João Santos Filipe Manchete SociedadeHotel Tesouro | Marcações disponíveis para quem vem da Europa A partir de amanhã os residentes vindos de Portugal vão poder marcar a estadia no Hotel Tesouro para cumprir quarentena. Cerca de 53 mil pessoas já fizeram download da aplicação que permite guardar o percurso As marcações para o Hotel Tesouro ficam disponíveis a partir de amanhã, de acordo com a informação avançada ontem pelos Serviços de Turismo (DST), na conferência de imprensa sobre a evolução da covid-19. Segundo Liz Lam, representante do turismo, as marcações podem ser feitas através de contacto telefónico ou do portal do hotel, mas não foram disponibilizados mais pormenores. “As pessoas que quiserem saber mais sobre as marcações e outros pormenores podem contactar o hotel por email ou telefone”, respondeu Lam, quando questionada sobre os procedimentos. A medida cumpre o anúncio do Governo, feito há duas semanas, que obriga quem chegue a Macau através de Singapura, como acontece com as ligações áreas entre a RAEM e Portugal, a fazer quarentena no Hotel Tesouro. A medida deve entrar em vigor a 1 de Dezembro, obrigando igualmente a testes diários nos primeiros 10 dias do total de 21. App gerou 159 mil códigos Na conferência foi igualmente revelado que entre terça-feira e as 09h de ontem, a nova aplicação dos Serviços de Saúde foi utilizada para gerar 159.255 códigos de saúde. Este número significa que cada um dos 53.079 utilizadores recorreu, em média, três vezes à app para gerar o código de saúde e entrar em diferentes espaços públicos. A nova aplicação dos SSM, lançada recentemente, permite gravar o percurso dos utilizadores, e o Governo tem como objectivo torná-la obrigatória para todos os cidadãos. A médica Leong Iek Hou revelou que até ao momento 8 por cento da população descarregou a aplicação, que ainda está em fase de teste. A coordenadora do Núcleo de Prevenção de Doenças Infecciosas e Vigilância da Doença apelou ao download do programa para o smartphone, para que as pessoas gravem o seu percurso e sejam alertadas quando tiverem de ser colocadas em quarentena forçada, ou submetidas a testes. O sol nasce para todos A conferência de imprensa serviu ainda para comentar a possibilidade de os atletas chineses medalhados nos Jogos Olímpicos visitarem Macau, vindos de Hong Kong, sem cumprirem quarentena. A coordenadora do Núcleo de Prevenção de Doenças Infecciosas e Vigilância da Doença explicou que a quarentena é aplicada com base no percurso dos indivíduos nos últimos 21 dias. “Não consideramos se as pessoas são medalhadas ou não. Na nossa decisão vamos considerar onde estiveram nos últimos 21 dias antes de entrarem em Macau. E dependendo do percurso vamos aplicar as medidas de controlo pandémico”, justificou. A circulação entre Macau e Hong Kong pode estar cada vez mais perto de ser concretizada. Segundo o South China Morning Post, os governantes do Interior estiveram ontem na RAEHK para ultimar os detalhes sobre a retoma da circulação. “Se o Interior e HK abrirem as fronteiras, já podemos avançar para a abertura [com Hong Kong]”, admitiu Leong. Contudo, por agora, aguarda-se por fumo branco.
João Santos Filipe Manchete PolíticaImposto de Circulação | Deputados temem que nova lei crie confusão A partir de Janeiro deixa de ser obrigatório afixar nos veículos o selo do imposto de circulação. Os deputados que estão a analisar na especialidade o diploma temem que o tempo para explicar as mudanças à população não seja suficiente As alterações legais que vão abolir a obrigação de afixar nos veículos o dístico do imposto de selo estão a causar preocupações aos deputados da comissão da Assembleia Legislativa que analisa na especialidade o diploma. Falta pouco mais de mês para a entrada em vigor das mudanças e teme-se que o tempo para promover e explicar as alterações à população não seja suficiente. “O objectivo da lei é eliminar a afixação do dístico. O senhor secretário explicou-nos que não vai alterar o dever do pagamento do imposto de circulação. As pessoas têm de pagar entre Janeiro a Março, como nos anos anteriores, mas não precisam de imprimir ou afixar o dístico”, começou por explicar Ella Lei, presidente da comissão. No entanto, o tempo para a entrada em vigor das alterações começa a apertar. Até Janeiro, ainda falta concluir a análise na especialidade, a comissão emitir o seu parecer e a proposta de lei ser votada em plenário. “Hoje é 25 de Novembro, estamos preocupados. O Governo diz que ainda vai fazer alguns ajustes na redacção da lei, que tem poucos artigos, e a proposta tem de ser aprovada antes de 1 de Janeiro do próximo ano”, traçou como cenário. “Estamos preocupados porque falta pouco mais de um mês e não sabemos se o Governo vai ter tempo”, acrescentou a deputada. Tudo nos conformes Contudo, o Executivo, que ontem se fez representar pelo secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, acredita que tem meios para terminar a lei a tempo. “O Governo respondeu-nos que está preparado para responder às dúvidas dos cidadãos [após a entrada em vigor da lei]. Disseram-nos também que vão ter tempo para formar pessoal antes da entrada em vigor das alterações à lei”, revelou Lei, sobre a posição do Executivo. Sem a obrigação de afixar o dístico espera-se uma simplificação dos processos relativos ao imposto de circulação. Contudo, não haverá redução do preço, o que não implica que as mudanças não beneficiem a população. Foi esta opinião da deputada que lidera a comissão. “Se as pessoas não têm de imprimir o dístico, ficam numa situação melhor. Antes, elas podiam fazer o pagamento, mas como não tinham colado o dístico num lugar bem visível do veículo ficavam sujeitas a uma sanção. Agora, o cidadão fica apenas com o dever de pagar o imposto, não tem de afixar o dístico”, justificou Ella Lei. “Os cidadãos ficam a ganhar, o processo torna-se mais conveniente”, acrescentou.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaDeputados aprovam reforço orçamental de 6,3 mil milhões A Assembleia Legislativa aprovou ontem, com carácter de urgência, um reforço orçamental de cerca de 6,3 mil milhões de patacas vindos da Reserva Financeira. A revisão orçamental prevê também a redução dos montantes atribuídos a organismos com gestão autónoma e financiamento público A Assembleia Legislativa (AL) aprovou ontem a terceira proposta de revisão do orçamento para este ano que prevê uma injecção de 6,3 mil milhões de patacas da Reserva Financeira e a redução dos orçamentos de organismos especiais com gestão autónoma, mas financiamento público. A revisão contempla também a redução da despesa do orçamento ordinário integrado no valor acima das 10,4 mil milhões de patacas. Relativamente às receitas do orçamento integrado, a redução foi superior a 16,7 mil milhões de patacas. Na proposta apresentada, com carácter de urgência, pelo secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong é referido que a revisão orçamental se deve ao facto de não ser possível garantir um equilíbrio entre receita e despesa face à queda das receitas brutas do jogo e, consequentemente, dos impostos arrecadados pelo Governo. Até Outubro deste ano, as receitas do jogo foram de 72,1 mil milhões de patacas, valor “longe da estimativa anual de 130 mil milhões de patacas”. A proposta apresentada a plenário refere ainda que o valor acumulado do imposto sobre o jogo foi de apenas 26,5 mil milhões de patacas, ou seja, “não chegou aos 60 por cento da taxa de execução orçamental”. Com esta alteração, o saldo do orçamento ordinário integrado da RAEM para este ano será superior a 675 milhões de patacas. O secretário frisou que o Governo continua “a reduzir as despesas desnecessárias”, reforçando “as que dizem respeito ao bem-estar da população”. Na mesma proposta, o Executivo declara também que “as perspectivas para as receitas das finanças públicas não são muito optimistas para os restantes meses do ano”, tendo sido ordenado aos serviços e organismos públicos “a avaliação das despesas orçamentais necessárias” até Dezembro. Obras por pagar Ron Lam U Tou pediu explicações sobre a redução da verba do PIDDA (Plano de Investimentos e Despesas da Administração) no valor de 4,6 mil milhões de patacas, mas o Governo justificou o corte com o facto de muitas obras públicas não terem sido realizadas devido à pandemia. “Temos de fazer a liquidação tendo em conta a execução da obra, só depois é que pagamos. Se as obras não forem concluídas este ano serão pagas com o orçamento do próximo ano. Está reservada uma verba no orçamento para pagar essas obras do PIDDA, neste aspecto há continuidade”, explicaram os responsáveis da Direcção dos Serviços de Finanças (DSF). Os dirigentes da DSF disseram também que, caso o ritmo de construção destes projectos públicos avance, aumentam também as despesas a pagar pelo Executivo. Essas despesas serão pagas com o montante destinado à dotação profissional, que para o próximo ano será de 2,9 mil milhões de patacas.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaElla Lei exige planeamento de futuras operações do Metro Ligeiro A deputada Ella Lei utilizou o período antes da ordem do dia para exigir ao Governo um planeamento da futura operação do Metro Ligeiro, uma vez que o contrato “já passou da metade” e “nos próximos três a quatro anos vão ser construídas mais linhas”. “O Governo tem de planear atempadamente as opções e os planos para a futura operação”, apontou a deputada, que pediu, no entanto, que estejam em cima da mesa várias opções, sobretudo em matéria de recursos humanos. “O Governo deve ter objectivos claros de formar pessoal local para continuar a operar o Metro Ligeiro, e criar uma equipa local de operação, sobretudo pessoal especializado em técnicas essenciais”, disse Ella Lei. A deputada dos Operários lembrou que, de acordo com o plano delineado, cerca de 95 por cento dos postos de trabalho no Metro Ligeiro serão ocupados por residentes. No entanto, defendeu que faltam esclarecimentos sobre a percentagem de funcionários especializados e não especializados, além de que a sociedade receia que os trabalhadores locais “continuem a ser incapazes de desempenhar funções técnicas especializadas ou assumir cargos relevantes de chefia na área de operação, gestão e manutenção”. Ainda em matéria de recursos humanos, Ella Lei adiantou que “os trabalhadores locais se queixaram muitas vezes de serem tratados de forma injusta e optaram por se demitir”, situação que levanta dúvidas quanto à estabilidade destes postos de trabalho. Pedido orçamental Na mesma intervenção antes da ordem do dia, a deputada referiu também que o Executivo deve “preparar-se com as duas mãos para a futura operação geral” dp meio de transporte “caso a equipa local não consiga assumir as suas responsabilidades e seja preciso adjudicar parcialmente o serviço”. A legisladora ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau, sugeriu mesmo que as autoridades escolham “outras empresas adjudicatárias experientes e capazes” para evitar problemas contratuais. Além disso pediu a divulgação do orçamento global do novo traçado do Metro Ligeiro, e que todo o processo seja fiscalizado para “evitar situações em que o financiamento não possa ser custeado no futuro”.
