SJM | Luz verde a aquisição do casino L’Arc

O Governo aprovou ontem o negócio que irá “salvar” o único casino-satélite do território, dando luz verde à aquisição do Royal Arc pela SJM Resorts. A aprovação, que surge dois dias depois do voto favorável dos accionistas do grupo, requereu pareceres de vários de serviços públicos

É oficial. O casino L’Arc faz parte do portfólio de propriedades exploradas pela concessionária de jogo SJM Resorts. O Governo deu ontem luz verde ao negócio através de um despacho do secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raymond Tam Vai Man, publicado no Boletim Oficial.

A aprovação permite a exploração de jogo, para lá de 31 de Dezembro de 2025, ao único casino-satélite do território a sobreviver às alterações que regulam a indústria dos casinos.

Assim sendo, o despacho do secretário para os Transportes e Obras Públicas indica que “foi autorizada a transmissão da concessão, de acordo com o proposto no parecer da Comissão de Terras”, depois do pedido de transmissão da fracção onde está o casino e hotel ter sido apresentado no dia 11 de Novembro.

No pedido, a SJM alegou que a “transmissão visa manter a exploração e operação contínuas do casino existente nessa fracção autónoma, que funciona como um casino satélite, transformando-o num casino pertencente à concessionária de jogos”. Além do parecer positivo da Comissão de Terras, depois de uma reunião no passado dia 4 de Dezembro, a transferência contou com a aprovação de vários serviços públicos.

“Reunidos os pareceres da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos e da Direcção dos Serviços de Turismo, o pedido foi apreciado pela Direcção dos Serviços de Solos e Construção Urbana, que se pronunciou favoravelmente por não estar em dívida prémios, foros, rendas, taxas ou impostos respeitantes à concessão e não haver indícios de que a transmissão é pedida para fins especulativos”, é indicado no despacho de Raymond Tam Vai Man.

Passo a passo

O edifício onde está o casino tem “62 pisos, incluindo dois pisos de refúgio, dois pisos de mezanine e três pisos em cave, destinado à habitação, comércio, hotel de 5 estrelas, estacionamento para habitação e estacionamento para hotel”.

Recorde-se que a SJM Holdings realizou na segunda-feira uma assembleia-geral extraordinária onde os accionistas votaram esmagadoramente a favor da aquisição do antigo casino-satélite L’Arc, segundo uma nota enviada pelo grupo à bolsa de valores de Hong Kong. A aquisição, aprovada por 99,93 por cento, irá custar 1,75 mil milhões de dólares de Hong Kong.

Nove dos 11 “casinos-satélite” de Macau já encerraram. O último a fechar portas, em 09 de Dezembro, foi o Fortuna, com mais de 550 funcionários. O décimo, o Landmark, que tem 1.169 trabalhadores, vai encerrar em 30 de Dezembro.

A SJM sublinhou que todos os funcionários dos ‘casinos-satélite’ com estatuto de residente em Macau e directamente contratados pela empresa têm emprego garantido noutros casinos do grupo. Já os outros trabalhadores locais, “são convidados a candidatarem-se a vagas relacionadas” dentro do grupo, “com prioridade para contratação” e com condições iguais às que tinham.

18 Dez 2025

FAOM | Nova direcção liderada por Lam Lon Wai quer mais patriotismo

A promoção do patriotismo é a grande prioridade da nova direcção da Federação das Associações dos Operários de Macau, que vai ser liderada pelo deputado Lam Lon Wai

O patriotismo é a principal prioridade da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) para os próximos anos. A garantia foi deixada por Lam Lon Wai, que na terça-feira foi eleito como novo presidente da direcção, após a primeira reunião ordinária da direcção da FAOM.

Em declarações ao jornal Ou Mun, Lam Lon Wai afirmou que vai continuar a promover a “tradição gloriosa do amor a pátria e a Macau da associação”, unindo os trabalhadores no apoio à governação da RAEM, de acordo com as leis em vigor. O presidente da associação também apontou que vai apostar na melhoria dos serviços da FAOM, de forma a contribuir para a “prática do princípio ‘Um País, Dois Sistemas’”, ao mesmo tempo que eleva a “atracção, coesão e capacidade de serviços” que a associação presta.

Em relação aos restantes membros da associação, num nível hierárquico inferior face a Lam Lon Wai, Kong Ioi Fai foi eleito presidente da administração da associação. Embora não seja deputado, Kong foi o mandatário da lista da FAOM, a União para o Desenvolvimento, nas últimas eleições legislativas realizadas a 14 de Setembro.

Sobre as metas para este mandato, Kong Ioi Fai indicou que os objectivos passam por apostar na defesa dos direitos laborais, em aumentar a participação na governação, ao fazer a ponte entre a população e o Governo, e ainda pela promoção de uma sociedade mais harmoniosa. A associação promete também trabalhar para implementar novos sindicatos, à luz da nova lei.

Patriotismo nas empresas

Kong Ioi Fai revelou também que a associação vai apostar na promoção do patriotismo no sector laboral, esperando criar uma cultural patriótica forte nas empresas. Esta aposta passa pelo desenvolvimento de manuais e conteúdos para os trabalhadores sobre patriotismo.

O responsável ainda revelou que a associação vai continuar a organizar concursos de competências profissionais e actividades de atribuição de prémios, para destacar os funcionários considerados de excelência em diferentes áreas.

Ao mesmo tempo, a nova direcção vai organizar mais aulas sobre inteligência artificial e comércio electrónico transfronteiriço, para formar os quadros qualificados necessários da diversificação económica de Macau. Kong Ioi Fai destacou também que a FAOM vai explorar a Zona A dos Novos Aterros Urbanos e fornecer mais apoios sociais.

Em relação aos restantes cargos da nova direcção da FAOM, a presidente da direcção anterior, Ho Sut Heng, foi eleita como presidente do Conselho Fiscal. Na nova direcção são mantidos alguns dos membros mais mediáticos dos últimos anos, como os actuais deputados Ella Lei, Leong Sun Iok, Leong Pou U e os ex-deputados Lei Chan U e Lee Chong Cheng. A nova direcção vai tomar posse a 20 de Janeiro.

18 Dez 2025

Governo | Secretários empenhados em cumprir orientações de Xi

No rescaldo do balanço de um ano de governação apresentado por Sam Hou Fai em Pequim, os titulares dos principais cargos públicos prometeram empenho na articulação com o 15.º plano quinquenal. Além disso, comprometeram-se em nortear o rumo do desenvolvimento de Macau pelas “importantes instruções” dadas por Xi Jinping

Todo o elenco governativo, e restantes titulares dos principais cargos como a Comissária contra a Corrupção, ou o Procurador da RAEM, emitiram ontem comunicados a demonstrar empenho no cumprimento das orientações dadas pelo Presidente Xi Jinping durante a apresentação do balanço do primeiro ano de governação do Executivo liderado por Sam Hou Fai em Pequim.

Ainda antes de chegar ontem à tarde a Macau, o Chefe do Executivo “expressou a sua sincera gratidão ao Presidente pelo total reconhecimento do trabalho do governo da RAEM, bem como pela orientação valiosa e instruções importantes”. Sam Hou Fai sublinhou que o Governo irá estudar e compreender “seriamente” as orientações dadas por Xi Jinping, “bem como implementá-las, firmemente” nas Linhas de Acção Governativa do próximo ano.

Recorde-se que Xi Jinping indicou que Sam Hou Fai, liderou o novo Governo da RAEM no avanço resoluto e na acção pragmática, na defesa firme da soberania, da segurança e dos interesses do desenvolvimento do país, reconhecendo “plenamente o trabalho desenvolvido pelo Chefe do Executivo e o Governo da RAEM”. O Presidente chinês frisou que a governação se deve articular com o 15.º Plano Quinquenal, “insistir e melhorar a predominância do poder Executivo, impulsionar, de forma sólida, o desenvolvimento da diversificação adequada da economia, elevar constantemente a eficiência da governação e integrar melhor a conjuntura do desenvolvimento nacional e servi-lo”.

Entusiasmo generalizado

As reacções de todos os secretários seguiram-se numa sucessão de comunicados. O secretário para a Administração e Justiça, Wong Sio Chak, “afirmou que as importantes instruções dadas pelo Presidente Xi Jinping nortearam o rumo de desenvolvimento de Macau”, e que todo o pessoal da sua tutela está “bastante entusiasmado” e empenhado em implementar as orientações.

Como todos os secretários, Wong Sio Chak garantiu que “a área da Administração e Justiça irá agir proactivamente na articulação com o 15.º Plano Quinquenal do país”, e continuar a aprofundar a reforma da administração pública, promover a governação electrónica e melhorar o funcionamento dos serviços públicos.

Já a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura afirmou que as “importantes directrizes” de Xi Jinping reforçaram a confiança e foram um “grande estímulo para a equipa” da sua tutela. O Lam acrescentou que as instruções do Presidente “são clarividentes, apresentando uma forte dimensão política, ideológica, estratégica e orientadora”, que serão tomadas como “guia de acção”.

Na mesma linha, o secretário para os Transportes e Obras Públicas afirmou que o 15.º Plano Quinquenal Nacional delineia, de forma sistemática, um grandioso projecto para o desenvolvimento nacional nos próximos cinco anos”. Raymond Tam Vai Man destacou as disposições sobre a optimização do layout económico regional e a Grande Baía, que “fornecem uma orientação fundamental para os trabalhos na área dos Transportes e Obras Públicas”. O governante acrescentou que é preciso ultrapassar os estrangulamentos do desenvolvimento de Macau através de grandes projectos de infra-estruturas de transportes e expandido o espaço urbano por meio de aterros e da renovação urbana.

Guardiões do país

Também o secretário para a Economia e Finanças, Anton Tai Kin Ip, afirmou que implementará as importantes directrizes do Presidente Xi Jinping. Além disso, garantiu que “serão consolidadas as funções de ‘um centro, uma plataforma, uma base’, aproveitando a vantagem única de Macau como ‘interlocutor de precisão’ entre a China e os países lusófonos para promover a cooperação com estes países”. O secretário acrescentou que a sua tutela está empenhada em ampliar intercâmbios internacionais, “narrando bem o capítulo de Macau das Histórias da China”.

Por sua vez, o secretário para a Segurança comprometeu-se em salvaguardar “firmemente a soberania, a segurança e os interesses do desenvolvimento do Estado, definindo os rumos sob a liderança do 15.º Plano Quinquenal, preparando-se para as adversidades em tempos prósperos”.

A intensificação da prevenção e redução dos efeitos de desastres naturais foi também destacada por Chan Tsz King, que se comprometeu em agir “contribuindo para a construção de um país forte e para a grande causa do rejuvenescimento nacional com a modernização ao estilo chinês”.

Outra prioridade avançada por Chan Tsz King, foi a facilitação das passagens fronteiriças, com particular foco na ligação entre Macau e Hengqin.

Já o director-geral dos Serviços de Alfândega (SA), Adriano Marques Ho, garantiu que, “como guardiões da segurança nacional”, irá implementar “inabalavelmente os requisitos da “perspectiva geral da segurança nacional”, combatendo “severamente” todas as actividades que ameacem a segurança nacional. O responsável acrescentou que os SA estou “incumbidos da pesada responsabilidade de salvaguardar a ordem económica da RAEM”

A comissária contra a Corrupção, Ao Ieong Seong, optou por destacar que o 15.º Plano Quinquenal exige lucidez e firmeza na luta contra a corrupção e abusos de poder.

À chegada

Durante a apresentação a Xi Jinping do balanço da sua governação, Sam Hou Fai percebeu a grande importância e preocupação que o Presidente chinês e o Governo Central atribuem ao desenvolvimento de Macau, afirmou o Chefe do Executivo à chegada à RAEM, ainda no aeroporto. O governante local reiterou os “sinceros agradecimentos” pelo apoio de Pequim e garantiu que irá unir e liderar todos os sectores da sociedade para estudar, implementar e executar plenamente os discursos e instruções “importantes” de Xi Jinping, de acordo com o canal chinês da Rádio Macau.

