Baidu apresenta Ernie 4.0 que diz rivalizar com ChatGPT

A tecnológica chinesa Baidu anunciou ontem uma nova versão do seu modelo de inteligência artificial (IA), o Ernie 4.0, que diz rivalizar com a norte-americana ChatGPT, nomeadamente o GPT-4. O presidente executivo (CEO) da Baidu, Robin Li, apresentou o Ernie 4.0 na conferência anual da tecnológica, em Pequim.

O executivo referiu que o modelo alcançou compreensão, raciocínio, memória e produz, através de algoritmos, e cria novos conteúdos. “Não é inferior em nenhum aspecto ao GPT-4”, acrescentou o responsável, salientando que o modelo mais recente foi “significamente melhorado” em comparação com o ‘bot’ Ernie original.

A Baidu é pioneira entre uma série de empresas chinesas que concorreram na criação de modelos de IA, depois do ChatGPT, da Open AI, ter impulsionado a corrida a modelos de inteligência artificial generativa, no final do ano passado. Pequim vê a inteligência artificial como uma indústria chave para concorrer com os EUA e pretende tornar-se um líder global até 2030.

A Baidu, sediada em Pequim, começou como uma empresa de motores de busca e, ao longo da última década, investiu fortemente em tecnologia de inteligência artificial, como a condução autónoma e, mais recentemente, IA generativa para se manter competitiva. O Ernie Bot foi lançado em março pela Baidu e, em agosto, foi disponibilizado ao público. O Ernie 4.0 ainda não está disponível ao público em geral.

19 Out 2023

Deus ex machina

2 – Rezar a deus em tempos de GPT

Não tinha chegado à ideia de Deus, ou da IA, na crónica anterior. Nem vou chegar. Espreito, talvez, emboscada por debaixo de uma intuição, esse cruzamento de caminhos virtuais no ponto inexacto da encruzilhada em que imaginei que uma coisa e outra se encontravam. A essa ideia de Deus, quero dizer, cruzada com a ideia de Natureza. E do que é natural imaginar. E a IA, a derradeira utopia. Imaginada, passará a imaginar por nós.

Penso na expressão de Francisco d’Holanda: “Do tirar polo natural”, centrar a aprendizagem do ver o mundo, na experiência directa do olhar e do sujeito contemplado – é assim que caracteriza “o natural” – e não no que já foi visto, registado e processado por algo ou alguém. Tão actual se pensarmos que hoje cada vez mais se substitui essa experiência directa pela busca virtual. E depois questiono sobre o grau de naturalidade da inteligência, do pensamento e de qualquer outro produto do cérebro. As alucinações, sonhos, e as outras, criadas ou corrigidas com medicamentos ou drogas.

E Deus, criado à medida dos humanos. Que, de acordo com Zizec, retirou Cristo do convívio (natural?) com os mortais (como aquele feiticeiro mau, de uma história de encantar, retirou o mar durante a noite, enrolando-o como a um tapete). Por ineficácia. Demasiado humano para os humanos, sem o que os transcende e não identificam num igual. Etéreo, mantém a expectativa da salvação.

Há por aqui uma humanidade exausta a trabalhar para se tornar inútil no que a distingue. Na necessidade de uma ideia de Deus, inventa-a e depois uma inteligência à sua semelhança, mas maior, megalomania de poder e domínio do saber, mas que pela rapidez – que não vai ser possível acompanhar – por lhe ser possível criar novas ideias e por poder tomar decisões, gerará seguramente uma independência relativamente aos humanos, sobrenatural. Como um novo deus, criado, com infinitas possibilidades de manipular, intervir e castrar. Seduzir e substituir.

Rezar. Baixinho ou inaudivelmente, na obscuridade magica de uma capela, ou por dentro da cabeça. Preces dirigidas ao alto, nas nossas melhores palavras. Sem reparar, nas aflições, se as concordâncias estão impecáveis, a ortografia. Mas reza-se, hoje, em redes virtuais, colocando ao mesmo nível conhecidos e desconhecidos e Deus. Um atalho novo. Mas nunca encontramos “essa” página. Por escrito, sobram visíveis as imperfeições do humano quando se expressa. Como será apetecível, embarcar sem retorno nesta modernidade tecnológica e mandar produzir preces, por medida. Como as cartas escritas por encomenda, daquelas de antigamente, quando se escreviam cartas e cartas de amor. E alguém generoso ou por dinheiro as alindava, para as enviar quem não as sabia escrever. Ditadas, explicadas no sentido ou confiadas cegamente à imaginação de quem escrevia. Um pequeno escriba de bairro, uma vizinha, uma neta miúda. Também o fiz, há muito tempo para alguém que não tinha aprendido a escrever e a ler. Ela ditava e eu estendia um pouco o assunto. Era a voz dela, corrigida na sintaxe, mas nunca no sentido.

