João Santos Filipe PolíticaDSEDJ revela que mais de 3 mil alunos aprendem português Actualmente, mais de 3 mil alunos estão a aprender português desde a infância no ensino não superior de Macau. O número foi avançado pelo director dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ), Kong Chin Meng, em resposta a uma interpelação do deputado Ho Ion Sang. “A DSEDJ continua a aprofundar o desenvolvimento das escolas oficiais de língua portuguesa que ministram todos os níveis de ensino e a articular com as escolas particulares de língua veicular portuguesa, existindo presentemente mais de 3.000 alunos nas escolas do ensino não superior que estudam num ambiente pedagógico de língua portuguesa desde a infância”, foi revelado. A DSEDJ explica ainda que aposta na língua de Camões visa “formar em todas as vertentes os quadros qualificados de língua portuguesa com competências abrangentes”. O Governo também assegurou ao deputado eleito indirectamente pelo sector da educação que “dá muita importância à optimização das políticas sobre a educação da língua portuguesa e envida esforços para desenvolver em vários aspectos as vantagens do posicionamento de ‘uma plataforma’ de Macau”. Quadro de professores estável Sobre o número de professores de língua portuguesa, a DSEDJ revela que tem permanecido estável, embora com um aumento. “De acordo com os dados estatísticos da DSEDJ, a mobilidade do pessoal docente de Macau é relativamente estável. Nos últimos anos, existem cerca de 500 novos docentes em cada ano lectivo e o número do pessoal no corpo docente continua a registar um crescimento líquido, sendo que o número actual do pessoal docente da disciplina de Português satisfaz as necessidades pedagógicas”, foi considerado. Quanto ao número de horas de português em cada escola, a DSEDJ afirma que as instituições “podem definir por iniciativa própria as horas lectivas e a metodologia pedagógica de disciplina” de acordo com as suas necessidades, respeitando o “quadro da organização curricular da educação regular do regime escolar local”.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadePortuguês | Chineses em Macau adoptam diversos modos de aprendizagem Os estudantes chineses de português em Macau adoptam diversas estratégias de aprendizagem da língua, não existindo um método uniforme. Além disso, o ambiente multilingue do território beneficia os estudantes que vêm da China. As conclusões são de um estudo de Hao Ian Chen, da Universidade Politécnica de Macau Um estudo de Hao Ian Chen, da Universidade Politécnica de Macau (UPM), conclui que não existe, da parte dos estudantes chineses de português em Macau, um método de aprendizagem uniformizado, sendo que cada um escolhe técnicas que passam pela memorização, uso de materiais didácticos diversos, linguagem usada no dia-a-dia ou ferramentas que ajudam na compreensão oral do idioma, tendo como base, muitas das vezes, estratégias de aprendizagem já usadas com o inglês. Em “Um Estudo de Caso das Estratégias de Aprendizagem de Estudantes Universitários Chineses no Ambiente Multicultural de Macau”, recentemente publicado no International Journal of Education and Humanities, conclui-se que existe, no ensino superior de Macau, “um carácter dinâmico das estratégias de aprendizagem da língua, bem como a sua variabilidade individual”. Hao Ian Chen desenvolveu este estudo com base nas experiências de quatro alunos de diferentes universidades locais, vindos da China. Dois deles estiveram em Macau no contexto de um intercâmbio de um ano. O artigo conclui que “cada um deles implementou ajustamentos estratégicos para ultrapassar as dificuldades de aprendizagem do português com que se deparou face às mudanças no ambiente de aprendizagem e às mudanças cognitivas que daí resultaram”. O trabalho académico destaca ainda que essas estratégias de aprendizagem eram semelhantes, apresentando, contudo, “trajectórias de desenvolvimento diferentes, reflectindo a natureza dinâmica das estratégias de aprendizagem de línguas, a sua certeza e incerteza”. Apresenta-se o exemplo da aluna D, que através da leitura e da memorização “de um grande número de artigos em português” conseguiu “a acumulação de vocabulário e aplicações gramaticais”. A estudante usou ainda o vocabulário e estruturas gramaticais na vida real a fim de melhor as memorizar. Desafios do multilinguismo O estudo em questão fala ainda dos “desafios colocados pelo ambiente multilingue à aprendizagem e utilização da língua pelos participantes”, sendo que, no caso dos estudantes vindos do continente, esse multilinguismo tão presente em Macau os ajudou no ensino. “O ambiente multilingue de Macau teve um impacto positivo nos dois participantes do continente que estudaram em Macau, principalmente em termos de ensino multilingue na sala de aula e de comunicação com falantes nativos de português”, lê-se. O relatório fala ainda de um “certo grau de correlação” entre os métodos de aprendizagem de uma primeira língua estrangeira e de aprendizagem de um segundo idioma, pois “os quatro participantes seguiram as estratégias eficazes de aprendizagem do inglês no passado, combinando-as depois com as suas próprias situações para formar um novo modo de aprendizagem”. O artigo destaca ainda a necessidade de compreensão por parte dos professores e educadores quanto “à diversidade das estratégias de aprendizagem e diferenças individuais, não para mudar à força as estratégias de aprendizagem dos alunos, mas para os ajudar a compreender o impacto complexo do ambiente de aprendizagem e as características dos seus próprios factores individuais na sua aprendizagem”.
