Qinghai-Xizang | Cientistas descobrem glaciar mais espesso do planalto

Cientistas identificaram o glaciar mais espesso do planalto Qinghai-Xizang, conhecido como a torre de água da Ásia, após a descoberta de um campo de gelo de quase 400 metros de espessura.

O campo de gelo, com uma espessura máxima mensurada de quase 400 metros, faz parte do glaciar Purog Kangri, no distrito de Tsonyi, na Região Autónoma de Xizang, sudoeste da China, de acordo com investigadores da Academia Chinesa de Ciências (CAS, em inglês), indicou o Diário do Povo.

A medição determinou que o glaciar Purog Kangri é agora o glaciar mais espesso do planalto Qinghai-Xizang, substituindo a calota de gelo Guliya na sub-região de Ngari.

Os glaciares contêm informações importantes sobre a história climática da Terra. Anteriormente, os cientistas perfuraram um núcleo de gelo de 308,6 metros de Guliya, que foi formado ao longo de um período de mais de 700.000 anos. Os cientistas estão actualmente a extrair núcleos de gelo do glaciar Purog Kangri, que acreditam conter gelo mais antigo.

“Actualmente, os glaciares em todo o mundo estão a recuar. Uma vez que derretam, os registos históricos encapsulados não seu interior também desaparecerão”, disse Lonnie Thompson, académico da CAS e membro da Academia Americana de Ciências.”Portanto, extrair e preservar núcleos de gelo é crucial para recuperar informações históricas”, acrescentou Thompson, que participou no processo de medição.

3 Out 2024

Clima – Um sistema em desequilíbrio?

[dropcap]A[/dropcap] Terra é o único planeta conhecido com condições para que haja vida, tal como a conhecemos. Localiza-se no universo, na Via Láctea, e desloca-se a uma distância ideal em torno do Sol, uma das milhares de milhões de estrelas desta galáxia. A atmosfera, além de respirável, filtra alguma radiação que seria prejudicial se atingisse a superfície. Possui também uma espécie de escudo protetor, constituído por um campo magnético, que impede a radiação cósmica de atingir a superfície do globo, evitando assim que a vida seja impossível.

Um sistema complexo, a que se convencionou designar por clima, impede que as temperaturas atinjam extremos muito altos ou muito baixos, criando condições para que seja possível a vida de milhões de espécies de seres vivos. As componentes deste sistema (atmosfera, hidrosfera, criosfera, litosfera e biosfera) estão de tal modo relacionadas, que qualquer alteração de uma delas provoca reações nas outras, dando origem a variações no comportamento do clima no seu todo. Para efeitos práticos pode-se caracterizar o clima de uma determinada região recorrendo aos valores médios dos parâmetros meteorológicos referentes a um período relativamente longo, de preferência trinta anos, como aconselha a Organização Meteorológica Mundial. O clima, no entanto, é muito mais do que isso. Como escreveu o eminente meteorologista Professor José Pinto Peixoto, coautor, juntamente com o Professor Abraham H. Oort, do livro Physics of Climate, “o clima está sempre evoluindo e deve ser considerado como uma entidade viva” (“the climate is always evolving and it must be regarded as a living entity”).

A atmosfera é uma fina película que envolve o globo terrestre. Por estarmos mergulhados nela, é a componente do sistema climático que maior influência exerce sobre as condições de vida dos seres humanos. Para termos uma ideia quão fino é este invólucro gasoso, basta relembrar que, enquanto o diâmetro médio do globo terrestre é aproximadamente 12.700 km, a atmosfera tem a espessura de apenas algumas dezenas de quilómetros. Para evidenciar este facto, podemos estabelecer a seguinte analogia: num globo para fins didáticos, daqueles usados nas escolas para representar a Terra, a espessura da atmosfera pouco mais seria do que a espessura da camada de tinta envolvente. Por se rarefazer quando aumenta a altitude, não se pode estabelecer um limite superior para a atmosfera e, por esta razão, convencionou-se designar por Linha Karman, que corresponde a 100 km de altitude, o nível a partir do qual se encontra o espaço exterior.

Entre o nosso planeta e o espaço exterior há uma troca permanente de energia. A maior parte da energia recebida provém do Sol, na forma de radiação de pequeno comprimento de onda, que é absorvida em grande parte pelo sistema climático, sendo outra parte refletida e reenviada para o espaço. Por sua vez a Terra emite radiação infravermelha, de grande comprimento de onda, de maneira que se estabelece um equilíbrio entre a energia recebida e a que é emitida, ou seja, a quantidade de energia que atinge a Terra é igual à que o nosso planeta emite e reflete para o espaço. Durante os cerca de 4,5 mil milhões de anos de existência da Terra têm ocorrido períodos em que este equilíbrio é interrompido, havendo arrefecimento, como durante as glaciações, e outros em que há aquecimento, como acontece atualmente desde o início da era industrial. A grande diferença é que as glaciações duraram dezenas de milhares de anos e foram principalmente devidas a fatores exteriores ao sistema climático, como a variação de parâmetros orbitais da Terra em relação ao Sol, enquanto que o aquecimento global é devido a atividades antropogénicas.