Sam Hou Fai afirmou ainda que as directrizes indicadas pelo Presidente chinês vão guiar o planeamento das tarefas-chave do Executivo para o próximo ano, e anos seguintes. Segundo o Chefe do Executivo, o líder chinês pediu melhorias no sistema jurídico e nos mecanismos de aplicação da lei para salvaguardar a segurança nacional.

18 Dez 2025

UCM | Livro Branco sugere métodos para acelerar diversificação económica

O “Livro Branco sobre a Cooperação Científica e Tecnológica entre a China e os Países de Língua Portuguesa”, produzido na Universidade Cidade de Macau, refere desigualdades no relacionamento entre países e conclui que “a diversificação económica tem avançado a um ritmo lento”. Bárbara Morais, redactora principal do documento, explica as principais conclusões da análise

Foi lançado, no passado dia 3 de Dezembro, um Livro Branco que traça um olhar e análise à forma como a cooperação nas áreas científicas e tecnológica entre a China, Macau e os países de língua portuguesa tem decorrido, traçando algumas críticas, não apenas neste tema, mas também no rumo económico que a RAEM está a tomar.

O documento, intitulado “Livro Branco sobre a Cooperação Científica e Tecnológica entre a China e os Países de Língua Portuguesa”, foi produzido pela Universidade Cidade de Macau (UCM) e teve Bárbara Morais, aluna de doutoramento da instituição, como redactora principal.

Esta descreve, em entrevista ao HM, que, em Macau, “a diversificação económica tem avançado a um ritmo mais lento do que o desejado, mantendo a economia estruturalmente dependente do jogo e do turismo”.

“A mensagem central do Livro Branco é clara: Macau precisa de acelerar a transição para funções de maior valor acrescentado. No entanto, o contexto actual oferece uma janela de oportunidade renovada. Com o apoio da Grande Baía e, muito especificamente, da Zona de Cooperação Aprofundada em Hengqin, Macau dispõe agora de novas oportunidades estruturais para recuperar o ritmo perdido e reposicionar-se, não apenas como uma ponte cultural, mas como uma verdadeira plataforma de inovação”, é referido.

Ainda sobre o território, mas a propósito do Fórum Macau, é referido o “sucesso na institucionalização do diálogo político”, mas o Livro Branco “aponta o dedo à insuficiência dos mecanismos de execução”. “Para agilizar o papel do Fórum e transformá-lo numa ferramenta de resultados tangíveis, o Livro Branco preconiza uma mudança de paradigma: é necessário passar das declarações de intenções para a tecnicidade”, descreve Bárbara Morais. A doutoranda sugere “a criação de grupos técnicos de trabalho especializados, sobretudo na esfera tecnológica, e a definição rigorosa de indicadores de desempenho, como o número de patentes registadas, startups criadas ou projectos de investigação conjuntos”.

“Paralelamente, sugere-se o estabelecimento de uma agenda comum focada em áreas de futuro, como a energia verde, a saúde, a economia do mar e a inteligência artificial, sujeita a uma avaliação periódica de progressos”, disse ainda.

O lugar da arbitragem

Tendo em conta estes parcos desenvolvimentos, o Livro Branco sugere que Macau se afirme “como centro de arbitragem tecnológica e governação de propriedade intelectual”.

O HM questionou Bárbara Morais sobre o que deve ser feito em termos efectivos, tendo em conta a existência, há vários anos, de um centro de arbitragem, e de ser um tópico na agenda política do território há muito tempo. A aluna de doutoramento destaca que “para que estas ideias, debatidas há anos, deixem de ser retórica e passem a realidade, a RAEM necessita de criar um quadro legal especializado em litígios tecnológicos alinhado com os padrões internacionais mais exigentes”.

“É fundamental atrair peritos e árbitros internacionais através de incentivos competitivos e estabelecer um centro de arbitragem que goze de reconhecimento tanto nos países lusófonos como na Grande Baía. O objectivo é desenvolver serviços de mediação, certificação e gestão de activos de propriedade intelectual, posicionando Macau como um ‘porto seguro’, neutro e eficiente, para a resolução de disputas tecnológicas internacionais”, acrescentou.

Cooperação desigual

Em termos globais, e no que diz respeito à cooperação entre a China e os Países de Língua Portuguesa (PLP), o Livro Branco refere o “planeamento de topo” por parte de Pequim para a cooperação nas universidades e em investigação científica. Porém, o planeamento “não se traduz, linearmente, em mecanismos de execução igualmente eficazes no terreno, nem garante resultados homogéneos entre os nove países lusófonos”.

O planeamento implica “directrizes claras, prioridades definidas e instrumentos diplomáticos mobilizados para orientar esta cooperação”, com políticas como “Made in China 2025” ou a “Rota Digital da Seda”, que “integram a cooperação tecnológica com os PLP na própria medula da política externa e de inovação nacional chinesa”, destaca a autora.

Porém, verificam-se “desigualdades, que são, porventura, o traço mais marcante desta relação”, conforme explica Bárbara Morais. “O cenário actual revela uma profunda assimetria, caracterizada por uma ‘bicefalia’ na cooperação. (…) As principais capacidades científicas, a infra-estrutura tecnológica robusta e o volume de cooperação efectiva estão esmagadoramente concentrados em Portugal e no Brasil”. Pelo contrário, “os países africanos de língua portuguesa (PALOP) e Timor-Leste apresentam uma participação significativamente menor”.

Segundo Bárbara Morais, a “disparidade não decorre de falta de vontade política, mas sim de limitações estruturais de financiamento, escassez de recursos humanos qualificados e fragilidade das instituições de investigação locais”. Verifica-se, assim, “uma cooperação a duas velocidades, muito assimétrica dentro da própria comunidade lusófona”.

O Livro Branco realça a “encruzilhada histórica” em relação à cooperação entre a China e os PLP, o que significa “a urgente necessidade de passar do potencial à concretização” nesta matéria.

“Existem visões ambiciosas e planos estratégicos, mas os resultados práticos permanecem aquém do possível. Para resolver esta encruzilhada, o caminho proposto passa por fortalecer mecanismos de execução, investir massivamente em talento e educação técnico-científica, criar ecossistemas de inovação colaborativa genuína entre a China, Macau e os PLP, e, acima de tudo, ter a coragem de medir resultados e reformular estratégias com base na evidência empírica, abandonando o discurso de circunstância em favor do pragmatismo económico e científico.”

Lacunas em África

Outra das conclusões do Livro Branco é a “tenuidade” das ligações académicas com o continente africano, que Bárbara Morais descreve como “cenário de fragilidade”. “Há uma tríade de factores: a escassez de capacidade científica instalada, a falta crónica de financiamento e programas de mobilidade consistentes”, sem esquecer “a ausência de estruturas estáveis de investigação conjunta”.

“Para colmatar este fosso e criar uma massa crítica duradoura, o Livro Branco não se limita ao diagnóstico, sugerindo medidas concretas como o reforço robusto de bolsas de investigação, a criação de programas de doutoramento conjunto, a implementação de laboratórios colaborativos e o desenho de mecanismos de mobilidade académica especificamente orientados para a realidade africana”, acrescenta.

O documento fala ainda do impacto negativo das “assimetrias geopolíticas”, tal como as “restrições tecnológicas da União Europeia e NATO a Portugal”. Segundo referiu Bárbara Morais, estão em causa “impactos reais e restritivos”. “Estas limitações condicionam a participação de Portugal e, por extensão, de outros actores lusófonos que cooperam em rede com Lisboa, em projectos de alta tecnologia que envolvam a China. O impacto é particularmente sensível em áreas nevrálgicas como as telecomunicações 5G, a defesa, a inteligência artificial e a ciber-segurança, criando barreiras que exigem uma navegação diplomática complexa.”

Novas estratégias

O Livro Branco foi desenvolvido no Instituto de Investigação sobre os Países de Língua Portuguesa da UCM, e redigido por Bárbara Morais com a participação do académico João Simões. O projecto baseia-se na revisão de literatura académica sobre o tema e ainda nos resultados do “Seminário do Lançamento da Cooperação Tecnológica”, realizado a 22 de Julho de 2025 na UCM.

A obra analisa áreas como a “evolução estratégica”, “mecanismos institucionais”, “marcos tecnológicos” e “desafios estruturais”, pretendendo “fornecer estratégias baseadas em evidências para transformar o potencial da parceria China-PLP numa realidade concreta, criando um novo modelo de cooperação tecnológica para o Sul Global”, refere um comunicado da UCM.

18 Dez 2025

Docomomo | Documentário de José Maneiras regista carreira do arquitecto

Chama-se simplesmente “Maneiras” e faz o registo audiovisual de uma obra única que não só marcou uma geração de arquitectos como deixou a sua marca no modernismo em Macau. O documentário de António Sanmarful, produzido pela Docomomo em memória de José Maneiras, começou a ser pensado em 2018 e contém testemunhos do próprio sobre aquilo que projectou

Falecido no passado dia 24 de Novembro, com 90 anos, José Maneiras, arquitecto macaense, fez muito mais do que simplesmente projectar edifícios num território exíguo e cheio de particularidades. Foi também uma figura com relevante participação cívica.

Mas a fim de deixar um registo audiovisual da sua obra como arquitecto, a Docomomo Macau começou a pensar e a planear, a partir de 2018, a produção de um documentário sobre o legado de José Maneiras, tendo convidado o realizador local António Sanmarful para o fazer. Maneiras não viveu já tempo suficiente para assistir ao documentário sobre si, apresentado esta terça-feira no auditório Stanley Ho, no Consulado-geral de Portugal, mas deixou registados bastantes testemunhos sobre aquilo que projectou.

Ao HM, Rui Leão, presidente da Docomomo Macau, diz ter trabalho de forma estreita com António Sanmarful neste projecto, a partir da exposição dedicada a José Maneiras apresentada em 2018 no jardim Lou Lim Ieoc.

“Nessa altura fizemos um levantamento das suas obras. Tratava-se de uma exposição simples, em que pretendíamos mostrar o conjunto dessa obra construída em Macau e perceber a sua importância, e percebemos que estava pouco estudada. Fazia sentido deixar o registo porque, no caso de Macau, por causa da escala da cidade e da falta de massa crítica, é praticamente inexistente o estudo de obras construídas.”

Há muito que Rui Leão se debruça a estudar e olhar a arquitectura modernista que se fez em Macau, de que José Maneiras foi um dos autores. Chama, por isso, de “ingrato” ao território, devido a essa ausência de auto-análise. “As pessoas têm um desconhecimento quase total sobre a arquitectura modernista de Macau, e nesse sentido acho que é um sítio bastante ingrato, porque não há uma cultura que celebre a memória.”

Imperava, pois, a importância de fazer este documentário, por não existir essa “diferenciação” entre as coisas boas e más que se vão fazendo, por não existir uma catalogação e análise. “Foi com essa perspectiva, e com um sentimento de uma certa tristeza por parte do arquitecto Maneiras [que se fez o documentário]”, disse ainda Rui Leão, acrescentando que “pelo facto de a obra estar tão danificada, e não se falar dela, apercebemo-nos de que era importante fazer algo que tivesse um carácter de maior permanência”.

Algumas amarguras

Formado na Escola de Belas Artes do Porto, José Maneiras trouxe maneiras diferentes de fazer arquitectura ao território. “O documentário baseia-se nas filmagens de algumas das suas obras e nos seus depoimentos. Percebemos o que um arquitecto, chegado de fresco a Macau, e com formação feita em Portugal, via de importante nas obras. Havia, digamos, uma formação modernista e coisas que Maneiras trouxe [à prática da arquitectura] de forma bastante científica, e que tinha a ver com a exposição solar [dos edifícios]. Isso era mais urgente em Macau, em relação a Portugal, por estarmos num sítio subtropical.”

Um dos primeiros projectos foi o edifício residencial São Francisco, em frente ao Clube Militar, destacando Rui Leão a preocupação de Maneiras em deixar um espaço livre em conjugação com o edifício histórico em frente.

