João Santos Filipe Manchete SociedadeAssédio | TSI confirma condenação de ex-docente da UM Na primeira instância, o arguido afirmou que não poderia ter assediado a mulher porque toma comprimidos para a hipertensão que lhe reduzem o desejo sexual O Tribunal de Segunda Instância (TSI) confirmou a condenação de um ex-docente da Universidade de Macau a sete meses de prisão, com pena suspensa, pelo crime de importunação sexual. A decisão foi tomada a 27 de Junho e noticiada ontem pelo jornal All About Macau. Após uma primeira condenação, no Tribunal Judicial de Base, durante o ano passado, o docente, identificado como Mao Haijian, foi condenado com uma pena de sete meses. No entanto, o homem que afirma ser inocente, optou por apelar da decisão. O crime ocorreu a 16 de Julho de 2022, durante um jantar no dormitório em que estavam presentes o agressor, a vítima, uma aluna, e uma outra estudante. Após a refeição, quando a vítima lavava a loiça com a colega, o ex-docente abordou-a por trás e tocou-lhe no traseiro e no peito. A mulher recusou os avanços, e abandonou o local. Na argumentação utilizada ao longo do caso, o condenado defendeu-se ao indicar que apenas tinha actuado daquela maneira por ter consumido meia garrafa de whisky. Contudo, o TSI recusou esta leitura e considerou que o álcool foi consumido para haver um pretexto para actuar daquela forma. Com base nos testemunhos sobre o jantar, o colectivo de juízes deu também como provado que cerca de 10 minutos antes do crime, o professor mostrava estar consciente ao discutir assuntos como a ligação entre as “potências ocidentais e a academia”, sem que mostrasse “estar a perder o controlo”. Também no decurso do julgamento, o ex-docente, actualmente com 70 anos, terá argumentado que não poderia ter agredido sexualmente a aluna, porque toma medicamentos para a hipertensão, desde os 61 anos, que lhe inibem os desejos sexuais. Este foi um argumento que também não convenceu os juízes. Caso na pandemia Esta ocorrência aconteceu durante a pandemia, numa altura em que a circulação de pessoas estava altamente restringida. O caso ganhou mediatismo, depois de ter sido coberto pelo jornal Orange Post, da Universidade de Macau, dado que a própria aluna também divulgou o incidente nas redes sociais. Sobre este aspecto, escreveu o jornal All About Macau, a defesa do condenado argumentou que a vítima não estava interessada na justiça, porque tinha violado o segredo de justiça. O professor também terá considerado não haver qualquer problema por jantar com duas alunas numa residência da universidade e afastou a possibilidade de elas se sentirem coagidas, pelo facto de haver uma relação de poder.
João Luz Manchete SociedadeJogo | Analistas revêem em baixa estimativas para 2024 e 2025 O grupo de investimento CLSA reviu em baixa as previsões da indústria do jogo para 2024 e 2025. As medidas de combate à troca ilegal de dinheiro impostas por Pequim e sazonalidade dos meses de Verão colocaram alguma água na fervura do optimismo. Também os lucros EBITDA foram revistos devido à subida dos custos de promoção e salários Depois da euforia, a ponderação. O grupo de investimentos de Hong Kong CLSA reviu em baixa as perspectivas de receitas brutas da indústria do jogo de Macau, assim como os lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA, em inglês) das concessionárias, para este ano e o próximo. A empresa que pertence ao banco de investimento chinês CITIC Securities colocou a fasquia das receitas brutas deste ano em 232,7 mil milhões de patacas, valor que representa um aumento anual de 27 por cento. Em relação a 2025, os analistas esperam um crescimento de 3,9 por cento das receitas deste ano, elevando para 241,7 mil milhões de patacas o montante amealhado pelo sector. “Baixámos as nossas previsões para 2024 e 2025 em 3 e 5,3 por cento, respectivamente, porque ajustámos as pressuposições sobre as receitas brutas/número de visitantes, tendo em conta os dados da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos para o segundo trimestre do ano”, indicam os analistas. Recorde-se que as receitas brutas do jogo caíram 1,6 por cento no segundo trimestre deste ano face ao trimestre anterior, para 56,4 mil milhões de patacas. Mas os analistas Jeffrey Kiang e Leo Pan salientam o impacto “do aperto da vigilância sobre a indústria no combate às trocas ilegais de dinheiro imposto pela China”. Bola e bolos Os analistas indicam também que Julho começou fraco em termos de receitas dos casinos, que já vinham sofrendo com a normal sazonalidade, com Junho a ser o mês mais fraco do ano, e com as atenções monopolizadas pelo Campeonato da Europa de futebol “Apesar do arranque tímido das receitas brutas de Julho, e do impacto que o aperto nas actividades de troca ilegal de dinheiro tiveram na sensibilidade dos investidores, folhas de balanço estáveis e concorrência sensata devem permitir que as operadoras de casinos resistam a estes ventos contrários a curto prazo”. Também os lucros EBITDA foram revistos em baixa para 2024 e 2025, devido ao aumento “das actividades promocionais das concessionárias e a subidas das folhas salariais”. Assim sendo, a CLSA prevê que a indústria tenha lucros ajustados de 63,3 mil milhões de dólares de Hong Kong, menos 8 por cento em relação à previsão anterior, mas, ainda assim, um valor que fica a 85 por cento dos níveis verificados em 2019. Para 2025, os analistas perspectiva lucros EBITDA de 71,7 mil milhões de dólares de Hong Kong, menos 5,8 por cento face à previsão anterior.
João Santos Filipe Manchete PolíticaTrabalho | Ron Lam denuncia falta de oportunidades para residentes O facto de haver actualmente mais trabalhadores não-residentes em Macau do que antes da pandemia está a gerar polémica. O deputado Ron Lam critica a política do Governo e considera a nova realidade incompreensível Um mercado de trabalho cada vez mais difícil, em que os mais jovens enfrentam desafios para encontrar empregos estáveis, com boas perspectivas futuras e bem pagos. É desta forma que o deputado Ron Lam aborda a actual situação do mercado de emprego, numa interpelação oral que vai ser colocada aos membros do Governo na Assembleia Legislativa. No documento partilhado ontem com os meios de comunicação, o legislador defende que o Executivo tem permitido um aumento, a ritmo “demasiado elevado”, de trabalhadores não-residentes, ao mesmo tempo que os residentes ficam no desemprego ou apenas são contratados a tempo parcial. “Muitas opiniões reflectem que actualmente é muito difícil para os residentes encontrarem um emprego estável, com boas perspectivas e bem pago”, afirma Ron Lam. “E a principal razão para este problema é a política permissiva de emissão quotas para trabalhadores não-residentes, que faz com que as empresas os prefiram contratar num regime estável e mal pago”, acrescenta. O deputado indica ainda que muitos residentes apenas são contratados a tempo parcial ou que são recusados nos empregos “por falta de experiência” ou “conhecimentos linguísticos”, no que diz ser um mercado de trabalho cada vez mais virado para turistas do Interior. Cenários diferentes Na interpelação oral, Ron Lam afirma também que a economia está pior do que antes da pandemia. Todavia, não entende como é possível que actualmente haja mais trabalhadores não-residentes do que antes de 2019. De acordo com os dados citados pelo deputado, em Maio o número de não-residentes ultrapassou os 210 mil. Contudo, em Novembro de 2019, quando o deputado afirma que foi o pico antes da pandemia, o número era 196 mil não-residentes. Numa análise por sectores, Lam indicou que só na construção houve um aumento de trabalhadores não-locais de 10,6 por cento, nas vendas por retalho o crescimento foi de 38,6 por cento e na hotelaria aumentou 47,1 por cento. “Se estes são os sectores onde os desempregados mais procuram oportunidades, porque o Governo permite que as quotas para não-residentes aumentem tão rapidamente?”, questiona. “Será que o Governo vai passar a defender estes postos de trabalho para os residentes?”, interrogou. Ron Lam defende também mais controlo na emissão de quotas para não-residentes e mesmo a eliminação de quotas quando se prova que as empresas evitam contratar residentes.
Hoje Macau Manchete PolíticaPalau | Presidente diz que delegação foi barrada em Macau O Presidente de Palau, Surangel Whipps, citou a proibição de entrada de uma delegação do país em Macau como exemplo da crescente pressão da China sobre uma das poucas nações do Pacífico que mantém relações com Taiwan Em entrevista ao jornal japonês Nikkei, Surangel Whipps citou um caso ocorrido em Maio, quando uma delegação de Palau viu recusados os vistos de entrada em Macau para participar numa conferência internacional de agentes de viagens. As autoridades justificaram a decisão devido às relações de Palau com Taiwan. “Nunca vimos isto antes”, afirmou. “No que diz respeito aos laços económicos e a tudo isso, nunca houve qualquer problema no passado, mas isto é uma espécie de novo nível quando se trata de turismo ou de tentar impedir oportunidades”, relatou. O Presidente de Palau referiu também um ciberataque realizado este mês contra os serviços fronteiriços e aduaneiros do seu país, que se suspeita ter tido origem em Pequim, como outro exemplo de retaliação chinesa. Surangel Whipps fez declarações ao jornal japonês à margem da sua participação na Reunião de Líderes das Ilhas do Pacífico (PALM10), que arrancou na terça-feira, e termina hoje, em Tóquio e na qual participam 18 líderes de nações desta região. Para além das relações com Taiwan, Palau tem um acordo de parceria de segurança com os Estados Unidos, que fornece assistência económica e de defesa em troca do acesso das suas tropas ao território do país insular. Intromissão online No mês passado, o governo de Palau alegou ter sido alvo de um ciberataque em grande escala que resultou no roubo de milhares de documentos oficiais, um incidente que, segundo Whipps, foi atribuído por especialistas à China. Outro ciberataque recente, este mês, contra o sistema nacional de alfândegas tinha como objectivo impedir a chegada de turistas estrangeiros a Palau, acrescentou. Este ataque foi repelido porque Palau reforçou recentemente a sua segurança cibernética com a ajuda de vários países, incluindo a Austrália e o Japão, explicou. Whipps disse que, embora não pudesse “confirmar totalmente” que o ataque informático estava ligado à China, “tudo indica que sim”. A cimeira dos líderes do Pacífico abordará desafios comuns, incluindo a libertação no mar de água tratada da central nuclear de Fukushima, propensa a acidentes, e a crescente influência da China na região.