Diplomacia | Pequim acusa EUA de minarem estabilidade global

A China acusou ontem os Estados Unidos de minarem a estabilidade global com políticas unilaterais e de “poder”, no primeiro documento sobre a estratégia de Defesa de Pequim desde que o Presidente Xi Jinping chegou ao poder

 

[dropcap]O[/dropcap]s EUA são o primeiro país mencionado no livro branco sobre a Defesa nacional, produzido pelo ministério chinês da Defesa, surgindo entre os “factores de desestabilização proeminentes” e “mudanças profundas” no ambiente de segurança internacional. “Os EUA ajustaram as suas estratégias nacionais de segurança e de defesa e adoptaram políticas unilaterais”, afirmou a China no documento.

Washington “provocou e intensificou a competição entre os países, aumentou significativamente os seus gastos com a defesa (…) e minou a estabilidade estratégica global”, apontou.

Trata-se do primeiro documento abrangente sobre a estratégia de defesa nacional da China desde o 18.º Congresso do Partido Comunista Chinês, em 2012, que elegeu o actual chefe de Estado, Xi Jinping.

Lista a cumprir

O Governo de Pequim apontou como prioridade conter a independência de Taiwan e combater o que considera “forças separatistas” no Tibete e na região do extremo oeste de Xinjiang.

A polícia paramilitar da China ajudou as autoridades de Xinjiang a “eliminar 1.588 grupos violentos de terroristas e a capturar 12.995 terroristas”, destacou o relatório.

Grupos de defesa dos Direitos Humanos estimam que a China mantém cerca de um milhão de muçulmanos detidos em campos de doutrinação política, como parte do que o Governo designa de campanha antiterrorista. Membros da minoria étnica de origem muçulmana uigur, anteriormente detidos, acusam a China de punir a expressão religiosa e separar as crianças dos pais. E dizem terem sido arbitrariamente detidos e sujeitos a doutrinação política.

Na questão do Tibete, a China há muito que considera Dalai Lama um perigoso separatista, mas o líder espiritual do budismo tibetano no exílio afirma que deseja apenas um maior grau de autonomia para a região.

25 Jul 2019

Conflitos que opõem EUA à China e Irão vão continuar, diz analista russo

Pedro Caldeira Rodrigues, agência Lusa

 

[dropcap]O[/dropcap]s EUA vão evitar a intensificação dos conflitos que os opõem à China e ao Irão mas as duas crises não serão resolvidas em breve, referiu à Lusa Andrey Kortunov, diretor de um instituto diplomático e académico em Moscovo.

“Não creio que a disputa comercial entre os EUA e a China possa ser totalmente resolvida, porque as posições dos dois lados estão muito distantes”, assinalou o director-geral do Conselho de Assuntos Internacionais russo (Russian International Affairs Council, RAIC).

“Os EUA pretendem que a China restruture a sua economia e fique privada das vantagens comparativas que possui, e os chineses argumentam que para cumprir as exigências norte-americanas teriam de efectuar transformações muito significativas, com os elevados riscos políticos daí decorrentes”, considerou.

O analista admite “um cessar-fogo, ou uma trégua” porque nenhuma das partes pretende, de momento, uma escalada de um conflito com consequências globais. “Todos sabemos que uma verdadeira guerra comercial EUA-China conduziria a uma recessão mundial, que seria generalizada, mas provavelmente e neste caso, afectaria em particular os Estados Unidos”, disse.

O calendário eleitoral nos EUA pode ser determinante para esta contenção, após o Presidente norte-americano ter anunciado planos para a reeleição em 2020. Mas que poderá intensificar-se caso Donald Trump seja reeleito para a Casa Branca.

“Assim, admito de momento uma espécie conflito de baixa intensidade, com alguns compromissos e concessões, mas o problema não deverá ser resolvido em breve”, adiantou.