“Ele fala um pouco sobre essa intervenção no documentário, e que de certa maneira salvaguarda o Clube Militar, ao permitir que haja ali um espaço não construído à frente [do edifício São Francisco]. Isso tem a ver com a dimensão cívica que ele também teve, de ter a preocupação com o património. Aí ele foi chamado para resolver um problema que ninguém sabia como tratar, que era aquele confronto com o Clube Militar.”

José Maneiras “teve o cuidado de rodar a torre para não ocupar a frente do Clube Militar, criando uma abertura visual e um bloco mais pequeno do outro lado, pelo que se fez ali uma praceta”, o que constitui “uma preocupação cívica notável”, defendeu Rui Leão.

O presidente da Docomomo confessou ainda algumas amarguras com que partiu José Maneiras, por ver muita da sua obra já danificada ou sem a manutenção devida. No caso do edifício São Francisco, pode ser alvo de demolição ou de obras, e “ele viveu um bocado infeliz com isso”.

“Não sei muito bem como está a situação, mas falei com o José Maneiras sobre a possibilidade de os blocos mais baixos desse edifício estarem na iminência de ser demolidos, e ele estava muito triste com isso”, acrescentou Rui Leão.

Ainda assim, “há outros edifícios dele que foram recuperados, como as residências junto ao Centro Hospitalar Conde de São Januário”, ou a residência para invisuais na zona da Areia Preta.

Projectar com pouco

José Maneiras começa a projectar em Macau ainda nos anos da administração portuguesa, quando em Portugal vigorava o regime do Estado Novo e o território estava sujeito, tal como os restantes territórios ultramarinos, aos Planos de Fomento para as questões orçamentais. O dinheiro era, por isso, pouco e controlado.

“No documentário ele fala também de coisas que eram importantes na altura, como o começar a construir em altura, o que era uma novidade, e também a economia de construção, porque nos anos 50 e 60 não havia muito dinheiro e havia uma necessidade muito maior se fazer essa economia de construção.”

José Maneiras pertenceu ao rol de arquitectos macaenses que deixaram marca, como Canavarro Nolasco da Silva e Aureliano Guterres Jorge, apesar da formação de base destes ser em engenharia; ou ainda José Lei.

“Eram pessoas integradas na sociedade de uma maneira completamente diferente [em relação a quem vinha de fora], e que entendiam as questões, estando mais perto do cliente, partilhando o mundo e modos de criar. Não digo que, teoricamente, a arquitectura de uns e outros fosse estilisticamente diferente, mas falo do facto de fazerem propostas e colocarem questões diferentes”, rematou Rui Leão.

17 Dez 2025

Futebol | Sporting quer apoiar Hengqin na formação

A pretensão do clube de Lisboa foi manifestada após uma visita à Europa da Comissão Executiva da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin

O Sporting Clube de Portugal demonstrou interesse em colaborar com Hengqin, junto a Macau, na formação de jovens futebolistas, disseram as autoridades da zona económica especial chinesa. De acordo com uma nota divulgada na segunda-feira à noite, uma delegação da Comissão Executiva da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin esteve na Europa no início do mês.

Em Portugal, a delegação visitou o Sporting Clube de Portugal, descrito como “uma potência do futebol europeu”, e “investigou o sistema de formação juvenil” da Academia Cristiano Ronaldo. De acordo com o comunicado, o clube português “expressou a disponibilidade para introduzir um sistema de formação de futebol juvenil de alto nível” na Ilha da Montanha.

Em Abril, o Governo de Macau disse que quer contratar uma equipa europeia para dar formação em futebol às camadas mais jovens, numa aposta no desenvolvimento deste desporto no território. “Este ano, vamos tentar expandir a formação de futebol para os jovens, vamos tentar contratar uma equipa da Europa para formar jovens”, disse o então presidente do Instituto de Desporto da região, na Assembleia Legislativa.

Sem avançar com detalhes sobre esta equipa europeia, Luís Gomes disse ainda que outros eventos de futebol estão para ser lançados: vão ser convidados “jovens das cidades da Grande Baía para jogar” em Macau e vai ser criada uma “taça Hengqin-Macau para promover o desporto entre os jovens”.

Muito por recuperar

A selecção masculina de Macau, composta por jogadores amadores, está actualmente classificada na 193.ª posição do ranking mundial da FIFA, composto por 210 equipas. Entre os países ou regiões de língua oficial portuguesa, apenas Timor-Leste se encontra atrás de Macau, em 198.º.

A selecção de futebol de Macau não vence um jogo desde Junho de 2019, na altura no âmbito da qualificação para o Mundial de 2022. A selecção local venceu o Sri Lanka por 1-0, na primeira mão de qualificação. No entanto, a associação abdicou do segundo jogo, porque os dirigentes tiveram medo de visitar o Sri Lanka, após a ocorrência de ataques terroristas. Desde então a selecção soma 12 encontros, com 11 derrotas e um empate.

Em Março, o deputado Eddie Wu Chou Kit defendeu a cooperação com a Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) para organizar jogos amigáveis com “equipas de topo da Europa” em Macau.

Numa intervenção no parlamento, Eddie Wu propôs “estabelecer [uma] cooperação profunda” com a LPFP para a criação, “em conjunto, de uma base permanente de treino”. O deputado explicou que o objectivo seria “atrair equipas de topo da Europa para formação e realização de jogos itinerantes, promovendo o intercâmbio desportivo e cultural a nível internacional”.

17 Dez 2025

Imobiliário | Índice revela declínio histórico na RAEM

O Índice da Grande Baía da Centaline mostra que os preços de imóveis em Macau atingiram o valor mais baixo desde que os dados são compilados pela agência imobiliária. Entre as 12 cidades da Grande Baía, apenas Hong Kong e Zhaoqing subiram, com mais 0,36 e 5 por cento, respectivamente

A agência imobiliária Centaline publicou na segunda-feira o Índice da Grande Baía, que reflecte as flutuações dos preços de imóveis para habitação nas 12 cidades incluídas no projecto regional. O panorama apresentado pela agência mostrou uma tendência geral de declínio dos preços, com os mercados de 10 das 12 cidades, com o índice geral a cair pelo quarto mês consecutivo em Novembro, com a última variação negativa a mostrar um declínio de 0,65 por cento.

Segundo um comunicado da agência, o índice de Macau em Novembro foi de 67,36, e no mês anterior de 67,53, numa métrica em que o valor base é 100. Aliás, o índice de Macau não só atingiu o nível mais baixo desde que esta análise é feita, como apresenta o valor mais baixo de todas as cidades da Grande Baía.

Entre as 12 cidades da região, apenas Hong Kong e Zhaoqing registaram subidas mensais em Novembro de 0,36 por cento e 5 por cento, respectivamente. Também em relação ao número de fracções vendidas, a agência imobiliária destaca que o tímido crescimento em Hong Kong foi o único verificado nas quatro principais cidades da Grande Baía, com Macau, Shenzhen e Guangzhou.

Pegar de empurrão

O vice-presidente do departamento residencial da agência, Chan Wing-kit, salientou que em Outubro foi aprovado o 15.º Plano Quinquenal do país e que as cidades da Grande Baía lançaram incentivos económicos, que acabaram por estimular as vendas no mercado imobiliário.

O responsável exemplificou que o volume dos imóveis em segunda mão vendidos em Guangzhou voltou a ultrapassar 9.000 transacções em Outubro (9.191), o que representou uma subida mensal de 23 por cento, isto apesar das vendas gerais terem caído.

O índice de preços do imobiliário em Shenzhen caiu pelo terceiro mês consecutivo em Novembro, atingido o nível mais baixo de sempre registado pela Centaline, apesar das vendas terem subido, face a Outubro, 6,6 por cento, para um total de 4.472 transacções.

Face a esta realidade regional, Chan Wing-kit espera que na região o foco seja impulsionar o volume de vendas, como prioridade face aos preços, cuja recuperação não estará num horizonte próximo. O índice da Grande Baía é calculado tendo em conta os preços de transacções de imóveis novos e em segunda mão, combinados com o Produto Interno Bruto anual de cada cidade.

17 Dez 2025

Trânsito | UMTEC paga 9,22 milhões a especialistas de Chongqin

A empresa de investigação controlada pela Universidade de Macau voltou a recorrer aos serviços do Instituto de Estudo de Planeamento de Tráfego da Cidade de Chongqing e da Associação de Pesquisa de Desenvolvimento Sustentável de Recursos e Economia de Chongqing no âmbito do Planeamento Geral do Trânsito e Transportes Terrestres de Macau

A UMTEC, empresa de investigação controlada pela Universidade de Macau, vai pagar 9,22 milhões de patacas a duas instituições de Chongqin, no âmbito dos trabalhos de revisão do Planeamento Geral do Trânsito e Transportes Terrestres de Macau. A informação sobre a revisão do plano que está em vigor até 2030 foi divulgada através do portal da Direcção dos Serviços da Supervisão e da Gestão dos Activos Públicos (DSSGAP).

Os trabalhos foram adjudicados no passado dia 9 de Dezembro e as entidades do Interior envolvidas são o Instituto de Estudo de Planeamento de Tráfego da Cidade de Chongqing e a Associação de Pesquisa de Desenvolvimento Sustentável de Recursos e Economia de Chongqing. Estas instituições estiveram igualmente envolvidas na criação do plano, em 2022, que posteriormente foi alvo de uma consulta pública.

Os serviços prestados pelas duas instituições à empresa da Universidade de Macau passam por auxiliar em aspectos como a análise de modelos de transporte, avaliação da eficácia do planeamento e formulação de propostas de optimização das infra-estruturas actuais. O contrato prevê a prestação dos serviços até Março de 2027, ou seja, um serviço de praticamente dois anos.

O valor pago pela DSAT à UMTEC não se encontrava ontem, à hora de fecho no HM, no portal da DSAL na zona de ajustes directos nem de adjudicações.

Revisão prevista

A revisão do Planeamento Geral do Trânsito e Transportes Terrestres de Macau estava prevista desde 2022, altura em que o actual plano entrou em vigor, na altura com o objectivo de desenvolver uma infra-estrutura de trânsito na cidade para integrar Macau na Grande Baía.

A revisão vai passar por medir a evolução de alguns indicadores das políticas de trânsito e transportes como a taxa de partilha dos transportes públicos, velocidade média de circulação nas horas de ponta, grau de satisfação em relação aos transportes públicos, emissão de gases poluentes por transportes terrestres, taxa de acidentes de viação ou a taxa anual de crescimento de veículos motorizados.

Também em 2030, quando se atingir o último ano da execução do plano está prevista uma nova avaliação, que também deverá contar com o contributo do Instituto de Estudo de Planeamento de Tráfego da Cidade de Chongqing e Associação de Pesquisa de Desenvolvimento Sustentável de Recursos e Economia de Chongqing.

Estas duas instituições estiveram igualmente ligadas aos trabalhos iniciais, embora nessa altura nunca tivesse sido tornado público o montante recebido pelos trabalhos prestados à UMTEC. O assunto chegou a ser abordado pelo deputado José Pereira Coutinho numa interpelação escrita, no final de 2022, com a DSAT a admitir que desconhecia o montante pago. A única certeza adiantada foi o facto da UMTEC ter recebido 20 milhões de patacas pelo trabalho.

17 Dez 2025

Intercâmbio | RAEM defende iniciativa para diálogo entre civilizações

O Governo da RAEM deixou ontem um desafio à humanidade, durante o Fórum Internacional de Intercâmbio Civilizacional, defendendo que todas as civilizações devem ser encaradas de forma igual, através da promoção do diálogo e cooperação

A secretária para os Assuntos Sociais e Cultura de Macau, O Lam, defendeu ontem o lançamento de uma iniciativa mundial para promover o diálogo e a cooperação entre civilizações. O apelo de O Lam surgiu durante um discurso na cerimónia de abertura da edição inaugural do Fórum Internacional de Intercâmbio Civilizacional, que durante dois dias reúne 40 especialistas e dirigentes de uma dezena de países. Entre os convidados estão académicos de Portugal, China continental, Egipto, Indonésia, Tunísia, Itália, Alemanha, Reino Unido e Canadá.

