Festival de Artes | IC exige ver guião dos Dóci Papiaçám antes do espectáculo

O lápis azul de Deland Leong não abranda. Após o cancelamento do espectáculo Made By Beauty no Festival Fringe e o acordo para abolir a nudez do espectáculo “Três Irmãos”, o IC exigiu o visionamento antecipado do guião da peça de teatro dos Dóci Papiaçám di Macau

 

Pela primeira vez desde que os Dóci Papiaçám di Macau integram o Festival de Artes de Macau, o Instituto Cultural (IC) exigiu ver o guião da peça, antes do espectáculo. A revelação foi feita por Miguel de Senna Fernandes, fundador do grupo, em declarações ao Canal Macau.

“Está naturalmente a acontecer [o pedido do guião]. É a primeira vez que nos pedem uma coisa destas e não sei o que vão controlar”, afirmou Miguel de Senna Fernandes. “Nós vamos cumprir naturalmente. Mas, claro que se houver alguma censura sobre isto, vai haver protesto”, acrescentou.

No entanto, o dramaturgo não deixou de se sentir incomodado com o pedido, até pelas dificuldades que levanta. “Só espero que isto de submeter os guiões seja um mero pro forma, porque andar a cortar isto, a cortar aquilo não pode ser…. Nós nunca submetemos nenhum guião, aliás os guiões são sempre alterados até ao último minuto. Então vamos submeter que guião?”, questionou. “Isto não tem pés nem cabeça. Não pode ser assim”, sublinhou.

Por outro lado, Miguel de Senna Fernandes mostrou-se preocupado com o impacto da exigência do IC nas artes locais, por poderem ser uma restrição à criatividade. “Admito que o teatro patuá tem uma característica especial que é a brejeirice. Há pessoas que não toleram tanto a brejeirice, que se utilize esta ou aquela expressão. Nós compreendemos”, reconheceu. “Coisa completamente diferente é mudar o curso das coisas porque pode ferir susceptibilidades. Espero que não se leve aos extremos, porque não se protege a criatividade que está a fazer falta em Macau”, justificou. “Espero que não se exagerem as coisas e que não se leve essa coisa de ferir susceptibilidades até ao extremo. Qualquer sátira fere sempre esta ou aquele susceptibilidade, ou então não é sátira”, destacou.

A arte de cortar

Face ao desenrolar dos acontecimentos, Senna Fernandes apelou ao IC que “impere sempre a confiança mútua”, porque “só assim as artes performativas de Macau podem florescer”.

A revelação feita pelo macaense surge numa altura em que o IC assumiu publicamente ter o direito de alterar os espectáculos que acontecem na RAEM, desde que pague. As declarações foram feitas por Deland Leong, presidente do IC, e responsável por cada vez mais cancelamentos de espectáculos.

A presidente do IC garantiu ainda que há respeito mútuo entre autoridades e artistas, e que o gosto do público também é tido em conta nos conteúdos autorizados pelo Governo. Apesar desta declaração, a realidade apresenta um cenário diferente, em Janeiro o espectáculo Made By Beauty foi cancelado pelo IC do Festival Fringe devido a cenas de nudez, ao contrário do que aconteceu no Interior, onde o espectáculo foi permitido pelas autoridades. De acordo com o artigo 37.º da Lei Básica, a liberdade de criação literária e artística é protegida da RAEM.

Há dias, em declarações ao HM, também o coreógrafo Victor Hugo Pontes admitiu que o espectáculo de dança contemporânea “Os Três Irmãos”, que vai ser exibido no Festival de Artes, teve de ser alterado por exigência do IC, para esconder cenas de nudez.

27 Mar 2024

Quarta travessia Macau-Taipa irá chamar-se “Ponte Macau”

Após a realização de um evento em que se pediu aos residentes para apresentarem sugestões para o nome da quarta ligação, o Executivo tomou a decisão de chamar Ponte Macau, ou Ponte Ou Mun, à ligação entre a Península e a Taipa. A decisão final foi anunciada ontem pela Direcção de Serviços de Obras Públicas (DSOP)

 

A selecção foi feita com base nos nomes Ponte Macau, Ponte Hou Kong, Ponte Jubileu de Prata, Ponte Nova Cidade e Ponte Kiang Hoi (em português Espelho de Prata), que tinham sido escolhidos como finalistas, por uma comissão, após um concurso em que se convidou a população a apresentar propostas de nomes.

“Tendo o Governo da Região Administrativa Especial de Macau tomado como referência os cinco nomes seleccionados pela Comissão de Avaliação do evento de escolha do nome a atribuir à Quarta Ponte Marítima Macau-Taipa, decidiu-se designar oficialmente a Quarta Ponte Marítima Macau-Taipa de Ponte Macau”, foi revelado na manhã de ontem.

O Governo não revelou o número concreto de sugestões, limitando-se a indicar que foram “mais de 14.000”. Contudo, foi revelado que houve um total de 5.703 residentes a sugerirem nomes, o que a DSOP considerou como uma participação “muito activa”.

Na tarde de ontem, foi ainda realizado o sorteio de atribuição de três prémios, no valor de 10 mil patacas, 8 mil patacas e 6 mil patacas, entre os responsáveis pelos cinco nomes que chegaram à fase final.

Estrutura concluída

A Ponte Macau vai ter 3,085 quilómetros de comprimento, dos quais 2,9 quilómetros ficam acima do nível do mar. A estrutura é composta por dois vãos de navegação marítima com 280 metros de extensão.

A obra foi projectada para ter oito faixas de rodagem nos dois sentidos, com duas das faixas a servirem exclusivamente motociclos. O tabuleiro da ponte será igualmente dotado de espaços para a instalação das canalizações, como cabos eléctricos de alta tensão, condutas de gás combustível, tubagens de água da torneira, de água reciclada e de água para uso de bombeiros, entre outros.

As obras de ligação da estrutura principal foram concluídas a 13 de Março deste ano, depois de terem começado a 26 de Março de 2020, e prevê-se que toda a obra esteja finalizada até ao final de Julho.

Com a nova infra-estrutura, o Executivo acredita que conseguirá “atenuar eficazmente a pressão de trânsito nas actuais três pontes”, podendo ainda “aumentar a capacidade de circulação rodoviária entre Macau, a Taipa e Coloane”. O projecto é ainda encarada como uma forma de responder às “necessidades de trânsito devido ao desenvolvimento da Zona A dos Novos Aterros Urbanos”.

27 Mar 2024

Economia | Secretário pede a residentes para gastarem dinheiro na zona norte

Sem mencionar que os residentes estão a consumir cada vez mais no Interior, e explicando a crise económica com o rescaldo pós-pandemia, Lei Wai Nong pediu à população que consuma mais no norte do território, onde diz haver “bons produtos”

 

Lei Wai Nong apelou ontem aos residentes para consumirem na zona Norte do território, onde diz estarem disponíveis “bons produtos”. O pedido foi deixado pelo governante na Assembleia Legislativa, depois de ter sido confrontado com o impacto do programa circulação de veículos de Macau na província de Guangdong.

O secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, foi ontem a confrontado com as dificuldades económicas do território, e ouviu deputados como Lo Choi In e José Pereira Coutinho traçarem um novo cenário de dificuldades nas zonas não turísticas, devido ao programa de circulação de veículos de Macau na província de Guangdong e ao aumento do consumo no Interior, onde os preços são mais baratos.

“Não podemos olhar só para os números do Produto Interno Bruto [crescimento de 80 por cento]. A melhoria da situação económica não é uniforme em Macau, as lojas, a restauração e o sector imobiliário estão a enfrentar grandes desafios. A situação nas zonas residenciais é muito diferente do que acontece nas áreas turísticas”, afirmou a deputada Lo Choi In. “Os funcionários públicos e trabalhadores das concessionárias tiveram aumentos, mas isso não aconteceu com as outras pessoas. […] Há muitas situações em que as pessoas vão consumir nas regiões vizinhas, e o Governo tem de apoiar as empresas locais para que as pessoas voltem a consumir em Macau”, acrescentou.

Também Pereira Coutinho considerou que o Governo deve adoptar “medidas para apoiar as empresas afectadas pela diminuição da clientela”, devido à “facilitação de circulação de pessoas e viaturas para o Interior da China”.

Face a este cenário, Lei Wai Nong considerou que a crise se explica com a “economia de rescaldo” depois da pandemia e com os juros elevados. Sobre o programa de circulação de veículos de Macau na província de Guangdong não disse nem uma palavra.

O passo seguinte foi pedir ao director dos Serviços de Finanças, Tai Kin Ip que indicasse as actividades planeadas para a zona norte, de forma a aumentar o consumo no comércio e restauração.

Visitas de influencers

O director da DSF apontou que a estratégia passa por organizar festivais de consumo, com o primeiro já em curso, promoção de lojas e restaurantes nas plataformas digitais e visitas de celebridades e influencers à Zona Norte de Macau, para atrair turistas.

Tai Kin Ip explicou ainda que o Governo está a cooperar “com algumas empresas de comércio electrónico” para “fazer publicidade online aos produtos dos restaurantes e lojas locais”, com 200 empresas a aderirem à iniciativa. No futuro vão estar envolvidas na iniciativa 260 empresas.

No entanto, a sessão de ontem da Assembleia Legislativa ficou marcada pelo apelo do secretário, que sem grandes argumentos para contrariar a realidade, apelou à população que consuma mais no território. Lei Wai Nong defendeu que há bons produtos à venda na zona norte e espaços de comércio de elevada qualidade.

27 Mar 2024

Fórum Boao | Relatório prevê crescimento de 4,5% da economia asiática

Arrancou ontem em Hainão mais uma edição do Fórum Boao. O relatório anual que dá início às reuniões estima um crescimento de 4,5 por cento da economia asiática este ano. O fórum, que termina na sexta-feira, tem uma agenda focada em temas económicos, financeiros e na iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”

 

Começou ontem, na ilha de Hainão, no sul da China, a edição deste ano do Fórum Boao, dedicada a debater assuntos económicos a nível global, o fomento de cooperação ao nível da iniciativa criada por Pequim, “Uma Faixa, Uma Rota” ou mesmo a presença da inteligência artificial em cada vez mais áreas de actividade, nomeadamente a economia e as finanças.

No dia de arranque do Fórum Boao, tido como o “Davos asiático”, foi divulgado o relatório anual das perspectivas económicas e progressos da integração da Ásia. As conclusões apontam para o crescimento da economia do continente em 4,5 por cento este ano, fazendo com que continue a ser o “maior contribuinte para o crescimento económico mundial”.

Apontando a existência de “vários desafios externos”, o documento ressalva que a economia asiática vai manter “uma taxa de crescimento relativamente elevada” graças ao consumo e a políticas fiscais pró-activas.

A organização do evento perspectiva que o leste asiático deve registar um crescimento anual de 4,3 por cento, o sul da Ásia 5,8 por cento, a Ásia Central 4,3 por cento e a Ásia Ocidental 3,5 por cento. “Em termos de paridade de poder de compra, a quota das economias asiáticas no PIB [Produto Interno Bruto] global aumentará de 48,5 para 49 por cento em 2024”, é acrescentado no relatório que deu o pontapé de partida da iniciativa.

Problemas com o emprego

Embora seja estimado que as economias asiáticas invertam a tendência negativa em termos de comércio e investimento, graças a factores como a integração regional, também é realçada uma perspectiva “não particularmente optimista” para o emprego.

O relatório referiu que o “fraco” crescimento do emprego nas regiões do Leste e do Sul da Ásia significará que a taxa global de crescimento a nível continental será inferior à média mundial.

O crescimento do rendimento “continua a enfrentar uma pressão significativa”, especialmente devido à situação no leste asiático, onde o número de horas trabalhadas continuará a ser 1,4 por cento inferior ao de 2019.

Esta situação, aliada a factores como o fraco crescimento da produtividade, torna “difícil alcançar um crescimento significativo dos níveis de rendimento na Ásia”, com algumas áreas a registarem mesmo declínios, embora as pressões inflaccionistas “diminuam ainda mais” este ano.

Uma agenda cheia

Segundo a agência Lusa, o Fórum realiza-se numa altura em que a China regista uma quebra no investimento e de transacções comerciais com o exterior. Assim sendo, a conferência deste amo vai incluir painéis de discussão e mesas redondas com directores executivos e representantes de multinacionais, segundo a agenda divulgada na página ‘online’ oficial do evento.

O tema da conferência deste ano é “Ásia e o Mundo: Desafios Comuns, Responsabilidades Partilhadas”. Os painéis vão abranger temáticas como o investimento na Ásia, o aprofundamento da cooperação financeira asiática e os esforços para transformar a Ásia num centro de crescimento da economia mundial.

Os tópicos vão centrar-se no aumento da confiança dos investidores, a melhoria do ecossistema de investimento, o aumento da atractividade para investimento estrangeiro, o avanço da cooperação financeira na Ásia a fim de impulsionar a economia real, e o reforço da cooperação industrial e das cadeias de abastecimento entre as nações asiáticas, segundo a informação fornecida pela organização do fórum.

