Taipa | Novo espaço cultural mostra antiga fábrica e raro património industrial

Com a abertura recente ao público do passadiço da antiga Fábrica de Panchões Iec Long, no coração da Taipa velha, Macau passou a contar com mais um trunfo turístico. A LUSA, com a ajuda de uma arquitecta do Instituto Cultural, leva-nos numa visita guiada à emblemática estrutura que materializa uma indústria desaparecida

 

O polo cultural que está a ser desenvolvido nas antigas ruínas da Fábrica de Panchões Iec Long, na Taipa, resgata um “vestígio muito completo” da história da produção de panchões em Macau e um raro exemplar do património industrial local.

Os portões trancados da antiga fábrica de panchões Iec Long são há muito imagem presente para quem percorre a rua Fernão Mendes Pinto, na vila da Taipa, e sinalizam um episódio da história de Macau muitas vezes esquecido.
Elemento típico da cultura chinesa, o panchão, cartucho de pólvora revestido a papel vermelho e queimado em ocasiões festivas, como no ano novo lunar, alimentou, entre os séculos XIX e XX, uma das indústrias mais robustas de Macau. E a Iec Long, desactivada em 1984 e tomada pelo tempo e pelo arvoredo, conserva até hoje a memória mais completa da produção de panchões no território, além de ser um dos escassos exemplares do património industrial local.

“É um vestígio muito completo, uma janela para o passado de uma fase muito importante para a subsistência da população e o desenvolvimento económico da cidade”, nota Carla Figueiredo, do departamento do património do Instituto Cultural (IC), que acompanha a Lusa numa visita ao espaço, aberto ao público em finais de Dezembro após a conclusão da primeira fase de reabilitação (ver texto secundário).

Às dez de manhã de quinta-feira, o novo passadiço de teca, que percorre as antigas unidades de produção, como a câmara de fabrico de pavios ou a sala de entalhe de panchões, ao longo de um percurso de mais de 400 metros, está praticamente desocupado. Raízes aéreas de uma figueira-de-bengala avançam sobre velhas estruturas. Uma árvore de cânfora, com mais de 260 anos, é a espécie mais antiga do recinto de 25 mil metros quadrados.

“Algumas das unidades de produção estão rodeadas de paredes francamente espessas, para proteger das antigas funções. São indicativos das unidades mais perigosas”, aponta a arquitecta.

Ritos e magias

O manuseamento de produtos químicos para a preparação dos panchões representava uma ameaça à segurança de quem trabalhava na manufactura e ditou, no início do século XX, a transferência de fábricas da península de Macau para a Taipa, área menos povoada, e, a partir dos anos 1970, o declínio da actividade, com a generalização das restrições ao uso destes foguetes chineses.

Com isso, o papel social do panchão e “a ligação afectiva às próprias cerimónias” também mudou, lembra Carla Figueiredo. “Fazia parte das próprias festividades para afastar maus espíritos, portanto está muito integrado na filosofia de geomancia e de energias – afastar as más energias com os sons, com os ‘flashes’ dos panchões a rebentar e a poeira que ficava. Tudo isto são rituais simbólicos. Eram talvez mais mitológicos no início e hoje em dia são talvez mais celebratórios”, reforça.

Também o ‘feng shui’, prática que procura o equilíbrio entre o indivíduo e o espaço, “muito importante para qualquer planeamento urbano ou arquitectónico de edifícios chineses”, determinou a localização da unidade fabril, com a colina na parte traseira e o rio “que simboliza dinheiro e prosperidade” a correr pela frente.

Pólvora e gado

A Iec Long, estabelecida em 1925 por Tang Bick Tong, empresário de Nanhai, cidade da província chinesa de Guangdong, foi a fábrica de panchões que mais tempo esteve em funcionamento no território, chegando a empregar entre 400 a 500 funcionários, incluindo crianças, que montavam diariamente dois mil discos de panchões.

Porém, este ramo de actividade, exclusivo da comunidade chinesa, estreou-se em Macau quase 60 anos antes, chegando a ser um dos principais empregadores do território. O produto, exportado para as várias comunidades chinesas além-fronteiras, projectou a “imagem de Macau e da China para o mundo”.

“Haver uma linha de montagem para produzir algo que era tão crucial para a exportação local é de facto pioneiro em Macau e esta linha de montagem está perfeitamente reflectida nas estruturas que ainda existem”, diz a arquitecta. E lembra ainda outra função: “A própria fábrica de panchões tinha uma pequena quinta, com gado, com ovelhas, com galinhas e era quase auto-suficiente. Na altura da guerra de resistência contra os japoneses [1937-1945], a quinta da Iec Long foi importante para dar alimentos aos trabalhadores e até para venda nos mercados”.

Espírito do passado

Esse ambiente bucólico, que a intervenção do IC optou por preservar, é um “apelo à calma” e uma oportunidade para “fugir ao ritmo acelerado da vida”, num projecto que tem como propósito “diversificar o turismo cultural e descongestionar o centro histórico de Macau, com espaços alternativos de interesse cultural”.

Para já, além do passadiço e do mobiliário urbano, o novo espaço integra ainda uma loja de lembranças e a exposição interactiva ‘Eco de panchões’, que evoca a história na génese desta estrutura quase centenária, estando já prevista a organização de programas culturais, como oficinas sobre chá ou pintura ou a actuação de músicos no local. Entre os planos para uma próxima fase, projectam-se intervenções nas antigas unidades de produção, mantendo sempre “a memória da função do espaço”.

“Não está com aqueles cuidados clínicos, que seria tudo demasiado limpo e que tiraria a característica do sítio”, refere Carla Figueiredo, que realça a opção da equipa de arquitectos em “mostrar a verdade dos materiais”. “Não estamos a fazer nada que não seja irreversível, portanto há aqui um princípio básico no nosso restauro que é o princípio de reversibilidade: é sempre possível tirar o passadiço e podermos pensar noutros usos”.

Passadiço da antiga Fábrica de Panchões Iec Long inaugurado durante surto

O Passadiço da Antiga Fábrica de Panchões Iec Long foi inaugurado discretamente dois dias antes do Natal, numa altura em que o território era assolado por uma vaga pandémica que infectou quase por completo a população de Macau. A abertura do espaço veio elevar o leque de oferta de espaços culturais relaxantes na Taipa velha. Na altura, o Instituto Cultural (IC) descreveu o local como “um dos projectos importantes do programa de Inverno ‘Uma Base Cultural’”.

O passadiço é constituído por um percurso turístico com cerca de 400 metros, “concebido para dar continuidade às memórias históricas e incluir os elementos do ambiente original da fábrica”. Ao longo do passeio, é servida aos visitantes informação que permite ficar a conhecer a sala de fabrico de pavios, os canais de água, os tanques, a sala de entalhe de panchões e o armazém de materiais.

O IC disponibiliza também um sistema de visitas guiadas para dar a conhecer com maior profundidade todos os detalhes sobre a arte de produzir panchões e os processos de fabrico usados na época, aliando em harmonia o património cultural do parque e dos edifícios históricos com as frondosas árvores que dominam o local. O passadiço está aberto todos os dias entre 06h e as 19h.

Negócio de estrondo

A indústria de panchões de Macau começou a desenvolver-se a ritmo acelerado a partir da década de 1920, com várias fábricas de panchões estabelecidas na Taipa, tornando-se uma indústria líder e com posição relevante no desenvolvimento industrial de Macau na altura.

Tendo em conta que os panchões se tornaram um importante produto com peso na economia local e expressão nas exportações da região, um número considerável de residentes da Taipa envolveu-se na produção de panchões durante o seu apogeu, dos anos 50 até 70. A referida indústria esteve estreitamente relacionada com a vida da população e as comunidades da Taipa, desempenhando um papel essencial na história do desenvolvimento económico de Macau.

A antiga Fábrica de Panchões Iec Long, com uma história de quase 100 anos, é a única ruína que se conservou até ao presente da indústria de panchões em Macau, encontrando-se num bom estado de preservação, e reflecte a prosperidade dessa indústria tradicional de Macau do século XX, sendo um testemunho do desenvolvimento da indústria moderna de Macau.

13 Fev 2023

Terramoto | China insta EUA a levantar sanções contra a Síria

A China instou os EUA a pôr de lado a sua “obsessão geopolítica” e a levantar imediatamente as suas sanções unilaterais contra a Síria, uma vez que o envolvimento a longo prazo de Washington na crise síria com intervenção militar e sanções económicas resultou num grande número de baixas civis e dificuldades no desenvolvimento económico e no processo de reconstrução do país.
A Síria, que viveu anos de guerra e tumultos e foi recentemente atingida por um forte terramoto, enfrenta uma grave crise humanitária e tanto as Nações Unidas como a Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho apelaram a uma ajuda de emergência às vítimas na Síria para evitar uma maior deterioração da situação humanitária naquele país, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês Mao Ning na conferência de imprensa de quarta-feira, em resposta à alegação do governo dos EUA de que não irá lidar directamente com o governo sírio.
“Os EUA estão há muito envolvidos na crise síria com frequentes intervenções militares e duras sanções económicas, resultando num grande número de baixas civis, dificuldades na obtenção de segurança básica de vida para a população local, e dificuldades no desenvolvimento económico e no processo de reconstrução”, disse Mao Ning.
“Até agora, os militares norte-americanos continuam a dominar a principal região produtora de petróleo da Síria, pilhando mais de 80 por cento da produção petrolífera, contrabando e queimando as reservas alimentares sírias, o que agravou a crise humanitária”, observou Mao. “Os EUA devem pôr de lado a sua obsessão geopolítica, levantar imediatamente as sanções unilaterais contra a Síria e abrir a porta à ajuda humanitária face à catástrofe”, concluiu.

Equipas chinesas na Síria e na Turquia
Mao disse que a China também presta muita atenção ao terramoto na Síria. A fim de expressar a simpatia e o apoio do governo e do povo chineses ao lado sírio, a China decidiu fornecer 30 milhões de yuan em ajuda humanitária de emergência à Síria, incluindo 2 milhões de dólares em dinheiro e material de socorro urgentemente necessário. Ao mesmo tempo, a China irá acelerar a implementação dos projectos de ajuda alimentar em curso.
De acordo com Mao, os departamentos chineses relevantes cooperarão também com a Síria para assegurar a rápida implementação da ajuda acima referida e a ajuda no socorro e salvamento das vítimas do terramoto.
A Agência de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento da China (CIDCA) afirmou na quarta-feira que o governo chinês lançou imediatamente o mecanismo de ajuda humanitária de emergência para prestar assistência de emergência à Turquia e à Síria após a ocorrência do terramoto.
A pedido do governo turco, o governo chinês enviou uma equipa de salvamento chinesa para a Turquia para o salvamento internacional. Os 82 membros da equipa de salvamento chinesa, transportando 21 toneladas de equipamento e provisões de salvamento, partiram do Aeroporto Internacional de Pequim num voo fretado da Air China para a área atingida pelo desastre na Turquia, de acordo com a CIDCA. Entretanto, 220 toneladas de trigo estão a caminho da Síria, e as restantes 3.000 toneladas de arroz e trigo serão em breve enviadas em dois carregamentos por atacado.
Os 82 membros da equipa de salvamento irão principalmente tentar salvar os que estão presos debaixo das ruínas dos edifícios, bem como fornecer alguma assistência médica no local. A equipa ajudará a encontrar sobreviventes, oferecerá ajuda médica, estabelecerá “hospitais móveis” e assim por diante, de acordo com relatos dos meios de comunicação social.
Ao mesmo tempo, os chineses de todos os estratos sociais estenderam a sua ajuda à Turquia e à Síria. Uma equipa de resgate civil chamada Ramunion, de Hangzhou, província de Zhejiang da China Oriental, enviou uma equipa avançada à Turquia para levar a cabo a ajuda em caso de catástrofe nas áreas mais atingidas.
A China anunciou fornecer à Turquia 40 milhões de yuan de ajuda de emergência na primeira parcela. O governo chinês continuará a prestar assistência à Turquia e à Síria dentro das suas capacidades, à luz da evolução da situação de catástrofe e das necessidades reais, disse a CIDCA.

Mais de 11 mil mortos
O número de mortes por sismos devastadores no sul da Turquia e na Síria aumentou para mais de 11.000 a partir de quarta-feira, tornando o sismo o mais mortal em mais de uma década, de acordo com a Associated Press. Os trabalhadores de salvamento estão a cavar os escombros em meio a um tempo gelado para salvar o maior número de vidas possível.
Os meios de comunicação social relataram que mais de 8.000 pessoas só na Turquia tinham morrido do terramoto a partir de terça-feira.
“Cerca de 120 pessoas do Blue Sky Rescue da China também chegaram na quarta-feira e espera-se que mais pessoas cheguem na quinta-feira”, disse Zhang Yong, líder e fundador da equipa. Os membros do Blue Sky Rescue trouxeram consigo um sistema de resgate e alarme de terramotos. O sistema foi desenvolvido pelo Instituto de Cuidados e Vida com sede em Chengdu, a Administração dos Terramotos da China e outros laboratórios. Pode ligar-se automaticamente aos interfones dos trabalhadores de resgate antes da chegada de ondas secundárias destrutivas e avisá-los para partirem. “Esta é a primeira vez que este sistema está a ser utilizado no socorro de catástrofes fora da China”, disse o instituto.
Zhang disse que a equipa tinha avaliado os riscos do trabalho de salvamento. Os tremores secundários são a principal preocupação, porque as magnitudes dos principais choques eram elevadas e é possível que se sigam tremores secundários de grande magnitude. Ele também se preocupou com as temperaturas geladas e os nevões, que podem complicar ainda mais os trabalhos de salvamento. Existem outros factores, tais como conflitos, uma vez que a região sísmica tem sido assolada por conflitos militares durante anos.

Mais de 100 réplicas
Em 36 horas após o grande terramoto, a Turquia foi atingida por mais de 100 tremores secundários de magnitude 4 e maior, noticiaram os media na terça-feira. De acordo com o United States Geological Survey, estes movimentos sísmicos são pequenos reajustes ao longo da porção de uma falha que escorregou na altura do terramoto principal. A frequência destes abalos secundários diminui com o tempo.
Na Síria, a maior parte das baixas ocorreu no noroeste do país, de acordo com a agência noticiosa estatal, SANA. A região já está a lutar pela reconstrução de infra-estruturas vitais fortemente danificadas durante a guerra civil do país. É uma “crise na crise”, disse El-Mostafa Benlamlih, residente da ONU e coordenador humanitário na Síria, à CNN na segunda-feira.
No entanto, conseguir ajuda para todas as partes da Síria devastada pela guerra está repleta de desafios políticos e logísticos assustadores, devido às sanções dos EUA ao país. No entanto, os EUA e os seus aliados resistiram até agora às tentativas de criar uma abertura política através da resposta à catástrofe.

10 Fev 2023

Lei Sindical | FAOM omite críticas em relatório entregue às Nações Unidas

No final da próxima semana, as autoridades de Macau serão ouvidas nas Nações Unidas sobre a forma como está a ser aplicado o Pacto Internacional dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais. Com a lei sindical na ordem do dia, associações locais enviaram relatórios sobre a matéria. Apesar das críticas internas, a FAOM não mencionou à ONU a omissão do direito à greve e da negociação colectiva, colando-se à retórica do Governo

 

Nos próximos dias 15 e 16 de Fevereiro, a delegação chinesa que inclui representantes dos governos de Macau e Hong Kong vai apresentar ao Comité dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais das Nações Unidas (ONU) relatórios de avaliação à forma como é implementado o Pacto Internacional dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais.

Com a lei sindical aprovada na generalidade pela Assembleia Legislativa (AL) no mês passado, este tema mereceu a análise de associações locais, entre elas a Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), a Associação Geral das Mulheres de Macau, a Federação de Juventude de Macau e o Macau Research Group, de Jason Chao.

Depois de inúmeras críticas de deputados ligados à FAOM sobre as insuficiências da proposta de lei sindical apresentada pelo Executivo de Ho Iat Seng, o relatório entregue à ONU não menciona qualquer das críticas divulgadas por dirigentes da associação em Macau.

Na sua lista de recomendações, e em todo o relatório entregue pela FAOM, não é feita qualquer referência ao direito à greve e a única menção ao direito à negociação colectiva é feito num parágrafo elogioso à fórmula tradicionalmente usada no Conselho Permanente de Concertação Social. “Os empregados são um importante factor de desenvolvimento estável de uma empresa. As consultas tripartidas entre representantes laborais, patronato e Governo devem ser fortalecidas para estabelecer um mecanismo de negociação colectiva com características de Macau, em linha com a situação actual no território”, refere a FAOM, acrescentando como a necessidade de equilíbrio entre os direitos dos trabalhadores e a estabilidade social.

Uma posição internacional que destoa das assumidas internamente pelos deputados da FAOM. Dias antes da proposta de lei ter sido votada na generalidade na AL, 16 de Janeiro, Lei Chan U assinou uma nota de imprensa a reclamar a importância do direito à greve.

“Por um lado, é necessário manter a tradição de negociação para resolver os conflitos e proteger a harmonia social. Por outro, o direito à greve é a forma de garantir a eficácia das negociações colectivas, podendo ser um resultado inevitável dos conflitos laborais e um meio de evitar a intensificação dos conflitos laborais”, escrevia na altura o deputado da FAOM.

Narrativa harmoniosa

As posições mais leves assumidas pela FAOM no relatório enviado à ONU não se ficam pelas omissões. Depois de terem evidenciado as fraquezas legais em termos laborais reveladas pela crise, o documento submetido pela FAOM elogia a resposta do Governo à subida do desemprego durante os anos de pandemia.

Mencionando a organização de múltiplas feiras de emprego, a FAOM refere que o Executivo “fez tudo para ajudar os residentes desempregados e proteger os direitos laborais da população”.

É também defendido que o Executivo de Ho Iat Seng trabalhou para melhorar a competitividade da mão-de-obra local e cultivar talentos através dos programas de formação subsidiada

Em relação lei sindical, a FAOM define prioridades e objectivos que a legislação deve atingir. Em primeiro lugar, garantir o respeito pelas associações de cariz laboral do território. Depois de décadas de “defesa dos direitos e interesses dos trabalhadores”, “a aplicação da lei sindical deve garantir uma transição suave para as associações laborais que já existem, de forma a respeitar a história dos movimentos laborais de Macau, mas também ajudar as associações a continuar a desempenhar um papel positivo na sociedade”.

A garantia da paz, harmonia social e segurança nacional são outros aspectos declarados prioritários na aplicação da lei sindical destacados pelo relatório da FAOM, dando eco aos argumentos apresentados pelo Executivo. “Uma sociedade estável e harmoniosa é um pré-requisito para que os trabalhadores vivam e trabalhem em paz. Os sindicatos devem ser organizações que lutem pelos legítimos direitos dos trabalhadores, mas também devem ser garantes da salvaguarda da estabilidade social. A FAOM concorda que a formulação da lei sindical deve respeitar o primado da prevalência do Executivo e ter como premissa legislativa a salvaguarda da segurança nacional”, é indicado no relatório dos Operários.

Guardiões da economia

A FAOM argumenta também que os sindicatos devem promover o desenvolvimento económico e contribuir para a construção de relações laborais harmoniosas. “O princípio da boa-fé deve ser a base de todas as relações laborais (…), os sindicatos devem desempenhar um papel de apoio e coordenação com o objectivo de desenvolver a diversificação sustentável e moderada da economia de Macau”.

Em relação aos direitos dos trabalhadores não-residentes, a FAOM não menciona que estes estão afastados de formarem ou pertencerem aos corpos dirigentes de sindicatos, mas argumenta que este segmento da população goza de “segurança laboral”.

O documento entregue pela FAOM enaltece ainda várias medidas aprovadas pelo Governo, como os cinco dias de licença de paternidade, o aumento para licença de maternidade, os feriados compensatórios quando um feriado público obrigatório calha a um fim-de-semana e o aumento da compensação por despedimento sem justa causa.

Copia e cola

Num relatório idêntico ao apresentado pela FAOM, a Federação de Juventude de Macau, presidida por Alvis Lo, defende que a lei sindical deve clarificar o estatuto legal dos sindicatos dentro do enquadramento “do primado da prevalência do Executivo”, à semelhança do que é argumentado pelos Operários, “reflectindo a determinação do Governo da RAEM em cumprir as obrigações em convenções internacionais”.

Depois de defender a necessidade de “dar corpo” ao direito a formar sindicatos previsto na Lei Básica, a associação liderada pelo director dos Serviços de Saúde e membro do Governo, faz uma conexão lógica com o direito de reunião e manifestação consagrado na Lei Básica. “Desde que o propósito da reunião ou manifestação não seja ilegal, (…) os residentes de Macau gozam do direito de aderir a sindicatos”, argumenta a Federação de Juventude de Macau, acrescentando que “os trabalhadores estão protegidos legalmente, de acordo com a legislação já existente, de retaliações originadas por luta por direitos laborais”.

A necessidade de a legislação sindical promover o desenvolvimento económico da RAEM é também elencado pela associação.

Jason à distância

A Macau Research Group, liderada pelo activista Jason Chao, é a única associação que destaca a ausência do direito à greve e à negociação colectiva na lei sindical.

A associação refere que o diploma “fica aquém de concretizar a protecção dos direitos dos trabalhadores prometida pela Lei Básica da RAEM” e “demonstra uma forte tendência para regulamentação excessiva na formação e funcionamento dos sindicatos”, “sem referências ao direito à greve e ao direito à negociação colectiva”.

O antigo dirigente da Associação Novo Macau revela também preocupação em relação à obrigatoriedade de os dirigentes sindicais serem residentes de Macau, requisito que coloca à margem do sindicalismo os trabalhadores não-residentes.

Jason Chao destacou também que seguindo a linha legislativa actual, os sindicatos de Macau serão fortemente limitados na afiliação e colaboração com alianças sindicais internacionais. “De acordo com a Direcção para os Assuntos Laborais (DSAL), devido a preocupações relacionadas com segurança nacional, deverá ser implementado um sistema de supervisão dos sindicatos que tenham afiliação em alianças laborais internacionais ou que participem em eventos internacionais”. Aliás, poderá ser necessária a entrega de relatórios trimestrais à DSAL a sindicatos que participem ou co-organizem eventos com entidades estrangeiras. É sublinhado que até agora, antes da entrada em vigor da lei sindical, as associações não estão obrigadas à supervisão do Executivo.

A Macau Research Group apela à contenção do legislador “em presumir que a participação de sindicatos em eventos internacionais ou afiliação em alianças laborais internacionais representa um perigo para a segurança nacional”.

7 Fev 2023

Turismo | Desafios e perspectivas do sector depois da crise pandémica

Os números do turismo no Ano Novo Chinês foram animadores. Mas será que o sector retirou ilações dos três anos de crise, ou tudo continua na mesma? Especialistas ouvidos pelo HM dizem que continua a ser importante apostar no turismo sustentável, de qualidade e com mais e melhores infra-estruturas, além de ser fundamental atrair mão-de-obra estrangeira

 

“Depois de atravessarmos o deserto, qualquer água é boa”. É desta forma que Bruno Simões, presidente da Associação de Reuniões, Incentivos e Eventos de Macau, descreve o regresso da economia e do turismo quase à normalidade. Os números de turistas que entraram em Macau durante o período do Ano Novo Chinês foram animadores, com o território a receber, numa semana, mais de 450 mil visitantes, enquanto o Aeroporto Internacional de Macau registou um aumento de passageiros na ordem dos 80 por cento. Por sua vez, as receitas brutas do jogo, relativas a Janeiro, registaram o valor mais alto desde o início da pandemia, de 11,6 mil milhões de patacas.

