Andreia Sofia Silva Eventos MancheteActivismo | Na China, a censura tira poder ao movimento #metoo Lijia Zhang trabalhou numa fábrica e aprendeu inglês sozinha até se tornar escritora. A autora do romance “Lotus”, que fala sobre a prostituição na China, disse ontem no Rota das Letras que a censura na internet faz com que o movimento #metoo não tenha ainda grande expressão no país. Zhang lamenta a fraca participação das mulheres na política [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] sua avó foi prostituta e foi sujeita à prática dos pés de lótus, a tradição chinesa de amarrar os pés para moldar a sua forma. A sua mãe passou a adolescência no período da Revolução Cultural e trabalhou numa fábrica estatal. Ela, Lijia Zhang, teve melhor sorte, num destino construído com as suas próprias mãos. Trabalhadora numa fábrica, como tantas outras mulheres, esforçou-se por aprender inglês e conseguiu lançar-se na carreira de escritora e é, hoje em dia, uma das autoras chinesas que mais colabora com os media internacionais. O seu romance de estreia, intitulado “Lotus”, fala da prostituição na China. Convidada do festival literário Rota das Letras, Lijia Zhang falou ontem sobre o papel da mulher chinesa na sociedade contemporânea, e não teve dúvidas em afirmar de que o movimento #metoo, surgido na internet após as acusações de assédio sexual em Hollywood, não tem mais expressão no continente porque a censura na internet não deixa. “Devido às restrições impostas pelo Governo não há um grande movimento #metoo na China. Algumas mulheres têm falado muito sobre isso, têm levantado a questão.” Além de muitos websites não estarem disponíveis na China, há também o facto do assédio sexual e igualdade entre sexos não estar, sequer, na agenda política. “O Governo não quer implementar este assunto, quer ter a sua própria agenda com assuntos onde se sente confortável. Há alguns anos, cinco mulheres tentaram protestar contra o assédio sexual em locais públicos, e foram presas pela polícia”, exemplificou a autora, que não esquece o facto das mulheres terem uma baixa presença na política, incluindo nos principais órgãos do Governo e do Partido Comunista Chinês (PCC). “Um dos problemas é a baixa participação das mulheres na política. Nas aldeias é possível votar, mas apenas dois a três por cento dos que ocupam cargos de topo são mulheres. Há ainda uma grande confusão em relação a esse assunto e pensa-se que as mulheres não devem ter um papel além da família, e que não têm visão. Na Assembleia Popular Nacional há uma baixa participação de mulheres, e no Politburo só existem as vozes dos homens. Infelizmente, na sociedade civil, esse tema também não tem estado na agenda”, apontou. Apesar disso, a escritora afirmou que têm surgido alguns movimentos sociais em torno desta questão. “Há muitas questões relacionadas com a igualdade de género na China, graças à reforma e à abertura, e também se nota um activismo relacionado com esta matéria. Em 2012, houve um protesto contra a violência doméstica, por exemplo. Os movimentos activistas vêm de baixo, são espontâneos.” Natalidade baixa No que diz respeito à igualdade entre sexos, a autora foi questionada sobre o impacto que a abolição da política do filho único poderá ter nas famílias, numa altura em que é cada vez mais difícil, para as mulheres na China, terem trabalho durante a gravidez. “Um dos problemas é que antes o Governo tinha essa responsabilidade [de controlo da natalidade], mas agora depende de cada empresa. As mulheres grávidas têm muito mais dificuldade em obter emprego, porque algumas empresas não querem assumir essa despesa da licença de maternidade no futuro. Essa é uma das razões pelas quais as mulheres agora não querem ter um segundo filho.” Além disso, há também um maior anseio pela independência. “Não só é mais caro ter filhos como há também o facto de as mulheres de classe média quererem viver para si mesmas, não querem ter uma vida de servidão como teve a minha avó. Já não encaram o casamento e os filhos como a única via.” Lijia Zhang recordou que as mulheres passaram a ter mais oportunidades nos anos 80, na época de abertura e reformas económicas levadas a cabo pelo presidente Deng Xiaoping. No período da Revolução Cultural havia uma espécie de igualdade entre sexos, à luz de doutrina maoísta. Foi neste período que a mãe de Lijia foi educada. “O PCC trouxe uma maior esperança ao país, e uma das primeiras medidas adoptadas neste período foi o fim da prática dos pés de lótus, o fim das concubinas e maior acesso das mulheres à educação e ao emprego. A minha mãe teve a sorte de obter um trabalho numa empresa estatal, onde desempenhava um trabalho essencialmente masculino. Mas havia uma espécie de igualdade entre sexos, que negava a diferença entre homens e mulheres. A mulher modelo deveria vestir-se como um homem, parecer um homem.” Avó inspiradora Não foi por acaso que Lijia Zhang decidiu começar a escrever sobre prostituição. Tudo começou quando, em 1998, soube pela mãe que a sua avó tinha sido vendida, aos 14 anos, para um prostíbulo. À semelhança de muitas outras meninas da sua idade, a avó de Lijia Zhang havia sido submetida à prática dos pés de lótus [em que os pés eram dobrados até terem um máximo de dez centímetros de comprimento, ficando deformados para sempre e com os ossos partidos]. Enquanto prostituta conheceu o marido, que a comprou. Em 1949, os comunistas instauram a República Popular da China (RPC) e a prostituição passa a ser proibida, algo que se mantém até aos dias de hoje. “Desde então que me tornei algo obsessiva com o tema da prostituição porque sempre imaginei como teria sido a vida da minha avó nesse período. Alguns meses depois de descobrir esse segredo viajei para Shenzen em trabalho e descobri um grupo de raparigas e percebi que vinham de zonas pobres na China e que muitas delas trabalhavam em fábricas. Foi uma importante janela para perceber as mudanças sociais, porque esse é uma das grandes problemáticas que a China enfrenta nos dias de hoje: a migração do campo para as grandes cidades e a crescente desigualdade entre homens e mulheres.” Lijia Zhang descobriu que muitas das prostitutas na China são-no porque são obrigadas ou porque precisam de dinheiro. “A minha avó foi vendida para ser prostituta, e hoje em dia muitas das mulheres são prostitutas por opção, mas muitas vezes são forçadas a fazê-lo, ou porque são trabalhadoras com baixos salários, ou porque são vítimas de violência doméstica.” O trabalho de Lijia Zhang confunde-se muitas vezes com o de Leslie Chang, autora do livro “Factory Girls: From Village to City in a Changing China”. Zhang foi, ela própria, uma dessas “factory girls”, e durante o processo de pesquisa para o seu livro percebeu que muitas delas acabam por recorrer à prostituição por não terem outra escolha. “Algumas das prostitutas também trabalham na linha de produção e têm vidas muito duras, com salários baixos. Então também trabalham em casas de massagens, onde ganham muito mais. Há uma tentação pelo dinheiro.” Na fase em que trabalhava na fábrica, e em que “odiava” a sua vida, Lijia Zhang conseguiu lutar em prol de uma existência melhor. “Comecei sozinha a aprender inglês, foi um processo bastante lento. Aprender outro idioma mudou a minha vida, porque de certa forma abriu-me os horizontes, e actualmente vivo da escrita.” “Um ponto interessante é que falar diferentes línguas trouxe ao de cima vários aspectos da minha personalidade. Quando estava na fábrica via a BBC de forma obsessiva, para tentar falar com sotaque e para fingir que era sofisticada (risos). Costuma dizer-se que quando aprendemos uma nova língua ficamos com uma nova alma, e acho que foi isso que aconteceu”, rematou.
Hoje Macau EventosHot Clube celebra 70 anos antes de semana com presença de Joe Lovano [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Hot Clube de Portugal, em Lisboa, assinala hoje os 70 anos desde a sua fundação com um concerto do seu septeto, no arranque de uma semana que vai contar com o saxofonista norte-americano Joe Lovano. O concerto de hoje vai ter lugar a partir das 22:30, com entrada livre, na sede do Hot Clube, na praça da Alegria, n.º 48. O mais antigo clube de jazz europeu em atividade foi fundado oficialmente a 19 de março de 1948, quando Luiz Villas-Boas, melómano e fundador do clube, preencheu a ficha de sócio número um. É uma reprodução dessa ficha, afixada na parede junto à bilheteira, que dá as boas vindas a quem entra no pequeno espaço da praça da Alegria, em Lisboa. A semana mais intensa de programação dos 70 anos do clube de jazz acontecerá de segunda-feira ao próximo domingo, com a presença do saxofonista Joe Lovano para um concerto em trio, uma ‘masterclass’ na Escola de Jazz do Hot e um concerto com a orquestra do clube, no Teatro Municipal São Luiz. Em janeiro, em entrevista à Lusa, a presidente do Hot Clube, Inês Homem Cunha, disse que os 70 anos da instituição vão ser comemorados ao longo de todo o ano de 2018. Entre os destaques da programação apontados pela dirigente estava a realização do Kids Can, um projeto europeu itinerante para crianças e jovens, apoiado pelo programa Europa Criativa, do qual o HCP faz parte, juntamente com as organizações JazzDanmark (Dinamarca) e JazzKaar (Estónia). “É uma grande vitória na vertente da escola para crianças e adolescentes. Espero que tenha uma adesão muito grande de pessoas que queiram saber como é que ensinamos jazz a crianças”, sublinhou Inês Homem Cunha. Em setenta anos de história, o Hot Clube de Portugal terá vivido o momento mais difícil em 2009, quando a cave onde funcionava há décadas, num edifício na praça de Alegria, ficou destruída num incêndio, sobrando hoje apenas a fachada do prédio. Dois anos depois, em 2011, o Hot Clube de Portugal retomou a atividade duas portas ao lado da cave antiga, num espaço mais moderno, mas, ainda assim, pequeno. E com a ficha de sócio de Luiz Villas-Boas a relembrar quando tudo começou, em 1948.
Hoje Macau EventosPresidente do CCB quer transformá-lo numa “cidade aberta” para o público [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] presidente do Centro Cultural de Belém, Elísio Summavielle, quer deixar uma marca de “cidade aberta” no funcionamento deste equipamento cultural, com uma programação “eclética e coerente” para os públicos que tem recebido, ao longo de 25 anos. Numa entrevista à agência Lusa, a propósito da efeméride, que se cumpre no dia 21 de março, com a celebração de um “Dia Aberto”, o responsável recordou que esse conceito de “cidade aberta” é inspirado no arquiteto Vittorio Gregotti, autor do projeto do CCB, em conjunto com Manuel Salgado. “Em 1992, Vittorio Gregotti falava nesse conceito de cidade aberta para o funcionamento do CCB. É nele que se inspira esta ideia de uma programação mais aberta, com a qualidade e diversidade que estamos a atingir cada vez mais”, avaliou Elísio Summavielle. Depois de terminada a Presidência Portuguesa da União Europeia, o CCB começou a apresentar uma programação cultural dirigida a vários públicos, com espetáculos que passaram pela música erudita, o jazz, o pop e o rock, a dança e o teatro, abriu uma Sala de Leitura, ciclos dedicados à literatura, acrescentando ainda as atividades pedagógicas para os mais novos na Fábrica das Artes. Para os próximos anos, o presidente do CCB quer projetos de maior ambição, com mais eventos de verão, ao ar livre, nos jardins, nomeadamente, já este ano, com festas e cinema, para celebrar, entre outros temas, os 50 anos dos acontecimentos de maio de 1968. “O próprio público fará esse julgamento, mas temos uma programação mais eclética. Criámos temporadas e ciclos sobre as artes, o pensamento”, recordou, acrescentando que o centro cultural também tem procurado criar projetos em parceria, como já aconteceu com o Teatro Nacional de São Carlos, na ópera. Ainda nas parcerias, o responsável considera importante reforçá-las também noutras áreas, como na música contemporânea: “Há qualidade na produção artística dos nossos jovens, e é papel do CCB estimular a criação nas artes performativas”. Uma das novidades introduzidas por Elísio Summavielle – que entre os seus antecessores teve Vasco Graça Moura – nomeado pelo ministro da Cultura João Soares, foi o cinema: “Tal como eu previa, está a ser um sucesso. Temos tido casa, senão cheia, quase, para ver grandes filmes, com um auditório de 1.500 lugares para pessoas que gostam de ver cinema à moda antiga”. Para o presidente do CCB, há, sem dúvida, “muito público grisalho”, de pessoas aposentadas, que têm tempo, e frequentam o centro cultural, procurando iniciativas na área da literatura e do pensamento, debates, ou círculos literários. “Mas também temos os mais jovens, as crianças, na programação da Fábrica das Artes, acompanhados muitas vezes pelos avós”, apontou, sobre o tipo de público que frequenta o equipamento cultural. O projeto foi muito contestado ainda antes de acolher, em 1992, a sede da Presidência Portuguesa do Conselho Europeu, mas, ao longo dos anos, foi conquistando o reconhecimento entre os espaços culturais de referência em Lisboa. Este grande complexo arquitetónico – uma das maiores obras públicas do Estado Português do século XX – suscitou polémica logo no final dos anos de 1980, com a escolha da sua localização, junto ao Mosteiro dos Jerónimos, monumento do século XVI classificado Património Mundial pela UNESCO, devido às linhas despojadas e monolíticas escolhidas para o edifício. Outra mudança polémica foi o fim do Centro de Exposições do CCB, que acabou por ser encerrado para acolher, em junho de 2007, o Museu Coleção Berardo, com as peças cedidas ao Estado pelo colecionador e empresário José Berardo, em regime de comodato, durante dez anos, entretanto renovados. Questionado sobre essa relação com o Museu Coleção Berardo – que renovou, em 2017, o acordo com o Estado para se manter instalado no CCB, e que começou no ano passado a cobrar bilhetes, anteriormente gratuitos – Elísio Summavielle indicou que o centro cultural não recebe nada dessa receita. “As receitas de bilheteira revertem para o Museu Coleção Berardo e a sua programação e recursos humanos. A manutenção do espaço, energia, segurança continuam a ser custos assegurados pela Fundação CCB”, disse. Nestes 25 anos, a programação de espetáculos levou, aos palcos do CCB, música, teatro, dança, artistas nacionais e estrangeiros de várias áreas, como a coreógrafa Pina Bausch, a meio-soprano Cecília Bartoli, os maestros Jordi Savall, Ton Koopman e Jos van Immerseel, os pianistas Maria João Pires, Keith Jarrett e Bernardo Sassetti, o compositor Philip Glass, a banda Sigur Rós, e outros músicos como Anner Bylsma, Jean-Guihen Queyras e Roel Dieltiens. Foi no CCB que se estrearam os portugueses The Gift e atuaram, entre outros, os Madredeus, os GNR, Sérgio Godinho, Luís Represas, Jorge Palma, Mariza, Camané, Fausto e Jorge Palma.