A agenda do evento prevê também discussões sobre inteligência artificial, o futuro dos veículos eléctricos e a cooperação no âmbito da Iniciativa Faixa e Rota, o gigantesco projecto de infraestruturas que se tornou parte central da política externa da China.

O jornal China Daily ouviu vários especialistas que apontaram que os painéis e debates do Fórum vão centrar-se sobretudo nos desafios mundiais, numa altura em que há dois conflitos na Europa e Médio Oriente, nomeadamente Ucrânia-Rússia e na Faixa de Gaza.

Zafar Uddin Mahmood, conselheiro político e secretário-geral do Fórum, declarou ao jornal estatal que “a ideia de trabalhar para ‘uma comunidade de futuro partilhado para a humanidade’ através das iniciativas de Segurança Global, Desenvolvimento e Civilização é um caminho a seguir para enfrentar os desafios que o mundo enfrenta actualmente”.

Por sua vez, Atul Dalakoti, director-executivo da Federação das Câmaras de Comércio e Indústria da Índia, frisou a necessidade de paz mundial, uma vez que “no mundo existem ainda quatro a cinco mil milhões de pessoas que precisam de ter muito melhores empregos, uma vida muito melhor, fundamentos económicos muito melhores… A única forma de crescer é ter paz”. Atul acrescentou ainda que “a ideia de desenvolvimento comum apresentada pelo Presidente Xi Jinping é o caminho a seguir”.

Numa altura em que a Índia se prepara novamente para ir a eleições, Dalakoti disse ainda ao China Daily que o país “tem trabalhado em estreita colaboração com a Ucrânia e com a Rússia para ver se existe uma possível hipótese de alcançar a paz”.

Carl Fey, professor de estratégia na BI Norwegian Business School e um dos académicos que marcará presença em Hainão, falou dos dois conflitos na Ucrânia e em Gaza, que opõe israelitas e as forças do Hamas. “Existem muitas possibilidades para uma maior colaboração e isso é muito necessário”, defendeu.

A aposta nos eléctricos

A ilha de Hainão anunciou em 2022 um plano para proibir a venda de todos os veículos movidos a combustível até 2030, tornando-se a primeira província da China a anunciar uma medida deste género.

Dois em cada cinco veículos vendidos na China são eléctricos, representando estas vendas 60 por cento do total mundial. De acordo com estimativas do banco suíço UBS, até 2030, três em cada cinco veículos novos vendidos na China serão alimentados por baterias e não por combustíveis fósseis.

A dimensão do mercado chinês propiciou a ascensão de marcas locais, incluindo a BYD, NIO ou Xpeng, que ameaçam agora o ‘status quo’ de uma indústria dominada há décadas pelas construtoras alemãs, japonesas e norte-americanas.

Ainda no evento, estão previstas palestras sobre a fragmentação no comércio global, as perspectivas geopolíticas e económicas globais, a chamada “Iniciativa de Segurança Global” na abordagem dos desafios de segurança e promoção da paz mundial, e a superação de obstáculos políticos para enfrentar a crise climática global.

Proposta pelo Presidente chinês, Xi Jinping, a “Iniciativa de Segurança Global” visa construir uma “arquitectura global e regional de segurança equilibrada, eficaz e sustentável”, ao “abandonar as teorias de segurança geopolíticas ocidentais”. Em particular, a proposta chinesa opõe-se ao uso de sanções no cenário internacional.

A conferência decorre num período em que a China tenta injectar um novo ímpeto nas suas relações com o exterior, abaladas pelo encerramento das fronteiras, durante a pandemia da covid-19, e tensões regionais, incluindo com o Japão e os países do sudeste asiático. O deteriorar dos laços com os Estados Unidos e a Europa é outro aspecto que marca o momento político chinês.

A China registou no ano passado o menor volume anual de Investimento Estrangeiro Directo (IED) desde a década de 1990, numa altura em que os países ocidentais apostam numa estratégia de redução de dependências económicas e comerciais face ao país.

Apesar deste cenário menos positivo, a directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, declarou, no Fórum de Desenvolvimento da China, que decorreu domingo, que a China vai continuar a ser um contribuidor central para o crescimento da economia a nível mundial, com mais de três por cento tanto este ano como no próximo, noticiou o Diário do Povo online.

Desde 2002 que o Fórum Boao se realiza em Hainão, na cidade de Bo’ao, sendo encarado como a resposta asiática ao Fórum Económico Mundial de Davos, na Suíça, centrando-se mais no posicionamento económico chinês e de outras economias vizinhas. Paralelamente a este fórum, Pequim organiza ainda o “Invest China”, com o objectivo de atrair investimento estrangeiro.

27 Mar 2024

TVB | Germano Guilherme vence concurso de talentos

A noite de domingo consagrou o macaense de 36 anos como o vencedor da segunda edição do concurso “Meia-Idade, Canta e Brilha”. O momento alto da noite surgiu quando Germano interpretou o tema Feeling Good

 

O macaense Germano Guilherme Ku foi o vencedor da segunda edição do programa “Meia-Idade, Canta e Brilha”, organizado pela TVB, estação televisiva de Hong Kong. O cantor participou ontem na final do programa que tem como apresentadora a celebridade Stephanie Che, e no fim foi considerado o melhor entre mais de 100 participantes.
Na noite de domingo, o macaense de 36 anos cantou o tema “Heart is Still Cold”, em cantonês, da artista Anita Mui, considerada uma das grandes figuras do Cantopop. A primeira interpretação do macaense valeu-lhe uma pontuação alta por parte do júri constituído por algumas das principais celebridades actuais do pop de Hong Kong, como Miriam Yeung, Brian Chow Kwok Fung, Priscilla Chan Wai Han, Clayton Cheung Kai Tim, Harry Ng Chung-hang e Maria Cordero.

Contudo, o momento que levou Germano a marcar a diferença para os restantes participantes aconteceu durante a interpretação do tema “Feeling Good”, cantado pela primeira vez pelo artista Cy Grant, no musical The Roar of the Greasepaint – The Smell of the Crowd, em 1964. Com a pontuação mais alta na segunda canção, e o resultado perfeito, Germano Guilherme superiorizou-se aos restantes finalistas: Maggin Ann, Tam Fai Chi, Mic-go Ngan, Kimman Wong, Sean Sim e Itchii Chan.

Chuva de agradecimentos

Após ser declarado vencedor, Germano não escondeu a emoção: “Não acredito neste resultado. Que loucura!”, afirmou. “Quero agradecer a todos, desde o primeiro episódio até hoje [domingo] que todos cuidaram muito bem de mim, foram amáveis e compreensivos. Quero agradecer à família do programa “Meia-Idade, Canta e Brilha”, aos nossos professores, colegas de concurso e às pessoas nos bastidores. A todos quero dizer um muito obrigado”, afirmou o macaense, de acordo com o portal Ming Pao.

Germano deixou igualmente um agradecimento para Macau. “Muito obrigado por me aceitarem de novo em Hong Kong. Mas, mais importante para mim, muitas pessoas em Macau apoiaram-me sempre, por isso, também lhes quero agradecer muito por tomarem conta de mim”, vincou.

Sem ajudas

Ao longo do concurso, Germano Guilherme Ku foi acusado de ter uma relação de proximidade com a júri macaense Maria Cordero, presença assídua nos programas de televisão de Hong Kong.

No entanto, de acordo com o portal HK01, Germano Guilherme negou ter sido favorecido pela ligação. O portal de HK revelou inclusive que Maria Cordero terá recusado ajudar Germano a estabelecer contactos dentro da TVB, com vista a criar oportunidades profissionais para o talento macaense, mesmo quando lhe foi pedido.

26 Mar 2024

Cultura | IC diz ser normal Governo alterar conteúdos de espectáculos

Como o Governo convida artistas para actuar em Macau, pode negociar o conteúdo e alterar os espectáculos para os adequar ao público local. Foi desta forma que a presidente do Instituto Cultural respondeu a acusações de censura na programação de festivais artísticos, depois de vários casos terem vindo a público

 

A presidente do Instituto Cultural (IC), Deland Leong Wai Man, considera que o Governo pode negociar o conteúdo de obras apresentadas nos festivais artísticos de Macau, enquanto entidade organizadora que convida artistas e companhias para actuar no território. Foi desta forma que a responsável máxima do IC respondeu a acusações de censura na programação de Festival de Artes de Macau.

Em declarações à margem da Parada Internacional de Macau, que se realizou no domingo, Deland Leong Wai Man disse acreditar que o conteúdo das obras interpretadas nos festivais pode ser negociado, uma vez que os artistas são convidados pelas autoridades. Nestas negociações para alterar o conteúdo dos espectáculos, a presidente do IC garante que o respeito mútuo entre autoridades e artistas, assim como o gosto do público, são factores essenciais.

As declarações da responsável, citadas pelo canal chinês da Rádio Macau, surgiram na sequência da publicação no All About Macau de um artigo em que Jenny Mok, directora da Associação de Arte e Cultura Comuna de Pedra, afirma que um espectáculo da companhia que dirige foi retirado do programa do ano passado do Festival de Artes de Macau sem uma explicação clara das autoridades para tal.

Sensibilidade local

Como o HM noticiou, um dos espectáculos que consta da programação do Festival de Artes de Macau deste ano foi alterado a pedido do IC. “Os Três Irmãos”, um espectáculo de dança contemporânea, com coreografia de Victor Hugo Pontes e texto de Gonçalo M. Tavares, foi “adaptado” para caber nos critérios do IC.

“Uma das cenas de intimidade é quando tomam banho juntos e se lavam uns aos outros. Nesta versão de Macau não existe nudez integral. Essa parte terá de ser adaptada”, indicou o coreógrafo ao HM.

“Penso que existe uma quota para nudez nos espectáculos e, no nosso caso, essa quota já tinha sido ultrapassada. Parece que tem de ser feita uma certa gestão em todos os espectáculos em que há nudez. Acredito que tenha a ver com a questão cultural, extremamente forte, em que a nudez não é ainda um lugar-comum e que, para não criar demasiados constrangimentos entre a plateia e a programação, tenham de fazer uma certa selecção”, acrescentou.

No início do ano, o espectáculo “Feito pela Beleza”, da companhia Utopia da Miss Bondy, foi cancelado pelo IC e retirado da programação do último Festival Fringe. Por essa ocasião, Deland Leong Wai Man afirmou que o cancelamento se ficou a dever ao facto de o conteúdo do espectáculo ser “divergente” face ao que foi apresentado na fase de candidatura ao festival.

O espectáculo burlesco foi cancelado depois de ter sido exibido um vídeo com “drag queens” nas redes sociais, apesar de ter a classificação para maiores de 18 anos e de apresentar a advertência de conter “linguagem obscena e nudez que poderia ofender a sensibilidade de alguns espectadores”. A mesma peça entrou no cartaz do Festival de Teatro de Shekou, que se realizou entre Outubro e Novembro do ano passado na cidade vizinha de Shenzhen.

26 Mar 2024

Coloane | Governo quer aterrar área que estudo sugeriu proteger

O plano do Governo de construção da chamada “Ilha Ecológica” contraria as conclusões de um estudo de 2016, da Universidade Sun Yat-Sen, e vai permitir aterrar uma área marítima tida como crucial para a sobrevivência dos golfinhos chineses

 

O estudo que tem sido utilizado pelo Governo para justificar a construção de um aterro-lixeira a sul das praias de Coloane defende que a área marítima a aterrar deve ser protegida, para preservar os golfinhos chineses. As conclusões do trabalho elaborado pela Universidade Sun Yat-Sen, em 2016, a pedido do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), foram reveladas pelo Canal Macau da TDM, no domingo à noite.

De acordo com a informação divulgada pela emissora, a área do aterro-lixeira de materiais de construção, que o Governo denominou de “Ilha Ecológica”, vai sobrepor-se à área que a instituição do Interior tinha considerado importante proteger.

“A zona marítima sob gestão da RAEM é a única zona de sobreposição entre dois habitats cruciais das comunidades [de golfinhos] que residem no canal Lingding e na Zona Madaomen. […] Por isso, é a zona marítima mais importante para garantir a integridade dos golfinhos brancos chineses no estuário do Rio das Pérolas”, consta nas conclusões do trabalho citado pelo Canal Macau.

No documento é explicado que ao longo dos anos o espaço para os golfinhos no estuário do Rio das Pérolas foi diminuindo, o que à sua migração para a zona costeira de Macau. Face a este desenvolvimento, as conclusões sublinham que “todas as águas administradas por Macau são cruciais para a sobrevivência dos golfinhos”.

As águas locais são igualmente um ponto onde os golfinhos tendem a surgir, mesmo que tal aconteça em menor número do que aquilo que acontecia no passado. “As águas administradas por Macau são um habitat muito importante para os golfinhos. Mesmo que a taxa de utilização desta zona tenha diminuído nos últimos anos, há um padrão regular de surgimento dos golfinhos. Por isso, podemos ver que a área marítima administrada por Macau tem um valor ecológico importante para estes animais”, é vincado.

O estudo ressalva que a zona marítima de Macau é crucial para a sobrevivência dos golfinhos chineses e sugere que a área protegida das águas territoriais da RAEM atinja mais de 30 quilómetros quadrados.