Hoje Macau China / ÁsiaUniversidade de elite na China inclui português como disciplina opcional [dropcap]A[/dropcap] Universidade Tsinghua, uma das mais prestigiadas da China, vai passar a ter português como disciplina opcional, já no próximo ano lectivo, ilustrando a crescente importância dos países lusófonos para o comércio e diplomacia chineses. A partir de Setembro, a Universidade Tsinghua vai oferecer português como disciplina opcional aos alunos de todos os cursos de licenciatura, disse ontem à agência Lusa fonte da instituição. Localizada no norte de Pequim, a Tsinghua é uma das mais prestigiadas universidades chinesas e onde se formaram muitos dos líderes do país, incluindo o actual Presidente chinês, Xi Jinping, e o antecessor, Hu Jintao. Estabelecido em 1911, o ‘campus’ da Tsinghua foi construído a partir de um antigo jardim imperial do século XVIII, preservando os lagos, espaços verdes e edifícios centenários. A universidade tem mais de 25 mil estudantes, segundo o ‘site’ oficial da instituição, e destaca-se sobretudo pelo ensino de engenharia. A aposta da Tsinghua reflecte a crescente necessidade da China em formar melhores quadros para trabalhar com os países de língua portuguesa, face à evolução das trocas comerciais, que só em 2018 se cifraram em 147.354 milhões de dólares, um aumento de 25,31 por cento, em termos homólogos. O destaque vai para Angola e Brasil, cujas trocas com a China compõem a maioria deste comércio. Nos últimos anos, a China tornou-se, também, um dos principais investidores em Portugal, comprando participações em grandes empresas das áreas da energia, seguros, saúde e banca, enquanto milhares de particulares chineses compraram casa em Portugal à boleia dos vistos ‘gold’. Propagação da língua A contar com a Tsinghua são já 34 as universidades da China continental que têm português como cadeira opcional, entre as quais 25 que oferecem também licenciaturas em português. No total, mais de 1.500 estudantes chineses frequentam agora cursos em português. Até 1999, apenas a Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim e a Universidade de Estudos Internacionais de Xangai ofereciam licenciaturas em português.
Sofia Margarida Mota SociedadeDSEJ | Aplicação para aprender português disponível a partir de Julho A DSEJ vai lançar uma aplicação que usa termos do quotidiano para ensinar português. A app também terá conteúdos para quem quiser aprender mandarim. Entretanto, no actual ano lectivo 6700 alunos frequentaram aulas de português no ensino não superior [dropcap]A[/dropcap]prender as bases da língua portuguesa vai ser mais fácil. A Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) prepara-se para lançar no “final de Junho, início de Julho” uma aplicação móvel para os interessados que se queiram iniciar na aprendizagem da língua portuguesa. A informação foi deixada ontem pelo director do Centro de Difusão de Línguas da DSEJ, Wong Chang Chi, durante o Fórum para a Promoção do Ensino do Português na Grande Baía, que teve lugar ontem no Instituto Politécnico de Macau. “Esta aplicação serve para quem quer aprender português tendo em conta uma aprendizagem inicial”, disse o responsável na sua comunicação. Para facilitar o uso da aplicação, os conteúdos foram divididos por temas usados no quotidiano, como turismo, compras, viagens, restaurantes etc., e fornece não só as frases mais utilizadas nestes contextos como gravações áudio. Mandarim disponível Além de possibilitar competências em português, os conteúdos estão também disponíveis em mandarim. O objectivo é proporcionar uma plataforma para “as pessoas de língua materna portuguesa que queiram iniciar a aprendizagem do mandarim”, acrescentou. Paralelamente a esta iniciativa, Wong Chang Chi sublinhou o papel da DSEJ na promoção e divulgação da língua portuguesa. Reflexo deste trabalho são os números apresentados pelo responsável. Actualmente, a língua é administrada em 37 escolas privadas e oito escolas públicas. “Neste momento, há 45 escola locais a ensinar a língua portuguesa. No presente ano lectivo o total de alunos de língua portuguesa foi de 6700, apontou Wong Chang Chi.