Face a esta realidade, importa aferir se os sectores do turismo, hotelaria e restauração adaptaram os serviços disponibilizados aos turistas, ou se não foram feitas mudanças significativas ao nível operacional.

Para Bruno Simões, há ainda pouca inovação da parte do Governo, apesar de ter decidido eliminar as restrições de combate à pandemia. “Continuamos com o que tínhamos, uma falta de visão. O Governo tem de ser mais ágil e pró-activo. A nível do IPIM [Instituto de Promoção do Comércio e Investimento], não passaram qualquer mudança ou política para o turismo de negócios. Continuamos com as promoções que tínhamos antes, com algumas novidades. O que falta em Macau é audácia, projectos que nos diferenciem. Não temos visto nada disso”, defendeu ao HM.

O futuro revela-se promissor, mas é ainda cedo para definir grandes objectivos. Bruno Simões assegura que na área de organização de grandes eventos empresariais “ainda não aconteceu nada”. “Nem sequer estão a chegar os primeiros pedidos, pois a abertura foi muito recente. Teremos de esperar um mês ou dois para termos notícias positivas.”

O responsável dá conta que, daqui para a frente, a economia vai ter de funcionar com uma menor aposta do jogo VIP e com um maior enfoque no entretenimento. Posição assumida pelo economista José Sales Marques, que acredita que a necessidade de diversificação foi a grande lição aprendida pelo sector.

“Aprendemos que, de facto, há que diversificar não apenas a estrutura da actividade económica de Macau, oferecendo coisas diferentes, mas também os mercados. O Governo lançou algumas pistas e fez um esforço para que a procura pelo jogo e turismo de Macau consiga ir além do mercado chinês. Veremos de que forma todas essas ideias são concretizadas. É preciso uma política muito assertiva, de atracção desses novos mercados.”
Sales Marques destaca a “resiliência” ganha pela economia local e por muitos operadores durante a pandemia, que levou à extinção de empresas estrutural e financeiramente mais fracas.

“Os operadores económicos de Macau adquiriram resiliência e esse é um bom sinal. Mas o ser-se forte depende de como os negócios estão organizados e também da sorte, muitas das vezes. A economia de Macau mostrou bastante resiliência tendo em conta que somos um mercado muito pequenino”, adiantou o economista, que defende o regresso em força à contratação da mão-de-obra não residente, à qual “é preciso dar valor”.

“Macau tem de proporcionar condições favoráveis para que essa mão-de-obra regresse. A mão-de-obra que vem para Macau, com raras excepções dos sectores não diferenciados, é especializada e semi-especializada, e o que aconteceu em Macau foi muito mau nesse aspecto. Temos de saber atrair novamente a confiança desses trabalhadores para que contribuam para a nossa economia.”

Sustentabilidade precisa-se

Glenn Mccartney, especialista em Turismo e docente da Universidade de Macau (UM), diz que é altura de pôr em prática algumas das questões que foram sendo exigidas nos últimos anos, quando o território registava um turismo em massa com possíveis consequências negativas para o património, ambiente e bem-estar social.

“Os três anos da pandemia deram-nos uma oportunidade para pensar naquilo que iríamos fazer aquando da reabertura, como podemos oferecer um melhor turismo, com políticas mais sustentáveis. Temos de estar atentos aos próximos tempos, pois a covid não desapareceu, e os sectores do turismo e hotelaria têm de se manter resilientes.”

“No passado, tínhamos turismo em massa, com muita gente no território, no limite da capacidade. Isso faz parte da responsabilidade corporativa das empresas, olhar para a protecção do meio ambiente. Estamos a voltar à normalidade e todos querem voltar aos números de 2019, mas gostaria de ver mais reflexão sobre esses pontos, embora entenda a urgência dos sectores económicos para a recuperação das perdas e para que haja mais clientes nas lojas e restaurantes”, adiantou ao HM.

Os números do Ano Novo Chinês foram animadores, mas Glenn Mccartney acredita que “vai demorar algum tempo” até que o sector MICE, de exposições e convenções, “volte à normalidade”.

“Estamos a virar a página, teremos dez anos com os novos contratos de jogo, teremos de ver como crescer os elementos não jogo, como é o caso do entretenimento e dos eventos. É preciso mais trabalho em termos do número de voos e infra-estruturas, para conseguirmos atrair mais turistas internacionais”, frisou.

Mãos à obra

Luís Herédia, presidente da Associação de Hotéis de Macau, diz que “houve alguma aprendizagem” com a crise que está gradualmente a chegar ao fim. “Houve a noção de que dependemos muito da mão-de-obra importada para conseguirmos dar resposta à procura que Macau atrai e que temos necessidade de manter os padrões de qualidade, que novo recrutamento implica formação adicional e específica. A noção que sabemos o que fazer e que temos de fazer bem e depressa”.

Luís Herédia considera que não existe “necessidade de alterar o produto ou o tipo de serviço” disponibilizado ao turista, pois este procura Macau “pelo produto singular que tem para oferecer, a sua cultura, o património, a gastronomia e o entretenimento”.

É nesta área que “há bastante a fazer”, pois “os grandes espectáculos fecharam e não havia um programa geral em curso, o que faz falta na cidade”. “A Direcção dos Serviços de Turismo deu alguma resposta com a organização de paradas e animações de rua, bem como o fogo de artifício, mas, em geral, o programa de entretenimento oferecido pelos diversos players de Macau precisa de mais tempo para ser refeito”, acrescentou.

Mesmo com “expectativas animadoras” em relação aos próximos meses, Luís Herédia confessa que “há ainda bastante a fazer em vários sectores”, nomeadamente no que diz respeito aos transportes e acessos a Macau. “É preciso dar um melhor aproveitamento ao aeroporto, reabrir mais rotas aéreas, alargar os horários dos ferries, recrutar mais mão-de-obra em geral e fazer um reinvestimento ao nível da animação e do entretenimento.” É também essencial, segundo o dirigente associativo, “fazer uma aposta redobrada na formação, reactivar a promoção junto dos mercados geradores de turistas e fazer uma aposta no sector MICE”.

Para que Macau regresse a 2019 é preciso “trabalhar no vector da qualidade, na reorganização dos acessos e dos transportes, fornecimentos e capacitarmos melhor os nossos recursos humanos, além de atrairmos grandes eventos MICE”. Os números registados no período do Ano Novo Chinês “foram importantes, mas é mais importante conseguir regenerar e melhorar o nosso produto turístico, apostar na qualidade e aumentar o tempo de permanência dos turistas”, concluiu Luís Herédia.

Mais turistas

Helena de Senna Fernandes, directora dos Serviços de Turismo (DST) disse esperar que Macau possa registar a média diária de 40 mil visitantes em 2023. Para Luís Herédia, esta é “uma estimativa relativamente animadora, que traria 14,6 milhões de visitantes a Macau este ano, cerca de 37 por cento comparando com 2019”. “É difícil prever o comportamento dos mercados e é necessária alguma cautela. Mas se conseguirmos oferecer um produto diversificado, de qualidade e atraente para diferentes mercados e segmentos, se estivermos munidos de recursos suficientes e capazes, seremos capazes de atrair turistas. Possivelmente, iremos atingir um maior número de visitantes a partir de meados deste ano.”

Ainda sobre o período do Ano Novo Chinês, Luís Herédia diz que alguns hotéis registaram “quebras significativas de negócio”, tendo-se mantido a actividade mesmo com problemas em matéria de recursos humanos. “Há quase três anos que as taxas de ocupação se mantinham baixas, bem como os preços dos quartos, mas os hotéis mantiveram o negócio. Foram-se ajustando os recursos, dispensaram-se trabalhadores, em algumas áreas cerca de 30 por cento da mão de obra importada, mas manteve-se a actividade. Alguns hotéis sofreram quebras significativas de negócio, outros menos, dependendo da sua dimensão. Todos sofreram e levarão alguns anos para recuperar.”

5 Fev 2023

Macaenses | Miguel de Senna Fernandes fala de “apelo” da comunidade face a Administração chinesa

Foi no colóquio “Mobilidade em Macau: vertentes do fenómeno migratório”, que decorreu quarta-feira em Lisboa, que Miguel de Senna Fernandes defendeu que hoje, mais do que nunca, os macaenses têm de “fazer um apelo” e afirmarem-se como tal perante a Administração chinesa, uma vez que estão em minoria. O colóquio abordou o fenómeno migratório dos macaenses, tido como intrínseco à comunidade desde a fundação de Hong Kong

 

Debater a comunidade macaense e as fases de emigração que ocorreram ao longo dos tempos foi o objectivo principal do colóquio “Mobilidade em Macau: vertentes do fenómeno migratório”, que teve lugar esta quarta-feira na Sociedade de Geografia de Lisboa. Miguel de Senna Fernandes, presidente da Associação dos Macaenses (ADM), falou da “Mobilidade em Macau: vertentes do fenómeno migratório”, onde defendeu que a comunidade macaense tem hoje de se afirmar como tal num território sob Administração chinesa desde 1999.

“Temos uma identidade e mais nada do que isso. Mesmo em Macau, e agora que a Administração é chinesa, temos de fazer um apelo e dizer que somos macaenses, porque esta terra não é nossa. Antes, na Administração portuguesa, não tínhamos de o fazer, mas hoje em dia sim. Temos de explicar.”

Nesse contexto, o também advogado adiantou que, ao contrário dos cidadãos de outros países, o macaense não tem uma entidade oficial que o represente. “Não temos embaixadas, não há uma nacionalidade macaense, não há consulados. Invocamos sempre uma nacionalidade emprestada. Temos sempre de invocar algo que não é necessariamente nosso. Apenas temos as Casas de Macau, que são organizações culturais e sociais dos macaenses.

Fora isso, não temos mais nada. Isso tem a ver com a emigração, porque é através dessas Casas de Macau que se devem reforçar esses dois pólos, sendo o chão comum dos macaenses, a cultura e a identidade”, adiantou.

Ainda sobre o fenómeno da emigração, Miguel de Senna Fernandes deixou um alerta sobre o risco da perda progressiva de identidade. “A emigração pode ter um impacto na cultura dos emigrantes, e no caso específico da comunidade macaense. Mas é fundamental que tenhamos a consciência da nossa pertença, para que não haja o prejuízo da perda de identidade.”

Miguel de Senna Fernandes denotou que “em todos os fenómenos migratórios as pessoas levam consigo as suas culturas”, mas que, no caso da emigração dos macaenses, “muitos tiveram de sacrificar as suas tradições para sobreviver socialmente”. Para trás ficaram a manutenção de alguns hábitos gastronómicos, familiares ou a própria aprendizagem do português.

“Despiram-se de muitas das suas tradições. Muitos deles não falam português porque é complicado falar a língua nos países anglo-saxónicos, por exemplo. A maior parte da comunidade macaense da Diáspora, à excepção de Portugal e Brasil, não fala português. Vemos interferências das culturas de acolhimento à cultura do macaense. Aí encontramos o primeiro grande impacto na cultura [da emigração]”, frisou.

O responsável e dirigente associativo diz mesmo que esse “abandono” das tradições macaenses se nota na realização dos encontros anuais da comunidade macaense, onde se “podem ver grandes diferenças de entendimento do que é ser macaense e da própria cultura”. “Temos várias comunidades macaenses”, acrescentou.

Desde a origem

Se Miguel de Senna Fernandes apontou Portugal como fazendo parte da Diáspora macaense, o antropólogo Carlos Piteira discordou. “O macaense deixou de estar só fechado em Macau, espalhou-se pelo mundo, tendo aqui uma forte componente migratória. Mas tenho a dizer que os macaenses em Portugal não pertencem à Diáspora, ao contrário dos restantes espalhados pelo mundo, sendo uma extensão dos macaenses de Macau, parte integrante da comunidade macaense na sua génese. Virem para Portugal era virem para a sua terra.”

Carlos Piteira, que fez a apresentação “Macau, terra de migrações: Uma narrativa singular”, falou do território como sendo uma “terra de emigrações na sua origem”, por ser “um pedaço de terra com emigrações continentais, com os próprios chineses de Cantão que começaram a emigrar, os chamados agricultores do Sul”. “A origem da população de Macau é, logo à partida, baseada na emigração”, descreveu, falando da mestiçagem como uma característica muito própria do macaense e, portanto, aquela que lhe garante uma “característica de diferenciação”.

“Logo no início de Macau os macaenses afirmam-se como os mestiços, intérpretes, tradutores, e designam-se como macaenses. Quanto à emigração, este ponto é fundamental, o surgimento de macaenses na Ásia que depois se situam em Macau, juntando-se à população chinesa que não era significativa na altura [século XVI]. Isso permitiu que os mestiços macaenses se consolidassem no território. A importância dos macaenses em Macau tem a ver com esse fenómeno migratório e a forma como ele se conflui e estabiliza, e só mais tarde é que começa a haver uma estratégia de ampliação”, acrescentou Carlos Piteira.

Adaptação constante

Ao longo dos séculos, e entre diversos fenómenos de emigração, os macaenses conseguiram sempre adaptar-se às diversas realidades. “Só quando os macaenses se vêem ameaçados pelos chineses e pela presença portuguesa, e sentem que vão estando, aos poucos, em minoria, adoptam uma estratégia de abertura a grupos de acolhimento.

Começam a aceitar os oriundos das famílias tradicionais e ampliam esta configuração para aquilo que são casamentos mestiços com chineses, algo mais recente, pois haveria alguma inconveniência da parte das chinesas em casar com portugueses.”

Na formação da sociedade de Macau existe, portanto, um triângulo composto por macaenses, chineses e portugueses. “Macau tem a génese populacional nos macaenses. Somos o início da população de Macau em termos da sua composição alargada além dos chineses e portugueses. Depois, os macaenses tiveram importância na governação do território através da representatividade no Leal Senado. Na Administração portuguesa, vemos a deambulação entre portugueses, chineses e macaenses. É esse triângulo que dá o aspecto de singularidade a Macau”, rematou.

Desde a primeira Guerra do Ópio que o macaense emigra, tendo-se espalhado pelo mundo. No entanto, Miguel de Senna Fernandes denota que persiste sempre um sentimento de pertença à terra onde quer que o macaense esteja emigrado.

“Não há macaense que não tenha um forte sentido de pertença à sua terra. Pode ter nascido em Macau ou ser descendente de alguém nascido em Macau. Existe uma ligação quase umbilical com a sua terra. Não interessa a língua que o macaense fala, existe entre nós algo que nos faz ligar a um espaço cultural mais amplo. Portugal tem um papel importantíssimo. Há um espaço cultural no qual Portugal tem um papel de referência”, rematou.

O colóquio durou apenas um dia e teve ainda outras intervenções, nomeadamente da parte de Maria Antónia Espadinha, que falou da “Migração estudantil, outras percepções de quem aprende em outras geografias”, e da escritora Maria Helena do Carmo, que falou de “Odisseias: memórias de uma viajante no Oriente”. As duas últimas apresentações do colóquio foram dedicadas ao patuá, com as intervenções de Raul Leal Gaião, “Patuá: Códigos do falar” e Álvaro Augusto Rosa, “O linguajar do português de Macau”.

A organização do evento esteve a cargo de Joaquim Ng Pereira, membro da Sociedade de Geografia de Lisboa e dirigente associativo, ligado à comunidade macaense em Lisboa.

26 Jan 2023

Novo Ano Lunar | Três anos depois a cidade volta a encher-se de turistas

Ruas a abarrotar, controlos de circulação implementados, e muitas filas de espera. Com o Novo Ano Lunar vieram a Macau mais de 250 mil turistas, numa região administrativa especial que aparenta cada vez mais estar de regresso à normalidade

 

Desde sábado, até ontem, mais de 250 mil turistas visitaram Macau para celebrar o Ano do Coelho, de acordo com os dados divulgados pelo Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP). Com o fim das restrições de viagem no Interior, os turistas vieram celebrar o novo ano para uma cidade que em muitos aspectos regressou à vida pré-pandemia.

Este ano, como tradicionalmente acontecia antes da covid-19, o dragão gigante dourado desfilou pelas ruas de Macau para assinalar o primeiro dia do ano do Coelho, numa cidade cheia de turistas, regressados depois do fim das restrições impostas pela política “zero covid”.

Com 238 metros de comprimento e acompanhado por 18 leões, o dragão dourado partiu das Ruínas de São Paulo, fez um percurso pela zona histórica da cidade para transmitir votos de boa fortuna a todos os residentes e visitantes, afastando-se depois do centro para terminar junto à Torre de Macau.

O regresso aproximado à “normalidade” foi possível porque desde o início de Dezembro, quando as autoridades do território anunciaram o cancelamento da maioria das medidas de prevenção e contenção da covid-19, à semelhança do que aconteceu na China, depois de quase três anos de rigorosas restrições, o número de visitantes tem vindo a aumentar gradualmente.

Sempre a subir

Em ambiente de festa, até às 11h, do primeiro dia do novo ano, tinham entrado 10.022 turistas em Macau, com as autoridades a esperarem, nessa altura, um máximo de 50 mil visitantes diários, menos 70 por cento do que antes da pandemia. A cautela nas previsões era justificada com a “situação ainda irregular dos transportes marítimos e aéreos”.

No entanto, as melhores previsões do Governo foram ultrapassadas logo nos primeiros três dias do novo ano. Se no último dia do Ano do Tigre, sábado, “só” entraram 32.512 visitantes na RAEM, no domingo, segunda-feira, terça-feira a previsão oficial de 50 mil entradas foi sempre batida, com os registos a serem de 50.090 turistas, 71.672 e 90.416, respectivamente.

A grande afluência nas ruas, e principalmente na Avenida Almeida Ribeiro, que esteve fechada ao trânsito e permitiu a circulação de peões, fez com que na terça-feira, a partir das 15h30, as autoridades tivessem mesmo de limitar a circulação. A partir dessa altura, as pessoas só podiam circular a partir do Edifício do Leal Senado em direcção ao Porto Interior, o que impedia que voltassem para trás por aquela artéria.

Surpresa agradável

Há mais de uma semana, em 13 de Janeiro, Macau tinha recebido quase 47 mil visitantes, o valor diário mais elevado no território desde que foi detectado o primeiro caso de covid-19, há quase três anos, indicou a Direcção dos Serviços de Turismo (DST).

Na altura, o director substituto da DST, Cheng Wai Tong, afirmou que não ia ser possível “de um momento para o outro registar o mesmo número de visitantes” que no período do ano novo lunar de 2019, em que visitaram Macau 170 mil turistas por dia.

“Não vamos conseguir ter todas as carreiras de ‘ferries’ a funcionar como antes da pandemia [de covid-19]. É impossível a retoma total dos voos e, por isso, é mais uma questão dos transportes que trazem os turistas”, considerou.

No entanto, e no que não deixa de ser uma boa notícia para a economia da região, os números foram bastante mais elevados. Relativamente às reservas hoteleiras para a época festiva, o representante da DST sublinhou que, naquele momento, a taxa situava-se entre os 30 e os 50 por cento.

Cidade em festa

Nos primeiros dias do Festival da Primavera, vários eventos decorreram em toda a cidade, como o desfile do Dragão, a realização de espectáculos de fogo-de-artifício, o encerramento da Avenida Almeida Ribeiro e vários concertos.

A animação vai continuar até ao fim-de-semana. Para os apreciadores de diferentes tipos de música, também não vão faltar alternativas. Os amantes do pop chinês contam com os espectáculos de George Lam, que actua hoje e amanhã, às 20h, no MGM Theater. Por sua vez, Grady Guan vai estar amanhã no Studio City, às 19h30.

Fora do estilo pop, na sexta-feira, a Igreja de São Domingos vai ser o palco do concerto com “Melodias Inesquecíveis” associadas a esta época festiva. Ainda dentro do capítulo musical, no sábado, o Venetian recebe “Night of Fortune Lunar New Year Concert”.

Sábado é também dia de repetição da Parada de Celebração do Ano do Coelho, desta feita no Norte da cidade, entre a Rua Norte do Patane e o Jardim do Mercado do Iao Hon, e o dia do último espectáculo de fogo-de-artifício. No domingo, realiza-se também uma parada, mas desta feita com motociclos, que vão circular nas imediações do Centro de Ciências de Macau.

Finalmente, para quem deixou passar a experiência de caminhar na Avenida Almeida Ribeiro, a iniciativa vai ser repetida a 4 e 5 de Fevereiro, sábado e domingo, respectivamente.

San Ma Lo atraiu turistas, políticos e até houve quem jogasse Mahjong

As celebrações do Ano do Coelho ficaram marcadas pela iniciativa de encerramento ao trânsito da Avenida Almeida Ribeiro, o que permitiu que os peões pudessem circular. A iniciativa do Instituto Cultural foi altamente popular e encheu-se com muitos residentes e turistas, o que inclusive levou à necessidade de implementar num dos dias controlos de circulação.

Além de nuvens suspensas, bancos e outras instalações artísticas, a avenida acolheu ainda actuações da Banda de Música do Corpo de Polícia de Segurança Pública e espectáculos de concessionárias, com shows alusivos ao Novo Ano, que contaram com a presença do “Deus da Fortuna”.

No meio de tanto furor, não faltou a presença de membros do governo, atraídos pela popularidade do local. Numa presença altamente coreografada, em que se fez acompanhar pela mulher, Cheng Soo Ching, Ho Iat Seng desfilou pelo local para desejar um bom ano para os comerciantes e ouvir turistas e residentes.

Integraram também a comitiva, que se fez acompanhar por vários seguranças, a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U, a chefe do Gabinete do Chefe do Executivo, Hoi Lai Fong, e a presidente do Instituto Cultural, Deland Leong Wai Man.

Outro membro do Governo que fez questão de ser fotografado na avenida, foi Wong Sio Chak, secretário para a Segurança. A deslocação, que fez parte de visitas a outros postos fronteiriços, foi justificada com a necessidade de verificar a situação de segurança in loco e de agradecer pessoalmente aos seguranças que passaram as festividades a trabalhar. Ao longo do trajecto, o secretário terá ainda destacado “o sacrifício da vida privada em prol dos interesses públicos nos dias festivos” dos trabalhadores da sua tutela.

Se por um lado, houve quem aproveitasse o encerramento ao trânsito da avenida conhecida em chinês como San Ma Lo (Estrada Nova), por outro, houve quem aproveitasse o espaço para outras actividades recreativas. A altas horas da madrugada, um grupo de amigos fotografou-se em frente do Edifício do Leal Senado à volta de uma mesa a jogar Mahjong. E embora não se saiba se o jogo foi levado até ao fim, a imagem rapidamente se tornou viral nas redes sociais.

DSEC | Menos 85% de visitantes face a 2019

Macau recebeu menos 85,5 por cento de visitantes em 2022 do que no último ano antes da pandemia, segundo dados divulgados pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC). O ano passado, a região administrativa especial chinesa perdeu 33,7 milhões de visitantes, quando se compara com os números de 2019, ano em que se registou o recorde de 39,4 milhões de visitantes.