Numa referência às crescentes tensões entre Washington e Teerão, Andrey Kortunov considera que os riscos são mais elevados. “A política dos EUA face ao Irão tem apenas ‘paus mas não tem cenouras’. Não incentiva a liderança iraniana à moderação, incluindo a nível regional. Pelo contrário, reforça os grupos mais anti-ocidentais e mais radicais em Teerão, o que julgo ser um claro erro”, indica o investigador, interveniente na Conferência anual do Conselho Europeu de relações internacionais (European Council on Foreign Relations, ECFR), que decorreu entre terça-feira e hoje na Fundação Gulbenkian, em Lisboa.

“Trump não está motivado para desencadear uma guerra, primeiro porque sendo um homem de negócios, em termos gerais não gosta de guerras. Para ele é um mau negócio, anunciou que os EUA vão retirar da Síria, do Afeganistão… Iniciar uma nova guerra com o Irão, e com a aproximação da campanha eleitoral para a Presidência, não seria para Trump uma jogada sensata”, antecipou.

O custo de um envolvimento militar no Irão implicaria “botas norte-americanas no terreno e mortes norte-americanas”, ressalvou. No entanto admite no imediato outras opções, que Washington já promoveu na região do Médio Oriente.

“Os EUA não pretendem interferir, pelo menos em larga escala, mas poderão atingir o Irão com mísseis, como por exemplo Trump atingiu por duas vezes a Síria com mísseis de cruzeiro. Mas excluindo uma operação terrestre em larga escala liderada pelas Forças armadas norte-americanas”, considerou.

A eventualidade de um conflito entre o Irão e alguns dos aliados dos EUA na região, como Israel ou a Arábia Saudita, poderia alterar a situação, mas sem o envio imediato de tropas.

“Nesse caso, decerto que os Estados Unidos vão fornecer todo o apoio possível aos seus aliados, incluindo diversos fornecimentos, informações, conselheiros, o que seja necessário. Mas sem um envolvimento directo em larga escala”, acrescentou.

Na perspectiva de Teerão, sustentou, o objectivo actual consiste em continuar a utilizar o Acordo de Viena sobre o programa nuclear [assinado em 2015 com as principais potências mas entretanto rejeitado pelos EUA] para envolver os europeus. E não considera que o Irão tenha planos imediatos para desenvolver armas nucleares.

“No entanto, o Irão possui programas balísticos, algo de sério, e muito bem-sucedido. Mas o perigo para os EUA e seus aliados na região não está limitado ao facto de o Irão obter tecnologias mais sofisticadas de sistemas balísticos”, destacou.

Um cenário que envolve directamente Israel, o principal aliado dos norte-americanos na região.
“Em Israel considera-se que o problema reside no facto de estas tecnologias poderem terminar nas mãos do Hezbollah [a poderosa milícia xiita no Líbano]. E no caso de um novo surto de violência, o Hezbollah poderá atingir Israel com armamento muito mais preciso, e de forma muito mais significativa que anteriormente”, afirmou.

O director-geral do RAIC sustenta que as eventuais negociações em torno da redução do programa balístico iraniano também poderão ser contrariadas por Teerão, e motivadas pelo seu principal rival regional, a Arábia Saudita.

“Os iranianos vão responder para se olhar para a Arábia Saudita e a forma como avançaram rapidamente nas suas capacidades balísticas. E os sauditas estão a trabalhar nesta área não apenas com os Estados Unidos mas também com os chineses, existe essa percepção”, disse.

Perante um cenário muito volátil, o Irão vai continuar a argumentar que a limitação das tecnologias balísticas, deverá abranger toda a região. “E incluindo nos países que não são propriamente amigos do Irão”, concluiu.

27 Jun 2019

China pede “calma e contenção” aos EUA e Irão

[dropcap]A[/dropcap] China pediu ontem aos Estados Unidos e ao Irão que “mantenham a calma e a contenção” após Washington anunciar novas sanções contra Teerão, que acusou a administração norte-americana de assim “cortar a via diplomática”.

