Andreia Sofia Silva EventosMacaenses | “Amochâi”, documentário de Albert Chu, exibido amanhã É exibido amanhã na Associação dos Macaenses o documentário “Amochâi”, da autoria de Albert Chu. O filme tem como protagonista “Bela”, ou Elisabela Larrea, que se torna peça chave para revelar os elementos identitários da cultura macaense, incluindo o patuá e os Dóci Papiaçám di Macau “Amochâi” é o nome do documentário da autoria de Albert Chu, ligado à Associação Audiovisual Cut, que revela as especificidades da comunidade macaense e que pode ser visto amanhã às 17h na sede da Associação dos Macaenses. “Bela”, ou seja, Elisabela Larrea, macaense e estudiosa do teatro em patuá, é a protagonista deste documentário de 80 minutos. A partir da sua história revelam-se tantas outras de macaenses, os chamados “filhos da terra”, e das suas especificidades culturais. Segundo a sinopse do documentário, “Bela” foi aluna de Albert Chu nos anos seguintes à transferência da administração portuguesa de Macau para a China. Mais tarde, o realizador do filme soube que ela tinha terminado um mestrado e doutoramento e sentiu uma “grande admiração por aquilo que conseguiu atingir, tendo-se tornado genuinamente interessado em conhecer a sua tese de doutoramento sobre o teatro em Patuá”. Inicialmente, o realizador pensava que a peça de teatro em patuá não passava de uma actividade cultural que todos os anos se apresenta no Festival de Artes de Macau, mas depressa percebeu o contexto histórico que estava por detrás, “a relevância cultural e o impacto nas comunidades macaenses”. “Juntamente com entrevistas com macaenses realizadas nas fases iniciais da transição de Macau, [Albert Chu] teve a oportunidade de revelar um conjunto de retratos dos aspectos únicos da existência macaense”, descreve-se na sinopse. Contar a cidade Ao HM, Albert Chu contou que o documentário está ligado a um projecto da Associação Audiovisual CUT intitulado “Tu Estás Aqui” [You Are Here], iniciado há cerca de dois anos. A ideia do projecto é “documentar um certo número de pessoas que consideramos dignas de serem recordadas a longo prazo, sobretudo pelo que fizeram à nossa cidade e pelo que insistem em fazer”. “Amochâi” é o primeiro filme dessa iniciativa. “Bela”, antiga aluna universitária de Albert Chu e descrita por este como “entusiasta da promoção e da preservação da cultura macaense”, tornou-se protagonista, deixando de ser apenas “uma macaense bonita”, que não era “uma estudante trabalhadora”, para se tornar no elo central neste projecto fílmico. “Amochâi” conta ainda com contributos de Miguel de Senna Fernandes, presidente da ADM e autor das peças de teatro em patuá, e Sérgio Perez, realizador dos vídeos que habitualmente se apresentam nas peças. “Todas as entrevistas de ‘Amochâi’ podem parecer desconexas, mas acabam por traçar um retrato da comunidade macaense. Sempre procurei perceber o sentimento de pertença que os residentes de Macau têm em relação à sua cidade”, aponta Albert Chu, que, como chinês de Macau, confessa ter tido sempre pouco contacto com macaenses. “Quando era mais novo tive muito pouco contacto com macaenses, e os poucos contactos estiveram ligados a experiências desagradáveis na obtenção de documentos do Governo. Durante a administração portuguesa, como não entendíamos a língua, eram os macaenses que nos atendiam por serem bilingues, e na altura não me pareciam muito simpáticos. Mas, à medida que fui crescendo e comecei a fazer filmes independentes, compreendi que têm uma ligação emocional a Macau”, confessou. Uma nova versão Ao ver a comunidade macaense com outros olhos, Albert Chu acabou por percepcionar “o apego e sentimento de pertença” que os macaenses têm em relação a Macau e que se torna “num tesouro precioso para a cidade”. “Posso dizer que o sentimento de pertença é muito mais forte do que o nosso, dos residentes chineses de Macau. A sua existência transformou Macau em algo único na China e com significado histórico”, apontou. Questionado sobre se haverá uma nova versão de “Amochâi”, Albert Chu diz precisar de mais tempo para observar. “Na verdade, estou interessado em documentar a tuna macaense e a banda, pois produzem boa música e as suas letras reflectem uma profunda ligação emocional a Macau, valendo a pena apresentar a um público mais vasto”, concluiu.