Mas, de acordo com os dados da DSEC, o número de visitantes em 2022 (5,7 milhões) caiu também 26 por cento face a 2021. Em Dezembro, o número ainda decresceu 52,6 por cento em relação ao mesmo mês de 2021, devido às restrições fronteiriças e à vaga de casos de covid-19 que atingia a China continental, de onde chega a esmagadora maioria dos visitantes. Praticamente isolada desde o início de 2020, devido às medidas de prevenção contra a pandemia, Macau levantou restrições à entrada no território no final de Dezembro. Com Lusa 

26 Jan 2023

Rosa Bizarro e Edith Jorge, da Gerações – Escola Internacional: “Aposta na qualidade e diferença”

Vai nascer em Coloane uma nova escola internacional para alunos do ensino infantil ao secundário. Rosa Bizarro, directora académica da Associação do Colégio Sino-Luso Internacional de Macau (ACSLIM), e Edith Jorge, presidente do conselho de administração da entidade tutelar da Gerações – Escola Internacional, querem uma instituição inclusiva e trilingue, que forme cidadãos através do método educativo finlandês. O ensino do português será virado para o mundo lusófono

 

Já existe uma escola de ensino trilingue em Macau. Porquê criar outro projecto educativo desta natureza?

Edith Jorge (EJ) – Queremos responder à necessidade ou interesse que existe na aprendizagem das línguas. Sendo esta associação criada por macaenses, somos trilingues, pois nascemos e crescemos em Macau, e conhecemos todos esta realidade. Gostaríamos que, no futuro, o território fosse cada vez mais competitivo. Uma das principais vertentes dessa competitividade reside no domínio das línguas. Uma escola com estas três línguas ensinadas, a fim de permitir que os alunos sejam verdadeiramente fluentes, achámos que não era suficiente [a oferta educativa existente] e fomos também de encontro à política do Governo de ter diferentes tipos de escolas a funcionar, tal como escolas internacionais. Decidimos juntar as duas componentes.

A associação já existia ou foi criada só para este projecto?

EJ – Uma das razões pelas quais a associação foi criada foi a escola, mas não é a única. Temos interesse em continuar a investigar e a investir no domínio das línguas. Esta escola é um dos projectos mas temos outros planos.

Abrir uma nova escola, outro projecto educativo?

EJ – Sim, outras iniciativas ou parcerias com instituições locais e internacionais.

Falemos da Gerações e da colaboração com a professora Rosa Bizarro, que estava na Universidade Politécnica de Macau (UPM). Porquê abraçar este desafio como directora?

Rosa Bizarro (RB) – Fui professora na UPM de 2014 a 2021. Isso fez com que, durante meia dúzia de meses me tenha ausentado de Macau, e colaborei como docente na Universidade de Cabo Verde. Surgiu este convite da associação e como toda a minha profissão e currículo está ligado à docência e à formação de professores de todos os níveis de ensino, achei que seria uma oportunidade para ajudar esta equipa a implementar um projecto ambicioso, mas de grande qualidade. Tem muito de inovador e pretende-se que tenha frutos no presente imediato e no futuro. Estou muito ligada ao ensino das línguas e questões interculturais e achei que seria, de facto, uma oportunidade para pôr em prática aquilo que ao longo dos anos tenho defendido.

Pretendem, a partir de Setembro, abrir o ensino infantil a partir dos três anos e o ensino primário. Depois, no ano lectivo seguinte, querem abrir o ensino secundário. Neste momento, como está o processo de criação dos conteúdos programáticos?

RB – Este projecto tem-nos absorvido 24 horas por dia ao longo de vários meses. Quando a Direcção dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude nos atribuiu o alvará, no final de Dezembro, garanto que o essencial da preparação académica já estava feito. Temos programas que receberam o contributo de alguns especialistas internacionais das áreas. Estabelecemos protocolos com instituições de Portugal e de várias origens. Uma delas dá-nos base da metodologia que vamos seguir, pois queremos apostar na qualidade e na diferença e ter professores internacionais que dominam essa metodologia, que respeitam os parâmetros de exigência locais, mas que trazem uma mais-valia com esse contributo. Queremos apostar no ensino colaborativo e acreditamos que vai ser possível apostar na metodologia de projecto com valores que, muitas vezes, estão arredados das escolas.

O modelo de ensino em Macau baseia-se muito na memorização de matéria e não incentiva à participação do aluno na sala de aula. O método finlandês vai acabar com tudo isso?

RB – Não queremos acabar com nada (risos). O que queremos é semear entre pais e alunos outras abordagens para aprender. Queremos promover valores universais, como o respeito pelo outro e pela diferença, a capacidade de compreender o real e projectar novas realidades, mas sem termos a presunção de fazer revoluções. Vamos tentar oferecer qualidade, fazer com que os nossos alunos sejam valorizados pelos conhecimentos que vão adquirir e competências, mas também dotá-los da capacidade de serem felizes. Tudo isto está devidamente estruturado e acreditamos que o ser humano pode ser melhor e aprender muito, mas de outro mundo.

Abrir uma escola num período pós-pandemia é um desafio.

RB – Não é tarefa fácil. Quando a associação começou a pensar nisso tudo sabia que os constrangimentos seriam enormes, mas nada é por acaso. A situação da pandemia está a mudar e vamos começar a funcionar verdadeiramente no ano lectivo de 2023/2024, e isso dá-nos tempo para contratar professores locais e internacionais e preparar todo o trabalho. Vamos apostar também na formação específica do pessoal docente e não docente.

Durante estes anos de pandemia os alunos tiveram longos períodos de ensino online. Que desafios enfrenta o ensino neste momento?

RB – Não posso ser porta-voz de todos os agentes de ensino, mas penso que temos de procurar corresponder às exigências que o mundo coloca a todos. Tem sido feito um grande esforço para que na educação prevaleça um valor indiscutível e estou convencida que a existência de ofertas alternativas não vem destruir o que existe, vem enriquecer. Compete-nos estar atentos ao desenvolvimento científico, tecnológico e cultural e fazer com que a escola possa formar cidadãos conscientes e preparados. Penso que o futuro vai ser diferente do que são os dias de hoje, mas isso não quer dizer que se esqueça o passado, e daí o nome da nossa escola, Gerações.

No ensino do português vão “competir” com a Escola Oficial Zheng Guanying e a Escola Portuguesa de Macau, por exemplo. Que diferença procuram trazer neste campo?

EJ – Sempre achámos que a língua teria de ser ensinada com a cultura, e a visão que tínhamos da língua portuguesa não se resumia a Portugal. Obviamente que tem o seu lugar, mas gostaríamos de olhar para o idioma como sendo de todos os países de língua portuguesa. A nossa escola terá a particularidade de apostar na ligação de Macau com os países de língua portuguesa, apostando no português e na cultura, mas também ensinar a economia ou cultura de Angola, por exemplo. Somos todos um mundo de língua portuguesa e é essa a nossa filosofia.

RB – Esta escola é diferente porque assume as três línguas como a base de todo o trabalho desenvolvido. Vamos procurar a imersão dos alunos nas diferentes culturas e temos uma especificidade que é criar currículos que procuram dar respostas locais e universais. Tudo isso não se vai materializar apenas na sala de aula, sendo que haverá muitas actividades extracurriculares ou de carácter cultural, em que os diferentes parceiros e intervenientes darão o seu contributo. Pretende-se que um aluno que venha do ensino infantil seja trilingue quando terminar o ensino secundário.

Esta escola, e a associação, são exemplos de como a comunidade macaense deve mexer-se e actuar?

EJ – Exactamente. O nosso lema é falar menos e fazer mais. Macau tem tido um ritmo de crescimento formidável nos últimos anos e acho que é uma coisa boa se todas as áreas da sociedade acompanharem esse dinamismo. A comunidade macaense tem todas as condições, mesmo a nível de tradição, formação, pois naturalmente somos trilingues e temos uma flexibilidade muito grande. Podemos pegar nessas qualidades e elementos e avançar, mas não podemos apenas falar e criticar. Esta experiência da escola tem sido maravilhosa. Quanto mais sucesso este projecto tiver, mais elevada será a imagem da comunidade macaense, e é esse o legado que queremos deixar. O Governo de Macau tem apoiado muito a comunidade, tal como o Governo Central, e por todas estas razões e aquilo que somos há séculos, somos capazes de oferecer algo.

17 Jan 2023

Condecorações | BNU realça oportunidades de servir comunidade

O Chefe do Executivo entregou na sexta-feira as medalhas de mérito a diversas personalidades e entidades de Macau cujos feitos, em várias áreas, se destacaram no ano passado. No caso do Banco Nacional Ultramarino, Carlos Cid Álvares, acredita que o futuro trará mais oportunidades para servir as populações

 

Personalidades das áreas da banca, gastronomia e serviços sociais receberam das mãos do Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, na sexta-feira, as medalhas de mérito pelos serviços que prestaram em 2022. Uma das distinções foi atribuída ao Banco Nacional Ultramarino (BNU) enquanto entidade bancária histórica e marca que transitou do período da Administração portuguesa para a RAEM mantendo o papel na emissão da pataca.

À TDM, Carlos Cid Álvares, CEO da instituição bancária, disse que há muitas oportunidades a espreitar no futuro para o banco, tendo em conta o seu posicionamento na RAEM e no sul da China. “Vamos ver e aguardar as orientações do Governo e da Autoridade Monetária e Cambial de Macau (AMCM) sobre a matéria [papel a desempenhar no futuro]. Há muita coisa para fazer e temos um tema muito mais digital e vamos ter mais oportunidades de servir a comunidade com o tema da Grande Baía, de Hengqin e dos Serviços Financeiros Modernos.”

Carlos Cid Álvares declarou que a medalha é, sobretudo, “dos 500 colaboradores que estão a trabalhar no BNU e das centenas que estiveram a trabalhar no BNU ao longo de 120 anos”. “É a eles que se deve esta medalha. Gostava também de agradecer à Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) que se lembrou do BNU para atribuir esta medalha que nos orgulha tanto e nos responsabiliza para fazer mais e melhor no futuro”, acrescentou.

Sobre a continuação do papel do banco como emissor de moeda, Carlos Cid Álvares prefere esperar para ver. “O actual contrato diz que estamos no papel durante dez anos até 2030. Aguardamos com serenidade essa decisão, que só vai acontecer daqui a oito anos.”

Ho Iat Seng distinguiu também a Confraria da Gastronomia Macaense, que há vários anos se dedica a dar a conhecer a peculiar cozinha de Macau. À TDM, Carlos Anok Cabral, presidente da entidade, disse ter ficado surpreendido com a atribuição da medalha de mérito cultural.

“Em 2021, a gastronomia macaense foi incluída na lista de património imaterial da República Popular da China. Isto não quer dizer que a Confraria deixa [de fazer] o seu trabalho, vamos continuar e fazer o melhor possível para que todo o mundo possa conhecer a gastronomia macaense.”

Na cerimónia estiveram também presentes duas importantes chefes de gastronomia macaense, Florita Alves e Antonieta Manhão, que têm marcado presença em eventos de promoção feitos em parceria com o Governo. “Creio que há mais pessoas a querer aprender a gastronomia macaense”, disse Florita Alves. “Quando há uma oportunidade comercial há sempre interesse. É uma realidade”, adiantou. Por sua vez, Antonieta Manhão disse “estar orgulhosa” com o reconhecimento dado pelo Chefe do Executivo. “Temos o papel de ensinar e divulgar mais as nossas receitas de comida macaense.”

Entidades centenárias

Outra personalidade distinguida pelo Chefe do Executivo, com uma medalha de Mérito Industrial e Comercial, foi Humberto Carlos Rodrigues, que desde 1984 está à frente da histórica F. Rodrigues (Sucessores) Limitada, fundada em 1916. Humberto Carlos Rodrigues preside também à Associação Comercial Internacional de Empresários Lusófonos e é ainda vice-presidente da Associação dos Exportadores e Importadores de Macau.

O membro da comunidade macaense obteve o reconhecimento graças ao trabalho feito na promoção das relações comerciais entre a China e os países de língua portuguesa. “Mesmo depois de passar para a Administração chinesa, a firma sempre se manteve e é actualmente a empresa portuguesa mais antiga de Macau. É um orgulho receber este prémio. Não estava à espera desta condecoração, é o reconhecimento do Governo de Macau, que sabe que a firma é das mais antigas, eles sabem disso.”

A filha deverá continuar à frente dos destinos da F. Rodrigues, que durante a pandemia, tal como todas as empresas, passou por momentos complicados. “Os últimos três anos foram um período difícil, a firma continuou, batalhou e vamos ver se conseguimos colocar mais produtos no mercado na China, principalmente em Hengqin. Talvez consigamos alguma coisa.”

Humberto Carlos Rodrigues tem esperança no futuro, agora que Macau abriu portas ao mundo. “Têm de abrir a fronteira para que a comunidade lusófona possa entrar e sair livremente, sem barreiras alfandegárias. É o maior passo que tem de ser dado”, declarou à TDM.

José Chui Sai Peng, engenheiro civil, deputado e primo do anterior Chefe do Executivo, Chui Sai On, recebeu, em nome da Associação Tung Sin Tong, a principal distinção, a Medalha Lótus de Ouro, graças ao trabalho social realizado há várias décadas.

“A Tung Sin Tong tem vindo a optimizar os serviços nos últimos 130 anos de acordo com o desenvolvimento da sociedade. Assim como este ano descobrimos que as pessoas estão a prestar mais atenção à medicina tradicional chinesa devido à pandemia. Reforçámos o nosso serviço de medicina tradicional chinesa nas Ilhas e alargámos o nosso centro de serviços, e concluímos a clínica e farmácia de medicina tradicional chinesa na Taipa. Esperamos atender melhor as pessoas nas Ilhas”, frisou.

Tendo em conta que a sociedade de Macau está cada vez mais envelhecida, Chui Sai Peng referiu que a aposta é nos cuidados aos idosos. “Esperamos melhorar o nosso trabalho de respeito e cuidado para com os idosos. Assim, este ano, temos um novo centro de atendimento para idosos na zona de San Kiu, esperando atender melhor a geração mais velha, nos bairros antigos”, anunciou.

Também na área social destaque para a atribuição da Medalha de Mérito Altruístico a Paul Pun, secretário-geral da Caritas Macau e mentor de projectos de apoio a residentes e não-residentes nas mais variadas áreas, como é o caso do Banco Alimentar, a linha de apoio e prevenção do suicídio, entre outras. Recorde-se que Paul Pun chegou ainda a ser candidato a deputado à Assembleia Legislativa.

“Estou encantado por ter recebido esta medalha. É um reconhecimento, penso eu, ao Padre Ruiz e à Madre Maria (Goisis), às pessoas que criaram as bases do trabalho solidário da Caritas Macau.”
Paul Pun é uma figura que pela dedicação às causas sociais mantem algum protagonismo mediático e que, nos últimos anos, acorreu ao aumento considerável de pedidos de ajuda e comida na sequência da crise social desencadeada pela pandemia.

O sentido de missão permanece consigo, pelo que promete continuar a trabalhar até que as condições de saúde o permitam. “Melhor dizendo, se houver necessidade [retiro-me]. Há sempre pessoas que precisam de ajuda e, seja a que título for, vou continuar a trabalhar para melhorar a sociedade, ajudando como puder.”

Ainda assim, Paul Pun confessa que gostava de ser substituído no papel social que desempenha em Macau. “Espero que, mais cedo ou mais tarde, alguém possa assumir esta missão. Não só para dar seguimento ao bom trabalho, mas para assumir a responsabilidade de cuidar dos outros. Quer na Caritas, quer em outras posições que hoje ocupo. Mesmo que me reforme [da Caritas] estou envolvido em outros tipos de trabalho solidário. Por isso é que não faço planos”, admitiu.

16 Jan 2023

Emigração | Os portugueses que chegaram quando muitos estavam a sair

João Veloso e Inês Lemos são o exemplo de portugueses que decidiram emigrar para Macau quando muitos estavam de saída. Mas só o conseguiram fazer no ano passado devido às restrições em vigor. Em plena pandemia, apostaram no desconhecido e numa nova vida deixando de lado as notícias negativas sobre a covid. Amélia António diz ser cedo para se falar de uma eventual renovação da comunidade com o fim das restrições

 

A normalidade começou a instalar-se na Europa a partir de meados de 2021. Os verões começaram a ser vividos por multidões descontraídas e a máscara foi, aos poucos, perdendo importância. Em Macau, pelo contrário, até há pouco tempo, as palavras surto, confinamento, máscara e distanciamento físico, faziam parte do léxico do quotidiano do território, fazendo com que muitos portugueses, há mais de dois anos sem verem as famílias, deixassem o território de vez.

Inês Lemos, designer, e João Veloso, director do departamento de português da Universidade de Macau (UM), contrariaram essa tendência. Ambos sabiam que iam passar pela quarentena de 14 dias, pelo tempo interminável de espera no Aeroporto Internacional de Macau à chegada sem perceberem muito bem porquê, engalfinhados numa burocracia de testes em catadupa e papeladas sem fim.

Ainda assim, por questões pessoais e profissionais, apostaram em emigrar para Macau e hoje não estão arrependidos. “Cheguei em Junho de 2022, na altura do surto e na antevéspera do semi- confinamento”, contou ao HM João Veloso, que, no entanto, nunca pensou em desistir do novo projecto profissional por causa das restrições.

A UM abriu o concurso público para a escolha de um novo director do departamento de português em finais de 2020, mas, na altura, não era permitida a entrada de estrangeiros em Macau. Dessa forma, João Veloso só pôde pisar o solo da RAEM no ano passado.

“Quando concorri sabia qual era a situação, mas tinha esperança de que, nos meses seguintes, as coisas melhorassem. Quando recebi instruções para vir, a meio do surto, confesso que fiquei um bocadinho receoso. Sou um optimista por natureza e um bocadinho lírico, mas sabia que a situação não seria fácil.”

Para João Veloso, vir para Macau e passar por todas as restrições da covid foi como um “regresso ao passado”, pois já em Portugal tinha vivido dois confinamentos e cumprido regras como o uso da máscara e a realização de testes.

“Passei por alguns momentos de desânimo depois de chegar a Macau, mas antes não. No embate com a realidade tive momentos de alguma ansiedade, na altura do isolamento. Cheguei a ter receio de que o território fechasse novamente.”

Ainda assim, como optimista que é, João Veloso faz “um balanço positivo” da vinda para Macau. “Nunca me arrependi de ter vindo. Acho que ter emigrado nesta altura é uma espécie de prova de resistência pessoal. Passei por alguns momentos de desânimo e angústia, mas graças ao apoio que recebi de pessoas aqui em Macau, e ao ver algum espírito de mobilização, faço um balanço positivo. Fico contente por ver que as medidas restritivas estão a ser abandonadas, o que oferece outras perspectivas de contactos e de viagem”, frisou.

Bruscamente no Verão passado

No caso de Inês Lemos, foi o coração que a trouxe a Macau. Chegou no Verão do ano passado, assim que as autoridades decretaram que todos os portadores de passaporte português podiam entrar na RAEM. Antes disso, tinha apresentado um pedido de acesso à residência pela via do casamento que foi recusado.

Inês recorda-se da quarentena de 14 dias que teve de cumprir e para a qual até já estava preparada. Mas as cerca de dez horas de espera no aeroporto, à chegada, foi, para si, “o pior”. “Foi muito sofrido, estive sentada numa sala fria depois de uma viagem longa à espera de coisas. Custou bastante.”

Inês Lemos nunca baixou os braços e, ao contrário da maior parte das pessoas que já desesperava com as restrições há bastante tempo, tinha o espírito mais leve para lutar. “Tinha perfeita noção do que estava a acontecer, mas eu estava super feliz porque ia finalmente ter com o meu companheiro. Foi o concretizar de um desejo passados mais de dois anos em que estivemos afastados. Apanhei com o confinamento mal cheguei a Macau, mas vinha com um ânimo diferente das pessoas que já cá estavam”, lembrou.

Sem ter termo de comparação em relação ao que Macau era antes da pandemia, Inês Lemos sentiu as “ruas vazias”. “Percebi pelos comentários de todos que antes era bem diferente, sempre com muita agitação e filas para tudo. Ouvi falar de Macau pelas lembranças e memórias antes da covid. Agora noto que, de facto, há muito mais movimento de pessoas que não são de Macau.”

Neste momento, Inês frequenta a pós-graduação em Educação da Universidade de São José (USJ) e prepara-se para fazer o estágio que depois lhe vai permitir dar aulas. A designer, a trabalhar remotamente para Portugal, pretende, por isso, entrar no mercado laboral local em breve.

Dados que importam

Divulgado esta quarta-feira pelo Governo português, o Relatório da Emigração relativo ao ano de 2021 dá conta do menor número de sempre de entradas de portugueses em Macau. Apenas 18 o fizeram desde 2000, sendo que esses eram residentes da RAEM, uma vez que não era permitida a entrada de estrangeiros.

Amélia António, presidente da Casa de Portugal em Macau (CPM), revela estar mais preocupada com os números dos portugueses que saíram do que daqueles que entraram. E esses são mais difíceis de quantificar.

“Se não podiam entrar estrangeiros, só os residentes é que podiam entrar, até seria normal que os números fossem zero. Vivia-se uma situação complicada e depois tínhamos a própria impossibilidade legal. Obrigaria a uma reflexão maior se conseguíssemos ter os números de quem saiu efectivamente, porque há as pessoas que saíram para férias ou outras razões, mas que não o fizeram de forma definitiva.”

Amélia António traça vários cenários relativamente à saída de cidadãos portugueses. “Quem saiu com mais idade, ou reformado, ou a acompanhar filhos, faz parte de um movimento mais ou menos normal. Foi acelerado, talvez, pela força das circunstâncias, pelo facto de não se poder ver as famílias. Mas pessoas mais novas que saíram, que estavam a trabalhar, com a vida mais ou menos organizada, isso é que é mais assustador para mim, porque essas pessoas não vão voltar para Macau, a não ser que as suas vidas em Portugal não corram como o planeado.”

Nova comunidade?

Sem restrições, será que a comunidade portuguesa pode agora renascer e reinventar-se? Amélia António acredita que, a curto prazo, será difícil chegarem novas pessoas que não tenham contactos prévios com o território. “Pessoas que nunca estiveram em Macau e que venham de novo serão muito poucas, tendo em conta toda a propaganda negativa relativamente às condições de vida e de saúde. Não será fácil isso acontecer. Tal demorará muito tempo e depende da orientação que for dada ao território, caso haja interesse efectivo de que Macau continue a ter uma imagem multicultural e de abertura ao exterior, com a presença de quadros qualificados portugueses e da sua mais-valia.”

Para a dirigente associativa, não basta abrir as fronteiras. “Estes anos foram desmobilizadores e criaram uma imagem pouco atractiva de Macau. Veremos como é que a situação vai evoluir, porque vai depender de coisas que neste momento não conseguimos saber, como é o caso das questões laborais, das operadoras de jogo, em termos de necessidade de mão-de-obra. Haverá uma ligação com as dificuldades que poderão aumentar, ou não, na Europa. Há muita coisa desconhecida ainda. É o momento ainda muito difícil para fazer previsões.”