Hoje Macau EventosCCB festeja 25 anos com exposições, música e uma nova peça de teatro [dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma exposição dedicada à história do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, uma nova instalação de cortiça, concertos e a estreia de uma peça de teatro pela Mala Voadora, integram as comemorações dos 25 anos deste equipamento cultural. A programação das celebrações do Centro Cultural de Belém (CCB) começa no dia 21 de março, data oficial da inauguração, com um Dia Aberto, mas prolonga-se até ao fim do ano, com várias iniciativas, indicou a entidade à agência Lusa. “CCB 25 Anos”, que vai ficar aberta ao público até 27 de maio, é uma exposição que “convida a conhecer e relembrar os momentos da génese e formação” do CCB, partindo de um primeiro momento inaugural, “como lugar de representação do Estado, para afirmar-se como espaço cultural da cidade”. O CCB foi inaugurado a 21 de março de 1993, depois de ter acolhido, um ano antes, a Presidência Portuguesa da União Europeia. Ainda dentro das celebrações, a 10 de julho, pelas 19:00, está prevista a inauguração, na Garagem Sul, da exposição “Building Stories”, com Ricardo Bak Gordon, o ateliê belga Architecten De Vylder Vinck Taillieu e os MAIO Arquitetos. A partir da mesma hora será inaugurada, na praça CCB, a instalação em cortiça “Uma Praça no Verão”, com autoria de Promontório Arquitetos, e decorrerá, entre as 21:00 e as 01:00, a Festa na Praça CCB. A 28 de outubro, às 17:00, no pequeno auditório, decorrerá a MozartFest, com o DSCH – Schostakovich Ensemble, com Filipe Pinto-Ribeiro, piano e direção artística, Jack Liebeck, no violino, Cerys Jones, na viola, e Kyril Zlotnikov, no violoncelo. Para 05 de dezembro, às 21:00, haverá a estreia da peça “Fausto”, uma encomenda à Mala Voadora, que será apresentada no Grande Auditório do CCB. O projeto do CCB foi decidido em 1988 e entregue por concurso ao consórcio de arquitetos Vittorio Gregotti e Manuel Salgado. Concluído em 1992, para acolher a primeira presidência portuguesa da então Comunidade Económica Europeia, abriu ao público em 21 de março de 1993, há 25 anos. Fazem parte da memória do CCB exposições como “O Triunfo do Barroco”, que abriu o seu ciclo expositivo, mostras dedicadas à ‘Pop Art’, a fotógrafos da Magnum, à “Arte alemã do Pós-Guerra”, ao design ou a artistas tão diferentes entre si como Paula Rego, Goya e Frida Khalo, Gilbert & George, Rui Chafes e Alberto Carneiro, Pedro Calapez e Pedro Cabrita Reis, que passaram pelo centro de exposições, onde, em 2007, viria a abrir o Museu Coleção Berardo. Entra igualmente nesse percurso do CCB, a retoma de uma área expositiva em 2014, com a abertura da Garagem Sul à arquitetura, que já acolheu criadores como Sou Fujimoto, Carrilho da Graça, Victor Palla e Bento d’Almeida, Souto de Moura e Álvaro Siza Vieira, entre muitos outros. A programação do CCB também conjugou, ao longo destes anos, música, teatro, dança, artistas nacionais e estrangeiros de várias áreas, como a coreógrafa Pina Bausch, a meio-soprano Cecília Bartoli, a pianista Maria João Pires, os maestros Ton Koopman e Jos van Immerseel, os pianistas Keith Jarrett e Bernardo Sassetti, ou os músicos Anner Bylsma, Jean-Guihen Queyras, Roel Dieltiens. Os programas educativos, a Fábrica das Artes, o programa “Literatura e Pensamento”, e os Dias Literários são outras iniciativas tidas em conta nos 25 anos do CCB, que serão recordadas na exposição sobre o centro cultural. A programação do próximo dia 21 – o “Dia Aberto” de celebração da “Cidade Aberta” – inclui ainda uma feira do livro, com edições próprias, oficinas de música para os mais novos, que vão culminar num miniconcerto, e uma associação com a RTP, o primeiro parceiro do CCB, que vai envolver os diferentes canais de rádio e TV, e a consulta dos Arquivos RTP sobre o CCB, na Sala de Leitura. O 25.º aniversário da abertura do CCB vai contar ainda com a apresentação das propostas finalistas de uma possível extensão dos edifícios, desenvolvidas no âmbito do projeto “Relâmpago NucleAR”, que mobiliza 140 estudantes do Instituto Superior Técnico, através do mestrado integrado e do núcleo de arquitetura (NucleAR). A programação completa do Dia Aberto está disponível em www.ccb.pt.
Hoje Macau EventosExposição |Eduardo Gageiro mostra fotografias icónicas da revolução de Abril [dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma exposição de 40 fotografias icónicas da revolução de 25 de Abril de 1974 tiradas por Eduardo Gageiro, “um dos maiores fotógrafos portugueses”, vai estar patente ao público, a partir de hoje, em Aljustrel, no distrito de Beja. A mostra pode ser visitada até ao dia 25 de Abril nas Oficinas de Formação e Animação Cultural da vila alentejana. A exposição reúne “momentos excepcionais”, capturados entre 25 de Abril, o dia da Revolução dos Cravos, e 01 de Maio de 1974, que “iriam determinar o destino” de Portugal. Das fotografias da exposição, o município destaca uma do capitão Salgueiro Maia a morder o lábio para não chorar de emoção depois de militares do Regimento de Cavalaria 7 se juntarem ao Movimento das Forças Armadas no Terreiro do Paço e a de um soldado a retirar a fotografia de António de Oliveira Salazar de uma parede da sede da Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) em Lisboa. Eduardo Gageiro, que nasceu em 1935 em Sacavém, no concelho de Loures, distrito de Lisboa, começou a trabalhar aos 12 anos numa fábrica de loiças na cidade natal, onde “o contacto com pintores, escultores e operários fabris viria a definir o seu olhar sobre o mundo e a vida”. Foi nessa altura que publicou a sua primeira fotografia e, a partir daí, a paixão pela fotografia levou-o a tornar-se repórter fotográfico no Diário Ilustrado e a colaborar, mais tarde, com várias publicações. Autodidacta, Eduardo Gageiro limitava-se “a fotografar o que sentia: olhares, rostos, a miséria do povo, com grande carga emocional, rompendo com o socialmente instituído” e, por isso, “teve problemas com a PIDE” e até foi preso por causa de uma fotografia que tirou na Nazaré. “Mas isso não demoveu” Eduardo Gageiro, que enviou, à socapa, fotografias do Portugal profundo para o estrangeiro, que só conhecia o país dos postais turísticos e, “graças a ele, o mundo teve conhecimento do Portugal real”. Membro de honra de inúmeras entidades estrangeiras de fotografia, Eduardo Gageiro foi editor da revista Sábado e trabalhou para várias entidades, como a agência de notícias Associated Press, a Companhia Nacional de Bailado e a Assembleia da República. Eduardo Gageiro tem participado em dezenas de exposições individuais e colectivas e as suas fotografias, sempre a preto e branco, estão representadas em inúmeras publicações e reproduzidas em todo o mundo e já lhe renderam mais de 300 prémios.
Diana do Mar EventosRota das Letras| Rui Paiva lança livro e inaugura exposição no Sábado [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Livraria Portuguesa vai ser palco no sábado, pelas 14h30, do lançamento do livro “Nuvem Branca” e da exposição “Paisagens Literárias de Um Viajante”, da autoria de Rui Paiva que regressa a Macau para o Rota das Letras. “Nuvem Branca”, recentemente editada pelo próprio autor, é “um livro de artista e, em simultâneo, um livro de vida”. “Achei que era interessante pela primeira vez e, de uma forma natural, contar a minha vida enquanto artista. É profusamente ilustrado com as minhas obras de arte desde início e vai mesmo aos primeiros desenhos que fui guardando da minha juventude”, começa por explicar Rui Paiva ao HM. A obra percorre as “diferentes fases” do percurso artístico que Rui Paiva foi trilhando, desde como começou a pintar, incluindo uma cronologia que “mostra todas as exposições individuais para que se perceba que há uma consistência relativamente à carreira”. Esse fio condutor foi preparado pelo filho que cresceu entre as telas do pai, o “Rui da Economia”, como lhe chamava o Monsenhor Manuel Teixeira. Afinal, foi nos Serviços de Economia que Rui Paiva iniciou, em 1979, a sua vida profissional em Macau, antes de enveredar pelo mundo da banca que o levou também a Hong Kong e, posteriormente, de regresso a Portugal. Foi sensivelmente há três décadas que começou a participar de forma mais activa em exposições individuais e colectivas em latitudes tão distintas como Vietname, Malásia, Coreia do Sul ou Japão, além de Macau, Hong Kong e Portugal. Rui Paiva fala com entusiasmo das exposições, elencando uma e outra, com datas, e até convidados, até fechar o ângulo para pormenores de pinturas ou desenhos. Uma das mais significativas foi precisamente em Macau porque a viu como uma causa. “Sépias e Sanguíneas do Deserto” era o título da mostra de 1991 – também na Livraria Portuguesa – que, apesar de inaugurada em dia de tufão, acabou por ser “um sucesso”. O tema: a guerra do Golfo. “Tratei-a como uma guerra espectáculo porque era como a víamos através da CNN quando chegávamos a casa. As pessoas viam os mísseis e iam dormir tranquilas. Essa indiferença e passividade em geral relativamente a uma guerra fundamental em termos geopolíticos e económicos deixava-me de algum modo preocupado”. Os trabalhos, retratados no livro, eram principalmente desenhos, “quase como uma insinuação de banda desenhada”, mas também “havia colagens de papéis rasgados”, recorda. “Nuvem Branca” tem “outra particularidade”. “Embora haja uma cronologia tem também pequenas ilhas”, assinala o artista, dando o exemplo da “Série das Máscaras”: “Em 2009 começou a dizer-se que ia ser o ano da crise em Portugal – infelizmente durou quase uma década. Quando se começou a falar achei que metaforicamente devia conceber um ano com 16 meses porque achava que ia ter mais de 12, pelo que criei uma máscara para cada um desses meses de 2009”. Já a faceta do livro de vida surge a partir do entendimento de que “as obras de arte não devem surgir do nada”, pelo que cobre a sua vida profissional e dá a conhecer “os bastidores” do artista para que o autor e a sua obra possam ser compreendidos. “Mais importante do que ter sucesso é o artista ter uma identidade”, sublinha Rui Paiva. Um peculiar início de carreira O início da carreira artística foi fora de comum. Tudo começou depois de ter mostrado desenhos a um homem que não sabia exactamente quem era. Deixou-o ver, tirar fotocópias, mas nunca mais soube dele, até que, passado um mês, enquanto passava pelo Leal Senado viu um desenho seu, o primeiro de quatro, plasmado no jornal, acompanhado por “uma crítica altamente positiva”, descobrindo que o apreciador era, afinal, um crítico de arte que escrevia para o Va Kio. Deixou o território em 1982 – pela primeira vez. Regressado a Portugal decidiu ir burilar as habilidades, frequentando a Sociedade Nacional de Belas Artes durante dois anos. Em 1988 estava de volta a Macau, onde efectivamente começa a expor. “Macau foi sempre importante”, realça Rui Paiva, sem esquecer as pedras que surgiram pelo caminho. “Foi um a luta muito grande para entrar no meio artístico de Macau, porque havia barreiras enormes e muitos preconceitos. Eu era um director de banco e, se calhar, por disso, achavam que não podia ser artista”, observa. Na obra, Rui Paiva também faz uma incursão pela terra natal: Moçambique. Nomeadamente pelos tempos em que, depois de tirar um curso de cinema, andou pelos subúrbios de Lourenço Marques (actual Maputo) a filmar com um grupo de companheiros que lhe ofereceram as pequenas bobinas quando foi para Portugal. Essas imagens, mostrando o fenómeno das mulheres apanhadoras de amêijoas ou as aulas de alfabetização com ‘mamanas’, trouxe-as consigo na expectativa de as poder exibir durante a exposição a inaugurar no Sábado, a par com o lançamento de “Nuvem Branca”. Intitulada “Paisagens Literárias de Um Viajante”, a mostra reúne mais de 30 obras, da pintura, ao desenho, passando pela instalação, incluindo, entre outros, um conjunto inédito, em papel de arroz sobre tela, “mais espiritual”.
