Deputado pró-democracia de Hong Kong acusado de corrupção

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] deputado pró-democracia de Hong Kong, Leung Kwok-hung, também conhecido como “Cabelo Comprido”, foi ontem acusado de corrupção por, alegadamente, ter recebido pagamentos de um dos mais conhecidos magnatas da comunicação social da cidade.
Leung Kwok-hung, um activista da Liga de Social Democratas, foi detido e acusado de má conduta em cargo público pela Comissão Independente contra a Corrupção (ICAC, na sigla inglesa).
“Cabelo Comprido” é acusado de ter recebido 250 mil dólares de Hong Kong do fundador do jornal Apple Daily, Jimmy Lai, “relacionados com o seu cargo público”. Recorde-se que o jornal tem uma postura muito crítica de Pequim.
Leung disse à AFP que a sua detenção tem “um significado político”, acontecendo meses antes das eleições legislativas.
Conhecido pelo seu rabo-de-cavalo e por usar ‘t-shirts’ de Che Guevara, Leung tem sido uma presença desafiadora no Conselho Legislativo de Hong Kong desde que conquistou um assento em 2004.
“Sou uma conhecida figura da oposição em Hong Kong, pode haver algum tipo de significado político”, disse à AFP.
A detenção, acredita, “vai ter um grande efeito político”, tendo acontecido “mesmo antes das eleições” deste ano.
O democrata ainda não revelou se tenciona candidatar-se em Setembro.
Um comunicado do Governo indica que Leung, de 60 anos, foi acusado de “deliberada e intencionalmente” incorrer em má conduta ao não ter declarado que recebeu 250 mil dólares de Hong Kong de Lai entre Maio de 2012 e Junho de 2016.
“O caso surgiu de uma denúncia de corrupção”, diz o comunicado.
Leung foi libertado sob fiança e vai comparecer em tribunal na sexta-feira.

24 Jun 2016

Hong Kong | Governo mostra preocupação no caso dos livreiros

Há muito se esperava que CY Leung dissesse alguma coisa sobre os livreiros raptados pela China. Finalmente, após Lam Chun-Win ter revelado à imprensa os pormenores do seu ordálio, o chefe prometeu rever o regime de notificações das autoridades da China às de Hong Kong e que, se for necessário, mandará funcionários acompanhar o caso no continente

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] chefe do Executivo de Hong Kong falou ontem pela primeira vez sobre a detenção na China de um dos livreiros desaparecidos em 2015 e assegurou que vai transmitir a Pequim a sua preocupação com o sucedido.
Leung Chun-ying explicou que vai escrever ao Governo Central depois de Lam Wing-kee ter assegurado, na semana passada, que foi sequestrado por uma unidade de agentes chineses quando se encontrava em visita à cidade de Shenzhen e que foi detido durante oito meses, com todas as comunicações cortadas, informa a emissora pública RTHK.
Lam assegurou que foi forçado a assinar um documento em que prescindia de um advogado ou de contactar familiares e que também foi obrigado a gravar uma confissão falsa para ser transmitida na televisão, em que dizia que tinha feito chegar livros proibidos à China.
O Chefe do Executivo de Hong Kong, que regressou ontem de umas férias de nove dias, indicou também que será revisto o mecanismo através do qual as autoridades da China devem notificar as de Hong Kong sobre a detenção dos seus residentes noutras partes do país.
Caso seja necessário, Leung garantiu que enviará funcionários do seu Governo para seguir o caso na China.

Cuidado com a China

Lam foi libertado sob a promessa de que voltaria para entregar às autoridades chinesas um disco rígido com informação sobre os clientes da sua livraria, Causeway Bay. O livreiro decidiu não responder a esta exigência e optou por revelar, numa conferência de imprensa, as condições a que foi submetido durante os meses em que esteve detido.
CY Leung explicou que a polícia local contactou Lam e afirmou que será garantida a sua segurança. O livreiro recusou pedir asilo político noutros países, segundo informou o deputado Albert Ho.
Lam e outros quatro livreiros ligados à livraria Causeway Bay e à editora Mighty Current desapareceram entre Outubro e Dezembro do ano passado e reapareceram sob custódia das autoridades da China.
Quatro deles foram libertados, mas Gui Minhai, que também tem passaporte sueco, continua nas mãos das autoridades depois de ter desaparecido na Tailândia.
Numa entrevista ao South China Morning Post, Lam, o único que falou sobre o que aconteceu, disse que as autoridades chinesas planeiam condenar Gui entre Setembro e Dezembro deste ano e deixar os restantes “sem castigo”.
Tudo indica que o que está em causa são os livros em que a editora de Gui se especializava, com detalhes da vida privada dos líderes chineses, incluindo o Presidente Xi Jinping, sobre quem estava a ser preparado um relato sobre as suas amantes, segundo especialistas consultados pela agência de notícias Efe.

21 Jun 2016

Hong Kong | Milhares saíram à rua e pedem clarificações

A população de Hong Kong saiu à rua na sexta-feira e no sábado em protesto pelo desaparecimento de cinco livreiros. Acusações ao Governo de CY Leung estiveram em destaque

[dropcap style=’circle’]H[/dropcap]ong Kong viveu no sábado o segundo dia de protestos sobre o caso dos cinco livreiros desaparecidos no final do ano passado e que mais tarde reapareceram sob custódia das autoridades chinesas. Os deputados pró-democratas de Hong Kong acusaram o Governo de ser uma marioneta de Pequim e instaram as autoridades locais a responder às preocupações dos cidadãos da antiga colónia britânica, numa altura em que aumentam os receios quanto à alegada interferência de Pequim nos assuntos internos da cidade.
“Pensávamos que o Governo de Hong Kong podia proteger as pessoas de Hong Kong. Não pode”, disse o deputado pró-democracia Frederick Fung, citado pela agência Lusa. “Exijo que o Governo explique claramente o que fez para ajudar Lam ou os outros funcionários da livraria Causeway Bay nos últimos oito meses. Se eles não o fizerem, não são o nosso Governo”, acrescentou.
Na sexta-feira, o Secretário das Finanças de Hong Kong, John Tsang, que entretanto assumiu funções de chefe do executivo interino, escusou-se a dar uma resposta directa sobre a forma como o Governo vai proteger os direitos e a liberdade do livreiro Lam Wing-kee, segundo a imprensa local.
Membros do Partido Democrata escreveram uma carta aberta ao Presidente chinês, Xi Jinping, na qual afirmam que as autoridades do interior da China “violaram gravemente” o sistema semi-autónomo de Hong Kong e o princípio “Um país, dois sistemas”.
O caso dos livreiros desaparecidos voltou novamente à luz do dia esta semana, depois de Lam Wing-Kee – um dos cinco ‘desaparecidos’ – ter regressado a Hong Kong e de ter feito revelações surpreendentes sobre os oito meses em que esteve detido no interior da China. Os cinco livreiros trabalhavam na mesma editora de Hong Kong, conhecida por publicar livros sobre a vida privada de líderes chineses e intrigas políticas na cúpula do poder, os quais são proibidos no interior da China. Os cinco desapareceram entre Outubro e Dezembro do ano passado – três dos quais quando se encontravam no interior da China, e outros dois quando estavam em Hong Kong e na Tailândia.

Cerca de seis mil

Lam Wing-kee, que na quinta-feira revelou pormenores da sua detenção numa conferência de imprensa em Hong Kong (ver texto secundário) liderou a marcha participada por vários deputados pró-democratas, entre a zona comercial de Causeway Bay e o Gabinete de Ligação da China.
A organização da manifestação estimou em 6.000 o número de participantes, enquanto a polícia indicou um máximo de 1.800 pessoas no período de maior adesão ao protesto. Manifestantes acusaram Pequim de violar o princípio ‘Um país, dois sistemas” por alegada aplicação da legislação da China em Hong Kong e actividade de agentes de segurança chineses na antiga colónia britânica.
“A livraria está localizada em Hong Kong, um sítio onde a Liberdade de expressão e de publicação é protegida. E o país (a China) está a usar a violência para destruir isso, porque quer reprimir a liberdade dos residentes de Hong Kong gradualmente. Não deixem isso acabar aqui”, disse Lam Wing-kee no sábado, durante a manifestação, segundo o jornal South China Morning Post.

Confissão de livreiro terá sido preparada pelas autoridades chinesas

Lam Wing-Kee, de 61 anos, alega que foi detido depois de passar a fronteira e Hong Kong para a cidade chinesa de Shenzhen, à qual se deslocava para visitar a namorada. O livreiro diz que lhe foi comunicado que ele tinha cometido o crime de distribuição e envio de livros proibidos para a China. Depois de voltar esta semana a Hong Kong, Lam Wing-Kee deu na quinta-feira uma conferência de imprensa, revelando pormenores dos oito meses em que permaneceu detido sem acesso a advogado ou ao contacto com a família.
Afirmou ainda que a sua confissão de crimes, transmitida na televisão estatal, foi orquestrada pelas autoridades chinesas. Lam Wing-Kee disse que tinha sido autorizado a regressar a Hong Kong na terça-feira sob a condição de dois dias mais tarde atravessar novamente a fronteira para a China, com o disco rígido do computador com a lista de clientes da livraria. O livreiro diz que desobedeceu às ordens de Pequim, preferindo não entregar os registos dos clientes e falar abertamente do seu caso.

Palavras ditas

Pequim rejeitou as acusações de Lam, argumentando que o livreiro violou a legislação da China e que por isso tem o direito de prosseguir com o caso. Por sua vez, Lee Bo, o único livreiro que desapareceu a partir de Hong Kong, sem que haja registo de que atravessou a fronteira, mantém o que já tinha dito anteriormente à imprensa sobre o seu caso, afirmando que está simplesmente a ajudar a investigação das autoridades chinesas.
Novamente em Hong Kong, Lee Bo refutou as declarações de Lam, negando que tenha sido levado para o interior da China contra a sua vontade. O caso de Lee Bo gerou especial polémica por receios de que tivesse sido sequestrado por agentes chineses no território de Hong Kong, o que constituiria uma violação da declaração conjunta assinada com Pequim para a transferência da soberania, que protege o modo de vida de Hong Kong até 2047.

20 Jun 2016

Livreiro desaparecido volta a Hong Kong

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m dos cinco livreiros de Hong Kong que desapareceu misteriosamente no ano passado, Lam Wing-kee, regressou ontem à antiga colónia britânica e pediu à polícia para deixar cair a investigação relativa ao seu caso. Lam Wing-kee é um dos cinco livreiros que publicaram obras críticas de Pequim e desapareceram no final do ano passado.
Mais tarde, ficou a saber-se que todos eles, ligados à livraria Causeway Bay, estavam detidos na China e que quatro dos cinco – incluindo Lam – eram alvo de uma investigação oficial sobre a importação de livros proibidos a partir de Hong Kong.
Lam Wing-kee é o quarto livreiro que volta a Hong Kong. Os outros três voltaram pouco tempo depois a cruzar a fronteira rumo à China.
O livreiro Lam Wing-kee encontrou-se com a polícia na manhã de ontem e, à semelhança dos colegas, pediu o arquivamento do seu caso de desaparecimento e afirmou não precisar de qualquer tipo de assistência por parte da polícia ou do Governo de Hong Kong.
As autoridades da antiga colónia britânica indicaram que vão continuar a investigar o caso dos livreiros.