Para João Veloso os portugueses ainda fazem falta em alguns sectores, como é o caso da Função Pública ou na área da docência. “Neste momento começa a deixar de haver razões para as pessoas terem os receios ou reservas que tinham até agora. Se isso se vai traduzir numa vinda de mais portugueses, não sei. Há lugar para os portugueses ainda pois há certos serviços que precisam deles. As condições de vida e de entrada em Macau tendem a melhorar. Há motivos para a comunidade portuguesa voltar a aumentar. Há lugares para professores de português e funcionários públicos, por exemplo.”

Também Inês Lemos acredita que este “cantinho” na Ásia terá sempre espaço para os cidadãos portugueses. “Há sempre espaço para nos reinventarmos e fazermos coisas diferentes. Acredito que Macau ainda tem muitas coisas agradáveis e boas para oferecer aos portugueses, há uma ligação histórica e temos este cantinho na Ásia que é uma ponte para tantos sítios. Macau continua a ser um bom sítio para se apostar, mesmo com a distância.”

13 Jan 2023

Delegação de Macau em Lisboa | Fundação Casa de Macau espera proximidade

Alexis Tam deixou o cargo de chefe da Delegação Económica e Comercial de Macau em Lisboa após três anos de actividade. Tanto a Fundação Casa de Macau como a Casa de Macau em Lisboa falam de relações cordiais e atenção ao trabalho desenvolvido, mas Mário Matos dos Santos, dirigente da Fundação, espera maior ligação com a nova líder, Lúcia Abrantes dos Santos

 

Sucedeu a O Tin Lin na chefia da Delegação Económica e Comercial de Macau em Lisboa, bem como no papel de representante da RAEM junto da União Europeia (UE), em Dezembro de 2019, assim que Ho Iat Seng tomou posse como Chefe do Executivo. Desde então, Alexis Tam desempenhou o cargo de forma discreta, com algumas aparições públicas e poucas declarações. Agora que foi anunciada a sua reforma, sendo substituído por Lúcia Abrantes dos Santos, até então sua adjunta, uma das entidades associativas que representam a RAEM em Portugal, a Fundação Casa de Macau (FCM), espera mais proximidade com a nova representante.

“Não havia muitas manifestações directas e com Alexis Tam não tivemos as relações funcionais que existiam antes, tal como a realização de eventos na Delegação e colaboração nesse sentido”, começou por dizer Mário Matos dos Santes, dirigente da FCM, ao HM. “A Delegação tem mantido o seu papel, que é ter uma posição neutra em relação aos eventos que vão sucedendo. Estamos convencidos de que, com a doutora Lúcia, teremos um diálogo mais aberto e funcional”, acrescentou.

Mário Matos dos Santos espera “poder desenvolver mais” as relações com a Delegação. “Sempre tivemos boas relações e temos com a pessoa que o vai substituir, e esperamos estabelecer uma relação muito pró-activa e continuar essa ligação. Espero uma pessoa mais aberta [na ligação com as entidades em Lisboa].”

Ao longo do período em que liderou a delegação, Alexis Tam visitou “duas ou três vezes” a sede da FCM, na zona do Príncipe Real, em Lisboa. “Deu um apoio formal, que era o esperado, e não passou disso. Tivemos relações de muita cordialidade.”

Da parte da Casa de Macau em Lisboa, que pertence ao universo da FCM, o balanço da presença de Alexis Tam em Portugal é positivo. “Desde o primeiro mandato que demonstrou uma grande disponibilidade de cooperação institucional com a Casa de Macau em Portugal, o que muito nos honrou.”

A entidade aponta que a pandemia não ajudou a estreitar laços. “Naturalmente, que a pandemia da covid-19 limitou fortemente essa cooperação no terreno nos dois primeiros anos do seu mandato, mas no final de 2021, quando em Portugal as restrições foram sendo levantadas, tivemos o prazer de receber o Dr. Alexis Tam nas instalações da Casa de Macau. Esse encontro possibilitou a identificação de objectivos comuns entre as duas instituições e oportunidades de parceria”.

Desse contacto resultou, por exemplo, “uma maior divulgação entre os nossos associados das formalidades legais que muitos prestam junto da Delegação, como é o caso da Prova de Vida anual”.

Além disso, Alexis Tam “também deu um forte contributo no estreitamento das relações entre a Casa de Macau em Portugal e os estudantes bolseiros da RAEM que estudam em Portugal, do qual resultou um protocolo com a associação que representa esses estudantes, assinado em 2022”, adianta a direcção da Casa de Macau em Portugal.

O fim do Turismo

O percurso de Alexis Tam na Função Pública de Macau foi longo, traçado ao longo de décadas, destacando-se como uma das figuras que fez parte da fornada de dirigentes formados na década de 90. Depois de ter sido assessor do Chefe do Executivo, Chui Sai On, durante vários anos, Alexis Tam passou a secretário para os Assuntos Sociais e Cultura em 2014, substituindo Cheong U, que havia dirigido a secretaria durante cinco anos.

Do seu mandato como secretário registam-se algumas polémicas, como o caso do convite ao premiado arquitecto português Siza Vieira para recuperar e renovar o antigo edifício do Hotel Estoril, que foi depois retirado em prol de um concurso público para seleccionar um projecto de arquitectura.

Siza Vieira nunca se pronunciou sobre o projecto falhado, mas o arquitecto Carlos Castanheira, que com ele trabalha, assumiu numa entrevista ao HM, em Dezembro de 2020, que a retirada do convite foi um gesto “extremamente deselegante”.

A questão da pataca

Ho Iat Seng não pareceu satisfeito com os gastos da tutela dos Assuntos Sociais e Cultura e afastou Alexis Tam do Governo assim que tomou posse como Chefe do Executivo, nomeando-o para Lisboa. Numa ocasião pública, chegou a falar do gasto de 35 por cento do orçamento anual do Executivo só nesta área, que abrange a cultura, a saúde, a educação e o desporto, “pelo menos 30 mil milhões de patacas”. Além disso, Ho Iat Seng lembrou que a secretaria foi alvo de “várias queixas do público”, factor que para o Chefe do Executivo constituiu “um problema”.

Em Lisboa, Alexis Tam ajudou os estudantes da RAEM em tempos de pandemia, quando as viagens eram mais difíceis do que o habitual e se verificavam problemas logísticos. Mas o seu mandato ficou marcado pelo fim da representação da Direcção dos Serviços de Turismo em Portugal, levando ao encerramento da Livraria, em 2021.

A medida deveu-se a cortes orçamentais relacionados, mais uma vez, com a pandemia, mas teve como grande consequência a ausência de livros editados em Macau na Feira do Livro de Lisboa, evento que todos os anos acontece no Parque Eduardo VII.

À data, a delegação adiantou ao HM que estava a “equacionar a futura participação no evento”, mesmo sem planos para reabrir a livraria. No entanto, Macau não esteve representada oficialmente na Feira do Livro do ano passado.

Tam na invicta

Mas Alexis Tam não marcou a sua presença apenas na capital portuguesa. Prova disso é a atribuição, da parte da Câmara Municipal do Porto, da Medalha Municipal de Mérito pelo apoio dado no período da pandemia.

Numa das raras vezes em que falou com jornalistas na qualidade de chefe da delegação, Alexis Tam comentou ao Jornal Tribuna de Macau, em Julho do ano passado, sobre o seu trabalho em Lisboa. “No fundo, a delegação é praticamente um serviço ou uma representação do governo da RAEM, ganhou um estatuto muito especial. De certa forma, funciona como uma embaixada em Portugal e por isso estou a exercer as funções de diplomata e participo em muitas acções de diplomacia.”

Na mesma entrevista, o dirigente admitiu “não ter dificuldades” no desempenho do cargo, “só mesmo a pandemia e a recessão económica”, que levou ao corte do orçamento destinado à delegação. “Uma das competências nas quais ainda nos vamos focar é em mais acções de promoção turística. Mas, como em Macau ainda está tudo fechado e não está para abrir de imediato, o Governo ainda não quer fazer actividades de promoção turística”, disse, na altura.

Além da medalha atribuída pela cidade do Porto, Alexis Tam recebeu ainda, quando era secretário, o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Lisboa, como forma de homenagem e reconhecimento “de uma figura marcante e inspiradora para o desenvolvimento da educação e, em especial, para a promoção do ensino da língua e da cultura portuguesa em Macau e na China”.

Nascido em Julho de 1962, no Myanmar, Alexis Tam estudou na China, em Portugal e na Escócia. Em 2014, por ocasião do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, foi condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique.

Por sua vez, Lúcia Abrantes dos Santos chegou a ser assessora de Raimundo do Rosário, secretário para os Transportes e Obras Públicas, a partir de 2014, para assumir, em Novembro de 2019, o cargo de adjunta de Alexis Tam.

10 Jan 2023

UM | Estudo recomenda calma a quem sofre com a transição para convívio com covid-19

Uma equipa de académicos da Universidade de Macau lançou sugestões para lidar com a ansiedade associada à mudança da política covid zero para a abertura. Com a responsabilidade a passar do Governo para o indivíduo, os académicos aconselham calma em caso de stress, conversas com amigos e familiares, actividades relaxantes e ajuda psiquiátrica em casos graves

 

Uma equipa de investigação sobre a covid-19 da Universidade de Macau (UM) lançou ontem uma série de recomendações para salvaguardar a saúde física e mental da população de Macau durante a fase de transição para o estado de convívio com a pandemia.

Os académicos começam por afirmar que “é essencial fortalecer o bem-estar mental, manter a calma em todas as alturas, não baixar a guarda em relação às medidas higiénicas e responder às necessidades daqueles que nos rodeiam”.

Uma das mudanças mais relevantes da nova fase de convívio com o novo tipo de coronavírus é a mudança do ónus e da responsabilidade. “Nos últimos três anos, o Governo implementou políticas preventivas que afastaram, na medida do possível, a entrada da covid-19 na comunidade e surtos de grandes dimensões. Actualmente, todos os lares de Macau estão sob o efeito de infecções de covid-19. A população tem de mudar de perspectiva, num curto espaço de tempo, e apoiar as medidas anti-epidémicas do Governo para se tornar na principal responsável pelo combate à epidemia e pela salvaguarda da sua própria saúde e da sua família”, apontam os académicos.

A sugestão da equipa da UM repete por outras palavras as declarações da secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U, à margem da apresentação das linhas de acção governativa da sua tutela há três semanas atrás, quando o Governo se preparava para seguir Pequim no levantamento das mais pesadas restrições anti-epidémicas em vigor a nível mundial.

“Temos de nos preparar porque esses casos vão gradualmente entrar na comunidade e não nos podemos fechar em Macau para sempre. O Governo manteve a porta fechada durante três anos. No futuro, o público vai ter que manter uma porta para a sua saúde”, afirmou a secretária no dia 6 de Dezembro.

Parece tão simples

A equipa da Universidade de Macau acrescenta que muitas pessoas podem sentir-se desconfortáveis, inundadas por incertezas em relação a muitos aspectos das suas vidas e mesmo experienciar grande stress mental. Nesse sentido, os académicos argumentam que existe abundante literatura científica que relaciona estados de optimismo e estabilidade mental com a secreção de hormonas neuropeptídicas pelo sistema nervoso parassimpático, fenómeno que pode resultar no aumento da imunidade. Porém, o reverso da medalha pode levar à diminuição das defesas imunológicas.

Face a esta relação hormonal e imunológica, os académicos indicam a quem sofre com emoções negativas que o primeiro passo é reconhecer essa situação e compreender que estão a sentir reacções psicológicas normais e razoáveis. O segundo passo é adoptar activamente abordagens diferentes para lidar com a situação, dependendo do nível de stress emocional que a pessoa ou os seus familiares estão a sofrer.

Três passos

A equipa de pesquisa para os assuntos relacionados com a pandemia propõe uma abordagem aos problemas psicológicos sentidos na sequência da mudança abrupta de abordagem à covid-19. Numa primeira instância, os académicos sugerem ferramentas e actividades para lidar com stress emocional ligeiro. “Tendo em consideração os impactos verificados em várias regiões, uma vasta maioria de pessoas vivencia emoções negativas temporárias face a rápidas mudanças de paradigma na luta contra a covid-19. Ao adaptar-se a lidar com a situação epidémica, as emoções negativas serão gradualmente reduzidas e controladas”, indicam os académicos.

A receita sugerida pela equipa da Universidade de Macau para combater o stress emocional brando é a seguinte: “Falar com membros da família ou amigos para aliviar o stress, estabelecendo vias de comunicação com dois sentidos, alterar o foco de atenção das questões relacionadas com a pandemia através de actividades recreativas como escrever, desenhar, jogar xadrez, ver filmes, ouvir música, fazer ioga e outras actividades relaxantes realizadas em circunstâncias seguras”, é prescrito pelos académicos.

O segundo patamar de intervenção destina-se a quem enfrenta situações de desconforto óbvio que persiste depois de feitos os ajustes físicos e mentais do primeiro patamar. Nesse caso, os investigadores indicam que o melhor é procurar a ajuda de linhas telefónicas de aconselhamento e apoio psicológico. “O Instituto de Acção Social tem providenciado serviços de aconselhamento telefónico. Associações locais e organizações, como a Caritas Macau, também prestam apoio emocional e serviços de aconselhamento. Dessa forma, a população pode recorrer à ajuda profissional de assistentes sociais, para a própria pessoa ou os seus familiares, de forma a encontrar formas de superar o stress mental causado pela epidemia”, é indicado pela equipa de académicos.

O último recurso

Caso nenhum dos primeiros dois passos seja eficaz no alívio psicológico e estejamos na presença de casos severos de doença mental, os académicos indicam que a única solução é a intervenção psiquiátrica. “Se os residentes, seus familiares ou amigos, sofrerem de problemas mentais severos que afectem com seriedade o quotidiano ou trabalho, é recomendável que procurem ajuda médica psiquiátrica atempadamente de forma a parar ou mitigar a progressão de doenças mentais e prevenir a deterioração da saúde”, é aconselhado pela equipa da Universidade de Macau.

A receita prescrita pelos académicos segue em linha com as recomendações do Governo quando interrogado por jornalistas ou deputados sobre a vaga de suicídios sem precendentes que tem assolado Macau em 2022.

De acordo com os últimos números divulgados, nos primeiros nove meses deste ano, 65 pessoas suicidaram-se em Macau, número que contrasta com as 38 que tomaram a sua própria vida no mesmo período de 2021, representando um aumento de 71 por cento.

Também as tentativas de suicídio dispararam ao longo do ano, com 183 casos, face às 139 tentativas registadas nos primeiros noves meses de 2021, uma subida de 31,6 por cento. Se fizermos a conta às tentativas de suicídio verificadas antes da pandemia, o contraste é ainda maior. Face aos três primeiros trimestres de 2019, o número de pessoas que se tentou suicidar este ano aumentou 92,6 por cento, em comparação com 2017 a subida verificada este ano é de 144 por cento.

Todos aqueles que estejam emocionalmente angustiados ou considerem que se encontram numa situação de desespero devem ligar para ligar para a Linha Aberta “Esperança de vida da Caritas” através do telefone n.º 28525222 de forma a obter serviços de aconselhamento emocional.

Ir a reboque

Os autores do estudo, que não são identificados no comunicado emitido ontem pela Universidade de Macau, apontam a importância de as organizações de serviços sociais aprofundarem a promoção da importância da saúde mental e do alargamento da cobertura da rede de apoio psicológico a áreas onde até agora não chegou. Por outro lado, também o Governo deve continuar a prestar atenção e a dar revelo à saúde mental da população face aos desafios suscitados pela pandemia e prosseguir a implementação de políticas que reforcem a capacidade de resposta em matéria de saúde mental.

A equipa de investigadores sublinha o facto de o Executivo de Ho Iat Seng estar a seguir fielmente as políticas nacionais.

“O relaxamento da regulamentação anti-epidémica de Macau está em conformidade com os objectivos do trabalho de prevenção e controlo da epidemia ‘proteger a saúde e prevenir casos graves’ mencionados no Plano Global de Implementação da Gestão de Doenças Infecciosas de Classe B para a covid-19, emitido pela Comissão Nacional de Saúde a 26 de Dezembro”, é salientado.

As novas orientações, segundo os académicos, têm como objectivo “salvaguardar ao máximo a vida e a saúde da população e minimizar o impacto da epidemia no desenvolvimento económico e social”. Outra das alterações promovidas pelo Governo Central é uma mudança conceptual, com a doença provocada pela covid-19 a passar de “nova pneumonia coronavírus” para “nova infecção coronavírus”, representando menor gravidade.

Como tal, os principais ajustes consistem na isenção de quarentena para indivíduos infectados, deixar de identificar contactos próximos de infecções de covid-19, acabar com a designação de áreas de alto e baixo risco, trocar os testes de ácido nucleico obrigatórios por voluntários, e acabar com quarentenas para pessoas e bens vindos do exterior.

30 Dez 2022

Portugal-China | Costa Silva quer reforçar cooperação no sector da energia

Economia do mar, energias renováveis e ciências da saúde são as três grandes áreas nas quais Portugal pretende cooperar mais com a China. A estratégia foi apontada por António Costa Silva, ministro português da Economia, no jantar de celebração do sexto aniversário da Associação dos Amigos da Nova Rota da Seda. O governante salientou também a importância do investimento chinês em Portugal

 

A relação entre Portugal e a China está de pedra e cal e prova disso é a vontade que o Ministério da Economia, liderado por António Costa Silva, tem em cooperar com a China em diversas áreas estratégicas e de futuro. No jantar de celebração do sexto aniversário da Associação Amigos da Nova Rota da Seda, que decorreu no passado dia 20, o ministro português mostrou vontade de cooperar com o país em três áreas concretas: economia do mar, energias renováveis e ciências da saúde, além do já tradicional comércio e investimento chinês no país.

Na área das energias renováveis, a aposta parece fazer-se na construção de baterias de lítio. “O Ministério da Economia tem falado com várias empresas chinesas e vamos tentar materializar um grande projecto na área das baterias, pois a China tem uma das melhores tecnologias do mundo nesta área”, começou por dizer António Costa Silva.

“Temos de apostar na mobilidade eléctrica e trabalhar com a China para a transformação deste sector. Queremos sediar em Portugal toda a cadeia de valor das baterias de lítio, desde a extracção à refinação, passando pela produção de materiais. É um objectivo que pretendemos atingir e sobre o qual pretendemos reforçar a nossa cooperação”, adiantou.

Outras das apostas estratégicas centra-se na energia eólica, matéria que já terá sido abordada com o próprio embaixador chinês em Lisboa, Zhao Bentang. “Hoje em dia, 60 por cento da electricidade que utilizamos no país provém de energias renováveis. Portugal é um dos grandes países europeus produtores e exportadores de energias renováveis e, para isso, precisamos de desenvolver todo o potencial da energia eólica offshore. Contamos com a ajuda dos nossos amigos chineses para atingir este objectivo”, disse o governante.

Ainda no fomento da energia eólica, António Costa Silva adiantou que o Governo português “tem recebido abordagens de muitas companhias internacionais e chinesas para desenvolver essa área”. “É um projecto muito interessante pois pode-se basear na construção de ilhas artificiais sustentáveis, com aquacultura na base e sistemas de protecção da erosão da costa”, frisou.

No que diz respeito às ciências da saúde, o ministro e também economista acredita que os países precisam preparar as respostas necessárias após a pandemia da covid-19.

“Também acreditamos que é possível incrementar a cooperação com a China na área das ciências da saúde. É preciso que os países se preparem para as próximas pandemias para preparar toda a actividade nesta área e mobilizar conhecimento e inovação, em prol de respostas. A nossa população acima dos 65 anos tem uma ou mais doenças”, explicou, reforçando a ideia de que o desenvolvimento tecnológico pode ser essencial na fase de diagnóstico e tratamento, para tornar mais fácil a prevenção de doenças.

António Costa Silva mencionou, por último, a economia do mar. “A China representa cerca de 25 por cento do investimento que existe no mundo em ciência e tecnologia, e queremos desenvolver um grande eixo de cooperação com a China para ligar o desenvolvimento da economia do mar à luta contra a ameaça climática. Os países partilham esta ideia forte e temos de tornar os nossos oceanos mais saudáveis, mas, ao mesmo tempo, usá-los para desenvolver e produzir riqueza.”

Uma “economia resiliente”

No evento onde estiveram presentes uma série de individualidades ligadas a Macau, nomeadamente Jorge Rangel, presidente do Instituto Internacional de Macau, e Vasco Rocha Vieira, último Governador português do território, entre outros, o ministro português não deixou de referir a importância da RAEM na cooperação entre Portugal e China.

“Em 2022, as trocas comerciais entre a China e Portugal continuaram a ser significativas. Em 2021, as trocas ascenderam a cerca de 4,6 mil milhões de euros, e desde Janeiro a Julho deste ano chegaram a 3,6 mil milhões de euros. É importante dinamizarmos ainda mais esta relação. É importante desenvolvermos ainda mais a cooperação, sobretudo através de Macau e do Fórum Macau e da integração que Macau tem hoje no projecto da Grande Baía.”

Estão em causa “duas nações históricas que partilham uma relação com mais de 560 anos”. “Esta relação sempre se baseou no respeito mútuo, na cortesia e na cooperação. Na situação internacional difícil em que vivemos, podemos mostrar o exemplo, reforçando a nossa cooperação económica e trocas comerciais e apostar decisivamente no desenvolvimento do comércio internacional”, adiantou António Costa Silva.

Dirigindo-se aos “amigos chineses”, o ministro deixou claro que “a economia portuguesa é muito resiliente”. “O ano de 2022 está a mostrar que resiste de uma forma que provavelmente muitos subestimaram no passado. Deveremos crescer cerca de 6,8 por cento este ano e vamos ter uma performance acima de todas as expectativas. Portugal é uma economia aberta, temos tido um crescimento muito significativo nas nossas exportações, que este ano vão representar cerca de 50 por cento do nosso PIB [Produto Interno Bruto]”, acrescentou.

Portugal tem também mantido, aos olhos do governante, “uma rota de atracção de investimento externo, o que é muito importante para o desenvolvimento do país”, sendo que “o investimento directo estrangeiro ultrapassou, no primeiro semestre de 2022, 2,4 mil milhões de euros”.

De frisar que, nesta equação, e segundo dados divulgados em Março, a China é o quinto maior investidor em Portugal, sendo que apenas 28 por cento do investimento é directo, enquanto 41 por cento é feito através do Luxemburgo.

A intervenção da representante da embaixada chinesa em Portugal, uma vez que Zhao Bentang não pôde estar presente, não deixou de apontar para a importância da crescente cooperação económica entre a China e Portugal. Foi ainda referida a realização do XX Congresso do Partido Comunista Chinês e das ideias que daí saíram. “A China realizou o XX Congresso com grande sucesso, e graças às múltiplas crises o relatório do congresso afirmou ao mundo que o país está comprometido em desenvolver a amizade e cooperação com outros países”, promovendo, entre outras questões, “um novo paradigma de relações internacionais”.

As crises de hoje

António Costa Silva deu a entender que o caminho da harmonia diplomática e equilíbrio de consensos que a China pretende é também partilhado com Portugal. Hoje existe “uma situação difícil no mundo em que vivemos, particularmente com uma guerra na Europa que está a criar fracturas geopolíticas e a ter repercussões muito graves nas cadeias de abastecimento mundiais e a mudar o funcionamento da economia”.