Hoje Macau EventosADM | Segunda edição do Chá Gordo acontece este sábado A Associação dos Macaenses (ADM) volta a promover, este sábado, mais uma mostra do Chá Gordo, que terá como tema o casamento. Desta forma, os participantes poderão recordar o período das décadas de 50 e 60 quando, nas cerimónias do casamento, o copo de água era feito com um Chá Gordo. Os participantes são convidados a provar mais de 30 pratos tradicionais, incluindo os tipicamente criados para o casamento e aqueles que nunca podem faltar num Chá Gordo, tal como o arroz gordo, o chau-chau lacassá, o aspic de camarão e o bolo menino. Incluem-se ainda iguarias como Peixe Depenado (mínchi de peixe), galinha na tempo di caça e sarrabulho de galinha. Os pratos serão preparados pelos chefes Marina de Senna Fernandes, Armando Sales Richie, Florita Alves, Gito de Jesus, Joyce Barros, Ivone Nogueira, Mena Pacheco Silva, Berta Lei e Wilma Marques. A ADM irá decorar a sala da sua sede, na Rua do Campo, à maneira antiga, fazendo-se um apelo para que os participantes vistam “os melhores trajes” para que possam plenamente desfrutar da experiência. A mostra temática “Chá Gordo – O Casamento” começa às 17h30 e termina às 20h30. Os bilhetes custam entre 230 e 280 patacas para adultos e 120 patacas para crianças dos 3 aos 11 anos. Por sua vez, em Portugal, a Casa de Macau em Lisboa promove um workshop de comida macaense com Maria João dos Santos Ferreira. A partir das 16h os participantes poderão aprender a confeccionar pratos como sopa de lacassá, bacalhau macaísta, Dourado, Tchatíni com arroz branco e legumes salteados e Arroz-Doce Macaense.
Andreia Sofia Silva Eventos MancheteChá Gordo | ADM promove quatro sessões até ao final do ano Realiza-se já amanhã, na sede da Associação dos Macaenses, uma sessão de Chá Gordo, uma refeição volante típica da gastronomia macaense, e que será a primeira de três que a associação irá promover até final do ano. Miguel de Senna Fernandes, presidente, diz que é uma forma de revitalizar o leque de actividades Experimentar as iguarias do Chá Gordo, uma tradicional refeição da gastronomia macaense, será possível amanhã, na sede da Associação dos Macaenses (ADM), entre as 17h30 e as 20h30, sendo esta a primeira de três sessões do género que a associação pretende organizar até final do ano. O menu está a cargo de Marina de Senna Fernandes e a actividade é subsidiada pela Fundação Macau. Ao HM, Miguel de Senna Fernandes, presidente da ADM, disse que já ultrapassaram as 40 inscrições. “Esta é uma primeira amostra e vamos ter mais três até ao final do ano. Temos um número limitado de pessoas e parece-me que as inscrições estão no bom caminho, já temos mais de 40. Se não fizermos absolutamente nada estamos a colaborar com a estagnação [que Macau vive em termos de actividades], e esse não é o meu estilo. Vamos fazer o que for dentro do possível”, adiantou. O Chá Gordo, por tradição, “era um evento com uma refeição muito rica, feita pelas velhas famílias macaenses que tinham condições para o fazer”. “Era motivo de orgulho mostrar aos amigos e convidados em geral. O Chá Gordo era um momento pouco chique, não se esperava que os homens vestissem fraque. Mas havia uma certa indumentária, lembro-me bem das pessoas que apareciam no Chá Gordo, que se vestiam bem, porque o evento assim o justificava.” Desta forma, acrescentou Miguel de Senna Fernandes, o evento da ADM exige “dress code”, sem necessidade de vestidos de cerimónia. “Queremos que as pessoas evitem ir de calças de ganga e ténis, para que entendam o espírito do Chá Gordo.” Molhos e companhia Marina de Senna Fernandes levantou a ponta do véu sobre os pratos que poderão