Relatório | Portugal atractivo para investir. China atenta

Portugal é um país atractivo para se investir no desenvolvimento de infra-estruturas e a China está atenta a projectos e eventuais contratos na área dos transportes e do ambiente, segundo um relatório ontem divulgado em Macau.

Em Portugal, “o transporte e o ambiente (por exemplo, saneamento) estão a ganhar tracção, com contratos que valem mais de 600 milhões de dólares, assinados em 2021”, pode ler-se no relatório sobre o ‘ranking’ de 2022 do Índice de Desenvolvimento de Infraestruturas “Uma Faixa, Uma Rota”, a iniciativa lançada pelo Presidente chinês, Xi Jinping, que envolve 71 países no plano estratégico internacional de Pequim de desenvolver ligações marítimas, rodoviárias e ferroviárias, mas também investimento em recursos energéticos.

Portugal é, precisamente, entre os países lusófonos, na perspectiva do relatório chinês, aquele que aparece com a melhor pontuação no sub-índice de desenvolvimento associado ao ambiente, que agrega factores políticos, económicos, soberania, factores de impacto no mercado, bem como os cenários empresariais e industriais.

Mais valias

No documento – em que Portugal também lidera entre os países lusófonos no sub-índice relacionado com os custos, operacionais e de financiamento, salienta-se o crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) no país e conclui-se que “as condições económicas são sólidas para os sectores associados à área de infraestruturas”, numa referência que se estende igualmente a Cabo Verde e Moçambique.

No mesmo documento ressalva-se que, tanto no Brasil como em Portugal, as instalações de produção de energia estão em melhor estado, mas sublinha-se a tendência de investimento nas energias renováveis neste período de transição energética.

No índice global avalia-se factores como o ambiente, a procura, a receptividade e custos para o desenvolvimento de infraestruturas nos países incluídos na iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”. Quanto mais alta é a pontuação no índice, melhor é a perspectiva da indústria de infra-estruturas de um país, e maior é o grau de atractividade para as empresas se empenharem no investimento, construção e operações nesta área naqueles territórios.

O documento foi apresentado no Fórum Internacional sobre o Investimento e Construção de Infra-estruturas.
Na inauguração do evento, o adjunto do Ministro do Comércio da China, Li Fei, informou que o país investiu este ano no estrangeiro 178,8 mil milhões de dólares.

29 Set 2022

Ucrânia | China pede respeito à “integridade territorial de todos os países”

O embaixador chinês nas Nações Unidas (ONU) pediu ontem, perante o Conselho de Segurança, respeito pela “integridade territorial de todos os países”, numa reunião sobre os referendos de anexação levados a cabo pela Rússia na Ucrânia.

“A China tomou nota dos últimos desenvolvimentos da situação na Ucrânia” e “a nossa posição” é “clara e consistente, ou seja, que a soberania e a integridade territorial de todos os países devem ser respeitadas”, disse Zhang Jun, num momento em que Pequim é acusado pelo ocidente de complacência face à invasão russa da Ucrânia.

A posição da China foi registada numa reunião do Conselho de Segurança para abordar as crescentes tensões resultantes da decisão de Moscovo de mobilizar parcialmente as reservas do exército e realizar referendos para anexação dos territórios ucranianos ocupados.

Na semana passada, à margem da Assembleia-Geral das Nações Unidas, os chefes da diplomacia chinesa e ucraniana já se haviam encontrado e Pequim já havia pedido respeito pela “integridade territorial de todos os países”.

Contudo, no encontro de ontem, Zhang Jun afirmou que o isolamento e as sanções à Rússia só “levarão a um beco sem saída”. Na reunião, a embaixadora norte-americana na ONU, Linda Thomas-Greenfield apresentou uma resolução condenando a Rússia pela realização dos referendos.

“A Rússia começou esta guerra, e espero que cada membro deste Conselho faça a coisa certa ao defender o direito internacional e a Carta da ONU, pedindo à Rússia que acabe com isso agora “, disse a embaixadora.

“É por isso que apresentaremos uma resolução condenando estes falsos referendos, apelando aos Estados-Membros para que não reconheçam qualquer alteração do estatuto da Ucrânia e obrigando a Rússia a retirar as suas tropas da Ucrânia. Os falsos referendos da Rússia, se aceites, abrirão uma caixa de Pandora que não podemos fechar. Pedimos que se juntem a nós para reafirmar o nosso compromisso com a Carta da ONU e enfrentar esse desafio de frente”, apelou Thomas-Greenfield.