João Santos Filipe Manchete SociedadeJustiça | TUI diz que António Coelho Neves foi despedido sem justa causa Em Abril de 2020 o chef António Coelho foi despedido do restaurante que fundou, por ser acusado de ter faltado vários dias ao trabalho. O cozinheiro contestou a acusação e argumentou que o despedimento foi feito sem justa causa. Os tribunais deram-lhe razão O Tribunal de Última Instância (TUI) considerou que o chef António Neves Coelho foi despedido sem justa causa pelo António Grupo Limitada. A decisão final foi tomada no dia 10 de Novembro, não há mais hipótese de recurso, e revelada pelos tribunais da RAEM. A disputa entre as duas partes surgiu em Abril de 2020, quando, segundo vários relatos da imprensa na altura, António terá sido abordado pelo grupo para baixar o salário várias vezes. Como recusou, acabou por ser despedido, com a alegação de que havia justa causa para o despedimento. Entre as razões para a justa causa, o grupo alegou que António Coelho tinha gozado 118 dias de licença extra não autorizada, além de ter sido acusado de tentar convencer o staff do restaurante a demitir-se em bloco. Na altura do despedimento, António Coelho já não trabalhava como chef, visto que desde 2018 tinha o cargo de Embaixador de Culinária. Ao HM, António mostrou-se satisfeito com a decisão, por sentir que foi feita justiça. Contudo, recusou haver qualquer sentimento de felicidade. “Não se pode dizer que estou contente. O que sinto é que se fez justiça, e quando isso acontece as pessoas ficam satisfeitas”, afirmou. “Era óbvio que não tinha faltado ao trabalho e toda a gente sabe isso. Todos me encontravam no restaurante até altas horas das noite”, acrescentou. O chef destacou também o funcionamento da justiça. “É uma decisão de um caso laboral, mas o que é importante realçar é o funcionamento da justiça em Macau, e, pessoalmente, sinto que funcionou”, sublinhou. Com a decisão, António deverá receber o montante por despedimento sem justa causa, além de outras despesas relacionadas com o processo. Em curso Além deste caso que chegou agora ao fim, António Coelho e o António Grupo Limitada, controlado pela empresa Sniper Capital, estão envolvidos em outras disputas. Segundo a Macau News Agency, num artigo de Abril em 2020, uma das batalhas legais implica a questão dos direitos de autor do restaurante António, que manteve o nome original e o logótipo, apesar da saída do fundador. O logótipo do restaurante ainda hoje tem a assinatura de António Coelho, apesar do chef principal ter passado David Abreu, em Junho de 2020. António Coelho é um dos chefs de comida portuguesa mais conhecidos e bem-sucedidos do território e em 2013 foi distinguido pelo Governo da RAEM, devido ao seu contributo para o desenvolvimento do turismo.
Pedro Arede Manchete SociedadeAnálise | Aumento de validade de testes com efeito imediato no jogo O alargamento para sete dias do prazo dos testes à covid-19 para cruzar fronteiras vai ter um impacto “forte” e “imediato” nas receitas brutas de jogo. A ideia é defendida por especialistas do sector ouvidos pelo HM, que acreditam que a nova meta anual de 86 mil milhões de patacas em impostos sobre o jogo vai ser alcançada A alteração de 48 horas para sete dias da validade dos testes de ácido nucleico, necessário para sair de Macau rumo a Zhuhai vai ter um impacto “forte” e “imediato, nas receitas brutas de jogo, com especial incidência no mês de Dezembro. Além disso, apontaram especialistas do sector ao HM, transmite “confiança” às autoridades do Interior da China. Acerca da previsão do Governo de 86 mil milhões de patacas em impostos sobre o jogo, os peritos acreditam que a meta é “conservadora” e será alcançada. Para um dos especialistas, com longa experiência na área do direito de jogo e que pediu para não ser identificado, o relaxamento das medidas nas fronteiras vai ter um impacto “bastante forte”. “Isto vai ter um impacto positivo bastante forte. Acho que há aqui um potencial para as receitas brutas voltarem a crescer, até porque o número de visitantes vai aumentar outra vez”, começou por dizer ao HM. “O aumento do número de visitantes não vai afectar os resultados de Novembro (…), apesar de as receitas brutas virem a ser, obviamente, bastante superiores às do mês passado. Esta nova medida vai afectar especialmente o mês de Dezembro”, acrescentou. O mesmo especialista referiu ainda que o alargamento do prazo dos testes vem dar “maior confiança à população que vem a Macau” e transmite às autoridades do Interior da China “a ideia de que as coisas podem voltar ao novo normal”. Também o advogado especialista do sector do jogo, Carlos Eduardo Coelho destacou o alívio das limitações. “Qualquer medida que alivie as restrições impostas em Macau tem sempre um impacto imediato na economia e nas receitas de jogo. Portanto, acredito que esta medida também o terá (…) pois poderá vir mais gente, essas pessoas poderão estar cá mais dias e isso terá consequências imediatas na nossa economia”, vincou. Espera olímpica Questionados sobre a meta de 86 mil milhões de patacas em impostos sobre o jogo, no seguimento da intenção de voltar a recorrer à reserva extraordinária, os especialistas consideraram a estimativa “alcançável” e “conservadora”. Recorde-se que o valor corresponde a uma redução de 44 mil milhões de patacas relativamente ao montante inicialmente previsto. “As previsões de 86 mil milhões de patacas, são perfeitamente alcançáveis (…) e algo conservadoras, no sentido de que será possível atingir estes valores, mesmo se acontecer alguma coisa [novo surto], apontou o perito que pediu não ser identificado. Também Carlos Eduardo Coelho acredita que as previsões vão ser cumpridas e que o valor pode mesmo ser “mais elevado”, caso não surjam novos surtos de covid-19. Contudo, ressalva o primeiro especialista ouvido pelo HM, “é preciso ter a noção de que a política de tolerância zero vai continuar” e que a maior preocupação do Governo Central, neste momento, é a organização sem sobressaltos dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, agendados para Fevereiro de 2022. Para o perito, só depois de concluído o evento é que poderão haver mudanças substanciais nas medidas fronteiriças. Até lá, podem vir aí mais restrições. “Até ao final dos Jogos Olímpicos, todas as medidas necessárias para conter qualquer tipo de surto vão ser implementadas (…) porque há essa vontade declarada do Governo Central. O relaxamento pode acontecer depois do evento, mas não significa a abertura completa, nem nada que se pareça. Cá em Macau, sei perfeitamente que as fronteiras de Macau com o mundo exterior, ou seja, fora da China incluindo Hong Kong, vão continuar fechadas, diria, até 2023”, apontou.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaLAG 2022 | André Cheong afasta criação de mais carreiras especiais na Função Pública O secretário André Cheong, disse que a criação de mais carreiras especiais na Função Pública está fora dos planos do Governo. “Já simplificámos algumas carreiras e iremos continuar. O Governo vai continuar a trabalhar por esta via, reduzindo as carreiras especiais. Não podemos ter muitas, pois assim não conseguiremos trabalhar em prol da progressão dos trabalhadores.” Vários deputados chamaram ainda a atenção para as condições salariais dos funcionários públicos das camadas de base, com salários mais baixos. Mas o secretário apenas respondeu com prudência. “Não estamos a pensar na revisão do regime salarial dos trabalhadores. Temos de ser muito prudentes no ajustamento das carreiras e dos índices [salariais], porque está tudo interligado. Se fizermos um ajustamento numa carreira, aparecem trabalhadores de 30 carreiras a dizer que essa mudança não é justa”, rematou. Função pública | Regime disciplinar vai ser revisto André Cheong referiu que é intenção do Governo rever todo o regime disciplinar na Função Pública após a revisão do regime de responsabilização de dirigentes e chefias. “Quando aplicamos o regime disciplinar aplicamos o regime geral das infracções, mas isso já não está de acordo com o desenvolvimento da sociedade. No próximo ano vamos rever o regime disciplinar de todos os funcionários públicos.” Estas mudanças poderão incluir ainda uma revisão ao nível das disposições do Código Penal, frisou o secretário. “Estive cinco anos no CCAC [Comissariado contra a Corrupção] e vi vários casos desses. Há que melhorar todo o regime”, adiantou.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaGoverno Electrónico | Cooperação com grupo Alibaba vai continuar Termina no final deste mês o acordo-quadro de cooperação entre o Governo e o grupo chinês Alibaba, mas André Cheong garantiu que a ligação irá continuar. Porém, o secretário para a Administração e Justiça admitiu que Macau “tem um grande atraso” na modernização da máquina administrativa O Governo vai continuar a cooperar com o grupo chinês Alibaba, fundado por Jack Ma, ainda que o acordo-quadro assinado em 2017 chegue ao fim no final deste mês. A garantia foi dada pelo secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, no debate de ontem sobre o relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para o próximo ano. “A cooperação vai findar no final deste mês e, de uma forma geral, os resultados foram satisfatórios. Criámos o centro de computação em nuvem, bem como a reestruturação da conta de acesso comum. Vamos manter as relações com o grupo Alibaba e alargar os projectos a construir”, apontou. Além disso, André Cheong adiantou que o grupo vai também dar formação a funcionários públicos. “O grupo Alibaba vai destacar professores e vamos enviar trabalhadores para estagiar [na empresa] e aprender novidades.” De resto, o secretário sublinhou que a governação electrónica é a grande aposta para a reestruturação da Administração Pública, embora admita que em Macau exista “um grande atraso” nesta matéria. “Eu e o Chefe do Executivo já fomos várias vezes a Guangzhou, que registou um grande