Histórias de desaparecidos

Entre Outubro e Dezembro do ano passado, cinco funcionários ligados à editora Mighty Current e à livraria Causeway Bay Books – que publicava e vendia livros críticos de Pequim, – desapareceram em circunstâncias misteriosas.
Gui Minhai, naturalizado sueco, desapareceu em Pattaya (Tailândia) em Outubro. Lam Wing-kee, Cheung Chi-ping e Lui Por desapareceram no mesmo mês quando se encontravam no interior da China. Lee Bo, com passaporte britânico, desapareceu, em Dezembro, em Hong Kong.
Todos reaparecerem semanas mais tarde na China, sob tutela das autoridades chinesas, e surgiram na televisão estatal a assumir crimes, em confissões que familiares, amigos e associações de defesa dos direitos humanos suspeitam terem sido feitas sob coação, ou a afirmar estar voluntariamente a colaborar com investigações policiais na China.
As autoridades chinesas acusam os livreiros de estarem envolvidos num caso de comércio de livros proibidos na China, uma actividade que alegadamente realizaram sob ordens de Gui Minhai, considerado o cérebro da operação.
Há dias, a filha de Gui Minhai pediu ajuda às autoridades norte-americanas para pôr termo à detenção “não oficial e ilegal” do seu pai, num apelo feito perante a Comissão Executiva do Congresso sobre a China.
Angela Gui disse à comissão que lhe foi negado acesso consular ou representação legal e que oito meses depois ainda não sabe onde o pai está, como está a ser tratado ou qual é a sua situação legal.
Os misteriosos desaparecimentos despertaram em Hong Kong o receio de que as autoridades chinesas tenham recorrido a agentes clandestinos para deter os livreiros, o que constituiria uma violação do princípio “um país, dois sistemas”, ao abrigo do qual Macau e Hong Kong, que são regiões da China com administração especial, gozam de ampla autonomia.

15 Jun 2016

Rejeitado pedido de Ma Ying-jeou para visitar Hong Kong

O antigo Presidente da Formosa viu o seu pedido de participar numa cerimónia de entrega de prémios de editores em Hong Kong recusado pelas autoridades taiwanesas. Em causa estarão matérias relacionadas com a segurança nacional, dizem

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s autoridades de Taiwan rejeitaram um pedido do antigo Presidente Ma Ying-jeou para visitar Hong Kong com o objectivo de participar num jantar de entrega de prémios da Sociedade de Editores na Ásia.
Segundo o jornal South China Morning Post, o gabinete presidencial da ilha apresentou vários motivos para esta rejeição, incluindo o facto de Ma ter deixado o cargo muito recentemente, de o pedido não ter sido feito com a antecedência necessária, a “sensibilidade” de Hong Kong e a falta de cooperação em matérias de segurança com o território.
O gabinete presidencial sugeriu que Ma participasse através de videoconferência.
O ex-Presidente desejava participar num jantar na quarta-feira, onde deveria discursar sobre as relações entre os dois lados do Estreito de Taiwan e na Ásia Oriental.
No entanto, no domingo, o porta-voz presidencial, Alex Huang, disse não ser apropriado que Ma visite Hong Kong nesta altura.
“Como Ma apresentou o seu pedido apenas 13 dias após ter deixado o cargo, com tão pouca antecedência, é improvável que o novo Governo consiga saber a que tipo de informação classificada ele acedeu ou se devolveu todos os documentos e completou os procedimentos” necessários, disse Huang.
Segundo o porta-voz, não há precedentes de colaboração entre os gabinetes de segurança de Hong Kong e Taiwan, o que significa que é “difícil controlar os riscos”.
De acordo com a lei de protecção de informação classificada de segurança nacional, antigos dirigentes do Governo com acesso a informação classificada ficam sujeitos a restrições nas viagens durante os três anos após a sua saída.

Aplausos e lamentos

Ma deixou o cargo a 20 de Maio após o Kuomintang perder as eleições presidenciais para Tsai Ing-wen, do Partido Progressista Democrático.
Ma é o primeiro ex-presidente a pedir autorização para sair de Taiwan desde que a lei foi introduzida, em 2003. Se o pedido fosse autorizado, seria o primeiro ex-líder de Taiwan a visitar Hong Kong desde 1949.
O gabinete de Ma reagiu com insatisfação, indicando que a decisão revela “não só desrespeito pelo antigo líder, mas prejudica também a imagem democrática de Taiwan perante o mundo”.
Por outro lado, a decisão foi aplaudida pelo campo pró-independência e pelos deputados do Partido Progressista Democrático, que disseram que Ma planeava promover o “consenso de 1992” e o princípio de “uma China”.
O “consenso” diz respeito a uma reunião em Hong Kong, em 1992, onde Pequim e Taipé acordaram que há apenas “uma China”, mas em que cada lado tem a sua interpretação do que “China” significa.
No seu discurso de tomada de posse, Tsai não reconheceu o “consenso de 1992”, levando Pequim a questionar o seu compromisso em manter o ‘status quo’ entre os dois lados do Estreito.
O Partido Nacionalista, de oposição em Taiwan e mais próximo de Pequim, criticou a decisão, que apelidou de “supressiva”, dizendo que nada fazia para apoiar a “reconciliação interna de Taiwan e a harmonia social”.

14 Jun 2016

Hong Kong | Lancôme reabre lojas após protestos

Com medo dos protestos, fecharam-se a sete chaves na quarta mas ontem reabriram. Tudo por causa do cancelamento de um concerto de Denise Ho por, dizem, “motivos de segurança”. Denise acha que foi pelas suas convicções politicas. O Global Times, que iniciou a polémica ao criticar o evento, rejubilou por a Lancôme levar em consideração o público da China continental

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] empresa de cosméticos Lancôme reabriu ontem as suas lojas em Hong Kong, após ter fechado portas na véspera devido a protestos por a marca ter cancelado um concerto da cantora local, crítica da China, Denise Ho.
Segundo o South China Morning Post, Denise Ho instou na sua página no Facebook toda a gente a erguer-se contra o que chamou de “terror branco que se tem vindo a espalhar” pela sociedade e a lutar pela liberdade de expressão.
Na terça-feira, a cantora pediu explicações à marca francesa por a Lancôme, que pertence ao grupo L’Orèal, lhe ter cancelado um concerto, alegadamente devido às suas convicções políticas.
Na quarta-feira, devido à marcação de protestos, as lojas e pontos de venda da marca estiveram fechados em Hong Kong, assim como os escritórios da L’Orèal.
Entretanto, foi lançada uma petição na Internet para apelar ao boicote dos produtos Lancôme.
O concerto promocional de Denise Ho, agendado para dia 19, foi cancelado após reacções negativas nas redes sociais da China continental ao apoio da artista ao Tibete e a movimentos pró-democracia como o Occupy Central (de Hong Kong).
Em comunicado, a cantora considerou a situação “extremamente lamentável”, indicando estar a ser castigada por defender os seus direitos e afirmar as suas convicções.
No domingo, a Lancôme disse que o evento tinha sido cancelado devido a “possíveis motivos de segurança”.
O balcão de venda da marca no maior centro comercial de Times Square, em Hong Kong, foi encerrado, assim como o centro de beleza que a marca possui no mesmo edifício, depois de se saber que tinha sido convocado um protesto nas imediações.
O organizadores do protesto, todavia, avisaram que poderão promover outras iniciativas se não houver resposta da marca.
“O objectivo deste protesto é mostrar ao mundo que devemos manter-nos juntos e, através do boicote [aos seus produtos], mostrar à Lancôme e à L’Orèal que não se podem focar apenas no mercado chinês”, afirmou Avery Ng, da Liga dos Sociais-Democratas, um dos 12 grupos que participaram nos protestos na tarde de quarta-feira.

Agitação na rede

Entretanto, foi também lançada uma petição na internet para apelar ao boicote dos produtos da Lancôme que já reuniu mais de 4.000 assinaturas.
A reacção dos internautas chineses surgiu em resposta a uma publicação do jornal de Pequim Global Times, no microblogue Weibo. O jornal questionou o evento, acusando a empresa de cooperar com “veneno de Hong Kong” e “veneno do Tibete”, ou seja, com uma apoiante da autonomia de Hong Kong e do Tibete.
Alguns internautas chineses começaram, então, a apelar a um boicote à Lancôme. Após o anúncio do cancelamento do concerto, surgiram novas ameaças de boicote, desta feita do ‘outro lado da barricada’.
O Global Times reagiu à notícia, dizendo que a marca francesa revelou “sabedoria” ao cancelar o concerto. Para o jornal, “os motivos são óbvios”: “Aparentemente, a Lancôme tomou mais em consideração os sentimentos do público da China continental, porque a China representa um mercado muito maior do que Hong Kong”. “Como empresa, deve procurar ganhos comerciais, uma sabedoria que deve revelar em situações complexas”, escreveu

10 Jun 2016

Hong Kong | Activistas pró-democracia absolvidos

[dropcap style=’circle’]Q[/dropcap]uatro jovens activistas pró-democracia de Hong Kong, incluindo Joshua Wong, um dos líderes do movimento Occupy Central, foram ontem absolvidos da acusação de obstrução à polícia durante um protesto.
Wong, de 19 anos, foi o rosto do que ficou conhecido como o Movimento dos Guarda-Chuvas, que levou à paralisação de zonas de Hong Kong durante mais de dois meses em 2014, com protestos nas ruas exigindo eleições totalmente livres para a escolha do chefe do Governo.
“O resultado deste julgamento prova que se tratava de uma perseguição política”, disse Wong, após o veredicto do primeiro de muitos casos contra si.
O jovem foi levado a tribunal devido a um protesto mais pequeno em Junho de 2014, antes das grandes manifestações, em que dezenas de pessoas se reuniram junto ao edifício da representação oficial de Pequim na cidade.
Os manifestantes opunham-se ao “Livro Branco” da China que reafirmava o seu controlo sobre Hong Kong, chegando mesmo a queimar uma cópia do documento.
Wong, o líder estudantil Nathan Law, e os activistas Raphael Wong e Albert Chan foram todos acusados de obstrução à polícia, que pode ser punida com penas de prisão de dois anos.
Os quatro declararam-se inocentes e foram absolvidos pelo tribunal.
Cerca de 20 apoiantes reuniram-se junto ao tribunal antes de a decisão ser conhecida, transportando guarda-chuvas amarelos, o símbolo do movimento pró-democracia de Hong Kong. “Não vamos baixar a cabeça perante as autoridades da China”, disse Law, antes de entrar no tribunal.