Espera-se que a resolução, apresentada juntamente com a Albânia, seja amplamente simbólica, uma vez que a Rússia quase certamente a bloqueará, uma vez que tem poder de veto como membro permanente do Conselho de Segurança.

Contudo, a embaixadora norte-americana frisou que tentará levar a votação à Assembleia-Geral da ONU caso a Rússia “escolha blindar-se da sua responsabilização”.

“A Rússia realiza referendos simulados, em áreas controladas pelos militares russos e seus representantes, coagindo as pessoas a ‘votar’ sob a mira de armas. Em seguida, usa esses referendos para tentar dar uma aparência de legitimidade às suas tentativas de anexação do território de outro Estado soberano. A pressa para a Rússia instituir e concluir essas tentativas de anexação destrói até mesmo a fachada de legitimidade”, avaliou a norte-americana.

Por sua vez, o representante permanente da Rússia na ONU, Vasily Nebenzya, disse que os referendos foram realizados “de forma totalmente transparente e respeitando todos os padrões internacionais”, negando as acusações de intimidação dos eleitores.

O diplomata acrescentou ainda que havia uma centena de observadores internacionais de mais de 40 países, que se “surpreenderam com o entusiasmo dos eleitores”, e questionou o motivo de os meios de comunicação ocidentais não terem mostrado essa perspetiva, nem se terem preocupado em entrevistar essa população.

Embora os referendos tenham significado uma nova reviravolta no conflito ucraniano, as posições não mudaram muito na ONU: os países latino-americanos, como o Brasil ou o México, e países africanos ou árabes expressaram as suas críticas, mas sem se juntarem aos duros posicionamentos ocidentais e fazendo apelos bastante genéricos à negociação.

Tal como fez o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, no sábado passado, o embaixador Nebenzya também se dirigiu aos países em desenvolvimento, exortando-os a não seguir cegamente os Estados Unidos.

“Para os países em desenvolvimento eu digo: não se enganem, o objetivo do ocidente não é outro senão que a Rússia desmorone”, disse Nebenzya, que também detalhou supostas pressões sobre países europeus – citando Itália, Hungria e Sérvia – para se distanciar da Rússia e apertar as suas sanções contra Moscovo.

Na reunião, também a ONU deixou claro que não reconhecerá o resultado dos referendos, enquanto o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que participou por videoconferência, pediu um isolamento da Rússia em todas as organizações internacionais.

As autoridades pró-Rússia nas regiões ucranianas de Zaporijia, Kherson e Lugansk reivindicaram uma vitória do “sim” à anexação pela Rússia, estando ainda a aguardar-se pelos resultados da quarta região ucraniana ocupada pela Federação Russa. No passado, em 2014, a Rússia já havia usado o resultado de um referendo realizado sob ocupação militar para legitimar a anexação da península ucraniana da Crimeia, no Mar Negro.

28 Set 2022

Tóquio | Funeral de Estado de Shinzo Abe marcado por protestos

O líder japonês assassinado em Julho, Shinzo Abe, foi sepultado ontem num funeral de Estado com honras militares, numa cerimónia acompanhada por apoiantes mas contestada pela oposição que se manifestou nas ruas de Tóquio.

Na cerimónia oficial esteve presente a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, o príncipe Akishino do Japão e outros dignitários japoneses e estrangeiros. O funeral começou com a viúva, Akie Abe, vestida com um quimono tradicional negro junto à urna de madeira com as cinzas do ex-primeiro-ministro decorada com fitas douradas e púrpuras.

Os soldados, com uniforme de gala branco, transportaram depois as cinzas para um pedestal decorado com a banda militar a tocar o hino nacional (Kimigayo) antes de ser observado um minuto de silêncio.

Foi exibido um filme com imagens que retratam Abe como político, incluindo um famoso discurso parlamentar de 2006, como primeiro-ministro, as visitas que efectuou às zonas afectadas pelo tsunami de 2011 e outros momentos políticos e sociais, como a promoção dos Jogos Olímpicos de Tóquio/2020.

