Hoje Macau EventosMorreu o escritor chileno autor d’”O carteiro de Pablo Neruda” O escritor chileno Antonio Skármeta, vencedor de três prémios Planeta, autor da obra que viria a ser conhecida por “O carteiro de Pablo Neruda”, morreu ontem, aos 83 anos, informou a Universidade do Chile, à qual estava ligado. Skármeta é conhecido do grande público pelas adaptações cinematográficas das suas obras e, em particular, de “O carteiro de Pablo Neruda”, uma produção de 1994, dirigida por Michael Radford. “A nossa comunidade universitária despede-se com pesar de Antonio Skármeta Vranicic, escritor, Prémio Nacional de Literatura 2014, licenciado em Filosofia e académico pela Universidade do Chile em múltiplas etapas da sua inspiradora carreira, que promoveu a leitura e o amor pelos livros”, anunciou a universidade. Um dos primeiros a lamentar a sua perda e a destacar o seu contributo para a literatura chilena, em particular, e para a literatura latino-americana, em geral, foi o Presidente da República do Chile, Gabriel Boric, numa mensagem nas redes sociais. “Obrigado, professor, pela vida vivida. Pelos contos, pelos romances e pelo teatro. Pelo empenho político. Pelo ‘espetáculo’ de livros que alargaram as fronteiras da literatura. Por sonhar que ardia a neve no Chile que tanto lhe doía”, afirma o Presidente, referindo-se a um dos seus primeiros livros, “Soñé que la nieve ardía” (1975). Da Croácia para o Chile De origens croatas, Antonio Skármeta Vranicic nasceu na cidade de Antofagasta, no norte do Chile, em Novembro de 1940, e é um dos mais criativos e influentes intelectuais do país, um contador de histórias nato com grande talento para condensar a vida e a filosofia dentro da história, o formato que lhe era mais caro, afirma a agência noticiosa espanhola Efe. Licenciado em Filosofia e Educação pela Universidade do Chile, cresceu como escritor sob a influência do pensador espanhol Francisco Soler Grima, discípulo de Julián Marías e de José Ortega y Gasset, sobre quem escreveu a sua tese de doutoramento em 1963, “Ortega y Gasset, linguagem, gesto e silêncio”, prossegue a Efe referindo que Skármeta era amante do pensamento de Jean-Paul Sartre, Albert Camus e Martin Heidegger. Em 1964, ganhou uma bolsa ‘Fulbright’ e viajou para a Universidade de Columbia, em Nova Iorque, onde escreveu uma segunda tese, desta vez sobre a narrativa de Julio Cortazar. Em 1969, recebeu, em Havana, o Prémio Casa das Américas pelo livro “Desnudo en el tejado”. A fama internacional chegou-lhe através dos seus romances e, em particular, através da adaptação cinematográfica do seu livro “Ardiente paciência” (1983), do qual saíram dois filmes: um com o mesmo título e outro como “O carteiro de Pablo Neruda”, protagonizado por Massimo Troisi. Como realizador de cinema, Antonio Skármeta rodou vários documentários e longas-metragens. Intelectual de esquerda, Skármeta foi obrigado a abandonar o Chile após o golpe militar liderado pelo general Augusto Pinochet, em 1973, que transformou o país numa das mais sangrentas ditaduras da América Latina. Depois de passar pela Argentina e outros países, em 1981 instalou-se na Alemanha, onde escreveu a história do carteiro de Neruda: primeiro para uma rádio alemã e, depois, como guião de cinema. A obra teve um enorme sucesso e catapultou-o para a fama, foi traduzida para trinta línguas, adaptada ao cinema, teatro, ópera e rádio e, como o próprio autor afirmou numa entrevista, “existem mais de uma centena de versões no mundo”. Skármeta regressou ao Chile em 1989, no ano do fim da ditadura, e aí continuou como professor universitário, académico e, pelo meio, como diplomata na Alemanha.
Andreia Sofia Silva EntrevistaJorge Prado, músico chileno: “A nossa democracia é imperfeita” Era adolescente quando o referendo no Chile deu o “Não” à ditadura de Pinochet, instaurada com o golpe de Estado de 1973. Meses depois, a 25 de Abril de 1974, Portugal ficava livre desse regime. Na luta dos dois países foram muitas as influências. Hoje, Jorge Prado considera-se um precursor da guitarra portuguesa e do fado no Chile, tendo musicado para fado poemas de Gabriela Mistral Optou pela música em vez do futebol. O que havia na música que lhe despertou mais a atenção? Tinha de ter muita disciplina para fazer as duas actividades, até pelo momento que vivíamos no Chile, os anos 80. Aí a música era algo distinto, e gostava da música que os chilenos faziam no exílio. Tinham uma mensagem, e aí comecei a explorar os instrumentos que tocavam. O resultado de fazer música era distinto do resultado de jogar futebol. Tinha mais prazer a fazer música. Claro. Se a minha decisão tivesse passado por ser jogador do futebol, depois dos 35 anos não poderia continuar a jogar. Provavelmente teria muito dinheiro. Nunca me arrependi da decisão. A sua decisão de se tornar músico profissional foi muito influenciada pela situação política no Chile. Viveu o período do referendo para acabar com a ditadura de Pinochet. Foi fundamental essa politização? Claro. Antes disso eu ouvia música inglesa pop, gostava muito de grupos como os Queen, por exemplo. Gostava de ouvir, mas não de tocar. E depois quando conheci a canção de intervenção, queria cantar e tocar. Foi assim que decidi fazer esse caminho. Encontra semelhanças entre as canções de protesto portuguesas e chilenas? Há muitas coisas em comum. Muitos músicos e grupos chilenos gravaram a “Grândola, Vila Morena” depois de 1974. Depois tive a sorte de os conhecer quando regressaram ao Chile do exílio. Eram os meus super-heróis e agora são meus amigos e colegas. Tenho um grande amor por Portugal e conhecíamos José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, José Mário Branco. Os cantores portugueses de protesto tinham muita solidariedade com o que se passava no Chile. O que é que uma boa canção de intervenção tem de ter? A letra é muito importante e deve ter poesia também, não deve ter só a parte do protesto. Também gosto que tenha metáforas. Se for directa é bom, mas tem de ter sempre algo artístico. Claro que os arranjos também são importantes. Tem de ter lindas melodias. Como foi o início da sua carreira? No momento em que tomei a decisão de ser músico estava ainda na escola e tinha um grupo. Fazíamos música juntos e foi assim que começámos. Vivia em Talca e para estudar música a única possibilidade era ir para Santiago, e eu não queria. Não queria deixar o meu grupo porque tinha fé de que iríamos conseguir fazer coisas importantes. Então fiquei mais um ano em Talca. Estudei durante um semestre algo que não tinha nada a ver com música e depois vim para Santiago para estudar música. Deixei os meus companheiros com muita dor, mas a vida é assim. A minha ideia sempre foi trabalhar em torno dos instrumentos, ser um intérprete. Não sabia era de quê, mas o destino quis que fosse multi-instrumentista. Consegui ser polígamo na música. Começou no tango? Não. A música que fazia na adolescência tinha uma grande ligação à canção de protesto, mas tinha mais raízes da zona do norte do Chile, semelhante ao do sul do Perú e da Bolívia, a chamada música altiplânica, com instrumentos de sopro feitos de bambu, por exemplo. Já em Santiago queria continuar a fazer esse tipo de música e tocava flauta. Comecei por estudar música clássica, mas o caminho não era por aí, queria explorar outras linguagens musicais, e entrei numa escola chamada “ProJazz”. Esse caminho levou-me ao tango, porque não queria tocar jazz, mas sabia que a sua linguagem é importante para toda a música, nomeadamente a improvisação