João Santos Filipe Manchete PolíticaComunidades | Marcelo critica nova lei devido a inovações “tímidas” O Presidente de Portugal considerou que a nova lei da organização e funcionamento do Conselho das Comunidades Portuguesas tem falta de “consenso nacional” na Assembleia da República, mas não deixou de promulgar o diploma Um diploma que fica longe do esperado, é uma oportunidade desperdiçada e deveria ter por base o “consenso nacional”, mas que não deixa de ser promulgado para evitar “punir” os “concidadãos espalhados pelo mundo”. Foi desta forma o presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, comentou a nova versão da lei da organização e funcionamento do Conselho das Comunidades Portuguesas. Numa mensagem deixada no site da presidência, Marcelo começou por considerar que o “diploma introduz algumas inovações positivas, mesmo se tímidas, na composição, organização e funcionamento do Conselho das Comunidades Portuguesas”. Também as melhorias na “ligação aos órgãos do poder político, nomeadamente, de soberania” foram elogiadas. Estas melhorias terão sido os motivos para que Marcelo Rebele de Sousa promulgasse o diploma: “Nessa medida, faz sentido não punir os nossos concidadãos espalhados pelo mundo, heróis do dia-a-dia, e que tanto esperaram e esperam por maior reconhecimento nacional, não aplicando os melhoramentos adoptados”, justificou. Apresentados os motivos da promulgação, o representante máximo do Estado português apontou vários pontos onde esperava que a Assembleia da República (AR) tivesse feito um trabalho melhor. A versão do diploma foi aprovada com os votos do Partido Socialista (PS) e da deputada do Pessoas-Animais-Natureza (PAN). O Partido Social-Democrata (PSD), Chega (CH), e Iniciativa Liberal (IL) votaram contra, enquanto o Partido Comunista Português (PCP), o Bloco de Esquerda (BE) e o Livre (L) abstiveram-se. Longe do esperado “O diploma fica longe do que dele se poderia esperar, trinta anos depois da criação do Conselho e tendo mudado tanto, como mudaram, as Comunidades e as suas variadas formas de acompanhar a evolução dos tempos. Fica longe, porque deveria ser um diploma de consenso nacional e não o foi no Parlamento”, apontou. “Fica longe, no número de conselheiros, na recusa do ensaio do voto electrónico, na definição imediata de meios mais ambiciosos de acção, no relacionamento com novas ou renovadas estruturas nas Comunidades”, acrescentou. Marcelo Rebelo de Sousa apontou assim que o diploma “foi uma oportunidade largamente desperdiçada”, o que “explica a posição negativa unânime dos membros do Conselho Permanente do Conselho das Comunidades Portuguesas”. No entanto, o presidente não deixou de apelar a um maior reformismo no futuro: “Ainda assim, entre maior espírito reformista a prazo incerto e os passos limitados dados desde já, parece realista concretizar estes passos, não desistindo de apelar a maior ambição no futuro”, indicou.
Sofia Margarida Mota EventosMartim Moniz | O portal que une comunidades O Portal Martim Moniz é uma plataforma portuguesa que presta serviços de ligação entre chineses e portugueses. Do ensino de línguas ao apoio logístico, os serviços são actualmente fundamentais num momento em que China e Portugal estreitam laços [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]xiste em Portugal uma plataforma que une as comunidades portuguesa e chinesa, o Portal Martim Moniz. Além de proporcionar informação bilingue de actualidade com interesse para públicos de ambos os países, fornece uma série de serviços com potencial para a integrar a comunidade chinesa em Portugal. “O Portal é uma plataforma digital de intercâmbio cultural entre Portugal e a China, cujo objetivo é dar conhecer Portugal aos chineses e a China aos portugueses”, resume a directora executiva, Sara Costa. A vertente informativa é a mais visível da plataforma, mas são os serviços, nomeadamente relativos à língua, que representam uma maior procura. “Temos um Centro de Língua Chinesa e um Centro de Tradução e Interpretação de modo a optimizar a comunicação entre as comunidades”. O objectivo, afirma, é o fomento do intercâmbio cultural entre os dois povos. Aprendizagem de línguas é, neste momento o serviço mais procurado e em particular o ensino do português a chineses. “É uma oportunidade de aprender português com professores qualificados para o ensino de PLE (Português Língua Estrangeira) e que possuem também um total domínio do mandarim”, diz Sara Costa. O contrário também acontece e, de acordo com a directora, são