Andreia Sofia Silva EventosPhoto Macau Fair | A primeira vez de Marina Abramovic [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] primeira edição da Photo Macau Fair, idealizada pela artista Cecília Ho, promete trazer não apenas os melhores trabalhos de fotografia artística mas também revelar a obra de artistas internacionais que nunca viram o seu trabalho exposto no território. Um dos nomes mais sonantes da Photo Macau Fair, que acontece no Venetian entre os dias 24 e 26 de Março, é o de Marina Abramovic, uma artista conhecida pelas suas polémicas performances que esteve recentemente em Hong Kong. A colecção de vídeos de Mike Steiner, um dos percursores do movimento minimalista na Europa, nos anos 60, realizados em conjunto com Marina Abramovic, fazem parte do programa da exposição, que foi apresentado esta terça-feira. De acordo com um comunicado, tratam-se de “vídeos raros e icónicos” feitos na década de 70 que pouca ou nenhuma exposição pública tiveram. Na área da fotografia, a Photo Macau Fair vai destacar o trabalho de um dos primeiros fotógrafos de moda, Horst P. Horst, alemão que durante décadas trabalhou para a revista Vogue e que faleceu em 1999. Na exposição serão reveladas mais de 60 fotografias que mostram a diversidade do mundo da moda e das modelos da época, sem esquecer várias figuras do meio e da alta sociedade, como a estilista Coco Chanel. Ao longo da sua vida, Horst P. Horst fotografou nomes como Andy Warhol, Yves Saint Laurent, Salvador Dali ou Jacqueline Kennedy Onassis. A cultura chinesa terá também destaque com a instalação de video intitulada “Corpo de Confúcio (Instalação 4), de Jeffrey Shaw, Peng Lin, Chang Tsong-Zung, Sarah Kenderdine. “Este projecto usa a última tecnologia digital para reeditar a ‘cerimónia de abertura, o ritual de etiqueta e o uso de vasos cerimoniais’ do Livro de Li (Etiqueta e Rituais) através de uma aplicação interactiva e três vídeos de de Paul Nichola, da Universidade Cidade de Hong Kong”. Este trabalho foi iniciado, pesquisado e produzido por Jia Li Hall da Universidade Tsinghua. Segundo a organização da Photo Macau Fair, este trabalho multimedia “reflecte as mudanças que afectaram a sociedade moderna chinesa bem como o papel da arte enquanto linguagem comum com vista à promoção da harmonia”. Durante a apresentação do programa oficial do evento, Cecília Ho revelou estar satisfeita por voltar à terra que a viu nascer e por conseguir trazer algo novo às suas comunidades. “Estou muito feliz depois de 35 anos de ter deixado Macau. Tive a oportunidade de voltar e quis fazer algo no lugar onde nasci. A única coisa que sei fazer é arte, porque sou artista. A ideia de fazer esta exposição é porque a Ásia e a zona da Grande Baia. A China é um existem os maiores compradores de arte, e o mundo da arte inclui fotografia, escultura”, apontou.
Hoje Macau EventosNova aventura do piloto Michel Vaillant é lançada em Novembro em Macau [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] autor Philippe Graton anunciou hoje que vai lançar, em novembro, uma nova aventura do piloto Michel Vaillant em Macau, 35 anos depois do álbum de banda desenhada “Rendez-vous à Macao”. “Em novembro passado, durante o Grande Prémio de Macau, estivemos aqui a reunir documentação para a história. Ficção e realidade vão tocar-se aqui, o que é muito interessante e inovador para os artistas e escritores”, afirmou o filho de Jean Graton, responsável pelo argumento juntamente com Denis Lapière. Os desenhos são de Benjamin Bénéteau. “Estou muito contente por ver que o Michel Valliant continua a despertar interesse, mais de 60 anos depois”, sublinhou sobre a personagem e série criada em 1957 por Jean Graton. O autor explicou que há cinco anos recomeçou a série iniciada pelo país, com uma nova imagem e histórias. “Chamo-lhe uma nova temporada de Michel Vaillant e o sétimo episódio vai ser em Macau”, disse. Sem querer desvendar o enredo, Philippe Graton afirmou que a história vai passar-se no circuito e também na cidade de Macau, recorrendo à arquitetura e gastronomia, bem como às pequenas ruas mais escondidas, “que não são cartões de visita [da cidade], mas onde nem se sabe se são em Macau ou em Portugal”. “O projeto começou a ser desenvolvido no ano passado, quando vim participar no festival literário de Macau e o [diretor] Ricardo Pinto sugeriu a ideia”, disse. O álbum vai ser publicado em francês, inglês e português. “Depois do mercado francófono, o mercado mais entusiástico é Portugal”, explicou. “Estamos a tentar encontrar um parceiro para a China”, para a tradução em chinês simplificado e tradicional, acrescentou Philippe Graton, considerando ser esta uma “oportunidade única” para entrar no mercado chinês. Ao mesmo tempo, vai ser lançado um documentário sobre o “making off” deste álbum, realizado por Susana Gomes. “Espero que seja tudo lançado ao mesmo tempo”, disse Ricardo Pinto.
Andreia Sofia Silva EventosFotografia | Website 1884.com transformado em galeria [dropcap style≠’circle’]”P[/dropcap]assado é o Futuro” (Past is Future)” é o nome da exposição que marca o arranque da Galeria 1884, que até agora funcionava apenas como um website de fotografias. Ben Ieong Man Pan, director artístico, aposta tudo na primeira galeria exclusivamente dedicada à fotografia no território. São imagens de momentos que estão na memória de muitos mas que os mais jovens já não conhecem. Do tempo em que os riquexós serviam de transporte de moradores e não apenas de turistas, do tempo em que nas Portas do Cerco não havia multidões e em que as zonas antigas do território estavam cheias de bicicletas no fervilhar da cidade. Há muito que as fotografias disponíveis para venda no website 1884.com mostravam uma outra Macau, mas agora podem ser observadas de perto na primeira galeria exclusivamente dedicada ao mundo da fotografia em Macau. Hoje é inaugurada a Galeria 1884, com a exposição “Passado é Futuro (Past is Future)”, uma ideia de Ben Ieong Man Pan, director artístico, Yoyo Wong, coordenadora de curadorias de exposições e Kim Chan, director de operações. Ao HM, Yoyo Wong falou dos objectivos primordiais deste projecto diferente, que visa fazer com o que o passado perdure no tempo. “Tudo começou quando o Ben [Ieong Man Pan] teve a ideia de reunir fotografias antigas de Macau. Ele começou por colaborar com o website 1884.com e também tem vindo a fazer o trabalho administrativo com o seu colega Kim Chan. Foram eles que desenvolveram o website e já tinham reunido mais de 500 registos fotográficos de Macau e também de outros lugares, de mais de 30 fotógrafos que fazem parte das primeiras gerações de profissionais.” O ano de 1884 dá nome aos dois projectos por ter sido a data em que a fotografia chegou ao Oriente, tendo Macau como porta de entrada. A escolha acabou por ser consensual e óbvia. “Este foi o primeiro lugar a receber a fotografia vinda do Ocidente para o Oriente, então este é um marco histórico muito importante para Macau. Foi uma porta e explica como a fotografia se espalhou no Oriente através do território. Queremos enfatizar este ponto e trazer a história, é muito significativo e tem um grande simbolismo para nós, e também para os fotógrafos. Foi por isso que decidimos atribuir esta data ao nome do website e da galeria.” Segundo explicou Yoyo Wong, o extenso trabalho de recolha teve como objectivo mostrar imagens que continuavam guardadas em gavetas. “Queremos que este espaço físico promova estes recursos e as fotografias que restaram das primeiras gerações de fotógrafos. A maior parte deles mantém colecções incríveis de imagens que nunca foram mostradas ao público. Então tivemos a ideia de promover o seu trabalho num espaço online e físico também.” Aposta documental A exposição “Past is Future” vai começar por ser uma mostra generalizada do trabalho de cada um dos fotógrafos que se uniu a este projecto online, mas a ideia é fazer depois exposições mais focadas no trabalho que cada um deles desenvolveu ou tem vindo a desenvolver. “Esta exposição vai dar uma visão geral da sua obra. Alguns dos autores que temos no website nunca mostraram o seu trabalho ao público, e nos próximos meses vamos apostar nesse ponto”, adiantou Yoyo Wong. Ben Ieong Man Pan explicou ao HM que o objectivo não passa por mostrar apenas fotografias de época. “Queremos ser uma plataforma para mostrar o trabalho destes fotógrafos. Além disso, a galeria não visa apenas mostrar imagens contemporâneas, mas também fotografia documental.” Além disso, o território não será o único foco neste projecto. “Temos algumas colaborações com galerias na Ásia, então vamos mostrar fotografias de Macau e da Ásia também. Esta é a primeira galeria de fotografia em Macau mas não queremos que o nosso público seja apenas composto pelos locais, mas também por pessoas de fora”, frisou o director artístico da Galeria 1884.
Hoje Macau EventosMuseu de L’Orangerie de Paris vai expor “Contos cruéis de Paula Rego” [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Musée de L’Orangerie, em Paris, vai expor “Contos cruéis de Paula Rego”, de 17 de outubro a 14 de janeiro, para mostrar uma obra que “não é suficientemente conhecida” em França, de acordo com a diretora do museu. A mostra vai reunir cerca de 70 pinturas, desenhos e até bonecos que a pintora usa no seu atelier, em Londres, num percurso temático e cronológico que insiste no período “entre finais dos anos 90 até hoje”, explicou à Lusa a diretora do Musée de L’Orangerie e comissária da exposição, Cécile Debray. “Aqui, ela é muito menos conhecida que em Londres ou em Portugal. Foi mostrada em Paris numa exposição da Fundação Gulbenkian [2012], mas creio que não é suficientemente conhecida. Penso que tem uma pintura bastante apelativa que deverá agradar”, disse à Lusa a comissária. Cécile Debray escolheu como título da mostra “Les contes cruels de Paula Rego” (“Os contos cruéis de Paula Rego”), em alusão à obra literária de um simbolista francês do final do século XIX, Auguste de Villiers de L’Isle-Adam, e ao universo formal e temático da pintora, que é “bastante ilustrativo e muito ligado à literatura e a uma forma de cultura do século XIX”. “É o universo da infância que é, por um lado, encantador e fantástico e, por outro, tem uma forma de crueldade que é também da infância. Paula Rego tem este lado ingénuo e um olhar muito mordaz e cruel. É este o realismo de Paula Rego, um jogo entre o olhar muito franco e sem concessões e, ao mesmo tempo, uma forma de poesia fantástica”, descreveu a comissária da exposição. Cécile Debray conheceu Paula Rego quando comissariou uma exposição de Lucian Freud no Centro Pompidou, em Paris, em 2010, e quis agora dar-lhe o destaque num museu que quer “programar artistas vivos, nomeadamente os que trabalham a figuração, porque são figuras singulares”. A comissária concebeu a mostra “como um percurso pela obra de Paula Rego, sem ser uma retrospetiva”, e “como o Musée de l’Orangerie está ligado ao Museu d’Orsay, a ideia foi fazer uma exposição sobre a sua obra com ecos de obras que ela viu”. Na mostra, vai haver telas de grande formato a representar as suas “mulheres-crianças-animais”, obras gráficas em diálogo com desenhos e gravuras de Daumier, Goya, Degas, Rabier, e obras em pastel, apresentadas com os bonecos que lhe servem de modelo. “Como a exposição se chama ‘Os contos cruéis de Paula Rego’, escolhi como ângulo a infância. Portanto, avançamos na obra de Paula Rego com alguns contrapontos, como gravuras de Daumier, Goya, Rabier, Manet, ilustrações dos ‘Contos de Grimm’, por [David] Hockney, uma escultura de Ron Mueck e pastéis de Degas”, precisou, destacando que “o lugar de honra é para a obra de Paula Rego”, ainda que haja alguns “diálogos” com trabalhos de outros artistas. A diretora do Musée de l’Orangerie acrescentou que Paula Rego é “uma artista que tem um universo muito particular, político, com uma ligação à literatura e com uma forma de realismo muito rude e muito poderosa”, cultivando uma “força e a independência em relação às modas”, e mantendo um lado contemporâneo com a criação dos seus modelos a partir de bonecos. “Este universo de bonecas, de acessórios, de pequenos cenários quase teatrais é um aspeto extremamente contemporâneo e pouco conhecido. É um laço quase demiúrgico em que ela cria as suas criaturas para depois as representar. Ela mistura o vivo com o artifício e isso é muito interessante”, afirmou. Cécile Debray declarou, também, que vai ser editado um catálogo da exposição com historiadores de arte, franceses, porque quis “dar uma cor mais francesa à abordagem”. A exposição deverá, ainda, ser acompanhada por um ciclo de conferências relacionado com a obra da artista portuguesa, uma jornada de estudo sobre a pintura figurativa, “talvez uma programação de dança e música”, e “algo sobre o cinema português, porque ela tem pontos comuns com alguns realizadores portugueses, como Manoel de Oliveira”. Em 2012, a delegação francesa da Fundação Calouste Gulbenkian, em Paris, apresentou a primeira exposição “representativa” da obra da pintora Paula Rego, em França, com trabalhos desenvolvidos entre 1988 e 2009, de “A família” à “Mulher cão”. Desde 28 de fevereiro e até 27 de agosto, cinco obras de Paula Rego figuram na exposição coletiva “All Too Human – Bacon, Freud and a Century of Painting Life”, no museu Tate Britain, em Londres. A exposição reúne cerca de cem obras de 22 pintores, entre os quais alguns dos mais célebres artistas britânicos modernos, com destaque para Lucian Freud e Francis Bacon, mas também Walter Sickert, Stanley Spencer, Michael Andrews, Frank Auerbach, Francis Newton Souza ou Leon Kossoff. Paula Rego vive e trabalha em Londres, para onde se mudou com 17 anos, para estudar na Slade School of Fine Art. Em 2004, foi condecorada com a Grã-Cruz da Ordem de Sant’Iago da Espada. Em 2010 foi distinguida pela rainha Isabel II com o grau de Oficial da Ordem do Império Britânico, pela sua contribuição para as artes.