O programa inclui intervenções do presidente do Observatório da China, Rui Lourido, e de Maria José de Freitas, arquitecta que trabalha em Macau e presidente do comité científico do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS) sobre património construído partilhado.

O Lam lançou um desafio aos participantes do Fórum: “lançar uma ‘Iniciativa de Macau’, olhando para todas as civilizações de forma igual, promovendo o diálogo e cooperação”. A secretária defendeu que a cidade, que durante mais de 400 anos esteve sob administração portuguesa, “foi pioneira no diálogo e integração”, assim como na “coexistência harmoniosa” entre civilizações.

O Lam rejeitou o ‘choque de civilizações’, teoria do influente académico norte-americano Samuel Huntington (1927-2008), e defendeu que a história mundial prova que “o progresso nunca se separa da aprendizagem mútua”. Também na cerimónia de abertura, a presidente do Instituto Cultural, que organiza o fórum, reiterou “o empenho” do território “em participar no diálogo global entre as civilizações”.

Maior abertura

Leong Wai Man defendeu que a região tem o potencial para “construir uma plataforma para o diálogo que transcenda as fronteiras entre as nações”. A dirigente sublinhou que Macau “sempre teve uma atitude aberta e inclusiva para aceitar as influências positivas das civilizações estrangeiras”, dando como exemplo a calçada portuguesa no centro histórico da cidade.

O Fórum assinala ainda os 20 anos desde que a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) classificou o centro histórico de Macau como Património Mundial, em 2005. Também o vice-ministro da Informação chinês apontou para “as marcas de mais de 400 anos de fusão e coexistência” de civilizações que tornaram Macau numa “ponte cultural que liga a China ao mundo”.

Wang Gang referiu que, além de respeitar as diferenças, as civilizações devem “aprender com os valores comuns”, entre os quais destacou a liberdade e a democracia. Apesar de a China ser, na prática, um regime de partido único, desde 2019 que o Partido Comunista Chinês defende o conceito político ‘democracia popular ao longo de todo o processo’.

Pequim alega que este conceito promove a participação contínua dos cidadãos na governação da China, mesmo na ausência do sufrágio universal e eleição directa da liderança do país.

17 Dez 2025

Christian Montag, Instituto de Inovação Colaborativa da UM: “A IA não consegue imitar o toque humano”

Pode a inteligência artificial ajudar a combater a solidão? A questão foi analisada num estudo da Universidade de Macau, dirigido pelo académico Christian Montag. O director do Instituto de Inovação Colaborativa sublinha que as ferramentas de IA “não são soluções a longo prazo” a nível psicológico

De que forma a inteligência artificial (IA) pode ajudar a contornar sensações de solidão, se as redes sociais não conseguem atingir esse fim?

A “teoria das necessidades e gratificações” afirma que a tecnologia só pode ter sucesso se o seu uso satisfizer necessidades humanas, como, por exemplo, a necessidade de interação social. Com os companheiros de IA, quer como produtos autónomos, quer integrados em plataformas de redes sociais, atingimos um novo patamar, porque os seres humanos passam a conversar com uma pessoa artificial e não com outra pessoa humana, como acontece nas redes sociais. Surgem problemas específicos com estes novos companheiros de IA, em que há sistemas de IA excessivamente agradáveis e encantadores que não desafiam as visões enviesadas do mundo de uma pessoa. Além disso, muitas pessoas em todo o mundo já se tornaram excessivamente dependentes destes produtos, utilizando-os sem reflexão crítica.

Uma das conclusões do vosso estudo é que a IA não consegue, por si só, resolver sentimentos de solidão. Que passos na investigação foram seguidos para chegar a esta conclusão?

Existem estudos bem conduzidos que mostram que as interações com companheiros de IA podem, de facto, reduzir sentimentos de solidão. Não duvidamos destes resultados nem negamos o potencial que pode advir dessas interações entre o ser humano e a IA, desde que tais sistemas sejam concebidos de forma segura e quando não há um humano disponível. Dito isto, acreditamos que essas interações entre humanos e IA não representam uma solução a longo prazo.

Porquê?

Isso deve-se à ausência de contacto social e da presença real de outro ser humano quando se recorrem a companheiros de IA baseados em modelos de linguagem de grande escala, especialmente em momentos de desespero. Revimos uma vasta literatura que demonstra que precisamos levar a sério a nossa herança evolutiva, com a necessidade real de outros seres humanos, particularmente na era da IA. A nossa perspectiva baseia-se em muitos anos de investigação na área da neurociência afectiva. Ainda assim, é claramente necessário desenvolver mais estudos empíricos novos que abordem directamente as interações com IA e sustentem esta visão.

Corremos o risco de a IA provocar mudanças cognitivas profundas nas pessoas. Em que medida? Podemos mudar enquanto seres humanos, especialmente no que diz respeito à necessidade que temos dos outros?

A mesma discussão surgiu com o aparecimento dos smartphones. Importa notar que essa discussão mais antiga ainda não foi resolvida: o que acontece ou aconteceu às nossas capacidades cognitivas quando passámos a externalizar permanentemente a aprendizagem de números de telefone, a orientação de A para B, entre outras tarefas, para uma máquina? Uma investigação recente do MIT [Massachusetts Institute of Technology] sugere que o cérebro fica menos activado quando é utilizado o ChatGPT para tarefas de escrita, em comparação com a escrita sem esse apoio. Para mim, isto não é surpreendente e também não deveria conduzir a pânicos morais. Temos outros problemas mais urgentes, como quando surgem dificuldades reais quando aumentam as desigualdades na sociedade, isto porque algumas pessoas utilizam a IA e outras não investem nesta área.

Quais os impactos concretos?

Algumas pessoas poderão tornar-se muito, muito produtivas em breve, enquanto aquelas que não forem educadas para usar a IA adequadamente não conseguirão acompanhar [o ritmo]. Curiosamente, observámos em investigações recentes que pessoas com um estilo de aprendizagem profundo estão mais dispostas a envolver-se com a IA para se tornarem mais produtivas. Quanto à pergunta sobre se mudamos em relação à nossa necessidade dos outros, duvido muito disso, pois estes impulsos evolutivos estão geneticamente ancorados na nossa espécie e não podemos simplesmente eliminá-los. As necessidades sociais são uma parte essencial do que significa ser humano.

Estas mudanças cognitivas, a ocorrer, podem ser mais significativas nos jovens do que nos adultos, por exemplo?

Questão interessante. Sabemos, a partir de alguns estudos sobre atitudes em relação à IA, que os utilizadores mais jovens tendem a ter visões mais positivas sobre a IA e, por isso, são mais propensos a adoptá-la no quotidiano. No entanto, actualmente observamos algo bastante problemático, como o facto de a IA estar frequentemente a eliminar empregos para jovens que acabam de sair da universidade. Assim, a IA parece dificultar a entrada no mercado de trabalho após a obtenção de um diploma universitário. Em outras palavras, a falta de experiência profissional torna as coisas difíceis para muitos jovens. No final, isso também pode levar a que a perceção dos jovens sobre a IA se torne mais negativa, em breve.

Como devem os governos legislar ou adoptar políticas para promover uma aceitação e utilização saudável da IA na sociedade e nas escolas?

Observamos abordagens muito diferentes em todo o mundo para responder à revolução da IA. Sou alemão e, na Europa, assistimos a fortes esforços regulatórios com o chamado Regulamento da Inteligência Artificial (Artificial Intelligence Act). Pessoalmente, não estou convencido de que o actual esquema regulatório europeu esteja bem planeado, pois penso que é demasiado rigoroso e que, em alguns pontos, utiliza termos juridicamente indefinidos, embora aplauda o objectivo de promover uma IA fiável e de tentar reduzir danos. Penso que a actual regulamentação da IA na União Europeia pode ir longe demais e acabar por prejudicar a economia europeia, ao sufocar uma inovação muito necessária. Mas há perigos reais associados à IA e é necessária alguma regulamentação.

Que perigos?

Falo, por exemplo, da fusão não regulamentada entre biotecnologia e IA que poderia resultar em danos, caso as pessoas passem a “criar” novos vírus nos seus quintais. Considero muito interessante a abordagem de Singapura baseada na aprendizagem ao longo da vida como resposta à revolução da IA. O Governo de Singapura oferece aos seus cidadãos a possibilidade de obter um grau académico em IA a partir dos 40 anos, com apoio financeiro do próprio Estado. O que gosto nesta abordagem é que precisamos de lembrar às pessoas que também é sua responsabilidade adquirir novas competências ao longo da vida. Esta mentalidade deve ser incutida desde cedo nas escolas.

Em que áreas das nossas vidas os modelos de linguagem de grande escala (LLMs) podem trazer mais benefícios do que prejuízos?

Existem muitas tarefas rotineiras e repetitivas em que a IA será realmente útil para os seres humanos. No entanto, sabemos pela literatura científica que os humanos experienciam o que se chama “aversão aos algoritmos”: em algumas áreas das nossas vidas, as pessoas não gostam que a IA desempenhe um papel. Por exemplo, quando falamos de terapia de casal, as pessoas preferem claramente falar com um ser humano do que com um sistema de IA. Talvez quanto mais nos aproximamos da nossa herança evolutiva em termos de cuidar uns dos outros, mais o papel da IA deva ser cuidadosamente monitorizado e reflectido, se quisermos que ela tenha um lugar aí. Pessoalmente, não gostaria de ver o meu filho a ser cuidado no jardim de infância por um robô alimentado por IA.

Como deve a psicologia adaptar-se à IA, tendo em conta o número crescente de pessoas que a utilizam para esse fim?

Existem diferentes perspectivas sobre este tema. Em primeiro lugar, nem toda a gente sabe que a psicologia é uma disciplina que depende fortemente de dados. Por isso, os estudantes de psicologia são treinados para se tornarem excelentes cientistas de dados. Nesse contexto, é lógico que a nossa disciplina adopte a IA como ferramenta de análise de dados. No entanto, penso que se refere à forma como os psicólogos veem o uso crescente da IA nas relações humanas. Como acontece com muitas coisas, isto é complexo. Se a IA permitir uma melhor comunicação humana, como, por exemplo, melhorando aparelhos auditivos para pessoas com problemas de audição, isso é muito bem-vindo. Se a IA substituir relações humanas, na minha perspectiva isso causará problemas. Como expusemos no nosso trabalho mais recente, neste momento a IA não consegue imitar com sucesso o toque social humano nem a presença real de outra pessoa.

No Centro de Ciência Cognitiva e Cerebral da Universidade de Macau, quais são os principais projectos desenvolvidos nesta área?

Dispomos de oportunidades únicas de investigação na Universidade de Macau para estudar interações entre humanos e IA, com técnicas neurocientíficas. Espero que possamos divulgar descobertas muito interessantes num futuro próximo.

A humanidade ainda mora aqui

Publicado recentemente na revista científica “Trends and Cognitive Sciences”, o artigo “Can AI really help solve the loneliness epidemic?” [Pode a IA realmente ajudar a resolver a epidemia da solidão?] conta com Christian Montag, director associado do Instituto de Inovação Colaborativa da Universidade de Macau (UM) como autor principal, seguindo-se os académicos Michiel Spapé, professor associado do Centro de Ciências Cognitivas e Cerebrais da UM, e Benjamin Becker, professor do Departamento de Psicologia da Universidade de Hong Kong, como co-autores.

Segundo uma nota de imprensa divulgada pela UM a propósito desta investigação, uma das principais conclusões é de que a IA “provavelmente não será solução de longo prazo para a solidão humana”. Citado nesta nota, Christian Montag declarou que “se uma pessoa está solitária, anseia pela presença física de alguém próximo”, sendo que isso “é muito difícil de imitar com os chatbots disponíveis”.

