Saúde mental | Residentes criam programas gratuitos de nutrição e exercício

Catarina Rodrigues, coach de Nutrição Integrativa e Fome Emocional, e Cíntia Leite Martins, co-fundadora da plataforma Mana Vida, criaram programas online gratuitos de exercício e nutrição. O objectivo é promover a saúde mental em época de confinamento

 

Muitos têm sido os relatos sobre o difícil panorama que se vive em Macau em matéria de saúde mental, com cada vez mais pessoas a procurar ajuda psicológica. A pensar nisso, duas residentes decidiram criar programas online que combinam nutrição com exercício a fim de fomentar uma vida mais activa em casa.

Um deles é “Stayin Vida Challenge”, gratuito e sem horários pré-definidos, é uma ideia de Cíntia Leite Martins, co-fundadora da plataforma de bem-estar e exercício Mana Vida. As inscrições podem ser feitas através do Instagram cintia.milk.

“Todas as terças e sextas-feiras faço aulas online. Além disso, os participantes também recebem instruções e emails com conteúdos sobre nutrição e exercício. As pessoas podem inscrever-se até ao final do mês e não precisam concretizar todas as tarefas”, contou Cíntia, que lecciona vários cursos na área do desporto.

No ano passado, a plataforma Mana Vida lançou um programa semelhante, focado para quem cumpria quarentena, que fez sucesso. “Este programa ajuda as pessoas a manterem uma rotina saudável e a se focarem na descoberta de novos talentos. Podem traçar planos para poderem concretizar sonhos, que, muitas vezes com uma vida agitada, não conseguimos planear”, contou.

Num período em que o território está parado, com toda a população em casa, as especialistas ouvidas pelo HM destacam a importância de seguir a máxima “mente sã, corpo são”. “Um dos maiores desafios é fazer com que a pessoa tome posse e se responsabilize pela sua própria saúde. Um desafio destes, com o apoio da comunidade e de uma coach, permite que a pessoa encontre ferramentas e se dê conta dos bloqueios mentais que não a permitem atingir os seus objectivos.”

Integrar uma comunidade

Catarina Rodrigues é coach de Nutrição Integrativa e Fome Emocional, com formação feita nos EUA e experiência profissional em Macau desde 2007. Actualmente, reside em Portugal, mas acompanha de perto a situação no território onde é residente permanente. Desta forma, decidiu criar um programa vocacionado para quem se vê obrigado a ficar fechado em casa e quer ocupar melhor o tempo. O programa chama-se “Nutrir Corpo&Mente”, e funciona de forma gratuita no Telegram, onde são partilhadas receitas e dicas de nutrição para a perda de peso. De um grupo de 41 participantes, 17 são de Macau.

“Por estar a acompanhar algumas pessoas e ter amigos em Macau, estou ciente do que se está a passar, por isso quis criar algo gratuito que pudesse beneficiar quem aí vive. O mais difícil num lockdown é a sensação de ansiedade, desânimo, falta de controlo por um lado e a ausência de rotina por outro. Os desafios que criei foram no sentido de aumentar o bem-estar dos participantes. Concentrei-me nos pilares do autocuidado, redução do stress e exercício”, contou ao HM.

Catarina Rodrigues destaca que o mais importante neste processo de confinamento é cada um saber “que não está sozinho e que faz parte de uma comunidade”, o que “faz toda a diferença”.

15 Jul 2022

Chakra Space, restaurante| “Comer vegetariano é comer saudável”

É um espaço muito pequeno mas podem experimentar-se muitas coisas: cafés e cervejas artesanais ou pratos vegetarianos com um leve sabor de caril. A ideia é que cada cliente possa aprender mais sobre comida saudável e viver com esse estilo de vida