Diana do Mar Eventos MancheteAna Margarida de Carvalho, escritora: “O que realmente me interessa é contar histórias” É de contar histórias que Ana Margarida de Carvalho gosta. Primeiro fê-lo como jornalista, ao longo de uma carreira de 25 anos, agora como escritora a tempo inteiro. Sem rotinas, pouco dada e até avessa à disciplina, prepara uma nova obra, após ter conquistado, com apenas dois romances um lugar na ficção portuguesa [dropcap]O[/dropcap]s romances “Que Importa a Fúria da Mar” (2013) e “Não se Pode Morar nos Olhos de Um Gato” (2016), premiados com o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores (APE), foram escritos ainda quando era jornalista. Como foi o processo de transição para a literatura? Fui jornalista durante 25 anos, portanto, sempre me adaptei a uma linguagem que tem de ser funcional, denotativa, directa. O que conta no jornalismo é a eficiência, transmitir a verdade mas, conhecendo o cânone, sempre tentei fazer a escrita jornalística de uma forma um pouco diferente, pelo que a minha transição não foi uma coisa abrupta de maneira nenhuma. Além disso, sempre fiz muitas reportagens longas em que a parte formal era muito importante e, portanto, sempre tive isso em conta. Por outro lado, trabalhei em géneros híbridos como a crónica ou a crítica cinematográfica em que o nosso lado subjectivo está muito lá. O que realmente me interessa é contar histórias e isso faz-se em ambos os registos. Só que no jornalismo temos um pacto de verdade com o leitor, enquanto na ficção temos um da verosimilhança. Além disso, simultaneamente escrevia guiões. Sempre tive um lado meu muito virado para a ficção, pelo que não senti que tivesse de fazer uma adaptação interior. Depois de sair da revista Visão, em Dezembro de 2016, nunca mais pensou em regressar ao jornalismo? Eu fui mandada fora, considerada dispensável e despedida. Não só eu, mais outros dez colegas. Curiosamente foram pinçados os que teriam mais a ver com o ADN da revista e um carácter mais jornalístico e menos tarefeiro, pessoas que pensavam mais pela sua própria cabeça talvez e não tanto executantes. Talvez fosse esse o critério – não percebi, nunca nos foi explicado. Mas o jornalismo demora muito tempo a sair-nos da cabeça. Estou sempre com apelos de reportagens, de entrevistas, mas depois paro e penso que isso já não tem nada a ver comigo. O meu olhar jornalístico ainda existe – essa transição é que eu tenho de fazer. Tenho de voltar a ter um olhar mais estético, que seria mais interessante para uma ficcionista. Embora também haja curiosidade pessoal, tantos anos de jornalismo não passam por nós sem deixar marcas. Quão distinto foi o primeiro romance do segundo? Há uma Ana Margarida de Carvalho diferente? Achei que no primeiro [“Que Importa a Fúria da Mar”] auto-impus-me mais constrangimentos. O livro encontra-se dividido em duas partes, têm o mesmo número de capítulos, tudo converge para o mesmo ponto. Em “Não se Pode Morar nos Olhos de Um Gato” há um turbilhão ou vários turbilhões em simultâneo que se vão enrodilhando. O primeiro, apesar de ter uma mistura entre tempos e espaços, não é um livro linear, escrevi-o se calhar com mais alguma contenção. Este foi escrito com uma maior sensação de liberdade, talvez seja essa a diferença. Eu se pudesse, se não tivesse que haver este cuidado para comodidade dos leitores e alguma pressão por parte das editoras, nem tinha posto capítulos. Sinto que no segundo romance são um bocadinho artificiais. O que se segue agora? Há um novo romance em preparação? Sim. Recebi uma bolsa do Estado português para escrever um romance e, portanto, é isso que que tenho de fazer em 2018. [O livro] está numa fase inicial, mas passa-se num Alentejo um bocado profundo e ambíguo antes do 25 de Abril, talvez nos anos 1950/60 numa aldeia onde se vive uma ambivalência: a de ajudar os resistentes a passarem a fronteira e de, ao mesmo tempo, e a de denunciar ou entregar à polícia política. Depois gostava de introduzir também o ambiente fechado que se vivia nos arrais de pesca de atum no Algarve e vou cruzar esses dois ambientes. O seu pai, Mário de Carvalho, serve-lhe de referência, inspiração ou, em certa medida, acaba por ser um fardo? Sim, talvez mais fardo, embora não seja algo muito simpático de dizer [risos], porque a quota literária familiar já estava preenchida, mas também não foi algo que me perturbasse particularmente. Ele é uma referência, claro, mas é-me difícil distinguir a referência paterna da referência literária. Teve outras referências? Tantas. A história não tem rigorosamente nada a ver, mas quando penso num livro referencial para a primeira obra penso em “A Amante do Tenente Francês”, de John Fowles, um livro de culto de que gosto muito, que foi uma referência formal, mas também um pouco mais do que isso. A referência para o segundo seria “A Nave dos Loucos”, de Katherine Anne Porter, porque me fez pensar que é possível fazer um livro em que não há nenhuma personagem principal, em que o leitor sinta empatia, em que as pessoas são todas odiosas e estão todas fechadas. E na literatura portuguesa? Gosto muito de José Saramago, que é daqueles autores que quase que li a obra toda, de José Cardoso Pires e também do António Lobo Antunes, um escritor a sério, porque consegue olhar para uma coisa vulgar com assombro. E como foi a experiência de escrever para crianças, com o livro infantil “A Arca do É”? A repetir? Gostava muito, mas aí já não depende só de mim. Já é preciso um ilustrador, é um trabalho a meias. Até tenho uma ideia para fazer, mas o ilustrador, entretanto, também me se tornou muito requisitado e tem projectos próprios, portanto, teria que encontrar outro disponível, mas este ano está reservado para o romance. Mas com esse livro, destinado a crianças ainda não autónomas na leitura, houve duas partes muito boas: por um lado, ter um ilustrador a interpretar o texto que escrevi, que é bastante simples, e, por outro, as sessões com crianças. Isto porque quando não têm maus professores – aqueles que lhes impõe uma maneira de pensar e regras estereotipadas – permitem sessões interessantíssimas, porque os miúdos têm ainda uma liberdade de pensamento e uma falta de autocensura que lhes permitem fazer perguntas muito estimulantes. O livro tem a ver com a arca de Noé, imaginei que ele tinha um irmão que era completamente o oposto dele – o “É” – , numa brincadeira com o ‘é’ e o ‘não é’. Era uma espécie de Epimeteu, por contraponto ao Prometeu. Uma vez, quando estava a explicar a um grupo de meninos, que inventamos as histórias, que podemos fazer tudo o quisermos, como se fossemos uma espécie de Deus, uma menina perguntou: ‘Ai é? Então porque não puseste uma senhora? Realmente fui apanhada. Tinha dito que podiam fazer tudo à vontade, enfrentar tudo, pôr o céu a amarelo e o mar a roxo, quebrar os estereótipos e depois aquela menina apanhou-me [risos]. Por falar no feminino, olhando para a literatura houve evolução na forma como são vistas? Uma vez estive numa mesa, num evento deste género, com outro escritor, em que ele começou a enumerar escritores de quem gostava e não enunciou um único nome feminino. Foi, de facto, uma coisa que me chocou bastante. Acho que foi um esquecimento um pouco selectivo demais. É um sinal de que nada mudou em termos genéricos? Até temo que tenha piorado. Como atravessamos uma crise muito dura, atrás dessa crise veio também uma crise de costumes e civilizacional – porque vem sempre. Economicamente estamos a recuperar mas até recuperarmos a outra parte, da mentalidade, se calhar demora mais tempo. Tenho essa sensação que houve um retrocesso em termos da forma como se olha a mulher. E Macau? Que sensações lhe despertou a primeira visita? Estou um bocado assoberbada de estímulos, é uma cidade que parece que não pára, parece que toda a gente está com pressa de ir para todo o lado em sentidos divergentes, o que me causa certa confusão. Tenho uma vida bastante pacata, estou quase todos os dias sozinha, e, de repente, há todos este estímulos visuais e pessoas a movimentarem-se, os carros e a poluição. Perdi-me naqueles casinos loucos onde até há cheiro, sons, imagens e tudo ao mesmo tempo. Tudo isto causa-me um certo atordoamento. Até achei que havia mais velha Macau do que nova, mas logo na Taipa tive o meu choque de artificialismo, porque é disso que se trata: pessoas encafuadas, pouquíssima natureza (…). Não pensei que o dinheiro do jogo fosse uma coisa tão poderosa, mas devia ter pensado. Tinha lido sobre uma Macau com resquícios misturados de China e de Portugal e, depois, deparei-me com arranha-céus completamente histriónicos e com aquelas imitações um bocadinho grotescas.
Hoje Macau EventosMuseu do Oriente, em Lisboa, celebra dez anos com obras de José de Guimarães em diálogo inédito [dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma exposição com cerca de 150 peças, parte delas inéditas, do acervo do Museu do Oriente, e obras recentes de José de Guimarães, apresenta um diálogo numa “cidade fantasmagórica”, criada para celebrar os dez anos do museu, em Lisboa. Intitulada “Um Museu do Outro Mundo”, a exposição pode ser visitada a partir de sexta-feira e até 03 de junho, para assinalar o décimo aniversário deste espaço museológico, e os 30 anos da Fundação Oriente, que tutela o museu. José de Guimarães disse hoje à agência Lusa que pediu a colaboração do arquiteto Pedro Campos Costa e do curador Nuno Faria para construir “toda uma cidade fantasmagórica que vai de uma zona escura, até uma zona clara, atravessada por uma zona dourada”, onde as peças se reúnem simbolicamente. O artista, cuja vida e obra é marcada por viagens pela Ásia, a África e a América Latina, reuniu ao longo de décadas uma coleção de arte chinesa que percorre desde o período Neolítico à unificação do império, passando por várias dinastias, a Qin e Han. “Nas minhas viagens, recolhi vários artefactos, e nesta exposição coloco as peças antigas em diálogo com a arte contemporânea”, num conceito, segundo o artista, “cada vez mais atual”. Na exposição, cruzam-se as obras do acervo do Museu do Oriente, da coleção pessoal de arte chinesa de José de Guimarães e novas obras criadas pelo artista. José de Guimarães, de 78 anos, criou uma espécie de relicários para apresentar peças da sua coleção de arte antiga chinesa, sobretudo em jade, algumas com mais de dois mil anos. “O jade era considerado um material muito especial no Oriente. Havia imperadores que o esmagavam e comiam, acreditando que poderiam receber os seus poderes”, apontou, na entrevista à Lusa. Além destas peças da coleção pessoal do artista – também em terracota e bronze – há outras obras recentes, criadas especialmente por José de Guimarães para a exposição, e pinturas em papel, de grandes dimensões, “que evocam a noção de efémero”, entre outras, como papagaios e esculturas também em papel. O diálogo – contemporâneo, arqueológico e etnográfico – criado pelo artista envolve peças orientais retiradas das reservas do acervo do Museu do Oriente, muitas delas nunca apresentadas antes ao público, nomeadamente objetos da coleção Kwon On. As peças – algumas delas ligadas a rituais e ao culto dos mortos – são apresentadas ao longo de um percurso que começa numa sala negra, atravessa uma passagem dourada, e continua para uma sala branca, com espelhos no seu interior, que reflete os visitantes e as obras. “É uma experiência especial, esta passagem pela sala negra, mais intimista e urbana, a sala dourada, de transição, e a sala branca, mais reflexiva, celestial”, comentou o arquiteto Pedro Campos Costa à Lusa. José de Guimarães foi convidado para fazer uma exposição comemorativa dentro da lógica do seu trabalho: “Envolve um conceito de alteridade, de recolha de elementos de outras culturas, através de artefactos que me permitem descobrir as culturas que não são as minhas, ocidentais”. Esta mostra, de acordo com o Museu do Oriente, assinala o arranque das comemorações, estando inscrita no Ano Europeu do Património Cultural 2018. O Museu do Oriente, que abriu portas em maio de 2008, foi distinguido em 2009 como o melhor museu português desse ano pela Associação Portuguesa de Museologia (APCOM). Possui um património museológico com mais de 15.000 peças, muitas delas sobre a presença portuguesa na Ásia, que vão desde as máscaras ao mobiliário, passando por armaduras, mapas, têxteis, biombos, porcelanas, terracotas, desenhos e pinturas. Localizado em Alcântara, o museu foi instalado após obras de recuperação e adaptação do edifício originalmente desenhado pelo arquiteto João Simões, construído em 1939, um dos símbolos da arquitetura portuária do Estado Novo. O novo projeto é da autoria dos arquitetos João Luís Carrilho da Graça e Rui Francisco.
