Ímpar

«Numero deus impare gaudet»

 

[dropcap]F[/dropcap]rase romana que diz que os deuses amam os números ímpares, crendo então na forte probabilidade do Ano inaugural vir a ser amado por eles e talvez por todos nós. Nós, que gostamos de coisas e pessoas ímpares, pois sem dúvida que essa particularidade nos encanta e perturba muito mais que ser par, mesmo que de paridades se viva e de tráfico comercial, também, dado que: “ao par é sempre mais barato”.

Mas o que é certo é que não há nada que resulte bem sem essa imponderabilidade dos ímpares, mesmo nas nossas comuns associações que não raro esbarram para sociedades aos pares, a par, e que param. O movimento. Esbarra com toda a orientação que inove a vida de modo a saber e poder ser vivida, impõe-nos funções que pouco se contornam, daí, o par explodir, ser de natureza destrutiva e de iguais desfechos.

O Ano abre então neste nosso calendário, fechando a década, com o luminoso dezanove, mas, como penúltimo, ímpar, único, como súmula do ciclo quase findo, nestes períodos contemplamos a veracidade desta matéria mesmo que uma década após tendemos a esquecer. «Yung e o Tarô uma viagem arquetípica» um plano de estudo que foi feito para alcançar o conhecimento dos arcanos menores do Tarot de Marselha, composto por vinte e duas cartas, falará da jornada do herói até ao número dezanove que é o que nos interessa agora analisar, o Sol! Remetendo-nos de início para os Contos da Inocência de Blake há uma luz que nos apazigua e convida ao retorno a uma zona pouco experienciada na esfera de evolução em que nos encontramos.

A noção apolínea do Ano agora em curso é um convite a todo esse diálogo de elementos não só apaziguadores como inversores a toda a ofensa severa face à natureza das coisas. Se todas as espécies de neuroses são as sombras agarrando-nos para sobreviverem a estranhas dimensões através dos nossos frágeis seres, este ano, talvez seja bom pensar nalguma providencial queda das suas influências, dado que o Sol atingindo o zénite as fulmina. Saídos das eras das molduras- de molduras penais, das molduras sociais, das molduras de ser, das molduras dos grupos, fomos saindo devagar das agrestes derivas de um processo duro e insano, e o nosso ser mais íntimo deixou de olhar de olhos abertos o grande espectro da intensa luz, feridos nos grandes cativeiros que a vida ganhara brilhos tremendos.

Pode ser de ora avante um convite ou apenas uma simples nota que convém registar, que o paradigma humano, esse, se transformou, e anos bons aconteceram, “annus horribilis” pares, ímpares, primos, mas poucos nos dão de facto a alegria de um número assim, e se falarmos de uma convenção, então poder-se-ia afirmar também que tudo o é, com a grave incerteza de não se saber se algumas nos repõem a alegria, só quando as convenções se ajustam ao hábito a natureza das coisas pode ser modificada. Solar, leva-nos para casa na ideia de habitat amplo e requintado- viver num solar- ao mesmo tempo existe neste nomear a ideia de jardim, e o jardim faz parte da estrutura simbólica do significado do arcano que nos despe dos restos mortais dos andrajos costumeiros e nos coloca livres e nus num espaço deleitoso.

Entrar num mundo cercado pode significar aqui, segurança, vimos como o desventrar dos espaços ameaçaram os nossos equilíbrios e nos fizeram sentir invadidos, como a transfusão de muitos corpos habitando os mesmos lugares transformou o chão em palcos de guerra, recolher ao instante feliz não será por isso um mal, nem ousar retirar dele todos os que o profanam na sua primeira dimensão psíquica de paraíso. De qualquer das formas há que a ele regressar. Há prerrogativas que se firmam como segredos, silenciosamente. Após toda a névoa de uma mente que não fixou um saber libertador entraremos na experiência directa com a recuperação de uma energia renovável, cuja vontade é olhar, ficar, e viver toda a alegria das coisas ao redor. Hoje mesmo havia a tal neblina fria que nos inunda de um mistério antigo, coisas de quando ainda gravitávamos na escuridão …nós, a quem nascem guelras nos momentos em que precisamos de processar a água atmosférica e que fomos criando lianas nos fundos da alma…!