“Acreditamos que continuar a aplicar a pressão máxima (contra o Irão) não ajuda a resolver o problema”, disse Geng Shuang, porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, em conferência de imprensa. “Os factos mostraram que estas medidas têm o efeito oposto: exacerbam os problemas na região”, afirmou.

O Presidente dos EUA, Donald Trump, impôs na segunda-feira um novo conjunto de sanções contra o Irão, incluindo contra o líder supremo, o ‘ayatollah’ Ali Khamenei, e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Mohammad Javad Zarif.

Teerão e Washington romperam os laços diplomáticos em 1980 e atravessam agora um período de renovada tensão, que pode abalar a região estratégica do Golfo. Donald Trump acusa o Irão de procurar desenvolver armas nucleares e de ser um “patrocinador do terrorismo”.

O assessor de segurança nacional dos EUA, John Bolton, disse ontem que a porta permanece aberta para negociações. “Ao mesmo tempo em que apela a negociações, está a tentar sancionar o ministro dos Negócios Estrangeiros! É óbvio que está a mentir”, reagiu o Presidente iraniano, Hassan Rohani.

“Impor sanções (…), é fechar permanentemente o caminho da diplomacia”, afirmou na rede social Twitter o porta-voz da diplomacia iraniana, Abbas Mousavi. As sanções dos EUA foram anunciadas quatro dias após a destruição de um drone norte-americano por um míssil iraniano. Teerão diz que o drone voava no seu espaço aéreo, uma informação negada por Washington.

26 Jun 2019

Washington opõe-se ao plano de Hong Kong sobre extradições para a China

[dropcap]O[/dropcap]s Estados Unidos expressaram na segunda-feira uma “grande preocupação” com a proposta de lei do Governo de Hong Kong que visa permitir extradições para a China, um dia depois de um protesto maciço contra a medida.

“Manifestações com centenas de milhares de pessoas” têm “demonstrado claramente a oposição da opinião pública” a este texto, que pode “colocar em risco a autonomia” da região administrativa especial, disse à imprensa a porta-voz da diplomacia norte-americana, Morgan Ortagus.

Um dia depois de uma manifestação em massa, que segundo a organização reuniu mais de um milhão de pessoas, o Governo de Hong Kong anunciou que não vai ceder, alegando “obrigações internacionais em matéria de criminalidade transfronteiriça e transnacional”.

Washington “partilha a preocupação de muitos residentes de Hong Kong com a falta de salvaguardas nas emendas propostas, o que poderá pôr em risco a autonomia de Hong Kong” e a “protecção dos direitos humanos” naquele território, acrescentou Ortagus.

Sobre os visitantes e os norte-americanos a viver e a trabalhar na região, a porta-voz disse temer que fiquem “submetidos ao sistema judicial caprichoso da China”.

Na segunda-feira, um dia depois do maior protesto em mais de uma década no território, o Governo anunciou que vai mesmo avançar com a proposta de lei que poderá abrir portas a extradições para a China.

“Trata-se de uma lei muito importante que vai garantir que a justiça prevaleça e Hong Kong cumpra as suas obrigações internacionais em matéria de criminalidade transfronteiriça e transnacional”, disse a chefe do Executivo, Carrie Lam, em declarações aos jornalistas.

Os organizadores da manifestação de domingo afirmaram que mais de um milhão de pessoas desfilaram pelas ruas da cidade, enquanto a polícia da antiga colónia britânica indicou que o protesto juntou 240 mil participantes.

A proposta de lei apresentada pelo Governo ao Conselho Legislativo (LegCo, parlamento local) autoriza a extradição de condenados em fuga para vários países com os quais o território não tem actualmente acordos de extradição, incluindo a China continental.

Nas últimas semanas, várias petições circularam contra a proposta de lei, milhares de advogados organizaram uma marcha silenciosa e várias câmaras de comércio manifestaram preocupação.

O Governo considerou esta proposta um instrumento vital para combater o crime transnacional e manter o Estado de direito, enquanto os críticos afirmaram temer que a população fique à mercê de um sistema judicial chinês opaco e politizado. A controversa proposta começa a ser debatida na quarta-feira no hemiciclo.