Ontem, a cidade de Tóquio manteve-se sob fortes medidas de segurança durante a cerimónia oficial sobretudo na zona onde decorreu o funeral de Estado perto do centro de artes marcial Budokan.

Contrastando com a cerimónia de Estado, foram organizadas manifestações de protesto no centro de Tóquio, que tentaram alcançar a zona onde decorria o funeral com cartazes que demonstravam oposição. “Shinzo Abe não fez absolutamente nada”, disse à Associated Press (AP), Kaoru Mano, um manifestante presente no protesto.

Os principais partidos da oposição boicotaram as cerimónias fúnebres oficiais, criticando os organizadores por estarem a promover “o nacionalismo” e os valores “imperialistas” de antes da Segunda Guerra Mundial.

O facto de o funeral de Estado ter sido decidido e organizado sem que o assunto tivesse sido debatido no Parlamento reforçou as críticas da oposição.

Dinheiro sujo

O primeiro-ministro Kishida foi igualmente criticado em virtude da controvérsia que se prolonga há várias décadas sobre as ligações estreitas entre Abe e o Partido Liberal e Democrata com a Igreja da Unificação, instituição acusada de controlar dirigentes políticos através de “donativos”.

O homem que foi acusado de ter assassinado Abe afirmou que levou a cabo o assassinato por causa das ligações de Abe com a Igreja da Unificação.

O autor do crime culpou a igreja de ter “roubado” dinheiro à própria mãe e de lhe “ter corrompido a família”, arruinando-lhe a vida. “As eventuais ligações entre o Partido Liberal e Democrata e a Igreja da Unificação são encaradas pelos japoneses como a maior ameaça à democracia”, escreveu recentemente Jiro Yamaguchi, professor de Política na Universidade Hosei citado pela AP.

O avô de Abe, o ex-primeiro-ministro Nobusuke Kishi, ajudou a Igreja da Unificação, original da Coreia do Sul, a implantar-se no Japão. Para a oposição, o funeral que decorreu ontem prova a relação entre o partido no poder e a igreja.

“O grande problema foi não ter havido um processo de aprovação” (do funeral), disse Shin Watanabe, reformado que se manifestou ontem em Tóquio em protesto contra o funeral de Estado.

28 Set 2022

Cabo Verde | Empresa chinesa volta a fornecer fardamento às Forças Armadas

As Forças Armadas de Cabo Verde vão voltar a comprar fardamento a uma empresa estatal chinesa, por quase 130 mil euros, conforme autorização concedida por despacho da ministra da Defesa, que entrou ontem em vigor. De acordo com o despacho 29/2022, assinado pela ministra da Defesa de Cabo Verde, Janine Lélis, e consultado pela Lusa, em causa está um negócio de 14 milhões de escudos (128 mil euros) a realizar com a empresa estatal chinesa China Xinxing Import and Export, através de um contracto autorizado por ajuste directo.

A mesma empresa, com os mesmos argumentos e por valor semelhante, já tinha sido contratada pelo Governo para o fornecimento de fardamento aos militares cabo-verdianos anteriormente, por falta de empresas certificadas no país.

A empresa chinesa, constituída em 1987, é especializada na produção e desenvolvimento de fardamento e outros equipamentos para forças armadas e policiais em vários países, facturando anualmente mais de 300 milhões de dólares.

No despacho assinado pela ministra da Defesa, autorizando o negócio, é referido que as Forças Armadas de Cabo Verde “têm-se digladiado com problemas na certificação técnica do material” que têm adquirido, devido à “inexistência de instituições capazes de aferir, mesurar e certificar o material adquirido para equipar as tropas”.

Além disso, justifica ainda o despacho sobre este negócio, “os militares cabo-verdianos frequentemente são enviados para o exterior, para efeito de treinamento militar, devendo os mesmos estarem munidos de fardamento de qualidade, internacionalmente certificada”. As Forças Armadas de Cabo Verde contam com um efectivo superior a mais de mil militares no activo.

28 Set 2022

GNE | Lucros das empresas industriais caem 2,1% até Agosto

Os lucros das principais empresas industriais da China registaram uma queda homóloga de 2,1 por cento, entre Janeiro e Agosto, aprofundando a tendência de contracção, segundo dados divulgados ontem pelo Gabinete Nacional de Estatísticas do país.

