portuguesa para crianças e jovens do IPOR.

No dia 19 terá ainda lugar uma sessão de narração de histórias aberta a todos os interessados, com início marcado para as 18h30, no Café Oriente.

Para os mestres

Uma segunda vertente mais dirigida a docentes e formadores de língua portuguesa, tem lugar no sábado, às 10.00h.

Desta feita, Luís Correia Carmelo dirige uma oficina sobre questões de expressão e interpretação de enunciados e narrativas orais na aprendizagem das línguas.

Luís Correia Carmelo é licenciado em Estudos Teatrais pela Universidade de Évora, Mestre em Estudos Portugueses na Universidade Nova de Lisboa e Doutor em Comunicação, Cultura e Artes, grau que obteve com a apresentação da tese “Narração Oral: uma arte performativa” (2016).

O orador foi também fundador da Trimagisto – Cooperativa de Experimentação Teatral, programador e produtor do Contos de Lua Cheia e do Festival Internacional de Narração Oral entre 2005 e 2010. É responsável pela organização de conferências internacionais sobre narração de contos em várias instituições de ensino superior e participa em diversos congressos e conferências internacionais, tanto em Portugal como noutros países europeus.

17 Abr 2018

Ensino da Língua Portuguesa em Macau

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]amilo Pessanha chega a Macau a 10 de Abril de 1894 e, no dia seguinte, o Echo Macaense traz um artigo com o título O Estudo da Língua Nacional, que refere:

“O ALVITRE que apresentamos para tornar obrigatório, ou ao menos facultativo, nos três primeiros anos dos cursos do liceu, o estudo de latim simultaneamente com as outras duas disciplinas consignadas no mapa da distribuição das disciplinas ora em vigor para os liceus em geral, tem despertado a atenção pública sobre o assunto, e mereceu da parte do nosso amigo Z o bem elaborado artigo que abaixo se lê.

“O nosso amigo manifesta a sua descrença sobre a probabilidade de ser adoptado esse alvitre, embora reconheça a sua utilidade porque, como ele bem o diz, nos tempos que correm dá-se mais importância às aparências do que à realidade e o que querem são os diplomas legais dos exames e não os conhecimentos sólidos da verdadeira ciência.

“Se é verdade que existe essa tendência nociva, cumpre-nos o dever de reagirmos contra ela, para não irmos de mal a pior.

“Para os alunos do futuro liceu de Macau, os documentos de exames serão quase inúteis, se não forem acompanhados de uma instrução sólida e real.

“Para os que quiserem seguir os cursos superiores no reino, não poderá haver maior calamidade do que irem daqui mal preparados na instrução secundária, pois ficarão desapontados e muito prejudicados no seu futuro, porque, ou não poderão prosseguir nos seus estudos superiores, ou terão de estudar de novo a instrução secundária. Para os que quiserem seguir a carreira do comércio nestas paragens, ainda serão mais inúteis esses diplomas legais de exames, porque no decurso da sua vida ninguém perguntará por eles, e só terá valor o que eles na realidade souberem.

“É por isso que nos parece necessário adoptar medidas que obriguem os alunos do liceu a estudarem a valer, e virem a saber bem as disciplinas que cursarem.

“Em primeiro lugar é preciso que eles saibam bem o português; portanto se, para o desenvolvimento deste estudo, se tornar preciso que eles estudem o latim, não deve haver dúvida alguma em lhes impor a obrigação de estudarem mais esta disciplina, o que, como já temos demonstrado anteriormente, se pode fazer sem se afastar da legalidade. No mais, parece não haver discrepância entre o nosso alvitre e as considerações muito sensatas do nosso amigo Z.”

Instrução pública em Portugal

O programa de estudos a ser seguido em todos os liceus de Portugal traz o problema de não dar horas suficientes à língua portuguesa para os alunos do liceu de Macau, na sua maioria deficitários pois em casa não têm o costume de a falar.

Continuamos pela carta do amigo Z publicada no Echo Macaense de 11 de Abril de 1894.

“Sr. Redactor, seu artigo prendeu-me a atenção pela importância da matéria e também pela sensatez do alvitre que apresenta para remediar o mal de que V. Exa. se queixa, e que muito receia se agrave com a criação do liceu. A importância da cultura da língua nacional é uma coisa incontroversa, já pela sua extraordinária influência no desenvolvimento intelectual, já por ser um dos principais característicos de qualquer nacionalidade, chegando muitas vezes a ser, por assim dizer, a única força de coesão dos diversos elementos étnicos que entram por vezes na formação duma nação. Ninguém, pois, duvida da importância do estudo da língua nacional, que deve sobrelevar ao de qualquer outra disciplina. (…) Sendo assim, é realmente para causar a todos sérias apreensões o receio que V. Exa. manifesta de que, com a organização do liceu, este estudo se torne ainda mais deficiente de que o é já, apesar dos esforços da Escola Central e do Seminário, pela redução que se terá de fazer no tempo e por conseguinte na matéria do ensino. Para este mal, propõe V. Exa. como remédio o estudo simultâneo, por três anos, do latim com as outras disciplinas que constituem o curso de liceu, pensando, e bem, que por essa forma se iria inculcando insensivelmente e solidamente o conhecimento da língua portuguesa, que, como todos sabem, é derivada da latina, afora outras vantagens intelectuais que o estudo desta língua inquestionavelmente proporciona.