cada vez mais os empresários portugueses a procurar formação em mandarim. Estudantes do ensino secundário e universitário também integram estas formações, bem como alguns curiosos acerca da língua e cultura chinesa. Para a responsável, a existência do portal é fundamental no momento actual de relações que os dois países vivem. “A plataforma surge numa altura especialmente próspera das relações Portugal-China. Esta é uma história que tem mais de 500 anos, uma vez que os portugueses chegaram à China no início do século XVI. Nos últimos anos temos vindo a assistir a um reforço dos investimentos chineses em Portugal, nomeadamente no sector da energia, dos seguros, da banca, do imobiliário, entre outros”. Sara Costa não deixa de sublinhar o desenvolvimento de relações entre os dois países também no sector do turismo, sendo que “Portugal foi um dos primeiros países a estabelecer um acordo estratégico com a República Popular da China definindo, a posteriori, diretrizes para cooperação no turismo”. “O acordo estratégico assinado em 2005 é sobretudo uma declaração de intenções passada a escrito que a China adotou para privilegiar alguns países com quem tem melhores relações e que começou a ter repercussões mais visíveis a partir de 2010”, explica Sara Costa. Integração inevitável A comunidade chinesa em Portugal já está, se acordo com responsável, enraizada. “Se, por um lado, continuamos a ver comunidades um pouco fechadas entre si nos negócios mais tradicionais desta comunidade, por outro vemos já a segunda geração a integrar-se nas nossas escolas, atividades e sociedade civil”. Por outro lado, refere, os sectores de trabalho a que se dedicam são também cada vez mais diversos. Para Sara Costa as relações entre os dois países estão a passar “uma das melhores etapas” e a existência deste tipo de trabalho é cada vez mais importante.
Andreia Sofia Silva EventosJoel Brandão está a realizar um documentário sobre comunidades locais Natural do Porto, o mestrando em cinema quis fazer diferente e propôs-se filmar Macau e as suas gentes. O documentário estreia em Setembro no território, mas o objectivo de Joel Brandão é levá-lo a festivais de cinema por esse mundo fora Veio para Macau terminar o mestrado na Universidade Católica do Porto. Como surgiu o interesse em retratar as diferentes comunidades do território? Terminei agora o mestrado em Cinema, que inclui o estágio. Quis fazer uma coisa diferente e propus à faculdade vir para Macau para fazer um documentário. Aceitaram e eu vim, sendo que o financiamento é meu. Foi uma aventura e um projecto pessoal. O tema foi discutido com o meu orientador, o José Manuel Simões da Universidade de São José. Tinha conhecimento de que ele já tinha abordado os temas relacionados com as ligações entre as comunidades de Macau. Ele, melhor do que eu, conhece o território e, após algumas conversas, achei que seria um tema com interesse. Do trabalho que desenvolveu até agora neste projecto, o que é que mais o surpreendeu? O que mais me impressionou foram as condições. Filmei num estabelecimento de comidas chinês e não fazia ideia de que aquele lugar tinha aquelas condições. Outra coisa que, de alguma maneira, também me surpreendeu foi a dificuldade de interacção entre a comunidade chinesa e as restantes. Penso que a comunidade chinesa tem uma mentalidade muito mais fechada e não se dá tanto a conhecer. Têm uma cultura muito intrínseca, em que vivem muito para eles e para as suas famílias. Também aprendi que é uma comunidade que, depois de ganhar alguma confiança em nós e se sentir mais à vontade, é capaz de nos ter como bons amigos. Talvez a parte mais fechada desta cultura seja mais visível nas gerações mais antigas. As gerações mais novas já têm outros recursos, sabem inglês e têm mais formas de comunicar. Estava à espera de que as comunidades comunicassem mais entre elas? Sem dúvida. Existem muitas comunidades diferentes no território. A comunidade filipina é muito grande. Mesmo assim, sinto que, antes do documentário e depois das gravações, há ainda muito a trabalhar no que respeita à ligação e aos pontos de comunicação entre as diferentes comunidades que convivem aqui. O que é que este documentário pode vir a transmitir? Faço um documentário muito aberto. A ideia é que o espectador, ao ver o filme, crie a mensagem que posso querer transmitir. Filmei de uma forma diferente. Filmei três comunidades através do acompanhamento de apenas uma pessoa. Escolhi uma pessoa chinesa, uma filipina e uma portuguesa. Foquei-me na