Mas há mais…

Num caso distinto, Wong foi julgado por uma manifestação em que os estudantes entraram dentro do recinto do complexo governamental, a 26 de Setembro de 2014, impulsionando protestos maiores que, dois dias depois, resultaram no lançamento, pela polícia, de gás lacrimogéneo contra a multidão.
A decisão deverá ser conhecida no final deste mês.
Wong enfrenta também acusações relacionadas com um protesto em Mong Kok, onde aconteceram os confrontos mais violentos do Occupy.
Wong e Law foram ainda detidos no mês passado após tentarem parar, em plena estrada, a caravana onde seguia Zhang Dejiang, que preside à Assembleia Nacional Popular.
Os dois foram libertados sob fiança.

8 Jun 2016

Hong Kong | Cinco detidos durante visita de dirigente chinês

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]inco pessoas foram detidas ontem em Hong Kong, num protesto relacionado com a visita do “número três” do regime chinês.
Entre os detidos está um líder estudantil de um movimento pró-democracia, Joshua Wong.
Os cinco foram detidos quando se preparavam para tentar deter uma caravana de carros onde seguia Zhang Dejiang, o presidente da Assembleia Nacional Popular da China que ontem terminou uma visita a Hong Kong.
Os cinco detidos entraram, a correr, numa estrada que tinha sido evacuada para a caravana passar.
Joshua Wong tinha um cartaz com a palavra “autodeterminação” e os cinco manifestantes foram detidos antes da chegada dos carros.
Todos pertencem ao movimento criado por Joshua Wong, que confirmou as detenções e colocou na internet um vídeo com o ocorrido.

Outras detenções

Na terça-feira, a polícia tinha também detido sete membros do partido pró-democracia Liga dos Sociais Democratas por colocarem faixas de protesto em espaços públicos, incluindo colinas e viadutos.
Zhang Dejiang disse na quarta-feira que a autonomia de Hong Kong será preservada.
Num jantar com deputados da região, a que não compareceram os pró-democratas, o dirigente chinês garantiu que Hong Kong não será “continentalizada” por Pequim.
O princípio “‘um país, dois sistemas’ é do maior interesse para o país e para Hong Kong. O Governo central vai implementá-lo sem hesitação. A sociedade de Hong Kong pode estar completamente descansada”, afirmou.
Antes do jantar, o dirigente chinês reuniu-se com deputados, incluindo quatro pró-democratas que no final do encontro disseram que “a atmosfera geral foi muito civilizada” mas não houve nada de novo.
Cerca de 200 manifestantes pró-democracia e pró-China juntaram-se na quarta-feira nas imediações do local onde Zhang jantou. Outras 100 tinham-se já manifestado de manhã noutro local onde estava Zhang.
A associação de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch disse na quarta-feira que as autoridades de Hong Kong “limitaram fortemente” a oportunidade da população expressar as suas críticas durante a visita do “número três” do regime chinês.
A organização disse também que as autoridades locais deviam desafiar Zhang Dejiang a “assumir compromissos concretos para respeitar a autonomia de Hong Kong em matéria de direitos humanos e democracia”.
A visita de Zhang Dejiang é a primeira deslocação de um importante responsável chinês ao território desde os protestos pró-democracia que paralisaram partes da cidade em 2014.
A deslocação a Hong Kong ocorre numa altura em que aumenta a preocupação na região de que as liberdades possam estar em risco e em que a falta de reformas políticas gerou novos grupos que defendem a ideia da independência da cidade.

20 Mai 2016

Papéis do Panamá: Hong Kong é via para contornar restrições

[dropcaap]A[/dropcap] operação “Papéis de Panamá”, que revelou um alegado esquema gigantesco de evasão fiscal, evidenciou Hong Kong como um centro de criação de empresas “offshore”, utilizadas por chineses do continente para transferir capital além-fronteiras.

Segundo novos dados revelados ontem pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ, na sigla inglesa), os escritórios na China da Mossack Fonseca, a firma de advogados panamiana no centro do furacão, criaram 16.300 empresas de fachada.

O caso reacendeu o debate sobre os meios utilizados pelas classes abastadas da China para salvaguardar as suas fortunas e fugir às restrições cambiais impostas por Pequim.

Devido à proximidade ao continente chinês e à liberdade que caracteriza o seu sistema financeiro, a ex-colónia britânica funcionará mesmo como uma plataforma.

“Os chineses estão a transferir o seu dinheiro para fora devido ao abrandamento da economia”, disse à agência France Presse Andrew Collier, director do centro de investigação Orient Capital Research, com sede em Hong Kong.
“O mercado imobiliário está em declínio em muitas zonas do país e existe apreensão com a campanha anti-corrupção e o impacto que poderá ter na segurança do capital na China”, explicou.

Através da subfacturação de bens exportados a partir de Hong Kong ou da subvalorização das importações para a cidade, é possível gerar dinheiro extra, que é depois colocado em contas “offshore”, explica Collier.
“Muita gente refere que existem imensas facturas falsas de produtos transaccionados entre a China e Hong Kong, e que Hong Kong está a ser utilizado como uma via para retirar capital do país”, descreve.

Esquema em movimento

As empresas chinesas podem então obter dinheiro em moedas estrangeiras junto dos bancos chineses, destinado a pagar produtos importados, mas sobrestimando o montante necessário, que é depois movimentando para contas na cidade.

“É muito difícil para um banco distinguir quais facturas são verdadeiras ou falsas”, considera Collier.
Pequim limita o montante de capital que pode ser transferido por pessoa além-fronteiras a 50.000 dólares por ano, mas através de contas secretas em Hong Kong é possível superar esses valores, explica à AFP o investidor David Webb.

Webb argumenta que a cidade carece de transparência no seu mercado de capitais e nas empresas que aí se registam, em parte porque não quer afastar o negócio alimentado pela China.

“Adoptaram a política do ‘não perguntes, nem digas nada’, sabendo que a epidémica corrupção no continente é a origem de muitos dos negócios”, refere.

“Estão preocupados que [mais regulação] reduza a quantidade de negócios e a atractividade de listar empresas em Hong Kong”.

A China limita a quantidade de dinheiro que cada turista pode levar para fora do país a um máximo de 20.000 yuan e o equivalente a 5.000 dólares em moedas estrangeiras.

As restrições geram, entretanto, o fenómeno designado de “mulas do dinheiro”: contrabandistas que carregam cintas de notas coladas ao corpo ou em malas através das alfândegas.

Outro esquema envolve a emissão de cheques em moeda estrangeira por bancos ilegais na China em troca de yuan, a moeda chinesa.

Lojas de câmbio em Hong Kong servem também de facilitadores para transferir dinheiro para fora. “Enquanto maiores são as restrições impostas pelo Estado, em qualquer país, à movimentação de capital, maiores são os fluxos financeiros ilegais”, conclui Webb.

8 Abr 2016

Livreiro desaparecido disse que fez contrabando de “livros proíbidos”

Um dos cinco livreiros de Hong Kong desaparecidos durante meses, que reapareceu há uma semana na antiga colónia britânica, admitiu que fez contrabando de “livros proibidos” (críticos em relação a membros do Partido Comunista) no interior da China.
Segundo o South China Morning Post (SCMP), que escreve com base em informações do diário Sing Tao Daily – também publicado em Hong Kong, mas com uma linha editorial próxima a Pequim –, o livreiro Cheung Chi-ping reconheceu o contrabando de livros proibidos no interior da China, mas que podem ser vendidos em Hong Kong.
Cheung admitiu a sua participação nesta actividade, mas disse que não era mais do que um “cúmplice” e que não tinha um papel importante no negócio.
Também disse que não sofreu coacção ou tortura durante o período em que esteve detido no interior da China e que não foi obrigado a fazer nada contra a sua vontade.
No entanto, não forneceu detalhes sobre a forma como entrou na China ou foi detido pelas autoridades chinesas, já que as autoridades de Hong Kong não têm registo da sua saída do território.

Mistério continua

Este é um mistério que envolve outros quatro livreiros ligados à mesma editora de Hong Kong que publicava livros críticos do regime chinês.
O seu desaparecimento, no final do ano passado, durou meses, tendo levantado suspeitas de que tivesse sido sequestrado pelas autoridades chinesas.
O livreiro voltou a Hong Kong no dia 6 de Março (embora tenha regressado à China de forma quase imediata), dois dias depois do regresso a Hong Kong do seu chefe na editora, Lui Por, e retirou a queixa pelo seu desaparecimento.
Segundo escreve o SCMP, o jornalista do Sing Tao Daily “esbarrou por acaso” com o livreiro, que entrevistou, e que lhe disse que “vivia livremente” na cidade de Dongguan, no sul da China, depois de ter sido libertado pelas autoridades chinesas.

18 Mar 2016

Hong Kong | Conselho Legislativo pede inquérito a distúrbios

O Conselho Legislativo de Hong Kong aprovou uma moção para estabelecer uma comissão para investigar as causas dos distúrbios do mês passado, mas o trabalho não deve começar até ao fim deste ano legislativo, em Julho.
A moção, aprovada na quarta-feira e proposta por Alvin Yeung Ngok-kiu, do Partido Cívico, e Cyd Ho Sal-Ian, do Partido Trabalhista, foi apoiada por 24 deputados democratas.
Yeung criticou o chefe do Executivo por classificar os distúrbios como “motins” antes de uma investigação cuidada.
A expressão, repetida pela ala pró-Pequim, levou a que “conclusões não verificadas crescessem na sociedade”, disse.
O deputado lamentou também que o Governo só estivesse preocupado em deter e condenar os envolvidos, recusando-se a estabelecer uma comissão para investigar as causas.
“Muitos cidadãos participaram nos confrontos com a polícia”, apontou o deputado do Partido Cívico, considerando que “tal mostra que o problema não pode ser imputado a um pequeno grupo”.
“Pode ter sido causado por um forte descontentamento com o Governo, que não pode ser solucionado com a detenção de umas dezenas de participantes”, frisou.

Assunto para novo parlamento

Os incidentes na zona de Kowloon, no primeiro dia do Ano Novo Lunar, causaram 130 feridos, vários detidos e, até à data, 50 acusados.
Anteriormente, o Governo de Hong Kong rejeitou os pedidos para uma investigação independente, considerando que as investigações criminais são suficientes.
Em declarações aos jornalistas, Ho admitiu que é “muito improvável” que a comissão comece a trabalhar antes de o Conselho Legislativo de Hong Kong terminar esta sessão legislativa, já que há outras duas comissões à frente.
“Mas acreditamos que o campo pró-democracia tem responsabilidade de colocar a necessidade de uma investigação nos registos da reunião. Também esperamos (…) que os deputados da próxima sessão legislativa levem este registo e necessidade em consideração”, disse.