progresso na área da governação electrónica. Temos de trabalhar ainda mais nesta área. A promoção do Governo electrónico não é uma missão, mas uma obra a longo prazo para melhorar a máquina administrativa”, frisou. Registos mais simples Foram vários os deputados que exigiram esclarecimentos sobre a modernização da Administração. André Cheong assegurou que mais de 100 serviços públicos estão integrados na plataforma “Acesso Comum aos Serviços Públicos”, e que até 31 de Outubro mais de 255 mil residentes abriram conta na plataforma, mais 2,8 vezes face ao ano passado. André Cheong garantiu que há mais serviços que podem ser integrados, nomeadamente apólices de seguros. “Podemos contactar as seguradoras [sobre a possibilidade] de os serviços de automóveis poderem ser incluídos na conta de acesso comum, como, por exemplo a apólice de seguro e o imposto de circulação.” Além disso, os cartões de estudantes ou profissionais, como da Associação dos Advogados de Macau ou mediadores imobiliários, podem ser inseridos na conta de acesso comum. Contudo, André Cheong deixou uma ressalva: “não esperamos que esta seja uma conta muito complexa, caso contrário não conseguiremos aceder a nada”. “Não vamos introduzir todos os serviços na conta de acesso comum”, frisou. O Governo pretende ainda digitalizar e simplificar serviços de registo civil e notariado. “Não pretendemos fazer uma simples electronização dos serviços. Queremos que o registo de nascimento e óbito não tenha de ser feito presencialmente, enquanto que para o registo de divórcio e casamento [as pessoas] só tenham de ir uma vez tratar das formalidades. Temos de ajustar as leis notariais e do registo civil”, explicou o secretário. Modelo do BIR muda Wong Pou Ieng, directora dos Serviços de Identificação, adiantou ontem que o actual modelo do BIR deverá sofrer alterações, mas não para já. “Estamos a rever os termos de encriptação do nosso modelo, porque estão muitos dados inseridos no chip e esta tecnologia fica desactualizada. Não vamos trocar de BIR a curto espaço. Vamos analisar se em termos técnicos e jurídicos é viável ter um BIR digitalizado. Em termos jurídicos, o bilhete em suporte físico não pode ser substituído”, adiantou, acrescentando que a mudança só deverá ocorrer em 2023.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaHoras extraordinárias | Coutinho refere lei portuguesa, mas secretário afasta problemas O deputado José Pereira Coutinho alertou para o problema do contacto dos funcionários públicos por parte das chefias após o horário de expediente, citando uma nova legislação aprovada em Portugal no passado dia 3. Este diploma proíbe que as chefias contactem os seus trabalhadores após o horário de trabalho, mesmo que estes estejam em regime de teletrabalho. “Todos os dias, depois de irem para casa, os funcionários têm de responder a mensagens no WeChat ou Whatsapp, mas também têm família e crianças. Como é que o Governo calcula essa compensação? Em Portugal há uma lei que diz que os trabalhadores não devem ser contactados depois do regresso a casa”, disse hoje no debate sobre o relatório das Linhas de Acção Governativa para o próximo ano. Em resposta, o secretário André Cheong, da tutela da Administração e Justiça, garantiu que todos os que trabalham efectivamente após o seu horário normal recebem o devido pagamento. O governante deu como exemplo a diferença entre responder a uma dúvida simples ou escrever um relatório. “Em Portugal a lei não diz que os funcionários públicos não podem responder a mensagens. É difícil calcular o tempo e não sei se existe uma situação de abuso de poder. Em Macau, por causa da pandemia, os trabalhadores tiveram de passar a trabalhar em casa, mas vamos evitar o trabalho até muito tarde. Se estes tiverem de trabalhar após o horário de expediente vamos pagar horas extraordinárias”, garantiu.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaDados pessoais | Deputado Wong Sai Man diz que actual lei “trava” troca de informações O deputado Wong Sai Man disse esta tarde na Assembleia Legislativa (AL) que a lei de protecção de dados pessoais em Macau “trava” a partilha de informações com as regiões vizinhas e a digitalização dos serviços públicos. “A lei da protecção dos dados pessoais está a travar o nosso trabalho. A troca de dados dentro dos serviços públicos não deveria ser tão limitada. É necessário rever a lei para acelerar os trabalhos da governação electrónica, temos de ter uma troca de informações com as regiões vizinhas. Será que isso pode ser feito com a actual lei?”, questionou. O secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, assegurou que o Gabinete de Protecção de Dados Pessoais terá sempre de emitir parecer antes de uma eventual revisão do diploma. “É um tema ao qual temos de dar prioridade. Vamos ver quais os dados que podem ser disponibilizados e só assim poderemos ter uma cidade digital. Em muitas das situações teremos de perguntar ao Gabinete para fazer essa transferência de dados”, concluiu.
Hoje Macau Manchete PolíticaSegurança nacional | Governo promete rever leis e reforçar actividades patrióticas O secretário da Administração e Justiça, André Cheong, disse ontem, no hemiciclo, que o Governo vai reforçar a segurança nacional em 2022, através de leis e acções de formação nas escolas e serviços públicos. Durante o debate sectorial das Linhas de Acção Governativas (LAG) para 2022, na Assembleia Legislativa (AL), André Cheong frisou que o Governo vai apresentar a alteração à “lei relativa à defesa da segurança do Estado”, a primeira desde que este diploma entrou em vigor, em 2009. “Ao longo dos 12 anos de execução da lei relativa à defesa da segurança do Estado, a situação da segurança internacional e das regiões vizinhas tem vindo a modificar-se, pelo que as garantias do sistema jurídico do Governo da RAEM para a defesa da segurança do Estado devem também acompanhar a evolução dos tempos no sentido de salvaguardar a soberania, a segurança e os interesses do desenvolvimento do Estado, de modo a prevenir e reprimir eficazmente a intervenção estrangeira e garantir efetivamente os direitos e interesses legítimos dos residentes e a prosperidade e a estabilidade da sociedade”, lê-se no documento. Reforço do patriotismo André Cheong prometeu ainda que para o ano os trabalhadores dos serviços públicos participarão em acções de formação sobre a Constituição e a Lei Básica, a lei relativa à defesa da segurança do Estado, a cultura chinesa, entre outras, com a finalidade “de aprofundar o sentido de identidade nacional dos trabalhadores dos serviços públicos e aumentar a sua capacidade na realização dos trabalhos da ação governativa”. Para 2022, o patriotismo também será reforçado nas escolas e associações através de “diversas actividades de divulgação jurídica centradas na Constituição, na Lei Básica, na lei relativa à defesa da segurança do Estado e nas leis fundamentais relacionadas com a vida quotidiana”.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteNuno Júdice, poeta | A poesia é a relação com a vida “A Estrofe que Dança”, uma antologia de poemas do mexicano Rámon López Velarde é o mais recente projecto editorial de Nuno Júdice, mas o poeta português está a preparar dois novos livros, um inédito e uma antologia poética. Em conversa com o HM, o autor lamentou que a poesia contemporânea tenha esquecido as influências clássicas Acaba de lançar uma antologia de poesia de Ramón López Velarde. Como surgiu a oportunidade de editar este projecto? Conheci a poesia de Velarde no México. Foi o primeiro contacto que tive com a biografia. Na Cidade do México, a Casa da Poesia foi construída no sítio onde viveu. É um espaço que todos conhecem, um centro da poesia da América Latina. [Velarde] interessou-me porque tem, no fundo, um universo com tópicos que passam pela vida na província, pelos costumes camponeses, pela memória da infância, muito ligada à Igreja, e as figuras dessas cidades. Eram, na altura, cidades muito pouco cosmopolitas. Isso tem muito a ver com as minhas memórias do Algarve e dessa relação com uma vida ainda rural. A antologia nasceu do facto de este ano ser o centenário da morte do poeta e por sugestão da embaixada do México para que fizesse esta antologia. Como tenho relações pessoais com o México, e sendo um país de que gosto muito, não foi uma imposição, foi algo que aceitei com muito gosto. Que linha orientadora seguiu para a selecção dos poemas? Velarde tem uma obra relativamente escassa, só publicou três livros, e não foi muito difícil fazer essa selecção. Quis dar um pouco os vários aspectos da sua poesia. Há uma parte que está ligada à influência da poesia sul-americana da época, uma poesia influenciada pelo pan-asianismo francês, com um certo formalismo na escolha do vocabulário, uma escolha muito erudita, mas não incompreensível, como alguns pan-asianos. Depois existem os poemas que se ligam a memórias da sua adolescência, o tempo passado no seminário, e os personagens familiares, pessoas ligadas a uma burguesia rural rica. Ele descreve os interiores das casas, as mulheres que tinham uma sensualidade que o atraía, embora ele fosse religioso. Depois um outro campo de poemas que são inspirados pelos dois amores que teve. São poemas em que esse amor é quase um canto desesperado para atingir o impossível. Quando vai para a Cidade do México já tem uma vida mais cosmopolita, e é a terceira parte da poesia, em que vemos toda a cultura da época, a atracção pelos bailados. A obra de Velarde tem também poemas relativos a esse cosmopolitismo e às mudanças políticas, em que se passa de um momento em que o país vive agitado e entra depois na normalidade. É um poeta muito rico em termos de figuras da sociedade e, ao mesmo tempo, dá-nos um lado biográfico fascinante. Ao lermos Velarde acabamos por compreender o México. Traduzi o poema final, que se tornou numa espécie de poema nacional do México, e onde temos uma visão do país desde a conquista