forma como estas pessoas interagem com as outras no seu dia-a-dia, na forma como interagem com a cidade e com o que lhes é próximo. No caso do português e do filipino quis saber como se relacionavam, por exemplo, com as mulheres. Com o protagonista chinês quis saber como é que interage com os clientes no café. Os locais foram escolhidos por estas pessoas. O espectador vai ver nestas imagens como estas pessoas falam, se relacionam e como lidam com o quotidiano e vai criar, internamente, a ligação entre estas pessoas. Apesar de aberto, é um filme em que é possível perceber a opinião de cada uma destas personagens reais e a opinião que têm de Macau quanto ao seu passado, presente e futuro. Têm sido feitos vários documentários sobre Macau. Acha que este filme vai trazer alguma coisa de diferente e dar uma imagem do território contemporânea? Penso que tenho uma forma diferente de fazer os meus documentários, que é visível no tipo de linguagem e de composição que faço. Coloco-me na intimidade das pessoas mesmo estando do lado de fora. É quase como estar na berma da estrada a filmar para dentro de um café e deixar as coisas acontecerem naturalmente. O que posso trazer de novo é a temática, que é sempre diferente. A nossa forma de ver as coisas é sempre diferente da dos outros. Depois, é a forma como filmo e edito, que penso que também é só minha. Tem sentido dificuldades em fazer o seu trabalho aqui em Macau? É fácil produzir um filme no território? Nesta área é preciso muito trabalho de campo. É necessário andar muito pelas ruas e o material é pesado. Este clima que agora se sente, abafado e húmido, é uma das grandes dificuldades. Em termos artísticos e narrativos é fácil conseguir um retrato de Macau. É um espaço muito interessante e não há muitos locais em que isto se possa fazer. Só o facto de estar a fazer um trabalho na Ásia, com uma cultura completamente diferente e ainda ter esta mistura de comunidades, é excelente e muito diferente. Há ainda um grande desconhecimento de Macau por parte dos portugueses. Acha que este documentário vai ajudar na divulgação de Macau junto do público português? Sim, sem dúvida. Neste filme não retrato apenas as comunidades. Tenho imagens da cidade, de paisagens e de locais característicos do território. Os portugueses que vão ver este documentário vão ter uma percepção completamente diferente do que é Macau. Concordo quando fala que há muito desconhecimento em Portugal acerca do território. Estava à espera de encontrar esta herança portuguesa aqui, nomeadamente ao nível do património? Da primeira vez que cá vim, não contava nada com esta presença. Já tinha lido acerca de Macau e sabia que havia edifícios com características idênticas aos de Portugal. Mas chegar aqui e ver a calçada portuguesa e esta arquitectura, ver as ruas com o nome em português e tantos portugueses, foi uma surpresa. Como foi a escolha dos protagonistas deste documentário? Primeiro escolhi as comunidades que queria retratar. Só tinha dois meses de trabalho pela frente e tinha de ser objectivo. Peguei naquelas que me pareceram as comunidades mais óbvias aqui. Depois foi muito simples, o protagonista chinês, o William Chen, era o dono do café onde eu ia todos os dias tomar o pequeno-almoço e criei uma empatia com ele, já da primeira vez que cá estive. Quando regressei, voltei ao estabelecimento para comer e ele lembrava-se de mim. Fomos conversando, acabei por convidá-lo e ele mostrou-se muito receptivo. O protagonista português apareceu porque estava a filmar pela rua e cruzei-me com a mulher dele. Ela perguntou-me o que é que estava aqui a fazer. Expliquei-lhe e disse que precisava de conhecer pessoas portuguesas. Ela sugeriu o marido que já cá está há 25 anos. E assim foi. Este documentário é, portanto, um resultado de vários acasos? Sim, quase lhe chamava fragmentos. São pequenas peças que vou encontrando e vou juntando. Mas este também é o segredo do documentário, o de registar o que se vai vendo e o que vai aparecendo. Tinha uma ideia diferente do documentário antes da sua produção e, depois de começar a filmar e de ver as imagens, vamos ter um resultado muito diferente dessa ideia. No documentário estamos sempre sujeitos a alterações. É o género de que mais gosta? Gosto de contar histórias, quer seja em documentário, ficção ou animação. Penso que, para qualquer realizador, o segredo é contar uma história em que de alguma forma, acredite. Acredito nas histórias que faço. Se são bem ou mal contadas, cabe aos críticos dar essas opiniões.