Hoje Macau EventosEscritor Helder Macedo vence Prémio D. Diniz/2018 com “Camões e outros contemporâneos” [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] obra “Camões e outros contemporâneos”, de Helder Macedo, venceu por unanimidade o Prémio D. Diniz/2018, relativo a edições de 2017, anunciou hoje a Fundação da Casa de Mateus, que instituiu o galardão em 1980. “A Fundação da Casa de Mateus informa que o Júri do Prémio D. Diniz, constituído por Nuno Júdice, Fernando Pinto do Amaral e Pedro Mexia, atribuiu, por unanimidade, o prémio de 2018 a Helder Macedo, pelo seu livro ‘Camões e outros contemporâneos’, publicado pela Editorial Presença”, lê-se no comunicado. Segundo o júri, “poeta e romancista reconhecido, Helder Macedo oferece-nos neste livro da sua vertente ensaística um percurso pela literatura portuguesa, da Idade Média à atualidade, em que a familiaridade com os grandes autores do passado e os do presente nos aproxima do seu universo, cruzando criação e vida”. “O Prémio D. Diniz, dado a uma obra que começa precisamente pela análise inovadora de uma cantiga de amigo do rei poeta, que o nome do prémio celebra, distingue uma obra que assume a ousadia das suas descobertas e o faz com uma erudição que, longe de afastar o leitor, o fascina pelos novos horizontes que vem abrir”, afirma o júri. Na introdução da obra, Helder Macedo explica a premissa com que partiu para esta coletânea de ensaios: “Contemporâneos são todos aqueles com quem vivemos”. “Daí o título desta coletânea de ensaios e de testemunhos, com Luís de Camões em predominante recorrência, entre D. Dinis e Herberto Helder”, justifica o ensaísta, revelando que “a escolha não foi fácil”. “A escolha não foi fácil, tenho por aí muitas vidas dispersas. De uma lista inicial de quase o dobro, ficaram 25”, afirma, acrescentando: “O livro termina com um algo ambicioso (mas sem dúvida omisso) enquadramento analítico dos oito séculos de literatura portuguesa no seu contexto histórico e cultural”. A obra, publicada com a chancela da Editorial Presença, divide-se em quatro partes, sendo a primeira “Camões e a Modernidade da Tradição”, que inclui, entre outros, ensaios sobre o autor d’”Os Lusíadas”, sobre Sá de Miranda ou ainda um intitulado “Luso, filho de Baco”. A segunda, “História, Memória e Ficção”, inclui, entre outros, uma reflexão sobre história e profecia, em que aborda o cronista Fernão Lopes, o padre jesuíta António Vieira e o historiador e político Joaquim d’Oliveira Martins, além de textos sobre as personagens D. Quixote e Dulcineia, de Cervantes, sobre “ficções da identidade” em Fernando Pessoa e Cesário Verde, e um texto de 2012, sobre o romance “A Balada da Praia dos Cães”, de Cardoso Pires. Na terceira parte apresenta o que chama de “Testemunhos”, no qual reúne oito textos, nomeadamente sobre Sophia de Mello Breyner Andresen, Mário Cesariny e Herberto Helder, e ainda um que intitula “Pensamentos e escritos (pós) coloniais: Partes de África”, numa referência ao seu romance “Partes de África”, editado em 1991. A quarta parte é dedicada ao “enquadramento analítico dos oito séculos de literatura portuguesa”, um texto, que, explica o autor, professor catedrático jubilado do King’s College, em Londres, foi uma encomenda dos seus colegas da Universidade de Oxford para um “Companion to Portuguese Literature”, “destinado primordialmente a um público universitário”, que leva Helder Macedo a acrescentar: “Creio que esta versão portuguesa poderá também ajudar a contextualizar os textos” que escolheu para fazerem parte desta coletânea. Helder Macedo, nascido há 81 anos na África do Sul, é autor de vários ensaios sobre literatura portuguesa e, paralelamente, assinou vários títulos de ficção e de poesia, como os romances “Pedro e Paula” (1998) e “Tão Longo Amor Tão Curta a Vida” (2013), a coletânea “Poemas Novos e Velhos” (2011) e “Romance” (2015). O Prémio D. Diniz distingue anualmente uma obra de autor português nas áreas da ficção, poesia ou ensaio. No ano passado, a obra vencedora foi o romance “Astronomia”, de Mário Cláudio. A cerimónia de entrega do galardão a Helder Macedo realiza-se no próximo dia 06 de outubro, às 18:00, na Casa de Mateus, em Vila Real, sendo esperada a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, segundo a Fundação Casa de Mateus.
Hoje Macau EventosMorreu Hubert de Givenchy: O costureiro que vestiu as mulheres [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] costureiro francês Hubert de Givenchy, fundador da casa com o seu próprio nome, morreu no sábado, aos 91 anos, noticiaram ontem os órgãos franceses de comunicação social, citando um comunicado da família. “‘Monsieur De Givenchy’ morreu durante o sono, na noite de sábado, 10 de março de 2018”, informa o comunicado assinado pelos sobrinhos do costureiro. “As cerimónias fúnebres celebrar-se-ão na intimidade mais estrita”, conclui a informação da família. Nascido em 1927, Hubert Taffin de Givenchy fundou a sua casa de alta-costura aos 25 anos, em 1952, altura em que realizou o primeiro desfile, na capital francesa. Manteve a direcção criativa até 1995, cultivando um estilo desde sempre associado à imagem de actrizes como Audrey Hepburn e Laureen Bacall, Grace Kelly, como actriz e como princesa do Mónaco, ou Jacqueline Kennedy-Onassis. O vestido negro concebido por Givenchy para Audrey Hepburn, na adaptação ao cinema da novela de Truman Capote “Breakfast at Tiffany’s” (“Boneca de Luxo”), de Blake Edwards, tornou-se num símbolo de elegância e da casa de alta-costura francesa. A imagem de Givenchy encontrou reforço nos figurinos concebidos para cinema, nas décadas de 1950 e 1960, em filmes como “Funny Face/Cinderela em Paris” e “Charade”, de Stanley Donen, “Bom dia, Tristeza”, de Otto Preminger, “O Tesouro de África”, de John Huston, “Sabrina” e “Ariane”, de Billy Wilder, protagonizados por actrizes como Audrey Hepburn, em particular, mas também Jean Seberg e Deborah Kerr. Ao longo de mais de 40 anos, até ao seu afastamento da actividade, em 1995 – e mesmo depois da venda da casa ao grupo de luxo LVMH, em 1988 – Hubert de Givenchy dirigiu as colecções com o seu nome, construindo “um lugar à parte” na moda, primeiro, e na cosmética, mais tarde, como destaca o grupo. Givenchy tinha “duas qualidades raras”, era “inovador e intemporal”, disse hoje o presidente do grupo LVMH, Bernard Arnault.
Andreia Sofia Silva EventosRota das Letras | Duncan Clark apresentou biografia de Jack Ma, fundador do Alibaba “A Casa que Jack Ma construiu” é o livro que conta a história do menino pobre que falhou duas vezes até construir o gigante do comércio electrónico Alibaba. Duncan Clark, consultor a viver em Pequim desde os anos 90, escreveu a história do visionário com quem trabalhou. O livro foi ontem apresentado no festival literário Rota das Letras [dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]uando ainda ninguém percebia o impacto da Internet nas nossas vidas, Jack Ma percebeu que ali estava uma oportunidade de negócio. Falhou duas vezes até investir, juntamente com 18 pessoas, no grupo Alibaba, hoje um gigante do comércio electrónico que tem vindo a investir no sudeste asiático, Europa, África, sem esquecer Macau e Hong Kong. A história do menino que nasceu pobre e se tornou milionário, o protagonista do “sonho americano na China” foi contada no livro de Duncan Clark, intitulado “A Casa que Jack Ma construiu” e que foi ontem apresentada no edifício do Antigo Tribunal, no âmbito do Festival Literário Rota das Letras. À margem do evento, o HM conversou com o autor que, em 1994, estava a viver em Pequim e que teve a oportunidade de trabalhar com aquele que, décadas mais tarde, se tornou um dos milionários chineses mais conhecidos em todo o mundo. “Há muito tempo que queria escrever um livro sobre a Internet na China, onde vivo desde 1994, que foi o ano em que a Internet chegou à China. A tecnologia pode ser muito aborrecida se só falarmos de tecnologia, e ultimamente as pessoas têm vindo a gostar muito de ler sobre outras pessoas. Depois da Oferta Pública de Aquisição (OPA) [do Alibaba] nos Estados Unidos em 2014, houve muita discussão sobre a empresa e sobre ele próprio, e ouvi muita coisa errada nesse período.” De frisar que a OPA levada a cabo pelo grupo Alibaba, no valor de 25 mil milhões de dólares, foi considerada a maior alguma vez feita a nível mundial. Foi aí que Duncan Clark resolveu sair do mundo da economia empresarial para se tornar escritor. Sem grandes orientações de como escrever um livro, Clark fez muita pesquisa online para uma obra que não teve qualquer interferência de Jack Ma ao nível dos conteúdos. “Tive acesso ao grupo Alibaba, mas felizmente não controlaram nada do que escrevi, o que foi óptimo. Isso não é habitual, porque normalmente os empresários tentam controlar a sua própria imagem. Gostei da experiência.” O livro já está traduzido para 20 línguas, incluindo o português, e tem feito sucesso pelo mundo fora. “A verdade é que esta área dos negócios também está muito ligada à comunicação, é como a escrita. No meu caso tinha 12 meses para escrever o livro, então dividi-o em 12 capítulos. Foi escrito de forma rápida, mas já tinha metade da história na minha cabeça, e depois tive de fazer muita pesquisa.” O carisma e a loucura Quem é Jack Ma, o homem que é dono de uma fortuna avaliada em 41,3 mil milhões de dólares? Apesar de ter trabalhado como um mero consultor no grupo, Duncan Clark privou de perto com ele. “Já era consultor em Pequim desde 1994 e conheci-o no verão de 1999, em Guangzhou, quando ele estava a começar a empresa com a sua mulher e mais 18 pessoas. Na verdade, 16 dessas pessoas eram mulheres, o que é um ponto interessante. Havia um espírito muito familiar e havia a loucura da Internet, mas naquela altura pareceu-me um projecto diferente. Escrevia uma coluna de opinião para o jornal South China Morning Post, entrevistei-o, ficamos amigos e ele convidou-me para trabalhar com ele”, recordou Clark. Ironicamente, Jack Ma é hoje dono do diário de Hong Kong. O autor fala do milionário como tendo “uma enorme ambição” e que dizia coisas diferentes de todos os outros empresários. “As pessoas achavam que ele era louco, mas tinha um grande sentido de humor e charme, tinha a capacidade de atrair as pessoas e o capital para o seu lado. Não esperava que tudo atingisse esta dimensão, mas sabia que era algo interessante.” Na visão de Duncan Clark, o sucesso do grupo Alibaba deve-se ao facto de Jack Ma ter falhado muitas vezes e nunca ter desistido. “Ele falhou duas vezes e sabia que a Internet era importante. Porque se tornou tão bem sucedido? Penso que foi o primeiro a apostar nesta área, também falhou e conseguiu regressar, devido ao seu carisma e determinação. Teve a capacidade de aumentar o capital, a equipa. A maior parte das pessoas que trabalham com ele no Alibaba trabalharam com ele antes, então seguiram-no, confiaram nele.” “Ele tem uma maneira muito própria de te convencer a fazeres algo, e teve um foco muito próprio no futuro e nos clientes, nessa altura ele foi um visionário”, acrescentou o autor da biografia. A relação com o poder Questionado sobre a relação que Jack Ma tem com o Governo Central, Duncan Clark assume que nenhum grande grupo empresarial chinês, daquele que consegue fazer fortunas, é totalmente independente face ao Partido Comunista Chinês. “Não é possível, nos dias de hoje, afirmar que nenhuma grande empresa chinesa é totalmente independente do Governo. Nos primeiros tempos Jack Ma trabalhou para o Governo, antes de fundar a Alibaba trabalhou como administrativo. Hoje o grupo tem tido um enorme impacto em muitas áreas da sociedade e também na política ultimamente.” Contudo, o autor lembrou que Jack Ma não marcou presença nas reuniões da Assembleia Popular Nacional (APN), ao contrário do milionário Robin Li, fundador do grupo Baidu. “Muitos dizem que Jack Ma é demasiado grande para ser apanhado”, frisou Duncan Clark. “Neste momento, com Xi Jinping a tornar-se presidente sem que haja uma limitação de mandatos, e com uma perspectiva ambiciosa em relação aos empresários, há um grande debate sobre o papel do sector privado na China.” No último capitulo de “A Casa que Jack Ma construiu”, Duncan Clark lança perguntas para o futuro, ao atribuir o título “Ícone ou Ícaro?”. “Isto no sentido em que se ficar [Jack Ma] muito próximo do sol pode ser perigoso. Essa onda de elevada confiança pode gerar problemas. Por outro lado, há muitas áreas com as quais têm de lidar diariamente com imensos representantes do Governo chinês. No meu livro eu falo que num ano houve encontros com 45 mil representantes”, explicou. No fundo, os milionários têm, em relação ao Governo chinês, a ideia de “não te cases, mas não vivas longe”. “Os empresários sabem que se derem tudo ao Governo vão perder inovação e uma certa independência, e o Governo também sabe disso.” Na visão do consultor, o Governo Central quer que haja iniciativa privada, para aproveitar o know-how em prol do país. “Há uma grande tradição na China de falhas na área tecnológica por empresas estatais, então eles encorajam os empresários a fazer o seu negócio, dando-lhes algum espaço. É melhor do que fazerem por eles próprios, mas claro que há limites, especialmente no que diz respeito às redes sociais”, concluiu.