Hoje Macau EventosPolitécnico de Macau acolheu concurso de declamação de poesia em português [dropcap]O[/dropcap] Instituto Politécnico de Macau (IPM) acolheu, na semana passada, mais um concurso de declamação de poesia em português, que reúne anualmente alunos de universidades macaenses e do interior da China, anunciou hoje organização. Em 2019, a iniciativa que se realiza há 14 anos contou com a participação de 25 jovens provenientes de dez instituições. Além de quatro universidades de Macau, estiveram representadas seis faculdades do interior da China. A organização distinguiu este ano três alunos de Macau: o primeiro prémio foi atribuído a um aluno da Universidade de São José, Carlos Angelo de Guzmán, o segundo foi conquistado por Lu Yuhan, do IPM, e o terceiro por Xie Hanuy, da Universidade de Ciência e Tecnologia. “A competição é hoje um evento muito importante na promoção das culturas e literaturas de língua portuguesa, constituindo um estímulo e um incentivo à leitura”, além de ser uma oportunidade “para apresentar o talento dos alunos que escolheram estudar português”, destacou o IPM, em comunicado. A iniciativa é co-organizada pelo IPM e pela Direcção dos Serviços de Ensino Superior de Macau, com apoio da Fundação Rui Cunha e da Fundação Oriente. Desde 2005, o IPM já convidou a participar no concurso mais de 30 instituições, sediadas em Macau e em vários pontos da China. No ano lectivo 2018/2019, o número de estudantes de português no IPM ronda os 500, de acordo com dados disponibilizados à Lusa no final do ano passado. O IPM recebe ainda, todos os anos, 25 alunos do curso de licenciatura em tradução e interpretação chinês-português do Instituto Politécnico de Leiria.
Hoje Macau PolíticaCooperação | Chui elogia Xangai na divulgação de português [dropcap]O[/dropcap] Chefe do Executivo, Chui Sai On, elogiou ontem o papel de Xangai nas áreas de formação em língua portuguesa, durante um encontro com a presidente do Comité Permanente da Assembleia Popular Municipal de Xangai, Yin Yicui. O “Chefe do Executivo referiu ainda que as relações bilaterais entre Macau e Xangai são duradouras, tendo os dois lados consolidado ao longo do tempo a cooperação nas áreas de formação em língua portuguesa, acções de formação para trabalhadores da administração pública, desporto, turismo e assuntos juvenis”, pode ler-se num comunicado, sobre o encontro que decorreu no Palácio do Governo. Por sua vez, Yin Yicui afirmou vir à Grande Baía para aprender com o plano geral para esta zona e afirmou que o posicionamento de Macau como “um Centro, uma Plataforma, uma Base” pode criar mais oportunidades de desenvolvimento.