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteAugusto Nogueira, presidente da ARTM: “Esperamos que a lei da droga seja revista” Depois de assinalar o Dia Mundial Contra a Droga e Tráfico Ilícito, a Associação de Reabilitação dos Toxicodependentes de Macau organiza hoje e amanhã na Universidade de Macau um painel de conferências intitulado “Tratamento de perturbações relacionadas com o consumo de substâncias”. Augusto Nogueira, presidente da associação, faz uma antevisão do evento e apresenta algumas sugestões Quais os principais objectivos desta conferência na Universidade de Macau? Queremos promover o tratamento em contexto de comunidade terapêutica como a opção de maior sucesso em termos de recuperação em detrimento de medidas mais punitivas. Também queremos mostrar os bons serviços que a ARTM tem prestado em termos de tratamento e modernização terapêutica graças ao apoio do Instituto de Acção Social e ao elevado conhecimento dos nossos colaboradores. Tal vai servir para um desenvolvimento das acções de intercâmbio e evidência dos sucessos de outras comunidades terapêuticas. Um dos pontos deste painel de conferências passa pela entrega de um certificado por parte da ATCA [Australian Therapeutic Community Association] à ARTM. De que se trata e quais os principais benefícios para o vosso trabalho em Macau? Fomos alvos de uma revisão por parte da ATCA durante uma semana em termos de todos os serviços que providenciamos ao nível da comunidade terapêutica, tratamento, regras e normas adoptadas, sem esquecer as formas de comunicação. Cumprimos com os requisitos e padrões da ATCA e demonstrámos um compromisso ao nível da qualidade e segurança. Este certificado irá fazer com que estejamos mediante revisão e análise constantes dos nossos serviços, o que vai exigir mais de nós para que mais pessoas possam recuperar dos seus problemas. Além disso, o certificado que nos foi atribuído vai constituir uma prova de qualidade e de credibilidade dos nossos serviços terapêuticos. Irão participar no painel de conferências representantes de países da Ásia, incluindo a China, cujas realidades de tráfico e consumo são diferentes. A ideia é reunir consenso e aprendizagens? Pretendemos partilhar aprendizagens, métodos e observar o que os outros fazem. Por exemplo, o representante da Vila Maraine, em Itália, vai explicar a cooperação que tem com o poder judicial, em que pessoas com problemas de toxicodependência e de tráfico em pequenas quantidades, ou seja, para sustentar o consumo, tem a possibilidade de poderem ser encaminhados para uma comunidade terapêutica após a condenação a prisão efectiva. Algumas pessoas com pulseira electrónica e outros não necessitam de o fazer, o que acho interessante. A SARDA [The Society for the Aid and Rehabilitation of Drug Abusers] é uma associação com a qual a ARTM tem laços de amizade e de apoio há muitos anos. É uma associação que também segue os princípios de comunidade terapêutica, mas com outras vertentes, como serviços de metadona. A SARDA tem uma grande dimensão em Hong Kong. Teremos ainda uma mesa redonda sobre a prevenção, algo que na Europa caiu em desuso com consequências negativas bem visíveis, como podemos observar em Portugal. O maior consenso que poderá sair desta conferência é que a prevenção, tratamento e redução de danos têm de estar de mãos dadas. Nunca devemos esquecer que o grande objectivo é a recuperação da pessoa e não a continuidade na dependência. De Portugal chega a representação de “Ares do Pinhal”, uma comunidade terapêutica. Quais as grandes diferenças e semelhanças com a ARTM em termos de métodos? As duas instituições têm abordagens bastante semelhantes, embora a “Ares do Pinhal” esteja a desenvolver um trabalho de excelência e de uma maior dimensão a nível de redução de danos, bem como a prestação de apoio a pessoas em situação de sem abrigo. Trata-se de realidades diferentes em comparação com Macau e tenho a certeza que vamos todos aprender muito com eles. Muitas vezes as aprendizagens acontecem, mas as circunstâncias reais não permitem a sua aplicação. No entanto, nós, ARTM, estaremos preparados caso a situação mude com o aumento exponencial do consumo, ou o regresso ao consumo de heroína. Tanto a ARTM como a “Ares do Pinhal” têm um modelo holístico e isso é de valorizar, pois não há muitas instituições a trabalhar desta forma, em que se trabalha o problema da dependência como um todo. Juntam-se os cenários de prevenção, tratamento, reinserção e redução de danos. Nesta conferência vai ser apresentado o projecto de integração social “Hold On To Hope”. Que balanço faz do trabalho feito até aqui? Tem sido um balanço bastante positivo, pois já passaram pelo projecto 36 pessoas, sendo que 26 estão reinseridas com sucesso. O projecto “H2H” não visa apenas recolocar as pessoas no mercado de trabalho, mas sobretudo ensinar-lhes valores como a comunicação, pontualidade, responsabilidade e disciplina. Já fizemos quase 30 exposições, cerca de uma por mês. Estamos muito contentes com o projecto que tem sido alvo de grandes elogios a nível mundial na nossa área de trabalho. É pena o facto de continuarmos a ter dificuldades com a falta de estacionamento em Ka-Hó. Seria bom que o Governo resolvesse este problema para o desenvolvimento do projecto e da própria vila. Que respostas novas para a RAEM podem sair desta conferência? A resposta nova que pode sair deste evento é o começo de um maior encaminhamento de pessoas com problemas de adição para a ARTM e outras entidades equivalentes. Esperamos também que a lei da droga seja revista para exigir mais provas de tráfico, para que [as autoridades] não partam do pressuposto de que determinada quantidade de droga é para tráfico. Isso iria evitar que muitas pessoas fossem presas, podendo, em alternativa, obter um tratamento adequado. A tendência mundial é de discriminalização do consumo de droga, mas em Macau a tendência parece ser oposta, e recentemente até uma técnica da Polícia Judiciária (PJ) defendeu, num estudo académico, a possibilidade de pena de morte. Qual o seu comentário sobre este panorama no território? Não sei se a tendência mundial é mesmo essa, pois nos muitos países que antes tinham essa convicção estão neste momento a ponderar a situação de outra forma, muito devido ao consumo de Fentanyl, onde a redução de danos está a falhar redondamente. Além disso, existem muitos grupos de activistas consumidores que fazem uma comunicação muito agressiva, o que tem irritado alguns países. Estes grupos não pedem apenas descriminalização, mas sim a legalização de todas as drogas. Muita coisa está a mudar e muitas pessoas estão a morrer todos os dias. Muitos dos países estão de acordo com a necessidade de haver serviços de redução de danos com qualidade e o objectivo de incentivar essas pessoas a procurar ajuda, mas a descriminalizar como um direito é algo que está a perder força. Para se dar prioridade ao tratamento não é necessário mudar a lei na sua totalidade, mas fazer apenas alguns ajustes. Quanto ao comentário da técnica da PJ, não tem fundamento nenhum e nem merecer ser comentado. Após a pandemia, que se reflectiu nas formas de tráfico e consumo, Macau mantém a mesma situação, ou verificaram-se alterações profundas na forma de comprar e consumir? Julgava-se que iria existir um aumento exponencial após a pandemia, mas o que temos observado é o oposto. Existiu um aumento gradual, mas pouco significativo. Mesmo ao nível do tráfico tem sido pontual, o que pode ser sinal de um bom trabalho da nossa polícia e dos trabalhos de prevenção de diversas instituições, inclusive do nosso projecto “Be Cool”. No entanto, tudo isto pode mudar muito rapidamente e temos de estar atentos. É natural que exista consumo escondido, e será sempre escondido quando o consumo é criminalizado. Devemos estar contentes com a corrente situação e desejar que assim continue.
João Luz Manchete SociedadeTurismo | Quase 17 milhões visitaram Macau no primeiro semestre Durante os primeiros seis meses de 2024, 16,729 milhões de turistas escolheram Macau como destino turístico, segundos dados provisórios, total correspondente a um aumento anual de 43,6 por cento. O volume de turistas aproximou-se dos níveis de 2019. Visitantes internacionais mais que duplicaram Macau está a regressar à velha forma, retomando o lugar de um dos destinos de eleição desta parte do globo. Segundo dados provisórios adiantados ontem pela Direcção dos Serviços de Turismo (DST), entre Janeiro e Junho deste ano entraram em Macau cerca de 16,729 milhões de visitantes, uma média diária de perto de 92 mil (91.918). O total dos turistas que visitaram Macau no primeiro semestre de 2024 representa “um aumento de 43,6 por cento face ao período homólogo de 2023 e um regresso ao nível de 82,5 por cento registado no mesmo período de 2019”, antes da pandemia afectar severamente o sector. A DST refere que o “número que está de acordo com as expectativas”. A direcção de serviços liderada por Helena de Senna Fernandes realça ainda o “aumento significativo do número de visitantes em excursões internacionais”. Nos primeiros seis meses de 2024 entraram em Macau cerca de 1,17 milhões de visitantes internacionais, um aumento anual de 146,4 por cento, tendo sido retomado o nível de 67,2 por cento da primeira metade de 2019. Por outro lado, de acordo com os dados divulgados pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), nos primeiros cinco meses deste ano, 928 mil visitantes chegaram a Macau em excursões, ou seja, mais 230 por cento em termos anuais. Neste capítulo, o Governo destaca o aumento de 14 vezes do número de visitantes em excursões internacionais, que chegou a 88 mil. Segunda parte Em termos de ocupação hoteleira, a DST recorda que entre Janeiro e Maio deste ano, a taxa média de ocupação se fixou em 84,3 por cento, uma subida de 7,7 por cento face ao mesmo período de 2023 e menos 7,2 pontos percentuais do que em 2019 (quando a taxa média de ocupação foi de 91,5 por cento). “O número de hóspedes dos hotéis voltou a ser mais expressivo, com 6.135.000 entre Janeiro e Maio de 2024, mais 25 por cento do que no período homólogo de 2023 e mais 6 porcento do que no mesmo período de 2019”, indicou ontem a DST em comunicado. Em relação à segunda metade do ano, a DST começa por enaltecer as “medidas de apoio do Governo Central a Macau”, nomeadamente o alargamento dos programas de vistos individuais a mais cidades do Interior da China, e indica uma série de actividades programadas para os meses que se seguem. “No segundo semestre deste ano, uma série de actividades comemorativas do 25.º Aniversário do Estabelecimento da RAEM serão realizadas, incluindo o 32.º Concurso Internacional de Fogo-de-Artifício de Macau, a corrida de bandejas do Dia Mundial do Turismo 2024, o Iluminar Macau 2024 e o espectáculo de fogo-de-artifício em celebração do 25.º aniversário do estabelecimento da RAEM, entre outros”.
João Santos Filipe Manchete SociedadeConcessionárias | Acções a perderem valor desde Janeiro Na primeira metade do ano, as receitas do jogo cresceram 41,9 por cento face a 2023. No entanto, as acções das concessionárias na bolsa de Hong Kong estão longe de reflectir um ambiente de optimismo Apesar de as receitas do jogo estarem a crescer desde o início do ano, nos primeiros seis meses as acções da maioria das concessionárias cotadas na Bolsa de Hong Kong desvalorizaram. As excepções à tendência de queda, foram a MGM China e a SJM, de acordo com as contas feitas pelo HM. Como tem acontecido nos últimos anos, as acções Galaxy são as mais valiosas entre as concessionárias. No início do ano, os títulos eram negociados ao preço de 44,1 dólares de Hong Kong por acção, mas até ao final de Junho sofreram uma redução para 36,4 dólares de Hong Kong. A mudança significa uma desvalorização de 17,5 por cento no espaço de seis meses. O ano até começou bem para a concessionária liderada por Francis Lui, e a 16 de Fevereiro as acções chegaram a ser negociados por 45,3 dólares por unidade. Porém, a partir dessa altura a desvalorização passou a ser a regra. Um percurso muito semelhante foi trilhado pela Sands China, a segunda concessionária mais valiosa, de acordo o mercado bolsista de Hong Kong. No dia de abertura da bolsa, a 2 de Janeiro, as acções da Sands valiam 23,8 dólares de Hong Kong. Em 14 de Fevereiro, a avaliação atinge o pico com uma cotação de 24,5 dólares por acção. Contudo, até ao final de Junho as acções foram perdendo valor até chegarem aos 16,3 dólares de Hong Kong. Esta foi uma redução de 31,5 por cento, quando se tem em conta o início de Janeiro. As outras concessionárias que também desvalorizaram foram a Wynn Macau e a Melco Resorts, medida através da empresa Melco International Development. No caso da Wynn Macau, no final do primeiro dia do mercado, cada acção custava 6,56 dólares de Hong Kong. A empresa até conseguiu ir valorizando, e a 17 de Maio, as acções estavam avaliadas em 8,3 dólares. Todavia, no final de Junho tinham caído para 6,4 dólares de Hong Kong, uma redução de 2,4 por cento. Em relação à Melco, as acções começaram o ano avaliadas em 5,6 dólares. A 17 de Maio atingem o pico do valor com 6,7 dólares por acção. Contudo, no final de Junho o preço tinha descido para 5,3 dólares de Hong Kong. Esta flutuação representa uma quebra do valor de 5,9 por cento. O outro lado No polo oposto, as acções da MGM Macau tiveram o melhor desempenho com uma valorização de 17,8 por cento de 10,3 dólares por acção no início do ano para 12,2 dólares por acção. A tendência positiva também foi sentida pela SJM, mas em menor escala. A empresa fundada por Stanley Ho viu as acções valorizem 5,2 por cento de 2,5 dólares por acção para 2,7 dólares. A tendência da maior parte das concessionárias é diferente do índice Hang Seng, que agrega as principais empresas cotadas na Bolsa de Hong Kong. Entre o primeiro dia do mercado e o último de Julho, o índice teve uma valorização de 5,5 por cento. Em relação às receitas do jogo em Macau, entre Janeiro e Junho houve um aumento de 41,9 por cento. Em 2023, a primeira metade do ano apresentou receitas de 80,1 mil milhões de patacas. Este ano, o montante foi de 113,8 mil milhões de patacas.