“É importante a globalização e integração crescente da economia mundial, assim como a cooperação entre todos os países do mundo e o desenvolvimento exponencial do comércio. Muitas pessoas saíram da linha de pobreza, e estamos a entrar num funcionamento diferente da economia do planeta”, frisou o ministro da Economia.

No cenário europeu, o governante alertou para a existência de crises “segurança, defesa e energética”, numa referência ao conflito na Ucrânia, mas também para a “crise climática e ambiental que não desapareceu”.

“A crise energética é profunda, e a Europa decidiu prescindir do abastecimento de gás que vinha da Rússia, que são 140 mil milhões de metros cúbicos, cerca de 27 por cento do mercado mundial de abastecimento de energia. É evidente que esta atitude provoca grandes convulsões no sistema energético internacional”, concluiu Costa Silva.

28 Dez 2022

Saúde | Serviços de urgência em apuros, governantes elogiam redução de espera

Enquanto médicos e enfermeiros se queixam de sobrecarga de recursos e condições indignas de tratamento, oficiais do Governo garantem que o sistema de triagem está a funcionar. Profissionais médicos trabalham sem folgas, 12 horas por dia, e revelam desânimo e tristeza por não conseguirem responder às necessidades mais básicas dos doentes

 

No dia de Natal, Ho Iat Seng visitou o Centro Hospitalar Conde de São Januário (CHCSJ) e o Hospital Kiang Wu, acompanhado pela secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U e pelo director dos Serviços de Saúde, Alvis Lo. No hospital público, os governantes foram recebidos pelo director da instituição, Kuok Cheong U, que fez uma apresentação do mecanismo de triagem de doentes infectados com covid-19 e como se processam as consultas médicas.

Desde o levantamento das restrições, o número de consultas nas Urgências do CHCSJ e a chegada de ambulâncias quadruplicaram para mais de 1200 pacientes por dia e 400 ambulâncias.

Kuok Cheong U informou os governantes de que, na altura da visita, mais de 30 por cento do pessoal do hospital estava infectado com covid-19 e que os recursos humanos eram “relativamente insuficientes”.

De acordo com um comunicado emitido pelo Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus na segunda-feira à noite, o Chefe do Executivo sublinhou o agravamento da situação epidémica e o aumento contínuo do número de casos de infecção. Porém, Ho Iat Seng indicou estar “ciente do enorme volume de trabalho do pessoal médico e de enfermagem da linha de frente”, tendo agradecido “aos trabalhadores da linha de frente pelo seu trabalho inexcedível”, que se mantêm “de forma firme nos seus postos de trabalho, mesmo com um grande número de trabalhadores afectados pela epidemia, para salvar e tratar doentes”.

Após a visita ao CHCSJ, Ho Iat Seng e a respectiva comitiva visitaram o Hospital Kiang Wu.
Apesar dos repetidos elogios ao pessoal médico e de enfermagem, o Chefe do Executivo não falou com profissionais, depois de já terem sido publicadas missivas de pessoal da linha da frente que revelavam um cenário complicado com a redução significativa de recursos humanos, aumento de pacientes e turnos intermináveis.

Durante a visita, um jornalista perguntou a Ho Iat Seng que preocupações lhe foram transmitidas por enfermeiros e médicos, ao que o Chefe do Executivo respondeu: “Estão todos muito ocupados, não achámos conveniente interromper o importante trabalho que estão a fazer. Se tiverem alguma queixa ou recomendação, podem comunicar à direcção dos Serviços de Saúde”. De acordo com o jornal All About Macau, o líder do Governo esteve 15 minutos em cada hospital.

Mundos distintos

Para responder à avalanche de infecções por covid-19, a direcção do CHCSJ decidiu recrutar “urgentemente enfermeiros aposentados, enfermeiros estagiários e médicos dos internatos para integrarem a equipa antiepidémica.” Além disso, a instituição procedeu à reorganização de recursos humanos, “em fase de reabilitação, para trabalhar nas áreas de infecção e nas enfermarias de isolamento”.

Desta forma, o centro de contingência indicou que o mecanismo de triagem foi agilizado e tempo de espera nas Urgências reduzido. “Actualmente, o tempo médio de espera para os casos não urgentes é de cerca de duas horas”, apontam as autoridades.

Porém, esta perspectiva não é partilhada por alguns profissionais. Uma das visões mais alarmantes tomou a forma de uma carta de um profissional da linha da frente, partilhada pelo deputado Ron Lam, que resultou numa interpelação escrita.

“Estamos tão sobrecarregados que não conseguimos responder às mais básicas solicitações e cuidados primários dos pacientes. Não temos pessoal suficiente para mudar roupa das camas, providenciar oxigénio, comida, nem tratar das necessidades fisiológicas dos doentes”, escreveu o profissional, que não se identificou. Sem revelar em que unidade hospitalar trabalha, sublinhou a inexistência de camas nas urgências, situação que chega ao ponto de cadeiras de rodas serem as únicas alternativas para receber idosos que estão acamados em instituições de acção social há muito tempo.

“Enquanto profissional médico, sinto-me profundamente envergonhado e desiludido. Mesmo a trabalhar sem descanso, não consigo assegurar que os doentes recebem tratamento médico digno. Nem consigo oferecer cuidados básicos que respondam às mais simples necessidades humanas”, partilhou Ron Lam.

O profissional da equipa médica revela ainda que desde que a pandemia se generalizou, trabalha todos os dias, pelo menos 12 horas, e que apesar de os recursos humanos terem sido cortados para metade, o número de pacientes continua a aumentar. “Só vemos desespero. Estamos de coração partido, desanimados. De acordo com o director Alvis Lo, Macau ainda não atingiu o pico das infecções. É difícil de imaginar como será esse pico. Talvez os doentes tenham de ficar deitados no chão, à espera de um milagre”, pode ler-se na missiva, partilhada por Ron Lam no Facebook.

Kiang Wu | Cerca de 40% de profissionais infectados

Cheung Chun Wing, vice-director do hospital Kiang Wu, disse que há cerca de 40 por cento dos profissionais de saúde infectados com covid-19. Segundo o jornal Ou Mun, o responsável adiantou que, além da falta de recursos humanos, o hospital enfrenta ainda um maior número de doentes devido ao tempo frio. Cerca de 500 pacientes foram atendidos online nos dias 24 e 25 de Dezembro, o que permitiu aliviar a pressão sentida nos serviços de urgência e reduzir a possibilidade de infecções.

Lares de idosos | Paul Pun apela a voluntários

Os lares de idosos geridos pela Caritas registaram, nas últimas duas semanas, dez óbitos, sendo que cerca de 25 por cento dos funcionários estão infectados com covid-19, noticiou a TDM Rádio Macau. Numa publicação na rede social Facebook, Paul Pun, secretário-geral da entidade, alertou para uma maior pressão nos serviços e deixou um apelo. “Os centros geridos pela Caritas que têm à sua guarda idosos e portadores de deficiência estão a enfrentar uma maior pressão, e alguns cuidadores estão também infectados. Se amigos, sobretudo os que já estão recuperados das infecções de covid, tiverem entusiasmo em dar uma ajuda, podem voluntariar-se para se juntarem às nossas equipas. Perante esta situação difícil, espero que todos se possam ajudar mutuamente e cooperar.” Os dados de contacto para voluntariado são o 63302692 ou 66888240, para WhatsApp. O email é caritashr@caritas.org.mo

IAS do pico

O Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus e o Instituto de Acção Social (IAS) indicaram que o pico de contágios de covid-19 pode já ter sido atingido. Um dos factores que pode levar a essa conclusão foi uma nota no centro de coordenação e contingência, divulgado na noite de Natal, sobre a corrida aos postos comunitários. “Nos últimos dois dias, o número dos utentes que se deslocaram aos postos de consulta externa comunitária para receber tratamento foi diminuído, em comparação com os dias anteriores” quando se o pico de afluência de pacientes chegou a 3,8 mil utentes. Também o IAS revelou uma “descida da quantidade dos novos casos surgidos por dia entre funcionários e utentes que residem nos equipamentos sociais”. No comunicado emitido na segunda-feira, o organismo liderado por Hon Wai refere que “o surto da covid-19 da presente fase já conheceu o seu pico” nos lares de idosos e instituições de recuperação.

27 Dez 2022

Medalhas de Lótus | BNU, Confraria Macaense e Humberto Rodrigues distinguidos

O primeiro banco emissor de moeda do território vai receber a Medalha do Lótus de Prata, pela promoção das relações entre Portugal e a China e o desenvolvimento do sector financeiro de Macau

 

O Banco Nacional Ultramarino (BNU) vai ser distinguido com a Medalha de Honra Lótus de Prata, de acordo com a lista divulgada ontem pelo Governo. Entre os nomes escolhidos constam igualmente a Confraria Macaense e o empresário Humberto Rodrigues, que vão receber Medalhas de Mérito Cultural e a Medalha de Mérito Industrial e Comercial, respectivamente.

Segundo a nota justificativa apresentada pelo Executivo, o BNU “é o primeiro banco emissor de moeda em Macau” e tem contribuído para a promoção das relações entre a China e os países de língua portuguesa. “Desempenha um papel importante na promoção do desenvolvimento de negócios entre a China e os países de língua portuguesa, tendo instalado uma sucursal na Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin, contribuindo para a diversificação adequada da economia de Macau e para o desenvolvimento da Zona de Cooperação Aprofundada”, pode ler-se, no comunicado.

Numa fase em que o Governo considera fundamental a diversificação da economia com a aposta na área das finanças, é também indicado que o banco “tem vindo a oferecer serviços bancários diversificados aos residentes e empresas em Macau e a promover activamente o desenvolvimento financeiro e económico”.

Não é a primeira vez que o BNU é distinguido pelo Governo da RAEM, em 2011 tinha sido agraciado com a Medalha de Mérito Industrial e Comercial.

As Medalhas de Honra, com os graus de Grande Lótus, Lótus de Ouro e Lótus de Prata, servem para galardoar os indivíduos ou entidades que prestam “serviços excepcionais para a imagem e bom nome da RAEM” ou “de grande relevância para o seu desenvolvimento”.

Em relação a este ano, o principal distinguido é a Associação de Beneficência Tong Sin Tong, que vai receber a Medalha Lótus de Ouro, pelo trabalho na área da educação, combate contra a pobreza, medicina e apoio a idosos.

Macau à mesa

Outra das entidades distinguidas é a Confraria Macaense, com a Medalha de Mérito Cultural. As Medalhas de Mérito compreendem sete categorias e são destinadas “a agraciar indivíduos ou entidades que se notabilizem ou destaquem” em diferentes actividades.

No caso da Confraria Macaense, o Governo justificou a distinção com o “objectivo divulgar a Gastronomia Macaense, e salvaguardar as características tradicionais e técnicas desta culinária”. Além disso foi ainda elogiado o trabalho de incentivo à “investigação desta cultura gastronómica nos seus múltiplos aspectos”, e a promoção do “valioso património cultural intangível e importante culinária tradicional”.

Por último, é vincado que, desde a sua criação, a associação “tem dado contributos significativos para o desenvolvimento do Património Gastronómico Macaense, designadamente salvaguardar e transmitir, de geração em geração, a arte e técnica da cozinha tradicional, congregar esforços de profissionais culinários, divulgar a Gastronomia Macaense, publicar receituários e demais publicações, e realizar a divulgação nos jornais”.

Desde o estabelecimento da RAEM, é a primeira vez que a Confraria Macaense é distinguida com uma medalha.

O empresário macaense

Na lista de distinguidos consta ainda o nome de Humberto Rodrigues, gerente geral da empresa F. Rodrigues (Sucessores), Limitada, presidente da Associação Comercial Internacional de Empresários Lusófonos e vice-presidente da Associação dos Exportadores e Importadores de Macau. O macaense é destacado devido ao trabalho feito em prol da promoção das relações entre a China e os países de língua portuguesa.

“Tem vindo a empenhar-se na promoção do intercâmbio amigável entre a China e os países de língua portuguesa, e participado activamente nas mais diversas actividades e fóruns de promoção do desenvolvimento económico organizados pelo Governo da RAEM, servindo a sociedade com perseverança e honestidade”, é explicado no comunicado.

Desde 1984 que Humberto Rodrigues lidera os destinos da empresa F. Rodrigues (Sucessores), Limitada, sendo uma estreia nas distinções da RAEM. A cerimónia de entrega das distinções está marcada para 13 de Janeiro.

BNU | Carlos Cid Álvares: uma grande honra e responsabilidade

A atribuição pelo Governo da medalha de honra ‘Lótus de Prata’ ao Banco Nacional Ultramarino (BNU), do grupo Caixa Geral de Depósitos, é uma “grande responsabilidade”, disse ontem à Lusa o presidente da instituição. “É uma grande honra e é também uma grande responsabilidade. Significa com certeza uma medalha pelos serviços prestados à comunidade, pelos serviços prestados a Macau e também uma responsabilidade para, no futuro, fazermos ainda melhor”, referiu Carlos Cid Álvares.

“Estamos muito orgulhosos e muito felizes por receber essa medalha no próximo dia 13 de Janeiro”, acrescentou, sublinhando a coincidência de a agraciação acontecer paralelamente a outros momentos importantes para o território, como “a assinatura dos contratos de concessão” das operadoras de jogo e “o aligeiramento das medidas covid”.

Num balanço à presença do BNU em Macau, que celebrou em Setembro 120 anos de existência no território, Carlos Cid Álvares salientou numa entrevista recente à Lusa o serviço prestado à comunidade e o apoio à actividade económica local, admitindo “bons e maus momentos”, embora “sempre presente e a apoiar o desenvolvimento” da região administrativa especial. “De certeza que quem pensou esta operação se calhar não pensou que ia cá estar durante tanto tempo, ou se calhar pensou”, reagiu.

O CEO do BNU disse ser “um grande orgulho” e “uma grande responsabilidade” para a instituição ser um dos bancos emissores de moeda em Macau, a par do Banco da China, com contrato renovado em 2020 e válido até 15 de Outubro de 2030.

Serviços comunitários | Hato e Mangkhut ainda rendem distinções

Na categoria da Medalha de Serviços Comunitários, a única distinguida é a Associação dos Proprietários de Máquinas de Construção Civil de Macau, devido ao contributo prestado para a limpeza das ruas após a passagem dos tufões Hato, que causou 10 vítimas mortais, e Mangkhut. “Em 2017 e 2018, Macau foi assolada por dois fortes tufões, e perante estes desastres, a Associação colaborou empenhadamente em acções de emergência após tufão, designadamente remoção de destroços, desobstrução de vias rodoviárias, bombeamento e drenagem de água nas zonas de inundações, e remoção de milhares de toneladas de lixo”.

Contudo, o papel nos simulacros recentes, denominados “Peixe de Cristal”, também contribuem para o reconhecimento. “Tem assumido a sua quota-parte da responsabilidade social com ousadia, contribuindo desinteressadamente para a estabilidade social”, considerou o Governo.

Mérito profissional | CEM agradece distinção

A Companhia de Electricidade de Macau (CEM) foi uma das entidades distinguidas, neste caso com a Medalha de Mérito Profissional, devido ao “fornecimento estável de energia aos residentes e empresas em Macau”. Em reacção, a empresa demonstrou gratidão pela distinção. “A CEM agradece sinceramente ao Governo da RAEM pelo reconhecimento e apoio ao seu trabalho”, pode ler-se num comunicado emitido ontem.

Ao mesmo tempo foi deixada a promessa de continuar a “honrar” os valores fundamentais da empresa: “No futuro, a CEM irá honrar os seus valores fundamentais, cuidar da comunidade e proteger o ambiente, apoiando o Governo da RAEM na construção de uma cidade inteligente e na concretização do duplo objectivo de carbono, injectando uma nova força motriz para o desenvolvimento diversificado da economia e da sociedade de Macau”.

Caritas | Paul Pun recebe Medalha de Mérito Altruístico

O secretário-geral da Caritas Macau, Paul Pun, foi agraciado por Ho Iat Seng, que destacou o trabalho feito dentro do espírito promovido pelo próprio Governo e os valores da Igreja. “Ao longo dos anos, orientado pelos conceitos promovidos pelo Governo e pela Igreja para servir melhor a comunidade, e com o apoio e esforços conjuntos de benfeitores, voluntários e trabalhadores da Caritas de Macau, tem vindo a prestar apoio aos jovens e às famílias de rendimentos baixos”, foi justificado.

O trabalho realizado nos últimos anos, num contexto de pandemia e de medidas apertadas de controlo, que contribuíram para o aumento da pobreza, também não foi esquecido. Em 2008, Paul Pun recebeu a Medalha de Serviços Comunitários.

TSI | Juiz reformado distinguido

Reformado em meados deste ano, o ex-presidente do Tribunal de Segunda Instância, Lai Kin Ian, vai ser condecorado com a Medalha Lótus de Prata. “Dedicou grandes esforços para a manutenção do normal funcionamento dos órgãos judiciários e deu importantes contributos para a transição sem sobressaltos do poder judiciário, bem como para a formação de magistrados, e quadros especializados das áreas do direito e policial”, pode ler-se, no texto justificativo. Lai Kin Ian teve mais de 37 anos de serviço na função pública até 2022, e actualmente é professor do Colégio Nacional de Juízes da China, em regime de acumulação a tempo parcial, e docente da Faculdade de Direito da Universidade de Macau.

Lista de distinguidos

Medalhas de Honra

Lótus de Ouro – Associação de Beneficência Tong Sin Tong

Lótus de Prata – Banco Nacional Ultramarino S.A.

Lótus de Prata – Banco Tai Fung, S.A.

Lótus de Prata – Cruz Vermelha de Macau

Lótus de Prata – Lai Kin Hong

Medalhas de Mérito

Mérito Profissional
Sociedade de Abastecimento de Águas de Macau, S.A.

Companhia de Electricidade de Macau, S.A.

Mo Hui

Mérito Industrial e Comercial
Companhia de Seguros da China Taiping (Macau), S.A.

Transmac – Transportes Urbanos de Macau, S.A.R.L.

Humberto Carlos Leitão Rodrigues

Mérito Turístico
Associação dos Hoteleiros de Macau

Mérito Educativo
Escola Hou Kong

Mónica Lou Lan Heng

Lei Cheok Kin

Mérito Cultural
Confraria da Gastronomia Macaense

Lok Hei

Kuok Keng Man

Chan Nga Lei

Mérito Altruístico
Pun Chi Meng

Mérito Desportivo
Clube de Natação Lok Po

Medalhas de Serviços Distintos

Dedicação
Departamento de Informação do Gabinete de Comunicação Social

Departamento de Infraestrutura Financeira e de Tecnologia de Informação da Autoridade Monetária de Macau

Serviços Comunitários
Associação dos Proprietários de Máquinas de Construção Civil de Macau

Títulos Honoríficos

Valor
Chan Pak Ian

Choi Ka Wai

20 Dez 2022

Casinos | Contratos assinados com investimentos de 100 mil milhões em elementos não-jogo

As seis operadoras de jogo presentes em Macau renovaram o contrato de concessão para os próximos dez anos, comprometendo-se a aplicar “mais de 100 mil milhões de patacas” em elementos não relacionados com o jogo. Apostas culturais, em exposições e convenções e na busca de turistas estrangeiros dão pistas sobre o que a próxima década reserva

 

“Neste concurso público, as seis empresas adjudicatárias comprometeram-se a fazer um investimento nos elementos não-jogo de mais de 100 mil milhões de patacas e quanto ao jogo cerca de 10 mil milhões de patacas”, disse, durante uma conferência de imprensa, o presidente da comissão do concurso público para a atribuição de concessões para a exploração de jogos de fortuna ou azar, André Cheong.

A aposta em elementos não-jogo e visitantes estrangeiros são duas das exigências estabelecidas no concurso público pelas autoridades que esperam assim diversificar a economia do território, fortemente dependente das receitas dos casinos.

“Depois de 20 anos de desenvolvimento, o jogo, tanto nas suas instalações básicas, como nos seus equipamentos, já tem uma certa dimensão, por isso o Governo não espera uma expansão ilimitada do jogo, tem de ser um desenvolvimento estável e, ao mesmo tempo, é preciso dar mais espaço de desenvolvimento dos elementos não-jogo”, acrescentou.

Sobre a expansão desta vertente, André Cheong sublinhou ainda que as operadoras vão estabelecer planos anuais, sendo que já existem projectos para 2023, “como espectáculos e convenções”, apresentados no sábado numa conferência de imprensa que juntou membros do Governo e as seis empresas.

Já o secretário para a Economia, também presente na sessão de sexta-feira, assegurou que será dada “primazia ao emprego local” e que a promoção de sectores não ligados ao jogo pode vir a “criar mais postos de trabalho para residentes”. “Estes poderão aproveitar esta oportunidade para se desenvolverem profissionalmente. No sector do jogo há muitos trabalhadores que vão mudar de carreira”, assumiu Lei Wai Nong.

Virar de página

A MGM Grand Paradise, que ficou em primeiro lugar no concurso público para a atribuição das licenças de jogo, referiu-se à assinatura do contrato como “um marco histórico”, salientando que vai “alinhar-se proactivamente com as orientações da nação para promover o desenvolvimento do turismo de alta qualidade”.

“A nova concessão também abre uma nova oportunidade de desenvolvimento para mim. Com entusiasmo e espírito inabalável, vou dedicar-me a assumir as responsabilidades nos próximos 10 anos e cumprir os compromissos da empresa em Macau”, escreveu a directora executiva da operadora, Pansy Ho, num comunicado enviado à comunicação social.

Já o director executivo da Sands China, Robert G. Goldstein, afirmou que a empresa se sente “honrada e ansiosa para continuar a investir no desenvolvimento de Macau, na sua diversificação e sucesso”.
“Hoje olhamos para a frente com a mesma confiança e entusiasmo no futuro de Macau do nosso fundador Sheldon G. Adelson há duas décadas, quando se comprometeu com a visão do Cotai Strip”, disse, referindo-se ao fundador da operadora de jogo e ‘resorts’ integrados Las Vegas Sands, falecido em Janeiro do ano passado.

Em representação da Melco Resorts, que ficou em quarto lugar, o presidente Lawrence Ho começou por agradecer ao Governo de Macau por ter “conduzido um processo tranquilo e transparente”, assumindo o compromisso de apoiar “o desenvolvimento saudável e sustentável da indústria do turismo e do lazer”.

Também a Wynn Resorts garantiu “continuar a apoiar Macau como um centro mundial de turismo e lazer”. Num comunicado, a operadora mostrou-se “confiante com as oportunidades futuras significativas que o mercado reserva”.

Por sua vez, a SJM (Sociedade de Jogos de Macau) Resorts, fundada pelo falecido magnata do jogo Stanley Ho, expressou “gratidão ao Governo da Região Administrativa Especial de Macau pela oportunidade de desenvolver o seu negócio existente” no território. Num comunicado, Daisy Ho, filha de Stanley Ho e directora executiva da SJM, sublinhou que com base no “rico património de 60 anos” da empresa em Macau, esta vai apoiar uma cidade “estável e próspera”.

A Galaxy Casino, segunda classificada do concurso público, não publicou até ao momento uma reacção à renovação da licença de jogo.