18 Mar 2016

Li Keqiang diz que Hong Kong continuará a ter “alto grau de autonomia”

O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, assegurou ontem que Hong Kong continuará a gozar de um alto grau de autonomia, num momento em que a opinião pública da região crítica as intervenções do Governo central em assuntos internos do território.
“O alto grau de autonomia não se alterou nem se alterará”, assegurou Li, na única conferência de imprensa que realiza todos os anos.
A afirmação do responsável chinês surge num período de deterioração nas relações entre Hong Kong e Pequim, devido à designada ‘revolução dos guarda-chuvas’.
Em 2014, aquele movimento levou milhares de pessoas para a rua em protesto por uma democracia plena no território e contra a intervenção do Governo central no processo de escolha dos líderes locais.
Em Fevereiro passado, uma operação policial contra a venda ambulante ilegal de comida nas ruas de Hong Kong acabou em confrontos violentos, com 90 pessoas feridas e 54 detidos.
Questionado sobre esse incidente, Li limitou-se a manifestar a sua confiança no executivo de Hong Kong e nos habitantes da região especial administrativa chinesa para enfrentar futuras dificuldades.
“Acreditamos que o Governo de Hong Kong tem a capacidade e o povo de Hong Kong a sensatez para gerir adequadamente os complexos assuntos (que ocorram) em Hong Kong”, afirmou, no encerramento da sessão anual da Assembleia Nacional Popular (ANP), o órgão máximo legislativo chinês. “O futuro (do território) será brilhante”, frisou.

Uma China

Quanto a Taiwan, que Pequim considera uma província sua e não uma entidade política soberana, Li assinalou que o Governo central insiste na implementação de medidas para aumentar a cooperação económica e comercial entre ambos os lados.
Após anos de aproximação de Pequim, os eleitores do território elegeram no ano passado Tsai Ing-Wen, que se afirma a favor da identidade e soberania da ilha em relação a Pequim. “Enquanto ambas as partes reconheçam que existe apenas uma China, poderemos tratar de qualquer assunto”, vincou Li.

17 Mar 2016

HK | Eléctrico já circula com pinturas do português Vhils

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m eléctrico intervencionado pelo português Alexandre Farto, que assina como Vhils, começou esta semana a circular nas ruas de Hong Kong, no âmbito da primeira exposição individual do artista na região vizinha. A exposição “Derbis” é inaugurada apenas no dia 21, no Cais 4, mas já é possível apreciar-se a arte de Vhils a circular em Hong Kong, onde o artista português também realizou intervenções em paredes e onde está há a convite da HOCA – Hong Kong Contemporary Art.

Em “Derbis”, que levou “meses de preparação”, Vhils apresenta uma “multidisciplinaridade de trabalhos”, de acordo com informação disponível no site oficial do artista.

Com esta exposição, pretende-se “encorajar os visitantes a explorarem a cidade e reflectirem na natureza do ambiente urbano pela lente do artista”.

Nos trabalhos apresentados, Vhils desconstrói imagens com recurso a várias técnicas, como perfuração, colagens de cartazes, caixas de néon e escultura.

FOTO: José Pando Lucas
FOTO: José Pando Lucas

Alexandre Farto, de 29 anos, captou a atenção a escavar muros com retratos, um trabalho que tem sido reconhecido a nível nacional e internacional e que já o levou a vários cantos do mundo.

A técnica que notabilizou Vhils consiste em criar imagens, em paredes ou murais, através da remoção de camadas de materiais de construção, criando uma imagem em negativo. Além das paredes, já aplicou a mesma técnica em madeira, metal e papel, nomeadamente em cartazes que se vão acumulando nos muros das cidades.

Em Julho de 2014, Alexandre Farto inaugurou a sua primeira grande exposição numa instituição nacional, o Museu da Electricidade, em Lisboa. “Dissecação/Dissection” atraiu mais de 65 mil visitantes em três meses.

Esse ano ficaria também marcado, na carreira do artista português, pela colaboração com a banda irlandesa U2, para quem criou um vídeo incluído no projecto visual “Films of Innocence”, que foi editado em Dezembro de 2014, e é um complemento do álbum “Songs of Innocence”.

No ano passado, o trabalho de Vhils chegou ao espaço. Em Setembro, uma obra do artista esteve na Estação Espacial Internacional (EEI), no âmbito do filme “O sentido da vida”, do realizador Miguel Gonçalves Mendes.

Foi a primeira vez que um artista português colaborou com a Estação Espacial Internacional, com uma instalação artística que esteve colocada na cúpula da EEI e que retrata o astronauta dinamarquês Andreas Mogensen.

Apesar de trabalhar e expor em todo o mundo, e até fora dele, Alexandre Farto não se esquece de Portugal. Em 2015, criou, entre outros, o rosto de Amália Rodrigues, em calçada portuguesa, em Alfama, Lisboa.

16 Mar 2016

Hong Kong | Pequim diz que vai libertar três dos cinco livreiros

Três dos cinco livreiros de Hong Kong detidos na China vão ser libertados dentro de poucos dias, após uma confissão na televisão estatal, confirmaram as autoridades chinesas às de Hong Kong na noite de quarta-feira.
Num comunicado, a polícia de Hong Kong confirma a iminente libertação de Cheung Chi-ping, Lui Por e Lam Wing-kei, ainda que continue a desconhecer-se o destino dos outros dois livreiros, Gui Minhai e Lee Bo, ambos com passaportes europeus.
Cheung, Lui e Lam serão libertados sob fiança devido à “boa atitude” manifestada, apesar de continuarem a ser investigados e ainda não se saber se poderão voltar às suas casas em Hong Kong ou se terão de permanecer na China continental.
As autoridades acusam-nos de estarem envolvidos num caso de comércio de livros proibidos na China, uma actividade que alegadamente realizaram sob ordens de Gui Minhai, considerado o cérebro da operação.
Os cinco livreiros trabalham para editoras especializadas em livros sobre pormenores sórdidos acerca do Partido Comunista e dos seus líderes, bem como batalhas internas pelo poder, e desapareceram em misteriosas circunstâncias quando se encontravam em Hong Kong, na Tailândia ou durante deslocações à China interior.
Todos reapareceram sob custódia chinesa e protagonizaram confissões transmitidas na televisão estatal, uma prática habitual no país e que é muito criticada por organizações de direitos humanos, que consideram que são realizadas sob coação.

Sem autorização

Gui, com passaporte sueco, é dono da editora Mighty Current e tem como sócio Lee Bo, com passaporte britânico. Liu Por era gerente da empresa, Cheung Ji-ping seu assistente e Lam Wing-kei gerente da livraria Causeway Bay Books, propriedade da Mighty Current.
As autoridades chinesas argumentam que Cheung, Lam e Liu enviaram 4.000 exemplares não autorizados a 380 compradores no território chinês desde Outubro de 2014, algo que teriam feito sob a ordem de Gui.
Desconhece-se de que é acusado Lee, mas o livreiro explicou, na sua confissão na televisão, que se tinha deslocado à China por vontade própria para colaborar com uma investigação sobre a sua editora.
A União Europeia já mostrou preocupação com a situação dos cinco livreiros, e sublinhou que, além da questão de direitos humanos, este caso põe em causa “o respeito” para com o princípio “Um país, dois sistemas”, que estipula que Hong Kong e Macau têm mais liberdades que aquelas que existem no resto da China, como é o caso da liberdade de expressão.

4 Mar 2016

Hong Kong indicia 37 pessoas de motim por distúrbios de segunda-feira

Trinta e sete pessoas foram ontem presentes a tribunal em Hong Kong e acusadas individualmente de participação em motim, em conexão com os distúrbios registados na noite segunda-feira, informa a imprensa local.
Um adolescente de 15 anos, que enfrenta a mesma acusação, deverá ser presente a um tribunal juvenil, segundo a Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK).
Entre os acusados está o porta-voz do grupo Hong Kong Indigenous, Edward Leung – apontado como candidato às eleições deste ano para o Conselho Legislativo (LegCo) – e Stephen Ku Bok-him, da revista dos alunos da Universidade de Hong Kong Undergrad.
Derek Lam, um membro do movimento estudantil Scholarism – que esteve envolvido nos protestos pró-democracia em 2014 – integra também o grupo de acusados.
A acusação requereu o adiamento dos casos para 7 de Abril para dar continuidade à investigação da polícia.
O crime de que são acusados é punível com uma sentença de até 10 anos de prisão.
Até quarta-feira, foram detidas 64 pessoas em conexão com os incidentes ocorridos na noite de segunda-feira na zona de em Mong Kok. Destes, foram acusados 35 homens e três mulheres com idades entre 15 e 70 anos.
Os distúrbios, que escalaram de um protesto contra uma tentativa da polícia para dispersar vendedores ambulantes de comida, resultaram em 130 feridos, a maioria polícias, refere a RTHK. Seis pessoas continuavam na manhã de ontem internadas no hospital.
O grupo ‘Scholarism’ disse em comunicado que Derek Lam esteve apenas quatro horas em Mong Kok na noite de segunda-feira e que não participou nos confrontos violentos nem atacou os polícias.
Segundo o Scholarism, agentes tentaram revistar a casa de Derek Lam sem um mandado do tribunal e que a revista não chegou a acontecer porque o seu advogado chegou rapidamente ao local.

Avisos escolares

Em declarações ontem à RTHK, o líder do Scholarism, Joshua Wong, advertiu que Hong Kong pode testemunhar mais incidentes como os motins de Mong Kok, se a abordagem do Governo liderado por Leung Chun-ying, também conhecido por CY Leung, não mudar.
Wong disse que vários partidos políticos e amplos sectores da sociedade condenaram a violência, mas que o Governo deve aceitar a responsabilidade pela divisão social que existe.
Segundo Wong, alguns activistas radicalizaram-se após os protestos pró-democracia de 2014, por considerarem que os movimentos pacíficos não conseguem mudanças.
Também o deputado do Partido Democrático James To disse que prender pessoas não resolve nada e defendeu que é preciso analisar as razões pelas quais tantos jovens desenvolveram um profundo ódio à polícia e às autoridades.
Já o deputado da Liga dos Sociais Democratas Leung Kwok-hung, conhecido por acções radicais dentro e fora do Conselho Legislativo, disse que as pessoas estão fartas de CY Leung, que descreveu como um tirano que não foi eleito pela população.
Por sua vez, o deputado Tam Yiu-Chung, do partido pró-Pequim Aliança Democrática para a Melhoria e Progresso de Hong Kong (DAB, na sigla inglesa), apontou os protestos pró-democracia em 2014 como a razão da radicalização dos manifestantes.
Para Tam Yiu-Chung, estes manifestantes estão cada vez mais arrojados nas suas acções, advertindo que este é um caminho perigoso, desencadeado por não terem sido punidos adequadamente.

Sem desculpas

A acção da polícia também está sob escrutínio. Um jornalista do jornal em língua chinesa Ming Pao disse que foi espancado por agentes quando estava a tirar fotografias a um autocarro, apesar de ter gritado repetidamente que era repórter.
Entretanto, o secretário para as Finanças do Governo de Hong Kong, John Tsang, disse acreditar que a violência foi incitada por um pequeno grupo de pessoas irracionais que queriam atacar a polícia.
Também acrescentou que não é apropriado justificar as acções dos atacantes culpando o Governo de CY Leung por má governação, porque não há desculpas para a violência.