Filipa Araújo PerfilEddie Murphy, mestre de capoeira: “Macau foi amor à primeira vista” [dropcap class=”type1″]S[/dropcap]e lhe falarmos de Edilson Almeida consegue reconhecer? É difícil, até porque até ele tem algumas dificuldades em se reconhecer pelo nome próprio. Pois bem, Edilson Almeida é, nada mais nada menos, do que o Mestre Eddie Murphy, cara muito conhecida de toda a comunidade de Macau. “É um orgulho, uma alegria quando passo na rua e as pessoas levantam a mão, dizem ‘olá mestre Eddie’, é muito bom”, começa por nos contar o único mestre de capoeira de Macau, Hong Kong e China. Mesmo lesionado não negou, como estávamos à espera, dar uma entrevista ao HM. De sorriso rasgado, conta-nos um pouco do que é. “Sou um optimista, adoro o que faço, amo minha família, adoro Macau.” Foi há sete anos que chegou ao território, não à China. Isto, porque vivia em Shenzen há cinco anos. “Acredita que nunca tinha vindo a Macau? Não acredito nisto, mas é verdade, em cinco anos aqui ao lado nunca vim a Macau. Estava cego”, relembra. A convite para colaborar com uma academia que na altura existia em Macau, o mestre Eddie abraçou o desafio e mal colocou os pés neste território não teve dúvidas: “foi amor à primeira vista”. “Mal cheguei fiquei apaixonado. Só o facto de ver coisas em Português, os nomes das ruas, os autocarros… não queria acreditar, senti-me em casa”, conta. A verdade é que num abrir e fechar de olhos, o mestre e a sua família criaram raízes neste lado do mundo. Primeiro passos [quote_box_right]Foi há sete anos que chegou ao território, não à China. Isto, porque vivia em Shenzen há cinco anos. “Acredita que nunca tinha vindo a Macau? Não acredito nisto, mas é verdade, em cinco anos aqui ao lado nunca vim a Macau. Estava cego”, relembra.[/quote_box_right] Pouco tempo depois de residir em Macau, a academia em que Eddie trabalhava fechou e o mestre de capoeira temeu o pior. “Tinha um mês para sair de Macau porque tinha ficado sem trabalho, pensei no que iria fazer para arranjar uma solução”, relembra, frisando que foi a ajuda das pessoas que fez com que, sete anos depois, Eddie Murphy seja responsável por uma academia de capoeira, uma empresa de entretenimento, uma escola de dança e de grande parte dos eventos de carnaval e latinos que acontecem no território. “Também é da nossa responsabilidade a organização do carnaval em Hong Kong”, acrescenta. Na altura, relembra, muita pessoas foram ao encontro do mestre de capoeira e apresentaram sugestões e “muita ajuda” para que o Eddie conseguisse avançar com a sua vida aqui. Por Macau ser um espaço pequeno, com traços de pequena vila, tem este lado positivo. “Em Macau é possível conhecer toda a gente. Todos sabem quem é quem e se é bom ou mau”, explica, sublinhando que cada um “escolhe com quem quer andar”. “À minha volta gosto de ter pessoas boas, pessoas que gostam de fazer o bem, pessoas positivas e que se esforçam por estar de sorriso mesmo nos dias maus. Tu tens duas formas de viver a vida, ou de sorriso ou de cara fechada, tu é que escolhes o que queres ser”, partilha. União é a máxima Não associar o mestre ao seu trabalho na capoeira é quase impossível. Foi Eddie Murphy que trouxe para China esta espécie de dança que culturas mas, principalmente, que “faz bem à alma”. Das suas aulas fazem parte alunos de todas as nacionalidades e giro é ver as diferenças de comportamentos, reflexos dos diferentes lugares de onde chegam. “Os chineses são mais tímidos, porque são assim por natureza, o português é mais aberto. Com as crianças chinesas é preciso ir mais devagar, mas depois de se sentirem à vontade funcionam como família”, conta. E é esta união a base da capoeira e de todos