Apesar desta recomendação, feita em 2016, as áreas consideras protegidas pelo Executivo de Ho Iat Seng são apenas 3 por cento dos 85 quilómetros quadrados das águas marítimas, o que representa cerca de 2,55 quilómetros quadrados.

A versão oficial

Apesar das conclusões do estudo, o Governo tem considerado que o aterro-lixeira não vai ter impacto na vida e no ambiente marítimo local, e que os golfinhos chineses que habitam as águas de Macau não serão afectados.

Anteriormente, a DSPA justificou a posição de construir o aterro-lixeira à frente das praias com o facto de os golfinhos se reunirem sobretudo a sul do aeroporto.

Segundo as conclusões do estudo, os animais concentram-se mais a sul do aeroporto, como indicado pelas autoridades, porque procuram alimentação. A DSPA defende também que a futura lixeira ocupa apenas 0,2 por cento das áreas usadas pelos golfinhos chineses.

26 Mar 2024

Secretária reconhece atrasos na emissão de cartões de deficiência

Elsie Ao Ieong U, secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, admite atrasos na renovação dos cartões que comprovam a condição de portador de deficiência, mas que os Serviços de Saúde vão destacar mais recursos humanos para lidar com a situação

 

A secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U, reconhece que há atrasos na renovação dos cartões comprovativos de deficiência, mas nega que os direitos dos portadores estejam a ser afectados. A garantia foi deixada ontem na Assembleia Legislativa, depois de a governante ter sido questionada sobre o assunto pelo deputado Ho Ion Sang.

“No que diz respeito aos casos em que o período de renovação necessita de mais tempo, por exemplo, nos casos dos portadores de deficiência mental, o agendamento de avaliação foi afectado e prolongado, de certa forma, pela pandemia durante um determinado período”, confessou Elsie Ao Ieong U. “Os Serviços de Saúde vão colocar mais recursos humanos, num futuro próximo, ajudando a tratar, com a maior brevidade possível, os casos que se encontram em estado de espera”, prometeu.

Na interpelação, o deputado Ho Ion Sang alertou para as queixas de utentes impedidos de utilizar os benefícios do cartão, dado que estavam meses à espera da renovação.

Elsie Ao Ieong U contestou o cenário traçado pelo deputado: “O período de renovação não impede os titulares em causa de usufruir dos direitos pertinentes, e os titulares do cartão de registo de avaliação da deficiência qualificados continuam a ter direito a subsídio de invalidez, à assistência médica gratuita e entre outros subsídios e serviços durante o período em que decorre a renovação do cartão”, afirmou.

Avisos mais prematuros

Segundo os dados avançandos na sessão plenária de ontem, no ano passado um total de 1.900 cartões tiveram de ser renovados, uma proporção de 11,1 por cento do total emitido. Segundo a secretária, até 31 de Dezembro havia 17.146 cartões válidos.

Elsie Ao Ieong U explicou também que o processo de renovação implica uma nova avaliação e que os prazos para completar todas as exigências variam conforme os casos concretos. “O prazo de validade do cartão de registo de avaliação da deficiência é determinado pelos resultados da avaliação dos requerentes, devendo os titulares proceder às formalidades de renovação do cartão de registo nos três meses que antecedem o seu termo de validade”, justificou.

Ainda assim garantiu, que o IAS pode começar a enviar mensagens para os telemóveis dos titulares dos cartões, a lembrá-los quando o prazo para a renovação se aproxima.

26 Mar 2024

Macau Jockey Club | Do trote ao descalabro financeiro

A dias de encerrar portas definitivamente, persiste o impasse no Macau Jockey Club na relação com os donos dos cavalos. Tam Vai Lam, que detém oito animais, aponta o dedo ao Governo e diz que os donos vão procurar apoio jurídico. Eis o fim conturbado de um espaço fundado há 40 anos que nunca conseguiu cativar turistas e a população local como o Canídromo outrora o fez

 

É já na próxima segunda-feira que chegam definitivamente ao fim as apostas em corridas de cavalos em Macau. O encerramento do Macau Jockey Club constitui, assim, o virar da página de uma história que durava há 40 anos sen nunca ter sido bem-sucedida: se o Canídromo, com as apostas em corridas de galgos, chegou a atrair, a partir dos anos 60, muitos turistas e apostadores locais, o mesmo nunca aconteceu com o Macau Jockeu Club, que fechou portas devido a perdas financeiras sucessivas.

Na verdade, o primeiro capítulo do Macau Jockey Club centrou-se nas apostas em corridas de cavalos a trote, tanto que o nome inicial chegou a ser Macau Trotting Club, instituído em 1980 pelo empresário de jogo local Yip Hon, inspirado nas populares corridas da América.

Ao HM, Jorge Fão, dirigente da Associação dos Reformados, Aposentados e Pensionistas de Macau (APOMAC), confessa que as corridas a trote “estavam na moda” e a ideia era trazer esse modelo para o território.

“Aquilo foi inaugurado de forma pomposa, mas não deu resultado e nunca criou entusiasmo ao povo de Macau nem da China, porque mesmo que o chinês goste de jogar, nada se compara às apostas no Jockey Club de Hong Kong”, confessou.

A partir de 1989, foi criado oficialmente o Macau Jockey Club, já sem as corridas a trote, “para se assemelhar às corridas de Hong Kong”, lembrou Jorge Fão.

O dirigente associativo e ex-deputado considera que, depois do fecho do Canídromo, em 2018, e agora do Macau Jockey Club, encerra-se também “parte da nossa história de jogo”.

Numa altura em que “o Canídromo tinha mais entusiastas”, Jorge Fão recorda que as corridas de cães sempre criaram o rebuliço que os cavalos não souberam gerar. “As corridas de cavalos não conseguiram enraizar-se em Macau, enquanto as corridas de cães conseguiram. Nos primeiros 10 ou 15 anos havia muitos apostadores, mas os cavalos quase nunca conseguiram atrair essa enchente de pessoas.”

“O Canídromo recebia apostas lá dentro, da parte da assistência, mas também tinha o chamado sistema ‘booking’, a aposta externa, em que pessoas aceitavam as apostas feitas por outras. Era um sistema um pouco à margem da lei, mas todos sabiam que funcionava. Os ‘bookings’ sempre existiram nas corridas de cavalos, mas mesmo assim aquilo não funcionou”, recorda Fão.

De mão em mão

Aquela que foi a primeira pista de corridas de cavalos a trote na Ásia parecia ter tudo para vingar, com 2.110 metros de comprimento, mas a verdade é que o interesse acabou ao fim de pouco tempo. Segundo o portal Macao News, que cita declarações de Vu Ieng Kan, presidente da Associação de Jornalistas de Corridas de Macau, dadas ao jornal Ou Mun, “o [número total de] apostas passou de três milhões de patacas no dia da abertura para apenas dois milhões de patacas em menos de meio ano”.

Seguiu-se a passagem do testemunho de mão em mão, como que numa tentativa de lidar com um negócio que acabou por se tornar num problema. O Macau Trotting Club fechou portas em 1988 face ao insucesso das corridas, tendo sido vendido a uma empresa de Taiwan que fundou então o Macau Jockey Club em 1989.

Sem conseguir gerar lucros, tal como o seu antecessor, a empresa encerrou a actividade apenas passado um ano, tendo o negócio passado então para as mãos de Stanley Ho, que o adquiriu em consórcio. Actualmente era a sua quarta esposa, e já viúva, Angela Leong, que estava à frente do negócio.

As perdas financeiras sucederam-se, e já em 2019 os deputados da Assembleia Legislativa questionaram as razões para o Governo renovar com uma empresa, em 2018, que só apresentava enormes prejuízos.

“O Governo prolongou o prazo do contrato até 2042 e entendemos que precisa de dar um fundamento para este prolongamento. Na passada sessão legislativa não facultou informações sobre os investimentos e em Agosto o Executivo apresentou um plano de investimento e outros documentos complementares”, disse Lei acrescentando que “a concessão já foi feita e o Governo não explicou claramente as razões para a renovação”, disse, à data, a deputada Ella Lei.

Aquando da renovação do contrato já era exigido que a empresa reembolsasse 150 milhões de patacas em dívida em três anos. Previa-se um investimento no terreno na Taipa na ordem dos 3,5 a 4,5 mil milhões de patacas, com a ideia de ali desenvolver um parque temático com cavalos e instalações para aulas de equitação, e ainda um hotel e um aparthotel. Tudo isso caiu por terra, e, com a pandemia, o fosso financeiro só aumentou.

A mão de Stanley Ho

Apesar de acabar sem glória, houve tempos em que o Macau Jockey Club gerou algum burburinho, muito por conta do cunho pessoal de Stanley Ho, que soube atrair algumas personalidades e patrocínios. Adquirido pelo magnata dos casinos por 400 milhões de patacas, o Macau Jockey Club chegou a ter estrelas das corridas de cavalos como Lester Piggott ou Frankie Dettori, que competiram no território em 2002.

Logo nos anos a seguir à transição, nomeadamente em 2003 e 2004, a empresa chegou a atingir nove mil milhões de patacas de lucros, organizando mais de 1200 corridas com cerca de 1200 cavalos, mais do que a entidade congénere de Hong Kong tinha à época.

O Macau Jockey Club chegou mesmo a ser cenário para a produção de filmes de Hong Kong, tendo recebido apoios de celebridades como o actor Eric Tsang ou Li Ning, antiga atleta olímpica chinesa.

Segundo o portal Macao News, o percurso de sucesso do Jockey Club mudou quando Stanley Ho sofreu um ataque cardíaco em 2009 e não mais teve a capacidade de intervir pessoalmente na projecção do espaço de corridas. A quebra foi tão grande que, na última temporada de corridas, existiam apenas 220 cavalos em competição.

Com 254 trabalhadores residentes e 316 não residentes empregados pela companhia, num total de 570 trabalhadores, o Macau Jockey Club iniciava a sua temporada de corridas em Setembro, terminando em Agosto do ano seguinte. Todas as semanas decorriam duas corridas, transmitindo também as competições da congénere de Hong Kong.

Já nos anos 90, o Macau Jockey Club começou também a destinar muitos milhões para caridade. A partir de 1995 começou a organizar-se o Dia da Caridade anual, além de terem sido atribuídos apoios para bolsas de estudo. Foi ainda criado o fundo de caridade “Macau Loving Heart Charity Fund”, em 2003, destinado a apoiar entidades locais e da China dedicadas ao apoio social.

Em Janeiro deste ano o fim foi anunciado, com o secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, a admitir que “as referidas actividades têm vindo a tornar-se cada vez menos atractivas para os residentes locais e turistas nos últimos anos”. Não haverá nova concessão de corridas de cavalos, assegurou o Executivo.

Donos de animais ainda sem respostas da empresa

Tam Vai Lam, dono de oito cavalos de corrida, o proprietário com maior número de animais no Macau Jockey Club, acusa a empresa de, até à data, não ter apresentado um plano concreto sobre a forma como os animais vão ser tratados após o fecho das corridas, além de não ter dado uma resposta sobre os pedidos de indemnização pelo fim das competições.

“Há cerca de 300 cavalos lá, contando com os que já não correm, e como são alimentados por mão humana desde sempre não é possível agora libertá-los num ambiente selvagem. Por essa razão é necessário que continue a haver pessoas a cuidar deles, até porque alguns vão ser transferidos para outras regiões e esperamos que possam manter a capacidade de corrida. Contudo, até ao momento, o Jockey Club nunca nos disse quais os recursos humanos de que dispõe para cuidar dos animais”, contou o proprietário ao HM.

Tam Vai Lam investe em corridas de cavalos há mais de 30 anos e diz sentir-se “desapontado” com a súbita rescisão do contrato, dizendo que os proprietários têm sido “ignorados” em todo o processo, “ao nível da negociação e na defesa dos nossos direitos”. “Tentámos contactar directamente com o Jockey Club para negociar as nossas exigências, mas nunca nos foi dada uma resposta oficial. Apenas recebemos documentos, e quem falava connosco não tinha poder para decidir. Muitos donos dos cavalos vão contactar advogados para exigir soluções, por meios jurídicos, ao Macau Jockey Club”, adiantou.

ANIMA atenta

Do lado da ANIMA os contactos apenas têm sido feitos junto do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) quanto ao destino a dar aos animais, e poucas novidades existem a dias do Jockey Club fechar. Há cerca de duas semanas, os donos dos cavalos fizeram chegar uma carta com reivindicações.

Ao HM, Zoe Tang, presidente da ANIMA, disse que o IAM continua a dialogar com o Jockey Club sobre o destino que será dado aos animais.