Andreia Sofia Silva EventosLivros | Jorge Morbey desmistifica lenda da Ilha de São Vicente, em Cabo Verde O historiador Jorge Morbey lança esta quarta-feira o livro “O ataque de um submarino alemão no Porto Grande de São Vicente durante a I Guerra (1914-1918)”, com a chancela da Livros do Oriente. O autor partiu de uma história de infância e desmistificou uma lenda que há 100 anos persiste no imaginário da população da Ilha de São Vicente [dropcap style≠’circle’]“M[/dropcap]inha avó materna – Annie Florence Morbey Ferro (1870-1952) – contava que, durante a I Guerra Mundial, de casa dela, na cidade do Mindelo, na Rua Poço do Estado, com vista para a baía, assistiu à perseguição de um submarino a um navio mercante que acabou por encalhar a sul da baía do Porto Grande, em São Vicente, próximo da Cova d’Inglésa.” É desta forma que começa o novo livro de Jorge Morbey, intitulado “O ataque de um submarino alemão no Porto Grande de São Vicente durante a I Guerra (1914-1918)”, editado pela Livros do Oriente e que é lançado oficialmente esta quarta-feira na Fundação Rui Cunha. Em 1917 houve, na ilha de São Vicente, em Cabo Verde, no ano de 1917, um ataque de um submarino alemão a dois cargueiros que transportariam comida do Brasil. O comandante desse submarino ter-se-ia apaixonado por uma cabo-verdiana. O ataque aconteceu de facto, mas todos os restantes elementos se transformaram em lenda que ainda hoje existe na memória colectiva do povo cabo-verdiano da ilha. Foi a avó que contou esta história a Jorge Morbey, que resolveu ir em busca de respostas factuais. “Era uma história que a minha avó me contava porque ela assistiu à cena da varanda da casa dela, na ilha de São Vicente, em Cabo Verde, onde nasceu. Ela contava-me essa história sem grandes pormenores. Mas a questão que me levou a abordar este tema e fazer alguma investigação é que o centenário desse acontecimento ocorreu a 2 de Novembro passado. Fez 100 anos esse ataque, 2 de Novembro de 1917.” A efeméride levou Jorge Morbey, historiador e docente da Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau (MUST), a publicar agora esta obra. “A memória colectiva guarda isso como um acto altruísta do comandante do submarino, que teria afundado os dois cargueiros. Esse evento é guardado na memória colectiva da população da ilha de São Vicente como um acto altamente positivo. Estes supostamente trariam do sul algumas pessoas que vinham da Argentina ou do Brasil, e efectivamente os dois vinham do Brasil, e a ficção criada pela fome via milho, feijão e elementos básicos da alimentação dos cabo-verdianos que não é verdade.” Morbey destaca que, nessa época, Cabo Verde era um país que sofria bastante com secas e fomes. “Cabo Verde sofreu durante séculos secas e fomes imensas, que levaram a uma grande dizimação da população.” Contudo, o historiador descobriu que não só os cargueiros não transportavam comida como não há registos históricos da ocorrência de um caso de amor. “Analisei os manifestos de carga desses dois cargueiros e limitavam-se a peles e café em grão. Houve mortes e feridos nesses ataques aos navios brasileiros, e tentei descobrir como é que um fenómeno de guerra é transformado num episódio de história que se baseia num romance de amor que teria havido entre esse comandante do submarino alemão e uma cabo-verdiana muito bonita.” Contudo, Jorge Morbey não conseguiu encontrar “nenhum suporte histórico”. “Inclino-me para a possibilidade deste fenómeno estar relacionado com o problema da fome e com a psicologia da fome”. Esfomeados, as pessoas terão delirado com aquilo que, de facto, aconteceu, frisou o autor. Pura fantasia O livro tem partes em crioulo cabo-verdiano, que Jorge Morbey domina, uma vez que este recorreu a bibliografia do país sobre este tema, bem como algumas fontes portuguesas. Para chegar a algumas conclusões, a historiador foi buscar informação “a uns estudos iniciados nos Estados Unidos, no final da II Guerra Mundial, e que foram feitos por voluntários que foram submetidos a fomes para ver as reacções deles”. “A única explicação que consigo encontrar aqui é essa obsessão pela comida, foi uma lenda que não tem nada a ver com a realidade. O que existiu foi o afundamento dos dois navios, que ficaram ali…ainda me lembro de restos de um deles encalhados junto à praia, e foi há quatro anos que esses restos foram removidos.” Morbey lamenta que a estória que ouviu da sua avó não tenha acontecido na vida real. “Tenho pena que não tenha sido como a memória mantida pelo povo de cabo-verdiano durante 100 anos, porque era uma história romântica. Mas não tem qualquer correspondência com a realidade.” Lançamentos em Lisboa e Cabo Verde Apesar do lançamento ser feito em Macau, Jorge Morbey acredita que a Livros do Oriente levará o livro a outras paragens. “Provavelmente faremos também o lançamento em Lisboa e nas duas cidades principais de Cabo Verde, Praia e Mindelo”, acrescentou. Esta lenda é apenas uma das muitas estórias que permanecem por investigar em Cabo Verde, considera o autor, que tem “uma colecção que, a seu tempo” pretende começar a publicar, relativa à “documentação para a história da ilha de São Vicente, onde eu nasci”. Além da ilha de São Vicente, a ilha do Sal começou a ser povoada no século XIX, tendo ambas se tornado num importante motor económico de Cabo Verde entre a segunda metade do século XIX e os anos 50 do século XX. “Foi a altura em que a navegação começou a ser feita em vapor, e os ingleses estavam a ocupar o mundo todo e tiveram necessidade de estabelecer postos de abastecimento à navegação de carvão e a minha ilha foi escolhida como a primeira base. Isso trouxe uma grande prosperidade e um desenvolvimento acelerado”, lembrou Jorge Morbey.
Hoje Macau EventosRota das Letras | Liliana Ribeiro ganhou concurso de contos [dropcap style≠’circle’]L[/dropcap]iliana Ribeiro foi a premiada portuguesa do concurso de contos do festival literário Rota das Letras, com a história “E se as Pedras”. Huang Hou Bin foi o vencedor, tendo concorrido com o conto em língua chinesa intitulado “Atravessar a Fronteira”. Em inglês sagrou-se vencedor Graeme Hall, com o conto “O Riso do Macaco de Jade”. Além do prémio monetário de dez mil patacas atribuído a cada autor, os três contos são publicados no livro “Seis em Ponto”, lançado ontem durante o festival. Tal como é habitual, todos os anos é lançado um livro que contém não apenas os contos vencedores como contos de autores convidados que experimentam o desafio de escrever sobre Macau. “Seis em Ponto” conta com histórias escritas pelos convidados presentes na última edição do Rota das Letras, como é o caso de Natalia Borges Polesso, que escreveu “Volta”, ou Bruno Vieira Amaral, que assinou “A vida eterna no Rio das Pérolas”.
Diana do Mar Eventos MancheteVictoria Willing, filha da pintora Paula Rego: “É tão bom vir à China falar sobre a minha mãe” Veio a Macau com a missão de representar Paula Rego, escolhida como “madrinha” da primeira bienal internacional de mulheres artistas. Em entrevista ao HM, Victoria Willing fala da mãe e da pintora, mas também da importância de as mulheres serem levadas a sério, nas artes e na vida [dropcap]P[/dropcap]aula Rego foi escolhida como madrinha da primeira bienal internacional de mulheres. Como surgiu o convite? Qual o significado de que se reveste? Não sei por que razão a escolheram. Foi a primeira vez que ouvimos esse termo aplicado a uma exposição de arte mas é, mais ou menos, como se fosse convidada de honra. Ela achou muito interessante por ser uma exposição só de mulheres, embora goste de ter a mistura de mulheres e homens. Faz sentido actualmente uma bienal internacional dedicada exclusivamente ao sexo feminino? Eu acho muito importante hoje em dia que haja uma certa discriminação positiva para levantar a representação das mulheres, especialmente para mostrar que, sejam homens ou mulheres, artistas são artistas. Isto é um grande exemplo da arte que, por acaso, é feita por mulheres. A minha mãe passou muitos anos a tentar entrar pelas portas das galerias para conseguir uma exposição. Ia com as fotografias das pinturas – nem um catálogo era – e as pessoas, como ela já contou muitas vezes, viravam o rosto para o lado e falavam com colegas ao mesmo tempo e diziam ‘não obrigada’. Ser mulher fez parte disso nesses tempos em Londres. Em Portugal ela já vendia, porque Portugal foi sempre muito mais aberto às artes plásticas do que os ingleses, que tinham muitas regras. Portanto, foi preciso muito até conseguir, porque quem entrava eram os grandes homens, como Francis Bacon ou o Lucian Freud. A arte é como tudo na vida: há a ideia de que os homens têm mais valor do que as mulheres, ao ponto de eles receberem mais do que elas, mesmo sendo contra a lei. É um crime. Neste momento, acho muito importante haver um palco que dá exposição às mulheres, mas talvez haja muitas mulheres a achar [a discriminação positiva] uma coisa muito má. Eu acho que faz sentido a discriminação positiva por causa do nível do trabalho. Não estamos a falar de algo como ‘vamos dar isto às mulherezinhas’ e depois elas podem ir embora, voltar para a cozinha outra vez, e os homens podem regressar. Isto não dá para ser assim, porque vê-se que o trabalho é sério e bom. Não estamos a falar de uma pinturazinha feita entre o jantar e as fraldas (risos). Paula Rego vai estar representada por uma única pintura: “Nossa Senhora das Dores”, que integra a série baseada n’“A Relíquia” de Eça de Queiroz. Porquê este quadro? Toda a gente me pergunta isso, mas não sei responder. Eu sabia que tinham escolhido este quadro para a exposição, mas não exactamente porquê. Suponho que existam várias razões, a começar por ser baseado no livro do Eça de Queiroz e, portanto, ser uma coisa portuguesa. Depois, porque é a história de uma pessoa que tenta encontrar uma coisa, que está em busca por algo e que, portanto, tem paralelo com os desafios das mulheres hoje em dia e com as tristezas da vida. Acho que as mulheres sofrem muito e [o quadro] mostra o sofrimento e também a solução. No sentido metafórico, podemos rezar. Demostra que há maneiras de resolver as tristezas, como o trabalho ou o amor. Por outro lado, [o “Nossa Senhora das Dores”] é o que [a galeria britânica] Marlborough Fine Art tinha para mandar numa altura em que os quadros estão a seguir para todo o lado, porque ela vai ter montes de exposições. Ainda na semana passada, abriu uma mostra colectiva na Tate, em Londres, que Paula Rego também integra. Sim. É ela com os homens, uau! Interessantemente, essa exposição, que reúne grandes do século XX e reserva uma sala só para a mãe [com cinco obras], tem uma última divisão que junta quatro artistas e que, por acaso, são todas mulheres. É um boa maneira de acabar a exposição, fecha com chave de ouro. Isto também é o futuro – faz tudo parte das mulheres serem levadas a sério, não só nas artes, em tudo. Os quadros viajam mais do que a pintora. Paula Rego nunca esteve na China… Nunca esteve nem nunca vai estar… Ela não pôde vir por causa da idade e também porque os médicos recomendam que não viaje devido ao problema do coração. Até quase não visita Portugal hoje em dia. Está mais frágil, mas está bem e tem a rotina dela: Trabalha quatro dias por semana e ainda vai ao estúdio e todos os sábados ao cinema. Ela está muito feliz por as pinturas poderem viajar o mundo e por estar representada numa exposição neste sítio que tem tantas ligações a Portugal e que, ao mesmo tempo, fica tão longe. Ela é muito aberta ao mundo e tem pena de não poder estar cá, mas também tem 83 anos, está cansada e não pode fazer tudo. É a primeira vez que expõe na China? Não. Ela no ano passado teve um quadro exposto em Xangai. “‘A Dança’ [1988] foi o primeiro quadro que a minha mãe fez depois do meu pai morrer. É uma despedida. Fico muito emocionada quando vejo esse quadro.”Quais são obras que mais gosta da sua mãe? Eu gosto de algumas de que faço parte (risos). Gosto de “Dog Women” e muito de “Pillowman” que acho uma das obras grandes da minha mãe. Também d’ “Anjo” e d’ “A Dança”. “A Dança” [1988] foi o primeiro quadro que a minha mãe fez depois do meu pai morrer. É uma despedida. Fico muito emocionada quando vejo esse quadro. Qual seria, na sua opinião, a melhor obra para introduzir um público a Paula Rego? Diria “Anjo”, porque mostra uma pessoa fraca e forte, triste e cheia de vingança, humilde e zangada – tudo ao mesmo tempo. É cheio de contradições. E nem é só isso: tecnicamente aquela saia… Não sei como é que ela fez aquilo. Vê-se quase tudo em 3D. É incrível! Como descreveria a sua mãe em poucas palavras? Disciplinada, calorosa, gentil e muito teimosa. Gosta das coisas boas. Gosta de champanhe, por exemplo. O médico disse-lhe que pode beber um copo por dia, mas ela, às vezes, bebe dois. Adora os filhos e as netas mas ela não é uma pessoa de família. Aos homens não se perguntaria isso, não é? A vida dela é a arte. Sempre foi, desde os quatro anos. É uma grande artista. Às vezes, tem muito medo que não vá encontrar a história que está sempre à procura. Quando eu digo: ‘O que queres para o aniversário? Ela responde: ‘Quero ideias’. Eu pergunto: ‘Oh mãe, mas se não tiver ideias, queres um casaco?’ Os romances de Eça de Queiroz têm sido uma fonte de inspiração… Sim, começou com “O Crime do Padre Amaro”, que tem a ver com a hipocrisia da igreja, e também há “O Primo Basílio”, por exemplo, que é fantástico, sobre uma mulher que se apaixona e que, inocente, não percebe como as mulheres são usadas. São boas histórias, fáceis de ler, com montes de personagens interessantes. A mãe é muito interessada por estas coisas e o Eça tem muitas dessas histórias. Ela continua a ler, está sempre a ler. Agora, está a ler [Émile] Zola. Antigamente, costumava fazer mais quadros só sobre situações da sua vida, representações com animais na pele de certas pessoas, inventar as suas próprias histórias, mas [cada vez mais] não inventa. Ela gosta de encontrar a história e ilustrá-la à sua maneira. Sempre foi, até certo ponto, uma ilustradora e sempre achou que as pessoas são um bocado snobes relativamente ilustração que ela considera uma arte muito importante. Como é ser filha de Paula Rego? Tem algum impacto ou exerce influência na sua vida profissional, por exemplo? Ninguém sabe que sou filha de Paula Rego. Não é o mesmo mundo, é completamente diferente. Aliás, não tenho o mesmo apelido. Tenho o do meu pai, que ninguém sabe que era pintor. Quando digo em Inglaterra que sou filha da Paula Rego ou dizem ‘uau, não acredito! Gosto tanto do trabalho dela’ ou nem sabem que ela é. Por exemplo, eu telefonei ao meu agente de teatro – estou com ele há dez anos – para lhe dizer que não ia estar lá esta semana, porque vinha representar a minha mãe e expliquei-lhe que ela é artista e que tem uma certa fama. Ele não sabia quem ela era. É um mundo diferente e nunca surgiu ocasião de dizer. E como é estar a representar a sua mãe no outro lado do mundo? É muito interessante. É tão bom ter a oportunidade de vir à China falar sobre a minha mãe. É fantástico. É a primeira vez, mais formalmente, que falo em nome da minha mãe. Como dizem os ingleses, hoje estou a usar outro chapéu. Tenho um chapéu diferente quando escrevo peças de teatro, outro quando vou fazer gravações de voz e quando não tenho trabalho nenhum e tenho que ir para um escritório a ganhar sete libras por hora também é outro chapéu. Vários chapéus. Actualmente, escreve sobretudo peças de teatro? Sim. Estou a tentar escrever uma, faço gravações de voz, de vez em quando, e fiz uma coisa para televisão há pouco tempo. Estive um ano a fazer uma peça chamada “The Curious Incident Of The Dog In The Night Time”, que deu no West End…. Foi bastante cansativo… Nunca pensou ser pintora? Não (risos). Acho que numa família dessas uma pessoa tem que ter talento. Consigo desenhar, mas não queria ser pintora. Não sou uma pessoa muito visual, sou mais de ouvido. Além disso, gosto de trabalhar com pessoas e, por isso, é que, às vezes, é difícil escrever as peças de teatro porque estou sozinha e prefiro estar em equipa. Eu também tinha que encontrar a minha coisa.