Em 2021, as empresas industriais chinesas facturaram 34,3 por cento a mais do que no ano anterior. Este valor deve-se, sobretudo, a uma base comparativa baixa, já que no primeiro semestre de 2020 a actividade económica do país foi fortemente abalada por medidas de confinamento, que visaram travar o surto inicial de covid-19, registado na cidade chinesa de Wuhan.

No primeiro trimestre deste ano, o indicador registou uma evolução positiva, de 8,5 por cento, mas nos meses seguintes sofreu contracções assinaláveis, derivadas, sobretudo, dos efeitos adversos dos confinamentos e bloqueios ordenados pelas autoridades, no âmbito da política chinesa de ‘zero casos’ de covid-19.

Para a elaboração deste indicador, o GNE considera apenas as empresas industriais com um volume de negócios anual superior a 20 milhões de yuans. O responsável estatístico da instituição, Zhu Hong, afirmou que, apesar do que descreve como uma “tendência de recuperação”, os lucros das empresas industriais continuam a diminuir, em parte porque os custos de produção e operações “ainda são elevados” e o ambiente internacional é “instável e incerto”.

28 Set 2022

Ásia | Bilionário indiano diz que China corre risco de ficar isolada

A China poderá ficar cada vez mais isolada do resto do mundo e corre riscos semelhantes aos enfrentados pelo Japão, durante a chamada “década perdida” de estagnação nos anos 1990, afirmou ontem o bilionário indiano Gautam Adani.

Num discurso proferido durante a 20.ª edição da Conferência Forbes Global CEO, em Singapura, Adani, o segundo homem mais rico do mundo, disse que o “aumento do nacionalismo, a mitigação de riscos nas cadeias de fornecimento e as restrições tecnológicas” vão provavelmente afectar a ligação entre a China e outras economias.

A iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, que deveria ser uma demonstração das ambições globais de Pequim, está também a enfrentar crescente resistência, aumentando os desafios para o país asiático, argumentou.

Lançado pelo Presidente chinês, Xi Jinping, este plano internacional de infraestruturas inclui a construção de ligações ferroviárias, autoestradas, aeroportos e zonas de comércio livre, visando abrir novas rotas comerciais em regiões pouco integradas na economia global, incluindo Leste Asiático, Ásia Central ou África.

Uma crise de dívidas soberanas nos países em desenvolvimento e o encerramento das fronteiras da China, no âmbito da política de ‘zero covid’, no entanto, estão a frustrar os planos de Pequim. “Antecipo que a China – que era vista como a principal beneficiadora da globalização – se vai sentir cada vez mais isolada”, notou.

Apesar do pessimismo em relação à China, o magnata indiano disse acreditar que as economias globais em geral se vão reajustar e recuperar a longo prazo.

28 Set 2022

Banco Mundial | China passa para factor de desaceleração económica na Ásia

A política de zero-casos levada a cabo no país e a fragilidade do sector imobiliário continuam a travar o crescimento económico chinês

 

A economia chinesa deverá crescer este ano 2,8 por cento, abaixo da média de 5,3 por cento dos países da Ásia – Pacífico, estimou ontem o Banco Mundial, à medida que a política ‘zero covid’ trava décadas de trepidante crescimento da China.

Num relatório, o Banco Mundial (BM) reviu em baixa a sua previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da China de “entre 4 por cento e 5 por cento” para 2,8 por cento.

Devido à desaceleração da economia do país, a entidade reduziu também as previsões de crescimento para a região da Ásia – Pacífico, para 3,2 por cento. Porém, excluindo a China (o relatório inclui Leste Asiático, Sudeste Asiático e as ilhas do Pacífico), a região deve crescer 5,3 por cento.

Os principais indicadores económicos da China apontavam para um bom ano. Em Março passado, as autoridades estabeleceram uma meta de crescimento de 5,5 por cento para 2022, acima das expectativas de muitos analistas.
Mas, no segundo trimestre, o isolamento de Xangai, a “capital” financeira do país, e de importantes cidades industriais como Changchun e Cantão, no âmbito da política de ‘zero casos’ de covid-19, tiveram forte impacto nos sectores serviços, manufactureiro e logístico.

O exemplo mais destacado é a evolução do PIB chinês, que passou de um crescimento homólogo de 4,8 por cento, no primeiro trimestre, para apenas 0,4 por cento, no segundo. A comparação trimestral revelou uma contração de 2,6 por cento.

