José Simões Morais h | Artes, Letras e IdeiasAviso de incêndio por telefone Durante muitos anos fomos colectando pelos jornais as notícias sobre os incêndios em Macau, mas nunca apareceram outros avisos senão os dos sinos e os dos dois tiros seguidos de pólvora seca provenientes da Fortaleza do Monte. Assim acreditámos serem estes os únicos meios de alerta da população até que, a 12 de Novembro de 1916 n’ O Progresso, um artigo com o título “O Sinal de Incêndio” escrito por um assinante deste jornal nos alertou para a existência de outro aviso, mas como esse não ecoava pela cidade nunca era referido. Ainda a 10 de Setembro esse jornal referia: o telefone do subúrbio da Areia Preta não funciona como reclamam os habitantes daquele subúrbio. Se um dia acontecer alguma desgraça, por falta de comunicações rápidas…; não entendemos onde queria chegar. Mas ao ler “O Sinal de Incêndio”: “Como se sabe, a maior parte da população de Macau é chinesa e entre ela lavra grande descontentamento por não se fazer na Fortaleza do Monte o sinal de incêndio como era costume. Eles querem saber quando há incêndio e qual o local, a fim de ali correr e observar, pois estão convencidos de que, pelo actual sistema, os incêndios não têm pronto socorro e as casas ardem com grande prejuízo dos haveres dos seus proprietários. Dizem eles e com razão, que os telefones nem sempre funcionam bem, principalmente em tempo de humidade, havendo mesmo ocasiões em que não respondem ao aviso nem à pergunta e por isso, a notícia do incêndio não pode ser tão rápida como os tiros na Fortaleza do Monte, que estando no centro da cidade e em ponto elevado domina toda a cidade e dá por isso, com maior rapidez conhecimento a todos do incêndio e do local; desta falta resulta a convicção de que ardem muitas casas sem o devido socorro. Quem restabelecer, pois, o antigo sinal de incêndios, conquistará a simpatia da população chinesa e de parte do resto dos seus habitantes, por saberem que a notícia é mais rápida não só do incêndio como da sua localização, com o sinal de tiros no Monte.” Ainda a 12 de Novembro, o jornal referia um estudo para o estabelecimento de uma rede telefónica em Macau destinada apenas aos estabelecimentos militares e das estações policiais e de incêndios, mas para as repartições públicas continua tudo como dantes. “O Progresso”, a 26 de Novembro congratulava-se: “Consta-nos que foi restabelecido o antigo costume de dar sinal de incêndio por meio de tiros na fortaleza do Monte”, terminando assim o conflito entre Governo e população chinesa. TARDIO SINAL O telefone (电话, electricidade – falar, Tin-vá em cantonense) foi inventado por volta de 1860 por António Meucci, e usado apenas dentro de sua casa. Mais tarde, em 1870 vendeu o aparelho a Alexander Graham Bell, que o patenteou a 14 de Janeiro de 1876 nos Estados Unidos da América. Um ano depois aparecia já em Portugal e a primeira rede de telefones pública foi inaugurada em Lisboa a 26 de Abril de 1882, data em que na China a Great Northern Telegrafh Company da Dinamarca criou para Xangai a primeira rede de telefones manuais. Em Macau é publicado o Regulamento geral para o serviço da linha telefónica a 2 de Outubro de 1887 assinado pelo Governador Firmino José da Costa e logo no Boletim da Província de Macau e Timor de 10 de Novembro de 1887 o bacharel António Marques de Oliveira, procurador dos negócios sínicos e administrador da comunidade chinesa, referia em Edital: “Tendo S. Exa. o Governador da província adoptado convenientes providências, para que os sinais de incêndio, sejam feitos com prontidão, aproveitando-se para os avisos o vantajoso serviço da rede telefónica; e convindo que todos os habitantes da cidade tenham conhecimento dos locais em que há estações telefónicas, a fim de poderem, logo que tenham notícia de se manifestar qualquer incêndio ir aí dar parte, como é de esperar que não deixe de fazer todo o indivíduo dotado de sentimentos benfazejos, ao menos, quando não encontre guarda, patrulha, oficial de diligências administrativo, ou china de quarto, para os quais este serviço é obrigatório: por isso faço público que as estações telefónicas são as seguintes: Quartel de Santo Agostinho (estação central), Palácio do Governo, Quartel dos Mouros, Quartel da Flora, Quartel de