ser provados numa refeição cheia de diversidade e onde os convidados ficam de pé a servir os pratos. “Vou usar um prato muito antigo, o Missó Cristão, que é um molho com origem japonesa, do tempo dos missionários japoneses e jesuítas que estavam em Macau. Esse prato foi praticamente esquecido e hoje em dia já ninguém faz, mas o molho é muito versátil e pode ser usado com peixe, camarões ou entrecosto. Já o fiz várias vezes e vou fazer com bacalhau e camarões. É um molho muito especial.” Haverá ainda o “Arroz Gordo”, tido como a “dama da festa”, pois “Chá Gordo sem o Arroz Gordo não é Chá Gordo”, disse Marina de Senna Fernandes. É um arroz feito à base de guisado de várias carnes com ovos de codorniz, frutos secos e polpa de tomate. “Esta é uma mostra da arte de bem receber e de hospitalidade. Todas as carnes do Chá Gordo têm de ser cortadas para serem comidas na hora, para não deixar que as pessoas usem as mãos ou talheres”, concluiu. Marina de Senna Fernandes disse ainda que o próximo Chá Gordo na sede da ADM terá lugar no dia 15 de Outubro, onde serão desvendados os segredos do Chá Gordo para casamentos, “onde a comida é um bocadinho diferente”.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeADM | Associação “paralisada” com novos critérios da Fundação Macau A cantina da Associação dos Macaenses deveria reabrir este mês, mas tal não será possível. Eventos como a festa de Natal vão obrigar a uma ginástica orçamental e a planos de gestão alternativos. Miguel de Senna Fernandes, presidente, diz que os novos critérios de subsídios definidos pela Fundação Macau vieram baralhar os planos da direcção Miguel de Senna Fernandes, presidente da Associação dos Macaenses (ADM), diz que a entidade está “paralisada” devido, em parte, aos novos critérios de atribuição de subsídios a associações definidos pela Fundação Macau (FM). O facto de terem sido feitos cortes financeiros e de o montante ser definido consoante o número de actividades realizadas está a limitar o alcance que a ADM pode ter. A reabertura da cantina, um dos espaços mais frequentados pela comunidade macaense, mas não só, não tem data para voltar a abrir portas, desde que os funcionários rescindiram contrato em Abril deste ano e deixaram Macau. Entretanto, contratar tornou-se quase impossível devido à falta de dinheiro e de recursos humanos. “A ADM está parada por causa das restrições e há muitas limitações que se impuseram. A cantina ficou completamente estagnada e vamos procurar reabri-la. Neste momento ainda não há condições porque não tem sido fácil a contratação de pessoas porque não há dinheiro. Logo que haja condições financeiras para a contratação, obviamente que a cantina não vai parar. Talvez no início do próximo ano [possa reabrir], mas nem quero apostar numa data.” Sim às actividades A ADM está, assim, apostada na realização de diversas actividades, nomeadamente vários eventos de Chá Gordo até ao final do ano, entre outras. “Até ao fim deste ano a ADM vai apostar em várias actividades, dentro das condições mínimas que tem, para merecer este atendimento da FM. Ficamos praticamente paralisados em vários eventos do exterior, como a Festa de Natal ou de S. João, sem pessoal não vamos conseguir realizá-los. Estamos limitados em tudo o que envolva confecção de comida.” A realização da festa de Natal, algo habitual para muitas associações locais, está também em risco. “Vamos ver se conseguimos fazer a festa de Natal, porque precisamos de pessoal e mais apoio. Já não temos dinheiro para essa festa e vamos ter de arranjar uma solução minimamente comportável para os sócios e que cubra as despesas mínimas, como a própria refeição e a banda”, disse Miguel de Senna Fernandes.