Seac Pai Van | Estátuas e placas restauradas

O Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) anunciou a restauração e instalação da Estátua de Nossa Senhora, Estátua do Senhor dos Passos e placas de Via-Sacra na Rotunda de Seac Pai Van, em Coloane. A informação foi disponibilizada através de um comunicado, tendo os representes do IAM, em conjunto com o pessoal da Diocese, ido ao local para realizar uma inspecção na passada quinta-feira.

“O IAM, sob a orientação da Diocese de Macau, colocou a Estátua de Nossa Senhora, Estátua do Senhor dos Passos e placas de Via-Sacra no lugar original, conforme o layout anterior”, foi garantido.

As estátuas e as placas da via-sacra estiveram no centro da polémica em Julho, por inicialmente terem sido removidas, sem que se soubesse do seu paradeiro. O assunto levou à intervenção de alguns deputados como Lo Choi In e José Pereira Coutinho, numa altura em que se pensava que as estátuas tinham simplesmente sido removidas e que não voltariam àquele local.

No entanto, horas mais tarde o IAM esclareceu que tinha havido um concurso público para restaurar as estátuas, cujo desgaste e os danos foram explicados com a passagem de tufões.

Os trabalhos de restauro foram adjudicados, a 17 de Março, ao “Construtor Civil Lee Fat Kun” que se comprometeu a terminar o serviço dentro de 150 dias, por um montante de 645 mil patacas. Segundo IAM, esta empresa tem “experiência e domínio das técnicas na área do restauro”.

11 Set 2023

Coloane | Estátua de Nossa Senhora e placas da Via-Sacra estão a ser restauradas

O desaparecimento da estátua da Rotunda de Seac Pai Van, em Coloane, gerou grande contestação online e houve mesmo quem pedisse ao Governo para que fizesse Macau “regressar à normalidade”. Por sua vez, Lo Choi In apelou a uma resolução rápida da situação

 

A Estátua de Nossa Senhora e as placas da Via-Sacra que estavam instaladas na Rotunda de Seac Pai Van, em Coloane, desapareceram com as várias obras que decorrem no local. A questão gerou grande polémica nas redes sociais, levando inclusive a deputada Lo Choi In a questionar o desaparecimento.

No entanto, de acordo com o portal do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), a retirada de um dos elementos mais característicos de Coloane deve-se à realização de trabalhos de recuperação.

O portal do organismo liderado por José Tavares indica que no início do ano foi realizado um concurso público para a prestação do “serviço de recuperação das placas alusivas a via crucis e da estátua existentes na Rotunda de Seac Pai Van, Coloane”.

Neste concurso público foram apresentadas, num primeiro momento, 11 propostas, das quais cinco foram excluídas, devido a desistências, falta de documentos, não cumprimento dos requisitos mínimos, entre outros motivos.

Os trabalhos acabaram adjudicados, a 17 de Março, ao “Construtor Civil Lee Fat Kun” que se comprometeu a terminar o serviço dentro de 150 dias, por um montante de 645 mil patacas. Esta foi uma proposta com um preço muito mais baixo do que as restantes. A que mais se aproximou, a nível do valor, foi a proposta da empresa Jun Lei, que cobrava 1,17 milhões de patacas para realizar os trabalhos em 135 dias.

Confusão online

Apesar da informação constar no portal do IAM, a questão não deixou de levantar polémica, o que levou inclusive o tema a ser comentado por Lo Choi In, deputada ligada a Jiangmen, na página pessoal da rede social Facebook.

“Cortarem árvores, removerem o património cultural ou reduzirem o número de lugares de estacionamento, todas estas acções são aceitáveis. Mas, a estátua da Nossa Senhora em Coloane está ligada a muitos sentimentos e memórias da população”, afirmou a deputada. “Apelo às autoridades que devolvam a estátua ao seu local original o mais depressa possível!”, acrescentou.