12 Fev 2016

Hong Kong | Rixa em Mong Kok associada a movimento “Scholarism”

Começou por ser uma operação policial contra vendedores ambulantes de comida, mas acabou em violentos confrontos entre a população e a polícia, aos quais nem os jornalistas escaparam. A revolta ocorrida na zona de Mong Kok começa a ter contornos políticos, com a prisão de um membro do “Scholarism”

Na noite de terça para quarta-feira viveram-se momentos de terror nas ruas da zona de Mong Kok, em Hong Kong, num violento protesto como não se via desde 2014, ano em que o movimento Occupy Central ocupou o distrito financeiro da região vizinha. Os desacatos começaram com uma operação policial contra vendedores ambulantes, mas depressa grupos de pessoas manifestaram-se de forma violenta, cujos actos culminaram em 90 polícias feridos e dezenas de pessoas detidas, número que poderá aumentar, segundo o Executivo da região vizinha.
A operação da polícia desencadeou protestos entre os comerciantes e frequentadores da zona de Kowloon que, segundo a polícia, acabaram por lançar pedras, contentores e garrafas às forças de segurança. A polícia respondeu com gás pimenta e disparos de aviso.
O subcomandante da polícia de Hong Kong Crusade Yau Siu-kei disse ao jornal South China Morning Post que é provável que o protesto contra a polícia estivesse preparado e organizado porque, assegurou, os manifestantes tinham carros para transportar escudos, capacetes e luvas, entre outros objectos. A polícia já deteve mais de 60 pessoas, acusadas de ataque às forças de segurança, resistência à detenção, alteração da ordem pública e de obstaculizarem o trabalho policial. Os desacatos na rua duraram mais de dez horas, sendo que ontem a policia de Hong Kong ainda patrulhava o local.

“Scholarism” envolvido

Ontem os confrontos em Mong Kok começaram a estar associados ao movimento “Scholarism”, já que, segundo o jornal South China Morning Post, Derek Lam Shun-in foi preso. Derek Lam Shun-in pertenceu ao movimento Occupy Central e é membro do Scholarism, tendo sido apanhado pela polícia no Aeroporto Internacional de Hong Kong na manhã de ontem, acusado de ter incitado a rixa. Derek Lam Shun-in estaria a viajar para Taiwan para se juntar à família, sendo que os familiares terão regressado a Hong Kong assim que souberam da sua detenção.
Um comunicado publicado pelo “Scholarism” já veio negar esta acusação, dizendo que Derek Lam Shun-in estava em Mong Kok apenas para comprar comida aos vendedores ambulantes. “Ele deixou Mong Kok às 2h15 horas da manhã de terça-feira e não atacou nenhum política ou fez algo violento”, aponta o comunicado, que fala de uma detenção feita sem autorização judicial.
“Estamos profundamente indignados com o facto da polícia prender de forma indiscriminada um estudante, algo que significa um ataque aos direitos da pessoa e à sua liberdade de expressão. Até este momento o advogado não conseguiu contactar Derek de nenhuma forma. Pedimos à polícia que dê declarações sobre a situação do Derek e que autorize a sua libertação imediatamente. Nós, sem medo, vamos usar toda a nossa força para lutar nesta batalha ao lado do nosso membro Derek Lam”, lê-se no comunicado divulgado no Facebook.
Ao HM, Scott Chiang, presidente da Associação Novo Macau (ANM), acredita que podem existir ligações não directas ao “Scholarism” ou Occupy Central. “Podem existir elementos políticos por detrás do movimento. Não compreendo totalmente toda a situação, mas penso que a política será um dos motivos por detrás do que aconteceu”, disse Scott Chiang, que falou da possibilidade de “um número de pessoas terem recusado utilizar os canais normais para expressar a sua insatisfação e tomaram acções para mostrar ao Governo a sua posição política”.
“Podem ter tomado mais acções pró-activas ou diria violentas…em chinês chamamos de “locais” pró-activos, este tipo de pessoas convenceram-se que o pacifismo já não lhes serve desde o Occupy Central, e perceberam que talvez o facto de terem sido pacíficos fez com que o movimento tenha falhado. Penso que um grupo de pessoas se convenceu que deviam ser mais violentos ao lidar com o Governo, por isso vimos mais jovens a aderir à revolta, pareciam bem preparados. Não diria que já estavam organizados, mas sabiam o que estavam a fazer”, disse o presidente da ANM ao HM.
O South China Morning Post avançou ainda que depois da prisão de Derek Lam foi preso outro homem na zona de Sham Shui Po, sendo que a polícia terá descoberto cinco walkie-talkies em casa do suspeito.
Para além do “Scholarism”, o grupo “Hong Kong Indigenous” estará envolvido no caso, já que o seu líder, Edward Leung Tin-kei, referiu na sua página do Facebook ter sido preso acusado de estar ligado aos acontecimentos de Mong Kok. Edward Leung escreveu ainda que a polícia terá forçado a entrada em casa de outros alegados suspeitos, o que terá resultado na prisão de mais 20 pessoas.

CY Leung rejeita violência

Entretanto, o Chefe do Executivo de Hong Kong, CY Leung, já veio condenar os actos de violência, falando dos carros da polícia e de privados que ficaram danificados, para além dos agentes das forças de segurança que foram alancados com diversos objectos mesmo depois de já estarem caídos no chão e feridos.
“Penso que as pessoas poderão ver por si próprias nas imagens da televisão a seriedade da situação. O Governo condena com firmeza estes actos violentos”, afirmou.
Para Scott Chiang, CY Leung vai utilizar este episódio para garantir uma reeleição ao cargo de Chefe do Executivo, em 2017. “CY Leung usou este incidente para ter mais apoio, para que possa ter uma reeleição assegurada” defendeu o presidente da ANM.
Para o académico Larry So, o que aconteceu em Mong Kok não foi apenas por uma questão política. “Não se pode falar de um movimento puramente ideológico, diria que não foi um movimento político quando se transformou numa revolta, sem nenhuma ideia ou objectivo político por detrás disso. Numa primeira fase parecia planeado e organizado, mas não havia uma extensão. Uma mob deste género é irracional é um movimento colectivo”, defendeu.
Para o futuro, Larry So acredita que “mais acontecimentos deste género podem ocorrer, este tipo de descontentamento pode voltar a aparecer junto da sociedade. Se Hong Kong consegue suportar isso? Sim, mas terão de pagar um preço”, rematou. Scott Chiang acredita que “a situação se vai tornar mais polarizada”, frisou.

11 Fev 2016

Hong Kong | Solteiros contratam acompanhantes para calar família no Ano Novo Chinês

As tradicionais reuniões familiares por ocasião do Ano Novo Chinês estão a fazer com que muitos solteiros em Hong Kong procurem acompanhantes para evitar as habituais perguntas sobre o seu estado civil e contornar a pressão para o casamento.
Solteiros de ambos os sexos na antiga colónia britânica estão a contratar namorados falsos para os acompanharem durante as celebrações, escreve o jornal South China Morning Post.
Anúncios na Jobdoh, uma aplicação de ‘smartphone’ que habitualmente põe em contacto trabalhadores e empregadores, estão a oferecer 250 dólares de Hong Kong por cada hora de presença.
“A resposta é melhor do que eu esperava”, disse a co-fundadora da ‘app’, Xania Wong.
Embora a perspectiva de ser pago e poder comer de graça todas as iguarias tradicionais chinesas desta quadra festiva possa parecer um sonho, a tarefa não é descrita como fácil.
“Vais receber e memorizar toda a informação sobre quem sou, como nos conhecemos e os nossos planos para o futuro, para que a minha família não me chateie”, disse uma das anunciantes à procura de um namorado falso.
“Vais agir como um verdadeiro cavalheiro, atencioso, sem palavrões e não podes fumar”, acrescenta.
O anúncio diz ainda que, idealmente, o candidato deve saber “jogar ‘mahjong’ e conseguir beber muito”.

Além disso, o número de horas de trabalho pode ser difícil de prever, por ser imprevisível o tempo que levam as reuniões familiares.
Alguns solteiros estão também a procurar acompanhantes pagos para visitar os seus familiares no interior da China.
Os interessados têm de enviar um vídeo de 30 segundos para o Jobdoh, com argumentos que atestem que são a pessoa mais indicada para o trabalho.
Os funcionários da aplicação de telemóvel vão depois analisar o vídeo e rever a classificação dada por empregadores, no caso de os candidatos a acompanhantes já terem usado o serviço de recrutamento anteriormente.
“Se conseguires apresentar-te detalhadamente e sorrir muito tens mais hipóteses de ser bem-sucedido”, afirmou Wong.
Nos últimos anos tem-se tornado uma prática popular para os cidadãos do interior da China procurarem parceiros falsos na Internet para os acompanhar nas festividades do Ano Novo Chinês.
A académica Lau Yuk-king, da Universidade Chinesa de Hong Kong, disse ao South China Morning Post que é difícil para as mulheres da antiga colónia britânica procurarem um companheiro, uma vez que continuam a querer homens com um nível de educação e salários superiores aos delas.
“O problema é que hoje é normal as mulheres estarem a sair-se melhor do que os homens”, afirmou.

4 Fev 2016

Hong Kong | Polícia considera desaparecimento de livreiro caso sensível     

[dropstyle=’circle’]O[/dropstyle] comissário da polícia de Hong Kong, Stephen Lo, disse no sábado que o desaparecimento do livreiro Lee Bo é um caso sensível e que não quer tirar conclusões precipitadas.
Lee Bo desapareceu em Chai Wan (Hon Kong) a 30 de Dezembro, e foi o último de cinco homens relacionados com uma editora da cidade a desaparecer desde Outubro do ano passado. A forma como Lee atravessou a fronteira sem qualquer documento continua por esclarecer.
Ao falar num programa da Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK), o comissário da polícia disse que ainda estava a aguardar respostas das autoridades do interior da China, já que actualmente não há um prazo para o mecanismo de notificação entre Hong Kong e a polícia chinesa.
Os misteriosos desaparecimentos despertaram em Hong Kong o receio de que as autoridades chinesas tenham recorrido a agentes clandestinos para proceder à detenção dos cinco livreiros, o que, a ser verdade, constituiria uma flagrante violação do princípio “Um País, dois sistemas” da Região Administrativa Especial chinesa que lhe confere autonomia relativamente a Pequim.
Stephen Lo disse, porém, que até à data não havia casos provados de actuação da polícia chinesa em Hong Kong, e que a investigação iria continuar até ao reaparecimento de Lee Bo.
Numa medida sem precedentes, a polícia de Guangdong (interior da China) respondeu publicamente nos últimos dias, ao enviar uma carta sobre o livreiro Lee Bo à imprensa de Hong Kong.
Na carta, as autoridades chinesas disseram que notaram a onda de preocupação em Hong Kong, mas que não tinham mais nada a acrescentar além do que já tinham dito às autoridades da antiga colónia britânica.
No entanto, o deputado do Partido Democrata James To, que integra o painel para a segurança no Conselho Legislativo, não ficou satisfeito com a resposta.
James To disse que era um “absurdo” que a polícia de Guangdong apenas pudesse repetir o que já tinha sido publicado nos jornais, e pediu ao comissário da polícia para investigar o assunto.