e a harmonia. Depois estudei com dois maestros de jazz em Buenos Aires, no tempo em que a Argentina estava numa crise como está agora. Foi um momento lindo da minha vida. Além de aprender jazz fazia um caminho próprio na composição, gostava muito de escrever música instrumental. Com a linguagem do jazz queria potenciar esse tipo de música e ter um trabalho distinto. Só depois é que comecei no tango. Depois há uma altura em que se apaixona pela cultura e língua portuguesas, tendo vivido um período no país. Em 2008 tive a oportunidade de acompanhar um grande músico chileno, Patrício Castilho, que não voltou do exílio, tendo ficado em França. Fez um concerto em Barcelona nesse ano e tive a sorte de o acompanhar fazendo o que sabia fazer, tocar flauta traversa. Aproveitei para trabalhar como músico de tango na Catalunha, onde estive dois meses. Depois tive um convite de um amigo chileno para ir à Galiza, mas não gostei da Galiza. Não estava a acontecer nada, não estava animado, até que recebi um convite para ir a Guimarães da parte de um guitarrista, e fui. Essa é a magia da minha vida. E aí tudo mudou. Decidi viver em Portugal depois disso. Comecei a pesquisar onde se podia tocar tango e, finalmente, escrevi para Lisboa. Responderam-me que contavam comigo para tocar às sextas e sábados. E fui viver para uma pensão na Praça do Chile. Comecei depois a tocar todas as noites. Isso em 2009. Foi aí que começou a ouvir fado. Sim, e foi amor à primeira vista. Adorava. Terminava de tocar tango e, no Bairro Alto, havia sempre algum lugar onde conseguia ouvir fado. Perguntava a amigos onde podia ouvir fado tradicional. Tango e fado têm algo em comum? A melancolia, por exemplo? Claro. Têm muitas semelhanças, mas como Amália disse uma vez, o tango é uma tristeza de desamor, e o fado é uma tristeza de vida. Ambos têm muita melancolia e são também semelhantes na harmonia. Como descreve o português e a sua cultura? O português é muito alegre, mas claro que tem momentos de melancolia. Conheci a Europa e acho que os portugueses são os mais sul-americanos de todos. Culturalmente, Chile e Portugal são países de poetas. Quais os seus poetas portugueses favoritos? Além de Pessoa, conheci e gosto muito da poesia de Florbela Espanca. Penso que é uma poesia parecida com a de Gabriela Mistral, que também estava atrás de um homem importante e não era reconhecida. As temáticas da Florbela e Gabriela são ambas profundas e intensas. No Chile, até aos dias de hoje, existe uma grande dívida para com Gabriela Mistral e há quem defenda que Florbela Espanca deveria ter maior reconhecimento no Chile. A ligação entre as duas poesias poderia ser um ponto de partida para esse maior reconhecimento. Musicou poemas de Gabriela Mistral com fado. Como foi esse projecto? Foi algo muito intenso e lindo. No Chile só os estudiosos conhecem bem a história de Gabriela Mistral, sobretudo como diplomata. Conheci a história dela em 2009, tendo-me deparado com a frase dela de que em Portugal conheceu a felicidade. Também encontrei. Soube que ela também não gostou de Espanha, saiu de lá de forma meio escandalosa devido a declarações que fez sobre os espanhóis. Em 2009 voltei ao Chile, até porque em Portugal a situação não estava boa. A minha dúvida era se comprava ou não uma guitarra portuguesa. Pensei que no Chile ninguém conhecia o fado, mas cheguei cá e todos me diziam que o fado era lindo e que o devia tocar. Comecei a conhecer a comunidade portuguesa em Santiago, pequena, e também a tocar guitarra portuguesa. Comecei a aprender sozinho. Em 2014 dei início ao projecto “Fado al sur del mundo”, com quatro músicos chilenos de estilos distintos. Depois surgiu a oportunidade de desenvolver um projecto para o programa de actividades do Centro Cultural Gabriela Mistral e pensei em fazer algo com o meu grupo de fado, mas relacionado com a poesia melancólica de Gabriela e Portugal. Pensei que a sua poesia poderia ficar bem com o fado. Foi então aprovada a ideia de um espectáculo de fado com poemas de Gabriela Mistral. Mas a pandemia trocou-lhe as voltas. E não só. O concerto foi cancelado devido à agitação social que aconteceu no Chile em 2019. Houve recolher obrigatório, os protestos eram muito violentos. O que espoletou os protestos foi o aumento do preço do metro, mas depois as manifestações passaram a ser sobre todo o sistema. O Chile é um país muito desigual, com um péssimo sistema de saúde, em que quem não tem dinheiro não tem tratamento. Era um momento histórico. A polícia foi muito repressiva. Foi nessa altura que o projecto ganhou forma, mas o concerto teve poucas pessoas. Queria continuar quando as coisas acalmassem, e aí chegou a pandemia. Não havia trabalho e pensei em dar continuidade ao projecto, porque conhecia muitos músicos. Falei com o meu grande maestro da guitarra portuguesa, José Manuel Neto, sobre a possibilidade de gravar um disco. Concorri a um concurso ao Ministério da Cultura do Chile e ganhei, mas o financiamento era muito limitado para o orçamento. Aí falei com a Embaixada de Portugal no Chile e consegui o apoio para gravar “Saudades de Gabriela – Mistral y el Fado”. Sabia que se falasse com os melhores músicos portugueses o resultado seria espectacular. Considera que é um dos grandes dinamizadores do fado no Chile? Acho que sim. Quando tenho de fazer algum comentário sobre mim digo que sou o precursor do fado no Chile, porque dez anos depois de ter começado não há mais ninguém que toque guitarra portuguesa. Sinto da parte da comunidade portuguesa um grande respeito porque sabem que sou um chileno que tem amor pela sua cultura e gentes. Os artistas chilenos continuam a trabalhar muito em torno do passado político do país e da ditadura. Sente que não foram feitas as pazes com esse passado? Claro. São 50 anos. Penso que nunca haverá uma resolução. Os filmes têm sempre a temática do golpe de Estado. É como uma ferida aberta. Penso que isso acontece porque não tivemos justiça. O ditador [Augusto Pinochet] não cumpriu uma pena, ficou em casa até ao dia da sua morte. O que impede que consigamos virar a página é o facto de continuarmos a ter um sistema económico deixado pela ditadura. Se isso não mudar é difícil, porque a desigualdade é o centro das injustiças. Hoje temos pessoas novas de direita que dizem que Pinochet foi importante. Viveu o referendo que deu a vitória ao “Não”. Recorde-me esse momento. Parecia um filme. Tínhamos muita fé de que o “Não” pudesse ganhar. Tinha 14 anos, tinha já muita consciência do que significava viver em ditadura, e o que poderia significar voltar à democracia. Nasci um ano depois do golpe de Estado e não tinha nenhuma experiência de vida em democracia. Nesse dia fui jogar futebol e voltei depois a casa da minha mãe, sabendo depois o resultado na rádio, que Pinochet tinha sido derrotado, e fiquei muito feliz. A nossa democracia é muito imperfeita, por causa da desigualdade social e injustiça política, mas para mim esse período [revolucionário, associado à ditadura] acabou. Os chilenos viram acontecer à distância a revolução em Portugal a 25 de Abril de 1974. Houve sempre uma influência desse momento na luta chilena. Sim. Falava com a minha mãe outro dia porque nasci uma semana depois da Revolução dos Cravos, e perguntei-lhe o que se falava cá sobre isso. Não vivíamos em Santiago e as informações eram poucas. Em Portugal criou-se o grupo musical Brigada Victor Jara, por exemplo. Sim, há essa influência. Quase na mesma altura em que Portugal acabou com a sua ditadura o Chile começou a sua.