Hoje Macau EventosSurrealismo | Marcelo Rebelo de Souza homenageou pintor Cruzeiro Seixas O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, homenageou hoje o artista plástico e poeta Cruzeiro Seixas e afirmou que, quando fizer o balanço do seu mandato presidencial, guardará este momento como um dos mais significativos. “A minha visão de mandatos presidenciais é que são um somatório de momentos irrepetíveis, uns mais agradáveis de recordar, outros menos agradáveis de recordar. E ao fazer o balanço, imagine, dentro de anos, do mandato presidencial, haverá um dia, que é este dia, que guardarei como o dia que simboliza um momento particularmente importante do mandato”, declarou, dirigindo-se a Cruzeiro Seixas. O chefe de Estado, que falava no Centro Português de Serigrafia, em Lisboa, durante uma cerimónia de homenagem e lançamento do catálogo de obra gráfica de Artur Manuel Rodrigues do Cruzeiro Seixas, que está com 97 anos, descreveu-o como “alguém que já é história, mas ainda faz história”, a quem agradeceu “por aquilo que tem dado a todos os portugueses”. “A ironia do destino é o mestre estar aqui para poder apreciar a homenagem que lhe é prestada. Muitas vezes se diz que nós em Portugal homenageamos só por morte. Eu tenho tentado fazer o contrário, desmentindo esse aforismo”, referiu, acrescentando: “Mas, no seu caso, seria uma impossibilidade esperar pelo momento de o homenagear, porque é imortal”. Marcelo Rebelo de Sousa disse ainda a Cruzeiro Seixas que na transição dos anos 70 para os anos 80 do século passado se tornou “um leigo ignorante, mas seu admirador”, e observou: “Eu penso que isso também se compreende no quadro do surrealismo: entender que alguém pode admirar, ainda que não entendendo cabalmente. Começou aí, aliás, o meu tropismo afetivo, que é: onde outros viam a razão, eu chegava lá pelo afeto”. O Presidente da República contestou a ideia de que “o surrealismo não foi intervenção”, defendendo que, pelo contrário, “foi profundamente interventivo na luta e na afirmação da liberdade” e que, portanto, “o mestre Cruzeiro Seixas foi um militante cívico”. Por sua vez, Cruzeiro Seixas apontou os seus pais e Mário Cesariny como fundamentais no seu percurso, descreveu-se como alguém que sempre teve “a ideia de não ser um artista”, mas antes “um homem”, e recordou a sua oposição ao colonismo como “uma coisa que foi bonita”. “A principal, a mais comovente das obras de arte é a liberdade”, sustentou, no final da sua intervenção. Depois de ouvir Marcelo Rebelo de Sousa, Cruzeiro Seixas retomou a palavra para lhe agradecer, afirmando que “é mais do que um Presidente, é um amigo” e “alguém compreensivo, que sabe falar de coisas como poesia”. Recentemente alguns quadros de Cruzeiro Seixas estiveram presentes em Macau, numa exposição no Clube Militar dedicada ao movimento surrealista português, e que foi promovida pela Associação para a Promoção das Actividades Culturais (APAC).
Diana do Mar EventosLançamento | Sellma Luanny apresenta hoje o livro “Poemas Matizados” Sellma Luanny lança hoje na Fundação Rui Cunha “Poemas Matizados”. A obra, que reúne uma selecção de 117 poemas, tem a chancela da Livros do Oriente [dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]rimeiro foi um desafio, depois um escape. Sellma Luanny despertou para a poesia na adolescência quando viu nas letras arrumadas em versos um desafio. “Comecei a aprender literatura na escola e queria aprender como se faziam estrofes, a contar a métrica, as rimas perfeitas…”. “Durante um período” ainda escreveu, mas as exigências da medicina (primeiro do curso, depois do exercício da profissão) não deixaram espaço para a poesia se desenvolver. “Esqueci-me completamente da poesia”, conta. O reencontro com os versos aconteceu recentemente e de forma inesperada. “Foi quando entrei nos meus 50 anos. A pré-menopausa foi a pior fase da minha vida. Foi uma altura emocionalmente problemática devido ao desequilíbrio hormonal, e acabei por ver na poesia um remédio, uma mesinha, um escape. A poesia veio até mim e eu procurei extravasar tudo nela”, diz ao HM a autora, natural do Brasil e a viver em Macau há três décadas. Quando voltou à poesia fê-lo, sobretudo, em inglês, mas esse material permanece numa gaveta. “Nunca imaginei que fosse publicar, que teria talento para mostrar um dia a alguém. Pensei que, mesmo que chegasse a publicar, podia esconder-me atrás de um pseudónimo, para ninguém me reconhecer”, brinca Sellma Luanny. Foi só em finais de 2016, por ocasião do aniversário de uma grande amiga, e na véspera do seu, que regressou à língua materna. “Resolvi fazer uma poesia pelas duas e gostei do resultado. Desde então, passei a escrever em português. Comecei a mandar para a minha irmã, que tem sido a minha maior incentivadora, e ela começou a comentar cada poema, a dizer o que achava, o que sentia e eu fui guardando os versos”. Das palavras aos actos passou somente no final do ano passado quando teve conhecimento do Congresso da União de Médicos Escritores e Artistas Lusófonos (UMEAL). “Um dos responsáveis era o Shee Va, que foi meu colega no hospital, entrei em contacto com ele e apresentei três poemas. Perguntei-lhe como seria para editar e ele apresentou-me ao Rogério Beltrão Coelho [da editora Livros do Oriente] que se interessou”. Assim nasceu “Poemas Matizados”, obra que reúne uma selecção de 117 poemas. Tal como uma paleta de cores, os temas e os estados de espírito variam de poema para poema, o que propiciou o título. “Procurei dar vazão ao que vinha emocionalmente à minha mente. Os temas são variadíssimos. Escrevo muito sobre o universo e a natureza, sobre a minha visão do eu como ser humano, do que sinto relativamente a tudo”, relata. Sem seguir escolas clássicas ou métricas, Sellma Luanny tem poemas longos, curtos e muito curtos. “Tentei fazer o exercício da poesia minimalista, da chamada Aldravia [que deriva da palavra aldrava, a argola de metal usada para se bater à porta), um movimento surgido no Brasil. A poesia é mínima. São seis versos, cada um com uma palavra ou vocábulo”, explica. Métrica das palavras Já o tom da sua poesia, que descreve como “introspectiva e não puramente descritiva”, é “misto”: “Há poemas mais alegres, até festivos, mas também melancólicos”. Entre os “mais chegados ao coração” figura “Amigo”, preparado para o aniversário, mas que “praticamente abraça todos”, realça a autora. Em termos de proximidade, Sellma Luanny os poemas relacionados com a perda do irmão. “São-me muito próximos e preciosos”, conta. Sendo a terra que acolheu naquele dia remoto há mais de 30 anos, Macau não podia ficar de fora da sua estreia pelo mundo da literatura, com “Em Cidade do Rio Das Pérolas” a deixar salientes os contrastes entre o passado e o presente da outrora pérola do oriente, pelo olhar de uma “meia-nativa”, “meia-alienígena”. Fernando Pessoa e Florbela Espanca, de Portugal, ou Cecília Meireles, Gonçalves Dias e Vinicius de Moraes, do Brasil onde nasceu, figuram entre os poetas predilectos de Sellma Luanny que tem “sensações mistas” relativamente ao lançamento do primeiro livro. “É uma mistura de ansiedade com expectativa e felicidade”. A obra “Poemas Matizados”, com a chancela da Livros do Oriente, é lançada hoje pelas 18h30 na Fundação Rui Cunha. A apresentação fica a cargo de Shee Va.
Hoje Macau EventosLivros | Lobo Antunes e Carmen Miranda para os mais novos [dropcap]E[/dropcap]ntre as novidades literárias deste ano da Imprensa Nacional Casa da Moeda para 2018 estão as biografias ilustradas do escritor António Lobo Antunes e da artista Carmen Miranda, assim como um livro informativo sobre a águia-imperial-ibérica. De acordo com o plano editorial divulgado, na colecção “Grandes Vidas Portuguesas” sairá uma biografia sobre António Lobo Antunes, escrita por Jorge Reis-Sá e ilustrada por Nicolau. Quanto à biografia de Carmen Miranda, é assinada por Tito Couto e ilustrada por Sofia Neto. As biografias do General Humberto Delgado é da autoria de José Jorge Letria, com ilustração a cargo de Richard Câmara. Está também planeada, apesar de ainda não ter data de publicação, uma biografia em moldes semelhantes sobre Mário Soares. À agência Lusa, o director de arte e coeditor das obras, André Letria, explicou que está prevista ainda a edição de livros informativos sobre a águia-imperial-ibérica, com texto de Carla Maia de Almeida e ilustração de Susa Monteiro, e sobre exemplos de etnografia portuguesa, dos caretos ao bordado de Castelo Branco, da autoria da antropóloga Vera Alves e da ilustradora Carolina Celas. Desde 2014, a Imprensa Nacional tem investido na edição de livros para a infância e juventude, com grande destaque para a vertente visual. “É uma forma de trabalhar com autores diferentes e prestar um serviço público com estes temas e estes ilustradores”, explicou André Letria, ilustrador, autor e editor. O plano editorial para 2018 incluirá ainda um livro sobre a Biblioteca Nacional, escrito por Luísa Ducla Soares, ainda sem ilustrador definido, e outro de Pedro Vieira e André Letria, com histórias sobre o Diário da República, cuja origem, com outra designação, remonta ao século XIX. A colecção infanto-juvenil da Imprensa Nacional reúne quase duas dezenas de títulos, a maioria já recomendada pelo Plano Nacional de Leitura.