S. Francisco, Portas do Cerco (no quartel do destacamento), Monte (na fortaleza desse nome), fortalezas da Guia, Bomparto e Barra e Capitania do Porto. Macau, 2/11/1887”. Na mesma página aparecia o Edital de Leôncio Alfredo Ferreira, administrador do concelho de Macau, a referir: “Por ordem superior, faço saber: Que tendo sido sempre tardio o sinal dado pela fortaleza do Monte, por ocasião de incêndios na cidade e seus subúrbios, são por isso avisados todos os moradores deste concelho, que, logo que tenham conhecimento de qualquer incêndio, o comuniquem à primeira patrulha que encontrarem, ou o participem à estação policial, ou telefónica mais próxima”. No Boletim da Província de 8 de Dezembro de 1887 lê-se, vir a Inspecção de Incêndios de Macau Ainda antes da chegada a Macau de Abreu Nunes, registou-se a 15 de Novembro de 1893 um incêndio que deflagrou no Bairro de S. Domingos; as casas queimadas foram 17, além de quatro alpendres com 99 divisões, que serviam de açougue, ardendo o Mercado de S. Domingos. Era inspector dos incêndios o Sr. Pessoa e provou-se não estarem os serviços de incêndio devidamente organizados e o material muito deteriorado pois, as mangueiras deitavam esguichos por vários pontos, perdendo-se muita água. Sobre os primórdios dos Bombeiros em Macau, assunto aqui tratado há já alguns artigos, muito fica por escrever, restando por agora prestar homenagem a estes beneméritos lutadores que, nas palavras de Carvalho e Rego, “para salvar os seus semelhantes se sacrificam heroicamente expondo por vezes a própria vida contra a força e violência dos terríveis elementos.” Não só no combate aos incêndios, como no socorro em casos de sinistro “o bombeiro acode; lá o vemos na derrocada, nas ruínas que o desmoronamento produziu soterrando em seus escombros pobres vítimas.” Percebíamos agora o silêncio nos jornais sobre o aviso de incêndio feito por telefone desde 1887, pois apenas por via interna era comunicado e assim, não escutado pela população e jornalistas em Macau e daí ficar sem ser noticiado a existência deste silencioso meio.
João Santos Filipe SociedadeFortaleza do Monte vandalizada. Judiciária investiga [dropcap]O[/dropcap] Instituto Cultural (IC) diz que o caso da muralha vandalizada da Fortaleza do Monte está a ser investigado pela Polícia Judiciária (PJ) e que em causa estão práticas que constituem uma infracção à Lei de Salvaguarda do Património Cultural. Foi desta forma que o Governo reagiu ao caso da muralha riscada com caracteres chineses, que tinha sido relevado na quinta-feira anterior, nas redes sociais. “As inspecções preliminares do Instituto Cultural indicam que a parede foi riscada com um objecto duro, que causou danos à superfície da muralha. O IC enviou o caso para a Polícia Judiciária e os actos praticados envolvem infracções à Lei da Salvaguarda do Património Cultural”, pode ler-se na resposta do IC, enviada ao HM. “As pessoas envolvidas nestes actos podem ser chamadas para responder criminalmente”, foi acrescentado. Na quinta-feira foram divulgadas fotografias online em que uma parte da muralha da Fortaleza do Monte aparecia vandalizada. Em causa está o aparecimento de alguns caracteres em chinês simplificado, tipo de escrita utilizada principalmente Interior da China, que foram raspados na muralha. Em relação aos danos feitos, o IC diz que “vai começar os trabalhos de reparação o mais depressa possível, em coordenação com a investigação”. Mais promoção Por outro lado, o IC deixou um apelo para que as pessoas respeitem o património cultural e denunciem imediatamente qualquer acto que possa constituir um ataque: “O IC é o responsável pelo património e apela à população que valorize e proteja o valioso património cultural de Macau. No caso de serem detectados comportamentos que destruam bens culturais, deve contactar-se imediatamente o Instituto Cultural ou a Polícia”, apela o IC. O organismo liderado por Mok Ian Ian prometeu ainda trabalhar para aumentar a consciência da população para o valor patrimonial. “O IC vai continuar a promover através dos vários canais a consciencialização da população para a protecção do património cultural. Ao mesmo tempo, vai reforçar a inspecção dos lugares com valor cultural e trabalhar com a população para proteger o património”, foi prometido.