Hoje Macau Grande PlanoChile | Milhares de mulheres passam a noite em vigília Cerca de 12 mil mulheres, vestidas de preto, com velas nas mãos, fizeram uma vigília, numa simbólica protecção do Palácio La Moneda, bombardeada há 50 anos, durante o golpe de Estado de Pinochet. “Solidarizamo-nos com as pessoas executadas, desaparecidas, torturadas e exiladas, até hoje sem justiça. O movimento de mulheres foi muito importante contra a ditadura e agora lidera a exigência de justiça contra a impunidade dos delitos cometidos durante a ditadura”, indica à Lusa Lídia Massardo, de 57 anos. Sob o lema “Nunca Mais”, uma maré feminina cercou o Palácio La Moneda, a sede do Governo do Chile, bombardeada a mando do ditador Augusto Pinochet, num grau de destruição que estarreceu o mundo. Dentro do Palácio, o Presidente socialista Salvador Allende, democraticamente eleito, preferiu dar um tiro na cabeça com a espingarda que lhe tinha sido oferecida pelo líder cubano Fidel Castro, do que render-se. A manifestação, que simbolicamente visa proteger a democracia, realizou-se em silêncio, quebrado de vez em quando por palavras de ordem emocionadas. “As mulheres foram muito prejudicadas – foram mães, esposas e filhas de presos, desaparecidos e mortos pela ditadura. Ocupamos um papel fundamental na família, núcleo fundamental da sociedade e sobre cada uma de nós, houve um peso tremendo de dor”, desabafa Lidia. Os milhares de velas femininas visavam também “iluminar” o caminho dos que se foram e pedir que a Justiça abandone a cegueira. “Cresci em democracia, mas no colégio nunca nos ensinaram correctamente o que aconteceu. Até há pouco tempo, não se falava de ‘golpe militar’, mas de ‘pronunciamento militar’. Para algumas famílias, o assunto era tabu. Crescemos com o costume de que, à mesa, não se falava de política nem de religião. Só agora a verdade começa a surgir com mais naturalidade”, explica à Lusa Melissa Leyton, de 33 anos. Segundo esta manifestante, havia medo e censura durante a democracia e o plano elaborado por Pinochet funcionou perfeitamente e ninguém pagou pelo que fez. Chamas acesas Augusto Pinochet deixou o governo em 1990, ao ser derrotado num plebiscito em 1988, mas não perdeu o poder. Manteve-se como chefe do Exército, um cargo com autonomia dos demais poderes da República e depois tornou-se senador vitalício, cargo criado por ele para manter o poder e a impunidade. Morreu em 2006 sem ser condenado. “E é por isso que ainda está tudo muito vivo, porque 50 anos depois não há justiça. Todos nós procuraremos pelos nossos parentes desaparecidos até o último dos nossos dias. Isso é vital. Se quisermos avançar, tem de haver justiça. Para se perdoar, é preciso a verdade, caso contrário, isto vai-se arrastar eternamente”, diz Melissa. As pequenas chamas das velas também representam essa esperança por encontrar os 1.162 desaparecidos que ainda não foram encontrados. A 21 de Agosto, o supremo tribunal condenou três agentes da antiga Direção de Inteligência Nacional (DINA), a polícia secreta de Pinochet, por aplicarem torturas de violência sexual num centro clandestino de prisão, tortura e morte conhecido como “Venda sexy”. Segundo o Ministério da Mulher, 3.399 mulheres declararam ter sofrido violência sexual durante torturas cometidas durante a ditadura. A deputada Gloria Naveillán, do partido Social Cristão, classificou as denúncias de abuso sexual como um “mito urbano”. “É muito difícil avançar como sociedade com líderes deste tipo. É uma perversão, uma negação. Essas mulheres foram violadas e abusadas sexualmente. Sofreram violência sistemática mas, por serem mulheres, não podiam falar”, indigna-se Melissa. Em 17 anos, o regime de Pinochet deixou um saldo de 38.254 mil torturados e de 3.216 mortos.