“Os grandes modelos de linguagem operam principalmente por meio da comunicação por texto. Claramente, isso não é suficiente para fornecer às pessoas solitárias a melhor cura para a solidão: o apoio directo em pessoa”, declarou. Segundo a Organização Mundial de Saúde, “a solidão afecta uma em cada seis pessoas em todo o mundo”, tendo sido “identificada como uma preocupação de saúde pública global”.

Apesar do sinal, o estudo aponta para um lado positivo deste universo, referindo-se que “a tecnologia de IA tem um potencial significativo para apoiar os seres humanos em momentos de crise psicológica, especialmente quando a intervenção humana não está disponível”. Porém, “os investigadores defendem que a tecnologia deve ser tornada mais segura antes de poder ser utilizada neste contexto”, enfatizando “a importância de recordar a nossa herança evolutiva e a necessidade de conexões interpessoais genuínas”.

17 Dez 2025

Andaimes | Bombeiros e construtoras testam redes de protecção

A Associação dos Barraqueiros de Macau pediu aos associados que entreguem amostras das redes de protecção dos andaimes de bambu para um teste unificado às propriedades anti-inflamatórias do material. O objectivo é evitar que as obras em Macau sofram atrasos devido a testes de segurança

O Corpo de Bombeiros (CB) e a Associação dos Barraqueiros de Macau estão a testar as propriedades contra incêndio das redes dos andaimes instaladas nas obras do território. O cenário foi traçado pelo presidente da Associação dos Barraqueiros de Macau, Chio Tak Sio, à emissora pública RTHK, de Hong Kong.

Segundo as explicações do dirigente associativo, por enquanto, as redes deverão ser mantidas, mas dependendo dos resultados dos testes, e se for confirmado que não cumprem os padrões mínimos, vão ser substituídas. “Por agora, não vamos remover as redes porque precisamos de garantir que, devido ao vento, os detritos das obra não caem nem atingem os transeuntes”, começou por indicar.

Para assegurar que os testes são realizados, a Associação dos Barraqueiros de Macau está a pedir aos seus membros a recolha de amostras das redes instaladas na cidade. Nesta altura, pede-se aos membros que contribuam o mais depressa possível com as amostras, para que o CB possa realizar um teste unificado, com todas as amostras, para evitar mais atrasos nas obras, devido à necessidade de realizar mais testes de segurança.

O alerta para a potencial existência de redes em andaimes que não cumprem os requisitos surgiu depois do incêndio no complexo residencial de Tai Po, em Hong Kong, que causou pelo menos 160 mortos. O número total de mortos não é conhecido e os dados oficiais, que não são actualizados há mais de seis dias, indicavam que havia seis desaparecidos.

Procedimentos quase iguais

Sobre as obras em Macau, e numa comparação com Hong Kong, Chio Tak Sio admitiu que os procedimentos de construção e segurança “são basicamente iguais” e que a instalação de rede de protecção nos andaimes serve não só para assegurar a segurança dos transeuntes, mas também dos operários que trabalham em altura.

A associação também apontou que o sector de construção civil admite actualmente a possibilidade de o Governo elaborar novas instruções de segurança para os estaleiros de obras. Quanto à substituição de andaimes de bambus por metal, Chio Tak Sio considera que o custo mais alto dos andaimes de metal vai diminuir a vontade da população de realizar novas obras.

Por seu turno, o deputado Kou Ngon Seng defendeu que ambos os tipos de andaimes têm vantagens, e que a escolha do tipo mais indicado deve ser feita tendo em conta a obra. “Os andaimes de bambus são mais flexíveis, mas a resistência contra incêndios pode ser inferior. Já os andaimes de metal ocupam mais espaço, e também não conseguem evitar completamente os incêndios, quando atingem o ponto de ignição”, argumentou.

Ainda assim o deputado nomeado pelo Chefe do Executivo, e também engenheiro, reconheceu que o incêndio de Tai Po foi um alerta para Macau. Kou Ngon Seng defendeu a necessidade de se reverem as práticas de construção e de inspecção e que os actuais de critérios de segurança das obras públicas sejam igualmente aplicados ao sector privado.

16 Dez 2025

AMCM | Compras online sem autorizações com códigos por SMS

A Autoridade Monetária de Macau anunciou ontem o fim dos códigos enviados por SMS para autorizar transacções online e pediu aos bancos que criem autorizações nas aplicações de telemóvel. Para aceder aos novos métodos basta actualizar as aplicações

A Autoridade Monetária de Macau (AMCM) alterou as regras de segurança para as transacções online, seja transferência de dinheiro ou compras digitais. Até agora o cliente recebia, por SMS, um código para autorizar essa transferência de fundos da conta, mas agora cabe aos bancos criar um mecanismo de autorização na própria aplicação de telemóvel.

Segundo um comunicado divulgado ontem pela AMCM, as novas funções visam aumentar “a segurança das transacções online mediante cartão bancário” e “salvaguardar os direitos dos titulares de cartões”. Assim, fica determinado que os bancos devem “introduzir uma funcionalidade de autorização de transacções online nas suas aplicações de ‘banco móvel’ a partir do final deste mês”, que vai substituir “os códigos de verificação SMS únicos para autorizar tais transacções”.

Ainda assim, os clientes que não tenham activado o serviço de “banco móvel” podem continuar a receber códigos por SMS para autorizar compras online.

Para a AMCM, as novas regras vão dar aos clientes dos bancos “informações mais claras sobre as transacções”, além de proporcionar “um canal mais seguro para autorizar transações online mediante cartão bancário, ajudando a impedir que fraudadores realizem transacções não autorizadas por meio do roubo de códigos de verificação por SMS”. Reduz-se, assim, “o risco de perdas financeiras para os titulares de cartões”, num território onde as burlas informáticas são um crime comum.

Sem links ou códigos

Face às novas regras de segurança, é explicado que os titulares dos cartões apenas necessitam actualizar as aplicações dos bancos para terem acesso às novas funcionalidades, sem terem de fazer novos registos.

“No futuro, quando os titulares dos cartões introduzirem os dados dos seus cartões bancários no site de um comerciante, a página irá solicitar que abram e acedam à sua aplicação do ‘banco móvel’ para concluir a verificação de identidade necessária”, apresentando-se depois “as informações da transacção, incluindo os últimos quatro dígitos do cartão de crédito, o nome do comerciante, a moeda da transação e o montante”.

A AMCM revela preocupação a travar casos de burla, tendo referido na mesma nota que desde Junho do ano passado que instruiu a banca a fornecer “canais convenientes, como linhas directas e serviços bancários online ou móveis” a clientes, permitindo que “activem ou desactivem funções de transacções online, ajustem limites de crédito e congelem ou comuniquem imediatamente o extravio dos seus cartões bancários”.

Fica ainda determinado que os bancos não enviam aos clientes “qualquer tipo de ‘hyperlinks ou códigos QR para estes clicarem ou digitalizarem em SMS, ou emails enviados a clientes, a partir de Dezembro” deste ano. Além disso, no combate aos crimes de burla, é descrito que “as instituições financeiras também são obrigadas a reforçar as suas campanhas de sensibilização”.

16 Dez 2025

Trânsito | Deputado quer sinais adaptados a carros com volante à esquerda

Chan Lai Kei interpelou o Governo sobre a necessidade de reorganizar o planeamento do trânsito porque os veículos do Interior têm o volante do lado esquerdo. O deputado justificou a necessidade de mudança com a integração na Grande Baía e o reconhecimento das cartas de condução

A futuro do trânsito passa pela esquerda. É esta a ideia deixada por Chan Lai Kei numa interpelação escrita enviada ao Governo, onde descreve que esta será uma tendência tendo em conta a integração de Macau no projecto da Grande Baía, sem esquecer o reconhecimento mútuo das cartas de condução com o Interior da China.

Por esta razão, o deputado ligado à comunidade de Fujian espera que os veículos com o volante do lado esquerdo sejam tidos em conta no futuro planeamento do trânsito e na instalação de infra-estruturas urbanas, como por exemplo a colocação de sinais de trânsito e de espelhos rodoviários nas ruas.

Na interpelação escrita o deputado cita dados oficiais relativos aos últimos anos, que demonstram que o número de veículos com volante do lado esquerdo tem aumentado. Até Dezembro deste ano houve 5.731 inscrições de automóveis ligeiros e de 435 automóveis pesados com as características mencionadas. No entanto, o deputado argumenta que as ruas de Macau são estreitas e que, ao longo dos anos, as infra-estruturas têm-se focado na condução à direita. “Com o ambiente de condução do lado direito os condutores que conduzem do lado esquerdo podem cometer mais erros de avaliação”, disse.

A direita é um risco

Para o deputado, as infra-estruturas que só favorecem quen conduz com o volante do lado direito não só arriscam os condutores, mas também os peões, afectando todo o sistema de segurança rodoviária.

“Se o Governo fizer uma avaliação, para 2026, dos riscos de segurança no que diz respeito aos ângulos da condução à esquerda, tendo em conta as vias nos bairros antigos, será que pode aumentar a sensibilização dos condutores para os potenciais riscos, a fim de ser assegurada a segurança dos peões”, questionou.

Chan Lai Kei defendeu ainda que, a fim de garantir que todos os condutores sujeitos à política do mútuo reconhecimento das cartas de condução se adaptam ao ambiente e regras de trânsito de Macau, as autoridades devem obrigá-los a realizar testes e frequentar sessões educativas sobre o panorama do trânsito e regras de segurança rodoviária do território.

Tendo em conta que o planeamento dos novos aterros e demais construções ainda estão em curso, o deputado espera que o Governo inclua concepções de segurança que tenham também em consideração os veículos com volante do lado esquerdo.

16 Dez 2025

Governo cria centro para gerir revitalização de seis zonas antigas

Foi ontem inaugurado o Centro de Desenvolvimento Local, uma plataforma de planificação e gestão de projectos relacionados com a revitalização das seis zonas históricas, e que vai ser gerido pela União Geral das Associações de Moradores de Macau (Kaifong). Recorde-se que estes projectos de renovação urbana, cultural e turística serão desenvolvidos em parceria com as operadoras de jogo.

Segundo um comunicado oficial ontem divulgado, o Executivo pretende, através do centro, a “supervisão e coordenação governamental do investimento de recursos por parte das empresas de lazer”, bem como promover “o planeamento e organização pela sociedade civil”. As operações do centro ficam sob alçada dos Kaifong.

O Centro de Desenvolvimento Local terá um comité de orientação, composto por 14 representantes do Governo, associações e de círculos empresariais e industriais, “sendo responsável pela apreciação e orientação dos projectos de desenvolvimento local”. Por sua vez, haverá um grupo de consultores, com 18 representantes das empresas de lazer, sectores empresarial e industrial, turístico, cultural e de comunicação, planeamento urbano e académico. No caso deste grupo, a responsabilidade será fornecer “sugestões profissionais e apoio técnico para o desenvolvimento local”.

Cabe ao centro a realização de tarefas como a investigação sobre actividades comunitárias, “a concepção e execução de projectos, a promoção da cooperação multissectorial, o incentivo à participação da sociedade civil”, tudo a pensar na revitalização das seis áreas e numa maior conexão com os moradores.

Passo a passo

Numa primeira fase de funcionamento do centro, será criado “um estudo de planeamento do desenvolvimento local” a fim de lançar um “plano de cooperação, actividades emblemáticas” e a execução de uma “estratégia de promoção”. Serão depois “optimizadas as instalações das [seis] áreas, reforçada a sua articulação e criadas zonas comerciais características, visando um desenvolvimento sustentável”.

Yau Yun Wah, director dos Serviços de Economia e Desenvolvimento Tecnológico (DSEDT), explicou que o centro constitui “uma importante iniciativa do Governo para promover a economia comunitária”, numa “conjugação de esforços entre o Governo, empresas de lazer e sociedade civil”.