até à actualidade. Esse é um dos grandes poemas do Velarde, embora já não tenha um aspecto mais pessoal da sua vida. Há dois poetas em Portugal que podemos comparar [com Velarde]. Um deles é o Cesário Verde, que dá a visão de uma Lisboa que ainda é campo, mas que já começa a ser uma cidade cosmopolita, e depois João Lúcio, um poeta pouco conhecido em Portugal. É do Algarve e também fala na sua poesia da sociedade do seu tempo. Publicar Velarde em português permite o acesso à poesia sul-americana? É uma poesia ainda pouco conhecida no universo da língua portuguesa? Sim. Têm havido algumas traduções dos grandes poetas sul-americanos da época, mas o mais conhecido continua a ser o Jorge Luís Borges que apaga um pouco todos os outros. Em relação a nós, é o Fernando Pessoa. Julgo que esta tradução pode ajudar a suscitar curiosidade por outros poetas e pela grande poesia da América Latina desde o fim do século XIX. Alguns dos grandes poetas espanhóis são sul-americanos. Publicou no ano passado “O Regresso a um cenário campestre”, depois de ter lançado também um livro de poesia em 2019. Depois desta antologia, planeia escrever um novo livro de poemas? Sim. Estou a preparar uma antologia dos 50 anos de poesia, o primeiro livro é de 1972 (risos). Já lá vai um tempo. Esse livro deve sair em Março ou Abril. Estou também a escrever um novo livro que sairá depois do Verão, lá para Setembro ou Outubro. Está no processo retrospectivo de olhar para tudo o que já escreveu. Como tem sido esse trabalho? Quando se lê tudo o que está para trás às vezes temos a tentação de pôr muitas coisas de lado. Ao longo da minha poesia tenho mantido a escrita sobre os mesmos temas, há um desenvolvimento e uma aproximação dessas realidades que vão amadurecendo com o tempo. Não rejeito nada daquilo que escrevi. É como se fosse um livro que tivesse começado a ser escrito em 1972 e que ainda continua. Fazer esse exercício é como se olhasse para si próprio. Sim. Há por vezes poemas que têm a ver com a época, um bocado mais formais, dos anos 70 e princípios de 80. São mais jogos de palavras. Mas, felizmente, nunca fui muito por esse caminho. Tenho mantido uma linguagem e uma temática muito pessoais. Considera-se um poeta dos sentimentos? Sim. O que talvez distinga a poesia da ficção é esse olhar para dentro. E quando olhamos para dentro há muitas memórias e imagens, lembranças da cultura e do que lemos. Mas o que há também é a relação com a vida. O sentimento tem uma parte importante. Como olha para a poesia que se faz hoje em dia? Há uma nova poesia e poetas importantes que ganharam já um lugar, na poesia feminina, mas também alguns poetas que se têm afirmado neste século. Na minha geração tínhamos muita influência da poesia francesa, e líamos e aprendíamos com a poesia portuguesa do século XIX, com Almeida Garrett, António Nobre, Cesário Verde. Hoje essas marcas culturais já não estão tão presentes. Há um afastamento da cultura mais clássica? Sim. E há também uma maior aproximação ao quotidiano, com uma linguagem mais próxima realidade contemporânea. Já não é uma língua poética como era na minha geração. Falamos de uma “poesia express”, para se ler no rodopio dos dias? Sim, e às vezes o problema é esse, porque depois perde-se. É uma poesia que vai desaparecendo quando a realidade passa a ser outra. Mas esse é o problema em relação à poesia desde sempre. Acha que a poesia tem menos qualidade? Não. A língua portuguesa presta-se muito à poesia, e é uma forma de expressão histórica e natural. Diria que, nesse aspecto, a qualidade da escrita a poesia mantém-se a um nível elevado. Às vezes é só preciso atingir a capacidade de fazer com que o poema permaneça e que comunique. Para mim, um aspecto essencial é que o poema fale com o leitor e que haja um diálogo entre os dois. Isso é o mais difícil. Com as redes sociais e a era digital é mais fácil publicar poesia e ficção sem que haja um filtro? Claro. O poema impresso, o livro, é fundamental. No meu caso, quando estou a ler as provas, percebo o que funciona e o que não funciona. Ver na Internet, num ecrã, há um contacto demasiado directo e não há distância que permita separar o que é bom do que é mau. Esse trabalho sobre a linguagem é fundamental.
Pedro Arede Manchete SociedadeCovid-19 | Alvis Lo rejeita vacinação ou teste obrigatório em crianças No seguimento da aprovação da vacinação a partir dos três anos, o Director dos Serviços de Saúde, Alvis Lo Iek Long, garantiu que a apresentação de certificado de vacinação ou teste negativo à covid-19 não será obrigatória para ir à escola, como já acontece na Função Pública. Nova aplicação do código de saúde com função de rastreio já foi descarregada 40 mil vezes Alvis Lo Iek Long, director dos Serviços de Saúde (SSM) assegurou ontem que, apesar da inclusão da faixa etária entre os 3 e os 11 anos no grupo elegível para ser inoculado contra a contra a covid-19, a apresentação de certificado de vacinação ou resultado negativo de um teste de ácido nucleico, não será obrigatória para as crianças irem à escola. Citado pelo canal chinês da TDM-Rádio Macau, o responsável disse que, pela sua natureza, as escolas não podem seguir o exemplo da Função Pública, mas que o aumento das exigências de vacinação será bem-vindo, desde que não vá contra a o princípio da voluntariedade. “Não podemos impor esse tipo de restrições ao nível da vacinação, impedindo assim as crianças [não vacinadas] de ir à escola”, apontou o director dos SSM, referindo-se aos alunos do ensino não superior. Recorde-se que, actualmente, as orientações dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP) estipulam que todos os funcionários públicos tenham de apresentar comprovativo de vacinação ou teste de ácido nucleico com resultado negativo feito nos últimos sete dias. Tudo vai bem Sobre a nova aplicação para telemóvel do Código de Saúde, que inclui a funcionalidade de registo de itinerários das população e está actualmente em fase experimental, Alvis Lo revelou que o software já foi descarregado por 40 mil utilizadores desde o seu lançamento a 28 de Novembro. O responsável classificou ainda a resposta da população como “positiva” e salientou que “não foram identificados grandes problemas” com a utilização da aplicação. Paralelamente, acrescentou, está a decorrer um programa de sensibilização que visa os proprietários de estabelecimentos e outras instituições. Questionado sobre a utilização da aplicação de rastreamento será obrigatória para frequentar transportes públicos, Alvis Lo disse que o tópico terá que ser estudado. Recorde-se que a nova aplicação serve para fazer um ‘scan’ a um código QR dos locais frequentados, permitindo assim a entrada no interior dos espaços e registar o percurso dos utilizadores. Relativamente ao alargamento do prazo dos testes de ácido nucleico de 48 horas para sete dias, para entrar em Zhuhai, Alvis Lo referiu que a decisão foi tomada após um “estudo de ambos os lados da fronteira”, lembrando que as medidas anti-epidémicas de Macau são “altamente consistentes” com as restrições impostas pela Comissão Nacional de Saúde.
João Santos Filipe Manchete SociedadeTurismo | Número de visitantes a subir e CCTV elogia Macau Um “ponto iluminado”. É desta forma que um dos principais órgãos estatais chineses elogiou a RAEM e as medidas de controlo da pandemia A RAEM é um “ponto iluminado” para o turismo, devido à segurança e às medidas aplicadas para controlar a pandemia. Os elogios partiram de um artigo publicado na segunda-feira no canal estatal CCTV, citado pela Reuters, sobre o mercado do turismo do Interior este ano. A região de Macau é assim destacada no que diz respeito às previsões sobre o crescimento do turismo por parte dos cidadãos do Interior. De acordo com as estimativas oficiais, apresentadas pela CCTV, até ao final do ano o mercado do turismo do Interior deverá ser de 25,62 milhões de viajantes, o que representa um aumento de 25 por cento face a 2020, quando o número registado foi de 20,34 milhões de viajantes. No entanto, grande parte dos turistas não viajaram para Macau. De acordo com as estatísticas oficiais, entre Janeiro e Setembro, a RAEM foi visitada por 5,24 milhões de pessoas do Interior. O número de 25,62 milhões de viajantes está muito longe dos níveis pré-pandemia, quando o mercado do turismo do Interior representava um valor superior a 100 milhões de turistas e 255 mil milhões de dólares norte-americanos em despesas nos lugares visitados. Macau tem sido um dos destinos mais afectados com a queda do turismo do Interior. No ano de 2019, o último antes da pandemia, a RAEM tinha recebido 27,93 milhões de turistas do Interior. Em 2020, os visitantes foram “apenas” 4,75 milhões. E o futuro? As estatísticas oficiais não apresentam estimativas para o mercado do turismo no próximo ano. No entanto, a mensagem transmitida é que as viagens podem ser facilitadas, dependendo das medidas de controlo da pandemia adoptadas pelos diferentes destinos. Segundo a CCTV, citada pela Reuters, o ritmo da recuperação em 2022 vai “depender de como cada destino lidar com a pandemia”. Com as medidas restritivas de circulação em Macau e o encerramento ao exterior, tal poderá indicar que o mercado vai continuar a crescer. Macau é uma das poucas jurisdições com uma bolha de viagem com o Interior, que dispensa o cumprimento de medidas de quarentena. Estas só são implementadas quando são detectados casos em regiões específicas ou na própria RAEM. O Governo já mostrou vontade de recuperar entradas ao nível das visitas de excursionistas, suspensas desde o início da pandemia. Esta retoma seria um reforço para o turismo local. Contudo, Ho Iat Seng já indicou que a taxa de vacinação entre a população vai ter de subir para 80 por cento. Por outro lado, o esforço pode implicar que a RAEM vai continuar a exigir quarentenas elevadas a destinos considerados de risco elevado, como é classificado todo o mundo, à excepção do Interior, Hong Kong e Taiwan.