João Romão VozesAs veias sempre abertas na América Latina [dropcap]V[/dropcap]em de longe a tradição histórica da violência sobre a América, a das comunidades indígenas “descobertas”, exploradas, escravizadas, desprovidas dos seus recursos, instituições e até línguas, culturas, crenças e religiões, que ainda assim foram preservando ao longo de mais de 500 anos com mais barbárie que cooperação. Disso tratou Galeano em livro de grande brutalidade e com estilo no qual o próprio autor deixou de se rever – mas que não deixa de retratar com precisão suficiente os processos de dominação do continente americano pelos poderes europeus que desse saque longo e sistemático acumularam o capital necessária para o que viria depois: a Revolução Industrial e os processos de especialização e divisão internacional do trabalho, da produção e dos mercados, com gradual mas persistente substituição do controle político colonial pelo controle económico pós-colonial. Essa herança do colonialismo europeu sobre a América Latina justificaria mais tarde a Doutrina Monroe, a partir de 1823 adoptada pelos Estados Unidos. Já a maior parte dos territórios da América Latina tinha recuperado a independência quando os EUA decretaram o seu direito a encarar qualquer ameaça ao continente como uma ameaça ao seu próprio país. Esta doutrina havia de prevalecer até ao século XX, abrindo caminho a diferentes tipos de intervenção política e militar, que em 1904 o Presidente Roosevelt viria a definir como o legítimo direito ao exercício de um “poder policial internacional na região”. E foram muitas e de grande dimensão as intervenções dos EUA no restante continente americano. Começa ainda no século XIX, com a invasão do México em 1847, da qual resultaria a anexação de quase metade do que era o território mexicano (correspondendo hoje aos estados da magnífica e rica Califórnia, Nevada, Utah, a maior parte do Arizona, e ainda partes do Novo México, Colorado e Wyoming). Não havia muro, na altura. Já no princípio do Século XX (1903), seria através de negociações que os EUA conseguiam assegurar o controle do Canal do Panamá, numa das mais importantes rotas comerciais do mundo – depois de apoiarem a independência do país em relação à Colômbia – e o controle militar da ilha de Cuba, com a instalação da célebre base de Guantanamo. Com a justificação da Guerra Fria e do controle do comunismo – e efectiva defesa de interesses económicos e políticos – as intervenções haviam de se generalizar, incluindo frequentemente o apoio explícito a poderes ditatoriais. O golpe de Estado na Guatemala apoiado pelos EUA em 1954 levaria o país a 40 anos de Guerra Civil. 10 anos depois, já com Kennedy como Presidente, viria o apoio ao golpe no Brasil. Em 1973, o golpe que colocou Pinochet no poder no Chine teve apoio declarado do Presidente Nixon, abrindo caminho à primeira experiência sistemática do neo-liberalismo contemporâneo, com suporte técnico e político da chamada Escola de Chicago e um regime autoritário capaz de impor uma agenda radical de austeridade e privatização generalizada de serviços públicos – ainda hoje causa dos protestos que mobilizam a população chilena a ocupar as ruas. Pouco depois viria o trágico golpe de Estado na Argentina, em 1976, quando Vilela tomou o poder a Isabel Perón, recebendo visitas de Jimmy Carter e Henri Kissinger – não por acaso figuras também muito ativas em Portugal a seguir ao 25 de Abril. Foi o início da chamada “Operação Condor”, com os militares a raptar, assassinar e eliminar qualquer tipo de rasto (incluindo os registos civis) de milhares de dirigentes políticos de oposição. Desse extermínio nasceriam as Mães da Praça de Maio, mulheres transformadas em documentos para testemunhar a existência dos filhos assassinados. A história prolongou-se até quase ao final do século XX, com o financiamento e apoio militar – primeiro Carter e depois Reagan – aos golpes na Nicarágua (1978) e El Salvador (1979), que deixariam os dois países em guerra civil até aos anos 1990. Aqui se notabilizaram os chamados “Esquadrões da Morte”, forças paramilitares que se dedicavam ao assassinato sistemático da população civil. Depois de um período em que massivos movimentos populares conseguiram assumir certa hegemonia e liderança política (o Brasil com Lula e Dilma, o Equador com Correa, a Bolívia com Morales, a Venezuela com Chavez e Maduro, o Paraguai com Lugo, o Uruguai com Mujica, a Argentina com os Kirchner, ou mesmo o Chile com Bachelet), trazendo ao continente um período de paz raramente conhecido, parece ser outra vez tempo de mudança de ciclo: processos judiciais altamente contestados, generais com ambições totalitárias e líderes políticos com suporte variável dos Estados Unidos – que a história há-de revelar com mais detalhe – voltam a manchar de sangue a agenda política na América Latina: execução de dirigentes e activistas no Brasil; balas de borracha disparadas nos olhos a cegar manifestantes no Chile; agressões organizadas a dirigentes e activistas na Bolívia. Generaliza-se a violência e promove-se, como de costume, a ignorância: líderes evangélicos são promovidos a ministros da educação, difundem o fundamentalismo religioso e limitam pensamentos críticos; há recolhas sistemáticas de livros e até fogueiras de bibliotecas inteiras, como na Bolívia, onde um ex-Vice Presidente de Evo Morales viu arder a sua biblioteca pessoal com 30.000 volumes. As respostas, sabe-se também, não deixam de aparecer, quer nas ruas, quer nas instituições. Até os jogadores da seleção de futebol do Chile se recusam a jogar, em solidariedade com o povo em manifestação quase permanente nas ruas de Santiago. A paz é que parece outra vez distante.
João Romão VozesAinda nas ruas [dropcap]N[/dropcap]ão é costume, mas regresso ao tema que me ocupou na crónica anterior, que para isso estão os tempos: de fracas participações em atos eleitorais vai-se passando com cada vez maior frequência a ações e manifestações de protesto ou reivindicação pública. Falava há 15 dias da Catalunha, onde as iniciativas independentistas se vão tratando como crime e dão origem a longas penas de prisão para quem promove referendos. Também falava de Hong Kong, onde – sabe-se agora – a candidatura às eleições locais de um dos mais destacados dirigentes pró-autonomia não foi aceite. Curiosa – e esclarecedora sobre a fabricação de consensos que se vai operando na imprensa livre contemporânea – é a forma como a maior parte da imprensa trata um caso e outro: na Catalunha criticam-se os raros protestos violentos ou a utilização de máscaras e justifica-se a ação repressiva das polícias; em Hong Kong critica-se a ação repressiva das polícias e justificam-se os ocasionais protestos violentos e a utilização de máscaras. Tem uma vantagem, esta manifesta dualidade de critérios: o obscurantismo contemporâneo é transparente. Num caso e noutro, os conflitos parecem estar para durar, que isto das fronteiras e da integridade das nações tende a ser assunto de discussão demorada, acesa e pouco pacífica. Na realidade, raramente se resolve por vias legais, diplomáticas ou políticas: mostra-nos a larga maioria dos exemplos históricos que tende a prevalecer a força das armas e que quase nunca é suficiente a perseverança dos povos. Não faltam exemplos – nem dessa violência aparentemente necessária nem, mais uma vez, dessas dualidades com que se manufacturam os grandes consensos da sociedade contemporânea – pode ser mesmo muito ténue a fronteira entre ser-se terrorista internacional ou herói da pátria: tudo depende de se estar do lado certo das maiorias consensuais. Ainda assim, registe-se com agrado a persistência do humor e da criatividade na Catalunha: em tempos de pesada criminalização dos dirigentes políticos que praticam atos que põem em causa a integridade e unicidade do estado espanhol, foram largos os milhares de pessoas que se deslocaram aos estabelecimentos competentes para se auto-denunciarem como instigadores do independentismo – um crime, já sabe, de gravidade suprema. Surpreendidos, os tribunais tiveram que cancelar a possibilidade de registar mais auto-denúncias e manifestamente não sabem como tratar do assunto. Há 15 dias era também assunto a magnífica mobilização das comunidades indígenas do Equador, que ocuparam Quito até impôr a rejeição do acordo que o governo se preparava para assinar com o FMI e que, a troco de um generoso mas oneroso empréstimo, impunha a privatização de grande parte dos recursos e setores económicos tidos como estratégicos no país. Na realidade, não é mais que a tradicional cartilha neoliberal que desde os anos 80 se propagou pelo mundo, a partir das violentas experiências da América Latina, onde o empobrecimento generalizado inspirado pela chamada Escola de Chicago e promovido pelo FMI era suportado pela repressão violenta praticada por figuras como o general Allende. Desta vez é mesmo no Chile que as ruas da capital estão massivamente ocupadas por mais de um milhão de pessoas cansadas de 40 anos de saque neoliberal: “aqui nasceu e aqui vai morrer o neoliberalismo”, garantia o poster de uma manifestante, enquanto se celebrava a história de resistência do país com multidões em coro a cantar o direito a viver em paz que há décadas tinha cantado Victor Jara. Sintomática foi também a reivindicação da herança ancestral dos índios mapuche, com os seus símbolos, a sua bandeira e a sua língua pré-latina, o Mapudungun, já falada antes da chegada dos colonizadores. O desenlace é, em todo o caso, pouco claro: o primeiro-ministro demitiu todo o resto do governo e governa com as forças militares, num sintomático regresso ao passado. Entretanto outras ruas foram sendo ocupadas, desta vez no Médio Oriente. Dezenas de mobilizações pacíficas em Beirute, com grupos de pessoas a sentar-se – ou a acampar – para cortar o trânsito, bloquearam as estradas e paralisaram escolas dos vários níveis de ensino, incluindo universidades, e vários tipos de serviços, como os bancários. Houve ataques sobre estas manifestações, aparentemente vindos de grupos historicamente organizados, como o Hezbollah, mas foi sempre vencendo a perseverança dos manifestantes, que incluíam gente de religiões diversas e colocavam na agenda questões económicas e sociais em vez de assuntos religiosos. O primeiro-ministro havia de abdicar em resposta a estes protestos generalizados e está por ver se é só início de uma transformação de larga escala no país. Como no Chile, há décadas de problemas acumulados que viriam à superfície em resultado de medidas aparentemente menores: um ligeiro aumento de preços nos transportes públicos chilenos e a cobrança de chamadas por whatsapp no Líbano. Num caso e noutro, tornaram-se problemas políticos gigantescos e trariam à rua grande parte da população. Muito mais violenta tem sido a repressão sobre os já longos protestos que foram ocorrendo durante todo o mês de Outubro em várias cidades do Iraque, um país destruído pela guerra, com uma população muito jovem e com os horizontes limitados pela escassez de recursos e infraestruturas. A herança das intervenções militares com que a Europa e os EUA supostamente ajudaram a restaurar “democracias”. Neste caso, o regime reagiu com inusitada violência e há mais de 100 pessoas mortas. Nem todas as ruas são espaços de reivindicações pacíficas e de confrontos políticos.