Vêm charters

Um dos compromissos assumidos, e previstos nos contratos, passa pela atracção de turistas estrangeiros. A MGM Grand Paradise planeia aumentar a rede de vendas no exterior e organizar eventos nas filiais da Ásia e do Médio Oriente, para “atrair clientes de países estrangeiros directamente para Macau”, nomeadamente “através de voos charter”, disse a administradora delegada da empresa, Pansy Ho, na conferência de imprensa de apresentação do plano de acção para os próximos dez anos.

A responsável, filha do falecido magnata do jogo Stanley Ho, salientou que dos 16,7 mil milhões de patacas de investimento para a próxima década, “15 mil milhões de patacas, aproximadamente 90 por cento, serão destinados ao desenvolvimento de mercados de visitantes internacionais e projectos não relacionados com o jogo”.

No mesmo sentido, o irmão Lawrence Ho, administrador delegado de outra concessionária, a Melco Resorts, frisou que serão utilizados “dois aviões privados” da empresa para “atrair clientes com grande poder de consumo”. Ho, que espera apostar também em turistas europeus e do Médio Oriente, referiu que a operadora prevê gastar 11,8 mil milhões de patacas numa década, sendo que à volta de 10 mil milhões de patacas serão orientados para o segmento além-casino e, desses, 1,9 mil milhões para trazer visitantes de fora.

A Galaxy, por sua vez, também quer “apostar em clientela com capacidade de consumo”, de acordo com o administrador delegado Francis Lui Yiu Tung, “porque esses clientes são quem pode fortalecer a economia”. Com uma previsão de aplicar 28,4 mil milhões de patacas na estratégia para os próximos dez anos, a empresa vai canalizar 96 por cento desse valor em projectos fora do âmbito do jogo.

Tentáculos na fora

Já a Wynn Resorts quer empregar 17,7 mil milhões de patacas na próxima década, dos quais 16,5 mil milhões de patacas em elementos não-jogo. Nos planos, está o alargamento dos escritórios de venda e agências no exterior, em vários países asiáticos e ainda no Canadá e nos Estados Unidos.

“Vamos desenvolver parcerias regionais e internacionais com companhias aéreas que sirvam Macau e Hong Kong, e explorar voos charter e serviços de voos privados para os clientes”, notou o director financeiro e administrativo, Craig Jeffrey Fullalove.

A Venetian Macau (Sands) é quem apresenta o investimento mais alto das seis operadoras, com a promessa de gastar 30,2 mil milhões de patacas, incluindo 27,8 mil milhões em programas não-jogo. Para atrair o mundo lá fora, o director executivo Wilfred Wong Ying Wai quer também “concentrar as despesas de marketing em mercados estrangeiros, incluindo na imprensa estrangeira e em plataformas de distribuição”.

Por fim, a mais antiga concessionária a operar em Macau, a Sociedade de Jogos de Macau (SJM), representada pela administradora delegada Daisy Ho, também filha de Stanley Ho, apresentou planos para expandir a base de clientes além-fronteiras – numa primeira fase nos mercados do norte da Ásia e do Sudeste Asiático.

“A SJM também aproveitará em pleno os seus próprios recursos e a extensa rede de transporte aéreo, terrestre e marítimo das empresas do mesmo grupo para proporcionar um serviço de transporte em conectividade sem descontinuidade aos visitantes internacionais”, assegurou a responsável.

Cartaz da década

Museus, parques temáticos, uma policlínica e um espectáculo do cineasta chinês Zhang Yimou fazem parte da estratégia futura das operadoras de jogo de Macau, anunciada, para transformar o território num “centro de turismo e lazer mundial”.

Nos planos da Melco Resorts, que “apoia fortemente os objectivos de desenvolvimento do Governo”, está a construção da “primeira e maior policlínica privada de imagiologia e ‘check-up’ médico da região administrativa de Macau”, disse o administrador delegado da empresa, Lawrence Ho, em conferência de imprensa. “Vamos abrir já no próximo ano para consultas médicas”, referiu o responsável.

Além disso, frisou, a Melco planeia ainda inaugurar em 2023 “o único parque aquático em Macau com instalações interiores abertas durante todo o ano”, em 2024, um parque de skate para “promover este desporto em Macau” e, no ano seguinte, o Museu Esplendores da China, um espaço “icónico e altamente interactivo”, com mil metros quadrados, para apresentar “a cultura milenar da China”. A empresa tem também nos planos o regresso do House of Dancing Water, no final de 2024.

Pelas mãos da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), e da irmã de Lawrence Ho, administradora delegada da empresa, Daisy Ho, vão nascer outros três museus no território: um sobre a história do Hotel Lisboa, propriedade da empresa, outro sobre a história do jogo em Macau e ainda um espaço que versa sobre a cultura do jogo local – este último no antigo casino flutuante Palácio de Macau, que será restaurado e transformado num projecto que une restauração, compras, jogos e exposições culturais.

A SJM prevê ainda a remodelação completa do Hotel Lisboa e parcial do Hotel Grand Lisboa, “num investimento total de 2,5 mil milhões de patacas”, adiantou Daisy Ho aos jornalistas. “O Grand Lisboa vai começar já e esperamos que esteja concluído em 2024 e entre em funcionamento em 2025. O Hotel Lisboa, dado que a dimensão é maior, precisa de mais tempo”, referiu. Daisy Ho revelou que existem também planos para a revitalização de zonas urbanas como a Avenida de Almeida Ribeiro, e Ponte-cais 16 e Ponte-cais 14, que vão ser transformadas numa “rua de restauração ribeirinha”

Oásis de bem-estar

O programa da MGM Grand Paradise, operadora que ficou em primeiro lugar no concurso público, prevê uma parceria com a “equipa do realizador chinês” Zhang Yimou e a uma empresa especializada em realidade virtual “para criar novos conteúdos e desenvolver tecnologia de espectáculos”. É esperado que o ‘show’ residente MGM2049 avance já em 2024.

No domínio da saúde e do bem-estar, afirmou a administradora delegada da MGM Grand Paradise, Pansy Ho, vai nascer “um oásis urbano”, que é “o novo marco do turismo de saúde e bem-estar de Macau”.
Francis Lui Yiu Tung, da Galaxy, ao falar sobre o futuro da operadora, começou por dizer que “perante a epidemia” há que ter “um pensamento inovador para enfrentar desafios”. “Acreditamos que, com liderança e Macau com as suas vantagens e os nossos projectos de entretenimento, lazer e cultura empresarial, podemos criar em conjunto um centro de turismo e lazer mundial”, considerou.

Um parque temático, com uma área de construção de 61 mil metros quadrados, “orientado para visitantes em família” e um museu de arte com sete mil metros quadrados, com “aplicações de tecnologia criativa e imersiva”, destacam-se no plano de acção da operadora.

Já a Venetian Macau (Sands), decidiu reaproveitar o actual Jardim Tropical, a sul do hotel The Londoner, “para criar um destino com aproximadamente 50 mil metros quadrados”, que inclui “um jardim de inverno icónico, juntamente com espaços verdes temáticos” e que se deverá “tornar num marco de Macau de renome internacional”.

A modernização da Arena do Cotai e um novo centro de exposições e convenções, com 18 mil metros quadrados, são outras das propostas da operadora.

Por último, a Wynn tem alinhavada a construção de um novo teatro, “para ser casa de um espectáculo único” e a criação de um espaço de restauração de gastronomia internacional que “será uma atração turística imperdível”, disse Craig Jeffrey Fullalove, diretor financeiro da empresa.

19 Dez 2022

Análise | Economistas e residentes aplaudem relaxamento de medidas

Hong Kong já não tem quarentena à chegada e Macau adoptou o isolamento domiciliário para contactos próximos. O alívio gradual das medidas de combate à covid-19 é aplaudido por economistas e residentes contactados pelo HM, que acreditam numa verdadeira recuperação do território a nível sócio-económico nos próximos meses

 

Três anos depois do início da pandemia que mudou o mundo, Macau parece estar a reagir com o alívio das restrições. As novas regras surgiram em catadupa: com o Conselho de Estado a decretar dez novas medidas menos severas no combate à covid-19, eis que Macau decidiu reduzir as restrições introduzindo, por exemplo, a quarentena domiciliária para contactos próximos. Ao mesmo tempo, desde ontem que não é necessário cumprir quarentena para quem chega a Hong Kong.

Dois economistas contactados pelo HM congratulam-se com estas medidas, que acreditam ser um primeiro sinal para a recuperação económica há muito esperada pelos residentes.

“As notícias do fim da quarentena em Hong Kong para quem chega do exterior, e a provável aplicação da mesma medida a residentes de Hong Kong que visitam a China trazem imensas esperanças a todos os que se preocupam com a situação económica de Macau, a começar pelos próprios comerciantes e estendendo-se a toda a sociedade”, adiantou José Sales Marques.

O economista alerta para um súbito aumento de casos no território com o alívio de medidas, mas cabe às autoridades dar a volta à situação, com “a adopção de medidas preventivas adequadas e uma maior insistência na vacinação, sobretudo da população mais idosa”, incluindo “uma gestão tranquila da crise, sem pânicos desnecessários”.

“Com o fim previsto da quarentena, a economia de Macau vai voltar a respirar sem necessidade de apoios artificiais e, oxalá, os muitos planos existentes para a sua recuperação vão finalmente encontrar condições objectivas e subjectivas para alcançarem sucesso”, declarou ainda Sales Marques.

Para José Félix Pontes, também economista, “mais vale tarde do que nunca” para a adopção de medidas menos restritivas de movimentos e liberdades individuais. “O abandono das medidas drásticas que nos foram impostas deveria ter acontecido há mais tempo. Macau tem sido um seguidista cego do que tem sido implementado na China. O país alterou, de forma repentina e sem anúncio prévio, as regras de prevenção e Macau, para ser coerente, tem de adoptá-las.”

Para o economista, a realização do Mundial de Futebol do Catar trouxe a lume a evidência de que o mundo já tinha voltado à normalidade no que à covid-19 diz respeito. “Fazia pouco sentido que, de uma população mundial com oito mil milhões de pessoas, apenas 16 por cento tivessem de seguir medidas drásticas, enquanto os restantes 84 por cento passaram a conviver com o vírus sem quaisquer problemas. A transmissão televisiva dos jogos do Mundial foi um dos gatilhos para a mudança levada a cabo pelas autoridades chinesas”, disse.

José Félix Pontes dá o exemplo de Hong Kong, que “há alguns meses resolveu, e bem, relaxar as medidas de prevenção”. “Penso que dentro em breve a política que foi defendida pelas nossas autoridades de saúde vai ser banida do léxico das notícias sobre a covid. Eu faço a minha parte: já me esqueci do seu nome!”, salientou.

Algum alarme

O anúncio do alívio das medidas aconteceu na última semana e só desde esta quarta-feira é permitida a quarentena em casa para contactos próximos. O número de casos tem aumentado em flecha e já há registo de uma morte, uma idosa de 80 anos não vacinada.

Rita Gonçalves, residente, aplaude o alívio das restrições, mas mostra algum receio sobre a forma repentina como tudo se processou.

“No geral diria que os residentes estrangeiros ocidentais estão entusiasmados e optimistas, mas também estamos um pouco alarmados pela forma como este ‘rebentar da bolha’ se vai desenvolver”, contou.

Mãe de três filhos, Rita Gonçalves diz ainda não ter certezas sobre a vacinação dos filhos nesta nova fase da pandemia, por serem dispersas as informações fornecidas pelas autoridades. “A informação é muito geral e depois somos constantemente abordados por SMS para vacinarmos as crianças. Até agora não o fiz por não haver necessidade, uma vez que tenho vivido nesta bolha, mas estou quase decidida a fazê-lo, para que os miúdos tenham menos possibilidade de ficar doentes quando a ‘bolha rebentar’.”

Mas a residente diz “não confiar nos hospitais de Macau, especialmente no que diz respeito ao factor humano”. “Depois de tanto tempo aqui presos, penso que os profissionais de saúde vão exagerar e falhar nos diagnósticos”, apontou.

Quarentena sem sentido

No caso de Nelson Rocha, proprietário de um restaurante, “estas medidas são insuficientes, vêm demasiado tarde e na pior altura”. Na visão do empresário, o alívio das restrições deveria ter ocorrido após o surto de Junho. “Tinha sido mais fácil para a população do que fazer isto antes do que agora, no pico do frio, além de que a população deveria ter sido avisada primeiro tal como se fez em Hong Kong, onde as autoridades avisaram três meses antes que iam abrir”, contou ao HM.

Mesmo com esperança de dias melhores para o sector da restauração, Nelson Rocha fala em “desorganização” com “consequências”, uma vez que “há muitas pessoas preocupadas com a abertura repentina”.

“Termos insistido nas quarentenas quando o vírus se tornou mais fraco foi um erro, mas agora então não faz qualquer sentido termos quarentenas, à semelhança da China, quando já temos o vírus espalhado na comunidade. Macau, ao contrário da China, precisa de turistas. A população da China é suficiente para trabalhar a sua economia enquanto a de Macau não é, pelo que não faz sentido continuar esta tortura psicológica da população e da economia local para uma doença que, felizmente, hoje em dia se cura na grande maioria sem um quadro clínico grave”, concluiu.

15 Dez 2022

Covid-19 | Hong Kong decreta fim das restrições de viagem

A partir de hoje será permitido entrar em Hong Kong sem cumprir qualquer tipo de quarentena ou auto-gestão de saúde. Para isso, basta apresentar um teste negativo à covid-19. Só quem testa positivo ficará com o código de saúde vermelho e terá de cumprir isolamento

 

Hong Kong levanta, a partir de hoje, todas as restrições de viagem a quem chega à cidade e com teste negativo à covid-19, noticiou ontem o jornal local South China Morning Post (SCMP). O Chefe do Executivo de Hong Kong, John Lee Ka-chiu, anunciou as novas medidas antes do encontro semanal com o Conselho Executivo, de acordo com a publicação diária em língua inglesa.

Até agora, quem chegava à região administrativa chinesa tinha de cumprir o regime ‘0+3’, sem necessidade de cumprir quarentena em hotel, mas com três dias de auto-gestão médica domiciliária, mantendo-se durante esse período o código de saúde amarelo, que proibia, por exemplo, a entrada em restaurantes.

Com a nova medida, Hong Kong adopta o regime ‘0+0’ e todas as pessoas chegadas ao território com teste negativo à covid terão código de saúde azul, o que significa poder andar livremente pela cidade, destacou o SCMP.

De acordo com as novas regras, quem testar positivo, mantém o código de saúde vermelho e é obrigado a respeitar o actual protocolo de isolamento. John Lee disse ainda que, a partir de hoje, os residentes já não terão de fazer a leitura do código QR para registar a entrada em locais da cidade, embora os clientes de restaurantes e pessoas que visitem determinadas instalações ainda precisem de apresentar o registo da vacinação.

“As decisões têm como base dados e riscos. O risco de infecção dos casos importados é menor que o risco de infecções locais. Acreditamos que o levantamento [das medidas] não vai aumentar o risco de surtos locais”, salientou Lee, citado pelo SCMP.

Sobre uma possível abertura da fronteira entre Hong Kong e o interior da China, Lee disse que o Governo tem estado a negociar activamente com as autoridades centrais. “As autoridades do interior também dão muita importância a isto”, acrescentou.

Medidas graduais

Na semana passada, Hong Kong aliviou as medidas de quarentena e isolamento, depois de uma alteração à política ‘zero covid’ por parte de Pequim. Um aumento de infecções diárias tinha impedido a cidade de levantar as regras de distanciamento social, lembrou o jornal. As autoridades de saúde de Hong Kong registaram um total de 14.717 casos na segunda-feira, cinco por cento dos quais importados. De acordo com dados da Universidade Johns Hopkins dos Estados Unidos, Hong Kong ultrapassou as 2,2 milhões de infecções e registou 10,959 mortes desde o início da pandemia da covid-19.

Macau mantém a fórmula de quarentena “5+3”, que implica o cumprimento de cinco dias em isolamento num hotel e três dias de auto-gestão de saúde, mas desta vez com código de saúde amarelo. No entanto, as autoridades locais também se mostram abertas a mudar gradualmente as restritivas regras de combate à covid-19, nomeadamente com a entrada em vigor, também a partir de hoje, da medida de isolamento em casa para contactos próximos de doentes com covid-19.

Loja de comida portuguesa espera reabertura da China

O fim anunciado da estratégia ‘zero covid’ na China continental dá esperança ao restaurante e loja em Hong Kong onde Michael Franco, bisneto do primeiro Presidente português, partilha a paixão pelos sabores de Portugal.

Pequim anunciou na segunda-feira o fim do uso de uma aplicação que rastreia as deslocações do utilizador. O país mantém, no entanto, a quarentena obrigatória para quem chega de Hong Kong e do estrangeiro.

“O Governo disse que as restrições iriam ser levantadas muito em breve. Esperemos que o negócio volte ao normal até ao Ano Novo Chinês [22 de Janeiro], uma época alta, sobretudo para a alimentação”, disse à Lusa o director de marketing da loja ‘Bairro à Portuguesa’.

Tony Cheung lembrou os “dias difíceis” do pior surto de covid-19 em Hong Kong, em Fevereiro: “O impacto foi enorme para todos os negócios ligados à comida. Ninguém saía de casa, ninguém vinha aos centros comerciais, não havia turistas”.

Para manter a porta aberta, a loja recorreu à entrega ao domicílio, “sobretudo para pratos especiais, como o leitão”, ou fazia promoções para escoar os produtos, explicou Cheung, sobrinho de Michael Franco.

A redução drástica no número de voos para Hong Kong não ajudou, fazendo disparar o custo do transporte de produtos como o presunto português, que “não pode vir de navio porque tem um período de validade muito curto”, sublinhou o gestor.

Mais tarde, a guerra na Ucrânia fez subir o preço dos combustíveis, tornando também mais caro o transporte pela via marítima de produtos como o vinho português, lamentou Cheung. “Simplesmente sobrevivemos durante a pandemia. Tivemos prejuízo com a renda e os salários do pessoal”, disse o director de marketing do ‘Bairro à Portuguesa’.

A situação tem melhorado desde o Verão, referiu Cheung. “O tráfego está a regressar, mas ainda não de volta aos níveis de 2018. Já conseguimos ver turistas chineses, mas ainda é raro”, acrescentou.

Ironicamente, disse o gestor, o fim da quarentena para quem chega a Hong Kong vindo do estrangeiro, a partir de Setembro, acabou por não ajudar. “Nos últimos dois meses, o número de pessoas a jantar no restaurante diminuiu. Talvez os residentes de Hong Kong prefiram passar os fins de semana ou as férias na Tailândia ou em Taiwan”, explicou Cheung.

“Reavivar memórias”

O director de marketing da loja disse que, ainda assim, a loja continua a servir para “reavivar memórias”. “Antes da pandemia, as pessoas podiam ir regularmente a Macau comer comida portuguesa. Agora vêm aqui”, afirmou.

Com a época festiva a aproximar-se, tornam-se mais populares os cabazes de Natal, indicou Cheung, onde o Bairro à Portuguesa junta alguns dos produtos mais populares, como vinho do Porto, presunto e sardinhas congeladas.

“As pessoas provam as sardinhas assadas no restaurante e depois querem experimentar em casa”, disse o gestor. Sardinhas assadas é um dos pratos que Michael Franco aprendeu a fazer com a avó, filha de um general português que, após ter sido destacado em Macau, se mudou para Hong Kong. Franco é bisneto de Manuel de Arriaga, o primeiro Presidente português (1911-1915).

Fronteira | Quarentena para entrar na China termina em Janeiro

A quarentena obrigatória para quem quer entrar na China oriundo de Hong Kong deve chegar ao fim a partir do dia 9 de Janeiro, deixando de existir assim a fórmula “0+3”. A informação foi ontem veiculada pelos media de Hong Kong, sendo que, segundo o portal Macau News Agency, o portal HK01 foi o primeiro a dar a notícia citando uma fonte próxima da Comissão de Saúde da província de Guangdong.

Com o fim da quarentena, restam apenas três dias de monitorização do estado de saúde em casa. Segundo a Bloomberg, que também cita os media de Hong Kong, as novas medidas serão postas em prática mediante um “programa piloto” a entrar em funcionamento antes da chegada do Ano Novo Chinês. De frisar que já em Novembro a Comissão Nacional de Saúde da China anunciou uma redução da quarentena obrigatória para os estrangeiros para cinco dias, ao invés dos anteriores sete.

13 Dez 2022

MIECF | Plataforma entre China e lusofonia “não está a funcionar”

O presidente do grupo CESL Asia, António Trindade, critica a ineficácia da plataforma entre China e os países lusófonos, papel atribuído a Macau pelo Governo Central há quase 20 anos. Porém, o empresário português está optimista com o discurso do Executivo, salientando a aposta na sofisticação e na diversificação da economia

 

O presidente da CESL Asia, empresa de capital português e chinês, defendeu que o papel de Macau enquanto plataforma sino-lusófona “não está a funcionar”, sugerindo a criação de “uma cadeia virtual” de entidades com esse papel.

“Há qualquer coisa que não está a funcionar, não está a funcionar, embora toda a gente a elogie, [dizendo que tem] um potencial enorme, inclusivamente nós. Nós estamos a fazê-la funcionar, mas é só metade. Há muitas coisas que podiam funcionar melhor”, disse à Lusa António Trindade, referindo-se ao estabelecimento por Pequim, em 2003, de Macau como plataforma para a cooperação económica e comercial com os países de língua portuguesa (PLP).

“Então não há muitas empresas chinesas em Portugal a fazer actividade económica? E porque é que essas empresas não são as empresas de Macau”, questionou o presidente da CESL Asia, que falou à Lusa por ocasião da MIECF 2022 – Fórum e Exposição Internacional de Cooperação Ambiental de Macau, que terminou ontem.

Trindade deixou outro exemplo: “Conhece alguma empresa auditora de Portugal que esteja em Portugal e Macau e que faça a plataforma? Zero”.

Cadeia virtual

A CESL Asia, sediada em Macau, tem cerca de 500 trabalhadores, com áreas de negócio que vão dos serviços às soluções tecnológicas. Começou este ano a comercializar em Hong Kong carne de vaca sustentável produzida no Alentejo, tendo também interesse no mercado do Interior da China.

António Trindade apontou dificuldades no acesso a este mercado e defendeu, nesse sentido, a criação de “uma espécie de regime de excepção, como já existe para o CEPA [Acordo de Estreitamento das Relações Económicas e Comerciais entre o Interior da China e Macau], mas especificamente para a plataforma”.

O CEPA, criado em 2003, estabelece um relacionamento semelhante a parceiros de comércio livre entre o interior da China e Macau.

“A burocracia pode ter razão de ser, em relação à plataforma é que não tem. Porque é uma empresa de Macau, não será muito complicado assegurar a sanidade, a qualidade do produto, a relevância, etc, embora seja uma empresa portuguesa, é uma empresa de uma empresa de Macau e da China, e a China tem carência de carne, de carne sustentável, de proteína animal”, reforçou.

Neste caminho em direcção ao interior do país, o responsável da CESL Asia defendeu o estabelecimento de uma “cadeia virtual” que englobe várias entidades “que se preocupem com Macau como plataforma”.
Trindade mostrou-se optimista com o futuro, realçando que hoje o “discurso do Governo é diferente, é de mudança, de sofisticação, de acrescentar valor”. “Ainda há dias o secretário para a Economia veio dizer: ‘não queremos ser conhecidos como um destino de jogo'”, lembrou, dizendo esperar que “se desenvolvam as empresas de Macau”.