Tendo ainda em conta os gatos que existem nas instalações do Jockey Club, a ANIMA tem vindo a dar apoio na alimentação e esterilização, sendo que, desde Fevereiro já foram esterilizados dez animais. Mas Zoe Tang confessa a falta de fundos da associação para continuar a desenvolver esta acção. “Quando o Governo recuperar o terreno, o que vai acontecer a estes gatos? Quando ninguém puder entrar para os alimentar vão morrer de fome ou o IAM vai capturá-los, com o risco de estes serem abatidos?”, questionou. Com Nunu Wu

26 Mar 2024

Tuberculose | Autoridades querem TNR a serem testados

Os trabalhadores e alunos não-residentes são uma das principais preocupações para as autoridades de saúde no combate à tuberculose. O Interior da China é o principal local de origem destes grupos

 

O Governo quer reforçar a testagem à tuberculose de trabalhadores e estudantes não-residentes, grupos considerados de risco. A intenção foi anunciada no sábado, um dia antes de se assinalar o Dia Mundial da Tuberculose, uma doença que pode ser mortal.

De acordo com um comunicado dos Serviços de Saúde, a estratégia local de combate à doença vai ter três eixos principais: as pessoas com alto risco de contrair tuberculose, os lares de idosos e os trabalhadores e estudantes não-residentes.

O facto de os trabalhadores e os estudantes não-residentes estarem integrados nos grupos considerados prioritários não teve uma justificação oficial. Em Macau, os trabalhadores e alunos não-residentes são na grande maioria provenientes do Interior. Em Janeiro, representavam mais de dois em cada três trabalhadores.

Segundo as autoridades, vai haver um maior contacto com os empregadores locais, no âmbito de promoverem a realização frequente de exames por parte destes trabalhadores.

No entanto, o principal foco da campanha são os chamados “grupos de alto risco”, indicados como os “indivíduos com idade superior a 65 anos, doentes diabéticos, doentes sujeitos ao tratamento imunossupressor, doentes com SIDA, doentes com silicose, reclusos”, entre outros.

O segundo grupo são os idosos e centros de reabilitação, em que vão ser feitos exames regulares de radiografia do tórax, a cada dois anos, assim como exames a eventuais sintomas.

Mais de 300 casos

De acordo com os números oficiais, no ano passado foram registados 316 novos casos de tuberculose com cerca de metade a serem diagnosticados em pessoas com 65 ou mais anos.

A taxa de incidência da tuberculose tem vindo a ser reduzida de forma significativa em Macau. Em 1998 a incidência era de 109,1 casos por 100 mil habitantes. Já no ano passado, foi de 46,2 casos por 100 mil habitantes. O número representa uma descida de 57,7 por cento.

A incidência não deixa, no entanto, de ser elevada. Em comparação, em 2022, segundo os dados mais recentes, Portugal teve 10 casos por 100 mil habitantes. À semelhança de Macau, Portugal também tem vindo a reduzir os casos ao longo dos anos, mas teima em ser um dos poucos países da Europa Ocidental que não consegue reduzir o número de incidência para um registo inferior a 10 casos por 100 mil habitantes. Nesse ano, Portugal teve 92 casos de morte devido a tuberculose, um dado que não foi divulgado pelos SS.

Segundo os SS, a tuberculose é uma doença transmissível causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis. Mais de 90 por cento dos doentes apresentam sintomas nos pulmões, mas também pode alastrar-se a outras partes do corpo, como ossos e intestinos. A tuberculose transmite-se através da inalação de gotículas, expelidas por doentes, quando tossem, cospem, espirram ou falam em voz alta.

A detecção precoce permite o tratamento e não só pode elevar a taxa de cura, controlar eficazmente a doença e reduzir a ocorrência de complicações, como também desempenha um papel importante na manutenção da saúde pública comunitária.

25 Mar 2024

Habitação | Vendas caem para menos de metade em Fevereiro

Em comparação com o ano passado, registaram-se menos 187 vendas de imóveis em Fevereiro. Também o preço teve uma quebra de 5.865 patacas. O sector imobiliário apela ao Governo para incentivar o aumento da procura

 

No passado mês de Fevereiro, o número de transacções de habitação registou uma quebra quase de 60 por cento, em comparação com Fevereiro do ano passado. Os dados foram revelados pela Direcção dos Serviços de Finanças (DSF) na sexta-feira, e surgem numa altura em que os agentes imobiliários pedem medidas para inflacionar o mercado.

De acordo com os dados disponíveis, em Fevereiro foram vendidos 132 imóveis para habitação, o que representa uma redução de 58,2 por cento face ao período homólogo. Em Fevereiro de 2023, o número total de transacções foi 319.

Também o preço por metro quadrado apresentou uma redução. No mês anterior, o valor foi de 86.225 patacas por metro quadrado. Há um ano, o preço tinha sido de 92.090 patacas por metros quadrados. Neste aspecto a redução é menos significativa, limitando-se a cerca de 6,4 por cento, ou de 5.865 patacas.

Fazendo as contas a uma casa com 80 metros quadrados, a diferença entre 2023 e o mês passado é de cerca de meio milhão de patacas. No ano passado, uma casa custava 7,4 milhões de patacas, e no mês passado o valor caiu para 6,9 milhões de patacas.

Quando a comparação é feita entre Janeiro e Fevereiro, a redução é menos significativa a nível das vendas. No primeiro mês deste ano, o número de transacções foi de 263, mais 131 compras e vendas do que em Fevereiro, uma redução de cerca de 50 por cento. Em relação ao preço, em Janeiro o montante foi superior, com o metro quadrado a atingir 87.195 patacas.

Outra situação

No último mês de Fevereiro antes da pandemia, em 2019, tinham sido registadas 279 compras e vendas de casas, mais 147 do que este ano.

Também o preço apresenta uma redução significativa. Em Fevereiro de 2019, o preço do metro quadrado era de 98.618 patacas. Quando se fazem as contas a uma casa com 80 metros quadrados, a diferença entre 2019 e este ano é de cerca de um milhão de patacas. Em 2019 uma casa com 80 metros quadrados custava 7,9 milhões de patacas, mas no mês passado o valor caiu para 6,9 milhões de patacas.

A redução das vendas e dos preços confirma a tendência mais recente, que tem levado vários agentes imobiliários a pedir ao Governo medidas e impedir a desvalorização do mercado.

O mais recente pedido partiu de John Ng, director de vendas da Zonas Norte da Centaline Property, que apelou ao Governo para levantar todas as medidas contra a restrição na compra da terceira ou quarta casa. Segundo Ng, citado pelo Jornal Ou Mun, o exemplo mais recente de Hong Kong mostra que se as medidas forem levantadas, o mercado vai recuperar.

25 Mar 2024

Inflação | Fevereiro com valor mais alto em quatro anos

Devido “à normal elevação dos preços durante o Ano Novo Lunar”, o Índice de Preços no Consumidor do mês de Fevereiro subiu 1,46 por cento, o valor mais elevado desde Maio de 2020. Os preços da recreação e cultura, educação e saúde estão entre os sectores que registaram maior subida

 

O Índice de Preços no Consumidor (IPC) em Macau subiu 1,46 por cento no passado mês de Fevereiro, em termos anuais, o valor mais elevado desde Maio de 2020, devido ao impacto do Ano Novo Lunar.

Num comunicado emitido na sexta-feira, a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) justificou a aceleração com “a normal elevação dos preços durante o Ano Novo Lunar”, que este ano calhou em Fevereiro, mas que no ano passado tinha sido em Janeiro. Importa referir que em Janeiro o IPC tinha aumentado 1,01 por cento em termos anuais.

Mais de 1,3 milhões de pessoas visitaram Macau na semana do Ano Novo Lunar, entre 10 e 17 de Fevereiro, com a taxa média de ocupação hoteleira a atingir 95 por cento.

De entre os índices de preços das secções de bens e serviços, o recreação e cultura (+11,92 por cento) e da educação (+5,05 por cento) tiveram os maiores crescimentos em termos anuais, graças ao aumento dos preços das excursões e dos quartos de hotel, assim como à subida das propinas do ensino superior, destaca a DSEC.

A inflação registada nas secções do vestuário e calçado (+4,09 por cento) e da saúde (+3,18 por cento) subiram, em termos anuais, devido ao aumento dos preços do vestuário e das consultas externas.

Outro lado da lua

Em relação ao índice de preços de produtos alimentares e bebidas não alcoólicas, a DSEC revelou que em Fevereiro se registou uma inflação de 1,73 por cento, em termos anuais, “devido ao acréscimo dos preços das refeições adquiridas fora de casa”. Porém, o preço das refeições não subiu tanto devido ao “decréscimo dos preços da carne de porco”, que “compensou parte do acréscimo deste índice”.

Pelo contrário, com o fim das restrições impostas pelo combate à pandemia, a DSEC deu conta da diminuição de 16,6 por cento no preço dos bilhetes de avião e uma descida de 1,8 no custo dos transportes, em termos anuais.

Macau registou deflação durante 10 meses consecutivos, entre Setembro de 2020 e Junho de 2021, no pico da crise económica causada pela pandemia de covid-19. Com Lusa

25 Mar 2024

DSEDJ | Campos militares custam 2,8 milhões por ano

Os campos de educação da defesa nacional em Zhuhai para alunos de Macau vão custar este ano lectivo cerca de 2,8 milhões de patacas aos cofres públicos. A DSEDJ garante que as armas usadas nos treinos são réplicas e que, até hoje, a Escola Portuguesa de Macau nunca participou neste tipo de actividade

 

As armas usadas pelos alunos de Macau no treino militar durante as “Jornadas de Educação da Defesa Nacional” são réplicas, revelou ao HM a Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ). “Os treinos da jornada incluem algumas aulas de conhecimentos sobre equipamentos básicos que utilizam adereços de aprendizagem como demonstração de orientação”, indicou a DSEDJ.

O organismo liderado por Kong Chi Meng acrescentou que os treinos de combate em que participam crianças do 8º ano de escolaridade têm em vista “ajudar os jovens alunos a criarem, através da aprendizagem e experiência, uma correcta consciência sobre a segurança nacional no seu crescimento, bem como cultivar a capacidade física, a disciplina e o espírito de equipa”.

O HM inquiriu a DSEDJ sobre qual o valor pedagógico e educacional dos treinos de combate com manuseio de armas, mas não obteve resposta.

A direcção responsável pelo sistema educativo de Macau indicou também que a participação das escolas do território nos campos militares organizados no Centro de Formação e Educação para a Defesa Nacional de Zhuhai não é obrigatória, apesar da larga adesão dos estabelecimentos de ensino do território. “As escolas interessadas em organizar a participação dos seus alunos podem inscrever-se junto da DSEDJ”, afirmou ao HM a direcção, acrescentando que, “até hoje, a Escola Portuguesa de Macau nunca participou nesta actividade”.

Custo da pernoita

O portal do Gabinete de Ligação do Governo Popular Central na RAEM citou um artigo do jornal estatal de Guangdong Southern Daily que relevou que “as autoridades relevantes de Macau estabeleceram uma cooperação de longo-prazo com o Centro de Formação e Educação para a Defesa Nacional de Zhuhai para a organização de campos militares”.

O artigo referia também que todos os anos, cerca de 4.000 alunos do 8º ano de escolaridade de Macau vão a Zhuhai participar em “campos de actividades de educação para a segurança nacional”.

A DSEDJ esclareceu que desde o início do corrente ano lectivo, até à semana passada, mais de 1.300 alunos de Macau participaram nos campos de educação da defesa nacional, actividade que custou até agora mais de 910 mil patacas ao erário público. “Para o corrente ano lectivo de 2023/2024, o custo, por pessoa, da jornada de educação, com a duração de 5 dias e 4 noites, é superior a 700 patacas”.

Fazendo a conta aos mais de 4.000 alunos locais que por ano participam nas Jornadas de Educação da Defesa Nacional, o custo anual ultrapassa 2,8 milhões de patacas. Tendo em conta que estas actividades se realizam desde o ano lectivo 2008/2009, o custo ascende a várias dezenas de milhões de patacas.

25 Mar 2024

China-Portugal | Embaixador chinês em Lisboa prevê isenção de vistos

Falando num processo “gradual”, o embaixador da China em Portugal, Zhao Bentang, considera que não deve faltar muito para Portugal integrar a lista dos países isentos de visto para entrar na China. Em entrevista à Lusa, o diplomata revelou optimismo quanto às relações comerciais entre os dois países

 

O embaixador chinês em Lisboa, Zhao Bentang, prevê que Pequim inclua Portugal na próxima fase de isenção de vistos, um processo gradual baseado no volume de trocas comerciais, intercâmbios pessoais e projectos de cooperação entre os dois países.

“Na próxima fase, com a ampliação, acho que Portugal vai integrar a lista de isenção de vistos [de entrada na China]. Para promover uma medida, uma política, é sempre necessário um processo gradual”, justificou o diplomata à agência Lusa, notando que os primeiros países na lista de Pequim “têm maior quantidade de intercâmbios pessoais e de negócios ou têm mais projectos de cooperação”, e logo maior necessidade de deslocações à China. Esta é uma política implementada “de acordo com as necessidades reais”, frisou o diplomata.

Actualmente, desconhece-se a próxima data para rever os países isentos de vistos, mas Zhao Bentang garantiu que o relacionamento entre Portugal e a China “não tem problemas, nem obstáculos” e que foram implementadas várias medidas para facilitar a obtenção de vistos.