João Santos Filipe Manchete PolíticaObras | Túnel Pedonal entre Wanzai e Barra causa polémica Apesar de não ser público o acordo entre as autoridades de Zhuhai e Macau para a construção de um túnel pedonal entre Wanzai e a Barra, as autoridades do Interior querem avançar com o projecto. Leong Sun Iok alerta para os impactos da obra em Macau No início deste mês, o Departamento de Recursos Naturais de Zhuhai publicou um relatório sobre o progresso do projecto para construir um túnel pedonal subaquático entre Wanzai, em Hengqin, e a Barra, em Macau. No entanto, o deputado Leong Sun Iok alertou para a falta de acordo conhecido com Macau. Segundo o relatório de Zhuhai, o projecto está a avançar, embora sem obras, e vai ter um posto fronteiriço para circular entre as regiões. No documento é também indicada a necessidade de “acelerar a concretização do Posto Fronteiriço” do projecto. No entanto, em 2020, o Governo da RAEM, pela voz do secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, negou que houvesse intenção de seguir para a frente com o projecto. Na Assembleia Legislativa, Rosário considerou mesmo que a RAEM já tinha fronteiras suficientes. Todavia, face a estes desenvolvimentos em Zhuhai, Leong Sun Iok, deputado da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), apelou ao Governo para avaliar bem o impacto de um eventual projecto. Em declarações ao Jornal do Cidadão, Leong alertou o Executivo para a possibilidade de o novo túnel aumentar o trânsito na Zona da Barra e ainda reduzir fortemente a procura pelos barcos que navegam entre o Porto Interior e Wanzai, região que em português é denominada Lapa. “Caso seja criada um novo posto fronteiriço na Barra, é preciso ter muita atenção ao impacto para o trânsito, dado que a zona da Barra e Central tem muitos congestionamentos, e a situação ainda pode piorar mais”, afirmou o deputado. Ouvir a população Leong Sun Iok apelou igualmente às autoridades para ouvirem a população e os comerciantes das zonas envolvidas, antes de tomarem uma decisão. O deputado defende que o Governo deve fazer uma avaliação objectiva sobre as despesas com o funcionamento de um novo posto fronteiriço, devido à necessidade de deslocar mais funcionários públicos e cobrir outras despesas, como gastos com energia e manutenção. Também face ao facto de não haver consenso público para o projecto, Leong Sun Iok entende ser necessário reforçar a coordenação entre Macau e o Interior sobre a divulgação dos projectos importantes. O deputado apontou que as autoridades de ambos lados devem ter meios de divulgação unificados, para evitar mal-entendidos ou erros nas informações que chegam à população.
João Luz Manchete PolíticaSaúde | Governo apresenta esboço de “Macau Saudável em 2030” O Governo apresentou ontem as linhas-mestras do plano de saúde para os próximos anos com foco na prevenção e mudança de mentalidades para comportamentos sadios. Durante a apresentação, Alvis Lo afirmou que o “Macau Saudável em 2030” tem como referências o plano China Saudável 2020/2030 e as orientações da Organização Mundial de Saúde Vinte anos depois da implementação do projecto “Cidade Saudável”, o Governo apresentou ontem as linhas gerais do plano “Macau Saudável em 2030”, que tem como principais objectivos combater o envelhecimento da população e as doenças crónicas. O director dos Serviços de Saúde (SS), Alvis Lo, indicou que o plano que irá vigorar até 2030 tem em referência “as linhas gerais do planeamento ‘China Saudável 2020/2030’, assim como as estratégias globais definidas pela Organização Mundial de Saúde, adaptadas à realidade de Macau. Em comunicado, os SS garantem que vão “seguir as políticas nacionais de saúde, centrando-se na saúde dos residentes e integrando a saúde em todas as políticas públicas, combinando os recursos das áreas de saúde, educação, cultura e desporto, e através da participação dos diversos serviços públicos”. Sem relevar muitos detalhes sobre o plano, Alvis Lo apontou como factores que contribuem para doenças o “desenvolvimento urbano de Macau, envelhecimento da população e a mudança do estilo de vida”. Este contexto, indicou, é propício ao surgimento de hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculares, cancros entre outras doenças crónicas, que “constituem os principais desafios para a saúde de Macau, levam ao aumento da procura de serviços de saúde e são as principais causas de morte dos residentes”. Mais vale prevenir O director dos SS sublinhou que a maioria das doenças crónicas pode ser evitada. Mas, para tal, são necessárias políticas de promoção da saúde, reunir condições para criar um ambiente saudável e potencial comportamentos sadios. Para tal, será necessária a mobilização da sociedade, passando por associações, escolas e toda a população, apontou o responsável. O Governo pretender consolidar e optimizar os serviços médicos existentes, elevar a literacia de saúde da população sobre, por exemplo doenças crónicas e infectocontagiosas e saúde mental. Além disso, a aposta irá incidir na prevenção e detecção precoce de problemas de saúde. Outro ponto focado por Alvis Lo foi a mudança de mentalidades. “Encorajamos os residentes a deixar de receber passivamente cuidados de saúde e, em vez disso, tomar por sua iniciativa medidas para prevenir a doença e realizar bem o trabalho de auto-gestão de saúde” Em relação à saúde mental, Alvis Lo indicou que alguns serviços vão ser integrados nos centros de saúde, e será dada formação sobre esta área a médicos e pessoal de saúde que trabalha nos centros. SSM | Recrutamento de portugueses bem-sucedido À margem da apresentação do “Plano de Acção para Macau Saudável”, o director dos Serviços de Saúde de Macau (SSM), Alvis Lo, afirmou que dois médicos portugueses que demonstraram interesse para trabalhar em Macau reúnem os requisitos para trabalhar no Centro Hospitalar Conde de São Januário. De acordo com o canal chinês da Rádio Macau, Alvis Lo disse que o processo foi bem-sucedido e que no início deste ano foram recebidas 12 candidaturas. O responsável disse ainda que os 16 médicos psiquiatras que actualmente fazem parte dos SSM serão colocados em centros de saúde para fomentar a formação e aumentar a capacidade para lidar com os casos de saúde mental na população.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteEstética | Antropóloga estuda evolução de procura de cuidados por chinesas Isabel Pires, doutoranda em antropologia, está a investigar a relação entre chinesas residentes em Lisboa e os cuidados de beleza e estética, concluindo que já não existe a influência exclusiva da cultura tradicional chinesa na procura de tratamentos como o branqueamento da pele. A investigadora encontrou um “balanço e negociação constantes entre o que se espera delas e o que podem, ou não, fazer” Que tipo de cuidados de beleza são escolhidos pelas mulheres chinesas a residir em Lisboa e porque o fazem? Isabel Pires tem procurado responder a este tipo de questões nos últimos meses. A antropóloga na área da saúde está a terminar a tese de doutoramento “Being mei mei is being rich»: A procura da beleza e da modernidade entre mulheres chinesas em Lisboa”, através da Universidade de Lisboa. Ao HM, Isabel Pires disse notar uma maior fluidez nos padrões de beleza das mulheres chinesas emigradas, tendo em conta que se deparam com o embate com outra cultura: a ocidental, de mulheres que gostam de se bronzear e apanhar sol e que encaram a pele morena de outra forma. Na China, ter pele extremamente branca é ainda sinónimo de um certo estatuto, de uma mulher que “não precisa de trabalhar para ganhar o seu sustento”, denota a investigadora. Isabel Pires explica que, em Lisboa, onde realizou trabalho de campo em diversos espaços de estética e clínicas de beleza, as mulheres chinesas fazem tratamentos não só para responder aos critérios definidos pela sua cultura, mas por tantos outros factores, como ir de encontro a expectativas das famílias e da própria sociedade no que à beleza feminina diz respeito. “Quis saber mais sobre esta comunidade através das práticas de beleza e fui descobrindo outras coisas que se sobrepõem aos cuidados estéticos. Um dos viés que vejo em muitos estudos de críticos de beleza é a ideia constante de se fazer uma comparação, que acaba por ser sempre muito ocidentalizada. Há a ideia de que as mulheres ‘fazem isto porque querem’, por exemplo, e eu tento desmistificar um pouco isso.” Essa perspectiva ocidental tem a ver com o facto de se considerar que as mulheres chinesas fazem, em Portugal, determinados tratamentos estéticos para serem iguais às ocidentais, e Isabel Pires procura desconstruir isso. “Tenho respostas desse tipo da parte de médicos com quem trabalhei. São muito taxativos nas respostas que dão. Não concordo com essa visão. As mulheres não fazem [determinados tratamentos] ‘porque querem ser’, pois cada vez mais os padrões de beleza são fluídos e globais, e isso acontece de forma muito rápida e transformadora da sociedade. No caso das jovens chinesas em Portugal, pelo menos as interlocutoras com quem trabalhei, fazem um balanço e negociação constantes entre o que se espera delas e o que podem ou não fazer. E isso de forma consciente, ou não.” Pelas zonas do Martim Moniz, Olivais, Alvalade, Estoril e Parque das Nações, locais onde a investigadora falou com clientes e donas de espaços comerciais, proliferam negócios de pequenas intervenções estéticas, branqueamento de pele ou cuidados de sobrancelhas, entre outros. E o branqueamento de pele já não é regra absoluta para as chinesas que vivem em Portugal, muito menos uma pressão social, embora muitas das entrevistadas para esta investigação continuem a proteger-se do sol. “A questão do estatuto na China estava ancestralmente ligada a uma pele branca. Tradicionalmente ainda é isso que se assiste. O meu trabalho de campo na China revelou um pouco isso. No caso de Portugal, um país com sol, muitas das minhas interlocutoras vão percepcionando as próprias noções de beleza. A estética de uma pele bronzeada adquire uma outra configuração. Nos moldes tradicionais chineses uma pele bronzeada era a de uma mulher que tinha de trabalhar para ter um sustento, isso representava um determinado estatuto social. Actualmente, em Portugal, já não se verifica isso.” Há, assim, a manutenção de ideias de beleza mais tradicionais, mas já influenciados pelas práticas de beleza do ocidente. “Mais do que uma influência, há uma actualização, no sentido de haver uma constante renovação. Estamos a falar de mulheres jovens, com um máximo de 35 anos, mas todas elas bastante dinâmicas. Isso significa que um padrão de beleza que existe hoje pode ser diferente daqui a um ano. Pode ser uma mudança muito rápida e isso pode também ser um desafio à minha investigação. Além de estar circunscrita ao tempo em que fiz a pesquisa, há cerca de dois anos, também acabo por expandir para outras áreas, como a manutenção do género, da tradição, da maneira como ainda há muita racionalização do corpo não ocidental na medicina.” Isabel Pires procurou combater uma visão “muito