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeComunidades Portuguesas | Associações em dificuldades pedem atenção a Portugal A Casa de Portugal em Macau e a Associação dos Macaenses relataram a Rita Santos as dificuldades financeiras e operacionais pelas quais estão a passar nesta fase da pandemia, alertando que é necessária maior atenção por parte das autoridades portuguesas Rita Santos, na qualidade de Conselheira das Comunidades Portuguesas, reuniu dia 16 com representantes de associações de matriz portuguesa do território a fim de levar sugestões e ideias para a reunião anual do Conselho das Comunidades Portuguesas, que se realiza em Lisboa de 4 a 19 de Julho. Segundo uma nota de imprensa, associações como a Casa de Portugal em Macau (CPM), Associação dos Macaenses (ADM) e Associação dos Jovens Macaenses estiveram representadas. Amélia António, presidente da CPM, “assinalou as dificuldades financeiras que atravessa a instituição devido a obstáculos burocráticos associados aos apoios de que a mesma depende, e que resultam do abrandamento da economia local”. A responsável disse ser “fundamental continuar a transmitir às autoridades responsáveis em Portugal a importância do apoio constitucional às actividades da CPM”. Além disso, Amélia António “falou da necessidade de promover o intercâmbio entre instituições como forma de apoio às actividades da CPM”. O encontro serviu também para debater “a renovação dos contratos dos portugueses no território, a necessidade de aumentar a participação dos portugueses nas acções do Fórum Macau, permitindo, assim, promover a diversificação e a sustentabilidade das actividades económicas da RAEM e intensificar as relações entre China e Portugal”. Foi ainda discutida “a importância da definição de uma política cultural para Macau”. Por sua vez, Miguel de Senna Fernandes, presidente da ADM, disse “comungar de algumas das preocupações expressas pela presidente da CPM, nomeadamente a notória dificuldade de Portugal interpretar as características de Macau e as especificidades dos portugueses de Macau”. O presidente da ADM “enalteceu o esforço da comunidade macaense e os seus representantes na manutenção da identidade cultural de origem portuguesa”, além de ter sugerido a “promoção de um intercâmbio de conhecimentos e formação em áreas específicas de que o território poderia beneficiar da experiência portuguesa”. Preservar a identidade Dirigida por António Monteiro e Paula Carion, a Associação dos Jovens Macaenses apresentou a estratégia de acção para os próximos meses, tendo em conta que a nova direcção foi eleita há poucos meses. Um dos objectivos é “acentuar a preservação da identidade cultural de Macau”, considerando “fundamental a importância da ligação com os jovens da diáspora macaense, algo que poderá ser facilitar através do desenvolvimento de uma plataforma tecnológica para o efeito”. A mesma associação disse na reunião com Rita Santos que é necessário “expandir as actividades para as áreas abrangentes dos interesses dos jovens da comunidade, tais como a economia, o desenvolvimento e a tecnologia, em complemento da sua componente cultural, no âmbito da actual estratégia do desenvolvimento da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau”.
Isabel Castro Entrevista MancheteJosé Sales Marques, presidente reeleito do CCM: “Há muito trabalho pela frente” São mais três anos a liderar o Conselho Permanente do Conselho das Comunidades Macaenses, um mandato renovado esta semana. José Luís Sales Marques defende que é preciso as Casas de Macau têm de começar a pensar no futuro. É ainda necessária uma nova abordagem às estruturas da diáspora, para que possam ser projectos sustentados [dropcap]T[/dropcap]em mais um mandato pela frente, depois das eleições desta semana que aconteceram durante o Encontro das Comunidades Macaenses. O que poderão ser os próximos três anos à frente do Conselho Permanente do Conselho das Comunidades Macaenses? Espero que os próximos três anos sejam de algum avanço relativamente ao que estamos a fazer, e de alguma consolidação também do Conselho das Comunidades Macaenses e do trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelas Casas de Macau. É claro que, quando falo em consolidação, não quero com isto dizer uma paragem