Depois de conhecido o recente alargamento de isenção de vistos para estadias de até 15 dias, o embaixador português em Pequim, Paulo Nascimento, disse “não entender” o critério de deixar Portugal de fora.

O diplomata lembrou que a China está no direito de decidir a sua política de vistos de forma autónoma, mas admitiu que vai pedir uma consulta específica sobre esta decisão às autoridades do país. “Não acredito que haja aqui discriminação negativa, no sentido de dizer que a China está a fazer isso para sinalizar alguma coisa a Portugal, não acho que seja esse o caso”, afirmou à Lusa.

Questionado pela Lusa, o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês defendeu que a China “sempre se mostrou aberta à expansão dos intercâmbios interpessoais com os países estrangeiros” e que está disposta a reforçar a comunicação com Lisboa para “aumentar a facilidade dos intercâmbios interpessoais bilaterais”.

Sobre a ausência de Portugal nos primeiros dois grupos de países europeus, o diplomata frisa que as escolhas tiveram por base a “frequência de intercâmbio interpessoal e comercial entre a China e esses países” e que “gradualmente (a lista) será cada vez mais aberta”.

Partilha de valores

Em entrevista, Zhao Bentang fez questão de destacar os valores partilhados por Portugal e China, como o multilateralismo ou uma economia mundial aberta, além dos “consensos e cooperação” em sectores como desenvolvimento sustentável e combate às alterações climáticas.

“A parte chinesa gostaria de trabalhar com Portugal para, por um lado, aumentar o nível de relações bilaterais, e ao mesmo tempo enfrentar conjuntamente os grandes desafios e questões” para “dar mais certeza e energia positiva neste mundo de incertezas”, referiu.

Da parte chinesa, há ainda a garantia de querer continuar o trabalho para facilitar vistos, depois de se agilizar também as formas de pagamento no país.

“Também esperamos que os países estrangeiros possam oferecer medidas de facilitação ao povo chinês”, afirmou o diplomata, acrescentando que “depois da pandemia, a necessidade de intercâmbio pessoal e comercial tem aumentado”, pelo que são necessárias “políticas para oferecer conveniências e facilitações”.

“E agora, quando os amigos portugueses querem viajar ou fazer negócios na China, eu posso dizer que não existe nenhum obstáculo” quanto à obtenção de vistos para cidadãos de “um país amigo e parceiro estratégico”, afirma o diplomata.

Venham mais cinco

Relativamente aos investimentos chineses em Portugal, Zhao Bentang declarou que pelo menos cinco empresas chinesas estudam implantar fábricas em Portugal, incluindo fabricantes automóveis. O embaixador disse esperar a “criação de um ambiente justo e indiscriminado” para investidores pelo Governo português.

“Actualmente algumas empresas chinesas como a Tederic, Ningbo David Medical Device, Shyahsin estão a preparar-se para construir fábricas em Portugal e outras empresas na área de veículos electrónicos como a Chery e a XEV também demonstraram o seu interesse em construir fábricas em Portugal, estando a fazer investigações no mercado”, afirmou Zhao Bentang.

A CALB já está a planear construir uma fábrica de baterias de lítio e recebeu luz verde da APA (Agência Portuguesa do Ambiente), informou ainda Zhao Bentang, notando que a construção desta fábrica se deverá reflectir na “localização da cadeia industrial de veículos com novas energias e também para a transição de baixo carbono de Portugal”.

O embaixador previu ainda que o empreendimento Parque de Oeiras, projecto conjunto da China State Construction Engineering Corporation e da Teixeira Duarte, possa começar a ser construído ainda este ano, criando, assim “condições para atrair mais investimentos estrangeiros e criar condições mais favoráveis para a economia de Oeiras”.

Dado o envolvimento de uma empresa chinesa no projecto de Oeiras, poderão, no futuro, ser atraídos “investimentos das empresas chinesas na área das novas energias”, considerou o diplomata, que também tem expectativas sobre Portugal manter o ambiente para a realização de negócios e investimentos.

“Esperamos que o Governo português possa continuar a criar um ambiente aberto, justo, igual e indiscriminado para empresas estrangeiras. Para proteger os direitos legítimos dos investidores estrangeiros e oferecer um ambiente de desenvolvimento seguro e estável a longo prazo”, assim como de forma a “atrair mais empresas chinesas a investir e fazer negócios em Portugal”, o que também ajuda o “desenvolvimento socioeconómico” do país, defendeu.

À Lusa, o embaixador recordou que Portugal é um dos “países mais amigáveis da China na União Europeia e um parceiro estratégico global, compartilhando boas relações nas áreas da política, do comércio e também de amizade entre os dois povos”.

Aquele amigo

Portugal, referiu o entrevistado, é também um dos principais destinos de investimento de empresas chinesas, e no ano passado o investimento directo da China ultrapassou os 386 milhões de euros, um aumento homólogo de 34,52 por cento.

Já o stock de investimento directo ultrapassou os 3,6 mil milhões de euros, um aumento homólogo de 12,2 por cento. Quando se inclui o investimento de empresas chinesas através de Portugal para países terceiros, o stock de investimento ascende a 12,3 mil milhões de euros, um aumento homólogo de 10,16 por cento, disse o diplomata.

São investimentos pautados pelo princípio de “benefícios mútuos e ganhos partilhados”, frisou, dando vários exemplos de sucesso e de parcerias, como a construção do NESTER – o Centro de Investigação Energética de Portugal, numa altura em que a economia portuguesa está virada para a transição energética, digital e inovação, tal como a chinesa, empenhada em “promover o desenvolvimento de alta qualidade com as forças produtivas”.

“Podemos dizer que os dois países compartilham os conceitos de desenvolvimento e têm óbvias vantagens complementares e um futuro de cooperação mais amplo”, concluiu.

Palavras da Fosun

Depois de a Fosun ter reduzido recentemente parte da sua participação no Millennium BCP, e face a incerteza quanto à preparação de novas reduções, o diplomata indicou que, em reunião recente, o director-geral do grupo chinês lhe transmitiu muita satisfação com a “colaboração em Portugal, na Fidelidade, no Banco Comercial e no hospital (Luz Saúde)”.

“Estão muito satisfeitos nesses projectos de cooperação e decidiram continuar o desenvolvimento da sua empresa em Portugal e não planeiam abandonar o investimento”, afirmou.

“Mas, às vezes, a empresa vai ajustando as suas medidas de acordo com a situação de mercado. E quando os títulos crescem, a empresa vai comprar mais para ganhar mais. E quando os títulos descem, também mudam a sua medida de negócios. E normalmente vai ter mudanças dentro de um limite, de uma quota”, disse.

A polémica Huawei

O embaixador chinês em Portugal avisa também que afastar a empresa de telecomunicações Huawei do 5G, por motivos de segurança, pode interromper o processo, implicando custos que “podem ultrapassar mil milhões de euros”.

Zhao Bentang recordou que a empresa chinesa está presente em Portugal há mais de 20 anos, com uma “relação muito boa de benefícios partilhados” e contribuindo para o “desenvolvimento das telecomunicações”. Porém, no ano passado foram impostos limites a empresas de fora da União Europeia, da NATO e da OCDE que “não assinaram o documento de protecção de conhecimentos de Portugal”.

“Durante os 20 anos de negócios da Huawei em Portugal não existiram nenhuns riscos ou problemas na tecnologia e segurança. O parceiro português da Huawei também está muito satisfeito com os resultados. Por isso, o documento (de limitação de participação no 5G) aumenta a incerteza e mudança para a Huawei para fazer negócios em Portugal”, notou o diplomata, que fez eco das preocupações de “amigos portugueses”: “Se a Huawei não puder fazer negócios de 5G em Portugal”, este processo “será influenciado e até parado”.

Nesse cenário, “Portugal precisa de trocar para outras tecnologias, outros projetos, outros produtos na área do 5G, e isso vai causar muito prejuízo”, que “pode ultrapassar mais de mil milhões de euros”, disse ainda o embaixador, manifestando a “muita preocupação” com o caso.

Zhao Bentang frisou que o “assunto causa choque para as empresas portuguesas e até para os clientes portugueses”, uma vez que “muitas empresas precisam dos negócios” do 5G da Huawei para se desenvolver e face a incerteza também sobre o desenvolvimento das tecnologias.

25 Mar 2024

Ovibeja | Empresários locais vão procurar produtos para a China

Uma delegação de empresários de Macau, liderada pelo IPIM, vai à feira agropecuária Ovibeja procurar produtos alimentares para o mercado chinês. A missão tem como objectivo reforçar o papel de Macau enquanto ponto de distribuição de produtos dos países de língua portuguesa para a China

 

Empresários de Macau vão participar na feira agropecuária portuguesa Ovibeja em busca de mais produtos alimentares de qualidade para introduzir na China, disse o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM).

O IPIM vai organizar uma delegação empresarial para participar na Ovibeja, entre 30 de Abril e 5 de Maio, e ajudar Macau a reforçar o papel de “centro de distribuição alimentar dos países de língua portuguesa” para toda a China, referiu o departamento do Governo de Macau em comunicado.

O instituto pretende introduzir no mercado chinês mais “produtos alimentares e vinho de elevada qualidade” vindos dos países lusófonos, assim como ajudar as empresas de Macau a explorar oportunidades de cooperação no estrangeiro. A 40.ª edição da Ovibeja, organizada pela ACOS – Associação de Agricultores de Portugal, vai ter lugar como habitualmente no Parque de Feiras e Exposições Manuel de Castro e Brito, em Beja.

Tanto mar

O IPIM disse ainda que, após a Ovibeja, a delegação vai a São Paulo participar, no APAS Show, descrita pela organização como “a maior feira do mundo” para supermercados. O evento decorre na cidade brasileira entre 13 e 16 de Maio.

O instituto sublinhou que em 2023 ajudou 161 companhias e empresários da China e dos países lusófonos, incluindo empresas portuguesas que queriam expandir negócios em Macau e empresas da região chinesa interessadas em comprar carne no Brasil.

Na quarta-feira, o IPIM e a Câmara Internacional de Negócios do Brasil promoveram em Macau uma sessão de negócios para fomentar a cooperação entre produtores brasileiros de café e sete empresas de torrefação de café locais.

As exportações de mercadorias dos países de língua portuguesa para a China atingiram 147,5 mil milhões de dólares (136,1 mil milhões de euros) no ano passado, num novo recorde histórico, de acordo com dados oficiais. Este é o valor mais elevado desde que o Fórum Permanente para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Fórum de Macau) começou a apresentar este tipo de dados dos Serviços de Alfândega da China, em 2013.

As exportações aumentaram 6,2 por cento em comparação com 2022, sobretudo devido ao maior fornecedor lusófono do mercado chinês, o Brasil, cujas vendas subiram 11,9 por cento, para 122,4 mil milhões de dólares (112,9 mil milhões de euros), um novo máximo histórico. Já as vendas de mercadorias de Portugal para a China decresceram 4,1 por cento para 2,91 mil milhões de dólares (2,69 mil milhões de euros).

22 Mar 2024

ATFPM | CNE envia queixa para o Ministério Público contra Rita Santos

O Ministério Público português vai analisar as queixas do Partido Socialista que acusa Rita Santos e a Associação de Trabalhadores da Função Pública de Macau de irregularidades nas eleições. Segundo os socialistas, Rita Santos foi vista à frente dos correios a pedir aos eleitores que lhe dessem os boletins de votos

 

A queixa do Partido Socialista contra Rita Santos e contra a Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) por irregularidades nas eleições legislativas foi enviada pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) para o Ministério Público (MP). A notícia foi avançada na quarta-feira pela CNN Portugal. José Pereira Coutinho, presidente da ATFPM, recusou fazer comentários sobre o assunto, enquanto Rita Santos se mostrou incontactável.

Segundo o canal de televisão português, a queixa dos socialistas visa pessoalmente Rita Santos, conselheira das Comunidades Portuguesas, e a ATFPM, onde a líder associativa é presidente da Assembleia-Geral.

Na perspectiva do PS, a actuação tanto de Rita Santos como da ATFPM “poderá pôr em causa a confidencialidade e pessoalidade do voto”.

O PS relatou também que várias pessoas “disseram ter recebido chamadas” telefónicas, com os interlocutores a apresentarem-se como membros da ATFPM, e a dizerem aos eleitores “que podiam trazer as cartas com os boletins de voto à sede da ATFPM, que eles tratavam de tudo”.

Os socialistas denunciaram que algumas das chamadas “terão sido realizadas em língua chinesa, o que indiciará uma tentativa de se aproveitar da boa-fé dos que, sendo portadores da cidadania portuguesa, já perderam, porém, o vínculo linguístico com Portugal”.

Quanto à conselheira Rita Santos, o PS alega que foi vista “à porta dos correios, a abordar os eleitores para que estes lhe entregassem o seu voto”.

Em silêncio

Após a informação ter circulado em Portugal, o HM contactou José Pereira Coutinho, presidente da direcção da ATFPM sobre o encaminhamento da queixa para o MP. “Não tenho qualquer comentário a fazer”, limitou-se a responder o também deputado da Assembleia Legislativa de Macau, que indicou estar ocupado a receber um cidadão.