imperialista” de que as mulheres chinesas tentam imitar outros padrões de beleza. “Procuro desmistificar um pouco a ideia de exotismo colocada pela própria sociedade a estas mulheres, sem as conhecer. Grande parte da história das mulheres chineses é ainda muito pouco conhecida. Esse desconhecimento é ainda maior em mulheres chinesas em contexto migratório.” “Sempre que o Ocidente fala da China, fala como sendo os grandes imitadores, e não é verdade. Gostava que se percebesse que não há uma imitação, mas sim uma adaptação, uma actualização, como há em todo o lado, e a beleza é apenas mais uma área. Envolve processos migratórios, família e muita tradição, de uma base cultural ainda muito substancial, mas não é uma coisa fechada e irredutível”, acrescentou a investigadora. Processos com custos Isabel Pires, formada em enfermagem, denota que branquear a pele acarreta custos financeiros e de saúde para as mulheres. “Quando falamos de processos de branqueamento de pele falamos de processos que também são implicativos para a vida da mulher. Evitar a exposição ao sol [tem custos], sem esquecer toda a parafernália de produtos e o investimento que é feito para um objectivo, que é atingir um determinado estatuto através de um conceito de beleza.” Isabel Pires diz acreditar que, apesar das mudanças já verificadas nesta área, há ainda “muitas chinesas em Portugal que evitam totalmente o sol”. “Tudo isso é uma questão fluída, e é isso que gosto de frisar neste trabalho. É algo que se vai moldando, e é válido para as mulheres chinesas como para qualquer mulher. Há uma modelagem naquilo que a sociedade espera de nós. Talvez na China seja mais visível, porque há muita política envolvida nisto.” A política de que a investigadora fala prende-se com o desenvolvimento de um mercado de consumo em que as mulheres são consumidoras e também produtoras, com a abertura de espaços de beleza e clínicas. São as mulheres que compram maquilhagem ou serviços, mas são também elas que fazem os tratamentos a outras. Homens chineses de fora Questionada sobre se os homens chineses em Portugal também fazem tratamentos de beleza, Isabel Pires denota que não encontrou clientes do sexo masculino nos locais onde realizou a pesquisa. “Pelo contrário, até tive muitas interlocutoras a queixarem-se de que os maridos não cuidam de si. Uma delas até me disse algo que achei interessante, que é a ideia de que os homens chineses podem ser tudo, feios, maus, gordos, mas as mulheres não, têm de se tratar mais. No entanto, na China, vi mais homens a cuidarem-se. É uma tendência crescente que ainda não se verifica em Portugal, mas se calhar daqui a dez anos poderá verificar-se e ocorrer um boom.” Em Portugal, a comunidade chinesa não é pautada apenas pelas grandes famílias que foram abrir lojas e restaurantes, ou pelos grandes empresários que, mais tarde, levam mulher e filhos. Já existe uma maior “heterogeneidade”. “A comunidade está a abrir-se ao país e a outras culturas e falamos de pessoas que estão aqui há dezenas de anos, têm filhos nas universidades que vão casando fora das comunidades. Há também uma comunidade internacional [chinesa] que vem para Portugal. Uma das minhas interlocutoras mais recentes era uma jovem que nasceu em Itália de pais chineses, o pai voltou para a China quando a mãe faleceu, ela não quis voltar porque já não se identificava e foi para o Reino Unido. Casou com um inglês e hoje vive em Lisboa como qualquer expatriada que acha Portugal incrível e cheio de sol. Já não é aquela emigração chinesa típica”, exemplifica. A tese de doutoramento baseou-se numa população “muito heterogénea em termos de origem”. “Trabalhei com jovens mulheres que nasceram em Portugal e outras que efectuaram um processo migratório em diferentes etapas, ou em crianças no acompanhamento dos pais ou então já mulheres adultas. Algo interessante nesta nova migração chinesa é uma quantidade muito considerável de jovens mulheres independentes, que estudam e trabalham, deslocando-se globalmente. Temos hoje um grande fluxo de jovens mulheres de 20 a 30 anos. Todas vão trazendo e adaptando uma nova estética”, frisou. O acesso a cuidados de saúde Isabel Pires tem dedicado parte dos seus estudos à comunidade chinesa na área da saúde, procurando saber, na fase do mestrado, como era o acesso destas pessoas aos hospitais e clínicas em Portugal. “O que concluí vai na direcção de outros estudos já feitos noutros países. O acesso [a cuidados de saúde por parte de chineses a residir em Portugal] é feito maioritariamente através do serviço público para casos de emergência e sistema privado para casos de seguimento. As pessoas mais velhas procuram cuidados que lhes são mais familiares. Numa situação em que precisem de cuidados recorrentes, procuram tratar-se na China.” A língua constitui uma barreira acrescida, tendo em conta que o Serviço Nacional de Saúde (SNS), com as condicionantes de falta de médicos, pode constituir um problema de acesso até para portugueses. “Uma das coisas que identifiquei foi uma grande barreira institucional aos cuidados de saúde, ou seja, uma pessoa chinesa que está no país e que não tenha um tradutor ou alguém que fale português, imediatamente há uma barreira no acesso que, já por si, é difícil. Os cuidados de saúde em Portugal não são ‘friendly’. [acessíveis], nem sequer para os portugueses. Estou em Lisboa há 15 anos e continuo sem médico de família. Não é difícil ficar perdido durante anos no sistema de saúde.”
João Luz Manchete SociedadeHengqin | Ordenada liquidação de promotor de complexo imobiliário O Tribunal Intermédio de Zhuhai ordenou a nomeação de um administrador para a liquidação de um promotor imobiliário responsável pela construção de um icónico bloco de edifícios que tem como ex-líbris o Haoyi Fortune Center, em Hengqin. A empresa em questão é de Macau Na passada terça-feira, o Tribunal Intermédio do Povo de Zhuhai ordenou a nomeação de um administrador para proceder à liquidação de bens do promotor imobiliário de um mega-projecto em Hengqin, perto do posto fronteiriço com Macau, que tem o Haoyi Fortune Center como a principal joia da coroa. O tribunal estabeleceu a próxima segunda-feira como prazo limite para a nomeação do administrador de liquidação, avançou ontem a Macau News Agency (MNA). De acordo com o China Internet Information Center, um portal de informação do Governo Central, o projecto do Haoyi Fortune Center foi desenvolvido pela Hengqin Haoyi Real Estate Development, que é referida como uma empresa de Macau. Segundo o órgão judicial da cidade vizinha, o projecto imobiliário não está sujeito a hipotecas ou penhoras. O comunicado do Tribunal Intermédio do Povo de Zhuhai indica que a Hengqin Haoyi Real Estate Development foi registada pelas autoridades da Ilha da Montanha em Setembro de 2013, com um capital social de 760 milhões de renminbis. Povo na rua A MNA realça que esta não é a primeira vez que a empresa enfrenta dificuldades financeiras, chamando a atenção e escrutínio público. Por exemplo, em 2021 um grupo de proprietários montou um protesto no exterior do complexo em Henqgin devido ao incumprimento do compromisso assumido de terminar o projecto dentro do prazo fixado. Na altura, foi reportado que mais de 200 proprietários, envolvendo cerca de 3.000 fracções, protestaram o incumprimento da promotora imobiliária responsável pelo projecto. A empresa terá prometido que a construção, acabamentos e decoração das fracções seriam concluídos até ao final de 2020. Esta data foi empurrada para o meio de 2021, devido à pandemia da covid-19, situação que se voltou a verificar no fim desse ano devido aos mesmos motivos. A última gota de paciência dos proprietários foi atingida quando a empresa informou que não havia prazo limite para entregar as fracções. O ex-líbris do projecto, o Haoyi Fortune Center, é um complexo de escritórios, cuja construção terminou no início de Dezembro de 2020, composto por duas torres com 30 e 45 andares, com quase mil escritórios, quase 900 espaços comerciais e mais de 600 fracções habitacionais e cerca de 1.300 estacionamentos.
João Santos Filipe Manchete SociedadeÁgua/ HK | Detectados níveis elevados de bromato em duas marcas O Conselho de Consumidores da RAEHK analisou a qualidade e segurança das águas à venda no território vizinho e considerou a situação satisfatória. Porém, as marcas Nongfu Spring e Ganten apresentam níveis máximos elevados de uma substância que pode ser cancerígena As autoridades de Hong Kong alertaram ontem para o facto de as águas das marcas Nongfu Spring e Ganten apresentarem níveis de bromato que atingiram os limites máximos recomendados pela União Europeia. O alerta foi deixado pelo Conselho de Consumidores de Hong Kong, que analisou a segurança de 30 marcas de água à venda na REAHK, muitas das quais estão também disponíveis em Macau. O bromato é uma substância que se pode desenvolver na água devido aos meios de desinfecção de água para consumo, como acontece com métodos que utilizam o ozono. De acordo com diferentes relações da Organização Mundial de Saúde (OMS), em níveis de concentração muito elevados, o potássio de bromato é considerado cancerígeno e um risco para a saúde. Na apresentação dos resultados sobre a qualidade da água, as autoridades de Hong Kong consideraram as águas vendidas ao público seguras, mas reconheceram que no caso das marcas Nongfu Spring e Ganten os níveis de bromato atingiram o limite recomendado. O nível máximo aconselhado actualmente pela UE é de 3 microgramas de bromato por litro. De acordo com o portal HK01, os responsáveis pelo estudo indicaram que no caso do consumo destas águas em grande quantidade, os consumidores podem sentir náusea, dores abdominais, vómitos e diarreias. Além disso, o consumo pode afectar ainda os rins e o sistema nervoso. Em reacção aos resultados, aponta o HK01, representantes da empresa responsável pela água Nongfu Spring garantiram que internamente são adoptados critérios mais elevados de segurança na concepção dos produtos. O artigo não cita qualquer posição da empresa Ganten. A Nongfu Spring é detida pela empresa com o mesmo nome e tem a sede em Hangzhou, na província de Zhejian. Também a Ganten é uma água do Interior, com sede em Shenzhen, e apresenta uma face mais internacional, como patrocinadora alguns eventos a nível mundial, dos quais o Open da Austrália em Ténis é um dos mais relevantes. Tudo aprovado Nas 30 águas investigadas não consta qualquer marca portuguesa. No entanto, há vários tipos disponíveis em Macau, como acontece com as marcas Cool, Bonaqua, Watson, Suntory, Volvic, Perrier, Evian, Vita ou Meadow. As águas analisadas englobaram águas minerais, destiladas e purificadas. No que diz respeito às águas minerais, os preços são, em média, três vezes superiores face às águas destiladas e purificadas. Todavia, nenhuma das águas minerais apresentou um valor “muito elevado” do nível minerais dissolvidos. Apesar disso, o Conselho dos Consumidores indicou que estas águas apresentam efectivamente um valor de minerais dissolvido mais elevado em comparação com as restantes.