Em parte incerta

A livraria Causeway Books, entretanto de portas fechadas, vende obras muito críticas do regime comunista, proibidos no interior da China.
Dois dos desaparecidos são cidadãos europeus (Gui Minhai tem passaporte sueco e Lee Bo é britânico).
Lee Bo, de 65 anos, foi visto pela última vez na quarta-feira, dia 30 de Dezembro, no armazém da Mighty Current, a casa editora proprietária da livraria, num caso que tem lugar semanas depois de quatro dos seus associados terem desaparecido em circunstâncias idênticas.
Gui Minhai, dono da casa editora, desapareceu enquanto estava de férias na Tailândia em meados de Outubro. O mesmo aconteceu a três outros associados à livraria ou à editora (Lam Wing-kei, Lui Bo e Cheung Jiping) depois de terem visitado, separadamente, o interior da China.

1 Fev 2016

Livreiros | Aliança de Apoio aos Movimentos Democráticos prepara manifestação

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Aliança de Apoio aos Movimentos Democráticos e Patrióticos na China, de Hong Kong, anunciou ontem que vai realizar um protesto no domingo para exigir respostas por partes das autoridades chinesas relativamente ao desaparecimento de cinco livreiros da antiga colónia britânica. A Aliança é conhecida nomeadamente por organizar anualmente a vigília em homenagem às vítimas do massacre de Tiananmen, com Hong Kong a figurar como o único local em toda a China a assinalar a efeméride, a par de Macau, que também o faz mas numa escala muito menor.
Segundo a Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK), o grupo vai realizar uma marcha no próximo domingo, que vai arrancar da sede do Governo, no complexo de Tamar, com destino ao Gabinete de Ligação da China, e espera que cerca de cinco mil pessoas adiram à manifestação.
O vice-presidente da Aliança, Richard Tsoi, instou a população a juntar-se à iniciativa, afirmando que se trata de um momento crítico para Hong Kong defender os direitos humanos e o princípio “Um país, dois sistemas”, que lhe confere autonomia relativamente a Pequim.
O desaparecimento de cinco livreiros associados à publicação de obras críticas do Partido Comunista da China tem desencadeado uma onda de revolta e preocupação face à suspeita de que foram ilegalmente detidos pelas autoridades da China.
No passado domingo, aproximadamente meia centena de pessoas, incluindo figuras públicas como deputados, manifestaram-se também junto ao Gabinete de Ligação da República Popular da China em Hong Kong para exigir respostas sobre o paradeiro dos desaparecidos e pedindo uma investigação aos desaparecimentos.
Esse protesto teve lugar depois de conhecido o mais recente caso, que envolve Lee Bo, um dos responsáveis da livraria Causeway Books – onde se podem encontrar obras críticas do regime e do PCC e, portanto, popular entre muitos turistas provenientes da China, dado que lhes vêem vedado o acesso a este tipo de leituras.
Lee Bo, de 65 anos, foi visto pela última vez no dia 30 de Dezembro, no armazém da Mighty Current, a casa editora proprietária da livraria, num caso que ocorreu semanas depois de quatro dos seus associados terem desaparecido em circunstâncias idênticas e que continua envolto em mistério.
Num espaço de dias, a mulher apresentou queixa à polícia e retirou-a, dando conta de que o marido dera sinais de vida ao enviar um fax, escrito à mão, a um amigo, em que terá indicado ter ido à China “pelo seu próprio método”, que estava a trabalhar numa investigação que “pode levar tempo”, e que teve de gerir o assunto de forma “urgente” para evitar que desconhecidos tomassem conhecimento.
Além disso, terá assegurado, na mesma missiva, que estava bem e que tudo decorria com normalidade.
Os outros desaparecidos, além de Lee Bo, que detém passaporte britânico, são o editor, que tem passaporte sueco, Gui Minhai, desaparecido numa viagem à Tailândia, o gerente geral do estabelecimento, Lu Bo, o principal gestor do negócio, Lin Rongji, e o funcionário Zhang Zhiping.
A estes confusos factos, juntam-se declarações do deputado democrata e advogado dos direitos humanos Albert Ho, segundo o qual estava em preparação um livro sobre a vida amorosa do Presidente chinês, Xi Jinping, em particular sobre uma namorada antiga, o que relacionou com os desaparecimentos.
O Presidente chinês tem levado a cabo uma intensa campanha anti-corrupção para punir o alegado hedonismo no seio do Partido Comunista, o que inclui o que são considerados excessos na vida sentimental dos membros do partido, alguns publicados nas obras vendidas pela livraria Causeway Books.

8 Jan 2016

Hong Kong | Sete polícias e activista do Occupy agredido acusados

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] polícia de Hong Kong acusou ontem sete agentes por agressão contra um activista durante os protestos de 2014, mas este vai ser também acusado de violência e obstrução às autoridades, informou a imprensa.
Os sete agentes foram acusados no âmbito do ataque ao activista e membro do Partido Cívico Ken Tsang, na madrugada de 15 Outubro de 2014, há exactamente um ano.
“Sete polícias foram acusados em conjunto por causarem lesão corporal grave com intenção”, disse ontem um porta-voz da polícia citado pela AFP. Um deles enfrenta ainda a acusação de agressão comum, refere o South China Morning Post.
Os sete agentes saíram ontem em liberdade sob caução e vão comparecer em tribunal na próxima segunda-feira.

Em directo

O caso da agressão veio a público na sequência da divulgação de imagens da agressão pela estação de televisão local TVB.
As imagens mostram um grupo de homens, que se acredita serem polícias à paisana, a levarem Ken Tsang, algemado, para um canto escuro do Complexo de Tamar – uma das zonas ocupadas por manifestantes em protesto pelo sufrágio universal durante 79 dias. Um dos homens está em cima do activista a dar-lhe socos, enquanto outros três o atacam repetidamente ao pontapé.
As forças de seguranças de Hong Kong foram bastante criticadas pela demora no tratamento do caso. A agressão aconteceu em meados de Outubro e os agentes foram detidos e suspensos de funções no final de Novembro do ano passado.
Ken Tsang disse aos jornalistas que foi convocado pela polícia para se apresentar ontem numa esquadra para ser formalmente acusado.
O activista afirmou que enfrenta uma acusação de agressão e quatro de obstrução ao trabalho da polícia. Não foram especificadas as situações na base das acusações.
Ken Tsang criticou as acusações como “infundadas, excessivas, ridículas e contrárias aos factos”.
Além disso, considerou poder tratar-se de uma “tácica de relações públicas” e de uma manobra para “minimizar” o processo contra a polícia.
“Nada disto deveria estar a acontecer um ano depois. Sinto que o governo está apenas a tentar marcar uma posição ao deter-me”, afirmou.
Ken Tsang e os apoiantes reuniram-se, na noite de quarta-feira, no local do ataque realizado há um ano, para uma vigília contra a violência policial.

16 Out 2015

Secret Island Party | Festival regressa a 16 de Outubro para três dias de música

A Secret Island Party volta a Hong Kong, num conceito que embora não seja novo, continua a conquistar fãs pelas regiões circundantes. De Macau, sobem aos palcos de uma qualquer praia paradisíaca os DJs Devlar e Ryoma e a banda Concrete/Lotus

[dropcap style=circle’]O[/dropcap]festival de três dias Secret Island Party volta a Hong Kong entre os dias 16 e 18 deste mês para trazer aos fãs de boa música e ambiente exterior mais de uma centena de performances musicais em cinco diferentes palcos. Os artistas de Macau também vão estar presentes, com o palco Once Upon a Boom a acolher a música techno do DJ Devlar às 00h00 de sábado. No dia seguinte, bem cedo, chega a vez do DJ Ryoma subir ao mesmo palco, às 9h00, para ajudar os festivaleiros a acordar com música ambiente e chill out. Já o palco Sunsets abre o final de tarde com os Concrete/Lotus, num concerto também marcado para domingo, às 16h15. O cartaz compreende ainda as bandas The Haywood Sisters, Mouse FX, The Brown Note Collective, Salvaje, 9 Maps, Dr. Eggs, Sushi Robot, PUSH, Boomsma, The Lamma Jazz Quartet e muito mais.
O festival – que este ano tem como tema “Contos de Fada, Folclore e Fábulas” – não tem um estilo musical definido, abrangendo desde electrónica e techno, a sets acústicos, indie, pop e tributos a bandas dos anos 80 e 90.

Muito mais do que música

A Secret Island Party inclui muito mais do que concertos ao vivo: incluídos no bilhete estão workshops de dança e pintura facial, jogos no exterior, sessões de yoga, de massagens e de meditação, entre outras actividades que cultivam a paz de espírito e o aproveitamento do espaço verde.sip
Na sexta-feira, o recinto abre os palcos às 19h00, no sábado às 8h00 e domingo às 7h30. O palco Sunsets oferece duas sessões de meditação seguidas no domingo de manhã, entre as 7h00 e as 8h00. E porque campistas numa ilha deserta sobrevivem mal sem comer, a organização conta com a presença das cadeias Koh Thai, Beef & Liberty, Cali Mex, Flaming Frango, The Candy Stand, CAFE O, Boom Boom Food, Anything But Saladas e L’Ami Cafe Nomad, oferecendo poder de escolha a vegetarianos, amantes de carne ou de massas.
Os bilhetes têm diferentes preços, dependendo do dia preferido, ficando a sexta-feira a 250 dólares de Hong Kong, o sábado a 550 e o domingo a 380 dólares de Hong Kong. O passe para os três dias soma 850 dólares de Hong Kong, valor que sobe mais 200 com o aluguer de uma tenda para dois, se os festivaleiros não trouxerem o seu próprio equipamento. Os lugares para montar a tenda são gratuitos, bem como o acesso a duches.
A maioria das actividades além-concerto estão incluídas no pacote, mas outras não, como as bancas de massagens e a comida. A localização, claro está, é desconhecida, pelo que os festivaleiros devem comparecer no porto de ferries de Central para embarcar na aventura de três dias. Os interessados devem dirigir-se à página de Facebook do evento, que tem disponível toda a informação acerca dos preços, horários e bandas que vão actuar.