Por sua vez, Rita Santos foi contactada pelo HM, através de telefonemas e envio de mensagens, mas até ao fecho da edição mostrou-se incontactável.

A queixa surgiu depois de em Fevereiro, ainda antes das eleições, a secção local do Partido Socialista se ter queixado publicamente da actuação da ATFPM. Na altura, a secção acusou a associação de fazer apelos ao voto numa lista que não identificou, mas que mais tarde se veio a saber tratar-se da Aliança Democrática, até pelo conteúdo de vídeos que circularam online.

Também em 2019, a Secção de Macau do PS apresentou uma queixa à Comissão Nacional de Eleições a acusar a ATFPM de alegadas “situações anómalas” relacionadas com o envio dos votos por correspondência para as legislativas. Na altura, o mandatário pelo círculo eleitoral Fora da Europa, Paulo Pisco, pediu à CNE a abertura de um inquérito para apurar os factos.

Efeitos limitados

Apesar de o processo ter sido encaminhado para o Ministério Público, no que respeito à ATFPM os efeitos deverão ser praticamente nulos.

Em Outubro do ano passado, quando se preparavam as eleições para o Conselho das Comunidades Portuguesas, a ATFPM aprovou uma resolução interna a declarar apoio à então candidata Rita Santos. A decisão contrariou os regulamentos das eleições, porém, a CNE reconheceu não ter jurisdição em Macau. “Não há previsão de pena para quem infrinja esta disposição e, mesmo que houvesse, o Estado português não tem jurisdição sobre a pessoa coletiva em causa e no território em que está sediada e onde terão ocorrido os factos”, foi considerado.

22 Mar 2024

Eleições Legislativas | AD vence fora da Europa e Chega elege um deputado

Se tivesse dependido dos postos Consulares da China, o Partido Socialista teria mantido o lugar conquistado nas eleições de 2022. No entanto, não foi assim, e Augusto Santos Silva, presidente da Assembleia da República, está fora do hemiciclo

 

A coligação Aliança Democrática (AD) foi a lista mais votada no círculo da emigração Fora da Europa, de acordo com os resultados publicados ontem pela Comissão Nacional de Eleições. A grande surpresa foi a perda do mandato do Partido Socialista (PS), que deixa Augusto Santos Silva de fora do parlamento, enquanto Manuel Magno Alves do Chega foi eleito deputado, assim como José Cesário (AD).

No que diz respeito aos resultados na China, a AD foi a lista mais votada com 2.306 votos, o que representa 37,45 por cento do eleitorado, seguida pelos socialistas, com 745 votos (12,10 por cento). O Chega ficou em terceiro lugar com 330 votos (5,36 por cento).

A votação por correspondência terá levantado problemas a uma grande parte dos eleitores com 1.936 votos nulos (31,46 por cento). A taxa de abstenção na China foi de 87,43 por cento, uma vez que apenas 6.157 dos 48.982 inscritos votaram.

Os resultados apurados ontem pela CNE mostram os resultados na China reflectem a tendência que tinha sido verificada no voto presencial em Macau, em que a coligação constituída por Partido Social Democrata, CDS-Partido Popular e Partido Popular Monárquico conseguiu 59 votos (41,8 por cento) entre os 213 recenseados. A segunda lista mais votada foi a do PS, com 43 votos (30,5 por cento), seguida pelo Chega, com 14 votos (9,9 por cento).

No entanto, quando é considerado todo o círculo fora da Europa, o PS perde o mandato que mantinha desde 2019. No geral, a AD foi a vencedora com 22.636 votos (22,90 por cento), seguida pelo Chega com 18.067 (18,27 por cento) e o PS, que teve 14.1410 votos (14,58 por cento).

Nos resultados gerais do círculo fora da Europa, se o voto nulo fosse uma força política teria ficado em primeiro lugar, com 32.008 votos nulos, uma proporção de 32,39 por cento. A taxa de abstenção foi de 83,76 por cento, com 98.866 votantes entre os 609.436 inscritos. O Chega torna-se, assim, no quarto partido a ser eleito pelo círculo fora da Europa desde 1976, como haviam feito PSD, PS e CDS.

Um velho regressado

Com estes resultados, José Cesário está de regresso à Assembleia da República, um lugar onde passou grande parte da vida adulta, ou seja, 39 anos. O representante da AD entrou pela primeira vez na AR como deputado por Viseu, círculo pelo qual foi eleito até 2005. A partir desse ano começou a integrar as listas do PSD pelo círculo fora da Europa, que encabeçou até 2022, quando foi substituído por Maló de Abreu.

Além de deputado, Cesário desempenhou as funções de secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, nos Governo de Durão Barro e Pedro Passos Coelho.

Por sua vez, Manuel Magno Alves, nasceu em Chaves, é advogado de formação e vive desde os seis anos no Brasil, em São Paulo. É empresário ligado à área do imobiliário. Em 2022 foi candidato a deputado pelo círculo Fora da Europa, na lista do PSD. Alves era para ser o segundo candidato da lista do Chega nestas eleições, depois de ter mudado de partido, assim como Maló de Abreu.

No entanto, Maló de Abreu foi afastado das listas do Chega, devido ao escândalo com a declaração da residência em Angola, para efeitos de ajudas de custos, e Alves acabou promovido a um lugar que o coloca na Assembleia da República.

Resultados Eleições

China

Lista Votos  Percentagem

1 Aliança Democrática 2.306 37,45%

2 Partido Socialista 745 12,10%

3 Chega 330 5,36%

4 PAN 152 2,47%

5 Iniciativa Liberal 110 1,79%

6 Bloco de Esquerda 87 1,41%

7 CDU 81 1,32%

8 Livre  62 1,01%

9 ADN 60 0,97%

10 Nós 47 0,76%

Votos em Branco 128 2,08%

Votos Nulos 1.937 31,46%

Taxa de Abstenção 87,43%

Círculo Fora da Europa

Lista - Votos – Percentagem

1 Aliança Democrática 22.636  22,90%

2 Chega 18.067  18,27%

3 Partido Socialista 14.410  14,58%

4 PAN 2.332 2,36%

5 Iniciativa Liberal 1.902 1,92%

6 Bloco de Esquerda 1.847 1,87%

7 Nova Direita 1.461 1,48%

8 ADN 1.128 1,14%

9 CDU 748 0,76%

10 Livre 697 0,70%

Votos em Branco 487 0,49%

Votos Nulos 32.008  32,38%

Taxa de Abstenção 83,76%

Rita Santos agradece votos em José Cesário

Rita Santos agradeceu ontem os votos em Macau na lista da Aliança Democrática, através de uma mensagem deixada na página do Facebook do “Conselho das Comunidades Portuguesas da China, Macau e HK”.

“A Aliança Democrática ganhou em Macau com 2.306 Votos que foram importantes para a eleição do deputado José Cesário. Ele agradeceu a todos os portugueses residentes na China, Macau e Hong Kong que votaram nele – Aliança Democrática”, pode ler-se na mensagem. “O Luís Montenegro da Aliança Democrática que nos recebeu vai ser o Primeiro Ministro em Portugal. Obrigada a todos”, acrescentou Rita Santos. A mensagem surge escrita em português e chinês tradicional.

22 Mar 2024

Segurança Nacional | Associações querem que Macau siga Hong Kong

Associações tradicionais e juristas locais membros da Assembleia Popular Nacional elogiam a nova lei de segurança nacional de Hong Kong e consideram que Macau deveria ter a legislação como referência para o futuro. O vice-presidente da FAOM fala mesmo em arma legislativa

 

O jornal Ou Mun publicou ontem um artigo que reúne opiniões de dirigentes de algumas das principais associações tradicionais de Macau e membros da Comissão da Lei Básica de Macau do Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional (APN) que teceram rasgados elogios à nova lei de segurança nacional aprovada no Conselho Legislativo de Hong Kong na terça-feira.

O advogado e membro da Comissão da Lei Básica de Macau do Comité Permanente da APN Lei Wun Kong referiu que a legislação foi tecnicamente bem concebida e teve em consideração as características do sistema jurídico e a história da RAEHK, assim como a vontade popular. O jurista elogiou a capacidade prospectiva de artigos que punem, por exemplo, as actividades de espionagem.

Além disso, Lei Wun Kong defendeu que Macau deverá ter como referência futura a nova lei de Hong Kong, que veio preencher lacunas relacionadas com a segurança nacional, abrindo caminho à “construção de uma fortaleza sólida para evitar actos que prejudicam a segurança nacional e a intervenção das forças estrangeiras”.

O vice-presidente da Associação de Agentes da Área Jurídica de Macau e também membro da mesma comissão da APN Tong Io Cheng apontou que a aprovação desta lei de segurança nacional mostrou a determinação da sociedade de Hong Kong em avançar da estabilidade para a prosperidade.

Tradição incondicional

As associações tradicionais, por exemplo, a Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), a União Geral das Associações dos Moradores de Macau (UGAMM) e a Associação Geral das Mulheres de Macau juntaram-se ao coro de elogios à legislação aprovada na terça-feira em Hong Kong.

O vice-presidente da FAOM, Fong Ka Fai, entende que Macau será beneficiada com a lei de Hong Kong porque, na sua opinião, quando as forças estrangeiras tentarem intervir na RAEM terão de ter em conta que as leis podem ser usadas como armas jurídicas.

O dirigente associativo aconselhou o Governo de Macau a rever e alterar periodicamente as leis relacionadas com segurança nacional devido à complexidade da situação internacional e aos avanços constantes da tecnologia.

Em representação dos Kaifong, o vice-presidente da UGAMM, Cheng Son Meng demonstrou o total apoio ao Governo na divulgação de segurança nacional e de amor à pátria.

Por sua vez, a vice-presidente da Associação Geral das Mulheres de Macau Luo Ping indicou que a protecção da segurança nacional vai construir um ambiente justo e imparcial para que os residentes de Hong Kong e Macau se integrem no desenvolvimento nacional.

22 Mar 2024

China-UE | Embaixador chinês deixa alertas em conferência no Porto

Zhao Bentang, embaixador chinês em Portugal, deixou vários recados numa conferência na Universidade do Porto sobre o relacionamento entre a China e a União Europeia, alertando para o facto de questões como o afastamento da Huawei nos concursos da rede 5G ou a maior supervisão face ao investimento estrangeiro trouxeram “desnecessárias turbulências e obstáculos ao desenvolvimento das relações” entre os dois campos

 

Os recentes episódios menos positivos no relacionamento comercial e diplomático entre a China e a União Europeia (UE) foram abordados num discurso de Zhao Bentang, embaixador chinês em Portugal, esta terça-feira, no âmbito da “Conferência Relações China-UE” que decorreu no Porto promovida pela Associação dos Amigos da Nova Rota da Seda (ANRS) e pela Universidade Lusófona.

No evento, que não contou com a presença física do diplomata, foi lido o discurso do embaixador onde se chama a atenção para a ocorrência de “desnecessárias turbulências e obstáculos ao desenvolvimento das relações entre a China e a UE” graças a episódios como o afastamento da Huawei de leilões da rede 5G por parte de alguns Estados-membros da UE, nomeadamente Portugal, ou a chegada de uma nova legislação promovida pela Comissão Europeia que vai reforçar a supervisão do investimento estrangeiro que chega ao mercado da UE, incluindo da China.

“O lado europeu tomou recentemente uma série de iniciativas na área do 5G, na revisão do investimento estrangeiro ou na política competitiva que geram grandes preocupações para o Governo chinês, empresas e media.”

Segundo Zhao Bentang, “a China sempre encarou a UE como parceira estratégica, tendo desenvolvido o relacionamento com a Europa com a maior sinceridade e boa vontade. Há uns anos, um documento político oficial europeu elevou a China a grande parceiro, um dos maiores competidores e, ao mesmo tempo, uma variável sistémica [no relacionamento]. Contudo, tem vindo a ser provado que essa posição tripartida não está em linha com os factos e não é viável.”

Recorrendo à metáfora, Zhao Bentang comparou esta relação ao acto de “conduzir um carro numa zona com três sinais: vermelho, verde e amarelo, tudo ao mesmo tempo”. “Como pode um carro conduzir nestas condições?”, questionou.

“Esperamos que tanto a China como a UE possam estabelecer uma percepção correcta, manter um entendimento mútuo e confiança, bem como respeito, não fomentando uma relação como rivais apenas devido às diferenças existentes nos seus sistemas, nem reduzir a cooperação apenas devido à competição, ou entrar em confrontos apenas devido à existência de diferenças. O desenvolvimento da China constitui uma oportunidade, não um risco, para a Europa”, frisou.

Destacando os diversos encontros que Xi Jinping, Presidente chinês, manteve com líderes europeus nos últimos anos, nomeadamente Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, e Ursula Von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, ou ainda “líderes da Alemanha, França, Espanha e outros países europeus”, Zhao Bentang destacou que “os dois lados transmitiram sinais positivos em prol de mais esforços para fomentar essa força relacional”.

Assumindo uma visão pragmática, o embaixador frisou que “quanto mais profunda for a cooperação entre a China e a UE, mais inevitável será o crescimento de visões e diferenças”.