João Luz Manchete PolíticaChefe do Executivo | Jorge Chiang denuncia famílias poderosas Quem é o empresário que pretende ser candidato a Chefe do Executivo? Jorge Chiang é natural de Macau, católico, pretende fazer visitas de cortesia aos membros da Comissão Eleitoral e apresentar-se às gerações mais novas. Chiang afirma ainda que “algumas famílias” monopolizam certos aspectos da sociedade, algo que a população sabe, mas não ousa dizer Afinal quem é Jorge Chiang, o empresário de 61 anos que revelou na semana passada a intenção de concorrer às eleições para Chefe do Executivo? O HM falou o potencial candidato sobre o seu percurso, origem e o caminho que pretende seguir para chegar à mais elevada posição no Governo da RAEM. “Nasci em Macau. A minha família vive cá há muitos anos, desde a década de 1940. Estudei áudio, iluminação e telecomunicações e trabalhei na área financeira tanto na China, como no exterior. Durante a juventude, trabalhei no Centro Diocesano dos Meios de Comunicação Social. Sou católico”, contou o candidato ao HM. Em relação à falta de visibilidade na sociedade local, Jorge Chiang assume que essa é uma lacuna a colmatar. “A população não me conhece, nem tem uma ideia de quem sou, sou como uma página em branco. As novas gerações não me conhecem, porque não apareço publicamente em eventos. Acho que só as gerações mais velhas me conhecem bem.” Para já, a agenda de Jorge Chiang tem o início das suas aparições públicas para depois do encerramento da 3.ª Sessão Plenária do 20º Comité Central do Partido Comunista da China, que começou ontem. Sobre a falta de participação em associações locais, Jorge Chiang indica a que sua vida profissional, que implica viagens constantes a cidades da Grande Baía e a outros locais no Interior da China, lhe ocupa o tempo para se dedicar à vida associativa. Porém, acabou por criar a Associação de Institucionalismo de Macau (em 2020) e a Associação de Comércio Macau Lotus (em 2021). Fé no futuro Em relação à possibilidade de cumprir o requisito legal de reunir assinaturas de pelo menos 66 membros da Comissão Eleitoral no boletim de propositura, Jorge Chiang revelou ao HM que está confiante de que irá conseguir atingir esse objectivo. “Vou visitar pessoalmente cada membro da Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo em breve, enquanto acto de cortesia”, afirmou. Recorde-se que a comissão é constituída por 344 membros. De momento, o nepotismo é um dos problemas que Jorge Chiang destaca em Macau, apesar de ainda estar a preparar as propostas para o futuro do território. “O Governo e algumas famílias monopolizam muitos interesses e sectores sociais. Isso provoca a irritação da população, que conhece muito bem estes problemas, mas não ousa falar. Espero que esta situação seja corrigida gradualmente”, indicou. Para já, o potencial candidato quer ouvir a população e confirmar a veracidade de algumas queixas que já ouviu, para procurar soluções para esses problemas. Vida cara Os preços praticados em Macau são uma das preocupações de Jorge Chiang, em particular os produtos alimentares. O empresário gere algumas propriedades em Zhuhai e Foshan onde são criados animais para alimentar o mercado de Macau, como frangos, porcos, patos, gansos e legumes. Em Huizhou, também em Guangdong, Jorge Chiang tem uma propriedade dedicada à aquacultura para fornecer peixe e marisco a Macau, “devido à poluição provocada pelos japoneses”. “Neste momento, Macau tem os preços mais elevados da Grande Baía. Temos de controlar esse problema de inflação procurando a importação de produtos mais baratos de outras províncias do Interior da China. Estou empenhado num projecto de comércio electrónico que tem esse objectivo, de encontrar mercadorias mais baratas noutras províncias e trazê-las para a Grande Baía. Mas também importar mercadorias estrangeiras para o Interior da China como, por exemplo, leite”, contou Jorge Chiang.
João Santos Filipe Manchete PolíticaChefe do Executivo | Nomeada comissão para apurar resultados eleitorais A lista dos membros da Assembleia de Apuramento Geral para as eleições do Chefe do Executivo e da Comissão Eleitoral que escolhe o futuro líder da RAEM foi anunciada ontem. Kuok Kin Hong, delegado coordenador do Ministério Público, será o presidente O nome das cinco pessoas que constituem a Assembleia de Apuramento Geral das eleições e os membros da Comissão Eleitoral e da eleição para o cargo do Chefe do Executivo foram anunciados ontem no Boletim Oficial. A escolha dos membros vem assinada por André Cheong, secretário para a Administração e Justiça, que actualmente desempenha as funções de Chefe do Executivo, de forma interina, dado que Ho Iat Seng está oficialmente de férias. Kuok Kin Hong, delegado coordenador do Ministério Público (MP) é promovido a presidente da comissão, substituindo Mai Man Ieng, delegado do procurador do MP, que em 2019 tinha presidido à comissão. Em 2019, Kuok Kin Hong tinha integrado esta comissão, mas não como presidente. A lei define que o presidente da comissão tem de ser sempre um magistrado do MP. Segundo a informação oficial, Kuok Kin Hong é licenciado em Direito pela Universidade de Macau (UM), e antes das funções actuais desempenhou os cargos de intérprete-tradutor de chinês e português na antiga Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública, antiga Capitania dos Portos e no antigo Gabinete para a Tradução Jurídica. Foi ainda conservador na Conservatória do Registo Predial e notário do Cartório Notarial das Ilhas. Entre 2002 e 2004 participou no curso e estágio de formação para ingresso nas magistraturas judicial e MP, tendo sido nomeado como Delegado do Procurador do Ministério Público da RAEM, em Agosto de 2004. Os membros do MP nas comissões de apuramento dos resultadas das eleições incluem também a estreia de Cheong Kuok Chi, delegado coordenador. À semelhança de Kuok, Cheong é licenciado em Direito pela UM. Em termos profissionais, desempenhou funções de técnico superior do Fundo de Pensões em 2009. Entre esse ano e 2011 participou no curso e estágio de formação para ingresso nas magistraturas judicial e do MP, tendo sido nomeado como Delegado do Procurador em Setembro de 2011. Nome da experiência A Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP) está representada na comissão de apuramento de resultados pela subdirectora, Joana Maria Noronha, tal como aconteceu em 2019. Joana Maria Noronha é licenciada Ciências Sociais pela Universidade da Ásia Oriental de Macau, desde 1989, e tem um mestrado em Administração Pública pela Universidade de Sun Yat-Sen. Integrou a função pública em 1990 e fez toda a carreira nos SAFP, passando por posições, como técnica superior do Departamento de Administração Civil e Divisão de Apoio Técnico-Eleitoral, adjunta da Divisão de Apoio Técnico-Eleitoral, Chefe do Centro de Atendimento e Informação ao Público. Finalmente, em 2011 transitou para a posição de subdirectora, que ainda desempenha. O quarto membro da comissão é Lai Ka Chon, subdirector da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), que também se estreia. Em 2019, a DSEC foi representada pela então subdirectora Cheng I Wan. Lai Ka Chon licenciou-se em Informática em 2019, na Universidade Politécnica de Macau, e tem um mestrado em Engenharia Informática, pela UM. Lai ingressou na função pública como assistente de informática na Direcção dos Serviços de Economia, onde ficou até 2010. Nesse ano faz a transição para a DSEC onde assumiu comissões de Chefe do Sector de Administração do Sistema Informático e Chefe do Departamento de Sistemas de Informação e Informática. A partir de Fevereiro de 2023 chegou a subdirector da DSEC, primeiro como substituto, mas está em comissão de serviço desde Janeiro deste ano. À semelhança de 2019, Cheong Sek Lun, o chefe da Divisão de Apoio Técnico-Eleitoral dos SAFP, volta a integrar a comissão. Cheong licenciou-se em Tradução e Interpretação Português-Chinês pela UM, em 1997, e integrou os SAFP logo nesse ano. Está no mesmo serviço desde essa altura, e desde 2011 que desempenha a posição actual. As eleições para escolher os membros da comissão eleitoral que vão escolher o futuro Chefe do Executivo estão marcadas para 11 de Agosto. As eleições para o futuro líder da RAEM ainda não têm data marcada, visto estarem dependentes das eleições dos membros da comissão.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteEnsino | Reforço do patriotismo nas novas competências exigidas a alunos O Governo alterou as competências académicas básicas exigidas aos alunos dos ensinos primário e secundário. Em concreto, as alterações abrangem as áreas da Educação Moral e Cívica, História, Tecnologias de Informação, Artes, Sociedade, Ciências Naturais e Humanidades. Amor a Macau e à pátria e relacionamentos interpessoais são alguns dos principais focos Que conteúdos deve um aluno dos ensinos primário e secundário dominar nas mais diversas disciplinas, desde História à Educação Moral e Cívica, e como se deve relacionar com o outro, com a sociedade e o ambiente que o rodeia? Que domínios deve ter ao nível da tecnologia, Macau e China, bem como o relacionamento entre as diversas etnias e comunidades que compõem as sociedades? São a estas perguntas que respondem as novas exigências em matéria de competências básicas que os estudantes dos ensinos primário, secundário geral e secundário complementar devem ter. O despacho, assinado pela secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U, foi ontem publicado no Boletim Oficial (BO), redefine competências definidas noutros despachos e dá primazia à defesa do patriotismo em prol do território e do país. As novas exigências passam a aplicar-se no próximo ano lectivo, de 2024/2025. No caso dos três primeiros anos de escolaridade do ensino primário, as exigências devem aplicar-se “a partir do primeiro dia do ano escolar de 2024/2025”, sendo que nos restantes anos de escolaridade do mesmo grau de ensino se aplicam “a partir do primeiro dia do ano escolar de 2025/2026”. No caso de todos os anos do ensino secundário geral, as novas recomendações de conteúdos programáticos seguem-se “a partir do primeiro dia do ano escolar de 2025/2026”, enquanto no ensino secundário complementar as novas exigências vigoram “a partir do primeiro dia do ano escolar de 2026/2027”. Contudo, caso se reúnam “condições para a sua implementação”, as novas exigências podem ser aplicadas do quarto ao sexto ano de escolaridade do ensino primário, bem como a “todos os anos de escolaridade do ensino secundário geral e do ensino secundário complementar”. Em matéria de patriotismo, e no caso dos alunos do ensino primário, estes devem “desenvolver o sentimento do amor à pátria e a Macau, permitindo-lhes valorizar e apreciar a excelente cultura tradicional chinesa, reconhecer a sua identidade nacional e respeitar as tradições culturais e costumes de vida de diferentes países e etnias, formando uma preliminar consciência internacional”. São ainda definidos alguns códigos com letras e números que remetem para princípios que devem ser respeitados em cada nível de ensino, tal como “conhecer os principais monumentos de Macau e saber que o ‘Centro Histórico de Macau’ está listado na ‘Lista do Património Mundial’. Outro código diz respeito à obrigatoriedade de “conhecer, estimar e proteger a bandeira e emblema regionais da RAEM, bem como conhecer o seu significado”. Outras competências básicas devem passar pelo conceito de “amar Macau” e o fomento da “preocupação com as mudanças e o desenvolvimento de Macau”, bem como “compreender minimamente a ‘Lei Básica da RAEM da República Popular da China (RPC) e os respectivos diplomas legais relacionados com os jovens de Macau, obedecendo de forma consciente à lei e ordem pública”. Os alunos devem ainda “conhecer a estrutura e orgânica básicas do Governo da RAEM, bem como as suas principais funções”, sem esquecer “os direitos e deveres fundamentais dos residentes de Macau”. O país acima de tudo Os códigos criados estão inseridos em secções, descritas como “âmbitos de aprendizagem”, conforme a área de relacionamento interpessoal do estudante. Ficam, assim, definidas as áreas “sobre si mesmo”, “família”, “eu e escola”, “eu e sociedade”, “eu e o país”, “eu e o mundo” e ainda “eu e o ambiente”. Em relação à China, os alunos até ao sexto ano de escolaridade devem “conhecer, estimar e proteger a bandeira e emblema nacionais”, bem como “compreender o seu significado”. Os estudantes devem também “saber cantar o hino nacional e conhecer o cerimonial relativo à execução instrumental e vocal do hino”. É fundamental “conhecer o mapa da RPC e saber que o território da pátria é sagrado e inviolável”, bem como “conhecer os resultados representativos da excelente cultura tradicional chinesa”. Os alunos terão de “conhecer minimamente a Constituição da RPC” e “saber que o nosso país tem uma longa história e cultura”. No rol de exigências inclui-se ainda “conhecer as principais características da cultura chinesa e sentir-se orgulhoso pelos resultados civilizacionais alcançados pela nação chinesa”. Em relação à China, os alunos devem “conhecer a sua identidade nacional e sentir-se orgulhosos em ser