Lisboeta | Festival internacional apresenta filmes dedicados ao universo LGBTQIA+

A segunda edição do Macau International Queer Film Festival, dedicado à comunidade de lésbicas, gays, bissexuais, pessoas transgénero, queer, intersexos e assexuais, arranca esta sexta-feira nos cinemas Emperor, no Lisboeta Macau. Com o tema “Love is the Answer”, o festival apresenta 14 filmes e cinco curtas-metragens que podem ser vistas até ao dia 6 de Abril

 

É já a partir desta sexta-feira que os cinemas Emperor, no Lisboeta Macau, apresentam o festival de cinema exclusivamente dedicado à comunidade LGBTQIA+, sigla utilizada para designar a comunidade de lésbicas, gays, bissexuais, pessoas que são transgénero, queer, intersexos ou assexuais.

Segundo um comunicado da organização do evento, as exibições decorrem até ao dia 6 de Abril e subjugam-se ao tema “Love is the Answer” [O Amor é a Resposta]. Apresentam-se assim 14 filmes e cinco curtas-metragens, muitos deles internacionais.

As películas focam-se em “diversos temas, mostrando a natureza multifacetada da comunidade queer”, sendo também um testemunho “das infinitas possibilidades da diversidade de famílias a partir da perspectiva das pequenas casas”. Revelam-se “as lutas à margem, e as que não são realizadas, pelos indivíduos transgénero”, apresentando “as alegrias e tristezas” associadas às “histórias de amor queer”, sem esquecer “a vanguarda e liberdade dos pioneiros do cinema queer”.

Para a organização, o tema principal do festival não é apenas um slogan, mas também “uma questão de compreensão e aceitação”, pois o amor “resolve e conduz ao diálogo com a sociedade”.

Novos e clássicos

Esta sexta-feira, o festival arranca oficialmente às 20h com a exibição de “Housekeeping of Beginners”, filme que venceu o prémio “Queer Lion Award” na edição do ano passado do Festival de Cinema de Veneza.

Da autoria do aclamado realizador Goran Stolevski, o filme conta a história de Dita, uma mulher que nunca quis ser mãe, mas cujas circunstâncias de vida a levaram a criar as duas filhas das suas amigas, Mia e Vanesa, que, como grande parte das adolescentes, se mostram rebeldes e constantemente envolvidas em confusões. O filme revela o seu percurso conturbado como uma família fora do comum, na definição de valores e esperanças de cada uma das mulheres.

No sábado, 23, será exibido, a partir das 17h30, “Till the End of the Night” e “Kubi”, a partir das 20h30, na secção “Highlight Premiere” do festival.

“Kubi”, do realizador japonês Takeshi Kitano, foi desenvolvido ao longo de 30 anos, sendo que o cineasta é conhecido pela sua “violência estética”. Este trabalho baseia-se numa das mais controversas convulsões políticas do Japão, o “Incidente de Honnō-ji”, gerada pelo assassinato, em Quioto, no ano de 1582, de Oda Nobunaga, um daymio, ou poderoso senhor detentor de terras, vítima de traição.

No domingo, as exibições arrancam às 18h com “20,000 Species of Bees”, um drama espanhol dedicado ao universo transgénero que fez sucesso na estreia. Esta é a história de uma criança de oito anos que, numas férias de Verão, começa a questionar-se sobre o binómio rapaz-rapariga e sobre qual será a sua verdadeira identidade de género. A família trata-o como rapaz, mas, interiormente, esta criança começa a identificar-se como rapariga.

Às 20h30 de domingo, é hora de exibir “Blue Gate Crossing”, um regresso ao passado, por se tratar de um filme de Taiwan de 2002. Esta é uma comédia centrada sobre um adolescente no processo de definição da sua sexualidade, do rapaz que é e do amor que poderá sentir por uma rapariga.

A fechar

O último dia do festival volta a exibir “Housekeeping for Beginners”, seguindo-se “Mutt”, primeiramente exibido no dia 27. Este filme de 87 minutos, centrado nas temáticas da família, identidade, transexualidade e relações, é da autoria de Vuk Lungulov-Klotz.