Outros indicadores de grande importância para a economia chinesa também foram afectados, como o que mede a produção industrial (-2,9 por cento), ou actividade da indústria manufactureira, que sofreu contrações em cinco dos últimos seis meses.

Outro factor citado pelo relatório do Banco Mundial, é a “fraqueza” do sector imobiliário, cada vez mais asfixiado desde 2020 devido às limitações impostas por Pequim a muitas construtoras no acesso ao crédito.

Segundo dados da consultora CRIC, as vendas das 100 principais imobiliárias do país caíram 32,9 por cento, em termos homólogos, em Agosto. A agência de ‘rating’ Moody’s prevê que a procura continue a cair ao longo dos próximos 12 meses.

Em alta

O abrandamento da economia chinesa gerou novos protagonistas na região, como o Vietname, que deverá crescer 7,2 por cento em 2022, segundo o Banco Mundial. A Indonésia surge também em destaque, com o PIB a subir 5,1 por cento.

“A maior fonte de crescimento na região foi o levantamento das restrições impostas para combater a pandemia da covid-19”, disse Aaditaya Mattoo, economista-chefe do Banco Mundial para o Leste Asiático e o Pacífico, no relatório.

A variante Ómicron da covid-19 obrigou as autoridades chinesas a impor medidas de confinamento extremas, para salvaguardar a estratégia de ‘zero casos’, assumida como um triunfo político pelo secretário-geral do Partido Comunista Chinês, Xi Jinping, apesar dos crescentes custos económicos e sociais.

28 Set 2022

Xinjiang e a luta contra o terrorismo. Que estratégia perfilhar?

De 1990 até 2016, foram inúmeros e bárbaros os atentados terroristas no Xinjiang e um pouco por toda a China, levados a cabo por extremistas islâmicos. Como procederam os chineses para erradicar os que pretendiam separar a região do país e fundar um estado teocrático?

 

Os anos 90 do século passado assistiram ao surgimento, organizado globalmente, do extremismo e terrorismo de inspiração islâmica, mas que não encontrou eco na maior parte dos muçulmanos, nem dos seus líderes espirituais.

A leitura wahabita do Corão, em grande parte seguida e defendida por teóricos originários da Arábia Saudita (mas não só), impunha uma visão radical do Islão, que propunha um califado universal teocrático, no qual se levaria ao limite a imposição de uma versão radical da sharia (lei islâmica) através de normas como a proibição da música e da dança, a separação de homens e mulheres — que seriam forçadas a cobrir na totalidade o seu corpo pelo uso da burka e seriam consideradas como cidadãs de segunda, sem quaisquer tipo de liberdades que não lhes fossem concedidas pelos elementos do sexo masculino das suas famílias —, a educação das crianças unicamente através de Corão e dos haddits, entre outras medidas radicais, que reflectem o carácter extremista e medieval deste tipo de práticas e pensamento.

Pior ainda: para estes extremistas era fundamental matar os que apelidavam de “infiéis” e “traidores”, ou seja, os que não seguiam a religião muçulmana e os que, seguindo essa religião, não adoptavam a sua versão “correcta” do islamismo.

E foi precisamente nesses anos 90 que começaram a surgir ataques terroristas organizados um pouco por todo o mundo, sob a bandeira da Al-Qaeda e outras, sendo os mais conhecidos e falados nos media internacionais os que visavam alvos americanos e europeus. Todos nos lembramos dos atentados no Quénia, em Londres, em Madrid e, sobretudo, nas Torres Gémeas em Nova Iorque, no ano de 2001.

Milhares de ataques, milhares de vítimas

Contudo, a tentativa de criação de regiões sob a bandeira do “califado” e o espalhar do terror não se limitaram a alvos do chamado Ocidente. Os extremistas propuseram igualmente como alvos regiões a Oriente, sobretudo aquelas onde existia uma maioria muçulmana. Assim, a Região Autónoma do Xinjiang, no Oeste da China, tornou-se um dos seus locais favoritos, aproveitando o facto de ali existir uma extensa comunidade islâmica, maioritariamente constituída por uigures. Para o Xinjiang foram então enviados de outros países inúmeros “pregadores” e “soldados”, com o objectivo confesso de radicalizar os seus habitantes e ensiná-los a lutar pelo extremismo e pelo separatismo.