chineses”, ou ainda “preocupar-se com a segurança e interesses do país”. As novas exigências fazem também referência ao posicionamento de Macau e do seu lugar na história, pois os estudantes devem “saber que Macau é território da China desde os tempos remotos” Relativamente à presença portuguesa no território, ficou definido pelo Governo que os estudantes devem conseguir “abordar o processo de povoamento até à ocupação pelos portugueses em Macau e as respectivas influências através da leitura de diversos dados históricos”. Deve ainda ser compreendida “a evolução histórica do estabelecimento dos órgãos administrativos da China e de Portugal em Macau depois de os portugueses terem adquirido o direito de habitação em Macau”. Na área das “actividades de descoberta” a ser seguidas pelos alunos do ensino primário é referido “o estabelecimento da relação entre os alunos e o ambiente social, com relevância para ajudar os alunos a conhecer as tradições e a situação actual da sociedade local, bem como os actuais temas sociais da China e do mundo, no sentido de desenvolver nos alunos o sentimento de amor pela pátria e por Macau e o espírito de preocupação humana”. Não é esquecido o tema da defesa da segurança nacional. “Através da compreensão dos conhecimentos gerais da segurança nacional, os alunos serão inspirados a desenvolver, por sua iniciativa, um sentido de responsabilidade sobre a defesa da segurança nacional e, através do conhecimento da história e cultura chinesas e estrangeiras, a desenvolver nos alunos uma consciência de respeito e de transmissão da história e da excelente cultura tradicional e um espírito de missão e de sentimento de pertença à Pátria”. No que diz respeito às competências musicais, destaca-se a necessidade de “conseguir cantar na língua original das canções locais, do nosso País e de outros países e etnias, mostrando interesse pelo conhecimento das diferentes culturas e, em particular, saber cantar o Hino Nacional da República Popular da China”. Ao nível do ensino secundário geral, a escola deve contribuir para “aumentar o sentimento de pertença dos alunos à família e à escola”, bem como “reforçar o seu reconhecimento do país e do povo e compreender o princípio ‘um país, dois sistemas’, desenvolvendo o seu amor pela pátria e por Macau, criando um conceito nacional”. Os alunos devem desenvolver conceitos como “democracia, estado de direito, de direitos humanos e de justiça, bem como ter pensamento crítico, juízo racional e capacidade de participação social activa na vida pública”. Diz-me com quem andas No rol de exigências a cumprir pelos estudantes não faltam ideias sobre como se devem comportar perante os outros e as instituições sociais. A diversidade cultural de Macau não é ignorada, pois afirma-se que o aluno deve “preocupar-se e aceitar as crianças novas imigrantes em Macau” e ainda “conhecer as consequências nefastas da discriminação, maus tratos e actos violentos bem como conhecer os meios para pedir ajuda”. É ainda referido que os estudantes devem ter a capacidade de “saber minimamente distinguir e escolher amigos”. Os jovens adolescentes devem também “saber escolher actividades saudáveis para a saúde física e mental”, bem como “conhecer os efeitos nocivos da droga, alcoolismo, tabaco e pornografia, e saber recusá-los”.
João Santos Filipe Manchete SociedadeSuncity | Publicada mensagem pessoal com foto de Alvin Chau Num registo pessoal, mas sem assinatura, a mensagem publicada com a fotografia daquele que foi um dos grandes junkets justifica que nos últimos 10 anos tudo o que fez foi por amor a Macau Tudo feito por amor a Macau. É desta forma que mensagem publicada em tom pessoal e com a fotografia de Alvin Chau no Facebook oficial da Suncity faz uma análise dos últimos 10 anos. No que aparenta ser uma mensagem de Alvin Chau, dado que é escrita na primeira pessoa, embora sem assinatura, o texto começa por indicar que passaram “dois anos num piscar de olhos”, para depois fazer um balanço dos “últimos 10 anos”. Alvin Chau está preso desde Novembro de 2021, e cumpre uma pena de 18 anos de prisão. Seguida da introdução, em que também é perguntado a “todos os ex-colegas e amigos” se estão bem, a publicação adquire um cariz ainda mais pessoal, em que o autor questiona se cometeu erros no passado. “Às vezes, pergunto-me, será que realmente cometi erros? Será que tenho a consciência pesada?”, interroga. O autor garante igualmente que “sempre assumiu as responsabilidades de contribuir para Macau”, e que tentou “deixar a cidade mais brilhante no palco internacional”. Neste sentido, argumenta que a Suncity, “ao longo dos anos” “impulsionou a economia das artes, cultural e entretenimento”. “Organizávamos e patrocinámos mais de 50 concertos e espectáculos de grande dimensão em Macau”, é frisado. “Nós investimos imensos recursos na promoção de Macau como destino turístico, fomos os patrocinadores do Grande Prémio, do Festival Internacional de Cinema, do Encontro de Mestres de Wushu e do concurso Miss Macau”, é acrescentado. A mensagem foca ainda “os esforços de caridade”, “promoção do desporto” e criação de equipas de voluntariado, futebol, basquetebol e barco-dragão. “Eu contribuí muito para Macau, só por uma razão, porque amo este lugar!”, é indicado. Publicação viral O texto termina depois com a certeza de que tudo foi feito para melhorar a cidade. “Nos últimos 10 anos, nem por um momento parei! Eu realmente tentei fazer o meu melhor para contribuir para Macau”, é vincado. “Espero sinceramente que esta cidade esteja cada vez melhor!”, realçou. A publicação rapidamente se tornou viral e em menos de 24 horas contava com mais de 5,2 mil reacções, 718 comentários e 518 partilhas. Entre os comentários, vários ex-trabalhadores da empresa, como Gina Lei, ex-vice-presidente do grupo Suncity, deixaram elogios e palavras de apoio a Alvin Chau. Também vários comentários indicavam que Alvin Chau tinha sido o melhor patrão que alguma vez tinham encontrado na vida profissional.
João Santos Filipe Manchete SociedadeAcidente | Trabalhador morre após queda quando substituía ar-condicionado A vítima era um trabalhador não-residente do Interior, teria meia-idade e suspeita-se que tenha prendido a corda de segurança a um apoio de ar-condicionado, que acabou por ceder Um trabalhador perdeu a vida na sequência de uma queda quando substituía um ar-condicionado. O acidente acontece no sábado, por volta do meio-dia, e a ocorrência ficou captada em vários vídeos que circularam nas redes sociais. De acordo com a versão das autoridades, o acidente e terá acontecido quando o homem “de meia idade” substituía um ar-condicionado, no exterior de um edifício, na Alameda Dr. Carlos de Assumpção. Suspeita-se que o homem terá prendido a corda de segurança a um dos braços do apoio do ar-condicionado. No entanto, o braço do apoio do ar-condicionado terá cedido, o que levou a que o homem caísse. Nas imagens que circularam online, e que foram captadas por viaturas que seguiam na Rotunda do Arco Oriente e na Alameda Dr. Carlos de Assumpção, vê-se o homem a cair ao mesmo tempo do aparelho de ar-condicionado. A queda aconteceu à frente da entrada de um parque de estacionamento, e não houve feridos a registar, além da vítima mortal. Todavia, os vídeos que circularam mostraram que pelo menos uma viatura terá sofridos danos. A vítima é um trabalhador não-residente do Interior. Alerta ao meio dia Após o acidente o Corpo de Bombeiros foi chamado ao local, por volta das 12h12. Como a vítima foi declarada morta minutos depois, também a Polícia Judiciária se deslocou à Alameda Dr. Carlos de Assumpção. “Depois de um exame ao corpo do morto, apurou-se que as lesões são consistentes com os ferimentos causados por uma queda em altura”, pode ler-se na informação revelada aos órgãos de comunicação social. “Além dos ferimentos da queda em altura, não foram detectadas lesões suspeitas. Também com a investigação se descobriu que o homem estava a substituir um ar-condicionado do edifício onde a queda aconteceu”, foi acrescentado. Dado que a ocorrência foi classificada como acidente de trabalho, a Direcção de Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) esteve igualmente no local. Horas depois, a DSAL emitiu um comunicado a lamentar o acidente e a garantir que tem promovido a segurança ocupacional e no trabalho. “A DSAL expressa a sua grande preocupação e tristeza e envia as condolências à família da vítima”, foi comunicado. “Ao mesmo tempo, estamos a tentar compreender o acidente e vamos assistir a família com todos os procedimentos e na obtenção das compensações relacionada com o acidente de trabalho”, foi acrescentado. A DSAL sublinhou também que o acidente vai continuar a ser investigado. De acordo com as estatísticas oficiais mais recentes, entre Janeiro e Março houve três vítimas mortais em acidentes de trabalho, mais uma face ao período homólogo.
Hoje Macau Manchete PolíticaPortugal | BE critica nomeação de Vitório Cardoso, “apologista de ditaduras” O Bloco de Esquerda questionou o Governo português sobre a nomeação de Vitório Cardoso como secretário pessoal do secretário de Estado das Comunidades, José Cesário, qualificando-o de “lobista e apologista de ditaduras” e temendo o seu acesso a “informação sensível” Numa pergunta dirigida ao ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, subscrita pela deputada Marisa Matias, o Bloco de Esquerda (BE) refere-se à nomeação publicada em Diário da República no dia 4 de Julho do secretário pessoal de José Cesário. Trata-se da nomeação de Vitório Rosário Cardoso, “lobista e apologista de ditaduras, para cargo onde lidará com informação sensível”, aponta o BE, argumentando que a pessoa em causa “não tem idoneidade, nem deve merecer confiança para lidar com matérias e com informações tão sensíveis” como aquelas que o cargo acarreta. “Vitório Rosário Cardoso exalta as ditaduras franquista e salazarista, diz que Aristides Sousa Mendes ‘pôs em risco a vida de todos os portugueses’, que o 25 de Abril foi ‘um dia de luto’ e defende a PIDE por considerar que teve ‘um papel fundamental para combater os atos subversivos da oposição política em prol da ‘unidade, liberdade e soberania nacionais’”, sustentam no documento. A pergunta do BE surge após a revista Sábado ter noticiado na quinta-feira a nomeação de Vitório Cardoso, num artigo em que recordava o seu percurso e as suas posições políticas, que já o levaram a participar na manifestação do Chega que negava a existência de racismo em Portugal, apesar de ser militante do PSD de Macau. “Acresce a tudo isto que Vitório Rosário Cardoso é conhecido pela sua actividade de lóbi económico”, aponta ainda a deputada Marisa Matias. Segundo a exposição do BE, o agora secretário de José Cesário é “vice-presidente das Regiões Autónomas de Portugal da PORCHAM Portugal, uma empresa que se apresenta como ‘uma plataforma formal para empresas, profissionais e empresários luso-chineses se conectarem’ e que tem como objectivo ajudar ‘as empresas portuguesas a terem uma presença de sucesso na China, assim como as empresas chinesas a terem uma presença de sucesso em Portugal’”. “É uma actividade que já vem de longe, sendo conhecido o seu papel de intermediário de negócio entre Portugal e China pelo menos desde 2014, tendo inclusivamente acompanhado uma comitiva de empresários chineses no distrito de Viseu, já na altura acompanhando José Cesário”, acrescenta. Pote de mel Marisa Matias aponta que cabe ao secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, entre outras matérias, “todos os actos respeitantes à Direção-Geral dos Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas, ao Conselho das Comunidades Portuguesas, ao Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, I. P., à Comissão Interministerial para as Migrações e Comunidades Portuguesas e à Comissão Organizadora do Recenseamento Eleitoral dos Portugueses no Estrangeiro”. São ainda competência do secretário de Estado, sublinha, a decisão de recursos hierárquicos sobre pedidos de vistos apresentados nos Serviços Periféricos Externos do Ministério dos Negócios Estrangeiros, as matérias relativas com o Programa Nacional de Apoio ao Investimento da Diáspora ou a designação de trabalhadores para as secções consulares. Para a deputada bloquista, “torna-se óbvio que a nomeação feita não podia ter acontecido nem deve continuar, sob pena de se colocar num lugar de acesso a informação sensível e privilegiada alguém que representa interesses económicos particulares, em clara situação de conflito de interesses”. Marisa Matias pergunta se o ministro dos Negócios Estrangeiros tem conhecimento da nomeação e se “considera que alguém que defende ditaduras e polícias políticas pode ser nomeado para um cargo de tamanha confiança política e onde lidará com informação e assuntos sensíveis”. A parlamentar bloquista questiona ainda Paulo Rangel sobre se “alguém que tem ficado conhecido pela sua actividade de lobby e de facilitador económico pode ser nomeado para um cargo onde estará em claro conflito de interesse” e se vai “compactuar com esta nomeação, mesmo sendo notório que ela vai ao arrepio de todos os valores que Portugal deve representar”.