Coisas da terra

O presidente da CESL Asia lamentou ainda as dificuldades em Portugal para investir no sector da agricultura, “o parente pobre da actividade económica”.

António Trindade começou por referir “dificuldades em levantar financiamento”, já que “os bancos têm dificuldades em investir na agricultura”. E explicou: “O banco é que tem de apresentar o projecto ao Governo para financiar, se eles quiserem financiar. Se não quiserem financiar e se eu tiver outras entidades que queiram financiar, não têm a garantia do Governo”. “Não faz sentido nenhum”, reforçou o empresário, questionando ainda se o financiamento serve “para apoiar os bancos ou a actividade económica”.

Fundada em 1987, a CESL Asia, empresa de matriz portuguesa em Macau, opera na área de serviços de alto valor na consultadoria e operação de infraestruturas críticas, públicas e privadas, tendo adquirido em 2019, no Alentejo, o Grupo Monte do Pasto, o maior produtor português de bovinos.

Ainda no que diz respeito aos obstáculos ao investimento no sector agrícola, o empresário disse que a CESL Asia “tem condições e vontade” para desenvolver no Monte do Pasto “aquilo que se chama o uso duplo do terreno para a agricultura, na perspectiva da agricultura – aumentar-lhe capacidade com energia solar”.

“Pois é muito difícil (…) Portugal precisa hoje de assegurar que os terrenos são usados para produção de alimentos, primeiramente, e depois perceber que não pode concorrer a produção de alimentos com a produção de energia solar, tem de trabalhar em conjunto”, explicou o responsável à Lusa.

“Um terreno de sequeiro na zona ali do Monte de Pasto para solar aluga-se por 1.500, 2.000 euros o hectare por ano, se for para a agricultura aluga-se por 50 a 100 euros. É completamente irracional”, completou.

12 Dez 2022

Crise | Deputado interroga-se de haverá emprego para portugueses em Macau

Pereira Coutinho disse, em entrevista à Lusa, ter dúvidas sobre a continuidade de oportunidades de emprego no território para portugueses, tal como acontecia no passado, lamentando a saída de quadros qualificados lusos. Além disso, vinca a tradicional proximidade entre políticos e interesses económicos e a necessidade de transparência governativa

 

“Nada foi alterado quanto à política dos portugueses virem para cá trabalhar”, sublinhou. Mas, “será que existirão empregos para os portugueses virem para Macau?”, perguntou, para concluir: “Essa é que é a grande dúvida”, apontou o deputado José Pereira Coutinho, em entrevista à Lusa.

Em causa está a crise económica, desencadeada pelas restrições pandémicas, mas também a saída de quadros qualificados portugueses, que não são substituídos por outros vindos de Portugal, mas por quadros locais ou do interior da China, salientou.

“Preocupa-me (…) a vinda de, por exemplo, mais médicos especialistas, mais juristas, mais delegados do MP [Ministério Público], mais juízes para Macau”, explicou. “Quando verifico no Boletim Oficial a saída de um ou outro desses senhores que estão a contribuir com a sua área pessoal de especialidade nessas vertentes, e não são substituídos, aí dói-me, porque, de facto, é menos um, mais uma perda”, lamentou.

Trabalho de bastidores

Ainda assim, ex-conselheiro das comunidades portuguesas e deputado da Assembleia Legislativa destacou o “excelente trabalho” do “Governo de Portugal, nomeadamente do cônsul-geral” nesta área, “a dizer que Portugal tem quadros qualificados para dar esses contributos”.

Vê com bons olhos os protocolos de cooperação firmados entre Portugal e Macau ao nível da educação, sobretudo ao nível do ensino superior, mas permanece a “preocupação quando nos departamentos de estudos portugueses não são preenchidas as vagas com professores portugueses” no território, que tem registado uma subida da taxa de desemprego, com muitos deputados, associações e as autoridades a defenderem uma política prioritária de contratação local.

Pereira Coutinho sustentou que, por esta razão, “é preciso fazer algum trabalho de bastidores” e que “esse trabalho compete às autoridades (…) de Portugal, delegados, cônsul-geral, e também os conselheiros da comunidade portuguesa, que estão a fazer um excelente trabalho”.

O deputado disse estar convencido de que as regras pandémicas não vão durar eternamente e que esse não será, por isso, o factor que vai determinar o abandono do território no futuro. “[Mas] Vejo de uma outra perspectiva: é se as oportunidades de emprego continuarão a existir como no passado. Aí sim, preocupa-me bastante, quando não substituem as pessoas nas áreas que acabei de referir”, enfatizou.

“Quando sai um português é evidente que não têm aquele cuidado de substituir por um outro português, para marcar a diferença”, uma realidade que tem o risco de tornar Macau como mais uma cidade do Interior da China, alertou, sem que se acautele o estatuto diferenciador da multiculturalidade.

“Esse património humano tem de ser mantido e aí estamos de facto a ficar de alguma forma preocupados porque não sei se é desleixo ou também porque há grande procura para preencher as vagas na função pública. Em Macau toda a gente quer trabalhar na Função Pública. E agora ainda muito mais, porque as receitas dos casinos estão a diminuir”, argumentou.

Coração apertado

Apesar de estar convicto numa mudança a breve prazo das restrições pandémicas e numa eliminação das quarentenas obrigatórias nos hotéis, que tem defendido na Assembleia Legislativa, o deputado admitiu que a política de prevenção tem contribuído para algum mal-estar na comunidade.

“Existem tantos portugueses que não estão a ver os pais há anos. Três anos e tal. Têm pais idosos. [Com] 80, 90 anos de idade. Têm filhos nas universidades europeias com os quais não têm contactos pessoais”, realçou.

“Tudo isto somado, faz com que algumas pessoas sintam efeitos psicológicos, sobretudo aquelas que olham para a televisão e vêem o mundo inteiro a voltar à normalidade”, resumiu, para de seguida expressar um lamento: “É pena que esta pandemia não tenha facilitado a saída das nossas autoridades competentes nas diversas áreas. Não têm ido para o estrangeiro, espero que saiam, vejam o mundial [de futebol]. Ninguém com máscara e nós andamos ainda com máscaras na rua”.

Tudo na mesma

O deputado disse ainda que será difícil no futuro ter uma maioria dos parlamentares eleitos democraticamente em Macau.

“Antes do estabelecimento da RAEM [Região Administrativa Especial de Macau] foi uma pena não ter sido alterado, de forma a que a maioria dos deputados na Assembleia Legislativa (…) sejam eleitos pela via directa”, sustentou Pereira Coutinho.

“Não foi assim no passado na administração portuguesa, não foi assim após o estabelecimento da RAEM e até à presente data, e não vai ser fácil no futuro termos uma Assembleia Legislativa [com deputados] maioritariamente eleitos pelo voto democrático”, afirmou o parlamentar, que nas eleições do ano passado conseguiu tornar a sua lista na terceira força política na AL, numas eleições marcadas pela exclusão dos candidatos associados ao campo pró-democracia.

A Assembleia Legislativa é constituída por 33 deputados, 14 dos quais eleitos directamente pela população, 12 por sufrágio indirecto (através das associações) e sete nomeados pelo Chefe do Executivo. Por outro lado, Pereira Coutinho lamentou que até hoje não exista “um regime específico de [declaração] de conflito de interesses”.

“É um regime [em] que tenho estado a trabalhar nos últimos 20 anos em Macau para que as coisas sejam mais transparentes, para que saibamos quem é quem cá em Macau, o que está por trás, quais são as suas responsabilidades, quais são as suas empresas, que funções exercem em determinadas associações”, explicou.

O deputado afirmou que “há deputados que nem habilitações académicas e profissionais põem lá no seu perfil individual da Assembleia Legislativa”. E insistiu na crítica: “Macau foi sempre, no passado, no tempo da administração portuguesa, uma teia de interesses, de conflito de interesses no seu dia-a-dia. Porque é que as pessoas querem ser deputados? Porque de facto facilita a vida do empresário, da sua actividade comercial, e isto foi sempre assim no passado, no tempo da administração portuguesa, e continua a ser agora”.

Imaculados elefantes

Afectada pela crise económica causada pela pandemia de covid-19, Pereira Coutinho garantiu que a população está atenta ao dinheiro desperdiçado pelos responsáveis políticos em projectos megalómanos, nos “elefantes brancos” que têm impacto no erário público, sobretudo quando a sociedade sente cada vez mais na pele o desemprego, sobretudo o juvenil, num território em que a população está a envelhecer, em que há falta de contribuições sociais, em que as receitas do jogo não são suficientes para cobrir as despesas e em que as reservas financeiras estão a diminuir.

Ainda que as pessoas vivam naquela que “continua a ser a cidade mais segura do mundo”, hoje há cada vez mais uma grande pressão psicológica”, num território em que a questão da habitação foi sempre um grande problema, mas que foi agora substituído por um “muito mais grave”. Ou seja, precisou, o desemprego, que trouxe ainda ‘à boleia’ outras adversidades, umas mais locais, outras potenciadas pelo cenário de crise mundial, como “a inflação, a subida dos preços e dos bens essenciais, a perda da qualidade de vida e do poder de compra”.

“E isto tem afetado tanto que se está a repercutir na sociedade com o número de suicídios, no aumento de pessoas a pedir os cestos de comida”, argumentou, ressalvando que o aumento em Macau no número de suicídios durante o período pandémico tem “várias causas”.

“Nós sabemos que muitas dessas causas têm a ver com altercações familiares, as reduzidas dimensões das habitações, o trabalho parcial, as dificuldades de pagar as amortizações, as rendas e os sustentos dos filhos”, elencou, sustentando que “há uma série de problemas que advêm das regras pandémicas extremamente rigorosas e que têm feito com que as pessoas (…) não tenham receitas suficientes para ultrapassar as dificuldades”.

Pereira Coutinho defendeu que resta “ter esperança que as regras pandémicas sejam eliminadas, que a vida normalize” e que “haja mais turistas, que se crie mais riqueza através das pequenas e médias empresas” e que “Macau seja cada vez menos dependente (…) do jogo, de acordo com aquilo que está planeado pelo Governo nos próximos dez anos, e que não vai ser fácil”, admitiu.

5 Dez 2022

Jiang Zemin (1926-2022): Um líder de grandes momentos

Jiang Zemin presidiu a alguns dos momentos mais relevantes da história da China contemporânea. Em 1992, reafirmou a abertura e as reformas económicas. Supervisionou as transferências de soberania de Hong Kong e Macau; e conseguiu a entrada da China na Organização Mundial do Comércio e os Jogos Olímpicos de Pequim. Sob a sua liderança, o país prosperou e tornou-se numa superpotência económica

 

Jiang Zemin, ex-presidente da China, morreu na quarta-feira em Xangai, aos 96 anos. A ausência de Jiang no 20º congresso do Partido Comunista em Outubro, bem como as celebrações do centenário do partido no ano passado, foram lidos como sinais claros do seu estado de saúde em declínio. Morreu de leucemia e falha de múltiplos órgãos às 12.13h de quarta-feira, de acordo com a agência noticiosa Xinhua.

Após o anúncio da sua morte, todas as bandeiras em locais como a Praça Tiananmen de Pequim, os gabinetes de ligação em Hong Kong e Macau e todas as embaixadas chinesas no estrangeiro foram baixadas a meia haste até depois do funeral. Não foram fornecidos mais pormenores sobre os eventos comemorativos.

O Presidente Xi Jinping dirigirá a comissão de 688 membros encarregada dos seus preparativos funerários. Os seus outros membros incluem o antigo presidente Hu Jintao e o antigo primeiro-ministro Zhu Rongji.

“De acordo com o costume, nenhum governo, partidos políticos ou delegações estrangeiras será convidado a assistir a eventos de homenagem na China”, afirmou o primeiro aviso oficial publicado pela comissão funerária. Serão também criados salões funerários nas embaixadas e consulados-gerais chineses para que as pessoas no estrangeiro prestem homenagem.

Jiang foi visto pela última vez em público a 1 de Outubro de 2019, tomando o seu lugar entre os mais idosos convidados para assistir às celebrações do 70º aniversário da fundação da República Popular da China e a um desfile militar que assinalou a ocasião.

De Xangai com fervor

Jiang Zemin, que serviu como secretário-geral do partido de 1989 a 2002, foi o primeiro líder de topo a não ter lutado na revolução, que culminou com a criação da República Popular após a vitória na guerra civil em 1949.

Jiang era o chefe do partido de Xangai quando lhe foi atribuído o cargo máximo do partido em Junho de 1989. A promoção de Jiang aconteceu quando o Ocidente virou as costas à China por causa dos incidentes de Tiananmen. Mas, nos anos seguintes, presidiu a alguns dos momentos mais simbólicos da China, marcando uma maior integração do país com a economia global e ganhando um estatuto mais elevado como potência mundial. Estes incluíram a entrega de Hong Kong em 1997 e de Macau em 1999, quando estas cidades regressaram à soberania chinesa. Foi sob a sua liderança que a China se tornou formalmente membro da OMC em 2001 e, no mesmo ano, Pequim obteve o estatuto de cidade anfitriã dos Jogos Olímpicos de Verão de 2008.

Jiang Zemin renunciou voluntariamente ao cargo de chefe do partido em 2002, para o entregar a Hu Jintao, e ao cargo de chefe das forças armadas em 2004.

Jiang é recordado por muitos como uma figura carismática e confiante, o que o fez sobressair entre outros líderes chineses. Aos 71 anos, fez manchetes por nadar e tocar ukleke no Havai, e mostrou os seus talentos ao cantar ópera de Pequim, durante uma visita estatal aos EUA em 1997.

PCC: “um líder notável”

O anúncio da sua morte foi feito pelo Comité Central do Partido Comunista da China (CPC), o Comité Permanente do Congresso Nacional Popular da República Popular da China (RPC), o Conselho de Estado da RPC, o Comité Nacional da Conferência Consultiva Política Popular Chinesa, e as Comissões Militares Centrais do CPC e da RPC. Foi anunciado numa carta dirigida a todo o partido, a todo o exército e ao povo chinês de todos os grupos étnicos.

A carta diz que “anunciam com profundo pesar a todo o Partido, a todos os militares e ao povo chinês de todos os grupos étnicos que o nosso amado camarada Jiang Zemin morreu de leucemia e falência de múltiplos órgãos depois de todos os tratamentos médicos terem falhado”.

Ainda segundo a carta, “o camarada Jiang Zemin era um líder notável gozando de grande prestígio reconhecido por todo o partido, por todo o exército e pelo povo chinês de todos os grupos étnicos, um grande marxista, um grande revolucionário proletário, estadista, estratega militar e diplomata, um lutador comunista há muito testado, e um líder notável da grande causa do socialismo com características chinesas. Ele foi o núcleo da terceira geração da liderança colectiva central do CPC e o principal fundador da Teoria das Três Representantes”, a saber: “o Partido deve sempre representar as necessidades ligadas ao desenvolvimento das forças produtivas da China, a orientação da cultura superior da China, e os interesses da larga maioria do povo chinês”.

De engenheiro a presidente

Jiang Zemin (江泽民) nasceu na cidade de Yangzhou, Jiangsu, China, a 17 de Agosto de 1926. A sua casa ancestral foi a aldeia Jiangcun, no condado de Jingde, Anhui. Jiang cresceu durante os anos da ocupação japonesa. O seu tio e o seu pai adoptivo, Jiang Shangqing, morreu a combater os japoneses em 1939 e é considerado como um herói nacional.

Jiang frequentou o Departamento de Engenharia Eléctrica na Universidade Central Nacional em Nanjing, ocupada pelo Japão, antes de se transferir para a Universidade Nacional Chiao Tung (actualmente Universidade Jiao Tong de Xangai). Formou-se em 1947 com um bacharelato em engenharia eléctrica.

A sua entrada no Partido Comunista Chinês deu-se quando ainda estava na faculdade. Em 1949, casou com Wang Yeping, também natural de Yangzhou, formada na Universidade de Estudos Internacionais de Xangai. Tiveram dois filhos, Jiang Mianheng (nascido em 1951) e Jiang Miankang (nascido em 1956).

Após a criação da República Popular da China, Jiang recebeu a sua formação na Stalin Automobile Works, em Moscovo, nos anos 50. Trabalhou também numa fábrica de automóveis em Changchun. Acabou por ser transferido para os serviços governamentais, onde começou a subir de proeminência e posição, acabando por se tornar membro do Comité Central do Partido Comunista, Ministro das Indústrias Electrónicas, em 1983.

Em 1985, Jiang Zemin tornou-se Presidente da Câmara de Xangai, e subsequentemente secretário do Comité do Partido Comunista de Xangai, tendo sido um firme apoiante, durante este período, das reformas económicas de Deng Xiaoping. Chegou a secretário-geral do PCC em 1989, sendo considerado como um líder que gostava de pedir a opinião dos seus conselheiros próximos e é frequentemente creditado com a melhoria das relações externas durante o seu mandato. A construção do caminho-de-ferro Qinghai-Tibet e da Barragem das Três Gargantas começaram sob a sua liderança. Em 1993, foi nomeado presidente da China, cargo que manteve até 2002.

Jiang dominava várias línguas estrangeiras, incluindo o inglês e o russo. Gostava de envolver visitantes estrangeiros em pequenas conversas sobre artes e literatura, na sua língua materna, para além de cantar canções estrangeiras na versão original. Faleceu no dia 30 de Novembro de 2022.

As nossas condolências

“Nesta noite cheia de luar, sopra a brisa refrescante, e o mar é sereno como de rosas”, assim começava o discurso de Jiang Zemin, que nesta cidade marcou o pacífico regresso de Macau à soberania chinesa, no dia 20 de Dezembro de 1999.

“A partir deste momento, a amizade entre o povo chinês e o povo português, e a cooperação amistosa entre os dois países vão também desenvolver-se para a frente, de um novo ponto de partida”, afirma em posterior passagem, dirigindo-se a todos os presentes e, especialmente, ao presidente português Jorge Sampaio, presente na cerimónia e também já falecido.

Tendo tomado as rédeas do país num difícil momento, Jiang Zemin soube — sobretudo depois do Congresso do PCC de 1992, em que reafirmou a abertura ao mundo, e ao longo de todo o seu mandato — conquistar para o país um destacado lugar na comunidade internacional e a sua liderança, juntamente com o primeiro-ministro Zhu Rongji, foi fundamental para tornar a China na superpotência, que hoje afirma inequivocamente a sua importante posição económica, política e militar no mundo contemporâneo.

Durante a sua presidência, a China conheceu um período de estabilidade, desenvolvimento e prosperidade difícil de igualar e sem precedentes na história da Humanidade. O Hoje Macau envia as nossas sentidas condolências à sua família, ao Partido Comunista da China e a todo o povo chinês, pelo desaparecimento deste grande líder.

1 Dez 2022

As poderosas mergulhadoras de Ataúro, vencedoras em corrida de barcos tradicionais

Reportagem de António Sampaio, da Agência Lusa

O suor escorre pelo rosto de Prisca de Araújo, 52 anos, pescadora em apneia de Bikele, em Ataúro, enquanto ergue os remos com que acaba de vencer a pequena corrida de ‘beiros’, os barcos tradicionais timorenses.

A seu lado, também com os rostos ofegantes e suados, remos de madeira toscos erguidos nas mãos, estão as duas companheiras de equipa, Querima Soares, 37, e Mariana de Araújo, 48 anos, esta última a única a quem não se vê o sorriso triunfante, eventualmente escondido atrás da máscara.

“Somos todas família, pescadoras de Bikele”, explica a ‘chefe de equipa’, vencedora entre seis grupos de mulheres na primeira prova das “Corridas de Barcos”, primeiro evento desportivo do Festival de Música e Cultura em Ataúro que decorre esta semana na ilha a norte de Díli.

Na costa os principais líderes do país, incluindo o Presidente da República, José Ramos-Horta – que deu a ‘largada’ acenando uma bandeira preta e branca – aplaudem a vitória da curta regata, uma viagem rápida de ida e volta, da praia até ao início da barreira de coral.

Praticamente ninguém prestou atenção à corrida dos homens, logo a seguir, preferindo – atletas e VIP – vir para a sombra do tosco mercado ao lado do cais de Beloi, para beber uns cocos abertos na hora.

“Hoje foi a primeira vez que algumas delas remaram, por isso andavam aos ziguezagues. Normalmente são mergulhadoras. Juntaram-se hoje para esta corrida”, explica à Lusa José Ramos-Horta, a quem coube a iniciativa do festival, evento a que se juntou depois o Governo.

Quatro dias com competições, concursos e várias atividades, que começou na segunda-feira de uma forma inovadora, com embaixadores acreditados em Díli, em trajes tradicionais, a liderar delegações de todos os municípios e da Região Administrativa Especial de Oecusse-Ambeno (RAEOA).

“É uma forma de trazer entretenimento para esta ilha que está perto de Díli, mas está muito isolada. Vem pouca gente cá e até vem mais estrangeiros residentes em Díli que dão alguma animação e animação económica à ilha”, nota o chefe de Estado.

“Pretende-se que haja mais turismo doméstico, que os timorenses venham a Ataúro e a outros locais. Novembro não é o mês ideal, é época das chuvas, mas para o ano vamos fazer em julho ou agosto. Se calhar até conseguiremos reanimar a corrida de iates entre Darwin e Díli, que existiu no tempo português”, disse.

Normalmente, em Ataúro, a divisão de tarefas no mar não é como foi hoje, para esta pequena corrida no mar cristalino da maior atração turística de Timor-Leste.

Normalmente, nos ‘beiros’, quem rema são os homens, deixando às mulheres, as poderosas ‘wawata topu’ de Ataúro a outra tarefa: a de mergulhar em apneia, arpão na mão, para pescar.

Wawata Topu é o termo no dialeto rasua que descreve mulheres mergulhadoras, as sereias de Ataúro, que se lançam dos pequenos beiros, a vários metros de profundidade, para pescar.

Nas mãos levam um arpão tosco, de madeira, ferro e borracha e na face os óculos de mergulho tradicionais, feitos de madeira ou bambu esculpido e duas lentes de plástico ou, tradicionalmente, de vidro de garrafa.

Mergulham vestidas e descem tranquilamente vários metros, flutuando junto a corais que são considerados dos mais biodiversos do mundo e que, claramente, são o principal atrativo turístico de Timor-Leste.

A corrida de hoje de manhã – sob o sol forte e perante dezenas de personalidades que viajaram de Díli especialmente para o Festival – é um dos vários eventos programados para estes dias.

Fora do programa oficial, mas eventualmente mais importante para o futuro mais imediato da ilha, está a decisão do Governo realizar um Conselho de Ministros em Ataúro, que se transformou este ano em município.

“É a primeira e provavelmente a última vez. O programa do festival inclui uma quarta-feira e optámos por reunir o Governo, como normalmente, aqui”, explica o primeiro-ministro, Taur Matan Ruak, à Lusa. José Ramos-Horta espera que seja um encontro que possa começar a fazer nascer alguns projetos cruciais para a ilha.