E, de facto, estes elementos terroristas foram relativamente bem-sucedidos, na medida em que, de 1990 a 2016, ocorreram centenas, talvez milhares de ataques terroristas naquela região e por toda a China, uma dimensão hoje ignorada e até escamoteada pela maior parte dos medias ocidentais que, graças a diversas manipulações, crêem ver nessa jihad uma luta pela conservação da identidade e cultura do povo uigur, quando na realidade esta extensa etnia de mais de 11 milhões nunca professara uma versão radical e extremista do Islão. Objectivo último dos terroristas: a criação de um novo estado, separado da China, a que chamavam Turquestão Oriental.

Apesar de nunca terem conseguido doutrinar a esmagadora maioria dos uigures, ainda assim, as ideias extremistas conseguiram arrebanhar algumas centenas de indivíduos, dispostos a matar e a morrer. A lista de atentados é horrífica, bárbara e impressionante, geralmente dirigida a civis inocentes, como a colocação de bombas em autocarros, o esfaqueamento desenfreado de passantes, o assassinato de condutores de camionetas que depois eram dirigidas contra multidões nas ruas das cidades. Não se pense, no entanto, que estes actos terroristas se limitaram à região do Xinjiang e suas cidades, como Urumqi ou Kashgar, pois eles ocorreram um pouco por toda a China, de Pequim a Cantão, passando por Kunming, no Yunnan.

Os terroristas, porém, não se limitavam a atacar cidadãos chineses de origem han. Alguns dos principais alvos foram também líderes religiosos muçulmanos, de etnia uigur e outras, que não alinhavam com o radicalismo e o extremismo, nem estavam de acordo com a jihad ou o separatismo, como foi o caso, ainda durante os anos 90, do imã da Grande Mesquita de Yecheng, vários membros de associações islâmicas, geralmente esfaqueados por grupos de fanáticos. Ocorreram também mais 40 atentados bombistas em locais repletos de gente como centros comerciais e mercados, hotéis, etc., bem como tentativas de captura de aviões que, fracassadas, se resumiam ao detonar de bombas nos aeroportos. Também um grande número de instituições governamentais foi, durante todo este período, alvo dos ataques terroristas, tendo resultado na maior de polícias e outros agentes das autoridades.

Em Urumqi, capital de Xinjiang e cidade-mártir do terrorismo, tivemos a oportunidade de visitar um espaço onde estão documentados estes atentados, a sua barbárie e o desrespeito pela vida humana que os animava. Não foram uma dezena ou centena, mas muitos mais, numa dimensão insuspeita mesmo para quem conhece de perto a China, e que se estenderam quase por três décadas, provocando milhares de mortos e feridos, a destruição de lojas, casas, apartamentos e milhares de veículos.

Duas estratégias diferentes

Logo, a pergunta que imediatamente se impõe é: por que razão demorou o estado chinês tanto tempo a parar estes terroristas e acabar com os ataques?

Os Estados Unidos, por exemplo, adoptaram uma estratégia de resposta rápida, invadindo os países onde os terroristas encontravam refúgio, como o Afeganistão e a Somália, e no caminho deu-se também a invasão ilegal do Iraque, reprimindo a comunidade islâmica no seu país, não se importando de violar as suas próprias leis, com a criação do campo de concentração de Guantánamo, em Cuba, onde ainda hoje permanecem indivíduos nunca julgados ou sequer acusados. São também conhecidos os famosos “black spots” (locais secretos em vários países), onde se praticam actos contrários à legislação americana como as detenções por mera suspeita e a tortura. Na sequência dos ataques ao World Trade Center, os EUA aprovaram igualmente o Patriot Act, que permitia às forças da ordem um alcance policial, que alguns condenaram por entenderem que não respeitava os direitos civis e a privacidade dos cidadãos. Mas, com estas acções, os EUA conseguiram realmente reduzir as capacidades logísticas das forças terroristas e evitar um grande número de atentados por elas planeados.

Já a estratégia chinesa revelou-se diferente, também porque no seu próprio país o terrorismo e a radicalização atingiram uma dimensão muito maior. Questionado pelo HM, um dirigente em Urumqi explicou que se trata de uma estratégia de longo prazo, que passa por uma intervenção social de modo a desradicalizar alguns desses elementos, sobretudo os mais jovens, e pela elevação do nível de vida das populações, especialmente nas áreas rurais, de modo a atenuar uma eventual e natural insatisfação, numa região que demorou a acompanhar a evolução económica que acontecia noutras regiões da China.