A reacção da deputada é bastante moderada face a inúmeros comentários que surgiram num grupo de discussão sobre Macau na rede social facebook. Várias pessoas exigem ao Governo a devolução da estátua e acusam as autoridades de querer apagar a história e a memória colectiva do território.

“Este Governo está a viver num mundo paralelo. Será que podem fazer Macau regressar à normalidade e devolver Macau às pessoas de Macau?”, questiona uma internauta. “Não basta estarem sempre a cavar a estrada, fazerem desaparecer monumentos históricos, cortarem as árvores antigas uma a uma, será que também vão desfazer Macau?”, acrescenta.

Por outro lado, há quem tenha optado por partilhar as memórias ligadas à estátua. Uma internauta apontou que a estátua de Nossa Senhora foi instalada em Coloane, no ano de 1986, depois de terem ocorrido vários acidentes mortais naquela estrada.

As reacções ao desaparecimento da estátua e placas da via-sacra voltam a colocar o IAM debaixo por falhas de comunicação. Na semana passada, o secretário para a Administração e Justiça pediu desculpa à população por várias árvores no Fai Chi Kei terem sido arrancadas, sem as devidas explicações.

17 Jul 2023

Estátuas há muitas

[dropcap]U[/dropcap]m dos últimos governadores alemães de Qindao, na China, foi preso pelos seus por ter gasto em demasia na edificação de um palácio solitário, em frente ao mar, na arriba de uma praia do Mar Amarelo. Hoje esse palácio é um museu. No seu jardim, em 2002, acumulavam-se por ali, de forma desordenada, estátuas alusivas à Revolução Cultural. Por lá passeei em tarde fria, hipnotizado pelas intenções de pedra, pela energia condensada das palavras de ordem, agora exiladas das praças, das ruas, das rotundas. Uma outra era surgira e impusera outra linguagem. Era já antigo o que há tão pouco tempo fora erguido para ser radicalmente novo. O que antes tanto inspirara, horrorizava agora os olhares recentes da China mercantilista.

No templo de Confúcio, em Qufu, os Guardas Vermelhos destruíram uma estátua do Mestre, datada da dinastia Ming. Nunca dela vi qualquer fotografia. Era, ao que dizem, magnífica. Um guia lamentava a sanha dos revolucionários maoístas e mostrava-me uma frase, por eles escrita a negro numa parede, nesses tempos avermelhados. Não a quis traduzir. “Por que não a apagam?”, perguntei. “Sabe”, respondeu-me com meio sorriso, “a caligrafia de quem a escreveu é excelente”. E afastou-se do lugar.

Mais adiante, nesse mesmo templo, existe a parede de Lu, onde os escritos confucionistas foram escondidos durante a dinastia Qin (221-207 a.E.C.) e depois mais tarde recuperados para se transformarem na base fundamental das culturas chinesa, japonesa e coreana, entre outras. O imperador, que pela primeira vez unificara a China, ordenara a sua destruição total. Livros foram queimados e letrados sepultados vivos.

Em Angkor Wat, no Cambodja, os budistas cortaram a cabeça a inúmeras de estátuas de deuses hindus que, certamente, perturbavam as suas meditações moralistas. Contudo, fizeram um considerável Buda e ele para ali ficou sossegado até o monumento, engolido pela floresta e o desprezo dos homens, voltar a emergir e a despertar tanto interesse que hoje se inscreve na bandeira do país. Quando os Khmers Vermelhos lá chegaram e com ela se depararam, animados de um estranho monoteísmo, resolveram também destruí-la.

Contudo, um monge ventríloquo fez a estátua murmurar umas palavras e os jovens revolucionários fugiram apavorados dos espíritos em que não acreditavam. Hoje, uma parte importante da estatuária de Angkor Wat, talvez a mais bela, mora em museus franceses e outra em museus vietnamitas, consequência da “libertação” do país do mando de Pol Pot.

