Automobilismo | Jo Merszei alerta para o esquecimento de Barry Bland

Vai fazer um ano que uma figura proeminente da história do Grande Prémio de Macau nos deixou, mas, para além do seu legado, pouco mais se tem feito em sua memória, alerta o eclético piloto de Macau Jo Merszei

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]om qualidades pessoais e conhecimento do meio altamente reconhecidas, o inglês Barry Bland, aquele que será sempre recordado como o pai do Grande Prémio de Macau de Fórmula 3, esteve mais de trinta anos ao serviço do maior evento desportivo do território, tendo saído abruptamente em 2016, meses depois do evento passar para a alçada do Instituto do Desporto.

“De 1983 a 2016, o Barry trouxe as mega estrelas do amanhã a Macau para correr. A maior parte dos actuais e ex-pilotos de Fórmula 1 devem ao Barry, de uma forma ou de outra, pela sua ajuda e orientação”, realçou Jo Merszei ao HM. “O Barry ajudou muitos pilotos sem fundos a entrar em contacto com os patrocinadores certos, colocando esses pilotos a correr. Ele era um bom amigo, um cavalheiro e ganhou respeito que ombreava os grandes nomes do automobilismo mundial”.

Em 1983 Bland convenceu Rogério Santos, na altura o presidente do Leal Senado, e Phil Taylor, do clube automóvel de Hong Kong, que a Fórmula 3 era o caminho a seguir no Grande Prémio. Na altura a Fórmula Atlantic estava em plena decadência. À época, a então Fórmula 2 parecia ser o caminho a seguir, mas dois meses antes da prova o plano foi abortado porque a largura da Curva da Estátua (onde estava a estátua equestre de Ferreira do Amaral), agora Curva do Lisboa, não ser suficiente para os carros passarem. Pelo mérito de persuadir as entidades responsáveis na hora H e o empenho colocado na prova ao longo dos anos, o piloto macaense não quer ver o nome de Barry Bland esquecido.

“Com a experiência e profissionalismo das pessoas de Macau, sob a orientação do então Coordenador, o Engº Costa Antunes, o evento ganhou estatura no automobilismo global”, destaca Jo Merszei, que crê que “sem uma boa parceria, sem o Barry, o Grande Prémio de Macau nunca teria chegado ao patamar em que está hoje.”

 Final atribulado

O fim da ligação ao Grande Prémio do ex-presidente da Comissão de Monolugares da FIA e organizador do Masters de Zandvoort, a prova europeia mais relevante do calendário de Fórmula 3, fez correr muitas linhas na imprensa especializada internacional, principalmente de língua inglesa. Jo Merszei recapitula esses momentos, em que as equipas europeias de Fórmula 3 temeram pela continuidade da emblemática corrida de encerramento de temporada.

“Nos últimos dias de Outubro de 2016, engenheiros e chefes de equipa da Fórmula 3 começaram a contactar-nos relativamente à questão de quem ficaria a responsabilidade pela gestão do Grande Prémio de Macau. Esta era certamente uma questão desconcertante porque todos estavam ocupados a preparar o Grande Prémio. Com o passar dos dias, foi posto a circular nos bastidores a informação que a regulamentação e a logística não estavam disponíveis e as equipas começaram a ficar desesperadas para saber o que se estava a passar”, recorda Jo Merszei. “No fim, o Barry foi obrigado a demitir-se do seu serviço, por respeito à sua reputação, responsabilidade e pela integridade à sua empresa, a MRC.”

Jo Merszei, ele próprio um piloto que ascendeu à Fórmula 3 com a preciosa ajuda do britânico, relembra que “todos os mecânicos, engenheiros e chefes de equipa estavam a falar como desonroso e desleal o Grande Prémio de Macau e o Instituto do Desporto tinham sido ao praticar um acto de traição ao Sr Grande Prémio de Macau, o próprio, Barry Bland. Um reputado e amplamente jornal local noticiou que o Barry e a comissão do Grande Prémio tinham chegado a um impasse. Essa foi uma grande subavaliação. A verdade e os detalhes criaram ainda mais desapontamento”, assevera.