Caberá ao Governo aprovar projectos, coordenar recursos e fiscalizar resultados, explicou, sendo que as “empresas de lazer investem os recursos conforme comprometido e executam, conforme necessário, alguns projectos de revitalização”. A sociedade civil, através do novo centro, “agrega forças dos vários sectores, planeia e organiza diversas actividades, impulsionando em conjunto o desenvolvimento local”, disse ainda.

16 Dez 2025

Ambiente | Prolongado programa de abate de veículos a gasóleo

Com o objectivo de reduzir as emissões de carbono e contribuir para a melhoria da qualidade do ar e saúde dos residentes, a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental anunciou que o programa vai ser prolongado até 2027

O Governo anunciou ontem que vai prolongar até 2027 o Plano de Apoio Financeiro ao Abate de Veículos Antigos Movidos a Gasóleo e promete que a iniciativa vai abranger mais proprietários. O anúncio foi feito ontem, através de um comunicado da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA).

O prolongamento do programa foi justificado com a “concretização da ‘Dupla Meta de Carbono’ nacional”, a “implementação das linhas de acção governativa no que respeita ao abate de veículos altamente poluidores”, a “melhoria da qualidade do ar” e a protecção da “saúde dos residentes”.

O programa visa os veículos a gasóleo matriculados e registados até 31 de Dezembro de 2019, mas exclui os proprietários que cancelaram a matrícula até ontem. Além disso, na altura de ponderar o montante dos apoios para os veículos é tido em conta o estado das viaturas. Por isso, mesmo que o número de lugares dos veículos aumente a partir de hoje, o que segundo os critérios iria implica um maior apoio, esse aumento não vai ser contabilizado para a distribuição do apoio.

O prazo de candidatura decorre entre 5 de Janeiro do próximo ano e 4 de Janeiro de 2027 e o montante do apoio financeiro varia entre 25 mil e 155 mil patacas. No segundo ano, as candidaturas começam a 5 de Janeiro de 2027 e vão até 4 de Janeiro de 2028. O montante do apoio financeiro varia entre 15 mil e 93 mil patacas.
As candidaturas são apresentadas ao Fundo para a Protecção Ambiental e a Conservação Energética.

Até 155 mil patacas

Em relação ao veículos de passageiros, os apoios variam consoante o número de lugares. No primeiro ano, o montante vai variar entre 30 mil patacas e 85 mil patacas, descendo para um valor entre 18 mil patacas e 51 mil patacas, no segundo ano.

Os veículos com nove ou menos lugares recebem até 30 mil patacas no primeiro ano, e 18 mil pataca no segundo. Na classe com 10 a 16 lugares o apoio é de 70 mil patacas, e baixa para 42 mil patacas. Na classe com 17 a 30 lugares, o apoio começa nas 75 mil patacas e depois desce para 45 mil. Finalmente, os veículos com 31 ou mais lugares estão habilitados a um apoio financeiro de 85 mil patacas, que desce para 51 mil patacas no segundo ano.

Em termos dos veículos pesados, os apoios são concedidos de acordo com o peso bruto, têm uma redução do valor do primeiro para o segundo ano e estão divididos em oito classes: peso inferior ou igual a 1,9 toneladas (25 mil patacas e 15 mil patacas); superior a 1,9 toneladas até 5,5 toneladas (40 mil patacas e 24 mil patacas); superior a 5,5 toneladas até 10 toneladas (55 mil patacas e 33 mil patacas); superior a 10 toneladas até 13 toneladas (65 mil patacas e 39 mil patacas); superior a 13 toneladas até 16 toneladas (80 mil patacas e 48 mil patacas); superior a 16 toneladas até 24 toneladas (100 mil patacas e 60 mil patacas) superior a 24 toneladas até 30 toneladas (115 mil patacas e 69 mil patacas); superior a 30 toneladas (155 mil patacas e 93 mil patacas.

16 Dez 2025

UM | Arrancou construção do novo campus

A cerimónia de início da construção contou com a participação de Sam Hou Fai. O novo campus vai incluir a primeira faculdade de medicina da UM

A construção do novo campus da Universidade de Macau (UM), que vai incluir a primeira faculdade de medicina pública, em colaboração com a Universidade de Lisboa (ULisboa) arrancou na sexta-feira. Num comunicado, a UM indicou que a cerimónia de lançamento da primeira pedra, presidida pelo líder do Governo, Sam Hou Fai, decorreu na Zona de Cooperação Aprofundada Guangdong-Macau, na vizinha Hengqin (ilha da Montanha).

O novo campus ocupará uma área de quase 376 mil metros quadrados na zona económica especial e a construção deverá demorar cerca de três anos, com uma inauguração parcial prevista para 2028 e a conclusão das obras em 2029. Quatro novas faculdades irão nascer no novo campus da UM na Ilha da Montanha, incluindo as de Ciências de Informação, Design e Engenharia, assim como a primeira faculdade de medicina pública de Macau.

A Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau, uma instituição privada, tem desde 2008 uma Faculdade de Ciências da Saúde, oficialmente rebaptizada como Faculdade de Medicina em 2019. Em Junho, o director da Faculdade de Medicina da Ulisboa disse à Lusa que os médicos formados na futura Faculdade de Medicina da UM poderão também exercer em Portugal.

A ULisboa está a colaborar com a UM para criar um currículo com uma disposição “próxima daquela que é a estrutura” dos cursos na instituição portuguesa, disse Luís Graça. O dirigente explicou que os cursos vão funcionar em co-tutela, permitindo aos médicos formados na UM obterem “uma equivalência e um reconhecimento” pela Faculdade de Medicina da ULisboa.

Médicos para Portugal

Entre as vantagens, estará “permitir assim que os médicos formados no território possam também exercer medicina em Portugal”, sublinhou o investigador. Em Dezembro, o vice-reitor da UM, Rui Martins, disse que o novo campus apostará em “‘dual degrees’ [cursos em co-tutela] com universidades estrangeiras. A medicina já está com Lisboa e agora estamos a definir para as outras faculdades”.

O novo campus na Ilha da Montanha deverá permitir à UM passar dos actuais 15 mil para um máximo de 25 mil alunos, sublinhou o vice-reitor para Assuntos Globais, numa entrevista ao canal em língua portuguesa da televisão pública local TDM. Luís Graça, especialista em imunologia de transplantes, demonstrou também entusiasmo com potenciais colaborações entre as duas universidades na área da investigação científica.

“Se nós pensarmos em termos de ciência, o reforço do potencial científico de ambas as instituições com uma colaboração próxima entre si é algo que claramente vai beneficiar ambos os lados dessa parceria”, afirmou o dirigente. Luís Graça disse que a Faculdade de Medicina da ULisboa está a organizar o primeiro simpósio para reunir os investigadores da instituição e da UM, com vista a promover projectos conjuntos de investigação.

15 Dez 2025

Justiça | Jerónimo Santos no TSI e Ho Wai Neng confirmado no TUI

Apesar das saídas de portugueses dos tribunais de Macau nos últimos anos, o único juiz luso que permanece no território foi promovido ao Tribunal de Segunda Instância

O único juiz português a trabalhar em Macau, Jerónimo Alberto Gonçalves Santos, foi nomeado para o Tribunal de Segunda Instância (TSI), enquanto Ho Wai Neng foi confirmado como juiz do Tribunal de Última Instância (TUI). As decisões foram comunicadas na sexta-feira e o despacho de nomeação foi publicado ontem no Boletim Oficial.

A promoção de Jerónimo Santos acontece numa altura em que a continuidade dos magistrados portugueses em Macau é colocada em causa pelas autoridades de Portugal. Em Outubro deste ano, o também juiz português Rui Ribeiro antecipou o final de uma comissão de serviço, que se prolongava até Maio do próximo ano, devido à incerteza da renovação da licença especial, para estar em Macau, do Conselho Superior de Magistratura (CSM).

Também em Outubro, o presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), João Cura Mariano, que por inerência preside também ao CSM, afirmou que a justiça portuguesa está com “alguma dificuldade em contribuir com juízes”, devido à falta de recursos humanos qualificados e com experiência. “Ainda agora retirámos um juiz que já cá estava há muitos anos e nós necessitávamos dele”, sublinhou João Cura Mariano, em Outubro.

Em 2024, o CSM rejeitou a permanência do juiz português do TJB Carlos Carvalho, que estava em Macau há 16 anos e tinha sido convidado pela Comissão Independente para a Indigitação dos Juízes do território a continuar por mais dois. O conselho não autorizou a renovação da licença especial de Carlos Carvalho e promoveu-o a juiz desembargador, com colocação no Tribunal da Relação.

Não obstante as nuances, João Cura Mariano garantiu estar disposto em ajudar Macau, “apesar das dificuldades que actualmente existem em Portugal no recrutamento de juízes”.

Confirmação de subida

As movimentações anunciadas na sexta-feira confirmam a subida de Ho Wai Neng ao Tribunal de Última Instância, onde vinha a desempenhar funções, desde que Sam Hou Fai anunciou a candidatura a Chefe do Executivo, em Abril do ano passado. Além disso, Choi Mou Pan foi nomeado pelo período de três anos como presidente do TSI, posição que era desempenhada por Ho Wai Neng.

Entre as promoções ao TSI, destaca-se ainda o nome de Lou Ieng Ha, juíza responsável na primeira instância por alguns dos casos mais mediáticos dos últimos anos, como o das Obras Públicas, que resultou nas condenações dos ex-directores Jaime Carion e Li Canfeng, e também do caso Suncity, que conduziu o empresário da maior promotora do jogo de Macau, Alvin Chao, à prisão.

A nível das nomeações, Io Weng San e Rong Qi foram promovidos a juízes presidentes do Tribunal Colectivo dos Tribunais de Primeira Instância.

Todas as nomeações entram em vigor no próximo ano, e a indigitações partiram do Comissão Independente para a Indigitação de Juízes. A comissão é constituída por Lau Cheok Va, presidente, Ho Teng Iat, Ieong Tou Hong, Chan Hong, Wang Yu, Song Man Lei e António José Dias Azedo. Com Lusa

15 Dez 2025

Orçamento | Despesa pública sobe até Novembro devido a apoios sociais

Em comparação com o ano passado, o Governo gastou mais 4,1 por cento em despesas sociais até Novembro, que subiram para 49,7 mil milhões de patacas. O aumento da despesa pública foi equilibrado com as receitas dos casinos

As despesas públicas aumentaram 2,7 por cento nos primeiros 11 meses de 2025, em comparação com igual período do ano passado, após uma revisão do orçamento para reforçar os apoios sociais, foi anunciado na sexta-feira. De acordo com dados publicados ‘online’ pela Direcção dos Serviços de Finanças (DSF), a RAEM gastou até ao final de Novembro 86,1 mil milhões de patacas.

A principal razão para a subida foram os gastos em apoios e subsídios sociais, que cresceram 4,1 por cento em comparação com os primeiros 11 meses de 2024, para 49,7 mil milhões de patacas. No início de Julho, a Assembleia Legislativa aprovou uma proposta do Governo para aumentar em 2,86 mil milhões de patacas nas despesas previstas no orçamento, para reforçar os apoios sociais. A revisão inclui a criação de um subsídio, no valor total de 54 mil patacas, para as crianças até aos três anos, numa tentativa de elevar a mais baixa natalidade do mundo.

Pelo contrário, os gastos com obras públicas, o Plano de Investimentos e Despesas da Administração, caíram 2,7 por cento até Novembro, para 14,7 mil milhões de patacas.

Receitas com impostos

O aumento da despesa foi equilibrado pela receita corrente de Macau, que subiu 2,8 por cento nos primeiros 11 meses do ano, para 104,6 mil milhões de patacas. A principal razão para o aumento foi um acréscimo de 7 por cento, para 86,7 mil milhões de patacas, nas receitas dos impostos sobre o jogo – que representam 81,3 por cento do total.

As seis operadoras de jogo da cidade pagam um imposto directo de 35 por cento sobre as receitas do jogo, 2,4 por cento destinado ao Fundo de Segurança Social de Macau e ao desenvolvimento urbano e turístico, e 1,6 por cento entregue à Fundação Macau para fins culturais, educacionais, científicos, académicos e filantrópicos.