Atravessemos o tempo com algumas reformas e mudanças na jornada do caminhante que somos, deixemos o dia lavado, as coisas ditas, as formas ser, e quando tudo for restaurado nos subtis equilíbrios, esperemos o Sol . Ele vai levar-nos para Casa. Fala o número, Jung, e este instante da Criança Eterna.

15 Jan 2019

‘Storm Surge’ | Dados de vigilância em tempo real até ao final do ano

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) esperam receber, até ao final do ano, dados de vigilância em tempo real de estações marítimas flutuantes construídas pelo Instituto de Ciência do Rio das Pérolas, que irão permitir reforçar a capacidade de vigilância e de previsão do fenómeno de ‘storm surge’ (subida anormal do nível da água). Em comunicado, divulgado na sexta-feira, os SMG indicam que as informações a receber, no âmbito da cooperação com o instituto, vão proporcionar “referências importantes”, na medida em que incluem dados sobre a profundidade da água, as correntes marítimas, a altura das ondas, bem como a velocidade e direcção do vento e a pressão atmosférica, entre outros. No total, existem cinco estações marítimas flutuantes colocadas na zona marítima próxima de Macau. O Instituto de Ciência do Rio das Pérolas funciona sob alçada da Comissão de Recursos Hídricos do Rio das Pérolas do Ministério de Recursos Hídricos da China.

3 Set 2018

Criminalidade violenta caiu na primeira metade do ano

 

[dropcap style=’circle’]M[/dropcap]acau continua com um “ambiente estável” no que toca à segurança. Quem o diz é o secretário da tutela, Wong Sio Chak, apoiando-se nos números relativos ao primeiro semestre do ano, apresentados ontem em conferência de imprensa. Entre os principais indicadores surge a criminalidade violenta, que diminuiu sensivelmente um quarto.

A impulsionar o registo esteve a queda significativa dos casos de sequestro que caíram 37,7 por cento comparativamente à primeira metade do ano passado, tendo a esmagadora maioria – 135 em 144 – tido origem na prática do crime de usura (vulgarmente conhecida como agiotagem). A diminuição dos casos de roubo (34 contra 43), de tráfico de droga (62 contra 72) e de fogo posto (25 contra 27) também ajudou ao recuo da criminalidade violenta. Desta rúbrica destaca-se, porém, em sentido inverso, o registo de 13 violações e 11 de abusos sexuais de criança, ou seja, mais dois relativamente a ambos.

Em termos gerais, a criminalidade subiu ligeiramente (2,8 por cento), o que resultou em 7.116 inquéritos criminais. Seis em cada dez relativos a crimes contra o património (4.372), como burla ou furto. Neste âmbito, a usura foi o crime com o aumento mais significativo: 41,1 por cento. Do total de 261 casos, 254 estavam relacionados com o jogo, ou seja, mais 38 por cento em termos anuais homólogos.

Em contrapartida, os crimes contra a pessoa (1.333), contra a vida em sociedade (494) e contra o território (442) diminuíram em comparação com os primeiros seis meses de 2017.

Já a delinquência juvenil subiu de 21 para 28 casos no primeiro semestre do ano, envolvendo 50 jovens (mais 28). Do total dos casos, 10 foram remetidos para o Ministério Público (MP), contra três em igual período do ano passado.
Em termos globais, entre Janeiro e Junho, 3.112 indivíduos (ou menos 477 em termos anuais homólogos) foram detidos e presentes ao MP.
Do balanço da criminalidade destaca-se ainda a descida de quase 30 por cento do número de imigrantes ilegais para 429, com Wong Sio Chak a colocar ênfase no “eficaz” combate por parte das autoridades. A seu ver, tal reflecte-se no aumento dos valores cobrados a quem pretende entrar clandestinamente, que estima terem subido de 2.000/3.000 para 15.000/20.000 patacas. “É mais difícil emigrar para Macau de forma clandestina”, comentou. Já os casos de excesso de permanência aumentaram ligeiramente (6,6 por cento) nos primeiros seis meses do ano para 13.788, sendo a maioria igualmente procedente da China.