no tempo porque, de facto, para mim consolidar significa andar para a frente. Todos nós temos muito trabalho pela frente. Ainda somos organizações com alguma fragilidade, que resultam de realidades que temos de enfrentar. O grupo tradicional que constitui as casas de Macau é um grupo com uma idade avançada. Por exemplo, este ano, a Casa de Macau em Lisboa celebrou 50 anos. O Club Lusitano de Hong Kong vai celebrar 150 anos de existência a 17 de Dezembro deste ano. É preciso que haja então uma renovação dos membros. A renovação dos membros é fundamental e é importante também uma certa abertura. Por exemplo, em relação ao Club Lusitano de Hong Kong, tive oportunidade de ouvir a história pela parte dos seus dirigentes: tem vindo a renovar-se, o que é muito importante. Renova-se a partir de uma maior abertura e flexibilidade naquilo que os dirigentes consideram ser os possíveis sócios do Club Lusitano. Algumas casas optam por critérios que passam por uma relação talvez um pouco restrita no que diz respeito a Macau, outras têm associado a isso a questão da nacionalidade portuguesa. Há várias situações, todas elas diferentes, há vários critérios, mas penso que, fundamentalmente, a questão mais importante é a autenticidade na ligação a Macau. Agora, essa ligação não tem de ser necessariamente de passaporte ou apenas de família – pode ser, na minha opinião, uma ligação afectiva. Com isto quero dizer que, provavelmente, se formos explorar os diversos caminhos da renovação há outras possibilidades não só de atrair mais gente jovem, como de ser um projecto sustentado. As casas – e o próprio Conselho das Comunidades Macaenses – vivem sempre com uma certa penúria de fundos. O Conselho das Comunidades funciona sem quota dos seus associados, obviamente, porque os associados são organizações que, depois, têm de viver com os seus próprios fundos. Se houver um maior número de sócios, haverá formas de procurar melhorar a situação operacional das casas – para isso é preciso algum dinheiro, são necessárias outras condições, é preciso também muitas ideias. Há aqui muito trabalho a fazer, é preciso olhar para o futuro, procurar os meios para garantir a sustentabilidade destas organizações. Em que outros aspectos é que poderá haver renovação? A renovação tem de ser física, desde já, com elementos mais jovens. Isso já está a acontecer nalgumas casas, no que diz respeito a novos sócios, mas terá de ser feito também ao nível das próprias direcções. As equipas dirigentes vão ter de procurar integrar elementos jovens. Haverá um período de transição, mas isso será sempre inevitável. Corre-se o risco de algumas casas de Macau poderem conhecer, em breve, um vazio ao nível das direcções? Não necessariamente. Mas todos nós temos de nos preparar para o futuro. Ninguém é eterno. Deve ser uma questão de projecto: as casas devem ter como objectivo a sua própria renovação, que é fundamental. Em Macau, temos visto a Associação de Jovens Macaenses, que é uma coisa boa; outras casas terão outros esquemas de integração de jovens. Fundamentalmente, os programas é que precisam de ser capazes de atrair a participação de gente mais jovem. Muitas vezes, são programas muito tradicionais, ligados aos aspectos mais óbvios da cultura macaense – a gastronomia, algumas celebrações e tradições. Deve haver uma variedade de programas quer ao nível cultural – que é onde as casas se sentem mais à vontade e que seria a sua vocação inicial –, quer noutros programas que podem até vir a ter alguma componente económica. As casas são uma rede de nódulos, cada casa é um nódulo, e as casas são constituídas por pessoas, nalguns sítios particularmente, com muito boas ligações com a sociedade. Se calhar, há oportunidades que podem ser criadas. Dou um exemplo: uma casa do Canadá, que costuma vir à Feira Internacional de Macau (MIF, na sigla inglesa), sugeriu que se pensasse na possibilidade de mais casas participarem na MIF ou noutros eventos do género aqui no território. No fundo, é