“Não deveremos evitar os problemas, mas temos de admitir que essas diferenças significativas em termos de sistemas sociais e níveis de desenvolvimento podem não ser solucionados a curto prazo. A chave é procurar campos comuns [para a cooperação] no meio dessas diferenças, e não ignorar eventuais consensos devido a diferenças a título individual. Não podemos também deixar que a cooperação, em termos gerais, sofra constrangimentos devido a diferenças locais”, disse ainda.

Portugal, aquele modelo

O embaixador não esqueceu o facto de Portugal “desempenhar um modelo a seguir na cooperação entre a China e a UE”.

“Tendo como ponto de partida a perspectiva histórica, China e Portugal deveriam juntar as mãos e aprender com as experiências dos últimos 45 anos de desenvolvimento, trabalhando em conjunto para promover um progresso ainda maior, sendo um parceiro estratégico global na relação entre a China e a UE. Tal está em linha com os interesses de longo prazo da China e da Europa, bem como as expectativas comuns da comunidade internacional”, adiantou.

O diplomata citou também, no discurso, um inquérito realizado pela Câmara de Comércio da UE na China que fala da importância que o país continua a desempenhar para a visão estratégica das empresas europeias.

Este inquérito “revela que grande parte das empresas europeias na China continuam a ter lucros, e mais de 90 por cento das empresas inquiridas continuam a olhar para a China como um destino de investimento”.

Enquanto isso, disse Zhao Bentang, “59 por cento das empresas entrevistadas considera a China como um dos três principais destinos de investimento”.

“Mais importante é criar um sistema e ambiente de mercado aberto, justo e não discriminatório para os intervenientes de ambos os lados. Os esforços da China para expandir a abertura e melhorar o ambiente de negócios são óbvios para todos, mas tal não se verifica no lado europeu”, acusou.

O responsável entende que se deve fomentar “uma cooperação aberta e com mútuos benefícios”, sendo que “aprofundar o relacionamento entre a China e a UE não é apenas uma medida paliativa, mas uma escolha estratégica com benefícios mútuos, numa situação que proporciona ganhos mútuos”.

Ainda referindo alguns dados estatísticos, o embaixador lembrou, como prova da bem-sucedida relação comercial entre a China e a UE, que entre 2013 e 2022 o comércio entre os dois lados aumentou de 125.2 biliões de USD para 847.3 biliões.

Abaixo o unilateralismo

Zhao Bentang aproveitou também para referir algumas ideias em matéria de diplomacia que são, aliás, bastante referidas nas orientações de política externa chinesa, incluindo pelo próprio Xi Jinping.

Foi referida, nomeadamente, a ideia de que “a China e a UE devem opor-se ao unilateralismo, mantendo o sistema internacional com a ONU [Organização das Nações Unidas]” como o centro desse mesmo sistema.

Além disso, Zhao Bentang acredita que a China e a UE devem unir esforços no apoio a países africanos em desenvolvimento não apenas em termos económicos, mas também noutras áreas, nomeadamente a saúde.

“A China já apresentou à Europa algumas ideias em prol de uma cooperação tripartida, esperando também que cooperações relevantes possam ser implementadas o mais cedo possível para o benefício das populações dos países em questão.”

Dentro desta cooperação, “o lado estratégico da relação China-UE vai ser importante”, salientou. “Ambos os lados estão comprometidos com o multilateralismo, e a favor de uma gestão correcta das disputas mundiais em termos diplomáticos e políticos. Ambos os lados estão também contra o uso da força em resposta à ameaça da força”, disse, defendendo que o mundo “está hoje a atravessar uma grande mudança como não é vista há 100 anos”.

O recado para o futuro ficou dado. “À medida que a turbulência aumenta, mais é necessário trabalharmos em conjunto para enfrentar os desafios. A China e a UE são duas forças principais, dois grandes mercados e duas grandes civilizações. Quanto mais conturbado for o panorama internacional e quanto mais desafios globais surgirem, mais importante e indispensável é a cooperação entre a China e a UE”, rematou Zhao Bentang.

22 Mar 2024

Guizhou | Residentes com entrada grátis em atracções turísticas

Os residentes de Macau, Hong Kong e Taiwan estão isentos até ao fim deste ano de pagar entrada nas principais atracções turísticas da província de Guizhou. O Departamento Provincial de Cultura e Turismo de Guizhou anunciou a medida como reforço do intercâmbio e cooperação. Residentes estrangeiros de Macau e Hong Kong ficam de fora da isenção

 

“A fim de reforçar ainda mais os intercâmbios de turismo cultural e a cooperação entre Guizhou e Hong Kong, Macau e Taiwan, de 19 de Março a 31 de Dezembro, os residentes de Hong Kong, Macau e Taiwan que se desloquem a Guizhou podem beneficiar de bilhetes gratuitos para desfrutar do turismo estatal de nível A de Guizhou”, noticiou ontem o Diário de Guiyang, o jornal oficial do Comité Provincial do Partido Comunista Chinês de Guizhou.

A publicação cita o Departamento Provincial de Cultura e Turismo de Guizhou, que estipula que os residentes de Macau e Hong Kong que queiram beneficiar de entradas grátis precisam de apresentar o Salvo-Conduto para Deslocação ao Interior da China, apenas acessível a quem tem nacionalidade chinesa. O que faz com que, na prática, portadores de BIR das regiões administrativas especiais, permanentes ou não, fiquem de fora da medida.

As autoridades provinciais acrescentam que a medida tem como finalidade “permitir que os turistas de todo o país partilhem os dividendos do desenvolvimento turístico de Guizhou e demonstrem plenamente os recursos turísticos culturais característicos de Guizhou”.

A medida surge depois da visita de Ho Iat Seng e Lei Wai Nong à capital da província, em Julho do ano passado, onde terão sido acertados pontos de cooperação em áreas como turismo, comércio, agricultura, ciência e educação, entre outras.

Recorde-se que o Governo de Macau, associações e empresas da RAEM assinaram um total de 27 acordos de redução de pobreza, com particular incidência no distrito de Congjiang. Entre 2018 e 2021, os apoios de Macau ascenderam a cerca de 110 milhões de renminbis (perto de 138 milhões de patacas).

O que ver

Não faltam motivos para visitar a província de Guizhou, desde pequenas vilas ancestrais perdidas nas montanhas, a quedas de água e parques naturais, e zonas para explorar na capital Guiyang. A província do sudoeste da China, fica a norte de Guangxi, oeste de Hunan e sul de Sichuan.

Entre os pontos mais populares, contam-se o Parque Nacional e Mangal de Huaxi e a Torre Jiaxiu, em Guiyang e as “cidades ancestrais” de Qingyan e Xijiang Miao. Esta última, apesar de ser um local muito popular, com enorme afluência de turistas, é uma das muitas réplicas de cidades, reconstruída em cima da verdadeira cidade antiga, roubando a autenticidade do passado. Porém, os arrozais montados em vários níveis de terraços são uma alternativa para escapar à balburdia de lojas de lembranças e restaurantes que enchem a ancestral, mas nova, Xijiang Miao. Para quem procura maior autenticidade, a vila de Bapa, localizada em Congjiang, é um local a não perder. Em termos de recursos naturais, destaque para as quedas de água de Huangguoshu, no condado de Zhenning e o Monte Fanjing.

21 Mar 2024

Hengqin | Defendido uso de vales de saúde no Interior

A fiscalização e investigação de fraudes no Interior é um obstáculo, mas Si Ka Lon pede ao Executivo soluções para que os residentes possam utilizar os vales de 600 patacas em clínicas privadas no outro lado da fronteira, como acontece em Macau

 

O deputado Si Ka Lon defende que os residentes devem poder utilizar os vales de saúde de 600 patacas em clínicas privadas de Hengqin. A ideia foi defendida pelo deputado ligado à comunidade de Fujian através de uma interpelação escrita.

De acordo com Si, o Programa de Comparticipação nos Cuidados de Saúde é um subsídio importante na vida quotidiana dos residentes permanentes, e assegura que estes podem ter acesso a consultas e tratamentos em clínicas privadas. Por isso, o deputado quer que o programa seja estendido à Ilha da Montanha.

A ideia não é nova, mas no passado foi afastada pelo Executivo devido a razões ligadas à privacidade dos residentes, uma vez que implica a transferência de dados pessoais. Outro dos motivos que levaram o Governo a afastar a aplicação do programa em Hengqin, é o facto de as autoridades não terem competências para conduzir investigações ou fazerem fiscalizações às clínicas no outro lado da fronteira, o que impede qualquer tipo de actuação, no caso de haver burlas ou fraudes com o montante do subsídio.

Na interpelação, Si Ka Lon recorda a justificação, mas pergunta se as condições mudaram e se o Governo passou a considerar avançar com a medida.

“Será que o Governo vai estudar uma forma de avançar com o programa, contornando os obstáculos identificados, de forma a utilizar a Zona de Cooperação Aprofundada como um programa-piloto, e mais tarde estender a medida a toda a Grande Baía?”, questiona o deputado. Segundo o legislador, com o programa a ser implementado no Interior, os residentes de Macau podem satisfazer as suas necessidades médicas no âmbito das cidades da Grande Baía.

Mais cooperação

O deputado argumenta igualmente que nos últimos anos os residentes estão cada vez mais integrados no Interior, devido aos laços estreitos entre Guangdong e Macau. Contudo, Si considera que é necessário aumentar as garantias sobre a possibilidade de os residentes receberem cuidados médicos das instituições no Interior.

Si Ka Lon completou a sua argumentação ao indicar que Hong Kong lançou esquema-piloto de assistência médica para idosos na Grande Baía este ano, o que no seu entender significa que os vales de saúde podem ser utilizados sem problemas no outro lado da fronteira.

No sentido de integrar Macau no Interior, o legislador questiona o Governo sobre os trabalhos desenvolvidos para que os Serviços de Saúde de Macau estejam presentes no outro lado da fronteira. “Será que as autoridades podem expandir os serviços de saúde gratuitos para Hengqin e cooperar com as instituições médicas na Zona de Cooperação Aprofundada, para oferecerem aos residentes melhores serviços médicos naquela zona?”.

21 Mar 2024

Lisboa | Embaixada da China bate-se por isenção de vistos

O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, António Martins da Cruz, revelou que a Embaixada da China em Lisboa está a movimentar-se para sensibilizar Pequim para o “esquecimento” que surpreendeu Portugal

 

A Embaixada da China em Lisboa está a fazer “o possível” para que os cidadãos portugueses possam ser incluídos nas medidas de isenção de visto, para entrarem no Interior. A revelação foi feita por António Martins da Cruz, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e das Comunidades Portuguesas, em declarações ao Canal Macau.

“Seguramente quem tem de se bater ainda mais por isso [inclusão de Portugal no grupo de países com visto] é a Embaixada da China em Lisboa. E eu sei, porque falei há pouco tempo com o embaixador [Zhao Bentang], que estão a fazer o possível”, disse António Martins da Cruz. “Mas enfim, esperemos que numa próxima medida o Governo de Pequim inclua Portugal [na lista de países com isenção de visto]”, acrescentou.

Actualmente, os cidadãos portugueses que pretendem entrar no Interior precisam de visto. Também os chineses do Interior que pretendem entrar em Portugal necessitam de ter um visto, aspecto em que vigora a reciprocidade entre os dois países.

No entanto, nos últimos meses, a China abdicou da reciprocidade e passou a permitir a entrada de nacionais de outros países da Europa, sem visto, desde que as visitas tenham duração de 15 dias e sejam justificadas com actividades ligadas ao comércio ou ao turismo. Os países abrangidos da Europa são: Alemanha, Espanha, França, Itália, Países Baixos, Suíça, Irlanda, Hungria, Áustria, Bélgica e Luxemburgo.

O facto de a China não ter isentado os portugueses de visto tem levado à especulação que se trata de uma medida em resposta à opção do Governo de Portugal de banir a Huawei das instalações da rede de 5G. Contudo, a ligação não foi confirmada por Pequim, e países como França, Alemanha, e Itália também tomaram medidas semelhantes à do Governo de António Costa.

Elogios à Huawei

Por sua vez, António Martins da Cruz recusou especular sobre a ligação entre os dois aspectos. “O Governo de Pequim tomou a decisão baseado em razões que lhe são próprias, não faço ideia nenhuma e não queria arriscar de maneira nenhuma [que a exclusão da isenção de vistos esteja ligada à Huawei]”, realçou. “Posso dizer que a Huawei é uma grande empresa, tão grande que nós sexta-feira vamos a Shenzhen, temos um acordo com o distrito de Bao’an, mas depois vamos visitar a Huawei”

O ex-governante passou por Macau a convite do Instituto Internacional de Macau, para participar num evento sobre o papel do território nas relações económicas entre a China e Portugal.

Apesar das relações de proximidade entre Portugal e a China, o ex-ministro admitiu ter ficado surpreendido com o “esquecimento” de Pequim. “Eu próprio fiquei um bocado surpreendido, a China isentou de visto seis países da União Europeia, esqueceu-se de Portugal”, confessou António Martins da Cruz. “Esperamos que dentro de em breve o Governo de Pequim não se esqueça do esquecimento e que Portugal entre nesta onda de isenção de visto, porque as nossas relações históricas, culturais e mesmo Macau, justificam que possamos entrar nesse lote de isenção de visto”, acrescentou.