11 Jun 2019

Medidas restritivas comerciais dos EUA prejudicam interesses do mundo inteiro

Gong Xin *

 

[dropcap]N[/dropcap]o mundo globalizado de hoje, as economias chinesa e americana são altamente integradas e estão vinculadas a uma união que é mutuamente benéfica e de ganha-ganha por natureza. No entanto, desde Março de 2018, a administração actual dos EUA adoptou uma série de medidas unilaterais e proteccionistas no comércio com a China. Essas medidas restritivas comerciais não são boas para China nem para os EUA, e são ainda piores para o restante do mundo.

As medidas tarifárias norte-americanas levaram a um contínuo declínio no volume de exportação da China para os EUA em 2019. Como a China tem de impor tarifas como contramedida aos aumentos tarifários dos EUA, as exportações norte-americanas para a China também caíram, já por oito meses consecutivos. A incerteza trazida pela fricção económica e comercial EUA-China tornou as empresas de ambos os países mais hesitantes em investir. Além disso, as medidas tarifárias não impulsionaram o crescimento económico americano. Em vez disso, aumentaram significativamente os custos de produção das empresas norte-americanas e preços domésticos, exercendo um impacto negativo sobre o crescimento económico e a vida do povo dos EUA. De acordo com um relatório de pesquisa, se os EUA sobretaxarem todas as exportações chinesas por 25%, o PIB dos EUA diminuirá 1,01%, reduzindo cumulativamente US$ 1 bilião nos próximos dez anos. As medidas tarifárias também prejudicaram severamente as exportações dos EUA para a China. Em 2018, quando o atrito económico e comercial piorava, as exportações de 34 estados norte-americanos para a China sofreram um queda, sendo os estados das regiões agrícolas do centro-oeste os mais afectados.

As medidas proteccionistas adoptadas pelos EUA constituem uma violação grave às mais fundamentais e centrais regras da Organização Mundial do Comércio, incluindo o tratamento de nação mais favorecida e obrigações tarifárias, e expuseram o sistema de comércio multilateral e a ordem de comércio internacional ao perigo. As acções norte-americanas interrompem as cadeias industriais e de fornecimento globais, perturbam a confiança do mercado, reduzem a recuperação económica mundial e prejudicam o desenvolvimento das empresas e o bem-estar das pessoas em todos os países. A OMC cortou a sua previsão para o crescimento comercial global neste ano de 3,7% para 2,6%, enquanto o Fundo Monetário Internacional reduziu a sua estimativa para 3,3%, dizendo que a fricção económica e comercial poderia deprimir ainda mais o crescimento económico global.

*Comentador político

5 Jun 2019

Comércio | Pequim promete retaliar caso EUA subam taxas sobre bens do país

[dropcap]A[/dropcap] tensão entre as duas maiores economias mundiais continua a aumentar. O vice-primeiro-ministro chinês, Liu He, reúne hoje em Washington com o representante do Comércio dos EUA, Robert Lighthizer, e o Secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, num clima de ameaças mútuas que põe em causa a estabilidade da economia global

A China disse ontem que vai retaliar caso Washington suba as taxas alfandegárias sobre bens importados da China, na véspera de uma ronda negocial decisiva para pôr fim à guerra comercial entre os dois países.

O ministério chinês do Comércio informou que será forçado a tomar as “contramedidas necessárias”, caso o Presidente norte-americano, Donald Trump, cumpra com a sua promessa e aumente, de 10 por cento para 25 por cento, as taxas alfandegárias sobre o equivalente a 200 mil milhões de dólares de bens importados do país asiático.

As autoridades chinesas, que não detalharam quais serão as medidas retaliatórias, ressalvaram que o escalar das disputas “não é do interesse” dos dois países ou do mundo.

As principais praças financeiras globais estão esta semana em turbulência, após Trump ter anunciado um aumento das taxas, já a partir desta sexta-feira.