a vontade de alargar o âmbito de actividade para as questões económicas. Em que medida é que o Conselho Permanente pode ajudar a desenvolver novos programas? O Conselho tem de ter um papel mais activo na coordenação e na troca de informações. É uma necessidade e espero poder cumprir isso. Este mandato vem com uma mensagem clara: é necessário melhorar a intercomunicação entre as casas e o conselho terá esse papel, até para a partilha de experiências e a identificação de oportunidades para projectos unificadores, em que a maior parte das casas possam estar envolvidas. Não é necessário que sejam todas mas, pelo menos, uma parte delas. É um pouco aquela ideia da União Europeia, da cooperação reforçada. Não é preciso que toda a gente ande no mesmo caminho, mas se houver um grupo com interesse para o fazer, deve ser apoiado. Esse é um papel do Conselho das Comunidades. Outro é procurar servir de elo de ligação com as autoridades de Macau, particularmente com a Fundação Macau (FM). Em várias oportunidades, tivemos conversas com a FM que se mostra disponível, mas quer também alguma segurança de que efectivamente aquilo que está a apoiar tem que ver com os objectivos e com os projectos do Conselho das Comunidades. Portanto, o Conselho pode e deve ter esse papel de facilitação junto das autoridades locais – quem diz a FM, que é o parceiro mais óbvio, poderia dizer outros departamentos, como o Instituto Cultural e o Turismo. Falou-se muito – e já não é a primeira vez que acontece – que as casas de Macau poderiam ser úteis para a divulgação do turismo do território, por razões várias. Muitas delas têm sedes em edifícios que podem ser usados para exposições e apresentações. Seria uma sinergia interessante. A Casa de Macau em Lisboa, por exemplo, tem umas boas instalações; o mesmo acontece em São Paulo. Estamos na semana do Encontro das Comunidades Macaenses. Como é que está a correr a edição deste ano? Tem corrido muito bem. Obviamente, há sempre surpresas, umas mais agradáveis, outras menos, porque as pessoas estão habituadas a uma certa ideia de Macau e a cidade que hoje se apresenta é diferente. Essa é a primeira reacção – uma reacção de uma certa estranheza mas, como se diz, primeiro estranha-se e depois entranha-se. No essencial, está a correr bem. O que queremos é que, independentemente daquilo que seria a sua percepção anterior à chegada, com esta vinda seja proporcionada às pessoas uma oportunidade para conhecerem melhor a Macau do presente e do futuro próximo. Há pessoas que não vinham cá há muitos anos. Algumas sim. Há pessoas que não vinham cá há 40 anos – é muito tempo. Outras têm vindo com mais frequência, mas basta não vir a Macau um ano ou seis meses para parecer diferente.
Sofia Margarida Mota SociedadeAssociação dos Macaenses comemora duas décadas [dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ão 20 anos de Associação dos Macaenses (ADM). Duas décadas marcadas “por altos e baixos e nem mesmo nas priores alturas, quando todos pensam em desistir, nós o fizemos”, afirma, ao HM, Miguel Senna Fernandes, presidente da associação que representa a comunidade Macaense. Apesar dos limites que a ADM atravessa e que lhe têm sido transversais ao longo da existência, para Miguel Senna Fernandes o balanço é, no geral, positivo. Os desafios são muitos e as questões essencialmente ligadas à escassez de fundos e de recursos humanos marcam os trabalhos da associação que não quer ver a identidade local morrer. São razões de regozijo, a persistência. Mesmo diante dos preconceitos muitas vezes levantados, a ADM não desiste. “As pessoas, talvez por Macau ser muito pequeno, quando vêm determinadas acções por parte de uma associação ou dos seus dirigentes tendem a conotá-las com algum cariz político ou de qualquer outro género”, afirma o presidente. No entanto, e nesta altura da vida, a associação pretende afirmar-se como uma “plataforma em que todos possam estar presentes independentemente da sua orientação e sensibilidade