João Luz Manchete PolíticaCAECE | Mais de um terço dos candidatos são estreantes A lista de candidatos para a Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo foi revelada na sexta-feira, com mais de um terço de caras novas. O antigo Chefe do Executivo Chui Sai On estreia-se no grupo. No total, foram recebidas 348 candidaturas válidas para os 344 lugares da comissão eleitoral que irá votar o próximo líder do Governo A lista de candidatos à Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo (CECE) foi afixada na sexta-feira, que agrega 348 candidaturas para 344 lugares disponíveis, proporção que a presidente da Comissão de Assuntos Eleitorais do Chefe do Executivo (CAECE), Song Man Lei, considerou ser sinónimo de uma “eleição competitiva”. A maioria dos 348 candidatos tem menos de 65 anos e 121 apresentaram pela primeira vez candidatura ao colégio eleitoral que elege o Chefe do Executivo, uma proporção de estreantes superior a um terço. Na conferência de imprensa de sexta-feira, em que foi anunciada a lista de candidatos à CECE, Song Man Lei referiu que os subsectores educacional e do trabalho registaram mais quatro candidatos, dois de cada, do que o número de assentos atribuídos de acordo com a lei. Uma das caras novas no colégio eleitoral será Fernando Chui Sai On, o antecessor de Ho Iat Seng que liderou o Executivo da RAEM entre 2009 e 2019, que irá concorrer no subsector educacional. Alta fidelidade Song Man Lei afirmou ainda que a Comissão de Defesa da Segurança do Estado verificou que todos os candidatos e representantes dos subsectores da religião e de membros de Macau na Assembleia Popular Nacional “defendem a Lei Básica e são fiéis à Região Administrativa Especial de Macau da República Popular da China”. Em relação aos candidatos com ligações à comunidade portuguesa, Jorge Neto Valente e Carlos Rodrigues vão concorrer pelo sector industrial, comercial e financeiro, onde constam também nomes como Frederico Ma, Manuel Iok Pui Ferreira, David Chow, Pansy Ho, e os deputados Chan Chak Mo e Wang Sai Man. Pelo subsector cultural, concorrem Manuel Pires, José Chan Rodrigues. Pelo sub-sector educacional, destaque para o presidente da Confraria da Gastronomia Macaense Carlos Cabral, o deputado nomeado pelo Chefe do Executivo Kou Kam Fai e José Chan Rodrigues. No subsector profissional constam os nomes de António Dias Azedo, Paulino Comandante, os arquitectos Carlos Marreiros e André Ritchie, a tradutora e intérprete Manuela Aguiar, Casimiro de Jesus Pinto e Leonel Alves. No subsector desportivo, concorrem João Manuel Paes D´Assumpção, Eurico de Jesus e Daniela Fão, enquanto no subsector dos serviços sociais permanece o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Macau António José de Freitas, e entra Duarte da Silva Rosário. A eleição dos membros da CECE está marcada para o dia 11 de Agosto.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteLuís Bernardino, investigador e docente universitário: “Passagem de Macau para a China foi exemplar” Luís Bernardino, docente da Universidade Autónoma de Lisboa, faz parte do recém-criado think-tank “Global Strategic Platform”, que irá organizar uma série de eventos centrados na China. O programa está a ser preparado e não deixa Macau de fora. Luís Bernardino fala ainda sobre o sucesso da transição de Macau Foi apresentado, há dias, o projecto “China Sessions” no âmbito da “Global Strategic Platform”. Em que consiste esta iniciativa? A “Global Strategic Platform” é uma plataforma virtual que liga professores que estão nos EUA, Angola e Portugal e que foi criada há cerca de dois anos para organizar eventos que sejam de carácter global nas áreas da geopolítica e geoestratégica, ou mesmo relações internacionais. Nessa altura, criámos as “Africa Sessions” que, de certa forma, nos últimos dois anos, tem feito um caminho no sentido de ter conferências sobre os temas da agenda africana. No ano passado surgiu-nos a ideia de ampliar este projecto, ou seja, criar dois outros pilares. Um deles é o “Transatlantic Sessions”, ou seja, estudar as relações transatlânticas, e começámos a fazer isso, e agora queremos criar uma terceira área de estudos sobre a China, com as “China Sessions”. Este segmento pretende ser um conjunto de eventos que procuramos criar online, embora alguns eventos sejam presenciais, com transmissão para todo o mundo, sobre a problemática da China no mundo. A ver pelo primeiro tema, e a adesão das pessoas, temos um bom acolhimento. Fizemos esta sessão de abertura no Centro Científico e Cultural de Macau e isso foi muito importante porque essa relação tem de estar ligada a Macau. De que forma? Macau desempenha um papel muito importante na relação da China com África, e se quisermos ser mais concretos, com os países de língua portuguesa. Isso parece-nos ser também um vector importante de análise. Portanto, queremos trazer essas temáticas para as “China Sessions”, cujo programa de actividades estamos agora a desenvolver. Será uma espécie de think-tank? Será um think-tank que pretende abrir a discussão ao mundo global utilizando as ferramentas digitais, congregando pessoas de todos os quadrantes, a nível mundial, num tema que nos parece muito actual por várias ordens de ideias. Desde logo porque a China já é um actor global e as dinâmicas do país têm impacto com todos os outros actores. É importante que este projecto possa realizar essa análise. Vamos ter vários campos. A primeira conferência foi sobre a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, e vamos já fazer uma segunda sessão em que falaremos sobre os dez anos da mesma iniciativa, mas numa perspectiva mais económica. Depois queremos abrir espaço para falar sobre segurança, cultura, diplomacia. São esses os objectivos que temos. Vamos abrir este projecto a todos, embora tenhamos uma dificuldade acrescida quanto à língua, nomeadamente ao chinês e dos fusos horários. Se estamos a estudar, comentar e a analisar a China, também queremos ser ouvidos na China e que as nossas actividades cheguem ao país e a Macau. Temos algumas ideias nesse sentido e queremos encontrar um equilíbrio entre aquilo que são as necessidades de ajustamento de temas com os tempos e as horas. Vão ser estabelecidas mais ligações a Macau? Depende de cada um dos temas e de cada um de nós [participantes nas “China Sessions”]. Conheço relativamente bem Macau, a Fundação Rui Cunha, as universidades, e vamos tentar gerar oportunidades. Estamos disponíveis para nos associarmos na realização de conferências, por exemplo. Queremos aprofundar algumas das nossas experiências que já concretizamos nas “Africa Sessions” para as “China Sessions”. Vamos todos ganhar com isso porque teremos diferentes painéis com especialistas que nos vão mostrar aquilo que, de facto, a China está a fazer no mundo. É importante compreendermos essa dinâmica crescente da China nos vários vectores em que se posiciona, não apenas na “Faixa e Rota”, mas demais áreas conexas. Que balanço faz dos dez anos da iniciativa lançada por Pequim? Penso que há ainda muito a descobrir. Em dez anos não dá ainda para ver perfeitamente o alcance daquilo que são as dinâmicas de “Uma Faixa, Uma Rota”. Uma coisa me parece clara é a intenção da China de querer ser uma potência global, mas também penso que não há ainda uma ideia concreta de como isso vai acontecer. Para ser uma potência global tem de ser uma potência económica e militar, e também ao nível diplomático, e esses vectores todos têm de estar congregados numa estratégia nacional que às vezes me parece algo difusa. Por definir? Por definir em alguns aspectos. Obviamente que “Uma Faixa, Uma Rota” é um projecto global, de grande alcance, de longo termo, e creio que estes dez anos também serviram para a China aprofundar e desenvolver um pouco da sua estratégia de abordagem global. Terão de ser alinhados outros instrumentos do poder com a parte económica. Macau tem também um certo posicionamento a cumprir nesta iniciativa. Considera que tem desempenhado o seu papel da melhor forma no âmbito de “Uma Faixa, Uma Rota”? Penso que sim. Macau desempenha um papel muito importante, não apenas na relação com os países de língua portuguesa, mas também com a geografia global. Macau, obviamente, representa também para a China uma forma diferente de olhar para esta iniciativa. Eventualmente, da parte da CPLP [Comunidades dos Países de Língua Portuguesa] e países lusófonos não há, ainda, um completo entendimento e perspectiva de como isto pode ser benéfico na transacção comercial e na linha do que será a geopolítica do futuro. Portanto, há uma aprendizagem que deve ser feita, e Macau representa uma coisa interessante. Muitas vezes discutimos a questão das independências e a passagem de Macau [no que respeita à administração portuguesa] para a China foi, de facto, exemplar, permitindo criar estruturas, dinâmicas, consensos e projectar o território numa parceria que facilita quem está na China e em Macau. O território é agora uma porta de entrada para os países que querem apostar na China como entidade parceria, e também na construção de uma relação comercial. Esse é um activo estratégico de Macau na geopolítica da relação da China com o mundo. Vamos ver se a China consegue, efectivamente, perceber isso e potenciar esse instrumento de política externa que é e será Macau. De certa forma, o tamanho não conta, neste caso. Macau é um território de tamanho muito reduzido, mas tem uma dimensão geoestratégica muito grande. Essa é condição para que Macau seja vista pela China e pelo mundo como um espaço geoestratégico relevante no contexto global. Celebra-se este ano o 25º aniversário da transição da administração portuguesa de Macau para a China. O balanço que faz do território é positivo? Macau tem sabido posicionar-se em todos estes contextos? Sim. Há de facto muitas coisas positivas. Foi bom o facto de haver uma parte cultural, da lusofonia, da língua e cultura portuguesas que se mantém. Estive em Macau e gostei de ver o património, o Clube Militar, e sentimo-nos muito em casa em Macau, com tanta história que ficou num espaço tão longínquo e distinto. Portugal fez uma transição exemplar que é vista como um bom exemplo na transição entre Estados. A minha avaliação é positiva e veremos se temos capacidade de apostar e fortalecer esta relação e perceber que Macau é, de facto, importante nesta nossa ligação com a China e CPLP.