As receitas totais dos casinos de Macau atingiram 226,5 mil milhões de patacas nos primeiros 11 meses do ano, mais 8,6 por cento do que no mesmo período de 2024. O território terminou Novembro com um excedente nas contas públicas de 20,6 mil milhões de patacas, mais 11,4 por cento do que em igual período do ano passado. Macau fechou 2024 com um excedente de 15,8 mil milhões de patacas, mais do dobro do registado no ano anterior.

A previsão inicial do Governo para todo o ano de 2025 apontava para um excedente de 6,83 mil milhões de patacas. Mas o orçamento revisto, aprovado pela Assembleia Legislativa no início de Julho previa um excedente de apenas 191,1 milhões de patacas.

15 Dez 2025

Japão | Negada interferência no cancelamento de eventos

O Governo negou qualquer interferência no cancelamento de pelo menos três concertos com artistas japoneses marcados para Macau e garantiu que se trataram apenas de decisões comerciais dos organizadores

“Acho que diferentes partes têm os seus factores de ponderação”, disse, numa conferência de imprensa, a presidente do Conselho do Património Cultural, Deland Leong Wai Man. “É normal ter ajustamento sobre concertos ou diferentes eventos. Situações de cancelamento por força maior, é algo corrente”, acrescentou na sexta-feira a também líder do Instituto Cultural.

Na terça-feira, o hotel-casino Venetian Macau anunciou o cancelamento de um concerto da cantora de ‘pop’ japonesa Ayumi Hamasaki, em 10 de Janeiro. Isto após o concerto de Hamasaki em Xangai, em 29 de Novembro, ter sido cancelado. Na quarta-feira, foi também cancelado um espectáculo de Natal, previsto para 25 de Dezembro, em outro hotel-casino, Studio City, que incluía a banda feminina Say My Name, que integra as japonesas Hitomi Honda, a líder do grupo, e Terada Mei.

No mesmo dia, foi cancelado um terceiro espectáculo, desta vez da banda Hi-Fi Un!corn, grupo que integra artistas japoneses, e que estava marcado para 21 de Dezembro, num terceiro hotel-casino, Galaxy Macau.

Questionada pela Lusa sobre se havia indicações do Governo para a não realização de eventos culturais com artistas do Japão, Leong Wai Man garantiu que “esta é uma questão do sector comercial, é uma decisão do organizador”. “Não tenho mais nada a acrescentar”, sublinhou a dirigente.

Ainda assim, Leong defendeu que a vaga de cancelamentos “não vai causar grande impacto” ao plano do Executivo para posicionar Macau como uma cidade internacional de espectáculos.

Várias frentes

Em 15 de Novembro, Macau pediu aos residentes e turistas do território no Japão para elevarem o estado de alerta, após Pequim desaconselhar deslocações ao país na sequência de declarações da líder nipónica sobre Taiwan.

O aviso da Direcção dos Serviços de Turismo surgiu “dado que a partir de meados deste ano, a tendência de ocorrência de ataques no Japão contra cidadãos chineses tem vindo a aumentar”, sem citar dados ou exemplos. Porém, o Governo de Hong Kong fê-lo, citando apenas um incidente em Tóquio, em que dois cidadãos chineses foram agredidos por locais no final de Julho.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da China emitiu um alerta, no qual desaconselha as viagens para o Japão devido à deterioração do ambiente de segurança. As principais companhias aéreas do Interior da China, Macau e Hong Kong anunciaram o reembolso total dos voos com destino ao Japão, após o apelo do Governo. A medida foi tomada numa altura em que as tensões entre Pequim e Tóquio voltaram a agravar-se, após declarações da primeira-ministra nipónica, Sanae Takaichi.

15 Dez 2025

Crime | Governo não divulga dados sobre suicídios e tentativas

Depois de os Serviços de Saúde, também a tutela da Segurança deixou de divulgar os dados de suicídio e tentativas, ao fim de dez anos de publicação. A ausência foi notada na divulgação dos dados da criminalidade relativos aos meses de Janeiro a Setembro deste ano, que mostram o aumento de abusos sexuais de menores para quase o dobro

 

O Governo deixou de divulgar os dados sobre os casos de suicídio ocorridos em Macau, assim como as tentativas. A ausência destes números foi notada pelo jornal Cheng Pou aquando da divulgação na sexta-feira dos dados da criminalidade entre os meses de Janeiro e Setembro deste ano.

A publicação questiona mesmo se “os dados sobre o suicídio se tornaram ‘no segredo que não se pode dizer’ das autoridades, empenhadas em construir uma Macau feliz”, lembrando ainda que estes dados começaram a ser divulgados em 2015. Destaque para o facto de os Serviços de Saúde também terem deixado de divulgar a estatística, algo que era feito a cada três meses. No caso da secretaria para a Segurança, os dados eram mensais e era feita a discriminação por sexo, grupo etária e métodos utilizados.

A ausência de números surge depois de Macau ter batido os recordes em termos de casos de suicídio em 2024, registando 90 mortes, mais 2,27 por cento em relação aos casos de 2023. Face a 2022, o aumento foi de 12,5 por cento. Dos 90 casos, 48 diziam respeito a vítimas do sexo masculino e 42 feminino, com idades compreendidas entre 12 e 76 anos. Os dados mais recentes, relativos ao primeiro semestre deste ano, revelam 41 mortes por suicídio e 101 tentativas.

Na divulgação das estatísticas de crime, na sexta-feira, surge apenas um caso de morte por suicídio em relação a um episódio de homicídio entre irmãos, ocorrido em Agosto deste ano, na zona norte. Aqui, o irmão mais velho terá saltado da varanda, sendo suspeito de ter morto o irmão mais novo devido a disputas financeiras.

Quebra no crime

Olhando para o panorama da criminalidade em termos gerais, regista-se uma queda de 7,1 por cento nos meses em análise, em comparação com o mesmo período do ano passado. As autoridades do território sublinharam a queda acentuada dos delitos informáticos. O secretário para a Segurança, Chan Tsz King, disse que a quebra se deve à “tendência de diminuição” dos “crimes que despertam mais atenção da sociedade”, incluindo criminalidade violenta grave, furto, roubo, burla e crimes informáticos.

Nos primeiros nove meses do ano, foram contabilizados 187 crimes violentos, o que traduz uma queda de 11 por cento face ao período homólogo de 2024 (210). Já os furtos, roubos, burlas caíram 7,7, 5,9 e 23,6 por cento, respectivamente. A criminalidade informática, que contou nos nove primeiros meses de 2024 com 770 casos, apresentou no período em análise uma descida de 52,1 por cento, com 369 casos.

A descida nos casos das burlas com recurso às telecomunicações, burlas cibernéticas e burlas informática, referiu Chan Tsz King, “reflecte a eficácia dos trabalhos de prevenção e combate desenvolvidos pela polícia, e o aumento significativo da consciência do público sobre a prevenção de burla”, disse.

O Governo sinalizou também que a criminalidade relacionada com jogo ilícito disparou entre Janeiro e Setembro deste ano 985 por cento, com mais 394 casos em relação ao mesmo período de 2024. A subida deve-se à entrada em vigor, em Outubro do ano passado, da lei de combate aos crimes de jogo ilícito, que introduziu “o novo crime de ‘exploração de câmbio ilícito para jogo’ e alargou o âmbito de cobertura de alguns crimes conexos com o jogo ilícito”.

Pela mesma razão, disse o secretário, dispararam nos três primeiros trimestres de 2025 os crimes relacionados com o jogo – 1.737 casos, mais 70,1 por cento do que no período homólogo. No passado, referiu o responsável, burlas cometidas por pessoas que trocam ilegalmente dinheiro fora dos casinos “não podiam ser identificadas como relacionadas com o jogo”. “No entanto, com a criminalização da ‘troca ilegal de dinheiro’ e o aperfeiçoamento das disposições legais”, estes casos “são agora incluídos nas estatísticas de crimes de jogo, aumentando assim o número de crimes”, indicou.

Mais abusos de menores

Chan Tsz King, que entrou em funções em Outubro e apresentou na sexta-feira pela primeira vez o balanço da criminalidade, referiu ainda uma subida de 6,1 por cento dos crimes contra a pessoa, com o abuso sexual de crianças a aumentar 86,7 por cento, de 15 casos nos primeiros nove meses de 2024 para 28 casos no mesmo período deste ano.

O secretário explicou que se tratam, essencialmente, de “actos sexuais voluntários entre pessoas da mesma idade”, ocorrendo ainda a “transmissão de fotografias e imagens pornográficas”, sem esquecer casos de “importunações sexuais de gravidade menor”.

Foram ainda “identificados casos que envolveram pessoas com relações familiares, o que merece a atenção da sociedade”, referiu Chan Tsz King, que divulgou os dados das acções de sensibilização para este problema: mais de 70 actividades realizadas pela polícia, que contaram com a participação de mais de 12.000 pessoas, incluindo alunos, encarregados de educação e pessoal docente.

O tráfico e venda de drogas e o consumo de estupefacientes registaram, por sua vez, um aumento de 37,1 por cento, com mais 13 casos, e 72,7 por cento, mais oito casos, respectivamente. Segundo a apresentação do secretário, os 48 casos registados nos três trimestres e o respectivo aumento deve-se “à descoberta de vários casos de tráfico transfronteiriço de droga através do reforço da cooperação policial interna e externa”, destacando-se um caso ocorrido em Setembro, quando foram apreendidos 31 quilos de flor de canábis no valor de 31,77 milhões de patacas. Chan Tsz King referiu que este foi “o maior caso de contrabando de canábis apreendido na história de Macau”.

Entre paredes

No caso do crime de violação, assistiu-se a um recuo do número crimes de violação, para um total de 24 casos, menos 40 por cento do que no mesmo período do ano anterior.

O secretário para a Segurança adiantou que “mais de 70 por cento das vítimas não eram residentes de Macau”, sendo que “a maioria destes crimes ocorreu em quartos de hotel”, enquanto “uma parte destes envolveram conflitos pecuniários entre as vítimas e os suspeitos, não sendo de afastar a hipótese de que alguns dos casos tenham ocorrido num contexto de transacção sexual”.

Neste contexto, o secretário esclareceu que as autoridades policiais têm estado “em comunicação estreita com o sector hoteleiro”, tendo sido reforçados “os dispositivos policiais e inspecções nas zonas periféricas de hotéis e casinos”. Entre Janeiro e Setembro foram realizadas mais de 160 acções policiais de combate à prostituição, tendo sido interceptadas 192 pessoas suspeitas da prática de actividade de prostituição.

Além disso, no período em causa foram resolvidos 17 casos da prática dos crimes de lenocínio ou de exploração de prostituição, com a detenção de 26 suspeitos.

Silêncio de sempre

Questionado pela Lusa durante a conferência de imprensa sobre o primeiro caso a ser investigado em Macau no âmbito da segurança nacional, o secretário não fez comentários. “O caso (…) está a ser tratado pelas entidades judiciais e, devido ao sigilo, não seria adequado ao secretário da Segurança comentar”, completou Chan Tsz King, que era Procurador do Ministério Público quando o ex-deputado Au Kam San foi detido.

A polícia do território anunciou, no final de Julho, a detenção de Au Kam San, a primeira ao abrigo da lei de defesa da segurança do Estado, que entrou em vigor em 2009, tendo o âmbito sido alargado 14 anos depois. Ainda não é conhecida a acusação e não há informações sobre quem vai defender o ex-deputado. Com Lusa

15 Dez 2025

Cultura | Mais dois concertos com artistas japoneses cancelados

Depois do cancelamento do concerto da diva japonesa Ayumi Hamasaki, um espectáculo no Studio City que iria incluir a girls band Say My Name, que conta com duas japonesas na formação, também foi cancelado devido a “circunstâncias imprevistas”. A mesma razão foi usada para cancelar o concerto dos Hi-Fi Un!corn no, que também tem membros japoneses

“Devido a circunstâncias imprevistas, lamentamos anunciar que o concerto 2025 iNKODE TO PLAY, espectáculo de Natal, agendado para 25 de Dezembro no Studio City Event Center, foi cancelado. Pedimos sinceras desculpas por qualquer inconveniente causado pelo cancelamento e agradecemos a todos pelo apoio a este espectáculo.”