Andreia Sofia Silva ReportagemPortuguês, uma língua de nicho em Hong Kong Em Hong Kong, ensina-se português graças à iniciativa de um pequeno grupo de privados e instituições. O Club Lusitano organiza cursos apenas para membros, enquanto que Alexandre Lui decidiu arrendar duas salas para ensinar a língua. Nota-se um ligeiro aumento da procura dos cursos por questões familiares, económicas e até históricas, mas Hong Kong continua a não aderir ao sucesso que o português faz pelo mundo [dropcap]E[/dropcap]studar português num território onde o idioma não é língua oficial, como é o caso de Hong Kong, é um desafio que poucos abraçam, apesar da popularidade do idioma um pouco por todo o mundo. Nem o facto de Hong Kong ter uma comunidade portuguesa ou fortes ligações à comunidade macaense aumentou a procura pela língua de Camões. São poucos a aprender, mas fazem-no por várias razões. Roy Tse, natural de Hong Kong, é casado com uma mulher de Macau e nunca teve qualquer ligação com a cultura portuguesa ou o país. Mas está tão desiludido com a situação sócio-económica do território que pondera ir viver para Portugal daqui a três anos. “Aprender português é obrigatório para se viver em Portugal”, contou ao HM. “Perdemos a esperança. Estamos desapontados com o Governo de Hong Kong, que não está a servir as necessidades dos que são de cá. Viver em Hong Kong é muito difícil e muito caro. Tanto a cidade como o próprio Governo estão cheios de mentiras. Então é mais fácil mudar para termos uma vida mais simples, e não apenas por causa do dinheiro”, acrescentou. Roy Tse foi um dos alunos de Alexandre Lui, natural de Hong Kong mas nascido no Brasil graças à mudança dos pais para São Paulo. Quando voltou, e depois de ter estudado o curso de tradução e interpretação do Instituto Politécnico de Macau (IPM), decidiu apostar na organização de cursos lúdicos de português em 2016, que ainda acontecem em dois locais na zona de Wan Chai. Ainda que não seja oficialmente uma escola, o projecto chama-se “Língua Portuguesa em Hong Kong”. “Neste momento, não consigo expandir mais [o projecto] para ter uma escola, porque, como o português em Hong Kong não é língua oficial, é difícil atrair o pessoal para vir sempre às aulas. Comecei ontem [17 de Janeiro] um curso novo, mas esperei quase quatro meses para conseguir arranjar dez pessoas”, frisou. Uma das ambições de Alexandre Lui era expandir o projecto até Shenzhen, não só pela proximidade com Hong Kong, mas também pela existência de muitas empresas, com ligações aos países de língua portuguesa. Antes de vir para Macau tirar a licenciatura, de onde saiu porque não conseguiu obter o bilhete de identidade de residente, Alexandre já dava aulas em Hong Kong devido ao contacto com o português que teve desde criança. Chegou a dar aulas no instituto CAC, ligado à Federação dos Operários de Hong Kong, que disponibiliza vários cursos de línguas e na área das artes. O HM tentou chegar à fala com a federação, que nos disse não prestar declarações a jornalistas. Aulas só para membros Além do instituto CAC e das aulas privadas de Alexandre Lui, o centro SPACE, ligado à Universidade de Hong Kong, também disponibiliza aulas de português. Contudo, o responsável pelos cursos recusou responder às perguntas do HM por estar ocupado com outros planos. O Club Lusitano arrancou o ano passado com a primeira edição do curso de português, do nível básico ao mais avançado, mas as inscrições destinam-se apenas a membros do clube e convidados. “O nosso clube tem origem portuguesa e era importante organizarmos este curso. Temos muitos membros que, ao longo de gerações, foram perdendo a prática de falar e escrever português, e decidimos apostar nesta vertente, procurando professores. Tínhamos uma grande procura por parte de 34 membros e das suas famílias”, adiantou Steve Andley, responsável pelo curso. Também ele é aluno, uma vez que, apesar das raízes portuguesas por parte da mãe, nunca aprendeu a língua. Foram organizados quatro cursos, com dez pessoas em cada turma, mas a segunda edição está suspensa devido ao facto da docente, Isabel Pinto, se encontrar em Portugal. Mas tal deverá ser uma realidade no próximo ano. O curso tem, contudo, uma contrapartida: apenas aceita membros do clube, que por sua vez só podem convidar seis pessoas cada. Alexandre Lui critica o facto do Club Lusitano não se abrir mais à comunidade neste campo. “É difícil [o curso] divulgar porque o clube está um pouco fechado a pessoas que não sejam membros. A associação brasileira em Hong Kong, pelo contrário, tem feito muitas coisas. É pena que o Club Lusitano não tenha um maior acesso à comunidade.” Isabel Pinto, a professora de português do Club Lusitano, foi viver para Hong Kong devido à mudança profissional do marido e, desde cedo, percebeu que existia uma lacuna