O Presidente norte-americano considerou que as negociações com Pequim avançam a um ritmo “muito lento” e acusou a China de tentar “recuar” em compromissos anteriores.

“A China lamenta profundamente, mas se os EUA implementarem taxas alfandegárias, a China terá que tomar as contramedidas necessárias”, informou, em comunicado, o ministério.

Os governos das duas maiores economias do mundo impuseram já taxas alfandegárias sobre centenas de milhares de milhões de dólares das exportações de cada um.

Alta tensão

As alfândegas chinesas abrandaram já os despachos aduaneiros para produtos norte-americanos, enquanto os reguladores têm atrasado a emissão de licenças para empresas dos EUA operarem no seu sector financeiro.

Pequim tem uma série de outras armas, incluindo um aumento dos impostos ou investigações anti-monopólio, que podem dificultar as operações das empresas norte-americanas no seu mercado.

A promessa de retaliação da China aumenta ainda mais a tensão, na véspera de o vice-primeiro-ministro chinês, Liu He, reunir, em Washington, com o Representante do Comércio dos EUA, Robert Lighthizer, e o Secretário do Tesouro, Steven Mnuchin.

Temores globais

O Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou ontem que uma guerra comercial prolongada entre os EUA e a China será “uma ameaça ao crescimento da economia global”. No dia em que uma comitiva chinesa se encontra em Washington para mais uma ronda de negociações com o governo americano para tentar encontrar uma solução para o impasse comercial entre os dois países, o FMI chamou a atenção para os efeitos nefastos de um prolongamento da crise.

“Esperamos que haja uma solução rápida para estas negociações”, disse o porta-voz do FMI, Gerry Rice, acrescentando: “Todos perdemos em caso de conflito prolongado”. O FMI tem alertado, há vários meses, para as consequências de um impasse de longo prazo.

10 Mai 2019

EUA vão aumentar para 25% as taxas aduaneiras de diversos produtos comerciais chineses

[dropcap]O[/dropcap]s EUA vão aumentar na sexta-feira de 10% para 25% as taxas aduaneiras sobre o equivalente a 200 mil milhões de dólares de bens chineses importados, anunciou ontem o Presidente Donald Trump.

Esta sanção, também justificada pelo “avanço demasiado lento” das negociações comercias entre os dois países, surge quando uma importante delegação de responsáveis chineses é esperada em Washington na quarta-feira para conversações, até agora apresentadas como finais e que poderiam resultar num acordo comercial.

“Durante 10 meses a China pagou taxas alfandegárias aos Estados Unidos de 25% sobre 50 mil milhões de dólares de [bens] tecnológicos, e 10% sobre 200 mil milhões de dólares de outros bens”, escreveu o Presidente norte-americano no Twitter. “Os 10% vão ser aumentados para 25% na sexta-feira”, acrescentou.

No início de Dezembro o Presidente norte-americano decidiu suspender o aumento destas taxas devido ao recomeço das negociações comerciais que até esta semana estavam a ser apresentadas como “frutuosas” e com fortes hipóteses de resultarem num acordo.

“O acordo comercial com a China avança, mas demasiado lentamente, e quando eles tentam renegociar. Não!”, referiu Trump.

O Presidente republicano pretende reduzir o colossal défice comercial dos Estados Unidos com a China. Para além de uma maior abertura do mercado chinês aos produtos norte-americanos, Trump também exige de Pequim mudanças estruturais que terminem com a transferência forçada de tecnologia norte-americana, roubo de propriedade intelectual ou as subvenções às empresas estatais.

O líder da Casa Branca, que desencadeou a guerra comercial através de taxas aduaneiras punitivas, também ameaça taxar a totalidade das importações chinesas, avaliadas em 539,5 mil milhões de dólares em 2018.

6 Mai 2019

A América tem de enfrentar a realidade da China

P.H. Yu, académico da Universidade de Pequim

 

[dropcap]O[/dropcap] acordo de Buenos Aires no passado mês de Dezembro entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o seu homólogo chinês, Xi Jinping, levou muitos a assumir que a guerra comercial entre os dois países não tardaria a terminar. Embora esse optimismo seja descabido, também são descabidos os receios de um colapso económico global causado por uma ruptura nas relações EUA-China.