João Luz InternacionalChile | Protestos violentos resultaram em, pelo menos, oito mortos A violência e o caos tomaram conta das ruas chilenas depois do Governo ter anunciado planos de aumento das tarifas do metro. Protestos, pilhagens e incêndios levaram à declaração do estado de emergência e, até agora, à morte de oito pessoas. Apesar do Governo ter voltado atrás na medida, os protestos continuam contra a deterioração das condições de vida e os pobres serviços sociais [dropcap]F[/dropcap]ogos, mortos, pilhagens, destruição e exército nas ruas são os elementos que num fim-de-semana transformaram o Chile num autêntico barril de pólvora. Protestos de grande dimensão espalharam-se pelo país sul-americano depois do anúncio de mais um aumento de um serviço público, resultando numa espiral de violência que resultou em, pelo menos, oito mortos. As manifestações decorrem desde sexta-feira em protesto contra um aumento (entre 800 e 830 pesos, cerca de 1,04 euros) do preço dos bilhetes de metro em Santiago, que possui a rede mais longa (140 quilómetros) e mais moderna da América do Sul, e que transporta diariamente cerca de três milhões de passageiros. No sábado, o Presidente Sebastián Piñera recuou e suspendeu o aumento do preço das viagens de metro. Mas as manifestações e os confrontos prosseguiram, devido à degradação das condições sociais e às desigualdades neste país, onde a saúde e educação estão quase totalmente controlados pelo sector privado. Dezenas de supermercados, veículos e estações de serviço foram saqueados ou incendiados. Os autocarros e as estações de metro registaram danos significativos. Segundo o Governo, 78 estações de metro registam estragos, e algumas foram totalmente destruídas. Os prejuízos no metro foram avaliados em mais de 268 milhões de euros e o regresso à normalidade em certos percursos deverá prolongar-se “por meses”, considerou Louis de Grange, presidente da Companhia nacional de transportes públicos. No aeroporto de Santiago foram cancelados ou reprogramados numerosos voos, também devido às dificuldades dos trabalhadores em garantir meios de transporte. De acordo com a Associated Press, pelo menos duas companhias aéreas cancelaram, ou adiaram voos para a capital, Santiago, afectando mais de 1400 passageiros durante o fim-de-semana, e mais de 5000 pessoas viram-se forçadas a dormir no aeroporto na noite de domingo. Com os transportes públicos parados, Cynthia Cordero disse ao The Guardian que teve de andar 20 quarteirões até chegar à farmácia para comprar fraldas. Quando lá chegou deparou-se com um prédio consumido pelas chamas. “Não podem fazer isto”, disse, esclarecendo de seguida que a população “têm todo o direito de protestar contra os abusos, os aumentos dos preços, as condições más do ensino e as pensões indignas, mas não destruir tudo”. Gritos de revolta Apesar dos focos de contestação virem de vários sectores, a população mais jovem tem sido dos segmentos demográficos mais insatisfeitos. Assim sendo, estudantes apelaram a novas manifestações, através de palavras de ordem como “Fim aos abusos” ou “O Chile levantou-se”, difundidas nas redes sociais. As principais cidades do país tornaram-se em cenário de batalha campal. Manifestantes e a polícia envolveram-se no domingo em confrontos em Santiago do Chile, no terceiro dia dos piores tumultos no país desde há décadas. Os contestatários, de cara coberta com capuzes, envolveram-se em violentos confrontos com polícias na praça Itália, centro da capital, referiu a agência noticiosa AFP. As forças da ordem responderam com gás lacrimogéneo e jactos de água. “El pueblo unido jamás será vencido” (O povo unido jamais será vencido), gritaram os manifestantes, uma palavra de ordem utilizada no decurso do governo de Unidade Popular de Salvador Allende, e retomada após o golpe militar e a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). Após três dias de violências, os centros da capital chilena e de outras grandes cidades, como Valparaíso e Concepción, registavam um cenário de desolação, incluindo autocarros incendiados, lojas destruídas e milhares de pedras pelas ruas. Segundo um balanço das autoridades, foram detidas, pelo menos, 1500 pessoas em todo o país. O ministro do Interior, Andrés Chadwick, anunciou que, até domingo, 62 agentes policiais e 11 civis sofreram ferimentos. O cessar-fogo permanece em vigor em cinco regiões, incluindo a capital Santiago, e foram mobilizados mais de 10.500 polícias e militares, precisou o general Javier Iturriaga del Campo. Cheiro a guerra civil “Estamos em guerra contra um inimigo poderoso e implacável que não respeita nada ou ninguém e que está disposto a usar a violência sem limites, mesmo quando isso significa a perda de vidas humanas, com o único objectivo de causar o máximo de dano possível”, afirmou este domingo Sebastián Piñera. O Presidente disse entender que os cidadãos se manifestem sobre aquilo que os preocupa, mas classificou de “verdadeiros criminosos” os responsáveis pelos incêndios, barricadas e pilhagens, que demonstram “um grau de organização e logística típico de uma organização criminosa”. “Amanhã vamos ter um dia difícil”, disse no domingo Sebastián Piñera, referindo-se a suspensão parcial de muitos serviços públicos, como hospitais, escolas, creches e a rede de transportes públicos de Santiago. Os comentários do Presidente foram proferidos horas depois de se ter reunido com líderes parlamentares e do sistema judicial e prometido “reduzir as excessivas desigualdades, injustiças e abusos que persistem no nosso país”. Importa referir que até ao fecho da edição, ainda era manhã cedo em Santiago. O grau de violência dos distúrbios que estão a abalar o Chile são os piores das últimas décadas. Tanques nas ruas é uma visão aterradora para os chilenos, principalmente para os mais velhos que ainda têm na memória lembranças frescas do trauma de 17 anos de ditadura militar liderada por Pinochet. Caídos nas ruas Um incêndio num supermercado no sul de Santiago do Chile na noite de sábado provocou a morte a três pessoas. “A polícia e os bombeiros encontraram dois corpos queimados e outra pessoa em péssimo estado, tendo sido transferidos para um hospital e infelizmente morreram”, disse a presidente da câmara da Região Metropolitana de Santiago do Chile, Karla Rubilar. As autoridades acrescentaram que os corpos foram encontrados quando o fogo foi extinto no supermercado da comuna de San Bernardo, causado durante a noite deste sábado no meio dos tumultos, incêndios e saques que ocorreram em Santiago do Chile e outras cidades do país. Karla Rubilar esclareceu que não há “informações claras sobre em que circunstâncias” os eventos ocorreram, nem se os mortos faziam parte da multidão que assaltou o estabelecimento ou se eram trabalhadores do supermercado. “Precisamos de mais informações, entendemos que o Ministério Público tem que comandar essa investigação, mas infelizmente temos que informar as pessoas de que temos três mortos”, disse Rubilar. No domingo morreram cinco pessoas no incêndio de uma fábrica de confecção de vestuário alvo de pilhagens no norte de Santiago, elevando para oito o número de mortos.