5 Out 2015

Hong Kong sã assi

[dropcap style=’circle’]H[/dropcap]á duas semanas atrás decidi mandar umas bocas sobre o universalmente aceite estatuto de “internacional” de Hong Kong e de Singapura. Pelo que ora decidi dar alguma continuidade ao tema, transferindo contudo a conversa para uma outra área e focando as atenções apenas em Hong Kong.
Todavia, antes de mais, caríssimo leitor, deixo aqui um esclarecimento: sou um grande admirador de Hong Kong, cidade onde também cresci, tantos que foram os fins-de-semana ali passados desde a minha infância. Aliás, ainda hoje visito Hong Kong assiduamente, tanto por motivos de lazer como de trabalho.
Por outro lado, também não escondo que a minha forma de estar na vida é, de certa forma, influenciada pela cultura pop de Hong Kong já que durante a minha infância e adolescência segui religiosamente os programas de televisão e os filmes da vizinha ex-colónia. IP Man 2
Isto tudo apenas para dizer que gosto genuinamente de Hong Kong.
Esclarecimento feito, vamos ao que interessa. E o caríssimo leitor, que é atento e perspicaz, sabe certamente que quando se
começa um discurso da forma como comecei, logo a seguir vem um “mas” e parte-se para a violência.
Sempre houve um certo mal-estar entre Macau e Hong Kong. Não sei ao certo nem como nem quando terá surgido, mas provavelmente com o próprio estabelecimento da vizinha ex-colónia no século XIX e com a sua progressiva ascendência como interposto comercial no Sul da China, ao mesmo tempo que Macau progressivamente perdia a sua importância.
Não se pode falar em rivalidade entre Macau e Hong Kong: são duas cidades com perfis completamente diferentes que desempenham funções distintas, pelo que não competem sequer no mesmo campeonato ou modalidade.
Mas o que é certo é que Hong Kong cresceu e tornou-se na metrópole que é hoje. Ganhou o estatuto que ganhou, sendo uma das principais praças financeiras mundiais e um centro de serviços de referência internacional. E, com isso, a malta de Hong Kong passou a olhar para Macau – e não só Macau – como algo inferior.
Existe, por isso, uma certa arrogância por parte de Hong Kong que, naturalmente, Macau não aceita. Muito menos nós, maquistas de gema, que somos tão orgulhosos da nossa cidade e das nossas origens.
O meu avô Lourenço, no seu tempo um brilhante jogador de hóquei em campo, nunca escondeu o especial prazer que lhe dava derrotar Hong Kong nos jogos do Interport. Jogava de forma agressiva e tinha uma stickada forte. E a bola de hóquei em campo é dura como pedra. O guarda-redes daquela selecção tinha medo dele.[quote_box_right]“Sempre que alguém lhe disser “em Hong Kong fazemos assim”, responda “olha, em Macau, fazemos assado. É por isso que somos melhores que Hong Kong.”[/quote_box_right]
A verdade é que às vezes a malta de Hong Kong merece. Infelizmente existem sempre uns espertinhos da vizinha RAEHK que pensam que são os melhores do mundo e por vezes têm a mania que tudo e todos – incluindo Macau – devem fazer as coisas à maneira deles. Porque tudo o que seja diferente de Hong Kong é para eles estranho e, portanto – ponto principal – errado.
Ora, ao longo dos meus 13 anos de vida profissional aqui em Macau, tive o privilégio de trabalhar com excelentes profissionais – e repito: excelentes profissionais – de Hong Kong com quem mantive magníficas relações de trabalho. E de amizade até.
No entanto, quando sinto que estão a pisar o risco, devolvo-lhes sem cerimónias a dose de mau feitio maquista que acho que merecem, tipo stickada forte do meu avô, deixando-os chulados com um sabor amargo na boca.
Estou-me a lembrar de um episódio muito interessante que foi assim: numa sessão de abertura de propostas de um concurso público presidida por mim, um dos concorrentes era uma empresa de Hong Kong – e uma grande empresa até – que apresentou uma proposta com deficiências formais, não cumprindo o estipulado no Programa de Concurso.
A proposta não foi admitida, pelo que os representantes desse concorrente reclamaram imediatamente. E com aquela arrogância. Os argumentos deles? “Em Hong Kong é assim que fazemos e nunca tivemos problemas!”
Estavam a pedi-las, certo? A minha resposta, sem esconder desprezo, foi assim: “Desculpe, mas de acordo com os parágrafos X, Y e Z deste Programa de Concurso, está estipulado que o concorrente tem de fazer assim, assado e cozido, e vocês não o fizeram. Não sei como as coisas funcionam em Hong Kong, mas aqui em Macau a vossa proposta não pode ser aceite. Em Macau vigora a lei!” (*)
Os restantes concorrentes de Macau riram-se e trocaram olhares de cumplicidade comigo.
Não escondo que esse episódio me deu imenso prazer. Pelo que, de vez em quando, e como entretanto comecei a ganhar cabelos brancos e a senioridade profissional já me permite fazer determinadas coisas, até me dou ao luxo de lançar ataques preventivos à malta de Hong Kong, mesmo na ausência de qualquer tipo de provocação.
Pelo que, caríssimo leitor, tenho aqui umas boas para partilhar consigo e não me importo que as utilize sempre que lhe apeteça dar umas bengaladas à malta de Hong Kong. E a piada da coisa é que têm como base a mesma arrogância à la Hong Kong, só que virada contra eles próprios:

Saúde

“Sabe, costumava ir a Hong Kong para consultas médicas, mas deixei de ir depois de todos os recentes medical blunders. Só no ano passado houve em Hong Kong sete casos de objectos cirúrgicos esquecidos dentro do corpo dos pacientes após cirurgia. Prefiro ir a Bangkok, o Bumrungrad é espectacular e tem médicos ingleses. De onde vêm os vossos médicos? São locais, certo?”

Água com chumbo

“No outro dia estive em Hong Kong, lavei os dentes com a água da torneira e pimba, fiquei logo com uma diarreia. Agora, em Hong Kong, só lavo os dentes com água engarrafada.”

Construções ilegais

“Em Macau somos muito rigorosos e construções ilegais não são permitidas. Em Hong Kong não existem leis que regulam isso, certo? O Henry Tang e o próprio CY Leung admitiram ter obras ilegais em casa, não foi?”.

Grande Prémio

“Então vocês falharam a candidatura à Formula E? Eles quiseram vir para Macau, mas rejeitámos. Mas afinal porquê querem vocês copiar Macau? Venham ver o nosso Grande Prémio, já vamos na 62ª edição. E temos carros de competição de verdade, não são eléctricos.”

Passaporte

“Nunca consegui perceber essa treta do British National Overseas passport. Nós não temos nada disso. Aliás, ouvi dizer que vocês quando vão à Inglaterra com um passaporte desses, têm de fazer fila para o balcão All Other Nationalities. Que nacionalidade é essa, afinal?”

Fins-de-semana

“Macau está-se a tornar demasiado stressante e fast-track. Por isso, nos fins-de-semana, gosto de ir a Hong Kong: mais espaço, menos gente, pessoal mais amigável, boas refeições a preços acessíveis. É tudo mais lento e laid-back. Consigo relaxar.”

Dinheiro

“Nunca percebi por que razão as cores das vossas notas não seguem correctamente as nossas: as vermelhas devem ser de 10, e não de 100; as roxas devem ser de 20, e não de 10; as castanhas devem ser de 50, e não de 500. A única que acertaram foi a de 1000. What were you thinking?”

Bandeira

“Ah e tal, Occupy Central… Mas afinal por que razão a vossa bandeira é vermelha?”

E uma que dá para tudo

Sempre que alguém lhe disser “em Hong Kong fazemos assim”, responda “olha, em Macau, fazemos assado. É por isso que somos melhores que Hong Kong.”
Brincadeiras à parte, a verdade é que Hong Kong é uma cidade magnífica e desenvolveu a sua própria identidade cultural, pelo que em muitos aspectos é, ou então julga-se, auto-suficiente. No entanto, é vítima do seu próprio sucesso, pois em muita coisa vive para o seu próprio umbigo. E depois pretende ser uma espécie de cidade-estado, tipo Singapura – mesmo sabendo que isso nunca vai acontecer.
Hong Kong tem por isso de deixar essa atitude arrogante, olhar à volta, abrir-se e preparar uma estratégia a longo prazo para se manter competitiva. O mundo mudou e o campeonato já não é o mesmo, sobretudo dada a ascensão de algumas cidades chinesas.
No entanto, parece que ainda não acordaram para a vida e continuam iludidos: num artigo recente do South China Morning Post, foi noticiado que cerca de 90% dos cidadãos de Hong Kong abaixo dos 30 anos é trilingue. E esse facto foi registado como sinal de uma sociedade competitiva, preparada para os desafios do século XIX. Sendo que, contudo, essas três línguas são afinal o inglês, o cantonense e o mandarim…
Nenhuma delas verdadeiramente estrangeira para Hong Kong, convenhamos.
Não se ponham a pau, não. Correm o risco de ser ultrapassados e esquecidos. E no dia em que isso acontecer não lhes vai valer de nada fazer birras e protestar com o argumento “em Hong Kong fazemos assim”. Ninguém vai dar ouvidos.
Eu avisei.

Sorrindo Sempre

Não há Sorriso Sempre porque já escrevi muito. Mou ah, nám tem.
Sorrindo sempre.

(*) “Em HK vigora a lei (HK kong fat lot ga)” era uma expressão muito utilizada em Hong Kong nos anos 80 e motivo de orgulho dos cidadãos daquela cidade.