Severidade e compaixão

“Xinjiang adoptou uma política que balança entre a severidade e a compaixão. Os líderes e os principais membros dos grupos terroristas, que organizam, planeiam e implementam crimes violentos são severamente punidos, de acordo com a lei. Contudo, os que confessam e se mostram arrependidos, tal como jovens iludidos pelo discurso extremista, ou quem ajuda a combater esses crimes, embora neles tenha de alguma forma participado, são tratados com leniência com o objectivo de os reformar”, concluiu o dirigente em conversa com o HM.

Assim, segundo os números fornecidos por oficiais em Xinjiang, desde 2014, as autoridades destruíram cerca de 1500 grupos, prenderam cerca de 12 mil terroristas, apreenderam mais de dois mil artefactos bombistas e puniram cerca de 30 mil pessoas por actividades religiosas ilegais, confiscando igualmente centenas de milhares de cópias de propaganda extremista. É preciso considerar que a população uigur atinge 11,6 milhões de pessoas (45% de uma região com um total de 25,85 milhões), cuja esmagadora maioria rejeita o islamismo radical, o separatismo e a teocracia.

No entanto, o grosso da actividade governamental tem sido, segundo os oficiais, dirigida à prevenção e à desradicalização, tentando “combater o problema na sua origem”. As medidas incluem “a melhoria das condições de vida, a promoção do conhecimento da lei através da educação e o estabelecimento de centros de treino vocacional”.

Ainda segundo os documentos oficiais, foram criados novos postos de trabalho que permitiram tirar da pobreza extrema milhões de pessoas de zonas rurais, implementados 9 anos de educação compulsiva, melhorada a saúde pública e o sistema de segurança social.

A China tem igualmente, há muito tempo, uma política de discriminação positiva para as minorias étnicas que passa por nunca ter sido imposta a política de “um só filho” (entretanto abandonada) e pela facilitação de entrada nas universidades do país. Foi também criado um Instituto de Estudos Islâmicos onde são formados os futuros imãs que, actualmente, é frequentado por cerca de 400 alunos.

Orgulho na diversidade

“Não quisemos nunca destruir a identidade do povo uigur, que faz parte há muitos séculos do mosaico de culturas da China, que se orgulha da sua diversidade”, explicou um oficial ao HM. “Por isso, adoptámos uma política de combate ao terrorismo e ao extremismo a longo prazo, o que talvez tenha, pela sua leniência, sido a causa de terem passado tantos anos até termos conseguido acabar com os ataques”. De facto, desde 2016, que a situação no Xinjiang acalmou e não aconteceram mais atentados, ali ou noutros lugares da China.

A intensificação das acções terroristas, já no século XXI, encontra-se também relacionada com a dispersão de elementos do Estado Islâmico (EI), na sequência da guerra na Síria, onde, enquanto opositores ao regime laico de Bashar al-Assad, dispuseram e dispõem de um paradoxal auxílio americano e só foram derrotados (parcialmente) depois da Síria ter pedido ajuda militar à Rússia e graças à coragem do povo curdo, entretanto abandonados pelos seus aliados de ocasião estadunidenses.

Entretanto, a cessação dos atentados terroristas tem permitido ao governo chinês implementar diversas medidas no sentido de proporcionar à população do Xinjiang uma significativa melhoria das suas condições de vida e fomentar de modo sério a sua ligação com o resto do país, através da construção de inúmeras vias de comunicação, estradas e ferrovias, e com o exterior permitindo àquela região reassumir o seu papel de ponto nevrálgico da Nova Rota da Seda, ou seja, de escoamento de produtos de e para a Eurásia.

Mais recentemente, os Estados Unidos e os seus aliados têm feito do Xinjiang um “dano colateral” na sua investida anti-China, albergando alguns dos elementos terroristas fugidos do país, destinando 500 milhões de dólares para a promoção de desinformação sobre a China e financiando o aparecimento de organizações alegadamente defensoras da identidade uigur que acusam a China de vários abusos, entre os quais o genocídio dessa minoria étnica e a destruição da sua cultura.