Por todo o Paris, existem estátuas de tipos que não se davam nada bem. Parecem, no entanto, conviver hoje pacificamente por muito que uns tenham guilhotinado os outros. Na verdade, ignoram-se, porque são estátuas: a pedra e o metal ainda não pensam, não sentem desejos, nem exprimem ambições.

Em Roma, o Vaticano prendeu, torturou e queimou Giordano Bruno, um dos mais brilhantes pensadores da sua época. Séculos mais tarde, aproveitando um momento em que o poder da Igreja se esvanecera, um grupo de jovens admiradores do sábio mandou fundir rapidamente uma estátua e colocou-a no preciso lugar onde ele fora barbaramente executado. Ainda preside, escura e sinistra, ao mercado diário que ali se desenrola no Campo dei Fiori. Alguém discretamente a seus pés deposita, de quando em quando, uma rosa.

Na Cidade Eterna, são muitas as estátuas emasculadas porque era desconfortável a um Papa a visão de sexos masculinos, ainda que engelhados e em estado de repouso.

O Porto edificou uma estátua à humilhação francesa às mãos dos ingleses, enquanto os primeiros nos traziam as Luzes e os segundos nos limitavam a independência e transformavam numa espécie de protectorado. Em Lisboa, a estátua de D. Pedro V no Rossio é, na realidade, uma representação do imperador Maximiliano do México, que incarnou um dos últimos sonhos, magnificamente disparatado, do colonialismo europeu. As valsas vienenses só brevemente soaram nos palácios mexicanos. A estátua de Maximiliano não passou de Lisboa.

Tanto faz. A arte pública tem sempre o duplo condão de elogiar e ofender. Nada a fazer. Os iconoclastas são globais e, em geral, surgem sempre possuídos por uma “verdade” qualquer, na qual piamente acreditam e pela qual estão dispostos à barbárie. Nem a dúvida os trava, nem o ridículo os faz parar. Por mim, também tenho ganas de derrubar algumas coisas: sobretudo, qualquer teoria que nos queira fazer acreditar num mundo verdadeiro.

15 Jun 2020

Religião | Pequim restringe construção de estátuas religiosas ao ar livre

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Partido Comunista da China mandou os Governos locais regulamentarem melhor a construção de grandes estátuas religiosas ao ar livre, numa altura de crescentes restrições à expressão religiosa de todos os tipos no país.

A orientação do Departamento de Trabalho da Frente Unida, divulgada no site do partido, parece direccionada principalmente aos seguidores do budismo e do taoismo, duas das cinco religiões oficialmente reconhecidas da China. “Todas as localidades devem adoptar a regulamentação da construção de grandes estátuas religiosas ao ar livre como principal prioridade na prevenção da comercialização adicional do budismo e do taoismo”, afirma a orientação do departamento.

Milhares de templos e santuários budistas e taoistas, juntamente com mesquitas e igrejas, foram danificados ou destruídos nos tempos do comunismo, especialmente durante a violenta Revolução Cultural de 1966-1976. Embora muitos tenham sido restaurados e reabertos desde então, novas regulamentações e uma revisão burocrática no início deste ano colocaram a gestão do dia-a-dia dos assuntos religiosos directamente sob a tutela do partido oficialmente ateu. Esta gestão tem sido acompanhada por uma campanha renovada para promover o ateísmo e a lealdade ao partido, juntamente com um esforço para estudar as obras de um dos fundadores do comunismo, Karl Marx, que escreveu que a religião “é o ópio do povo”.

A campanha anti-religião ocorre juntamente com campanhas para promover o patriotismo e a lealdade partidária, a oposição ao separatismo entre as minorias étnicas e a luta contra os valores liberais ocidentais.

Estas campanhas têm complicado os esforços de reconciliação com o Vaticano e levado milhares de muçulmanos a serem submetidos à doutrinação anti-islâmica em campos de reeducação, à demolição de igrejas e a retirada de estudantes e monges de um famoso seminário budista tibetano.

28 Mai 2018