4 Set 2015

Inglês, uma linguagem de facto em Macau

[dropcap style=’circle’]H[/dropcap]oje proponho aos nossos leitores analisar um artigo divulgado pelo “Macau Daily Times” no dia 6 de Julho do corrente ano, intitulado “A de facto official language” e onde era discutida a utilização da língua inglesa em Macau. De acordo com a mesma fonte, “dados divulgados pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos, mostram que 1.5% da população local indica o inglês como a sua linguagem habitual nos Censos de 2006, enquanto que em 2011 esse número cresceu para 2.3%”. Entretanto, “o Gabinete de Comunicação Social revelou que o Governo tem vindo a publicar uma grande parte do seu Relatório das Linhas de Acção Governativa em inglês desde 2000. Mais do que isso, e para além da informação disponível em chinês e em português, as autoridades emitem também comunicados em inglês quando o assunto for apropriado, mas especialmente no que toca às Linhas de Acção Governativa, saúde pública ou outros assuntos que possam ser interessantes para os meios de comunicação social do estrangeiro”.
Além disso, o artigo discutiu ainda a situação verificada em Hong Kong, avançando que o Governo da RAEHK usou menos o inglês do que o chinês nas suas comunicações com o público e a comunicação social. Ainda para mais, os dirigentes públicos usam sempre o chinês quando falam para a população. Mas, no caso de Leung Chun-ying, e desde Maio de 2014, o Chefe do Executivo utilizou o chinês em 61 discursos públicos, enquanto que o inglês foi apenas utilizado em 28 ocasiões do género.
“De facto” é uma expressão em latim, significando isso mesmo, de facto. Assim, uma língua oficial é diferente do que uma língua considerada “de facto”. De acordo com as leis locais, uma “linguagem oficial” é aquela que deve ser utilizada pelo Governo nas suas comunicações com os residentes. As linguagens oficiais a ser utilizadas em Macau e em Hong Kong são estipuladas pelas Leis Básicas de cada uma destas Regiões Especiais. A Lei Básica de Hong Kong indica tanto o inglês como o chinês como as línguas oficias da RAEHK, enquanto que o artigo 9 da Lei Básica de Macau aponta ora o português ora o chinês como as duas linguagens oficiais da RAEM, não fazendo contudo nenhuma referência ao uso do inglês para esta função.
Mas, mesmo apesar de a Lei Básica de Macau não lhe fazer nenhuma referência, nenhum de nós pode negar o uso do inglês nas nossas vidas quotidianas, sendo este idioma de particular utilidade para o contacto feito entre os advogados do território e os seus clientes. Tendo em conta que muitas empresas estrangeiras se encontram a operar na RAEM, de entre as quais se destacam os casinos, operadoras de seguro e mesmo bancos que aqui estabeleceram uma das suas sucursais, e que as suas chefias são preenchidas por americanos, europeus ou australianos, na sua maior parte, assim se percebe melhor esta necessidade, visto que os mesmos não dominam nem o português nem o chinês. Faz assim sentido pedir que um qualquer contrato seja redigido em inglês, para melhor proteger os seus interesses pessoais. Sofia Capola
Mas há que considerar um problema em particular. Um contrato tem sempre de ser aceite e rectificado (assinado) por pelos menos duas partes, que vamos aqui identificar como X e Y. Se X insistir em ter o contrato em inglês, e Y concordar, não existe aqui nenhuma disputa. Porém, se X e Y optarem em vez disso por redigir o contrato em chinês, e a seguir este documento necessitar de ser traduzido para inglês, então aí é que começam a surgir problemas, devido a eventuais discrepâncias entre as duas linguagens. Como é que se lida então com possíveis diferenças entre os dois contratos, um em inglês e outro em chinês, e qual dos dois é que prevalece sobre o outro?
Voltando outra vez ao artigo 9 da Lei Básica de Macau, e se X constituir o Governo de Macau, então X tem nesse caso o privilégio, pois o artigo 9 da Lei Básica de Macau obriga o Governo da RAEM a usar apenas o português e o chinês nas suas comunicações. Neste caso, o contrato em inglês existe apenas numa natureza suplementar.
Esta discussão fica limitada a contratos em que X é assumido como sendo o Governo de Macau e Y como um estrangeiro. Mas como será a situação se tanto X como Y forem residentes locais? Poderiam estes pedir aos seus advogados para redigirem o contrato em inglês?
Para responder a esta questão, temos primeiro de tecer duas considerações. Primeiro, pode o inglês ser usado para redigir um contrato? E, em segundo lugar, pode um advogado usar o inglês para preparar um contrato?
O artigo 9 da Lei Básica de Macau apenas restringe o Governo de Macau a usar o chinês e o português nas suas comunicações. Já no que diz respeito aos seus residentes, nenhuma restrição do género existe. Assim sendo, não é ilegal o pedido de utilização do inglês nos respectivos contratos.
Mas, em relação à nossa segunda consideração, se desejarmos ver o nosso advogado a redigir um contrato em inglês, existe nesse caso o pré-requisito que esse advogado seja fluente em inglês. Em Macau, os residentes locais estudam este idioma desde a escola primária, e nalguns casos desde o ensino infantil, ou pré-escolar. Mas quando os mesmos se inscrevem no ensino superior para um bacharelato em direito, este curso só pode ser completado em língua chinesa ou portuguesa, não sendo o inglês uma opção. Compreende-se assim que a maior parte dos termos legais são mais facilmente expressos ou em português ou em chinês, e não em inglês. Assim sendo, torna-se mais difícil preparar um contrato em inglês do que em português ou em chinês, e por esta razão é que os advogados preferem utilizar uma das duas línguas oficias na preparação deste tipo de documentos.
Com o constante aumento no número de estrangeiros a residir em Macau, cresce também a necessidade de utilizar esta língua, por isso a importância deste idioma aumenta de dia para dia na RAEM. A constante procura do inglês para a formulação de contratos faz com que este tenha cada vez mais importância em documentos legais. Em casos de disputa envolvendo um contrato em inglês, apenas o tribunal tem poder para resolver a questão, por isso, e nestas situações, o inglês acaba por ser útil para advogados e juízes, assim como para a área legal em geral. No futuro, se quisermos que o inglês venha a ser reconhecido como uma língua oficial, teríamos de considerar rever o artigo 9 da Lei Básica de Macau, e passar a fornecer no mínimo uma parte do ensino do direito neste mesmo idioma.

17 Ago 2015

Como vai o mega-empreendimento funerário afectar a relação entre Hong Kong e Shenzhen?

[dropcap]H[/dropcap]oje vamos analisar um artigo publicado no dia 18 de Junho pelo site “passiontimes.com”, de Hong Kong, em que foi revelada a intenção, por parte das autoridades locais, de construir um mega-empreendimento funerário na zona de Lo Wu.

De acordo com a Wikipedia, os “serviços funerários” são designados como “negócios especializados em fornecer enterros ou outros tipo de soluções para o armazenamento de cadáveres, assim como a organização de velórios ou outro tipo de serviços religiosos de forma a marcar o falecimento de um indivíduo, assim como o acompanhamento dos seus familiares. Um exemplo normal deste tipo de serviços incluiria o velório do morto, acompanhado do respectivo funeral, contando ainda com a reserva de uma capela para a celebração de uma missa durante o funeral. As agências funerárias coordenam o serviço de acordo com os desejos dos familiares ou amigos da pessoa falecida. Ao mesmo tempo, esta entidade trata de toda a documentação necessária, assim como de eventuais licenças e ainda outros detalhes adicionais, como por exemplo a coordenação com o cemitério ou a comunicação social, para a possível disseminação de obituários”.

De acordo com as notícias avançadas por esta mesma fonte este enorme empreendimento funerário vai começar as suas operações em 2022. Nessa altura, deverão estar disponíveis no mínimo 200 mil jazigos para o armazenamento de cinzas, espera-se ainda que o empreendimento possa suportar 178 mil cremações por ano.

De momento, Hong Kong dispões de 6 locais distintos para cremações, assim como de 134 igrejas onde se possam realizar serviços funerários, tudo isto para albergar os 42.100 falecimentos que se registam, em média, todos os anos nesta cidade. Pode-se assim concluir que a RAEHK dispõe no presente de mais oferta do que procura nesta área.

O mesmo artigo referia ainda que, em 2012, as autoridades locais decidiram fazer uma auscultação pública justo dos moradores de Sandy Ridge, a zona onde vai ficar localizado este empreendimento. E, apesar de nessa altura ainda haver muita gente reticente quanto ao futuro deste projecto, a maioria destes acabou por concordar na sua realização, facto este que foi comunicado ao Legislative Council no dia 9 de Janeiro de 2013. Mesmo assim, foi concordado que mais discussões sobre o assunto viriam a ser agendadas.

Com a concordância dos residentes de Sandy Ridge, o governo de Hong Kong não deve vir a enfrentar nenhuma dificuldade de maior quando começar a construção deste projecto funerário. Porém, outras vozes se levantaram em protesto, sendo que desta vez a maioria da posição é proveniente de Shenzhen. De acordo com Wang Rui, o representante do Comité Permanente do Congresso Municipal Popular, foi entregue uma proposta ao Governo de Shenzhen solicitando a oposição a este desenvolvimento. As principais razões apontadas para justificar esta tomada de posse prendiam-se com o mau cheiro que os residentes de Lo Wu e Shekou teriam de enfrentar, como resultados das inúmeras cremações que iriam aí ser realizadas, especialmente quando estes locais são assolados por ventos provenientes de sudoeste ou de sudeste. Outro factor determinante tem a ver com a possível depreciação do mercado imobiliário nestas zonas, tendo em conta que ninguém gosta de ter milhares de túmulos como eventuais vizinhos.

O caso ganhou entretanto uma grande popularidade e recentemente tem sido alvo de grande discussão em fóruns da internet.

Não é de estranhar que seja o lado chinês a levantar objecções, pois para além das razões já apontadas, para os chineses os funerais não são vistos com bom olhos, sendo mesmo um tópico tabu para algumas pessoas. O impacto psicológico é tal que algumas famílias chinesas chegam mesmo a proibir os seus filhos de trabalharem como agentes funerários.

Até ao presente momento, as discussões e as respectivas objecções existem apenas do domínio da internet. Mas as implicações que motivaram estas tomadas de posição são vitais. A maior parte dos nossos leitores ainda se devem lembrar dos acontecimentos do dia 8 de Fevereiro do corrente ano, em que mais de 100 residentes de Hong Kong realizaram uma manifestação em Tuen Mun contra os comerciantes suspeitos de estar envolvidos na importação paralela de bens. A maioria destes compra os itens em Hong Kong para que os mesmos possam depois ser revendidos na China, o que obviamente cria uma série de problemas aos residentes da RAEHK, tais como o aumento do custo das rendas e o congestionamento do tráfego nessas localidades, além da degradação da higiene pública e a eventual escassez de bens de necessidade diária como o leite em pó e alguns medicamentos, entre muitos outros. Para resolver o problema, o “visto de visita individual” que permitiam entradas múltiplas foram mudados em Abril deste ano, tendo na altura sido substituídos por vistos que permitiam apenas uma visita por semana. Estas novas medidas foram implementadas com efeito imediato, não tendo as autoridades procedido a nenhum tipo de consulta pública prévia.

Os cidadãos de Shenzhen foram os mais afectados por estes desenvolvimentos, especialmente porque a grande maioria de comerciantes envolvidos neste tipo de negócio eram provenientes da RAEHK. Ficaram na verdade bastante insatisfeitos, pois sentiam que haviam sido prejudicados pelos seus vizinhos de Hong Kong, que eram a real motivação para a nova política de imigração. Apesar de na altura não terem sido forçados a aceitar esta nova medida, temos de nos questionar sobre o seu estado de espírito, especialmente por terem permanecido tão silenciosos na altura.

Agora, com um mega-empreendimento funerário destinado a ser construído em Lo Wu, na fronteira entre Hong Kong e Shenzhen, o seu descontentamento parece ser ainda mais difícil de conter, visto este projecto não trazer nenhuma vantagem para os residentes do continente. Ainda mais difícil é de compreender se atendermos ao facto que até alguns residentes de Hong Kong se mostraram reluctantes em aceitar esta iniciativa. Esta nova farpa no relacionamento entre a RAEHK e Shenzhen, ainda por cima depois do escândalo relativo à importação paralela que resultou num maior controle nas fronteiras, faz com que a harmonia entre estas duas cidades passe no futuro a assumir um papel de extrema importância para todos nós.

Nenhum de nós gosta de ver conflictos e discordância. Se usarmos uma família como exemplo, e imaginarmos uma situação em que o irmão mais velho discute com regularidade com o mais novo, podemos facilmente concluir que isto acarretaria um enorme desgosto para os pais de ambos.

Historicamente, Shenzhen tem prestado uma grande assistência a Hong Kong. Mas o esperado aumento na procura de serviços funerários no futuro torna uma recusa deste projecto praticamente impossível. Tendo em conta os desenvolvimentos recentes, talvez este seja um bom momento para os governantes da RAEHK começarem a escutar com atenção os seus conterrâneos de Shenzhen. Mais ainda, o governo de Hong Kong vai ter saber como minimizar ou cancelar os eventuais inconvenientes que este projecto pode vir a trazer aos residentes de Shenzhen. Que tipo de medidas devem então ser tomadas para garantir uma resolução que possa ser vista com bons olhos pelos cidadãos de ambos os lados da fronteira? Esta questão requer não só uma abordagem do ponto de vista legal, mas vai também testar o talento político e ainda as relações interpessoais dos governantes da RAEHK. Seria então uma boa ideia que os mesmos usassem a relação harmoniosa que se verifica entre Macau e Zhuhai como um exemplo a ser estudado.

29 Jun 2015