os ensinamentos que o mestre pretende passar a todos aqueles que passam pela sua vida. “Muitas vezes acontece que quem começa a frequentar as aulas tem problemas, tem uma fase menos boa na vida, muitas vezes ligadas com a família. Os meus alunos chineses têm muitas vezes esse problema, uma educação mais rígida, com mais respeito porque é um respeito imposto e não pode ser assim. É importante – e esta é uma das linhas da capoeira – que se perceba que o respeito é merecido e não imposto”, partilha. Eddie Murphy acredita que Macau está melhor do que há sete anos e é a Taipa a zona que mais lhe enche o coração. “Sou muito ligado aos valores familiares, à minha família de sangue ou à da capoeira, porque é isso que somos, uma família, e a Taipa permite no tempo livre ires passear com a tua família, ir a um parque com as crianças, dar um passeio. Adoro a Taipa”. É a indústria do Jogo que mais preocupa Eddie Murphy. “É preciso ter algum controlo nos casinos e na construção dos casinos, é preciso dar atenção aos que cá moram e não querem saber dos casinos, olhar para os filhos dos trabalhadores [desses espaços] que muitas vezes estão sem os pais durante a noite”, argumenta. Um amor para sempre Não há hesitação nenhuma quando perguntamos ao mestre o que pretende fazer no futuro. “Quero ficar em Macau, já não saio daqui”, diz-nos de sorriso rasgado. “Tenho recebido muito amor aqui, dos meus alunos, dos pais dos meus alunos, de todos aqueles que até não se identificam com o movimento da capoeira mas vão aos encontros e estão connosco”, conta. Planos para o futuro não faltam. Eddie Murphy, marcado pelo seu espírito de trabalho, levanta um pouco o véu e conta-nos que talvez para o próximo ano Macau receba, pela primeira vez, o Campeonato Mundial de Capoeira, que poderá receber pelo menos cem países.
Carlos Morais José EditorialAs lições do passado [dropcap style=’circle’]J[/dropcap]untar “comunidade portuguesas” ao dia de Portugal e de Camões (bem como tirar-lhe a Raça) foi uma excelente decisão. Afinal, o nosso vate também foi um exilado, um homem basicamente expulso do país, um território onde para ele não havia lugar e onde haveria, no regresso, de definhar à míngua, mesmo depois de reconhecida a sua genialidade. Portugal de modo nenhum se reduz ao pequeno rectângulo. É muito maior, muito mais vasto e mais onírico do que isso. Os portugueses não pertencem a uma etnia, fazem parte de um povo que inclui todo o tipo de gente, com as mais diversas origens étnicas. Tal teve a ver com o facto de termos saído, mas também com a realidade geográfica do país. Sendo o último da Europa para Oeste, foi durante vários séculos uma espécie de fim do mundo, onde vinha parar todo o tipo de gente. Dali não podiam passar, a não ser em sonhos. E talvez tenham sido esses sonhos que nos lançaram numa das aventuras mais ousadas que Humanidade experimentou. Os portugueses foram os autores da primeira globalização, quando mostraram que era possível o contacto entre todos os povos do planeta. A segunda globalização veio tornar esse contacto imediato. Bem sabemos da importância das novas tecnologias, mas alguém se lembra da importância de mudar os hábitos alimentares de toda a gente com o transporte de plantas alimentícias como fizeram os nossos navegadores? Pouco importa o passado, dizem-nos. Glórias de antanho não nos resolvem os problemas que hoje defrontamos, afirmam. Será que não? Será que não existem lições a tirar da História que sejam úteis na interpretação do presente? Parece-nos que sim. Parece-nos, aliás, que existem tantas lições que nós hoje temos medo de olhar para elas e corar no confronto com a audácia e a inteligência dos nossos antepassados.