Não existem dúvidas de que continuarão a existir escaramuças bilaterais frequentes, como se viu com a detenção, no início de Dezembro, do director financeiro da Huawei, Meng Wanzhou. Mas apesar de todas as rivalidades económicas e divergências políticas entre os Estados Unidos e a China, é improvável que se chegue a um resultado catastrófico, desde que os EUA enfrentem a realidade de três maneiras.

Para começar, os legisladores dos EUA precisam de aceitar a “nova normalidade” de uma China que ostenta o maior PIB do mundo (em termos de paridade do poder de compra). Tal como os EUA foram a maior economia do século XX, a China sê-lo-á no século XXI. Mas, independentemente do cenário, a América continuará certamente a ser uma potência económica importante.

Segundo, os EUA devem reconhecer a necessidade de reformas económicas estruturantes a nível nacional, tal como a China fez há quatro décadas, embora com um objectivo e uma trajectória muito diferentes. Em vez de culpar o seu enorme défice comercial nas práticas comerciais supostamente desleais de outros países, os EUA deveriam considerar a insustentabilidade das suas próprias políticas económicas, a deterioração da sua capacidade industrial, e o investimento insuficiente em infra-estruturas, educação e formação.

Se os legisladores dos EUA continuarem concentrados em agradar a Wall Street, ao grande capital, e aos economistas neoliberais, o desempenho económico do país deteriorar-se-á e as continuarão a aumentar as desigualdades em termos de riqueza entre os americanos. Isso, por sua vez, elevará os riscos de maior instabilidade social, extremismo e populismo. As elites dos EUA não podem dar-se ao luxo de ignorar sinais de aviso evidentes, do mesmo modo que negligenciaram a bolha das hipotecas de alto risco que desencadeou a crise financeira de 2008.

Finalmente, a América precisa de compreender melhor a perspectiva e as intenções geopolíticas da China – uma área onde as avaliações incorrectas podem levar a conflitos desnecessários. Por exemplo, embora as teorias ocidentais das relações internacionais prevejam que o poderio económico da China possa transformá-la numa potência global dominante, a história do país sugere algo diferente.

A China nunca procurou a expansão geográfica agressiva, mesmo quando tinha poder para fazê-lo. Isto é coerente com um importante ensinamento clássico dos imperadores chineses conhecido como a Doutrina do Meio, que afirma que as tentativas de alcançar o domínio do mundo levam sempre à destruição nacional e trazem infelicidade ao povo.

Além disso, a China foi severamente afectada pelo imperialismo e colonialismo de outras potências num passado não muito longínquo, e não deseja repetir a experiência. De modo significativo, a China tem-se abstido de interferir na política interna de outros países durante o recente desenvolvimento das suas capacidades defensivas.

Muitos líderes globais, e especialmente Trump e o presidente russo, Vladimir Putin, parecem crer que o poderio militar e a coacção estratégica sejam os melhores modos de medir a competitividade e de garantir a segurança. Mas o domínio militar e político assente na força ou na intimidação deixaram de ser cruciais, ou mesmo relevantes, nas relações internacionais.

O que a China pretende é um sistema justo e global, em que todos possam participar de modo equitativo, e que encoraje a cooperação económica. Pretende continuar a melhorar o bem-estar do seu povo, e acredita que a paz mundial é mais bem mantida quando todos os países são economicamente bem-sucedidos. E evidentemente, sendo uma das maiores economias, a própria China beneficia grandemente com um mundo em paz.