João Luz Manchete PolíticaEducação | Marcelo e Ho aplaudem cooperação no ensino superior Ho Iat Seng e Marcelo Rebelo de Sousa participaram na abertura da Conferência do Fórum de Gestão do Ensino Superior nos Países e Regiões de Língua Portuguesa. Os governantes destacaram o papel da cooperação das instituições de ensino superior na divulgação da língua portuguesa, na formação de quadros qualificados e na preparação para os desafios da era pós-pandémica O Instituto Politécnico de Macau e o Instituto Politécnico de Setúbal recebem até sexta-feira a 11.ª Conferência do Fórum de Gestão do Ensino Superior nos Países e Regiões de Língua Portuguesa (FORGES), transmitida simultaneamente na internet para países e regiões de língua portuguesa, para o Interior da China e para Macau. O evento tem como objectivo “aproximar toda a comunidade académica, em especial decisores da política educativa, membros dos órgãos de gestão das instituições de ensino superior, administradores, docentes e investigadores”, com o intuito de reflectir sobre os principais temas estruturantes do ensino superior, assumindo-se como espaço de cooperação, partilha, aprendizagem e investigação de referência”. Ao longo desta semana, até sexta-feira, o evento vai reunir investigadores e instituições de ensino superior de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor. No discurso de abertura, o Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, começou por afirmar que o formato da conferência online se “enquadra perfeitamente no tema ‘A Cooperação no Ensino Superior dos Países e Regiões de Língua Portuguesa Perante os Desafios Globais’”. O Chefe de Estado agradeceu a hospitalidade do Instituto Politécnico de Setúbal e o “empenho particular do Instituto Politécnico de Macau”, e afirmou que o Ensino Superior tem de estar à altura dos desafios que o Mundo tem pela frente. O Presidente português destacou o desempenho das instituições académicas durante as fases mais difíceis da pandemia, principalmente em termos de resposta científica, pedagógica e de apoio social aos estudantes e o serviço à comunidade. Mas também minimizando o impacto da pandemia, contribuindo com conhecimento importante para a testagem, criação de equipamentos e sensibilização para a vacinação. “Como académico que sempre fui e serei, a dimensão mais importante da minha vida, mas também como Presidente da República Portuguesa, quero testemunhar-vos a solidariedade, em torno dos valores que são os nossos e são os vossos”, afirmou realçando o empenho das instituições, “no sentido de recomeçar e ressurgir neste período, quase, quase, quase pós-pandémico”. O papel que lhe cabe Por seu lado, Ho Iat Seng garantiu que Macau assumirá o papel de servir de “plataforma sino-lusófona, aprofundando os intercâmbios e a cooperação entre a China e os Países de Língua Portuguesa”. O Chefe do Executivo assinalou que o Governo da RAEM apoia a cooperação profunda com os Países de Língua Portuguesa no ensino superior e na formação de quadros qualificados. Assim sendo, o governante garantiu que serão dadas condições para o “intercâmbio de professores e alunos, de organização conjunta de cursos conferentes de grau académico e de construção conjunta de laboratórios de investigação e a formação de mais quadros bilingues em chinês e português”. O evento junta mais de 500 participantes, vindos de mais de 60 instituições de ensino superior e instituições dos países e regiões de língua portuguesa.
Pedro Arede Manchete PolíticaTalentos | Comissão não esclarece exclusões por nacionalidade A nova lei de captação de talentos que se encontra em consulta pública prevê a exclusão de indivíduos de “determinadas nacionalidades”. A Comissão de Desenvolvimento de Talentos recusou-se a especificar ao HM os países excluídos e vincou que a medida tem como referência a experiência das regiões vizinhas, nomeadamente Hong Kong A Comissão de Desenvolvimento de Talentos (CDT), entidade responsável por submeter a consulta pública o novo Regime de Captação de Quadros Qualificados, escusou-se a esclarecer as nacionalidades que podem justificar a exclusão de candidatos que pretendam trabalhar em Macau. Recorde-se que no capítulo referente aos factores de ponderação, a nova lei prevê, sem especificar, que algumas nacionalidades possam servir de argumento para excluir candidatos. “O Programa de Captação de Quadros Qualificados não é aplicável a indivíduos de determinadas nacionalidades (caberá aos serviços competentes a apreciação e imposição de restrições)”, é referido no documento que está em consulta pública até 24 de Dezembro. Questionado pelo HM sobre os países a que se refere o novo regime e as razões para introduzir as restrições, a Comissão de Desenvolvimento de Talentos, limitou-se a dizer que a medida está em linha com as práticas de outros países e regiões. “O facto de prever a não aplicabilidade do programa a indivíduos de determinadas nacionalidades tem por referência a experiência adquirida em programas semelhantes praticados por outros países e regiões, cabendo futuramente aos serviços competentes proceder à apreciação desta matéria”, pode ler-se na resposta enviada ao HM. Sobre a possibilidade de a medida ser considerada discriminatória, dado que pode resultar na exclusão de talentos necessários a Macau, não pela sua qualificação profissional, mas devido à proveniência dos quadros qualificados, a CDT não respondeu directamente, mas acrescentou que a sua principal inspiração foi o “Quality Migrant Admission Scheme”, de Hong Kong. “Tomando como referência as experiências das políticas de captação dos quadros qualificados das outras regiões, também existem restrições dirigidas a determinados destinatários, como o ‘Quality Migrant Admission Scheme’ de Hong Kong, que também não é aplicável aos cidadãos de certos países”, acrescentou o organismo. De referir que o “Quality Migrant Admission Scheme” não é aplicável a nacionais do Afeganistão, Cuba, Laos, Coreia do Norte, Nepal e Vietname, não constando no regulamento do plano qualquer explicação adicional sobre a matéria. Como água Na resposta enviada ao HM, a Comissão de Desenvolvimento de Talentos vinca que o novo Regime de Captação de Quadros Qualificados “irá prever critérios de notação que sejam abertos e transparentes”, assentando sobretudo em factores de ponderação como a habilitação académica, qualificação profissional ou credenciação sectorial, experiência profissional e realização pessoal. “Os indivíduos provenientes de outros locais podem apresentar a sua candidatura e aqueles que satisfaçam os requisitos essenciais, de acordo com a sua classificação e pontuação atribuída, poderão preencher as devidas quotas”, apontou a CDT. Recorde-se que o novo regime de captação de talentos prevê três programas de diferentes níveis, designados como “quadros altamente qualificados”, “quadros de excelência” e “quadros altamente especializados”. Entre as principais metas está a necessidade de desenvolver as áreas da saúde, finanças modernas, tecnologia de ponta e cultura e desporto para construir a zona de cooperação de Hengqin e colmatar lacunas de recursos humanos. O número total de quotas anuais de todos os programas não deve exceder as mil.
Hoje Macau Manchete SociedadeVacina da Sinopharm aprovada para crianças a partir dos 3 anos O Governo aprovou a vacinação para maiores de três anos com a vacina inactivada da Sinopharm. A informação foi revelada através de um despacho do Chefe do Executivo, publicado ontem em Boletim Oficial (BO). “A vacina inactivada é aplicável às pessoas com idade igual ou superior a três anos e inferior a 60 anos e às pessoas com idade igual ou superior a 60 anos com boas condições de saúde e maior risco de exposição”, pode ler-se no despacho. Por outro lado, a vacina contra a covid-19 da BioNTech, baseada no RNA mensageiro (mRNA), continua apenas aplicável a maiores de 12 anos, é dito na mesma nota. Dado que o despacho entrou ontem em vigor, os pais ou encarregados de educação das crianças incluídas no intervalo etário podem proceder de imediato à marcação da vacina. Em comunicado, o Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus lembra que os menores de 18 anos que pretendem administrar a vacina contra a covid-19 devem obter o consentimento dos pais ou tutores. Seguir o exemplo A decisão das autoridades de Macau, vem no seguimento do anúncio da inclusão das crianças entre os 3 e os 11 anos no lote de elegíveis para a toma da vacina, tanto no Interior da China, como em Hong Kong. Recorde-se que na sexta-feira, o Centro de Coordenação indicou que a taxa de vacinação em Macau atingiu os 70 por cento, uma percentagem que inclui pessoas inoculadas com a primeira e segunda dose, mas que “continua baixa” entre os idosos. Isto, tendo em conta que a percentagem de habitantes com as duas doses tomadas é de 58,96 por cento. O Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus indicou que a taxa de vacinação mais baixa se verifica a partir dos 60 anos: 57,8 por cento entre os 60 e os 69 anos, 37,1 por cento entre os 70 e os 79 anos e 12,2 por cento no grupo de pessoas com idade igual ou superior a 80 anos. As maiores taxas de vacinação concentram-se entre os 20 e 29 anos (91,4 por cento), entre os 30 e os 39 anos (94 por cento) e entre 40 e 49 anos (97,8 por cento). Na mesma ocasião, Centro de Coordenação aproveitaram para frisar que “o risco de ocorrência de doença grave e até mortal”, nesse grupo etário, “após a infecção por covid-19 é 100 vezes maior do que o normal” e que os idosos que não foram vacinados “apresentam um risco de infecção grave e de morte nove vezes maior do que os idosos que foram vacinados.