Já não se usam cartas. Aqueles textos longos, suados e esperados, descritivos. E não é porque, tendo meios mais imediatos, não vá a alma esmorecer na espera. É porque se diz menos, muito menos, ou nada.

A pensar que, assim como se pode recorrer ao chatGPT para uma prece, um artigo de opinião ou um poema, também podemos recorrer às virtualidades chatbot para perguntar e obter respostas. Deus já disse o que tinha a dizer por interpostas pessoas que estão nas bases de dados e assim dispõe a IA de tudo o que é necessário para nos colocar em diálogo com ele. Com a sua voz, que nunca mais ninguém ouviu.

Mas se é a mente que nos substitui o voo das asas que nem temos e precisa de alimento e ginástica, com o filtro sensível que opera sínteses a partir de memórias – mas não em gigabytes – que atrofia, nos espera, para além da preguiça da memória que progressivamente cultivamos menos, apoiados em mecanismos de busca, ou em aplicações de orientação espacial que nos indicam o caminho passo a passo sem ver no todo um mapa. Esquecendo o encantamento de saber o mapa de uma cidade conhecida ou desconhecida. Não porque não esteja lá, mas porque nos passou a interessar somente a pedra mais imediata do caminho. É curioso, no fundo são escolhas que fazemos. Seguir às cegas. E não quem ainda nos explique um caminho. Dizem-nos: liga o gps. Como se tornará progressivamente inútil, a mente, se uma aplicação de IA produz discursos articulados, detalhados e criativos, ou imagens, se pode substituir, com qualidade, as lacunas de saber e saber fazer, de um utilizador. Que opte por usá-la como ferramenta, mas imperceptivelmente se faz substituir por ela. Quanto de desonestidade está ao alcance da vontade de sermos ou não sermos honestos.

Deixar de memorizar caminhos, números, nomes, datas, factos e acontecimentos. Poderia ter sido bom, se pensássemos que o espaço ocupado por essas informações, ficando disponível, nos libertaria para outras operações formais, outras realizações, mas não parece que tenhamos aplicado essa disponibilidade extra de forma significativa. E quando também já não precisamos de articular uma opinião, uma resposta e isso é válido para namoros, testes e teses, e a tentação é enorme, á agilidade do cérebro e à sua originalidade individual, está reservado ser mais pobre.

Neste hipotecar da dinâmica psíquica a uma aplicação artificial a que se chama inteligência, num tempo que cada vez mais nos divide de nós próprios, na ilusão de que podemos escolher, imagino, cada vez mais, um nicho defensivo. Para reagir à alienação. Para que servirá esta réstia de humanidade no futuro, quando tiver preguiça de pensar por si, de falar por si e perder o que tem de distinto, numa miríade de aplicações. A estas só lhes faltará viver por nós. Mas vai parecer que não.

Humanidade diletante a inventar tiros no pé, com tantos problemas de fundo a solucionar. Quando cada novo avanço, científico ou tecnológico, tem em si possibilidades de ser mal utilizado e prejudicial, talvez se verifique ou o princípio de Peter ou a lei de Murphy. Ou ambos. Fico indecisa. A lembrar o velho do Restelo. Mas, na verdade, sou como o arqueiro de Khalil Gibran: “assim como ele ama a flecha que voa, ama também o arco que permanece estável.”. Somente, sem esperança nem alegria, acabo por preferir o arco, porque a flecha é a que fere o pé.

Ou, como disse Herberto Helder no seu “: Lugar último”:

“Contra mim, contra minha divagação.

Penso: a flecha ama a onça.

A morte ama o que morre. “

Ama?

Maria e Maria Madalena foram ungir o corpo com os óleos da intimidade. Foram. Mas sobre a pedra, nada. Do corpo, só pedra em vez de coração. Depois disso, roldanas cénicas a descer os deuses que os deuses deixam, como penas deixadas para trás.

Ou, simplesmente fazer download.