Mais de 3300 taxistas multados até Junho

Entre Janeiro e Junho, a Polícia de Segurança Pública (PSP) autuou 3309 taxistas, o que perfaz uma média de 551 por mês. O valor traduz um aumento de 42,2 por cento em termos anuais homólogos. Quase dois terços (ou 2058 infracções) diziam respeito a cobrança excessiva. O secretário para a Segurança reconheceu que o cenário é “intolerável” e “está a prejudicar muito a imagem de Macau”, considerando que as actuais sanções não são elevadas e o processo até à punição é longo. Neste sentido, Wong Sio Chak manifestou confiança de que a revisão legal venha permitir “elevar a eficácia do combate”, diminuindo o número de infracções praticadas pelos taxistas.

29 Ago 2018

Hato | Um ano depois

 

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m ano depois da passagem do tufão Hato por Macau, uma das zonas que mais sofreu com a catástrofe vive quase como se nada tivesse acontecido. Entre a Rua dos Mercadores e a 5 de Outubro, os biscoitos estão feitos e prontos a comer, o Mahjong joga-se por entre ruelas, as loiças estão inteiras nas prateleiras. As mezinhas para a medicina chinesa não precisam ser espalhadas pelos passeio e o lixo que enchia as ruas está agora arrumadinho pelas cuidadoras do costume. Na sombra, e à vista desarmada, está a certeza de que numa situação semelhante o cenário dantesco vivido há um ano regressa.

23 Ago 2018

Tufão Hato | Um ano depois

 

Faz hoje um ano que o tufão Hato atingiu Macau com uma força sem par em mais de meio século. Dez vidas perderam-se no caos de uma cidade paralisada com graves inundações e generalizados cortes de electricidade e de água, com o rasto de destruição a deixar a descoberto as fragilidades da capacidade de resposta a catástrofes e um sentimento de impotência. Para memória futura, fica o filme dos acontecimentos

 

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]ia 23 de Agosto de 2017. Quando amanheceu Macau estaria longe de imaginar que estaria diante um longo e trágico dia. Os acontecimentos desenrolaram-se rapidamente muito cedo: num intervalo de apenas duas horas e meia, o sinal 8, hasteado às 09h, passou a 9 e, logo depois, a 10, alcançando o máximo da escala, um cenário nunca visto desde que o York assolou o território em 1999 mesmo às portas da transferência do exercício de soberania.
Ao habitual encerramento das pontes ao trânsito e ao cancelamento de ligações marítimas e aéreas juntou-se o fecho temporário de fronteiras que deixou a cidade isolada. Imagens a mostrar a dimensão dos estragos, um pouco por todo o lado, multiplicavam-se nas redes sociais, que acabaram por transformar-se numa ferramenta importante ao serviço da informação. Isto porque parte da população esteve sem acesso ou com acesso intermitente aos canais de rádio e televisão da TDM, a principal aliada da Protecção Civil, através da qual comunica com a população, enviando alertas sobre a intensidade do tufão, circulação de transportes, dados sobre feridos e mortos, zonas perigosas, além de informações sobre o encerramento dos serviços públicos e escolas.
O grande embate chegou com as notícias das primeiras mortes. Embora acostumada a uma média de cinco a seis tempestades tropicais por ano, Macau não ficava de luto desde 1983, ano em que o Ellen fez mais de uma dezena de vítimas mortais, grande parte em naufrágios de juncos no Porto Interior. O balanço oficial viria a fechar com dez mortos, quatro dos quais encontrados em parques de estacionamento, tornando o Hato no tufão que o maior número de vidas ceifou no século XXI.
A pujança do Hato ficou patente em centenas de incidentes. Quedas de objectos suspensos, como reclames, toldos ou placas metálicas, bem como nas centenas de janelas arrancadas, ou nas milhares de árvores devastadas passaram a fazer parte da paisagem. Ocorrências que resultaram em mais de 240 feridos, a esmagadora maioria ligeiros. O Hato foi mesmo o mais forte tufão em 53 anos, apenas batido pelo Ruby (1964), cujos ventos atingiram 211 quilómetros por hora. Ainda assim, um recorde que foi ultrapassado no ano passado na estação da Taipa Grande, onde a rajada máxima atingiu 217,4 quilómetros por hora, de acordo com um relatório publicado pelos SMG.