Pedro Arede Eventos MancheteRota das Letras | Festival literário decorre entre 3 e 5 de Dezembro A 10.ª edição do Rota das Letras realiza-se de 3 a 5 de Dezembro e conta com a participação de José Eduardo Agualusa e João Morgado. Deolinda da Conceição e o papel da mulher na literatura de Macau é o tema de abertura do festival literário, que inclui lançamento de obras, representações, concertos e exposições O festival literário, Rota das Letras, está de volta a Macau entre os dias 3 e 5 de Dezembro e, como já vem sendo habitual, terá na Casa Garden uma base para homenagear e interagir com autores, apresentar novas obras e providenciar uma série de eventos que vão desde workshops de literatura infantil e concertos, às artes de palco, passando por exposições de fotografia e escrita. José Eduardo Agualusa e João Morgado marcam presença virtual no evento. Em foco na abertura daquela que é a 10.ª edição do festival literário do território, estará a escritora macaense, Deolinda da Conceição, que dará o mote para se descortinar sobre o papel da mulher na literatura e na sociedade de Macau. No centenário do nascimento da escritora macaense, o Rota das Letras leva ao palco principal do evento uma série de escritores, académicos e tradutores para “celebrarem a sua vida e obra”. Além disso, pode ler-se numa nota oficial, será levada à cena uma performance baseada no seu livro de contos, “A Cabaia”. A produção, a cargo do grupo de teatro experimental “Artistry of Wind Box” será exibida nos dias 4 e 5 de Dezembro, na Galeria da Livraria Portuguesa. Entre os escritores que vão participar na edição deste ano do Rota das Letras, destaque para o angolano José Eduardo Agualusa, que falará virtualmente e a partir do exterior, da obra “Paraíso e de Outros Infernos”, um livro de crónicas que vai passar agora a ter edições em língua chinesa e inglesa. Também à distância, mas com o apoio da tecnologia, o escritor português João Morgado irá marcar presença para apresentar a obra “Contos de Macau”, uma colectânea que resulta da anterior passagem do autor pelo Festival Rota das Letras, em 2017. Entre as obras não editadas pelo Rota das Letras que serão apresentadas no palco da Casa Garden, destaque para “Farol”, da escritora chinesa Wang Yixin, “Amor Incondicional”, romance de ficção científica assinado por Leong Sok Kei, “Eu Desenho a Minha Vida”, da escritora e designer Un Kei; “Desenhando a Minha Cidade”, antologia poética de Arthur Ng, “Para Além da Memória”, do arquitecto André Lui e “Retratos de Luso-Asiáticos do Sri Lanka, do também arquitecto João Palla. O segundo dia do festival, terminará com uma sessão de poesia, organizada pela associação “Macau Outersky Poets”, que será também responsável por realizar um workshop de literatura infantil. A iniciativa será conduzida por Jojo Wong, vice-presidente da associação. Outras paragens De Macau para Praga, o centésimo aniversário do nascimento de Jorge Listopad, escritor, crítico literário e encenador, dá o mote para levar o Rota das Letras até Praga, capital da República Checa, onde Joaquim Coelho Ramos, director do IPOR nos últimos três anos, ficará a cargo de homenagear o autor. Passando para o palco, estão previstas seis representações da peça “Por Confirmar”, baseada na obra “A Alma Perdida”, da escritora polaca Olga Tokarczuk, Prémio Nobel da Literatura em 2018. Todas as sessões, ainda sem data, terão lugar no terraço do edifício Bela Vista, na Residência do Cônsul de Portugal em Macau. A encenação é da responsabilidade do grupo de teatro “Cai Fora”. Ao longo de duas noites do festival, o Art Garden vai ainda acolher uma performance da autoria de Isaac Pereira (texto) e François Girouard (música) intitulada “Não-Querer-Saber-de-Nunca-Saber-para-Onde-Ir”. No quadrante musical, haverá lugar para um concerto da banda “Work Tone” e dos vocalistas Gabriel e Maria Monte, sendo que a ocasião servirá também para a cantora portuguesa estrear em Macau canções do seu mais recente trabalho, o EP “Laços”. O concerto está agendado para a noite de 4 de Dezembro na sede da associação “Art For All”. Já no campo das artes plásticas, serão apresentadas duas exposições. A primeira, reúne trabalhos vencedores do concurso de fotografia organizado pela Macau Closer, “Uma Estranha Familiaridade”. A segunda, dá pelo nome de “Visto com os Pés, Escrito com os Olhos” e materializa-se numa mostra de trabalhos de fotografia e escrita de Carlos Morais José e Rosa Coutinho Cabral, que estiveram recentemente presentes no Festival Literário de Óbidos (Folio). De acordo com a organização do Rota das Letras, o programa detalhado do festival será divulgado nos próximos dias.
João Luz Manchete SociedadeSegurança | Criminalidade violenta subiu quase 20% até Setembro Durante os primeiros nove meses de 2021, a criminalidade violenta em Macau aumentou 19,5 por cento, incluindo homicídios, rapto e ofensas corporais graves. Os crimes informáticos, burlas e infracções de taxistas foram os delitos que mais aumentaram Ao longo dos primeiros noves meses de 2021, a Polícia de Macau instaurou 8.802 inquéritos criminais, mais 24,1 por cento em relação ao período homólogo do ano passado, de acordo com o balanço da criminalidade divulgado ontem. No resumo das estatísticas do crime, o secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, evidenciou “a manutenção da casuística do crime cibernético”, e a subida de crimes relacionados com a troca ilegal de moeda. O responsável justifica as tendências com o “aumento do número de turistas entre Agosto e Setembro, período anterior ao registo de casos epidémicos e, bem assim, da frequência do uso e do tempo que as pessoas despendem nas redes sociais”. Entre os delitos com maior impacto social, destaque para a subida da criminalidade violenta, com o registo de 202 delitos violentos entre Janeiro e Setembro de 2021, face a 169 no mesmo período do ano passado, representando um aumento de 19,5 por cento. Neste capítulo, as autoridades realçam os pontos em comum dos três homicídios cometidos no período em análise. Todos estiveram relacionados com troca ilegal de moeda e tanto as vítimas como os suspeitos são oriundos do Interior da China. Todas as vítimas são mulheres “que exerciam a actividade de troca ilegal de moeda, foram mortas em quartos de hotel por indivíduos de sexo masculino que se fizeram passar por “clientes” e que, em seguida, roubaram os pertences da vítima”. Além destes fios condutores, é também mencionado que os três casos foram resolvidos com a ajuda sistema “Olhos no Céu”, apontado como determinante para resolver cerca de 30 por cento de todos os crimes. Como tal, o secretário para a Segurança afirmou que vão ser instaladas mais 300 câmaras, que devem entrar em funcionamento em 2023. Quanto aos crimes de natureza sexual, a tendência mais preocupante verificou-se no número de violações, com o aumento de 18 para 25 casos, uma subida de 38,9 por cento. Mais de metade das violações registadas ocorreram em quartos de hotel e, segundo as autoridades, 70 por cento das vítimas estaria em estado de embriaguez. Wong Sio Chak afirmou a este propósito que foram “reforçadas as inspecções nos locais de entretenimento e arredores destes”, assim como os esforços de sensibilização para a segurança pessoal. Os crimes de abuso sexual de crianças, que foram uma das manchas do ano passado, desceram 16,7 por cento para 15 casos nos primeiros nove meses de 2021, em comparação com o período homólogo de 2020. Património desprotegido Além da retoma ligeira dos crimes de usura, um clássico das estatísticas criminais do território, com o aumento de 5,3 por cento, as burlas dispararam para 987 casos, um crescimento de 47,1 por cento. A mesma tendência foi seguida pela falsificação de documentos que, com um total de 343 crimes registados, aumentou 54,5 por cento e pelas ocorrências de fogo posto, que subiram 47,8 por cento para 34 casos. Até agora, foram resolvidos 24 casos, entre os quais 12 provocados de forma dolosa devido a razões emocionais, vingança e embriaguez, e oito causados por pontas de cigarro. Depois das fortes restrições fronteiriças impostas pelas medidas de combate à pandemia, as rotas de tráfico de drogas foram interrompidas e o crime evoluiu adaptando-se à nova realidade. Nos primeiros nove meses de 2021, as autoridades registaram 64 casos de tráfico de droga, o que representou uma subida de 20,8 por cento. As substâncias apreendidas foram, principalmente cocaína, metanfetamina (Ice), canábis e suas substâncias psicoactivas (THC). Face às referidas restrições fronteiriças, “os grupos de tráfico de droga começaram a recorrer aos pacotes postais para traficar drogas para Macau”, aponta Wong Sio Chak. Maldita internet Até agora, 2021 está a ser marcado pelo crescimento exponencial dos crimes informáticos, com um total de 744 casos nos primeiros três trimestres do ano, representando uma subida de 279,6 por cento. Uma prática que se tornou particularmente frequente foi o furto de dados de cartões de crédito. Wong Sio Chak destaca as operações conjuntas das autoridades das duas regiões autónomas especiais que desmantelaram quatro associações criminosas, com mais de 50 membros interceptados, um montante aproximado de 7 milhões de patacas. Também as burlas online aumentaram, nomeadamente os “namoros” e “investimentos” com casos a aumentarem 50 por cento e 18,8 por cento, respectivamente, causando um prejuízo total de quase 60 milhões de patacas. Outro destaque negativo no período em análise refere-se às infracções cometidas por taxistas, 133 casos, que aumentaram 143 por cento. Entre os delitos as autoridades destacaram a cobrança excessiva, recusa de tomada de passageiros, regateio do preço e comportamentos indevidos, desrespeitosos ou indelicados por parte de taxistas.