25 Ago 2023

IA | Polícia investiga notícias falsas geradas pelo Chat GPT

A polícia chinesa lançou uma investigação a um portal de notícias que usava o popular programa de inteligência artificial ChatGPT para gerar e divulgar artigos falsos, com o objectivo de obter grandes quantidades de tráfego e lucro.

Os agentes descobriram inicialmente um artigo na Internet que informava sobre o descarrilamento e incêndio de um comboio em Pingliang, na província ocidental de Gansu, que resultou em vários mortos.

Após verificarem que se tratava de uma informação falsa, a polícia abriu uma investigação e descobriu que o artigo foi publicado por 21 contas do Baidu, o principal motor de buscas chinês, criadas por uma empresa com sede em Shenzhen, no sul da China.

O representante legal da empresa, de sobrenome Hong, e o seu irmão mais novo são suspeitos de fabricar e espalhar boatos.

Segundo a polícia, o irmão mais novo de Hong comprou um grande número de “contas Baijia”, um serviço fornecido pelo Baidu que permite aos utilizadores criar e difundir conteúdo original, e editou as notícias com recurso ao programa de inteligência artificial ChatGPT, que gera textos a partir de palavras-chave.

O objectivo era obter uma grande quantidade de tráfego e lucro através da difusão de notícias sensacionalistas e falsas. A polícia prendeu o irmão mais novo e congelou as contas bancárias relacionadas ao caso.

A investigação ainda está em andamento e as autoridades alertaram os internautas para não acreditarem ou espalharem boatos ‘online’.

Nas últimas semanas, este tipo de ‘chatbots’ tem despertado grande interesse no país asiático, ao ponto de a imprensa oficial já ter alertado para uma possível “bolha” no mercado devido ao “excesso de entusiasmo” com esta tecnologia.

9 Mai 2023

Ensino | Leong Sun Iok pede orientações para uso de ChatGPT

Leong Sun Iok quer orientações para o uso em escolas de software de inteligência artificial, como o ChatGPT, para evitar que seja usado para ludibriar a avaliação das competências dos alunos. O deputado encara a tecnologia como uma “espada de dois gumes” e um perigo para o desenvolvimento cognitivo e pensamento crítico

 

Um pouco por todo o mundo, governos tentam perceber como lidar com a revolução tecnológica trazida pelos softwares de inteligência artificial, como o ChatGPT.

Depois de interpelar o Governo sobre o uso do ChatGPT nas escolas de Macau, e não satisfeito com as respostas da Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ), Leong Sun Iok voltou a pedir intervenção do Executivo através de orientações específicas para o uso da tecnologia.

Em declarações ao Jornal do Cidadão, o deputado da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) argumentou que o impacto do ChatGPT no sector educativo é profundo, com os alunos a usarem o software para fazer os trabalhos de casa e testes.

“O avanço tecnológico da inteligência artificial de ferramentas como o ChatGPT é uma faca de dois gumes para o ensino e progresso humano. Apelo ao Governo para emitir orientações para o uso adequado e padronizado do software, que aponte uma direcção às instituições de ensino”, sugere.

O legislador da FAOM entende que é preciso pesar bem as vantagens e desvantagens do desenvolvimento das ferramentas de inteligência artificial para melhorar a qualidade do ensino de Macau, uma vez que o avanço científico e tecnológico é imparável e difícil de proibir, mas também não deve ser negligenciado.

Quase humano

Várias aplicações chinesas, como o WeChat, baniram o ChatGPT e outros software de chatbot, com gigantes tecnológicos, como a Alibaba ou Baidu, a desenvolver as suas próprias ferramentas para o mercado nacional.

Enquanto se vive num relativo estado de expectativa, Leong Sun Iok não nega os aspectos positivos da tecnologia, que pode “estimular o raciocínio dos estudantes, acrescentar recursos de aprendizagem e melhorar a qualidade do ensino”. Porém, argumenta que pode colocar em perigo a “integridade académica”, levar à dependência dos estudantes, e à perda de capacidades cognitivas e de pensamento crítico.

O deputado considera que Macau não pode ficar para trás nesta matéria, indicando que muitos países, como os Estados Unidos, já implementaram instruções de uso padronizado do software nas escolas. Citando a resposta da DSEDJ, que refere genericamente a organização de formação para docentes, “sobre diversos temas, tais como a educação da literacia da informação, a educação para a cibersegurança e o bom uso das informações da rede para cultivar nos alunos o pensamento crítico”, o deputado afirma que o Governo acabou por não responder às suas questões.