“Mutt” centra-se na história de Feña, um rapaz transexual que tenta aguentar-se na caótica Nova Iorque e que, um dia, enfrenta um desafio, pois durante 24 horas recebe várias visitas de familiares com quem tem de lidar: o seu pai estrangeiro, o ex-namorado heterossexual e a sua meia-irmã de 13 anos.

“Silver Haze”, filme exibido no dia 25, segunda-feira, repete-se no dia do encerramento do “Macau International Queer Film Festival”. Tratando-se de uma produção entre a Holanda e o Reino Unido da cineasta Sacha Polak, “Silver Haze” conta o momento em que uma enfermeira, Franky, se apaixona por uma paciente em Londres. Esta paixão vai virar a sua vida do avesso.

Importa frisar que este festival, bastante recente em Macau, dá destaque este ano aos primeiros movimentos do cinema Queer e ao trabalho das realizadoras neste âmbito. Um dos exemplos é a exibição de “Murmur of Youth”, de Lin Cheng-sheng, filme integrado na secção “Portraits of Sino-Queers [Retratos de Queers Chinesas], onde se tenta ir além da emergência de temas Queer no cinema exclusivamente centrado no homem.

De frisar que este momento emergente se verificou na China e já em meados da década de 90, adquirindo o nome de “New Queer Cinema”, ganhando também contornos internacionais. Esta era uma época em que havia ainda “poucos filmes em chinês dedicados a contar histórias Queer”.

O cartaz do festival apresenta também a secção “Realizador em Foco”, tendo sido escolhido o nome de Barbara Hammer, realizadora norte-americana conhecida pelo seu trabalho experimental que alterou perspectivas mais tradicionais de trabalhar a imagem em ligação com o universo Queer.

20 Mar 2024

Primeiro festival de cinema para comunidade LGBTQIA+ arranca sexta-feira

Começa esta sexta-feira, com duração até 12 de Fevereiro, o primeiro festival de cinema dedicado à comunidade LGBTQIA+, mas aberto a todos, “mesmo os homofóbicos”, numa cidade subtilmente conservadora, disse o organizador.

O Festival Internacional de Cinema ‘Queer’ de Macau (MIQFF, na sigla em inglês) “tem tudo a ver com direitos, tão simples como isso”, disse à Lusa o director do festival, organizado pela Visão ‘Queer’ e pela Comuna de Han-Ian. “Porque é que o tópico LGBTQIA+ [sigla para lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, ‘queer’, intersexo e assexual] tem de ser escondido ou não mencionado por completo?” questionou Jay Sun.

O festival vai exibir 12 longas-metragens, incluindo “Will-o’-the-Wisp” [“Fogo-Fátuo”], um musical do realizador português João Pedro Rodrigues, seleccionado para a Quinzena dos Realizadores do Festival de Cinema de Cannes em 2022.

Bilhetes esgotados

Os bilhetes para o filme surpresa, “Will You Look At Me” [“Olha Para Mim”], um documentário do chinês Huang Shuli escolhido para a semana da crítica do Festival de Cinema de Cannes 2022, já estão esgotados. “Claro que temos um alvo, a comunidade LGBTQIA+, mas não queremos limitar nada, porque é isso que significa ser ‘queer’. Damos as boas-vindas a todos, mesmo os homofóbicos”, sublinhou Jay Sun.

“Em todos os países há grupos assim e em Macau também. Mas eu não os vejo como meus inimigos. São bem-vindos para vir aprender mais e talvez depois nos possamos entender melhor uns aos outros”, disse o jovem, de 26 anos.

“As pessoas de Macau são mais subtis do que em outras cidades ou países. São conservadoras, mas quando encontram alguém de quem não gostam, também não dizem nada em público. Não é como em Hong Kong ou Taiwan, em que haverá pessoas a sair às ruas em protesto”, considerou.

Além das longas-metragens, o festival vai exibir cinco curtas, quatro das quais de realizadores de Macau, incluindo “I’m Here” (“Estou Aqui”), de Tracy Choi Ian Sin. “É mesmo muito importante, especialmente para os jovens”, a comunidade LGBTQIA+ estar representada nos ecrãs, disse Tracy Choi.

“Quando tinha 17 ou 18 anos, era difícil identificar-me porque na maioria dos filmes e programas de televisão asiáticos pouco se fala de LGBTQIA+”, lamentou a realizadora. Revelar a orientação sexual “é muito difícil aqui em Macau, porque nem toda a gente tem pais com uma mentalidade aberta”, lamentou Jay Sun.