Sem luz e sem água

Pela hora de almoço deu-se um apagão generalizado. O fornecimento de energia foi sendo reposto gradualmente, com a prioridade a ser dada às habitações. Dias depois ainda havia zonas às escuras, como o Fai Chi Chei, devido aos danos causados pelas inundações nos postos de transformação. Os cortes de electricidade e as inundações também obrigaram ao fecho de casinos, um feito raro na capital mundial do jogo, afeita a funcionar 24 horas por dia.
Seguiu-se o corte no abastecimento de água na sequência da inundação da Estação de Tratamento de Água da Ilha Verde, que deixou metade da população sem acesso a água canalizada. Com as torneiras a seco dias a fio, os residentes acorreram em massa às bocas-de-incêndio, uma das poucas formas de suprirem necessidades urgentes, atendendo a que a água engarrafada desapareceu das prateleiras, na sequência de uma corrida aos supermercados e estabelecimentos comerciais. As filas mudaram-se depois para os pontos temporários de abastecimento estabelecidos pelo Governo, complementados pela distribuição itinerante de água, assegurada por camiões-tanque.
Já nas ruas a água abundava. Afinal, quase um terço de Macau (29 por cento) ficou inundada, evidenciando o fracasso de medidas de protecção e obras contra as cheias, empreendidas três anos antes. O Porto Interior, apesar de familiarizado com inundações, foi particularmente fustigado, estimando-se que o nível da água tenha alcançado os 5,5 metros.
Todos os sinais de tempestade tropical foram baixados sensivelmente 12 horas depois, mas muito estava por fazer depois daquela quarta-feira negra, com os destroços, envoltos em lama, a tomarem conta da cidade.
Dois dias depois saem à rua militares da Guarnição em Macau do Exército de Libertação do Povo Chinês (ELP), num acto inédito desde a transição. Mil soldados participaram nos trabalhos de resposta à catástrofe, regressando ao quartel ao fim de três dias, a 28. Na véspera, porém, ainda a cidade não estava recuperada do Hato, chega um novo tufão: o Pakhar. Apesar de ter sido mais brando, trouxe intensas chuvas que encharcaram o que custara enxugar, dificultando as tarefas de limpeza. Com a aproximação iminente da nova tempestade foi reforçada a urgência de escoar, particularmente por razões de saúde pública, as toneladas de lixo amontoado. Na corrida contra o tempo foram fundamentais os milhares de voluntários que montaram uma gigantesca operação de limpeza nas zonas mais fustigadas pela intempérie, num movimento sem precedentes.

O pós-tufão

A calamidade, que as autoridades designam como “incidente”, levou o Chefe do Executivo a pedir desculpas à população. “Embora tenhamos feito previsões e tomado medidas preventivas face a este desastre não podemos deixar de reconhecer que o que foi feito não foi suficiente. Aqui, em nome do Governo da RAEM, peço imensas desculpas à população”, declarou Fernando Chui Sai On.
Apesar de o Governo admitir falhas, há deputados que entendem que ficaram por apurar responsabilidades políticas, dado que o director dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) foi o único a cair. Fong Soi Kun, que dirigia os SMG desde 1999, apresentou a demissão um dia depois da passagem do Hato. No entanto, a sua actuação viria a ser alvo de um inquérito, com o Chefe do Executivo a decidir aplicar-lhe o castigo máximo a que estava sujeito – a demissão – a qual se traduz na suspensão da reforma durante quatro anos, dado que já estava aposentado quando o processo disciplinar foi instaurado. Fong Soi Kun decidiu contestar na justiça o processo disciplinar que lhe foi movido. Em Junho, o Tribunal de Segunda Instância aceitou a providência cautelar apresentada pela defesa de Fong Soi Kun, o que lhe permite continuar a receber a pensão mensal de aproximadamente 80 mil patacas até que haja uma decisão final.

23 Ago 2018