Comércio entre Portugal e Macau visto como insignificante para António Martins da Cruz

António Martins da Cruz considera que as empresas de Portugal têm de fazer mais para promoverem e aprofundarem as relações económicas com a China, e considerou o comércio entre Portugal e Macau “insignificante”. As declarações foram prestadas ao Canal Macau por António Martins da Cruz, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros.

“Macau é uma excelente plataforma para as relações económicas entre Portugal e a China. E não só entre Portugal e a China, eu diria mesmo entre a Europa e a China e os Países de Língua Portuguesa e a China. Daí por exemplo, a existência do Fórum Macau”, começou por argumentar o ex-diplomata.

O António Martins da Cruz viajou para Macau como presidente da Oeiras Valley Investment Agency, uma associação privada que tem como objectivo atrair investimentos para o município da zona metropolitana de Lisboa.

Neste sentido, pediu às empresas de Portugal e ao próprio Governo que façam mais, considerando que as autoridades de Macau estão a fazer a sua parte.

“As empresas é que têm de descobrir [como podem intervir no comércio e ultrapassar as questões alfandegárias], o que a nós nos compete é arranjar a melhor maneira de internacionalizar a actividade das empresas”, indicou. “Muita coisa pode ser feita, o comércio entre Portugal e Macau é insignificante, são 30 e poucos milhões de euros por ano. Não tem importância nenhuma e são sobretudo bens alimentares. É preciso fazer um esforço. O Governo de Macau está a fazer esse esforço, esperemos que o novo Governo português possa corresponder”, acrescentou.

Mais perto

António Martins da Cruz, que liderou uma comitiva de empresários, defendeu igualmente maiores trocas comerciais entre a China e Portugal. “Devíamos explorar mais as nossas relações comerciais com a China. A relação representa menos de 5 por cento do comércio externo português, podíamos tentar fazer um esforço, mas têm de ser sobretudo as empresas”, indicou. “Estou aqui na qualidade de presidente das Agência de Investimento de Oeiras. Nós trouxemos connosco uma delegação de 26 pessoas, muitos empresários de Portugal, e alguns do Brasil para mostrar justamente que Macau é a plataforma ideal para fazer negócios, não só no mercado de Macau, mas também da Grande Baía e da China”, sublinhou.

A Oeiras Valley Investment Agency tem como membros a filial de Portugal da China State Construction Engineering Corporation e a Consugal, grupo que detém a empresa de Macau Consulasia.

21 Mar 2024

Trabalho | FAOM mantém controlo total da Concertação Social

Não há vida além da associação tradicional. A lista dos novos membros da Concertação Social foi revelada ontem e, apesar de haver duas alterações nos representantes dos trabalhadores, a FAOM ocupa todos os lugares disponíveis

 

A Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) vai continuar a controlar todos os lugares destinados aos trabalhadores no Conselho Permanente de Concertação Social (CPCS). A constituição do conselho para os próximos dois anos foi anunciada ontem, através de um despacho publicado em Boletim Oficial, assinado por Lei Wai Nong, secretário para a Economia e Finanças.

Segundo as regras do organismo, o secretário indica um total de cinco representantes de trabalhadores para o conselho, dois dos quais integram a comissão Executiva do CPCS e três representam as associações locais de trabalhadores.

Apesar dos vários lugares disponíveis, todos os membros escolhidos integram a FAOM, mesmo que também estejam noutras associações, por sua vez estão ligadas ou são próximas da associação dos Operários.

Para a comissão executiva do CPCS, como aconteceu no passado, Lei Wai Nong voltou a nomear O Lai Heong. A responsável integra o conselho executivo da FAOM, e é igualmente membro da Federação das Associações dos Trabalhadores da Função Pública de Macau, próxima da FAOM. A O Lai Heong junta-se agora Choi Kam Fu, vice-presidente dos Operários.

Em relação aos restantes membros que representam o lado laboral no conselho há uma alteração face ao passado. Kong Hin Man, membro do conselho executivo da FAOM, substitui Lou Kun Peng. Os restantes lugares permanecem com Fong Ka Fai, vice-presidente da assembleia-geral da associação tradicional e Ng Chi Peng, membro do conselho fiscal dos Operários e presidente da Associação Geral do Pessoal Administrativo de Macau, também com ligações à FAOM.

Aposta na continuidade

No que diz respeito aos membros representantes do patronato, o CPCS não sofre qualquer alteração, com a Associação Comercial de Macau a garantir dois dos cinco lugares.

A nível dos membros da comissão executiva, Vong Kok Seng e Alan Wong Yeuk foram os escolhidos. Os dois fazem parte da Associação Comercial de Macau, Vong Kok Seng como membro da direcção, e Alan Wong como membro do Conselho Permanente da direcção.

Os restantes três representantes dos empregadores são Ip Sio Kai, deputado e vice-director-geral da Sucursal de Macau do Banco da China, Chum Pak Tak, empresário da construção civil, e Fong Ka Lam, gestor da Sociedade de Cimentos de Macau.

21 Mar 2024

FAM | Espectáculo de “Os Três Irmãos” com coreografia alterada para evitar nu integral

Victor Hugo Pontes, coreógrafo: “A alteração não desvirtua o espectáculo”

Apresentado no Festival de Artes de Macau a 18 de Maio, o espectáculo “Os Três Irmãos”, com coreografia de Victor Hugo Pontes e texto de Gonçalo M. Tavares, teve de ser adaptado a pedido do IC para evitar o nu integral em palco dos três bailarinos. O coreógrafo diz compreender e não querer fazer imposições do foro cultural às autoridades de Macau

 

“Os Três Irmãos” foi apresentado em 2020 em Portugal, em plena pandemia. Foram feitas algumas adaptações na transposição do espectáculo para Macau?

Não. O espectáculo é, essencialmente, o mesmo. Foi criado exclusivamente para estes três intérpretes, com um texto original de Gonçalo M. Tavares, e escrito concretamente para estes três bailarinos, Válter Fernandes, Paulo Mota e Dinis Duarte. Nesta apresentação em Macau são os mesmos três intérpretes, pois para mim não fazia sentido substituí-los, uma vez que a peça foi escrita para eles. A única alteração que existe tem a ver com uma das cenas. O espectáculo trata da relação entre estes três irmãos e da sua proximidade, intimidade e conflitos, à medida que vão desenrolando o passado. Uma das cenas de intimidade é quando tomam banho juntos e se lavam uns aos outros. Nesta versão de Macau não existe nudez integral. Essa parte terá de ser adaptada, quando em Portugal os três intérpretes ficam completamente nus. Isso não vai acontecer em Macau.

Essa alteração foi feita a pedido do Instituto Cultural (IC)?

Sim, a pedido do IC.

Quais foram os argumentos apresentados?

Penso que existe uma quota para nudez nos espectáculos e, no nosso caso, essa quota já tinha sido ultrapassada. Parece que tem de ser feita uma certa gestão em todos os espectáculos em que há nudez. Acredito que tenha a ver com a questão cultural, extremamente forte, em que a nudez não é ainda um lugar-comum, e que, para não criar demasiados constrangimentos entre a plateia e a programação, tenham de fazer uma certa selecção.

Como coreógrafo incomoda-o ter de fazer essas alterações?

Tento perceber o contexto cultural em que estou inserido. Há quem diga que a dança é uma linguagem universal, mas não acredito que seja, porque há códigos específicos que querem dizer coisas diferentes, dependentemente se estivermos no Oriente ou Ocidente. A dança não é, portanto, uma linguagem universal como tantas vezes é dito. Quando apresento um espectáculo numa outra cultura, gostaria que essa cultura pudesse aceitá-lo como é, mas não quero de forma nenhuma fazer imposições. Sinto que essa alteração não desvirtua o espectáculo, é pura e simplesmente simbólica sem ser estrutural. Sinto que vou ao encontro [do pedido], tentando sempre compreender o outro lado, embora nem sempre concorde, no sentido em que a minha cultura é outra e estou habituado a uma série de hábitos a que Macau não estará, e tenho de respeitar. Temos de criar uma sociedade mais una, e para isso teremos de esbater algumas barreiras, mas temos depois as questões de identidade, que têm a ver com as pessoas e a forma como se relacionam com o corpo, a nudez, a intimidade ou privacidade.

Gonçalo M. Tavares escreveu este texto com base numa encomenda. Como decorreu o processo criativo deste espectáculo?

Fomos discutindo os temas que queríamos abordar em conjunto. Foi escrito nesse sentido, tendo como ponto de partida estes três intérpretes. Chegámos à conclusão de que poderiam ser irmãos. Interessava-me explorar as relações da família nessa peça, e dada a proximidade etária, sentimos que a relação mais próxima que poderiam ter seria sempre de irmãos, ou de pais e filhos, mas aí teriam de estar no campo da representação, um acto que não me atrai. No teatro gosto deste lado da verdade, em que os actores têm a mesma idade dos personagens, sem que haja a ideia de que estou a fazer de conta que sou outra pessoa e outro corpo.

Porquê abordar relações familiares? Neste espectáculo parecem ser relacionamentos tensos.

Isso tem a ver com o universo do próprio Gonçalo M. Tavares. É uma escrita densa, sombria, e o espectáculo caminha também nesse sentido. Quando partimos da ideia de família não foi dada nenhuma indicação de que teríamos de ir por aí. Interessava-me falar da família porque era uma questão que vinha sendo abordada de forma ligeira noutros projectos. Trabalhei antes, por exemplo, com crianças que estavam institucionalizadas e que, por isso, não tinham família, e aí dei-me conta da sua importância na estruturação de um indivíduo. Depois fiz “Drama”, que se baseia numa família disfuncional. Interessava-me continuar a pesquisar sobre a ideia de quais as relações que temos uns com os outros e que laços nos unem, se são de sangue ou de proximidade.

E os três irmãos deste espectáculo estão, precisamente, em busca dos antepassados e de compreender as suas origens.

O Gonçalo [M. Tavares] coloca-os num não-lugar, à procura dos pais, que não sabem onde estão. O texto foi escrito durante a pandemia, em que muitas pessoas perdiam os familiares e não podiam despedir-se deles, muitos elementos da família ficavam sem esse elemento de luto. Juntaram-se, assim, esses dois universos, em que estes três irmãos estão nesse não-lugar e, enquanto procuram os pais, quase que escavam o seu passado e vêm à tona todos os conflitos, tensões e proximidade que têm nesta relação que é muito de amor-ódio. Isso faz com que tenham um final trágico. É um espectáculo bastante forte nesse lado familiar. Eles fazem uma série de sacrifícios perante o pai, como figura de autoridade máxima.

Como foi transpor esse universo denso para a coreografia?

O Gonçalo M. Tavares escreveu um texto dramatúrgico, semelhante a uma peça de teatro, e começamos exactamente por aí, por tentar fazer o espectáculo como se fosse teatro, tendo havido a memorização de texto por parte dos intérpretes e uma análise cena a cena, tentando perceber quais os conflitos e discussões entre os personagens. Depois tentámos ir abandonando o texto, deixando a acção por detrás desse conflito. No espectáculo há o plano do texto projectado em legendagem, e depois o texto que não é dito, mas sim interpretado pelos bailarinos. Esses dois planos existem ao mesmo tempo. Esta dança, estas qualidades físicas, os episódios de tensão, foram criados a partir das imagens geradas pelo texto e pelas próprias acções descritas no texto.

Já com o distanciamento temporal face à estreia do espectáculo, em 2020, como olha hoje para esse processo criativo?

Parece que foi numa outra vida, porque o ser humano tem capacidade de se adaptar muito rapidamente às circunstâncias mais adversas, e também a novas circunstâncias. Partimos de um universo em que não nos podíamos tocar e, em dois anos, voltámos à normalidade, em que imaginar um tempo em que usávamos máscara e não nos podíamos cumprimentar com um beijo parece fazer parte de um filme de ficção. O espectáculo foi construído num contexto muito próprio, em residência artística comigo e os três bailarinos. Portanto, não se nota que foi feito durante a pandemia, pois feitos os testes ficámos a trabalhar numa equipa muito pequena e retomámos essa proximidade. O espectáculo foi construído sem consciência de pandemia. Os laços dos próprios intérpretes ficaram muito fortes devido a essa convivência.

É a primeira vez que “Os Três Irmãos” é apresentado fora de Portugal. Que expectativas tem no seu acolhimento em Macau?

Sim, é a primeira vez. O espectáculo circulou mesmo muito em Portugal, foi bastante apresentado. Penso que pode ser bem recebido em Macau. É um espectáculo duro, que deixa o público em apneia durante 1h30, porque fica muito ligado a ele, mas depois consegue descomprimir dessa tensão no final. De certa forma, potencia o universo do escritor Gonçalo M. Tavares, com a materialização das palavras em cena, um elemento muito forte. Penso que pode interessar muito ao público em Macau.

21 Mar 2024