na oferta formativa em português. A aposta agora é abrir uma escola onde se ensine português. “Abri a minha actividade há poucos meses para poder começar como freelancer no ensino da língua e também noutros serviços linguísticos como tradução, interpretação e escrita de conteúdos. A minha ideia é expandir mais tarde, quando for o momento para isso”, garantiu ao HM. Para Isabel Pinto, há várias razões que podem ser apontadas para esta escassa oferta formativa. “A comunidade portuguesa parece ser bem menos representativa em Hong Kong do que em Macau. Geralmente, são pessoas com competências muito específicas e difíceis de encontrar na zona, como as áreas de engenharia, medicina e hotelaria. É raro encontrar pessoas da área das humanidades, e aquelas que o são podem já ter carreiras intensas que não lhes dão motivos para começar a ensinar português.” Além disso, “também vejo alguma falta de interesse, também por não haver uma tradição de querer aprender português em Hong Kong”. “Tenho visto procura por línguas como o japonês, espanhol ou francês. O português aqui não tem raiz histórica importante como em Macau; é uma língua de nicho”, assegurou. Isabel Pinto chegou a propôr a Alexandre Lui a realização de aulas em conjunto, pois, para a docente do Club Lusitano, era importante apostar “em cursos mais formais e intensivos”. “O português de Portugal e do Brasil são bastante diferentes. Já tinha falado com o Alexandre no sentido de unirmos esforços, pois há uma procura pelas duas variantes, mas foi da parte dele que não houve vontade de colaboração. Os meus cursos são mais formais e intensivos, vocacionados para exames, enquanto os dele são mais lúdicos”, referiu. Para a docente, “se houvesse mais visão e abertura para unir as iniciativas, talvez fosse até proveitoso para ele [Alexandre Lui], já que eu tive de recusar pedidos de alunos por falta de disponibilidade fora do Club, e é difícil encaminhar os alunos para o português do Brasil, pois as pessoas preferem aprender a língua e a gramática originais de Portugal, que são compreendidas em qualquer país lusófono”. Alexandre Lui explica as razões pelas quais decidiu não aceitar esta parceria. “Como ela [Isabel Pinto] disse que o curso era intensivo e formal, não era o meu tipo. O meu curso é mais de lazer, serve apenas para dar alguns conhecimentos sobre a língua para quem nunca conheceu. Para que as pessoas consigam frequentar cursos formais têm de ter uma base de conhecimento [da língua] primeiro. Se não tiverem estes conhecimentos básicos, um curso formal é apenas um desperdício de tempo e dinheiro.” Além disso, Alexandre Lui não tinha disponibilidade. “Durante o dia tenho um trabalho normal numa empresa de importação e exportação. Os meus cursos estão disponíveis apenas no período pós-laboral.” O professor recusa que as suas aulas sejam mais viradas para o português do Brasil. “Na verdade, apesar de eu ser brasileiro, o meu curso é baseado no português europeu. Nos últimos anos, com a presença em Portugal e Macau, o meu português mudou muito, não apenas ao nível do sotaque, mas também ao nível da gramática. Vistos Gold e afins Isabel Pinto defende que o seu público alvo está, sobretudo, na ilha de Hong Kong, onde reside a maior parte dos expatriados, mas não ignora o interesse que os chineses possam vir a ter. “Todos partilham um interesse por Portugal. Há um legado cultural e emocional por explorar, ou um objectivo profissional ou financeiro. Quando digo financeiro, é preciso notar que a política dos vistos Gold é um claro atractivo para esse público.” Também Alexandre Lui defende que a procura por aulas de português nos próximos tempos vai depender do sucesso da política dos vistos Gold em Portugal. “Graças à política de emigração dos vistos Gold, tenho muitas pessoas que querem aprender a língua, porque querem investir ou viver em Portugal. Eles não têm uma visão positiva sobre o futuro de Hong Kong, então procuram outras saídas.” Ainda assim, Alexandre Lui prefere por organizar os interessados nos cursos de português em três grupos. “A maioria das pessoas aprendem por motivos de emigração, em segundo pelo trabalho, porque há pessoas que trabalham em empresas portuguesas ou brasileiras, e depois há quem estude mesmo pelo interesse. A Anita quis estudar, e foi uma das minhas primeiras alunas, por interesse, porque gosta mesmo de Portugal.” Anita Wong, que acompanhou Alexandre Lui na entrevista ao HM, escreveu um guia turístico em chinês sobre Portugal e entregou na passada sexta-feira alguns exemplares em Macau. Quando decidiu partir para uma nova aventura linguística, Anita Wong tentou o Instituto CAC, mas não teve aulas de imediato. “O português não é a língua mais popular, então tive de esperar três vezes para que tivessem alunos suficientes para abrir o curso.” Anita Wong