Pedro Arede Manchete PolíticaAL | Comissão quer rever medidas de apoio aos desempregados A Comissão de Acompanhamento para os Assuntos da Administração Pública preteriu outros temas para se focar exclusivamente nas medidas de apoio aos desempregados. Numa altura em que a taxa de desemprego é de 3,9% e muitos recém-licenciados estão sem trabalho, os deputados querem saber que medidas vai tomar o Governo e se o regime de incentivos e formação criado em 2004 vai ser revisto Das várias cartas colocadas ontem em cima da mesa pelos deputados da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos da Administração Pública, apenas uma foi seleccionada enquanto tema a debater nos próximos tempos: o apoio aos desempregados. Para os membros da Comissão, face à subida da taxa de desemprego, fixada actualmente em 3,9 por cento, o aumento dos casos de suicídio e do número de recém-licenciados que não consegue entrar no mercado de trabalho, urge perguntar ao Governo que medidas vão ser tomadas para colmatar a situação e, por consequência, se o Regulamento dos Incentivos e Formação aos Desempregados em vigor há 17 anos vai ser revisto. “Este regulamento foi criado em 2004 e (…) estamos a constatar que há mais desemprego em Macau. Por isso, queremos saber quais as medidas de apoio que o Governo vai conceder aos desempregados e se o regulamento vai ser ou não alvo de revisão ou actualização, porque queremos também acompanhar o ponto de situação dos finalistas e desempregados”, explicou ontem Zheng Anting, que preside à Comissão de Acompanhamento. Questionado especificamente sobre os tópicos a abordar com o Governo em futuras reuniões, o secretário da Comissão, Lei Chan U, apontou que os deputados estão “preocupados com a eficácia [geral] do regulamento”, nomeadamente com os montantes dos subsídios, os “mecanismos de elevação de competitividade dos trabalhadores” e os apoios a desempregados com deficiência física ou comportamental ou dificuldades de integração no mercado de trabalho. O secretário partilhou ainda que, a reboque da pandemia, segundo um relatório do Fundo de Segurança Social (FSS), em 2020, foram recebidos 14.820 formulários de pedidos de ajuda para a atribuição de subsídios de desemprego e concedidos apoios a 5.339 candidatos, num montante de 52 milhões de patacas. O valor representa um aumento de 2,6 vezes relativamente ao ano anterior. Fica para a próxima Durante a reunião de ontem, foi também sugerido pelos deputados o acompanhamento de outros temas, como a formação de talentos, as carreiras da função pública, mecanismos e legislação afecta à zona de cooperação em Hengqin, a atracção de investimento, medidas de apoio ao sector cultural e artístico e o desenvolvimento das quatro indústrias apontadas para a diversificação económica de Macau. Contudo, após votação, ficou decidido que, a breve trecho, a Comissão irá abordar apenas o tema das medidas de apoio aos desempregados por ser uma questão complexa e premente. “Estamos a ver que o ponto de situação do desemprego implica vários serviços públicos e até o FSS. Não sabemos se a situação do desemprego ainda se vai agravar mais e, por isso, queremos acompanhar os assuntos, um por um, para podermos tomar conhecimento das medidas a adoptar pelo Governo. Só depois é que vamos acompanhar outro assunto”, justificou Zheng Anting.
João Santos Filipe Manchete PolíticaPensões | Deputados querem reforma obrigatória de trabalhadores idosos Os deputados do sector comercial e financeiro querem que o privado tenha um regime de reforma forçada, como na função pública. O objectivo é evitar o despedimento de trabalhadores mais velhos e encarar a reforma como a celebração de uma nova vida Wang Sai Man, Chui Sai Peng, Kou Hoi In e Ip Sio Kai querem que seja estabelecida uma idade de reforma, para que as empresas não tenham de despedir os funcionários. A ideia foi apresentada ontem na Assembleia Legislativa pelo deputado Wang Sai Man. “Face à necessidade de garantir a segurança no trabalho e a renovação dos recursos humanos, os empregadores só podem recorrer ao despedimento sem justa causa para despedir os trabalhadores idosos, afectando a relação laboral harmoniosa entre trabalhadores e empresas”, afirmou. Segundo Wang, estes despedimentos acabam por transformar “a reforma, que devia ser um momento para celebrar uma nova fase da vida, num cenário de usar e deitar fora”. O legislador sugeriu que o sistema de reformas da função pública fosse referência, nomeadamente a obrigatoriedade de passar à aposentação quando atingida uma idade limite. Presidente da AL apoia Durante a sua intervenção, Wang Sai Man mencionou falar em nome de Chui e Ip, no entanto, na conclusão do discurso afirmou tratar-se de um pedido conjunto dos quatro deputados do sector comercial e financeiro, o que implica que a medida tem apoio do presidente da AL, Kou Hoi In. A menção não causou alarido nem qualquer protesto de Kou. “O que falta é definir uma idade para a reforma na Lei das relações de trabalho, e que seja a mesma na função pública e no sector privado”, apelou. “Nós, os quatros deputados do sector comercial e financeiro, apelamos ao Governo para estudar o estabelecimento de um regime que defina bem a idade da reforma, aperfeiçoando a legislação, com vista a consolidar a base em prol de Macau”, acrescentou. Além da questão da relação laboral, os deputados acreditam também que um regime de reforma é benéfico para, o que dizem ser, o início de uma nova fase na vida. “Um regime humanizado com a definição da idade da reforma permite que os seniores usufruam duma vida nova e de liberdade num ambiente mais seguro e adequado”, concluíram. Online | Ma Io Fong quer jornais a transmitir energias “positivas” Ma Io Fong considera que os órgãos de comunicação social online são a principal fonte de informação dos jovens e que, por isso, devem transmitir “energias positivas”. Segundo o deputado apoiado pela Associação das Mulheres, esta responsabilidade é uma forma de consolidar a formação dos mais jovens para se integrarem na Grande Baía e no desenvolvimento social. “Os meios de comunicação online são a fonte de informação com que os jovens mais contactam. Sugiro aos diversos sectores da sociedade e aos órgãos de comunicação social que assumam a sua grande responsabilidade, e que, em conjunto, aumentem e ajudem a reunir energias positivas, com vista a fornecer informações positivas aos jovens, a promover a formação de valores éticos e bons costumes, e a criar, em conjunto, um lar saudável para o crescimento dos jovens”, apelou. Estudo de políticas | Ella Lei arrasou falta de dados Ella Lei criticou o Governo devido à falta de dados sobre desemprego ou habitação na altura de discutir políticas novas, apesar dos muitos estudos encomendados. “Nos últimos dois anos, quando a sociedade pretendeu discutir com o Governo algumas políticas, este ignorou ou rejeitou tal solicitação, com o pretexto de falta de dados”, recordou. “E, muitas vezes, o Governo até pede à sociedade para lhe facultar dados sobre desemprego, procura de emprego, trabalhadores em férias não remuneradas e necessidades e habitação”, indicou. “Os serviços públicos responsáveis pelo estudo das políticas gastam anualmente avultados montantes do erário público para incumbir instituições de efectuar pesquisas e estudos […]. Então, aquando da discussão, porque é que o Governo alega sempre ‘não ter informações’? Isto é totalmente incompreensível!”, apontou. Função Pública | Deputado alerta para trabalho depois do expediente Lei Leong Wong, deputado ligado à comunidade de Fujian, recebeu queixas de funcionários públicos devido a contactos de chefias no horário pós-laboral com pedidos urgentes de trabalho. “Embora o uso de mensagens instantâneas possa aumentar a eficiência de trabalho, aumenta ao mesmo tempo o volume de trabalho dos funcionários, especialmente no período fora do horário de expediente e nos feriados, porque têm de tratar com frequência das ordens de superiores”, relatou Lei. “Como nestas circunstâncias não estão reunidas condições para o cálculo de trabalho extraordinário, caso a situação seja comum e contínua, os direitos e o descanso dos trabalhadores são afectados”, acrescentou. Segundo Lei Leong Wong, muitas mensagens chegam aos funcionários depois das 23h ou 00h e, mesmo para tarefas não urgentes, requerem resposta imediata.