A pressão familiar é ainda maior para os homossexuais, disse Tracy Choi. “Na sociedade chinesa, os homens têm de ter filhos para manter o nome de família e se não for suficientemente masculino as pessoas vão gozar contigo”, acrescentou. “Ninguém tem de vir a público dizer que é lésbica, ou gay, ou bissexual, isso é com eles e ninguém tem nada a ver com isso”, sublinhou Jay Sun.

“O mais importante é ter confiança em nós próprios, que somos belos e que não há nada de errado connosco. Só isso já chega para o nosso festival, relembrar às pessoas que ser ‘queer’ não é um problema, não é um pecado”, disse o director.

1 Fev 2023

Cinema | Jay Sun dirige primeiro festival dedicado à comunidade LGBT

O Macao International Queer Film Festival está agendado para Outubro. É a primeira edição de um festival de cinema inteiramente dedicado à comunidade LGBT. Jay Sun, já com uma larga experiência na indústria, quer tirar um assunto tabu do armário e debatê-lo na sociedade através dos filmes

 

Macau acolhe, em Outubro, o primeiro festival de cinema inteiramente dedicado à comunidade gay do território. O Macao International Queer Film Festival não tem ainda o cartaz fechado mas terá quatro secções de películas locais e internacionais com temas que giram em torno do mundo LGBT. “Have a Good Night”, filme chinês de 2020 realizado por Hongyu Jiang, será uma das fitas exibidas.

Jay Sun, que trabalha há alguns anos na indústria do cinema, sobretudo na organização de eventos, é o director do Macao International Queer Film Festival e pretende, sobretudo, trazer para discussão temas que têm estado escondidos ao longo dos anos.

“Há muito tempo que planeava fazer este evento, mas ainda não tinha surgido o momento certo. Hong Kong e Taiwan têm os seus festivais ligados às comunidades LGBT e Queer, e mesmo na China existe um festival de cinema deste género. Então pensei porque é que Macau não teria também um evento destes, que é a forma de expressão mais básica da nossa comunidade, relativamente à diversidade de género”, referiu ao HM.

Jay Sun não promete um cartaz extenso, mas garante que haverá uma grande diversidade de filmes de qualidade. “Teremos uma mostra de filmes asiáticos e clássicos também, para mostrar películas que todos gostam. Não está ainda confirmado, mas gostaria de incluir uma secção de curtas-metragens produzidas por locais, embora tenha percebido que não há assim muitos filmes feitos em Macau sobre este tema”, frisou.

A organização do festival há muito que estava na cabeça de Jay Sun, que só agora encontrou o momento certo para avançar. “Hoje em dia não há nada de estranho em falar sobre a nossa sexualidade, mas parece-me que no caso da comunidade LGBT de Macau não é um assunto abordado, não está no dicionário. Falamos sobre isso nos bastidores, parece que estamos nos anos 80, mas estamos em 2022.

É altura de avançar com mudanças e, através dos filmes, promover a consciência das pessoas, levando-as a pensar que este não é um assunto sobre o qual tenhamos de ter vergonha de falar”, adiantou.

Mais LGBT no cinema

Sem calendário, programação ou local de exibição ainda definidos, o Macao International Queer Film Festival tem vindo a ser divulgado nas redes sociais e, para já, as reacções têm surpreendido Jay Sun.

“Quando comecei a divulgar o festival vi que o número de ‘gostos’ e de partilhas estavam acima das minhas expectativas. Pensei que havia alguma esperança nesta cidade. As histórias, em geral, dizem muito sobre nós próprios e os outros, e nos últimos anos tenho visto filmes que nos contam histórias tocantes.”

Jay Sun acredita que, a nível mundial, a comunidade LGBT está cada vez mais presente no mundo do cinema, dando exemplos de filmes vencedores de óscares, como é o caso de “Call Me By Your Name” ou “Brockeback Mountain”.

“Temos de trazer este tema para junto das pessoas e não mantê-lo debaixo da mesa. Podemos discutir estes assuntos e, através dos filmes, as pessoas podem começar a discutir estes temas tabu. Espero que as pessoas não fiquem com vergonha de vir ao nosso festival”, rematou.

14 Jun 2022