A espécie humana, que constitui uma pequeníssima parte de uma das componentes do sistema climático, a biosfera, tem vindo a contribuir para que parte da radiação infravermelha fique retida na atmosfera, devido ao efeito de estufa, o que se manifesta pelo aumento da temperatura do ar e dos oceanos. Milhões de toneladas de gases de efeito de estufa são injetados anualmente na atmosfera. Como consequência tem vindo a verificar-se a fusão de parte significativa da criosfera, o que implica a subida do nível médio dos oceanos.

Como as áreas cobertas por neve e gelo têm forte implicação no poder refletor (albedo) da superfície do globo, a sua diminuição contribui para que a quantidade de energia que é reenviada para o espaço seja cada vez menor, o que implica um maior aquecimento do sistema climático.

Com o objetivo de alertar para o perigo a que a Terra está sujeita, têm sido levadas a cabo algumas atitudes simbólicas, como a que foi tomada na Islândia em agosto de 2019. O desaparecimento do glaciar Okjokull (abreviadamente Ok), foi assinalado com a colocação de uma placa com “Uma carta para o futuro”, da autoria do escritor islandês Andri Snaer Magnason, cujo conteúdo é o seguinte: “Ok foi o primeiro glaciar islandês a perder o seu estatuto de glaciar. Estima-se que, nos próximos 200 anos, todos os nossos glaciares sigam o mesmo caminho. Este monumento é para dar a conhecer que sabemos o que está a acontecer e o que é necessário ser feito. Só você sabe se nós o fizemos”.

Outra atitude interessante para defesa dos glaciares Gangotri e Yamunotri, no Estado indiano de Uttarakhand, onde nascem respetivamente os rios Ganges e Yamuna, nos Himalaias, foi a decisão do Tribunal Supremo desse Estado de lhes conceder personalidade jurídica, o que significa que qualquer dano que lhes seja infligido será considerado como um dano causado a seres humanos.

Os gestos simbólicos são importantes para chamar a atenção do grande público para as agressões ao planeta Terra. No entanto, apesar de se saber que o aquecimento global é uma realidade, e de haver esforços reais de alguns países para cumprir com o estabelecido em acordos internacionais, nomeadamente o Protocolo de Quioto e o Acordo de Paris, algumas das maiores potências mundiais continuam a permitir e fomentar a destruição de florestas e a aumentar o consumo de combustíveis fósseis, preferindo proveitos económicos imediatos a uma gestão racional dos recursos do nosso planeta. A ganância pelo lucro, além de pôr em risco a qualidade de vida das gerações vindouras, não entra em consideração com os danos causados ao sistema climático, o que tem contribuído para o desaparecimento de inúmeras espécies de animais, contribuindo para a deterioração ou destruição dos seus habitats.

3 Set 2020

Ambiente | Lago glaciar transborda e causa inundações

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m lago glaciar transbordou no noroeste da China, causando inundações na região de Xinjiang, um incidente que a associação de protecção ambiental Greenpeace ontem considerou ser uma consequência do aquecimento global. Este fenómeno repentino ocorreu na sexta-feira, libertando cerca de 35 milhões de metros cúbicos de água no centro daquela região, anunciou a agência oficial Nova China.
Imagens da televisão pública CCTV mostraram correntes de lama invadindo as estradas, com vagas abatendo-se sobre as bermas e os passeios. Não há registo de mortos ou feridos. Um lago glaciar forma-se quando se dá o desgelo de um glaciar, e ele pode transbordar quando os blocos de gelo ou as rochas que retêm aquela porção de água se quebram.
As autoridades locais encarregadas da gestão das águas indicaram ter previsto o incidente desde o fim de Julho, o que levou à retirada preventiva de habitantes e à instalação de calhas para desviar a corrente de água e lama. O brutal esvaziamento de lagos glaciares tornou-se mais frequente desde os anos 1980, devido à subida das temperaturas, indicou a Greenpeace em comunicado, citando um estudo da Academia das Ciências chinesa. “À medida que as temperaturas sobem, o esvaziamento de lagos glaciares, as inundações e as faltas de água sazonais serão cada vez mais pronunciados”, observou Liu Junyan, da Greenpeace da Ásia oriental.

17 Ago 2018