Diana do Mar EventosFAM | Cartaz assinala bicentenário do nascimento de Karl Marx Foi ontem apresentado o cartaz do Festival de Artes de Macau (FAM) que vai decorrer entre 27 de Abril e 31 de Maio. Do teatro, à música, passando pela dança, a programação deste ano tem um pouco de tudo. Os bilhetes vão ser postos à venda a partir do próximo Domingo É com a peça de teatro “Das Kapital”, uma nova versão do clássico de Karl Marx, que abre o pano do XXIX Festival de Artes de Macau (FAM). O espectáculo, levado à cena pelo Centro de Artes Dramáticas de Xangai, foi escolhido para assinalar o bicentenário do nascimento do filósofo alemão. A peça contem “elementos próprios de Macau, ilustrando as duas faces do capital, com recurso ao humor negro.” O cartaz do FAM deste ano, apresentado ontem pelo Instituto Cultural (IC), é subordinado ao tema “origem”, como simbolismo de “fonte de vida” e apresenta 26 propostas de uma dezena de países e territórios, incluindo Reino Unido, Portugal, Alemanha, Israel, Japão ou Coreia do Sul, num total de mais de 100 eventos. O FAM abre com teatro e fecha com dança. “13 Línguas” foi o espectáculo escolhido para o encerramento. Originalmente uma encomenda do Festival Internacional de Artes de Taiwan de 2016, “13 Línguas” chega este ano ao público de Macau pelas mãos da companhia Cloud Gate 2. Entre os principais destaques do cartaz figuram “Mulheres de Tróia”, uma peça do mestre de teatro contemporâneo Tadashi Suzuki que mostra a miséria e a desolação do Japão no pós-guerra, bem como a adaptação d’ “O Processo”, a obra clássica de Franz Kafka, apresentada pela companhia sul-coreana Sadari Movement Laboratory. No mesmo domínio artístico, sobressai a “Acompanhante”, obra de Eisa Jocson, uma coreógrafa e bailarina das Filipinas, que explora o corpo feminino e a política de género. A companhia Subject_to Change, do Reino Unido, apresenta o premiado “Lar Doce Lar”, desafiando os participantes a construir casas em cartão e a edificar uma cidade. Outras propostas incluem uma adaptação da obra “A Noite Antes da Floresta”, do famoso dramaturgo francês Bernard-Marie Koltès, apresentada pela Associação de Arte Teatral Dirks, em colaboração com uma encenadora irlandesa e a sua equipa internacional de actores; ou a co-produção “Júlia Irritada”, baseada na peça do dramaturgo sueco August Strindberg e representada, com um toque sarcástico, por actores de Macau e Singapura, que foi, aliás, um encomenda do FAM ao grupo de Singapura Nine Years Theatre. Estaleiros e Migrantes em foco Com Macau como pano de fundo, destaque para duas peças de teatro: “Pôr-do-Sol nos Estaleiros”, uma proposta da Dream Theater Association, que conta a história da indústria de construção naval do território, e “Migrações”, criada pelo Teatro Experimental que tem como protagonistas trabalhadores indonésios. Há também, como é habitual, Teatro em Patuá, com o Grupo de Teatro Dóci Papiáçam di Macau a apresentar este ano “Qui di Tacho?” (Que é do Tacho?), à boleia da recente designação de Macau como “cidade gastronómica”, para ver nos dias 19 e 20 de Maio. O teatro tem, de resto, lugar de relevo, em diferentes formatos: há teatro físico, por via do “Rua Vandenbranden, 32”, do conceituado grupo belga Peeping Tom; teatro-dança e instalação em “Murmúrio de Paisagem”, a cargo da Associação de Artes e Cultura Comuna de Pedra. De Portugal, chega “Parasomnia”, teatro imersivo com recurso a instalações de imagens e sons de Patrícia Portela que se baseou no ensaio incompleto “Sobre o sono, o despertar e a ausência de sonhos”, da autoria de Acácio Nobre. Ao programa do FAM junta-se ainda a nova produção da coreógrafa local Tracy Wong, “As Franjas Curiosas – Explosão da Caverna”, que combina dança, artes visuais e instalação. “Esponja”, da companhia “Turned On Its Head” (Reino Unido) e “Quando Tudo Era Verde”, da The Key Theatre (Israel) entram na secção dos programas para a toda a família, a par com “À Procura da Memória”, da associação artística local Cai Fora, e a “Mostra de Espectáculos Ao Ar Livre”, que junta uma série de grupos, entre os quais a Casa de Portugal. O FAM também revisita, como sempre, os clássicos das artes tradicionais: “O Sonho da Câmara Vermelha”, peça de ópera cantonense clássica, é uma das principais sugestões, a par com a “Mostra de Clássicos Chineses Quyi”, que apresenta os destaques dos últimos 200 anos da história da arte Quyi de Guangdong através de canções narrativas naamyam e da percussão baatyam. O cartaz inclui ainda dois concertos (um do maestro escandinavo Henning Kraggerud e a Orquestra de Macau; e outro, de Fado, que junta o maestro Liu Sha e a Orquestra Chinesa de Macau) e uma exposição dedicada a Marc Chagall, um dos principais nomes do Modernismo. “O Festival de Artes de Macau está mais diversificado e mais em contacto com a realidade, tendo expandido a escala do público-alvo, intensificando mais produções locais, manifestando ainda um papel mais relevante na cooperação e intercâmbio artístico, bem como na formação de talentos locais”, afirmou a presidente do IC, Mok Ian Ian. O FAM conta com um orçamento de 22 milhões de patacas, menos três por cento relativamente à edição anterior. No entanto, Mok Ian Ian desvalorizou o corte. “Para aderir à política de utilização racional dos recursos financeiros, assumimos uma atitude prudente na gestão. Não obstante, a qualidade não será influenciada”. Paralelamente ao festival propriamente dito decorre uma série de actividades, como ‘workshops’, palestras com artistas ou projecções de filmes. Ambos os programas encontram-se disponíveis em www.icm.gov.mo/fam
Andreia Sofia Silva EventosYang Yankang retrata o budismo tibetano em Lisboa [dropcap style=’circle’] D [/dropcap] esde o passado dia 1 de Março que a Galeria Fidelidade Chiado 8, em Lisboa, acolhe a exposição de fotografia de Yang Yankang, intitulada “Espelhos de Alma”. A curadoria é do advogado e fotógrafo João Miguel Barros, que fala de uma obra que revela uma grande dimensão de religiosidade Depois de ter levado o trabalho de Lu Nan a Portugal, João Miguel Barros voltou a apostar num outro fotógrafo chinês que, pela primeira vez, expõe em Lisboa e que promete mostrar aos portugueses as facetas do budismo tibetano. A exposição “Espelhos de Alma” estará patente até ao dia 4 de Maio na Galeria Fidelidade Chiado 8, em Lisboa. Depois de ter levado o trabalho de Lu Nan a Portugal, João Miguel Barros voltou a apostar num outro fotógrafo chinês que, pela primeira vez, expõe em Lisboa e que promete mostrar aos portugueses as facetas do budismo tibetano. A exposição “Espelhos de Alma” estará patente até ao dia 4 de Maio na Galeria Fidelidade Chiado 8, em Lisboa. A mostra reúne 40 fotografias a preto e branco, “ampliadas analogicamente e que estão centradas no budismo tibetano”, explicou João Miguel Barros ao HM. As imagens “retratam diversos aspectos do quotidiano dos monges tibetanos, na sua fé e nos seus tempos livres. Mostram, ainda, aspectos vários de peregrinos nas suas viagens espirituais”. Na visão do curador, Yang Yankang “é um fotógrafo fantástico, com uma visão orientada para o culto e a fé”. “Refiro genericamente o culto, e não apenas na fé budista, porque ele tem um outro trabalho de grande fôlego centrado no Catolicismo na China, que espero ter a oportunidade de ajudar a divulgar”, acrescentou. João Miguel Barros não tem dúvidas de que “a arte chinesa tem tido um crescendo de aceitação no ocidente, se bem que em Portugal, ao contrário de outros países europeus, não esteja nos lugares cimeiros de maior valorização”. Abertura mútua Em Portugal há ainda muitas ideias feitas em relação ao que é considerado arte chinesa. “Pensa-se quase sempre na porcelana ou nas pinturas a tinta da china, muita dela seguindo as mesmas técnicas e estruturas narrativas dos clássicos. Mas não é essa a que eu me refiro. Estou a pensar na arte contemporânea chinesa quer seja a pintura, a escultura, as instalações e, particularmente no que mais me interessa, a fotografia”, esclarece o curador e fotógrafo. “A arte contemporânea chinesa começou o seu processo de afirmação em décadas mais recentes, fruto da política de abertura das autoridades chinesas nos anos 70 do século passado, e que tem vindo a ter uma expressão enorme junto do público”, acrescenta. No que diz respeito à fotografia contemporânea, “teve um nascimento mais tardio e não é ainda a forma de expressão artística mais significativa”. João Miguel Barros garante que a mostra de Lu Nan “teve maior repercussão em Portugal, no sentido da sensibilização para a importância da fotografia chinesa”. “O Espelho da Alma” Uma conversa entre o artista Yang Yankang e o curador João Miguel Barros Quando começou a fazer fotografia de forma continuada e profissional? Comecei a entender fotografia através da revista “Fotografia Moderna”, em 1985, em Shenzhen, e tornei-me fotógrafo profissional em 1992. Nos seus primeiros tempos como fotógrafo quais eram os objectivos que ambicionava concretizar? Eram já projectos relacionados com a fé e a religião? Nessa altura queria apenas tirar as melhores fotografias; eu não tinha ambição nem objectivos a longo prazo. Através do sentimento e experiência adquiridos durante a minha jornada na fotografia, encontrei pessoas e motivos religiosos, que gradualmente fortaleceram a minha própria convicção. Ao obter alguns resultados, decidi concentrar-me em fotografar as 3 religiões principais. Utilizo a fotografia para interpretar a vida e o espírito de pessoas religiosas e, ao mesmo tempo, encontrar a minha própria fé. Quem o influenciou nos seus primeiros trabalhos? No início, fui influenciado por fotógrafos chineses como Hou Dengke, Hu Wugong, Pan Ke e outros grupos de Shaanxi. Com a abertura da fotografia na China, fui fortemente influenciado por fotógrafos de países estrangeiros, como Sebastião Salgado, Marc Riboud, Diane Arbus, Sally Mann. E depois? Há algum nome que considere ser um mestre e que se tenha mantido ao longo dos anos como fonte importante de inspiração para o seu trabalho? Nas minhas fotografias posteriores, considero Josef Koudelka e Sebastião Salgado os fotógrafos mestres, que continuam a ser fontes importantes de inspiração para o meu trabalho e que me conduziram para a maturidade e profissionalismo. A sua opção é pela fotografia a preto e branco. Porquê? A fotografia a preto e branco é uma maneira directa de ilustrar o tema, não estando sujeita à tentação de interferências das cores. As imagens a preto e branco são tradicionais, clássicas, mas cheias de encanto, mostrando a realidade do que está a ser capturado pela imagem. Acha que a cor é menos rigorosa para os objectivos que pretende alcançar? Sim, a imagem a cores não é capaz de expressar o meu tema religioso. Transformei as cores das objectivas numa emoção subjectiva e numa visão única. Utilizo a fotografia a preto e branco para alcançar os meus objectivos, para expressar com precisão os meus pensamentos. Já registou o modo como as comunidades católicas expressaram a sua fé no interior da China. No trabalho que agora expõe em Lisboa, centra-se no Budismo e no Tibete. E o projecto que está neste momento a desenvolver é sobre as comunidades chinesas que professam a religião islâmica. Porquê essa opção? Os Chineses não têm fé, não existe um conceito tradicional de crenças religiosas, as pessoas entendem a gratidão, o temor, não vão contra a moralidade. A fé permite que as pessoas conheçam o amor e o carinho. Depois de me confrontar com o catolicismo, budismo tibetano e o islamismo na China, fiquei profundamente tocado pela fé. Eu também me converti ao catolicismo e ao budismo tibetano, sou uma pessoa de duas religiões. Com fé, tenho a coragem de acreditar, mas também explorar profundamente e fotografar imagens íntimas. Capturá-los em fotografia é como capturar a minha própria vida religiosa. Isso toca-me a mim, como toca os outros. É um homem religioso? Sou uma pessoa de duas religiões. Qualquer crença é humana, cheia de amor. A nossa alma é como um copo, podemos enchê-lo com café, chá ou água. Afinal, trata-se de uma alma. Uma forte crença conduz a uma fé forte. Qual é a sua fé? Em que é que acredita? Já respondi a isso na pergunta anterior. Mas a fotografia também é a minha fé. Utilizo a fotografia para expressar a humanidade, para expressar amor, louvar a rectidão, louvar a bondade! E repreender a maldade. O seu trabalho está centrado numa forte dose de espiritualidade. A espiritualidade e a fé são momentos individuais. Essa opção pode levar a pensar que se interessa menos, enquanto objecto do seu trabalho, pelas dinâmicas sociais e pelas relações materiais entre as pessoas. É uma opção deliberada? As minhas fotografias focam-se mais na espiritualidade da vida religiosa; é uma forma de fotografia espiritual. Entre o material e o espiritual, eu escolheria o espiritual. É perigoso se as pessoas gananciosas não forem conduzidas espiritualmente no mundo material. O que é uma sociedade? Qual é a dinâmica social? Qualquer sociedade civilizada necessita de ter fé. A fé direcciona a alma para se aperfeiçoar. Quanto mais desenvolvida a sociedade e mais dinâmica é, mais precisamos do consolo e do calor da fé. Quando eu estava a fotografar a vida religiosa no Tibete, foi o brilho da tranquilidade e a calma que a sociedade chinesa necessita ver e sentir. Estas são as imagens poéticas que procuro. As suas fotografias demonstram uma enorme relação entre a natureza, a fé e o sagrado. Qual é o seu método de trabalho para captar estes momentos de tanta intimidade? Na importante relação entre a natureza e a fé religiosa, misturo-me na vida pessoal das pessoas religiosas com respeito e crença para registar e capturar os momentos. Fico com elas e aguardo pacientemente pelos melhores momentos. As pessoas religiosas têm um coração aberto, são muito gentis e amigáveis. Elas também precisam de espalhar a sua fé e fazer com que as pessoas entendam a sua vida religiosa, aproximando-se delas e senti-las. Isso torna a fé um elemento muito vívido e comovedor na natureza. Qual a foi metodologia que utilizou para concretizar o projecto sobre o Budismo e o Tibete? Coloco sangue, suor e lágrimas para capturar o Tibete. Num ano, eu passo 8 meses a tirar fotografias no Tibete. Mantive-me no Tibete durante dez anos. Utilizo filmes tradicionais e a máquina fotográfica Leica para trabalhar. Revelo e escolho as minhas próprias fotografias. Eu ando sozinho, escolho uma imagem entre milhares, e tento apresentar os melhores clássicos! Quanto tempo demorou a concluir o projecto “The Reflections of Soul”? Passei 80 meses em 10 anos para completar “Xin Xiang” (“O Espelho da Alma”). Já agora, porque razão escolheu esse nome para o livro que publicou? A tua aparência reflecte quem realmente és, “Xin Xiang” é o espelho da tua alma, capta-te a ti, e captura os outros. Uso o meu coração, os meus olhos, e para me completar e sentir-me realizado, trago riquezas espirituais valiosas para a sociedade e para as pessoas.
Hoje Macau EventosÓscares: Jimmy Kimmel diz que Hollywood deve ser um exemplo no combate ao assédio [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] apresentador da 90.ª cerimónia dos Óscares, Jimmy Kimmel, disse, no monólogo de entrada, que o combate ao assédio sexual a ocorrer hoje no meio cinematográfico há muito tardava e que Hollywood deve ser um exemplo. Kimmel, que apresenta a cerimónia pelo segundo ano consecutivo, disse que a noite deve ser marcada pela “positividade”, chamando a atenção para o trabalho a ser desenvolvido pelas ativistas de movimentos como o Me Too, Time’s Up e Never Again. “O que aconteceu com o Harvey [Weinstein] e o que está a acontecer por todo o lado era há muito devido. Não podemos continuar a deixar passar o mau comportamento. O mundo está a olhar para nós, precisamos de ser um exemplo”, afirmou o comediante, que recordou que, em Hollywood, se fez um filme chamado “O que as mulheres querem”, protagonizado por Mel Gibson, o que dizia “tudo o que havia a dizer” sobre como o meio encarava as mulheres. Num monólogo em que abordou diversas das polémicas recentes, com direito a menção ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Kimmel afirmou que se se conseguir pôr fim ao assédio sexual no local de trabalho, “então as mulheres só terão de lidar com assédio em todos os outros sítios onde forem”. Harvey Weinstein, já expulso da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que atribui os Óscares, foi afastado da sua produtora em outubro do ano passado, no seguimento de várias denúncias públicas de assédio e abuso sexual por dezenas de mulheres no meio cinematográfico. Dezenas de mulheres, incluindo as atrizes Angelina Jolie, Gwyneth Paltrow, Mira Sorvino, Ashley Judd, Léa Seydoux, Asia Argento e Salma Hayek denunciaram uma série de episódios diferentes, que vão desde presumíveis comportamentos sexuais abusivos a acusações de violação por parte do produtor Harvey Weinstein, galardoado com um Óscar pela produção de “A Paixão de Shakespeare” (1998). Desde que foi divulgado o caso, vários escândalos relacionados com acusações de assédio, agressão sexual e até mesmo de violação foram denunciados em vários países do mundo.