Mas os líderes da China enfrentam os seus próprios graves desafios para a manutenção da expansão económica do país. Embora as empresas nacionais sejam competitivas em alguns sectores industriais tradicionais, e tenham potencial de crescimento em muitos outros, a China depende grandemente de importações de mercadorias sofisticadas – por exemplo, produtos médicos – do Ocidente. E a proibição dos EUA no ano passado, de venda de chips semicondutores avançados à empresa de telecomunicações ZTE, depois de esta ter violado os regulamentos de exportação dos EUA, demonstrou claramente a inadequação tecnológica da China. Além disso, a China tem de criar empregos suficientes para a maior população activa do mundo, que inclui oito milhões de novos licenciados por ano, ao mesmo tempo que tem de gerir os encargos de uma sociedade em envelhecimento.

Nestes tempos conturbados, uma batalha ideológica sobre a superioridade dos modelos de desenvolvimento económico não beneficiaria ninguém. Sendo as duas maiores economias do mundo, os EUA e a China têm uma responsabilidade especial na gestão da transição pacífica para uma nova e multipolar ordem internacional. Conseguirão fazê-lo do modo mais eficaz, se colaborarem e gerirem conjuntamente os desafios que inevitavelmente surgirão.

Para os EUA, isto significa compreenderem que tentar derrotar ou confinar economicamente a China não resolverá os seus problemas internos. Os interesses nacionais da América seriam muito mais bem servidos se enfrentassem a realidade e acolhessem a ascensão da China.

© Project Syndicate

21 Fev 2019

Prolongado diálogo sobre questões comerciais entre EUA e China

[dropcap]A[/dropcap]s negociações entre representantes dos Estados Unidos e da China, que visam pôr fim à guerra comercial entre os dois países, vão prolongar por mais um dia do que o previsto, informou hoje a imprensa oficial chinesa.

As conversas de alto nível prosseguem hoje, em Pequim, depois de na terça-feira se terem prolongado até ao final da noite. Analistas citados pelo Global Times, jornal oficial do Partido Comunista Chinês, consideraram que a extensão reflecte a vontade de ambas as partes de chegarem a um acordo.

Trata-se do primeiro frente-a-frente desde que, no início de Dezembro, os Presidentes dos EUA e da China, Donald Trump e Xi Jinping, respectivamente, concordaram uma trégua de 90 dias, para encontrar uma solução.

Os dois países aumentaram já as taxas alfandegárias sobre centenas de milhões de dólares de produtos de cada um, numa disputa suscitada pela política industrial chinesa. Na terça-feira, Trump afirmou na rede social Twitter que as negociações com Pequim estão a correr “muito bem”.

O vice-representante do Comércio, Jeffrey Gerrish, lidera a delegação norte-americana, que inclui ainda funcionários dos sectores de energia, agricultura e comércio, e do Departamento de Estado e do Tesouro.

Pequim não informou quem lidera a delegação, mas sabe-se que participou numa das reuniões o vice-primeiro-ministro chinês encarregado da política económica, Liu He, num nível de representação mais alto do que o esperado para a primeira ronda de negociações.

De acordo com os termos acordados entre Trump e Xi, Pequim e Washington devem chegar a um acordo definitivo antes do início de Março. Trump suspendeu temporariamente o aumento das taxas alfandegárias, de 10% para 25%, sobre um total de 200 mil milhões de dólares de bens importados da China.

Pequim reduziu as taxas sobre veículos importados do EUA e retomou as importações de soja norte-americana, além de ter apresentado um projecto de lei que visa proibir a transferência forçada de tecnologia.

Trump exigiu que a China ponha fim a subsídios estatais para certas indústrias estratégicas, à medida que a liderança chinesa tenta transformar as firmas do país em importantes actores em actividades de alto valor agregado, como inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros eléctricos, ameaçando o domínio norte-americano naquelas áreas.

Mas o Partido Comunista Chinês está relutante em abdicar dos seus planos, que considera cruciais para elevar o estatuto global do país.

9 Jan 2019

China ameaça Estados Unidos com tarifas sobre produtos que rondam 60 mil milhões 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China disse estar pronta para aplicar tarifas de 60 mil milhões de dólares aos Estados Unidos, caso aquele país avance com taxas alfandegárias aos produtos chineses.