política” afirma Miguel Senna Fernandes enquanto adianta que é objectivo da associação manter-se neutra de modo a que caibam todos. “Neste momento, somos uma associação respeitada e com lugar no mapa. Não temos projectos concretos para o futuro mas o sonho é sermos uma entidade chave não só dentro de Macau mas por toda a diáspora”, refere quando questionado acerca do futuro. O motivo para este desejo já existe e é porque “a comunidade macaense já está em todo o lado e a ADM pode vir a ter um papel de relevo nas relações com a diáspora. Representante da comunidade Macaense, não é sem preocupação que Miguel Senna Fernandes refere a sua tendência para a diluição. E é com este processo “de extinção” em conta que a associação continua a tentar manter uma dinâmica com fôlego, quer em actividades de entretenimento que ajudem a preservar o que é Macaense quer com acções, nomeadamente colóquios, que abordem a “identidade da terra”. “É preciso não deixar morrer as coisas e estar numa constante missão de alerta da própria comunidade porque sem isso temo que o desaparecimento seja inevitável”. É este o panorama que a ADM quer evitar e que, por isso, “tentar estar sempre a fazer alguma coisa”. Na calha está ainda a abertura da nova sede até ao final deste mês e com mais uma etapa conseguida a ADM pretende reorganizar-se e preparar-se para a continuidade.
Hoje Macau Manchete SociedadeADM reabre em Setembro com preços actualizados [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Associação dos Macaenses (ADM) espera abrir portas até ao final do mês de Setembro. Depois de ter estado fechada para obras profundas, Miguel Senna Fernandes admite que os preços das quotas e da cantina vão aumentar, mas espera que aquele continue a ser um espaço de convívio para sócios e amigos. Foi um longo percurso desde que fecharam portas até ao presente momento. Mas as obras de remodelação na ADM estão concluídas, “faltando apenas uma vistoria oficial e a colocação do material da cantina e de escritório”, refere o presidente da Associação, Miguel Senna Fernandes. Conhecida como espaço de convívio e sobretudo referenciada pela cantina, a Associação estava há já algum tempo a precisar de ter “cara lavada” e fechar foi uma decisão que teve de acontecer, frisa o responsável. O período foi-se arrastando devido a questões burocráticas como licenças e vistorias. “À medida que os problemas apareciam fomos resolvendo mas a verdade é que atrasou tudo.” Durante o tempo em que as obras decorriam, a Associação manteve-se a funcionar mas, num espaço muito reduzido, onde não era possível desenvolver as actividades do costume. “Ter a sede fechada causou grandes constrangimentos e tivemos de suspender muitas actividades”, acrescenta. “Como em Outubro se festejam 20 anos de existência, a ADM gostaria que a festa já acontecesse no novo espaço”. O espaço é o mesmo mas sofreu algumas alterações, “tudo para respeitar as normas previstas”. Com capacidade para acolher o mesmo número de pessoas, vai ser ajustada cantina, que terá algumas novidades. “Reajustamos os preços que já estavam desactualizados”, no entanto, o valor dos aumentos ainda não foi discutido. As quotas também vão ser aumentadas. “Estamos a tentar alterar os cartões dos associados para que, através de acordos com empresas de prestação de serviços, possam ter alguns descontos.” Ao todo são cerca de mil os sócios, mas “há mais umas 400 pessoas que também aqui vêm e que continuam a ser bem-vindas”, indica o presidente da ADM. “Estivemos encerrados tanto tempo que espero que as pessoas não tenham perdido o hábito de aqui vir.” Quanto às obras no Costa Nunes, Miguel Senna Fernandes diz que “as pinturas já foram concluídas e falta fazer limpezas”. Acredita que a 7 de Setembro o jardim-de-infância possa estar preparado para abrir portas. O início do ano escolar é exactamente nesse dia. “Mas informaremos a imprensa quando tivermos a certeza da data da abertura até para sossegar os pais das crianças”, conclui.