Realçando que não há necessidade de passar legislação, Leong Sun Iok vincou a necessidade de lançar orientações e o estabelecimento de linhas vermelhas para impedir plágios e desonestidade que desequilibrem a justiça na avaliação dos alunos.

O deputado está também preocupado com as implicações da inteligência artificial no mercado de trabalho, e no desenvolvimento humano devido ao desinvestimento nas faculdades básicas de pensamento.

24 Abr 2023

Inteligência Artificial | Pequim quer que IA reflicta valores socialistas

A China quer que as ferramentas de inteligência artificial reflictam “valores socialistas fundamentais”, segundo um projecto de regulamento divulgado ontem, enquanto operadores chineses trabalham arduamente para conceber aplicações do tipo ChatGPT.

A ferramenta norte-americana ChatGPT, lançada em Novembro de 2022 e capaz de elaborar, em segundos, respostas detalhadas sobre uma vasta gama de assuntos, está a ser observada com interesse na China.

A interface não está disponível no país, mas o ChatGPT é objecto de inúmeros artigos e discussões nas redes sociais, e os gigantes tecnológicos locais estão a competir para conceber ferramentas equivalentes na China.

O motor de busca Baidu foi um dos primeiros grupos chineses a posicionar-se neste nicho, a que se juntou o campeão da Internet e dos jogos de vídeo Tencent e o pioneiro do comércio electrónico Alibaba.

No meio da euforia que rodeia a chamada inteligência artificial generativa, a China quer regular esta tecnologia.
Antes de serem disponibilizados, os produtos que utilizam inteligência artificial generativa terão de “procurar uma inspecção de segurança”, segundo o projecto de regulamento da Administração do Ciberespaço da China, citado pela agência francesa AFP.

O regulador, que está a submeter o texto para comentários públicos antes de ser adoptado, não especifica quando é que o regulamento entrará em vigor.

O conteúdo gerado pela inteligência artificial deve “reflectir valores socialistas fundamentais e não deve conter [elementos relativos] à subversão do poder do Estado”, lê-se no projecto de regulamento.

O projecto visa assegurar “o desenvolvimento saudável e a implementação ‘standard’ da tecnologia de inteligência artificial generativa”, de acordo com o regulador da Internet na China.

Ganhar o futuro

A China pretende tornar-se o líder mundial em inteligência artificial até 2030, o que deverá revolucionar uma série de sectores, incluindo as indústrias automóvel e médica.

O motor de busca Baidu foi o primeiro no país a anunciar que estava a trabalhar num equivalente local ao ChatGPT.
Apresentado à imprensa em Março, Ernie Bot, que opera em mandarim e se dirige exclusivamente ao mercado chinês, está actualmente apenas disponível em versão beta.

O gigante retalhista ‘online’ Alibaba revelou ontem a sua versão, o “Tongyi Qianwen” (máquina que sabe tudo).
Na corrida pela inteligência artificial, o principal desafio para os programadores chineses é o de encontrar um robô de conversação que tenha um bom desempenho, mas que não se afaste do rigoroso quadro de conteúdo permitido.

A China acompanha de perto a Internet e os meios de comunicação no país, segundo a AFP.
A China, que está na vanguarda da regulamentação de novas tecnologias, já no ano passado tinha pedido aos gigantes da Internet que revelassem os seus algoritmos.

No coração da economia digital, os algoritmos servem de cérebro por detrás de muitas aplicações e serviços na Internet e são geralmente um segredo bem guardado.

12 Abr 2023

Chat GPT | Académica da UM pede maior literacia digital

Sarah Migliorini, docente da Faculdade de Direito da Universidade de Macau, acredita ser necessária uma maior literacia digital para que as pessoas saibam lidar com os riscos inerentes a programas como o Chat GPT. Já há leis que podem ser aplicadas nestes casos, mas será sempre necessária legislação específica no futuro, aponta

 

Especialista nas áreas de “Big Data” e Inteligência Artificial (IA), Sarah Migliorini acredita que os riscos associados a programas como o Chat GPT podem ser minimizados se houver maior literacia digital por parte da população. Em entrevista ao HM, a docente da Faculdade de Direito da Universidade de Macau (UM) defendeu que, tal como as novas gerações mexem mais facilmente com computadores e smartphones do que os seus pais, o mesmo acontecerá com programas de IA.

“Temos de começar a promover mais literacia sobre IA ao nível das escolas e das administrações, e em toda a sociedade. A maior parte dos riscos associados ao Chat GPT prendem-se com o facto de este tipo de produto comercial ter sido implementado a uma escala muito grande numa população que não sabe o que isto é. Lidar com isso será uma boa forma de gerirmos os erros.”