João Luz InternacionalChile | Protestos violentos resultaram em, pelo menos, oito mortos A violência e o caos tomaram conta das ruas chilenas depois do Governo ter anunciado planos de aumento das tarifas do metro. Protestos, pilhagens e incêndios levaram à declaração do estado de emergência e, até agora, à morte de oito pessoas. Apesar do Governo ter voltado atrás na medida, os protestos continuam contra a deterioração das condições de vida e os pobres serviços sociais [dropcap]F[/dropcap]ogos, mortos, pilhagens, destruição e exército nas ruas são os elementos que num fim-de-semana transformaram o Chile num autêntico barril de pólvora. Protestos de grande dimensão espalharam-se pelo país sul-americano depois do anúncio de mais um aumento de um serviço público, resultando numa espiral de violência que resultou em, pelo menos, oito mortos. As manifestações decorrem desde sexta-feira em protesto contra um aumento (entre 800 e 830 pesos, cerca de 1,04 euros) do preço dos bilhetes de metro em Santiago, que possui a rede mais longa (140 quilómetros) e mais moderna da América do Sul, e que transporta diariamente cerca de três milhões de passageiros. No sábado, o Presidente Sebastián Piñera recuou e suspendeu o aumento do preço das viagens de metro. Mas as manifestações e os confrontos prosseguiram, devido à degradação das condições sociais e às desigualdades neste país, onde a saúde e educação estão quase totalmente controlados pelo sector privado. Dezenas de supermercados, veículos e estações de serviço foram saqueados ou incendiados. Os autocarros e as estações de metro registaram danos significativos. Segundo o Governo, 78 estações de metro registam estragos, e algumas foram totalmente destruídas. Os prejuízos no metro foram avaliados em mais de 268 milhões de euros e o regresso à normalidade em certos percursos deverá prolongar-se “por meses”, considerou Louis de Grange, presidente da Companhia nacional de transportes públicos. No aeroporto de Santiago foram cancelados ou reprogramados numerosos voos, também devido às dificuldades dos trabalhadores em garantir meios de transporte. De acordo com a Associated Press, pelo menos duas companhias aéreas cancelaram, ou adiaram voos para a capital, Santiago, afectando mais de 1400 passageiros durante o fim-de-semana, e mais de 5000 pessoas viram-se forçadas a dormir no aeroporto na noite de domingo. Com os transportes públicos parados, Cynthia Cordero disse ao The Guardian que teve de andar 20 quarteirões até chegar à farmácia para comprar fraldas. Quando lá chegou deparou-se com um prédio consumido pelas chamas. “Não podem fazer isto”, disse, esclarecendo de seguida que a população “têm todo o direito de protestar contra os abusos, os aumentos dos preços, as condições más do ensino e as pensões indignas, mas não destruir tudo”. Gritos de revolta Apesar dos focos de contestação virem de vários sectores, a população mais jovem tem sido dos segmentos demográficos mais insatisfeitos. Assim sendo, estudantes apelaram a novas manifestações, através de palavras de ordem como “Fim aos abusos” ou “O Chile levantou-se”, difundidas nas redes sociais. As principais cidades do país tornaram-se em cenário de batalha campal. Manifestantes e a polícia envolveram-se no domingo em confrontos em Santiago do Chile, no terceiro dia dos piores tumultos no país desde há décadas. Os contestatários, de cara coberta com capuzes, envolveram-se em violentos confrontos com polícias na praça Itália, centro da capital, referiu a agência noticiosa AFP. As forças da ordem responderam com gás lacrimogéneo e jactos de água. “El pueblo unido jamás será vencido” (O povo unido jamais será vencido), gritaram os manifestantes, uma palavra de ordem utilizada no decurso do governo de Unidade Popular de Salvador Allende, e retomada após o golpe militar e a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). Após três dias de violências, os centros da capital chilena e de outras grandes cidades, como Valparaíso e Concepción, registavam um cenário de desolação, incluindo autocarros incendiados, lojas destruídas e milhares de pedras pelas ruas. Segundo um balanço das autoridades, foram detidas, pelo menos, 1500 pessoas em todo o país. O ministro do Interior, Andrés Chadwick, anunciou que, até domingo, 62 agentes policiais e 11 civis sofreram ferimentos. O cessar-fogo permanece em vigor em cinco regiões, incluindo a capital Santiago, e foram mobilizados mais de 10.500 polícias e militares, precisou o general Javier Iturriaga del Campo. Cheiro a guerra civil “Estamos em guerra contra um inimigo poderoso e implacável que não respeita nada ou ninguém e que está disposto a usar a violência sem limites, mesmo quando isso significa a perda de vidas humanas, com o único objectivo de causar o máximo de dano possível”, afirmou este domingo Sebastián Piñera. O Presidente disse entender que os cidadãos se manifestem sobre aquilo que os preocupa, mas classificou de “verdadeiros criminosos” os responsáveis pelos incêndios, barricadas e pilhagens, que demonstram “um grau de organização e logística típico de uma organização criminosa”. “Amanhã vamos ter um dia difícil”, disse no domingo Sebastián Piñera, referindo-se a suspensão parcial de muitos serviços públicos, como hospitais, escolas, creches e a rede de transportes públicos de Santiago. Os comentários do Presidente foram proferidos horas depois de se ter reunido com líderes parlamentares e do sistema judicial e prometido “reduzir as excessivas desigualdades, injustiças e abusos que persistem no nosso país”. Importa referir que até ao fecho da edição, ainda era manhã cedo em Santiago. O grau de violência dos distúrbios que estão a abalar o Chile são os piores das últimas décadas. Tanques nas ruas é uma visão aterradora para os chilenos, principalmente para os mais velhos que ainda têm na memória lembranças frescas do trauma de 17 anos de ditadura militar liderada por Pinochet. Caídos nas ruas Um incêndio num supermercado no sul de Santiago do Chile na noite de sábado provocou a morte a três pessoas. “A polícia e os bombeiros encontraram dois corpos queimados e outra pessoa em péssimo estado, tendo sido transferidos para um hospital e infelizmente morreram”, disse a presidente da câmara da Região Metropolitana de Santiago do Chile, Karla Rubilar. As autoridades acrescentaram que os corpos foram encontrados quando o fogo foi extinto no supermercado da comuna de San Bernardo, causado durante a noite deste sábado no meio dos tumultos, incêndios e saques que ocorreram em Santiago do Chile e outras cidades do país. Karla Rubilar esclareceu que não há “informações claras sobre em que circunstâncias” os eventos ocorreram, nem se os mortos faziam parte da multidão que assaltou o estabelecimento ou se eram trabalhadores do supermercado. “Precisamos de mais informações, entendemos que o Ministério Público tem que comandar essa investigação, mas infelizmente temos que informar as pessoas de que temos três mortos”, disse Rubilar. No domingo morreram cinco pessoas no incêndio de uma fábrica de confecção de vestuário alvo de pilhagens no norte de Santiago, elevando para oito o número de mortos.