“Não quero definir este lugar como sendo um bar, café ou restaurante. É apenas um espaço onde mostro as coisas de que gosto”. É assim que o responsável do Chakra Space, Meng Wong, fala do novo canto que abriu portas para os lados da barra, onde se pode pedir comida vegetariana, cafés, vinhos ou cervejas. Inaugurado há cinco meses, Meng Wong gere o espaço com outro sócio mas decidiu o nome do espaço e até a sua decoração.
“Chakra remete para os pontos do corpo onde se aplica a acupunctura e também com o Ioga e o Budismo. Apesar de não acreditar em nenhuma religião, gosto muito de ler livros sobre essa matéria e compreender a cultura e os seus significados. Comecei a gostar muito dessa área e decidi usar esse nome para o espaço”, contou ao HM. O gosto de Meng Wong revela-se numa das paredes, decorada com estátuas de buda e quadros religiosos.
Mas nem só de comida se faz o Chakra Space. Quando Meng Wong nos serviu uma bebida pudemos ver a zona destinada a um bar aberto. “Disponibilizamos vinhos tintos e brancos, bem como cervejas artesanais. Optamos por escolher as bebidas que não são caras mas que têm qualidade e que são produzidas na Bélgica ou Japão, em vez das que são feitas na China”, explicou.
O café no Chakra Space é também artesanal, mas segue um princípio. Cada chávena é servida na sua forma original, sem a adição de açúcar e sem leite. Meng Wong explicou que isso se deve à intenção de corrigir o hábito introduzido por muitos restaurantes conhecidos.
“Começamos por explicar aos nossos clientes que os nossos cafés não combinam com açúcar nem leite. A vantagem dos cafés artesanais é que podemos experimentar o sabor original do café. Queremos alterar o pensamento comum que existe na comunidade chinesa, que acha que os cafés mais amargos e fortes devem ter açúcar ou leite. Mas os cafés verdadeiros não devem ser assim”, apontou.

Sem aditivos

No que diz respeito à comida, o Chakra Space quer também eliminar os aditivos que habitualmente se colocam na comida servida na maioria dos restaurantes. Os cozinheiros adicionam o caril mas não existe açúcar ou sal, apenas azeite.
“As comidas vegetarianas chinesas normalmente têm muito açúcar, óleo ou sal, mas acredito que comer vegetariano é comer saudável. O nosso caril é mais leve porque o molho serve de cozedura a muitos legumes. Espero que os clientes tentem aceitar este tipo de comida”, disse Meng Wong.
Outra diferença introduzida pelo Chakra Space prende-se com a ausência de menus. A escolha dos pratos ao almoço ou jantar faz-se através dos ingredientes, mas ao jantar é preciso fazer uma reserva.
Para Meng Wong, não há melhor combinação do que comer um caril acompanhado por um café. Foi no Japão que o responsável do restaurante conheceu esta ideia. “Acho que as duas coisas combinam muito bem.”

Do retalho para a restauração

Antes de abrir o Chakra Space Meng Wong trabalhou vários anos na área do retalho, mas sentia-se “preso” à profissão. “Nos últimos três anos já não queria continuar a trabalhar dessa maneira. Achava que a vida não podia ser assim. Parece que estava a desperdiçar a minha juventude para ganhar dinheiro. Tenho 30 anos e achei que precisava de pensar no meu futuro e fazer algo de que gosto”, frisou.
Antes de abrir o espaço de comidas e bebidas, Meng Wong viajou pelo mundo para conhecer o máximo de coisas possível, até que teve vontade de regressar a Macau. “É um bom sítio mas tudo depende das mudanças de pensamento e de como usamos o nosso estilo de vida”, referiu.
O Chakra Space não pretende ser um espaço para ganhar muito dinheiro mas sim para ser apenas um espaço que reúne pessoas à volta da comida vegetariana e do café.
O pequeno lugar de comidas e bebidas fica perto do templo de A-Má e à volta reina o sossego. Apesar dos elevados custos do negócio, com a renda a chegar às dez mil patacas mensais e um investimento de 200 mil patacas, Meng Wong garante que a localização foi um dos motivos que o fez investir. “A zona não foi muito desenvolvida ao longo dos anos e o movimento das pessoas não é grande, mas gosto desta tranquilidade”, rematou.

3 Fev 2016