Relativamente a legislação para gerir eventuais impactos negativos, Sarah Migliorini entende que muita da legislação já em vigor poderá dar resposta em casos de discriminação ou defesa dos direitos das pessoas. No entanto, “haverá matérias tão específicas [no futuro], que será necessária mais regulação própria, nomeadamente em matéria de direitos de autor”. “O Chat GPT consegue escrever e já existe alguma regulação [sobre isso] nos EUA, mas vamos precisar de mais leis específicas no futuro tendo em conta o volume de informação.”

No caso de Macau, haverá influência do que acontecer na China em matéria de legislação e tecnologia, mas também da União Europeia e EUA, embora siga sempre “o que acontecer na China”. Sarah Migliorini acredita que Macau pode vir a ter leis próprias que abrangem programas como o Chat GPT, embora haja sempre custos associados, sobretudo em matéria de recursos humanos, dada a maior necessidade de fiscalização. “Se dissermos que é proibido usar determinado sistema nas escolas, por exemplo, temos de reforçar isso e são necessários recursos humanos para o fazer. Muitas vezes termos mais regulação não é muito viável desse ponto de vista.”

Acima de tudo, Sarah Migliorini acredita que os seres humanos poderão sempre controlar o impacto da tecnologia e da IA nas suas vidas. “Estes tipos de sistemas são-nos apresentados como inevitáveis, mas na verdade são apenas máquinas. Não são boas nem más e tudo depende de nós, como humanos, como interpretamos isso. As tecnologias podem ser moldadas e temos vários exemplos disso na história, simplesmente porque a lei não o permitia, por exemplo. Há muitas coisas que podemos fazer e não devemos ter em mente a ideia de que isto vai acontecer inevitavelmente. Há muitas coisas boas que podem advir desta tecnologia se a usarmos correctamente.”

O impacto da tecnologia já se nota no nosso dia-a-dia, mas tudo depende de como “a sociedade se vai adaptar”. “As coisas estão a avançar muito rapidamente e há interesses económicos por detrás, então há que pensar em termos de regulação como podemos lidar com esta grande onda gerada pela IA”, frisou.

Três oportunidades

Apesar de assumir que há riscos associados ao uso do Chat GPT, nomeadamente o perigo de redução da necessidade de recursos humanos em empresas, Sarah Migliorini fala em três tipos de oportunidades. Uma delas passa pela criação de conteúdo automatizado, o que pode facilitar a vida a empresas em matéria de produção de emails, publicações nas redes sociais ou campanhas de marketing. Além disso, o Chat GPT tem ferramentas que podem ser treinadas para diversas áreas, sendo possível, por exemplo, ter atendimento médico online recorrendo a Chat Bots.

“Esta poderia ser uma ferramenta útil para pacientes antes de estes se dirigirem ao hospital, por exemplo.” A docente diz ainda que poderemos usar o Chat GPT a nosso favor, dada a sua rapidez para processar informação e gerar conteúdo. “Podemos usar este tipo de tecnologia para nos tornar mais inteligentes, mas de forma humilde, pois conseguem calcular e gerir mais informação do que nós. Podemos aprender com estes sistemas, na verdade, mas explorando o que a nossa inteligência humana nos permite fazer além disso.”

Ainda sobre o impacto em matéria de recursos humanos, Sarah Migliorini defende que o risco poderá ser contornado. “Claro que alguns empregos se vão perder, mas outros serão criados. Será um processo, e algumas pessoas vão sofrer com isso, mas a longo prazo, e a um certo nível, teremos capacidade para absorver [esta tecnologia].”

Criado há cerca de três anos pela empresa Open AI, o Chat GPT é um produto comercial que, através da IA e bots é capaz de produzir conteúdo e criar diálogos com o utilizador. Não é mais do que “um pacote com uma tecnologia que já existia e que, de uma forma bastante primitiva, foi criada nos anos 50”, mas que só agora foi possível lançar no mercado, uma vez que “chegámos a um nível de computação muito elevado”. Uma vez que há outros produtos semelhantes a serem lançados no mercado, a docente da UM denota que a IA veio, definitivamente, para ficar.

“Penso que não nos vamos ver livres [destes programas] tão cedo. Na verdade, falamos de IA degenerativa, que são ferramentas que podem criar novas plataformas”, rematou.

5 Abr 2023