Hoje Macau China / ÁsiaChile desmantela vasta rede de imigração ilegal chinesa [dropcap]A[/dropcap]s autoridades chilenas desmantelaram uma rede de contrabando de migrantes que conduziu ao país sul-americano pelo menos 381 cidadãos chineses, indicou no sábado a polícia local. Nove pessoas foram detidas, incluindo dois ex-funcionários e um funcionário do Ministério dos Negócios Estrangeiros chileno. A rede operava desde 2016 e fornecia a cidadãos chineses, a troco de 5.000 dólares, “falsas cartas-convite para entrar no Chile”, explicou à imprensa um alto funcionário da polícia, Hector Gonzalez. A subsecretária de Prevenção Criminal Katherine Martorell disse tratar-se da “maior rede de tráfico de pessoas existente na história do país”. Através das cartas, os migrantes chineses conseguiram obter vistos alegando serem “empresários a negociar contratos”, apontou Martorell. Uma vez no Chile, “foram contratados por empreendedores, geralmente chineses, que lhes deram trabalho”, acrescentou.
Hoje Macau China / ÁsiaChile anuncia adesão à iniciativa chinesa “Uma Faixa, uma Rota” [dropcap]O[/dropcap] ministro dos Negócios Estrangeiros chileno anunciou em Pequim que vai formalizar na sexta-feira a adesão à iniciativa chinesa “Uma Faixa, uma Rota”, um programa de investimento multimilionário em projectos de infra-estruturas. “É uma decisão muito importante, também muito aguardada pela China, que foi adoptada pelo Presidente [Sebastián Pinera]” disse Roberto Ampuero à agência de notícias Efe, à margem da inauguração da semana do Chile que é assinalada no território do gigante asiático. Para o governante, a iniciativa chinesa é um “elemento novo e adicional” à já “completa” relação bilateral, que abre “perspectivas tremendas” de cooperação, especialmente em matéria de infra-estruturas. Confrontado com a relutância de alguns países à iniciativa, com medo de se submeterem aos interesses de Pequim, o MNE garantiu que o Chile “analisa previamente e a fundo tudo o que assina” e só o faz “quando está plenamente convencido de que é favorável para os interesses do país”. “Uma das áreas em que estamos de acordo com a China é na defesa do multilateralismo e os mercados livres, abertos e transparentes”, disse, acrescentando que a iniciativa ‘Uma Faixa, uma Rota’ permite aos dois países trabalhar a um “melhor ritmo e dentro de um quadro conceptual mais amplo”. O comércio do Chile com a China atinge perto de 30.860 milhões de euros, o que representa entre 26 e 27% do total do comércio exterior do país andino. Só este ano as trocas comerciais entre os dois países cresceram 37%. Anunciada pelo presidente chinês, Xi Jinping, a iniciativa “Faixa económica da rota da seda e a Rota da seda marítima do século XXI”, mais conhecida como “Uma Faixa, Uma Rota”, está avaliada em 900 mil milhões de dólares e visa reactivar as antigas vias comerciais entre a China e a Europa através da Ásia Central, África e Sudeste Asiático.
Hoje Macau China / ÁsiaPresidente chilena destaca importância da China para o futuro do mundo [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] presidente do Chile, Michelle Bachelet, destacou na terça-feira a importância da China e da Ásia-Pacífico dizendo que o mundo actual gira em volta dessa área geopolítica. “Sabemos muito bem que nossa relação com a China e com a Ásia-Pacífico em particular é fundamental para que possamos chegar ao nosso destino. O mundo actual gira mais do que nunca em torno do Pacífico e, portanto, nos faz olhar nessa direcção”, afirmou Bachelet na celebração do 10º aniversário do Instituto Confúcio da Universidade de Santo Tomás, em Santiago, ocorrido no Centro Regional do Instituto Confúcio para a América Latina (Crical), com sede na cidade. A presidente indicou que os laços entre ambos os países não se limitam ao facto de que a China já seja o principal parceiro comercial do Chile, mas vão mais à frente. “É um dos nossos principais parceiros políticos no caminho da abertura, da integração e da cooperação para o progresso. Acredito que percorremos um caminho muito positivo nas últimas décadas, de modo que temos que continuar avançando para chegar a passos firmes no nosso objectivo”, assinalou Bachelet. A presidente sublinhou que as relações entre ambas as nações remontam a muito tempo e sublinhou que o Chile foi pioneiro em diversos marcos com a China. “Fomos o primeiro país (na América do Sul) a reconhecer a República Popular da China, o primeiro (na América Latina) a reconhecer sua economia socialista de mercado, o que lhe permitiu entrar na Organização Mundial do Comércio, e o primeiro país (latino-americano) a assinar um acordo de livre comércio (ALC) com a China, numa data que coincidiu com a inauguração do primeiro Instituto Confúcio em nosso país”, observou a mandatária. A ALC, comentou, foi chave para que as economias de ambos os países continuassem a expandir-se. “Graças à ALC, o comércio bilateral cresceu a uma taxa média anual de 16%, chegando no ano passado a US$ 31,4 mil milhões”, explicou. Bachelet sublinhou que as relações no futuro entre a China e o Chile estão bem asseguradas com a ampliação do novo tratado de livre comércio recentemente assinado na última cimeira da Cooperação Económica da Ásia-Pacífico (APEC), realizada no Vietname. Por outro lado, a presidente destacou a importância do Instituto Confúcio para garantir as relações entre a China e o Chile. “Ao longo de todos estes anos temos dado grandes contribuição à construção de pontes transpacíficas que nos permitem avançar em nossa meta de nos tornar em uma plataforma de conexão entre a América do Sul e a Ásia, região em que a China cumpre por seu tamanho, dinamismo e riqueza cultural, um papel protagonista que é fundamental para a aproximação entre nossos continentes”, disse. E inclusive atreveu-se a insinuar que assim que terminar a sua presidência aprenderá mandarim, “o idioma no qual se discutirão os grandes temas do século XXI”. “O Instituto Confúcio é o principal meio de difusão do idioma e da cultura chinesa em nosso país através de cursos, oficinas e diferentes actividades culturais às quais no próximo ano, a partir de Março, penso em me inscrever”, afirmou. Antes do seu discurso, a presidente foi a uma exposição de cultura chinesa e aprendeu a escrever o seu nome em chinês. O Instituto Confúcio da Universidade Santo Tomás formou nos últimos dez anos mais de 12 mil alunos que aprenderam o idioma e a cultura chinesa, dos quais 200 tiveram a oportunidade de viajar ao país asiático. Hoje, encontra-se presente em 19 cidades e a sede de Punta Arenas (capital de Patagonia, sul do Chile) é o Instituto Confúcio mais ao sul do mundo. O reitor da Universidade Santo Tomás, Jaime Vatter, insistiu que esta instituição abre aos seus alunos “um mundo de oportunidades num contexto onde a oportunidade de que o Chile seja a ponte entre a Ásia e a América Latina é cada vez mais certa”.