In memoriam

Aquelas semanas de incerteza no início do Outono de 2016 acabaram por não beliscar a reputação do evento da RAEM, mas não deixaram de passar uma imagem menos abonatória de ingratidão que hoje poderia ser compensada com um reconhecimento à altura, acredita o actual piloto do Campeonato de Carros de Turismo de Macau (MTCS).

“No caso do Barry Bland, a reputação e imagem limpa de Macau ficaram manchada pelos poderes”, afirma convictamente o piloto macaense. “Os departamentos e as pessoas responsáveis pelo Grande Prémio de Macau têm muito que fazer para redimir a nossa imagem no desporto internacional.”

Jo Merszei sugere que se preste uma devida homenagem a este amigo da terra. “Talvez uma placa ou uma fotografia emoldurada do ‘Sr Macau GP’ no nosso Museu do Grande Prémio em memória do seu imenso trabalho pela prova e pelas pessoas de Macau. É o mínimo que podemos fazer”, diz. “Até o nosso honorável Chefe do Executivo, o Dr. Fernando Chui Sai On, reconheceu o contributo que o Barry deu a Macau, ao presenteá-lo com o Certificado de Prestígio em 2012.”

Com a saída de cena de Bland em 2016 e a ascensão a Taça do Mundo FIA, a corrida Fórmula 3 em Macau é agora administrada pela própria federação internacional em cooperação com Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau.

20 Jun 2018

Faleceu Barry Bland, o pai da F3 no território

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Grande Prémio de Macau perdeu na semana passada um dos seus nomes sonantes, o inglês Barry Bland, aquele que será sempre recordado como o pai do Grande Prémio de Macau de Fórmula 3. Nascido em 1946, em Ilford, Bland, que optou sempre por uma postura muito discreta, longe das luzes da ribalta, chegou a ser piloto, antes de se juntar ao British Automobile Racing Club, primeiro como secretário das competições automóveis e depois como organizador de corridas. Em 1971, Bland passou a trabalhar para a Motor Race Consultants, onde continuou, coordenando angariação de pilotos, logistica e seguros para eventos um pouco por todo o mundo

Foi já ao serviço da MRC que teve o primeiro contacto com Macau, através da sua amizade com o então líder do Automóvel Clube de Hong Kong (HKAA), Phil Taylor. Em 1983 Bland convenceu Rogério Santos, na altura o presidente do Leal Senado, e Taylor que a Fórmula 3 era o caminho a seguir no Grande Prémio. Na altura a Fórmula Atlantic estava em plena decadência. À época a então Fórmula 2 parecia ser o caminho a seguir, mas dois meses antes da prova o plano foi abortado por a largura da Curva da Estátua (a estátua equestre de Ferreira do Amaral), agora Curva do Lisboa, não ser suficiente para os carros passarem. Foi assim, quase por acaso, que nasceu o que é até hoje um dos eventos de maior expressão do automobilismo mundial.

Com qualidades pessoais e conhecimento do meio altamente reconhecidas, Bland chegou a ser presidente da Comissão de Monolugares da FIA e foi também ele que organizou o Masters de Zandvoort, a prova europeia mais relevante do calendário de Fórmula 3.

O inglês esteve ao serviço do Grande Prémio de Macau até 2016, tendo saído após divergências com a Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau, numa história rocambolesca que nunca foi muito bem explicada. Mesmo assim, e apesar de debilitado, Bland ainda se deslocou o ano passado à RAEM para ver a prova “in loco” e apoiar os seus cliente na área dos seguros.

Lembrado por cá

Numa comunicação apenas em língua chinesa e inglesa, a Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau expressou as suas condolências, agradeceu toda ajuda ao longo dos anos e lembrou que “por mais de 30 anos, o Sr. Bland trabalhou incansavelmente com Macau para elevar o Grande Prémio de Macau de Fórmula 3 ao mais alto nível internacional. A sua contribuição para a construção da reputação que este goza hoje é imensurável.”

Também a Associação Geral de Automóvel Macau-China (AAMC) expressou o seu pesar. “A AAMC trabalhou de perto com o Sr. Bland durante décadas, e a sua experiência e orientação foram extremamente valorizadas. Nós iremos sempre recordar a sua bondade, sabedoria e a sua paixão infalível pelo desporto motorizado”, disse a associação, em comunicado colocado nas redes sociais.

10 Jul 2017