decidiu aprender português por mero interesse, depois de ter conhecido um amigo luso através do seu blogue na plataforma Yahoo, em 2009, onde escrevia sobre a sua equipa de futebol preferida: a Juventus. Hoje, viaja para Portugal todos os anos, apesar de saber dizer algumas palavras na língua de Camões. Números “insignificantes” Jason Santos, nascido no Canadá, é outro dos portugueses que reside em Hong Kong e que, em tempos, investiu numa escola de línguas que fechou o ano passado por questões financeiras. “Não fechei por falta de alunos, porque tinha muitos, felizmente, sobretudo de inglês. Fechei devido a problemas de renda. Não quero voltar a tentar porque os custos em Hong Kong, seja onde for, são muito altos e o próprio investimento inicial é demasiado elevado. Tenho sempre querido fazer as coisas com qualidade”, contou ao hm. Jason Santos nota que “há mais gente que procura [o ensino do português] mas incomparavelmente menos que outras línguas europeias”. Ao contrário do que pensam Alexandre Lui e Isabel Pinto, Jason Santos não vê um aumento de interesse associado aos vistos Gold. “No que toca a Hong Kong, não posso concordar com a afirmação de que tenha qualquer relacionamento com vistos Gold e afins. Pelo que tenho visto e ouvido, os alunos são movidos por uma série de razões bastante pessoais, desde antigas famílias ou membros de família que vieram a dada altura de Macau, por exemplo, ou pelo facto dos descendentes sentirem interesse pessoal ou por outras razões. Haverá gente que procura português simplesmente por querer algo diferente.” Perdido no meio de tantas línguas europeias, os números da procura pelo português continuam a ser “insignificantes”, assegura o professor, hoje a trabalhar numa escola pública. “A haver um aumento seria muito pequeno e por razões anómalas, e não uma tendência.” Steve Andley nota algum interesse pela língua por questões económicas, mas assegura que no Club Lusitano os objectivos dos membros são diferentes. “O nosso clube representa isso, temos essa ligação à comunidade portuguesa, quer sejam nacionais ou de Macau. Para nós, [a situação] é diferente da generalidade do resto do público, porque os nossos membros querem voltar a ter uma ligação a Portugal e à cultura ao invés de quererem sair de Hong Kong.” Ainda assim, o responsável nota mais interesse pela língua da parte de chineses que não só querem aprender coisas novas como têm interesses económicos. “Alguns têm vistos Gold e compraram casa em Portugal, ou desejam ter um visto.” Perda de identidade Jason Santos dá outro exemplo de como o português na região vizinha é mesmo um nicho, apesar de se notar uma ligeira procura. O professor chegou a dar aulas no St. Joseph’s College, uma escola que “há 140 anos era portuguesa”. Contudo, “hoje em dia esse legado praticamente não é conhecido ou referido”. “Existem antigos alunos com quem tive a oportunidade de falar que se motivaram a aprender português devido a esse sentimento de pertença que tinham para com a escola, e daí saíram grandes oportunidades de negócios. Mas continuam a ser muito poucas as pessoas a querer estudar a língua.” Isto porque “um indivíduo com passaporte de Hong Kong consegue entrar na União Europeia com relativa facilidade, são pessoas sempre mais viajadas que os compatriotas do outro lado da fronteira”. “Todos os dias falo com pessoas que querem emigrar, Portugal nunca vem à tona”, frisou Jason Santos. Gonçalo Ramos, a residir em Hong Kong há 11 anos, acredita que “há cada vez mais pessoas à procura [de aulas de português], de dentro e fora da comunidade”. “Há pessoas que pedem para ser adicionadas ao grupo ‘Portugueses no Facebook’, com intenção de procurarem quem as possa ensinar. Há também indicações de quem ensina português que diz não ter tempo livre e que inclusive procuram encaminhar solicitações para outros educadores.” Casado e com duas filhas, Gonçalo Ramos tem, ele próprio, dificuldade em encontrar um professor para elas. Na sua visão, além das aulas do Club Lusitano, que “tiveram uma boa resposta”, deveria haver mais oportunidades. “As ofertas resumem-se a iniciativas privadas de indivíduos ou de poucas escolas e institutos”, assegurou. Roy Tse conta que ele próprio teve dificuldade em encontrar alguém que o ensinasse. “É muito diferente encontrar lições ou um professor para aprender português em Hong Kong [comparativamente com Macau]. Em Hong Kong é mais fácil encontrar cursos de espanhol, holandês ou até grego. Felizmente, encontrei o Alexandre no grupo ‘Portugueses em Hong Kong, mas não tenho a certeza se ele é o melhor tutor, pois é do Brasil.” O estudante de português assegura que, pelo menos, Alexandre Lui transmitiu-lhe os sons da Bossa Nova. “Também me falou da história de Portugal e de Macau. Seria óptimo se me ensinasse mais sobre fado”, rematou.