“Se admiro por um lado o interesse que V. Exa. toma pelo progresso intelectual, legítimo e sólido dos filhos desta terra, por outro lado admiro a ingenuidade, desculpe-me a franqueza, com que V. Exa. lança em circulação uma lembrança, sensata é verdade, mas que vai de encontro às tendências desta nossa sociedade fin de siècle, em que só se pensa nas aparências, que valem tudo, seja qual for a realidade, que é coisa de que ninguém se importa. Isso é assim em tudo, e a essa influência não escapa a instrução pública.

“É conhecido, confessado, reprovado, e quem sabe se amaldiçoado, por todos, publica e particularmente, o estado mesquinho e caótico da instrução pública em Portugal, pela sua organização, pelo seu método, pelos seus compêndios, pelos seus programas, contra os quais bramam todos, na imprensa, em obras especiais, em conferências públicas, e até no parlamente; e, contudo, todos dão aos seus filhos essa mesma instrução condenada pela voz pública.

“E porquê? Porque é que não procuram desviar-se desse rumo que conhecem como errado e que um importante jornal de Lisboa chegou a chamar o caminho da idiotice?

“A razão é muito simples: é porque é da época o não se importar com a realidade e a bondade das coisas, e apreciar só a aparência e a conveniência: fiz exame disto, tenho curso daquilo, possuo habilitações legais, e por isso estou no caso de ocupar tal lugar, e… acabou-se! Quanto a saber, pensar-se-á nisso, quando houver vagar e ocasião. Contentamo-nos todos com isto, e como isto basta, é de razão que nos contentemos. É o positivismo, e o positivismo é hoje a lei da vida. Nestas circunstâncias, não parece a V. Exa. que tenho razão em achar adorável a ingenuidade da sua lembrança em querer maçar os estudantes de Macau com um estudo mais sólido do português por meio do latim, quando o programa não exige isso e no próprio Portugal o estudo tanto de português como de latim está em maré baixa?

“O curso de português é só dum ano, e eu não quero crer que haja em toda a extensão da monarquia portuguesa um homem tão obtuso, que acredite que, em tão pouco tempo, com um programa tão acanhado, e com livros tão mal engendrados, se possa saber razoavelmente a nossa língua, tão bela, mas tão difícil, quando em França e Inglaterra o estudo da língua nacional leva anos consecutivos no curso secundário com livros preparados na máxima perfeição. Ninguém acredita em tal; mas… a lei diz que isso basta, e basta; e se basta para lá, deixe, Sr. redactor, que baste também para cá.”

Estamos em 1894, ainda antes do início do primeiro ano electivo do Liceu. Assunto cuja problemática se arrasta desde meados do século XVIII, quando o primeiro professor régio, José dos Santos Baptista e Lima para ensinar a língua portuguesa muitas vezes necessitava de intérprete para perceber o que diziam os seus alunos.

19 Jan 2018

Língua | IPOR promove programa de leitura em português

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Instituto Português do Oriente começa hoje uma série de sessões de leitura com a contadora de histórias Cristina Taquelim em várias escolas de Macau, abarcando um universo de cerca de 500 crianças. O programa pretende dinamizar a leitura em língua portuguesa durante a semana que agora começa.

As sessões realizam-se na Escola Luso-Chinesa da Flora, Escola Zheng Guanying, infantário D. José́ da Costa Nunes, Escola Portuguesa de Macau, Oficinas de Língua Portuguesa para Crianças e Jovens do IPOR e o Curso Geral do próprio instituto.

Na quinta-feira, pelas 19h, no Café Oriente do IPOR a escritora conduz uma sessão aberta de narração de histórias dirigida ao público em geral.

Cristina Taquelim é coordenadora de vários programas de promoção e mediação de leitura, integra a equipa de especialistas do Projecto Casa da Leitura da Fundação Gulbenkian e é fundadora da Associação de Contadores de Histórias.

Além disso, é autora de vários livros de literatura infanto-juvenil, como “Na minha casa somos sete”, editado em Portugal e “Malaquias”, “Uma casa na Lua” e “Corrupio” editados no Brasil.

25 Set 2017