João Santos Filipe Manchete SociedadeCrime | Empregada que se suicidou terá sido sequestrada por polícia Uma empregada doméstica terá cometido suicídio no final de Abril, depois de ter sido sequestrada durante várias horas pelos empregadores. A causa da violência terá sido o furto de 60 mil patacas A Polícia Judiciária (PJ) anunciou a detenção de uma mulher e do namorado, por alegadamente terem sequestrado, retido o passaporte e mantido com mãos atadas uma empregada doméstica, que acabou por se suicidar. Os contornos do caso foram revelados ontem pelas autoridades. De acordo com a informação da PJ, citada pelo canal chinês da Rádio Macau, a investigação do caso começou a 28 de Abril, com a morte da empregada doméstica, após uma queda em altura de um prédio, na Areia Preta. A vítima foi identificada como sendo do sudeste asiático, embora a nacionalidade não tenha sido revelada. Após a morte, as autoridades entraram em contacto com os empregadores da mulher, uma residente local com 36 anos, que trabalha no Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) e o namorado, com 34 anos, guia turístico. Estes contaram às autoridades que a mulher terá cometido o suicídio, depois de ter furtado cerca de 60 mil patacas aos empregadores. Ao investigar o caso, a PJ apontou ter contactado mais testemunhas que traçaram um cenário diferente do relatado pelos dois suspeitos. Uma história diferente Sem revelar a identidade das testemunhas, as autoridades indicam que foram informadas que depois do furto a empregada foi mantida em cativeiro, tendo sido interrogada entre as 23h de 27 de Abril e as 2h da madrugada do dia seguinte. Além disso, os dois terão retido o passaporte da mulher, investigado o seu telemóvel, e atado as mãos da mulher com fita-cola. Submetida à pressão, a vítima terá confessado aos empregadores a subtracão do dinheiro. Nessa altura, a mulher fez uma primeira tentativa para se libertar e fugir para a casa-de-banho. Apesar de ter conseguido libertar-se da fita-cola, foi parada pelos suspeitos. Mais tarde, por volta das 08h de 28 de Abril, a mulher conseguiu soltar-se, fechou-se na casa-de-banhou e saltou para fora do edifício, acabando por morrer. Além do relato das testemunhas, a PJ indicou que ao longo da investigação juntou vários indícios contraditórios com os depoimentos dos empregadores. A PJ referiu também que a empregada foi sujeita a “tortura mental” e que a autópsia não terá revelado sinais de outros tipos de violência física. “Muito chocado” Após o caso ter sido tornado público, o CPSP emitiu um comunicado em que afirmou estar “muito chocado” com os acontecimentos. “É totalmente inaceitável que agentes da polícia violem a lei de forma consciente”, pode ler-se na mensagem. “Este incidente reflecte a grave falta de conhecimento jurídico do pessoal envolvido, que passou de vítima a suspeito de crimes. Este incidente é muito triste”, foi acrescentado. As autoridades apontaram também que o caso vai ser utilizado para reforçar a formação e consciência jurídica dos agentes. Ao mesmo tempo, foi anunciada a abertura um inquérito interno à agente, assim como a suspensão imediata das funções. Ontem, ao final do dia, as medidas de coacção aplicadas ainda não eram conhecidas, o que só deverá acontecer mais tarde.
João Luz Manchete SociedadeDSAL | Abertas inscrições para estágios em Xangai e Hengqin O Governo, em conjunto com as autoridades de Hengqin, vai lançar dois planos de estágios subsidiados com 90 vagas para jovens de Macau. O primeiro plano, com 30 vagas, levará os estagiários a Xangai para adquirirem experiência de trabalho em desporto electrónico (videojogos). O plano de Hengqin oferece 60 estágios nas indústrias 1+4 A Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) anunciou ontem a organização, em conjunto com a Direcção dos Serviços de Assuntos de Subsistência de Hengqin, de dois planos de estágios destinados a jovens de Macau, que irá no total facultar 90 vagas. As inscrições abrem hoje às 12h e encerram às 12h de 2 de Agosto e podem ser submetidas no website da DSAL. As vagas estão destinadas a jovens de Macau com idade inferior a 35 anos, titulares de BIR, com licenciatura ou grau académico superior que satisfaçam as exigências de competências técnicas necessárias para os estágios. A DSAL acrescenta que será dada prioridade aos “jovens que possuírem as experiências profissionais adequadas”, e aos jovens que vão completar os estudos universitários no próximo ano lectivo. O plano de estágios de desporto electrónico (competições de videojogos), que faculta 30 vagas, terá lugar em Xangai, ao longo de oito semanas, oferecendo aos jovens experiência de trabalho na empresa VSPO, um dos maiores operadores de desportos electrónicos asiáticos. A DSAL caracteriza o desporto electrónico como “um sector emergente que abrange tecnologia, competição, diversão e interacção social”. Os jovens vão receber formação profissional antes de começaram os estágios. É a quarta vez que a DSAL organiza este programa de estágios. Metas a cumprir O outro plano diz respeito às indústrias prioritárias (1+4) para o plano de diversificação adequada, facultando 60 vagas de estágio, também com a duração de oito semanas, em empresas de Hengqin das áreas de “tecnologia de ponta, medicina tradicional chinesa, cultura, turismo, convenções, exposições e comércio, e ainda, indústria financeira moderna”. A DSAL especifica que o plano abrange postos especializados em “tecnologias de informação, tecnologia financeira, análise de dados, biomedicina, comércio electrónico, marketing, assuntos de telecomunicações, expansão de negócios, apoio às operações de gestão, serviços de apoio ao cliente, finanças, administração, recursos humanos, concepção artística e engenharia”. Por cada quatro semanas, a DSAL atribui “um subsídio de 5.000 patacas e um subsídio único para as despesas de transporte e seguros de viagem (sendo a quantia consoante ao plano a participar)”. Além disso, as autoridades de Hengqin atribuem a cada quatro semanas um subsídio de 4.000 renminbis para residências para o plano de Xangai e 2.000 renminbis para subsistência com a mesma periodicidade. Para os planos de estágios em Hengqin, a cada quatro semanas os estagiários recebem 4.000 renminbis subsídio de subsistência, enquanto o alojamento é garantido pelas autoridades. As restantes “despesas de subsistência e alimentação a cargo dos estagiários”.
João Luz Manchete PolíticaSegurança | Websites da polícia e bombeiros alvo de ataques Os serviços dos websites do gabinete de Wong Sio Chak, CPSP, bombeiros, Serviços das Forças de Segurança e da Escola Superior das Forças de Segurança, foram alvo de um ataque informático na noite de quarta-feira. A normalidade foi reposta três horas depois. A Polícia Judiciária está a investigar o caso Na noite de quarta-feira, por volta das 20h, os serviços dos websites do gabinete do secretário para a Segurança, Corpo de Polícia de Segurança Pública, Corpo de Bombeiros, Direcção dos Serviços das Forças de Segurança de Macau e Escola Superior das Forças de Segurança de Macau foram interrompidos devido a um ataque de negação de serviço oriundo do exterior, segundo o gabinete do secretário Wong Sio Chak. Quando o ataque foi detectado, as autoridades meteram em marcha “trabalhos de gestão de emergência” com os operadores de telecomunicações (a CTM), para retomar a normalidade dos serviços. Segundo um comunicado da Direcção dos Serviços das Forças de Segurança de Macau (DSFSM), emitido ontem de madrugada, a equipa de técnicos de segurança da CTM conseguiu bloquear o ataque de negação de serviço, com os websites afectados a voltarem ao normal por volta das 20h45 de quarta-feira, 45 minutos depois da detecção das anomalias. Porém, os webistes continuaram inacessíveis através da rede da CTM, apesar de o acesso ter ficado normalidade através de outras redes. O acesso através da rede de internet da CTM foi restabelecido às 23h13 da mesma noite. Inundação digital A DSFSM pediu à CTM, que providencia serviços de bloqueio de ataque de negação de serviço, uma investigação exaustiva ao incidente, assim como um relatório sobre o sucedido e um plano para evitar que incidentes semelhantes voltem a acontecer. Entretanto, a Polícia Judiciária iniciou as diligências para proceder à investigação do crime desde que este foi reportado. O ataque sofrido pelos websites dos vários serviços de segurança de Macau, ataque de negação de serviço, costuma ter como objectivo primário tornar os recursos de um sistema indisponíveis para os utilizadores, tornando-os inacessíveis através da sua invalidação por sobrecarga. Este tipo de ataque informático não é uma invasão de sistema, mas força o sistema atacado a ser reiniciado ou a consumir todos os seus recursos, como memória de processamento, para interromper as suas funcionalidades. As autoridades não revelaram a origem do ataque, limitando-se a indicar que terá vindo do exterior.
João Luz Manchete PolíticaChefe do Executivo | Empresário Jorge Chiang apresenta candidatura O empresário e presidente da Associação de Comércio Macau Lotus Jorge Chiang apresentou candidatura a Chefe do Executivo. O HM falou com o potencial candidato que indicou estar ainda a alinhar o seu programa político. Jorge Chiang acredita que a governação de Macau precisa de se adaptar aos novos tempos e ser mais inovadora “A decisão de concorrer às eleições para Chefe do Executivo não foi repentina, mas algo em que pensei nos últimos cinco anos. Desde então, não vi mudanças em Macau. Aliás, a situação está ainda pior, por isso vou concorrer às eleições para Chefe do Executivo.” Foi assim que o empresário Jorge Chiang contou ao HM aquilo que o moveu para apresentar a candidatura ao cargo político mais elevado da RAEM. “Depois das governações dos Executivos anteriores, apareceram muitos problemas em Macau que é necessário corrigir gradualmente”, acrescentou ao HM, cerca de 20 horas depois de anunciar a candidatura nas redes sociais. Jorge Chiang preside à Associação de Institucionalismo de Macau (criada em 2020) e à Associação de Comércio Macau Lotus (criada 2021), além de ser supervisor da Associação Desportiva de Artes Marciais Zhong Hua. Para já, Jorge Chiang admitiu ainda não ter um programa político detalhado, mas remete para o anúncio que publicou nas redes sociais para dar uma ideia das linhas basilares da sua candidatura. Virar a página Numa publicação intitulada “nova era, novas ideias, nova Macau”, o candidato afirma que “num panorama com desafios sem igual em 100 anos, o velho estilo de governação não se adaptou aos novos tempos em Macau, tornando-se obsoleto”. “Macau deve atrever-se a inovar a começar de novo. Assumo uma nova missão e não pouparei esforços para ajudar a implementar em Macau as principais políticas designadas nacionalmente. Tenho o corpo em Macau, mas o coração com a pátria e o povo, e uma determinação sem igual para falar pelo povo e defender o povo”, pode ler-se na declaração do candidato. Com um forte cariz nacionalista, Jorge Chiang defende a “implementação do socialismo com características chinesas” e comprometeu-se a liderar Macau “na nova era, com novas ideias de governação”. “Quero construir uma sociedade baseada no Estado de Direito e na prosperidade de todos”, indicou. Para entrar na corrida, a lei determina que a candidatura de Jorge Chiang seja “feita mediante a aposição das assinaturas de pelo menos 66 membros da Comissão Eleitoral no boletim de propositura”. Na passada terça-feira, o portal Macau News Agency (MNA) avançou que Ho Iat Seng se iria candidatar a um segundo mandato a Chefe do Executivo e que, segundo fontes anónimas, a candidatura deveria ser apresentada depois de 11 de Agosto, dia em que decorrem as eleições para os membros da Comissão Eleitoral.