Foi desta forma que a empresa promotora do concerto justificou que afinal o sul-coreano Kim Jaejoong, a americana de origem sul-coreana Nicole e a girls band Say My Name não iriam actuar em Macau, como estava previsto. Importa referir que a artista mais conhecia da banda, constituída por jovens sul-coreanas e duas nipónicas, é a japonesa Hitomi Honda, mais famosa que a sua compatriota e colega de palco Terada Mei.

O cancelamento do espectáculo dos artistas da iNKODE Entertainment foi anunciado um dia depois do concerto da diva do pop japonês Ayumi Hamasaki ter sofrido o mesmo destino em Macau e Xangai. Aliás, as justificações vagas para a não realização do concerto das Say My Name em Macau e de Ayumi em Xangai foram as mesmas: “circunstâncias imprevistas”. Uma outra banda de jovens da iNKODE Entertainment, com membros japoneses, tinha um encontro com fãs marcado para o meio-dia de 6 de Dezembro em Xangai. O encontro foi cancelado duas horas antes do início devido a “circunstâncias imprevistas”

O cancelamento do evento dos artistas da iNKODE Entertainment em Macau foi comentado nas redes sociais como um exemplo do “efeito Ayumi”.

A papel químico

“Devido a circunstâncias imprevistas, a CQ (Macau) Entertainment lamenta anunciar que o espectáculo Hi-Fi Un!corn ASIA Tour 2025 “Teenage Blue” em Macau, originalmente agendado para 21 de Dezembro no G Box do Galaxy Macau, foi cancelado.” O cancelamento do concerto dos Hi-Fi Un!corn, que também têm artistas japoneses no grupo, foi anunciado na quarta-feira, aumentando o número de concertos em Macau que não se vão realizar na sequência de “circunstâncias imprevistas”.

Os comunicados repetem a mesma fórmula de pedidos de desculpa pela inconveniência e indicações para pedir reembolsos.

Tudo começou quando o Venetian Macau anunciou na tarde de terça-feira que o concerto da rainha da pop japonesa Ayumi Hamasaki fora cancelado. Apesar de não ter sido dada qualquer justificação, o cancelamento não apanhou de surpresa os fãs, que já antecipavam a tomada de posição depois de o mesmo ter acontecido em Xangai no passado dia 29 de Novembro.

12 Dez 2025

Receitas fiscais | Previsto aumento no próximo ano

As receitas fiscais do Imposto Profissional e Imposto Complementar de Rendimento para 2026 devem aumentar em relação a 2025. Essa é a expectiva do Governo, patente na proposta de lei do Orçamento para o próximo ano. Com estes dois impostos, o Executivo espera arrecadar mais de 11 mil milhões de patacas

Ontem, foi dado mais um passo legislativo para a aprovação do Orçamento da RAEM para 2026, com a assinatura do parecer da comissão da Assembleia Legislativa (AL) que analisou a proposta de lei.

Ip So Kai, o deputado que preside à comissão permanente que analisou o diploma, apresentou ontem as estimativas do Governo em relação às receitas fiscais esperadas para o próximo. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, o Executivo de Sam Hou Fai está confiante no aumento das verbas amealhadas pelo Imposto Profissional e do Imposto Complementar de Rendimento.

O deputado indicou que são esperadas receitas na ordem dos 3,25 mil milhões de patacas através do Imposto Profissional, fasquia que representa um aumento anual de 7,8 por cento. Segundo Ip Sio Kai, o Executivo justificou a previsão com a boa performance da cobrança do imposto verificada na primeira metade do ano, evolução que se fica a dever à estabilidade no mercado de trabalho e ao nível dos salários.

Em relação ao Imposto Complementar de Rendimento, o Executivo projecta receitas para 2026 na ordem dos 7,39 mil milhões de patacas, uma subida anual de 8,1 por cento impulsionada pela previsão de melhorias no ambiente económico.

O deputado e presidente da Associação de Bancos de Macau indicou que a visão positiva das previsões é também baseada na redução apontada ao crédito malparado. O Imposto Complementar de Rendimento tem entre os principais contribuintes os bancos do território, dos quais se espera um “empurrão” nas contribuições.

Cheques e trocos

O parecer da proposta de lei, divulgada no portal da Assembleia Legislativa, mostra também que no capítulo das reposições de pagamentos efectuados em anos anteriores a receita proveniente dos cheques pecuniários que não foram levantados, depois de ultrapassados os três anos do prazo para o efeito. Como tal, reverterem para os cofres públicos 87,94 milhões de patacas.

Além do fim do prazo para levantar as comparticipações, foram elencadas razões como a falta de apresentação de prova de vida, ou posterior verificação de falta de elegibilidade para receber o cheque pecuniário.

Em relação ao valor proposto para cobrir o plano de comparticipação pecuniária, o Governo estimou uma verba superior a 6,64 mil milhões de patacas, menos 11,2 por cento face ao orçamento inicial de 2025. A proposta de lei do Orçamento de 2026 será aprovada na especialidade na sessão plenária da AL marcada para a próxima quinta-feira. Na mesma sessão será aprovada na especialidade a alteração à lei do salário mínimo.

12 Dez 2025

ZAPE | Comerciantes temem pelo futuro

A pouco mais de duas semanas do encerramento total dos casinos- satélite, os comerciantes da Zona de Aterros do Porto Exterior continuam a demonstrar preocupação sobre o futuro dos seus negócios, dado o decréscimo de turistas naquela área. A queda de vendas tem-se acentuado nos últimos meses, segundo testemunhos dados ao jornal Ou Mun

O encerramento gradual dos casinos-satélite na Zona de Aterros do Porto Exterior (ZAPE), que decorre até ao final do ano, está a deixar os comerciantes dessa área da península muito preocupados quanto ao futuro dos seus empreendimentos. Os testemunhos ouvidos pelo jornal Ou Mun falam de quebra nos negócios e de um sentimento de incerteza quanto ao futuro, isto apesar de o Governo e uma associação comercial já terem organizado actividades para dinamizar aquela zona.

Uma das pessoas ouvidas, foi um proprietário de um restaurante, que não quis ser identificado, tendo destacado que, nos últimos meses, o volume de negócios caiu cerca de 30 a 40 por cento face ao passado. Este homem, apontou como uma das principais razões a quebra de clientes com grande poder de compra dos casinos-satélites situados nas proximidades.

O comerciante confessou que a capacidade de compra de residentes locais é limitada, pagando entre 30 a 50 patacas por um pequeno-almoço ou almoço, ou 50 a 80 patacas por um jantar. Disse ainda que os apostadores dos casinos é que sustentam a economia do ZAPE, sobretudo depois das 22h.

O proprietário de um restaurante frisou que mesmo que o Governo coloque no ZAPE decorações sazonais para melhorar o ambiente de negócio e atrair visitantes, ou mesmo com o trabalho realizado por associações comerciais com plataformas locais e da China, os comerciantes da zona continuam pessimistas quanto ao futuro.

Isto porque, na prática, não vêm a tendência de quebra de negócios alterar-se, acreditando que quando todos os casinos-satélite da zona fecharem portas, a perda de clientes será ainda maior. Outro problema que têm de enfrentar, é o custo da renda, pois nesta fase a única discussão que pode ser feita com os proprietários dos espaços comerciais é no sentido de uma redução do valor.

Quebra para metade

Outro dono de restaurante na zona, confessou que também viu o negócio baixar em cerca de 50 por cento nos últimos meses, mostrando-se igualmente pessimista. Porém, garante que consegue manter o negócio caso o Governo conceda apoios.

Este proprietário espera, por isso, que as autoridades concedam mais recursos para atrair os visitantes ao ZAPE, desejando ainda mais actividades realizadas pelo Governo ou pela associação comercial que representa a zona. Caso o volume de receitas continue a sofrer reduções, só lhe resta desistir do negócio, confessou ao Ou Mun.

Numa área de actividade diferente, desta vez um supermercado, um funcionário apontou que o dono já demonstrou a intenção de trespassar o negócio devido à queda das vendas. O entrevistado reconheceu que o ZAPE vai receber, no futuro, diversas actividades e eventos, mas entende que não vão trazer muito impacto no negócio porque o ambiente da zona não é atractivo, não existindo atracções para que os turistas tirem fotografias. Além disso, o funcionário do supermercado lembrou que também não existem lojas com características próprias, ou mais tradicionais.

12 Dez 2025

UPM | Estudante cria modelo de IA para novos medicamentos

Uma estudante da Universidade Politécnica de Macau desenvolveu um modelo de inteligência artificial para descobrir e optimizar fármacos, que abrem novas perspectivas clínicas em diversas áreas, das doenças oncológicas às neurodegenerativas

O trabalho de Yanan Tian, aluna do Programa de Doutoramento Conjunto entre a Faculdade de Ciências e Tecnologia Universidade de Coimbra (UC) e a Universidade Politécnica de Macau (UPM), promete uma nova abordagem para a concepção de fármacos com maior selectividade e eficácia clínica.

“Este trabalho propõe o modelo MMCLKin, uma estrutura baseada em métodos de inteligência artificial (IA) avançada, concebida para prever com elevada precisão e interpretabilidade a actividade e selectividade de inibidores de quinases, acelerando significativamente o processo de descoberta e optimização de novos fármacos direccionados”, explicou Yanan Tian, em comunicado da Faculdade de Ciência e Tecnologia enviado à agência Lusa.

Segundo a nota, as proteínas quinases constituem uma das classes de alvos terapêuticos mais relevantes na investigação biomédica, cujo potencial resulta do papel central que desempenham na regulação de múltiplos processos celulares, incluindo proliferação, diferenciação e morte celular. “No entanto, o desenvolvimento de inibidores altamente selectivos continua a ser um desafio, devido à forte conservação estrutural entre as quinases e ao elevado custo dos ensaios experimentais”, referiu.

Os resultados da investigação realizada sob a orientação dos professores Joel P. Arrais, do Departamento de Engenharia Informática da FCTUC, e Huanxiang Liu, da UPM, “demonstram que o modelo supera os métodos existentes na previsão da afinidade e selectividade de inibidores, mesmo em casos que envolvem estruturas desconhecidas ou quinases mutadas”.

Poder de adivinhação

De acordo com os autores do estudo, os ensaios validaram o poder predictivo do modelo, demonstrando que cinco compostos sugeridos pelo MMCLKin inibem de forma eficaz uma mutação associada a doenças neurodegenerativas, sendo quatro deles activos em concentrações nanomolares. “Estes resultados reforçam o potencial do MMCLKin como ferramenta para acelerar o desenvolvimento de terapias direccionadas, abrindo novas perspectivas para o desenho racional de fármacos com maior selectividade e eficácia clínica”, lê-se no comunicado.

Segundo os investigadores, a abordagem proposta representa um avanço na aplicação da IA à descoberta de fármacos, demonstrando como modelos computacionais de nova geração podem reproduzir ‘in silico’ processos biológicos complexos que, de forma experimental, podem demorar anos ou mesmo décadas. Esta capacidade permite a identificação rápida de candidatos terapêuticos promissores, reduzindo significativamente o tempo e o custo da investigação farmacêutica.

Para além do seu impacto imediato, abre novas direcções de investigação no campo da modelação de quinases, ao proporcionar um quadro unificado para analisar padrões estruturais, mutacionais e funcionais ao longo de toda a família de quinases humanas.

“Este tipo de abordagem pode evoluir para modelos generalistas capazes de antecipar o comportamento de novas quinases — incluindo aquelas ainda sem estrutura identificada — e apoiar o desenho racional de terapias selectivas e personalizadas em diversas áreas, desde o cancro às doenças neurodegenerativas”.

12 Dez 2025