Hoje Macau China / Ásia InternacionalTailândia | Supremo absolve dois ex-primeiros-ministros [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]ois antigos primeiros-ministros tailandeses, que incorriam em penas de dez anos de prisão, foram ontem absolvidos das acusações de negligência na repressão sangrenta de manifestações em 2008. “Os manifestantes tinham rodeado o parlamento e ameaçavam tomar de assalto o edifício, não era portanto uma manifestação pacífica. As autoridades foram forçadas a recorrer à força”, concluiu o Supremo Tribunal tailandês. Somchai Wongsawat e Chavalit Yongchaiyudh, na altura primeiro-ministro e vice-primeiro-ministro (Chavalit tinha chefiado o Governo na década de 1990), eram legalmente responsáveis pela ordem do ataque policial. Nestas manifestações, os confrontos entre a polícia e os manifestantes causaram dois mortos e cerca de 500 feridos. Os manifestantes eram “camisas amarelas”, conservadores ultra-monárquicos que procuravam afastar do poder o partido de Thaksin Shinawatra, apoiado pelos “camisas vermelhas”. Pouco tempo depois destas manifestações, o ex-primeiro-ministro Thaksin, no exílio depois de um golpe de Estado em 2006 e inimigo dos ultra-monárquicos, foi condenado a dois anos de prisão por corrupção. O partido de Somchai, cunhado de Thaksin, foi dissolvido e Somchai foi obrigado a demitir-se. Este veredicto era muito aguardado na Tailândia, algumas semanas antes do julgamento da ex-primeira-ministra Yingluck Shinawatra, irmã de Thaksin, e cujo governo foi derrubado em 2014 pelo exército. O seu julgamento por negligência começou depois do golpe militar de Maio de 2014, tal como o de Somchai e Chavalit, suscitando acusações de processos políticos, comandados por militares para acabar com a influência política do clã Shinawatra. Yingluck Shinawatra incorre numa pena de dez anos de prisão. O veredicto será lido a 24 de agosto. Pedrogão Grande | 11 vítimas ainda internadas [dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]ais de um mês depois do incêndio de Pedrógão Grande há 10 pessoas internadas em hospitais e um numa unidade de cuidados continuados, informou ontem o gabinete de crise que acompanha a resposta da Saúde. Cinco dos feridos encontram-se no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), dois no Hospital Santa Maria (Lisboa), um no São João (Porto), um num hospital em Valência (Espanha) e dois em fase transitória – uma doente no Hospital de Leiria e um numa unidade de cuidados continuados no Montijo -, é o balanço feito por um membro do gabinete de crise da Administração Regional de Saúde do Centro (ARSC) António Morais. Benfica | Negociações por guarda-redes do Eintracht Franckfurt [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Benfica está, segundo A BOLA, a tentar a contratação do guarda-redes Lukas Hradecky, 27 anos, junto do Eintracht Frankfurt, onde já pescou aquele que é até agora o principal reforço para 2017/18, o avançado internacional suíço Haris Seferovic, de 25 anos. As negociações pelo número 1 da baliza da equipa alemã e também da seleção da Finlândia já estão em curso e são elevadas as possibilidades de terem sucesso perante a actual situação contratual do jogador, que chegou a Frankfurt em 2015 e assinou vínculo válido por três temporadas, tendo apenas mais uma de ligação ao clube da Bundesliga, que, recorde-se, terminou a época passada na 11.ª posição. Chile | Sismo de magnitude de 5,5 abala norte do país [dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m sismo de magnitude de 5,5 na escala de Richter foi ontem registado na região metropolitana de Santiago do Chile, indicou o serviço geológico dos Estados Unidos (USGS). Até ao momento, desconhece-se a existência de danos ou vítimas do abalo, que ocorreu às 04:15. De acordo com o USGS, que monitoriza a actividade sísmica mundial, o epicentro situou-se a cerca de oito quilómetros de Chicureo Abajo (nordeste) e a mais de 27 quilómetros a norte de Santiago. O hipocentro do sismo registou a 88 quilómetros de profundidade, indicou.
Hoje Macau SociedadeChile | Forte sismo faz pelo menos dez mortos [dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m sismo de magnitude 8,3 na escala de Richter sacudiu na noite de quarta-feira o Chile e obrigou a retirar para zonas mais seguras cerca de um milhão de pessoas, já que foi emitido um alerta de tsunami. O abalo fez pelo menos dez mortos, entre os quais três homens e duas mulheres. A Agência de Geologia dos Estados Unidos inicialmente avançou que o sismo tinha sido de 7,9, mas entretanto emitiu uma nova nota em que aumentou a magnitude para 8,3. Foi também lançado um alerta de tsunami para a costa chilena por parte da Marinha daquele país. O abalo aconteceu no mar às 19h54 locais a 11 quilómetros de profundidade e a 71 quilómetros de Illapel – uma cidade que é capital da província de Choapa, que fica a norte da capital do país, Santiago do Chile. Por precaução, as autoridades estão a deslocar para zonas mais elevadas todos os habitantes da zona costeira afectada. Até porque, lembra a Reuters, um dos objectivos é evitar uma catástrofe semelhante à de 2010, altura em que as autoridades foram acusadas de ter agido de forma demasiado lenta, o que fez com que um tsunami matasse centenas de pessoas. “Lamentamos a morte de cinco cidadãos chilenos. Estimamos o número de evacuados em um milhão de pessoas”, precisou à AFP o subsecretário do Ministério do Interior chileno, Mahmoud Aleuy. O responsável garantiu ainda que este é “o sexto tremor de terra mais forte da história do Chile e o mais forte de 2015 à escala mundial”. Os sismos são classificados segundo a sua magnitude como micro (menos de 2,0), muito pequeno (2,0-2,9), pequeno (3,0-3,9), ligeiro (4,0-4,9), moderado (5,0-5,9), forte (6,0-6,9), grande (7,0-7,9), importante (8,0-8,9), excepcional (9,0-9,9) e extremo (superior a 10), explica a Lusa. *Com Lusa