Em causa estão 5.207 produtos norte-americanos – como café, mel e químicos industriais – aos quais serão aplicadas tarifas que rondam os 60 mil milhões de dólares, de acordo com um comunicado hoje divulgado pelo Ministério das Finanças chinês.

Esta é a reposta da República Popular da China à eventual imposição de taxas sobre produtos chineses, num valor que pode alcançar os 200 mil milhões de dólares.

Acusando a presidência norte-americana de Donald Trump de prejudicar a economia mundial com tais tarifas, a tutela das Finanças chinesa nota que “a China é forçada a apresentar contramedidas”.

O Ministério das Finanças chinês admite, por isso, “tarifas de retaliação de 25%, 20%, 10% ou 5%”, que avançam caso a administração dos Estados Unidos “persista em colocar as suas ideias em prática”.

Na quarta-feira, o Governo de Pequim vincou que as tentativas de chantagem e pressão dos Estados Unidos sobre a aplicação de taxas alfandegárias aos produtos chineses nunca “vão funcionar”.

“A chantagem e a pressão dos Estados Unidos nunca vão funcionar com a China e se foram tomadas medidas que piorem a situação nós iremos aplicar contramedidas para que possamos manter os nossos direitos e interesses”, afirmou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China, Geng Shuang.

“Pensamos que os conflitos comerciais devem resolver-se com conversações e negociações. Os nossos esforços e a nossa sinceridade estão à vista de todos”, acrescentou.

Fontes próximas da administração norte-americana indicaram na terça-feira que os Estados Unidos pretendem estabelecer taxas alfandegárias de 25% sobre as exportações chinesas, o que pode vir a totalizar um valor correspondente aos 200 mil milhões de dólares.

“O diálogo deveria ter como base a confiança mútua e a igualdade, estabelecendo regras e credibilidade porque as ameaças unilaterais e a pressão são contraproducentes”, frisou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Pequim.

5 Ago 2018

Comércio | Pequim considera taxas de Washington inaceitáveis e vai retaliar

A China considerou ontem “totalmente inaceitável” a decisão dos Estados Unidos de imporem novas taxas alfandegárias sobre produtos chineses e anunciou que adoptará as “contramedidas necessárias”, confirmando uma guerra comercial entre os dois países

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s relações entre as duas maiores potências económicas mundiais continuam a ferra-e-fogo. Depois do anúncio de imposição de novas taxas sobre produtos chineses, Pequim respondeu na mesma moeda. “A atitude dos Estados Unidos prejudica a China, o mundo e a eles próprios. Esta conduta irracional não pode ter apoio”, afirmou um porta-voz do Ministério do Comércio chinês, em comunicado.

Pequim está “chocado” com a decisão do Presidente norte-americano, Donald Trump, de impor novas taxas, de 10 por cento, sobre um total de 200 mil milhões de dólares (170 mil milhões de euros) de bens importados da China.

A China vai denunciar a “conduta unilateral” dos EUA na Organização Mundial do Comércio, indicou o mesmo comunicado, acrescentando, sem avançar pormenores, que o Governo chinês, em defesa dos interesses essenciais do país, “terá que tomar as contramedidas necessárias”.

Milhões e milhões

O anúncio de Washington surgiu poucos dias depois da entrada em vigor nos Estados Unidos de taxas alfandegárias, de 25 por cento, sobre um total de 34 mil milhões de dólares (30 mil milhões de euros) de bens importados da China.

Esta foi a primeira de uma série de medidas retaliatórias de Washington contra alegadas “tácticas predatórias” de Pequim, que visam o desenvolvimento do sector tecnológico chinês.

A administração norte-americana acusou a China de roubo de tecnologia e de exigir às empresas estrangeiras que transfiram ‘know how’ em troca de acesso ao mercado. Trump quer ainda uma balança comercial mais equilibrada com o país asiático. Pequim retaliou ao adoptar taxas alfandegárias sobre o mesmo valor de importações oriundas dos EUA, sobretudo produtos agrícolas.

12 Jul 2018