“Tem que haver mais investimento na água potável, um porto pequeno de atracagem, incluindo para iates. Depois uma clínica mais profissional e até com uma câmara hiperbárica, para os mergulhadores”, refere, entre outros projetos essenciais.

Taur Matan Ruak concorda com essas questões, avança ainda aspetos como a eletricidade e nota que a transformação da região em município e a criação de um fundo especial de investimento demonstra a aposta nas melhorias.

“A comissão do fundo está agora a analisar o que há para fazer. Só o orçamento para Ataúro em 2022 são cerca de 15 milhões, ultrapassa duas vezes os orçamentos de Díli, Baucau e Ermera”, notou. “A questão da água é um problema sério. E na eletricidade estamos a pensar avançar para energias renováveis. Temos que melhorar as estradas também”, referiu.

Entre várias questões, disse, é importante também enquadrar o desenvolvimento que algum setor privado tem feito, especialmente no turismo, no plano de ordenamento para Ataúro. Temas complicados para resolver que as gentes de Ataúro esperam não fiquem esquecidos nas ‘espumas’ de uma maré de líderes timorenses que estão esta semana na ilha.

23 Nov 2022

Jogo ilícito | Advogados consideram revisão “necessária”, mas deixam alertas

Uma das novidades legislativas do relatório das Linhas de Acção Governativa para o próximo ano é a revisão do regime do jogo ilícito, em vigor desde 1996. Pouco se sabe o que sairá dessa reforma, que dois advogados entendem ser necessária. Carlos Lobo defende que deve haver uma coordenação com outras leis, nomeadamente com o diploma que regula os junkets, ainda em discussão no hemiciclo

 

Data de 1996 o regime do jogo ilícito em vigor, ainda o sector não tinha sido liberalizado e Macau era governado pela administração portuguesa. Mais de duas décadas depois, as autoridades pretendem rever o diploma, tendo sido esta uma das medidas anunciadas no relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para o próximo ano.

O HM contactou dois advogados para perceber o que poderemos esperar desta proposta de lei, numa altura em que o Governo pouco ou nada adiantou sobre o assunto.

“Concordo que seja necessária a revisão desta legislação juntamente com a restante. Seria importante que todo o regime jurídico do jogo pudesse estar mais próximo da realidade, porque na verdade a maior parte da legislação já tem mais de duas décadas”, começou por dizer Óscar Madureira.

Ainda que Macau “não tenha propriamente operações de jogo ilegais, o que seria uma actividade muito fácil de detectar, muitas vezes o que acontece é que existem actividades de jogo paralelas, e apostas ilegais decorrentes disso, praticadas em casinos legalizados”.

Nesse sentido, “essa é uma realidade para a qual a legislação não estava actualizada”, aponta o causídico, que dá alguns exemplos de novidades em matéria de apostas que devem estar contempladas no novo diploma.

“Seria importante que ficasse determinada qual a moldura penal para as apostas paralelas e o tratamento que é dado ao regime do chamado ‘proxy betting’ [apostas feitas por alguém designado]. Se a proposta de lei tiver esses elementos penso que será muito útil”, adiantou Óscar Madureira.

Lei anacrónica

Para Carlos Lobo, também advogado e especialista nesta área, o regime de jogo ilícito de 1996 está “desfasado do tempo” mesmo com todas as alterações legislativas que já tiveram lugar, nomeadamente em 2001 e as mais recentes.

“É aceitável e será necessária a sua actualização. Resta saber em que termos vai acontecer e o que se quer, se engloba aquelas que devem ser consideradas como actividades ilícitas.”

Carlos Lobo pede também uma discussão mais ampla e abrangente, nomeadamente através de uma consulta pública, pois “falamos de limitações graves às vidas das pessoas, em muitos casos em penas de prisão”. “A revisão deve ser feita de forma ponderada e cuidada”, defendeu.

Na visão do advogado, os casos da Suncity e Tak Chun, que colocaram atrás das grades os outrora grandes empresários do sector das apostas VIP, agora acusados de branqueamento de capitais e outros crimes, serviram de “chamada de atenção”.

“A lei já deveria ter sido revista há mais tempo, e o Governo e as autoridades judiciais provavelmente perceberam, pelas investigações que fizeram ao caso da Suncity e da Tak Chun, que pode ter havido actividades que são sujeitas a moldura penal. Perceberam que há muitas actividades que não estão penalizadas e que deveriam estar. Penso que estes casos foram um ‘wake-up call’ para as autoridades e esta acção só peca por tardia.”

Carlos Lobo não deixa de frisar ainda outro ponto, que é o facto de estar ainda a ser discutida na especialidade, na Assembleia Legislativa, o regime da actividade de exploração de jogos de fortuna ou azar em casino, que regula a actividade junket.

Trata-se de um diploma “que aparentemente também tem normais penais”, sendo “crucial coordenar uma revisão do jogo ilícito com esta lei, para que não seja legislada de forma autónoma, mas de uma maneira integrada, juntamente com a nova lei do jogo”.

Olhar as dificuldades

Aquando da apresentação do relatório das LAG, Ho Iat Seng era um homem optimista em relação à recuperação do sector do jogo em relação à actual crise económica, lembrando que a possível falência das operadoras é uma carta fora do baralho. O governante não deixou de lembrar que, durante vários anos, as concessionárias ganharam milhões.

Para Carlos Lobo, a equação não é assim tão simples. “Não duvido da capacidade financeira das operadoras, mas julgo que tem de haver da parte do Governo [uma compreensão] das enormes dificuldades que as operadoras têm passado nos últimos três anos, incluindo as que ainda estão por vir, porque não vão recuperar desta crise em seis meses.”

Isto porque “os montantes a serem investidos são feitos com base em perspectivas concretas e hoje ainda não sabemos como vai ser a política de covid zero no futuro ou como se podem diversificar as fontes de jogadores. Ainda há imensas incertezas, e exigir enormes investimentos com base em pouca informação é algo complicado.

Compreendo que o Chefe do Executivo queira mostrar uma posição mais positiva, mas há que reconhecer as dificuldades e não dizer apenas que as operadoras ganharam muito dinheiro”, acrescentou.

O advogado deixa ainda uma crítica à forma sigilosa como o concurso público de atribuição de novas licenças está a ser conduzido. “Uma das minhas críticas a este concurso é o facto de o Governo estar a determinar que é quase tudo sigiloso e ninguém sabe o que se passa. Não conhecemos nenhuma proposta em concreto. Deveria haver uma maior comunicação por parte das autoridades e, em especial, da comissão de concurso para sabermos o que vem aí, sobretudo sabendo que cinco concessões serão renovadas”, rematou.

23 Nov 2022

Covid-19 | Turista que testou positivo obriga a testes nas zonas por onde passou

A descoberta de um caso positivo relativo a uma turista levou a obrigatoriedade de fazer quatro testes até quarta-feira em várias zonas da cidade. Passou a ser exigido teste rápido antigénio para entrar em hospitais, centros de saúde, lares de idosos e de reabilitação

 

O Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus está a desdobrar-se em esforços para tentar encontrar possíveis infecções ligadas a um caso positivo de uma turista chinesa que, até testar positivo, passeou por várias zonas da península.

Desde sábado até quarta-feira, quem resida, trabalhe ou tenha passado por mais de 30 minutos numa lista larga de locais tem de fazer quatro testes de ácido nucleico até à próxima quarta-feira, com intervalo de pelo menos 12 horas entre cada um.

Os primeiros locais dizem respeito à zona onde a turista de 60 anos ficou hospedada. Assim sendo, quem tenha estado na “Doca dos Pescadores de Macau entre 15 e 18 de Novembro, nomeadamente hóspedes e trabalhadores do Hotel Harbourview ou indivíduos que tenham permanecido naquela área por um período de tempo superior a 30 minutos”, tem de se submeter à bateria de testes consecutivos.

O mesmo acontece a quem tenha ficado hospedado, trabalhe ou tenha passado por mais de meia hora no Hotel Sands na sexta-feira.

As autoridades relevaram uma vasta lista de locais visitados pela turista na sexta-feira, que obrigam à testagem, que inclui a Rua de Dom Belchior Carneiro, Rua dos Artilheiros, Caminho dos Artilheiros, Calçada do Monte, Calçada das Verdades, Travessa do Penedo, Calçada da Rocha, Rua do Monte, Rua da Palha, Rua das Estalagens, Rua de Nossa Senhora do Amparo, Calçada do Amparo, Rua de S. Paulo, Calçada de S. Francisco Xavier.

O centro de coordenação de contingência obriga também a quatro testes em cinco dias quem resida, trabalhe ou tenham permanecido mais de meia hora na sexta-feira passada na “Rua do Almirante Sérgio, Pátio da Papaia, Rua do Barão, Rua de Inácio Baptista, Rua de S. José, Rua da Prata, Largo de Santo Agostinho, Rua da Imprensa Nacional, Travessa do Paiva, Rua de S. Lourenço, Travessa do Padre Narciso, Rua de Álvaro de Melo Machado, Rua da Penha, Rua do Lilau, Travessa da Penha, Rampa da Barra, Rua de S. Tiago da Barra, Beco do Marinheiro, Travessa do Petróleo e Largo do Pagode da Barra”.

As autoridades de saúde alertam que se “o teste de ácido nucleico não for efectuado de acordo com os regulamentos, o Código de Saúde de Macau irá ser convertido para a cor amarela no dia seguinte”. A situação só se resolve, regressando a código de saúde verde, após resultado negativo no teste.

“De acordo com as respectivas disposições, pode ser-lhes recusada a entrada em estabelecimentos públicos, a utilização de transportes públicos, bem como a saída da RAEM” a portadores de código de saúde amarelo, recordam as autoridades.

Grande galo

A turista que testou positivo no sábado, estava em Macau desde a passada segunda-feira, dia 14, à noite. Nesse dia, 14 de Novembro, as autoridades nacionais anunciaram que a província de Jiangsu registara 52 novos casos assintomáticos, 24 casos locais e um caso importado. Importa referir que a província de Jiangsu tem uma população de quase 85 milhões de pessoas.

Nos dias 13 e 14 deste mês, a turista de 60 anos testou negativo à covid-19, antes de embarcar num voo, na companhia de dois familiares, no aeroporto de Suzhou com destino a Zhuhai. Nessa noite, a família entrou em Macau através do posto fronteiriço das Portas do Cerco e deu entrada no Hotel Harbourview, que viria a ser encerrado na sequência do teste positivo, tendo os hóspedes e funcionários sido sujeitos a testes de ácido nucleico e observação médica no hotel.

Segundo as autoridades locais, na manhã da passada terça-feira, a paciente começou a tossir e na quarta-feira sentiu-se fatigada e ficou com febre.

Ainda assim, entre terça-feira e sábado, quando foi detectada a infecção, a turista visitou várias zonas de Macau, como seria expectável, até acusar positivo num teste feito no posto da Sands.

Os Serviços de Saúde entraram em contacto com a turista, que foi encaminhada para o Centro Clínico de Saúde Pública do Alto de Coloane para tratamento e isolamento, e os seus dois familiares foram submetidos em observação médica em isolamento. Importa referir que os testes realizados no sábado aos familiares da paciente deram negativo.

Uma fonte passada

Na madrugada de sexta-feira, as autoridades de saúde decretaram mais uma zona vermelha referente ao edifício The Residencia Macau (Torre 3), na Avenida da Ponte da Amizade no norte da península de Macau. A área foi delimitada devido à descoberta de um caso positivo que envolve uma residente de 25 anos de idade. Segundo o centro de coordenação de contingência, a infectada tomou refeições no restaurante VISTA38 do Grande Suítes do Four Seasons, nos dias 12 e 13 de Novembro”. Porém, como “não estava sob controlo” o seu “nome não consta da lista fornecida pelo hotel sobre pessoas” que comeram no restaurante onde trabalha uma jovem que havia acusado positivo na semana passada.

As autoridades indicaram ainda que nos dias 16 e 17 de Novembro a residente só saiu de casa para fazer testes de ácido nucleico na noite de 16. Como é habitual, a residente em questão foi enviada para o Centro Clínico de Saúde Pública do Alto de Coloane.

Teste à porta

Passou a ser obrigatório para utentes e visitantes apresentar resultado negativo do teste rápido do antigénio realizado no próprio dia à entrada do “Centro Hospitalar Conde de São Januário e Centros de Saúde subordinados aos Serviços de Saúde”. O Hospital Kiang Wu aplicou a mesma medida. Caso não apresente o carregamento de resultado de teste rápido no código de saúde, a testagem pode ser feita no local.

O Instituto de Acção Social (IAS) implementou a mesma medida para a entrada de visitantes, trabalhadores e outras pessoas em lares de idosos e de reabilitação. A obrigação foi justificada “tendo em conta a evolução epidémica em Macau” e com a necessidade de “reforçar a protecção de saúde e segurança das pessoas idosas e deficientes em lares”.

Os utentes que tenham estado fora de lares e regressado no mesmo dia, são obrigados a submeter-se a testes rápidos de antigénio por cinco dias consecutivos. Já os utentes que estiveram fora das instalações por mais de um dia são obrigados a mostrar teste de ácido nucleico realizado no prazo de 24 horas e submeter-se a testes rápidos de antigénio por cinco dias seguidos.

Zhuhai | 13 casos no sábado e testes mais baratos

O Departamento de Saúde de Zhuhai anunciou ontem ter detectado no sábado 13 casos positivos de covid-19, 11 destes assintomáticos. De acordo com as autoridades da cidade vizinha, a maioria dos infectados são moradores dos distritos de Doumen e Gaoxin e os seus percursos nos últimos quatro dias incluíram o piso -1 do Posto Fronteiriço de Qingmao. Entretanto, os preços de teste de ácido nucleico baixaram em Zhuhai. Um teste singular, num único tubo e de recolha de amostra, passou a custar 13,5 renminbis, enquanto um teste num tubo de ensaio que recebe várias amostras passou para 2,8 renmenbis.

Justiça | Testes rápidos para entrar nos tribunais

Entre hoje e sábado, para entrar nas instalações dos tribunais das três instâncias é preciso um teste rápido de antigénio e carregar o resultado no código de saúde. A medida anunciada ontem pelo gabinete do Presidente do Tribunal de Última Instância foi justificada pelos sucessivos novos casos positivos detectados em Macau nos últimos dias e para “assegurar o normal funcionamento dos tribunais das várias instâncias e a realização ordenada das audiências de julgamento”. Quem não apresentar resultado de teste pode fazê-lo à entrada dos tribunais. Além disso, é obrigatório fazer código de local, medir temperatura corporal e usar máscara.

IC | Pontos turísticos encerrados para desinfecção

Tendo em conta as visitas feitas pela turista que testou positivo à covid-19, o Instituto Cultural (IC) encerrou ontem a Casa do Mandarim, o Teatro Dom Pedro V e o Tesouro de Arte Sacra do Seminário de S. José. As instalações foram sujeitas a limpeza e desinfecção. O mesmo ocorreu no sábado, quando o IC encerrou pelos mesmos motivos o Museu de Macau e a Biblioteca Sir Robert Ho Tung, que reabriram ontem ao público.

Massa pode esperar

A secretária para os Assuntos Sociais e Cultura afastou ontem possibilidade de ser realizada mais uma ronda de testes a toda a população de Macau. Em declarações prestadas à margem do Grande Prémio de Macau, Elsie Ao Ieong U, afastou a hipótese a não ser que o número de infecções suba, principalmente em resultado dos testes feitos em zonas-chave por onde passou a turista infectada. Para já, as cadeias de transmissão seguidas pelas autoridades são claras, sem casos ocultos, apesar da importação recente de alguns casos. Para já, a governante entende que o risco de surto comunitário é relativamente baixo. “Espero que a população persista na sua colaboração com as autoridades mais uns dias, para alcançar o resultado desejado pela política dinâmica de zero casos”, indicou.

95 mil testes negativos

No sábado foram testadas 95.447 pessoas em zonas-chave coincidentes com o itinerário da turista infectada por covid-19. As autoridades de saúde anunciaram ontem que todos os testes realizados deram negativo, no primeiro de quatro testes que todas estas pessoas têm de fazer até à quarta-feira. Depois de ter sido anunciada a necessidade de fazer testes, longas filas formaram-se nos postos de recolha de amostras. As autoridades indicaram ontem que é necessário marcar o teste e esperar no local para evitar ajuntamentos.

IAM | Destruídos 126 quilos de peixe congelado vindo do Vietname

O Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) destruiu 126 quilogramas de peixe congelado importado, depois de encontrar vestígios do novo coronavírus responsável pela covid-19 no interior de uma embalagem, foi anunciado na sexta-feira.

A testagem do peixe foi realizada na noite de quinta-feira, durante uma inspecção regular de importação de alimentos, que não detectou o SARS-CoV-2 nos invólucros de plástico exteriores e interiores, acrescentou o IAM.

O IAM “lançou imediatamente um plano de emergência, selando e destruindo todas as 20 caixas” de peixe congelado, que “não chegaram ao mercado”, de acordo com um comunicado.

O instituto desinfectou “de forma minuciosa” o local onde o peixe estava armazenado e suspendeu temporariamente a licença de importação da empresa envolvida.

Todos os trabalhadores do sector alimentar da cadeia de frio que tiveram contacto com as caixas de peixe serão acompanhados pelos Serviços de Saúde (SSM), acrescentou.

Em Agosto, o director dos SSM, Alvis Lo Iek Long, tinha dito que o pior surto de covid-19 a atingir Macau desde o início da pandemia foi causado por “objectos ou produtos vindos do estrangeiro”.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) sublinhou “não existirem provas até ao momento de vírus que causam doenças respiratórias serem transmitidos através de comida ou embalagens de comida”. “Os coronavírus não conseguem multiplicar-se em comida; precisam de um hospedeiro animal ou humano para se multiplicar”, referiu a OMS, na página online.

21 Nov 2022

Rota Marítima da Seda | Maria José de Freitas fala do potencial da candidatura

Maria José de Freitas defende que Macau não se deve envergonhar do seu passado como entreposto comercial entre a China e o Ocidente nem dos laços com a rota comercial criada pelos portugueses que lhe deu o estatuto de cidade portuária. A arquitecta apela à divulgação, por parte do Governo, dos relatórios sobre a análise do impacto no património, que, diz, deveriam ser públicos

 

Maria José de Freitas entende que Macau não se deve envergonhar do seu passado como cidade portuária e um importante elo de ligação na relação comercial marítima que uniu a China e Portugal a partir do século XVI. Em declarações ao HM, a propósito da proposta de candidatura da Rota Marítima da Seda a património mundial da UNESCO, a arquitecta e estudiosa do património de Macau entende que há um lado da moeda afastado do discurso oficial.

“Macau não tem de ter vergonha do seu passado ou da sua origem, porque é diferente enquanto cidade que integra a Grande Baía precisamente pela sua história, que tem também um valor universal reconhecido pela UNESCO.”

Os critérios de classificação da UNESCO prendem-se, precisamente, com o facto de Macau ser “uma cidade portuária” e que apontam para a “miscigenação” do território.

Maria José de Freitas entende que há uma ocultação desse passado e que este “não é valorizado como deveria”. “Muitas vezes, até na informação divulgada pelo Instituto Cultural (IC), fala-se do encontro cultural que existe na cidade, mas não se mencionam esses critérios, muito vinculados ao facto de Macau ter sido uma cidade portuária. Isso não surgiu do nada, mas sim da relação com o Ocidente.”

Não se integra, portanto, “na divulgação do património de Macau todos os valores e situações, como é o caso dos portugueses e do comércio marítimo até chegar a Macau, no contexto de rede comercial vinda de África, Índia, Colombo e até chegar ao Japão, ou relacionado com as próprias missões ligadas à religião católica.”

“É como se só ouvíssemos um lado, mas o outro lado existe e tem vestígios. Temos, por exemplo, as Chapas Sínicas, que são reveladoras de um contexto que deve ser valorizado e integrado nesta Rota”, acrescentou.

Todo o sentido

Maria José de Freitas foi uma das oradoras do Fórum Cultural Internacional sobre a Rota Marítima da Seda que terminou ontem, com o painel “A Rota Marítima da Seda – O papel de Macau nas rotas passadas e futuras”. Durante dois dias, este fórum abordou a candidatura da Rota Marítima da Seda a património mundial da UNESCO, um projecto preparado por 28 países. Na visão da arquitecta, “faz todo o sentido que nesta candidatura Macau esteja incluído. Há perspectivas que se abrem para o futuro no âmbito da Grande Baía e também do projecto ‘uma faixa, uma rota’”.

Isto porque “os portugueses, antes de chegarem a Macau, estiveram noutras ilhas da Ásia e estabeleceram uma rede comercial e de troca de produtos, pelo que a localização de Macau era, assim, muito favorável”. “No retorno à China o facto de Macau se tornar parte desta Grande Baía é também um retorno às origens”, adiantou Maria José de Freitas.
Falamos de um período próspero, que vai do século XVI ao século XVII, quando Macau tem uma grande importância como cidade portuária, sendo um elo de ligação fundamental no comércio entre a China, Portugal e o resto do mundo.

“Macau era um parceiro fiável para a China naquela época e podia assegurar um percurso fluvial até Cantão, a fim de escoar os produtos chineses. No percurso para o Japão traziam as especiarias que vinham da Índia. Havia benefícios que os chineses aproveitaram e Macau estabeleceu-se então como um entreposto comercial muito forte que durou até ao século XVII. Só perde importância a partir do momento em que surgem as grandes companhias, holandesa, francesa e espanhola. O reflexo no urbanismo e na arquitectura é evidente, ainda hoje”, disse a arquitecta.

Onde estão os relatórios?

Questionada sobre a criação do Centro de Monitorização do Património Mundial de Macau, Maria José de Freitas entende ser um passo importante. “Quando trabalho com a UNESCO é habitual fazer-se o relatório periódico da avaliação dos bens, porque estão sujeitos a inúmeras pressões, de toda a espécie. No caso de Macau relacionam-se com a envolvente e que pode afectar os valores universais. Há ainda que garantir as condições de estabilidade e segurança dos próprios edifícios, perceber se são antigos, se podem ter problemas estruturais. Há também outras situações que podem ocorrer devido às alterações climáticas extremas, como os tufões e a poluição.”

Outro dos factores que pode afectar os monumentos, é o elevado número de turistas, actualmente em quebra devido à pandemia. “Podem aparecer de novo as multidões de turistas e já sentíamos em Macau que essa situação deveria ser monitorizada, portanto, há uma série de parâmetros que essa monitorização deve assegurar. Faz sentido que exista um organismo que faça tudo isso. O património só tem a ganhar.”

A arquitecta deixa ainda um alerta para que o IC divulgue os relatórios do “Heritage Impact Assessment” [Avaliação do Impacto no Património], que servem para “aferir qual a situação dos bens patrimoniais”.

“No caso de Macau não tenho visto isso feito, apesar de ser uma recomendação da UNESCO. Não há notícias públicas sobre esses relatórios. Em vários casos fazem todo o sentido, como o Farol da Guia ou a zona da Igreja da Penha. Os relatórios devem ser públicos e bilingues. O IC diz que essa análise foi realizada, mas ninguém conhece os conteúdos. O IC deverá ter esses documentos, mas a população, as associações de defesa do património e os académicos não têm. Estas coisas têm de ser transparentes e conhecidas”, rematou.

18 Nov 2022