João Luz Manchete SociedadeGoverno anuncia taxa de 70%, duas doses estão abaixo de 59% O centro de coordenação anunciou na sexta-feira que Macau atingiu 70% de taxa de vacinação, percentagem que contempla o número de habitantes que tomaram pelo menos uma dose da vacina contra a covid-19. A percentagem de habitantes com as duas doses tomadas é de 58,96% O centro de coordenação de contingência anunciou na sexta-feira que Macau atingiu uma taxa de vacinação de 70 por cento, e que a “taxa de vacinação do grupo de pessoas alvo” era de 78,8 por cento. “A taxa de vacinação em Macau continua a aumentar e o Centro de Coordenação agradece a toda a população o apoio e a colaboração prestada no Programa de Vacinação”, acrescentou o organismo encarregue de combater a pandemia. Estes eram os números tendo em conta o total de habitantes inoculados com, pelo menos uma dose, às 11h de sexta-feira. O mesmo centro anunciava que às 16h do dia anterior haviam sido “administradas 877.412 doses da vacina, num total de 477.861 pessoas vacinadas, das quais 72.117 com a primeira dose da vacina, 402.310 pessoas e 3.434 pessoas completaram as duas e três doses da vacina respectivamente”. Feitas as contas, a percentagem de habitantes que haviam completado a vacinação fixava-se em 58,96 por cento. Aliás, no mesmo comunicado onde se dá conta da taxa de 70 por cento, é sublinhado que “a taxa de vacinação dos idosos em Macau continua baixa”, com as autoridades a apelarem à imunização, o mais rapidamente possível, deste segmento demográfico, especialmente “as pessoas que tenham idade superior a 60 anos”. É ainda argumentado que a investigação científica demonstra que a “ocorrência de doença grave e até mortal entre os idosos, após a infecção por covid-19 é 100 vezes maior do que o normal”. Grupos de risco Na parcela demográfica de risco mais elevado, o centro de coordenação deu conta que entre as pessoas com idades dos 60 aos 69 anos, cerca de 57,8 por cento tinha levado, pelo menos, uma dose da vacina. As coisas pioram com o avançar da idade. No grupo entre os 70 e 79 anos de idade, apenas 37,1 por cento tinha tomado, pelo menos, uma dose da vacina, enquanto no grupo com 80 anos ou mais, a percentagem era de 12,2 por cento. Neste caso, as autoridades não descriminam a proporção dos que foram vacinados com duas doses da vacina. Na sexta-feira, foi registado um caso adverso dois dias depois da inoculação da segunda dose da vacina mRNA da BioNTech. Por volta das 21h, um homem de 22 anos recorreu ao no Serviço de Urgência do Centro Hospitalar Conde de São Januário queixando-se de dores no peito, dores de cabeça e febre. Um electrocardiograma revelou alterações anormais, incluindo níveis de troponina T cardíaca “significativamente elevados”, indiciando lesão miocárdica. O paciente foi diagnosticado com miocardite, foi internado na sexta-feira à noite e, depois de tratado, as dores no peito diminuíram, apresentando condição clínica normal. Desde o início da vacinação em Macau, as autoridades registaram nove casos adversos graves em mais de 877 mil doses administradas.
Pedro Arede Manchete SociedadePaulo Pun defende espaço para migrantes expressarem opiniões Depois do CPSP ter levado 16 pessoas para a esquadra por participarem em actividades públicas afectas às presidenciais filipinas, Paul Pun considera que é preciso encontrar formas para os TNR expressarem opiniões e exercerem direitos civis e políticos. Mesmo que seja dentro de portas. “Se não for possível expressar opiniões, o resultado pode ser negativo”, alerta o responsável da Cáritas Macau O secretário-geral da Cáritas Macau, Paul Pun, considera que é preciso encontrar soluções para que os trabalhadores não residentes (TNR) possam expressar opiniões e exercer direitos cívicos e políticos em Macau. Caso os trabalhadores migrantes “se mantenham sempre calados”, o resultado “pode ser negativo”, a nível psicológico e social, apontou o responsável ao HM. A posição de Paul Pun surge depois de, no início do mês, o Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) ter “convidado” 16 pessoas da comunidade filipina a prestar depoimentos na esquadra, por estarem envolvidas em actividades públicas relacionadas com as presidenciais de 2022 do país, nas Ruínas de São Paulo e nas imediações da Torre de Macau. Para o secretário-geral da Cáritas, apesar de os TNR serem encorajados a não expressar opiniões políticas e a entregar-se apenas ao trabalho, importa não esquecer que o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos prevê que todas as pessoas têm o direito de expressar as suas convicções sobre assuntos políticos e civis. Para Paulo Pun, essa é inclusivamente uma forma de contribuir para a harmonia social. “Existe a ideia de que os TNR vêm aqui para trabalhar e não para ser cidadãos normais como os outros residentes, mas a verdade é que eles são cidadãos do mundo, quer estejam nas Filipinas ou em Macau”, começou por dizer. “Estas pessoas estavam apenas a demonstrar as suas preocupações, neste caso a apoiar um candidato às eleições do seu país. Macau não é um bom lugar para expressar este tipo de opiniões e vê, no geral, a vinda destas pessoas apenas na perspectiva laboral e não para ‘perturbar’ a harmonia social. Mas a verdade é que as pessoas têm o direito de expressar as suas opiniões e, para mim, isso é uma forma de exercer ou contribuir para essa harmonia”, partilhou com o HM. Pontos de fuga Por isso mesmo, Paul Pun defende que devem ser criadas alternativas para que os trabalhadores migrantes tenham a oportunidade de expressar opiniões e exercer os seus direitos, mesmo que isso tenha de acontecer em privado. “O Governo local não encoraja este tipo de manifestações públicas, caso contrário não tinha encaminhado [para a esquadra] os migrantes que manifestaram a sua opinão, certo? Por isso, acho que deveriam existir grupos cívicos para permitir aos trabalhadores reunirem e vocalizarem as suas preocupações. Mesmo que seja dentro de portas, deve ser possível que se juntem para exercerem os seus direitos”, sublinhou. Para Pun, se os TNR “se mantiverem sempre calados e não puderem expressar opiniões”, o resultado pode ser “negativo”, até porque através destas manifestações “é possível aprender” e “compreender melhor a sua forma de pensar”. Recorde-se que, no seguimento das detenções, está a decorrer uma investigação que pode implicar a violação ao direito de reunião e manifestação e ainda a utilização do símbolo da RAEM na produção de materiais de promoção do candidato presidencial Ferdinand Romualdez Marcos Jr.. Em resposta ao HM, o CPSP recusou ter havido qualquer detenção e sublinhou que as 16 pessoas foram apenas ouvidas como “assistentes na investigação”.
João Luz Eventos MancheteTeatro | “Projecto d’ Homens” estreia hoje na BlackBox do Antigo Tribunal A companhia d’As Entranhas Macau apresenta hoje e amanhã no Antigo Tribunal a peça “Projecto d’ Homens”. O HM falou com Vera Paz, responsável pela encenação, direcção artística e dramaturgia, sobre os momentos que antecedem as pancadas de Molière, a adaptação de um guião que passou a ser interpretado a três línguas e a desconstrução de estereótipos A horas do último ensaio geral antes da estreia de “Projecto d’ Homens”, Vera Paz confirmava que tudo estava a postos para a première hoje às 20h30 na BlackBox do Antigo Tribunal. Em vez de nervosismo, a actriz que tomou as rédeas dramatúrgicas da adapção da peça apresentada em Portugal em 2017, prefere falar do sentimento de responsabilidade que, “à medida que os anos passam, fica cada vez maior”. “Projecto d’ Homens”, que será apresentado também amanhã no mesmo lugar e hora, tem a duração de uma hora ao longo de um acto único sem interrupção, onde três actores se desdobram enquanto protagonistas, actores secundários e figurinos, numa performance que alia a fisicalidade e monólogos e diálogos em português, inglês e cantonês. Angústias, pensamentos, amores e desamores são elementos emocionais que atravessam a narrativa, exorcizando os demónios das crises de meia idade. Em palco vão estar Jorge Vale, Kelsey Wilhem e Machi Chon. Antes do ensaio geral, a encenadora descreveu ao HM o processo que culmina mais logo em palco. “Gostei muito desta experiência. Eles são muito generosos, não são actores profissionais. Os actores amadores têm a particularidade de se entregarem e amarem, de facto, aquilo que estão a fazer. Para mim, foi uma descoberta com eles, um crescendo de confiança, de segurança de parte a parte e fomos construindo assim”, conta. Na impossibilidade de trazer a Macau o formato original de “Projecto d’ Homens”, devido a todas as complicações originadas pela covid-19, a peça foi adaptada com grande entrega dos actores. “Os monólogos foram escritos pelos actores e adaptados por mim. Não têm uma componente biográfica, mas realidade e ficção tocam-se”, conta. A mulher do leme Desta vez, Vera Paz não estará em palco, assumindo a direcção artística, dramaturgia e encenação. “A minha experiência profissional é principalmente como actriz, mas herdei este projecto do encenador de Portugal. A encenação é totalmente nova e o guião totalmente diferente. Apenas o conceito se mantém (o que é isto de ser homem).” Seguindo o método criativo d’As Entranhas, a improvisação é preponderante num processo sem guião estruturado à partida, mas composto em colaboração com os actores. Além disso, sem tradução simultânea e com três línguas em palco, a peça será um reflexo da cidade. “Macau também é esta realidade que todos conhecemos, este lost in translation, mas onde existe uma identidade própria”, descreve a encenadora, confessando que a confluência de línguas foi uma opção assumida. “Com certeza que haverá algo que irá escapar a quem não domine as três línguas. Mas o espectáculo também tem uma componente plástica e visual bastante forte, muito física. Portanto, acho que isso não será um problema”, explica Vera Paz. No que diz respeito ao guião, à mensagem, cada personagem chega ao palco da Blackbox com viagens diferentes e respectivas crises com variações diversas de revolta e angústia. No rescaldo do movimento #Metoo e num mundo ainda intensamente dividido e desigual, Vera Paz não considera que “Projecto d’ Homens” seja uma afirmação. “Não acho que seja um manifesto, acho até que é mais um anti-manifesto, que pretende mais levantar questões do que dar respostas”, afirmou. Durante uma hora, além de angústias e inquietações masculinas, “Projecto d’ Homens” põe em causa clichés, desconstrói estereótipos, por vezes espelhando-os, expondo as entranhas de um tema eterno e sem resolução.