Contudo, basta ver os números para constatar que, ao invés de ter diminuído, pelo contrário todos os anos a população uigur tem aumentado, o que por si só torna ridícula e abstrusa a acusação, e revela como leviana e grotesca a acusação de genocídio, ofendendo aqueles povos que, de uma forma ou de outra, sofreram realmente experiências genocidiárias, como os judeus durante a II Guerra Mundial, ou as populações ameríndias na América do Norte, durante e após a colonização.

Entretanto, Xinjiang prossegue o seu plano de desenvolvimento económico e social que passa, inclusivamente, pela protecção das culturas e das identidades das minorias, na medida em que essas culturas e identidades constituem uma riqueza imaterial fundamental para a prossecução desse desenvolvimento. Esta atitude de preservar as identidades das minorias e, inclusivamente, fazer dessas identidades pólos de desenvolvimento turístico, deita por terra as acusações de etnocídio (destruição cultural), algo que pode facilmente ser constatado no terreno.

* O Hoje Macau deslocou-se a Xinjiang a convite do Comissariado do Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China

27 Set 2022

Seca no centro da China agrava-se com precipitação média a cair 50% desde Julho

O Observatório Meteorológico Central da China emitiu hoje um alerta amarelo de seca, depois de os níveis de precipitação na bacia do rio Yangtsé, no centro do país, terem caído quase 50 por cento, em termos homólogos, desde julho passado.

Em algumas áreas das províncias de Hunan, Hubei, Jiangxi e Anhui, a precipitação média entre julho e setembro caiu até 80%, em comparação com o mesmo período de 2021, segundo a mesma fonte.

O Observatório também alertou para um aumento das temperaturas no centro do país, que esta semana podem chegar aos 37 graus, e para “alto risco” de incêndios florestais.

No último fim de semana, a seca atingiu níveis “moderados, severos ou extremos” em doze províncias localizadas a sul do Yangtsé, o rio mais longo da China.

O curso principal do Yangtsé está atualmente 4,56 metros abaixo do nível registado há um ano. O nível da água no Lago Poyang, o maior lago de água doce da China, localizado na província de Jiangxi, sofreu uma redução homóloga de 7,72 metros. O Poyang atingiu na sexta-feira o nível mais baixo desde que há registos.

Nos últimos dias, o Governo central enviou uma equipa de fiscalização do Centro Nacional de Comando para a Prevenção de Secas e Inundações para as áreas mais afetadas pela seca, onde recomendou que a prioridade deve ser “prevenir secas de longo prazo” e garantir o “abastecimento de água potável” e a “estabilidade da colheita de outono”.

Durante o verão, a seca levou a fenómenos inusitados, como pessoas em Chongqing (centro) a atravessar de motocicleta o rio Jialing, cujo leito ficou exposto devido à queda do nível da água, ou a descoberta de esculturas budistas de 600 anos até então cobertas pela água.

As altas temperaturas registadas também fizeram com que províncias dependentes de energia hidroelétrica, como Sichuan (centro), restringissem o uso de energia a algumas indústrias. O Governo central alertou para uma “séria ameaça” à colheita de outono.

O meteorologista local Chen Lijuan explicou recentemente que os períodos de calor intenso, que começam “mais cedo e terminam mais tarde”, podem tornar-se o “novo normal” no país asiático, sob o “efeito das mudanças climáticas”.

26 Set 2022

Ucrânia | Japão proíbe exportação de armas químicas para a Rússia

O Governo do Japão aprovou hoje um novo pacote de sanções devido à invasão russa da Ucrânia, incluindo a proibição da exportação para a Rússia de partes e produtos relacionados com armas químicas.

O Ministério da Economia, Comércio e Indústria japonês anunciou num comunicado a expansão das sanções que já incluíam mais de 20 organizações associadas à indústria de defesa da Rússia.

“Para contribuir com os esforços internacionais, o executivo do Japão aprovou na segunda-feira a proibição de exportações para organizações específicas da Federação Russa”, referiu o comunicado.

O novo pacote de sanções abrange a empresa de construção civil Moselektronproyekt, a associação de pesquisa e produção Etalon, e o Instituto Alikhanov de Física Teórica e Experimental do Centro Nacional de Pesquisa Kurchatov, avançou a agência noticiosa russa TASS.

Também hoje, o porta-voz do governo japonês expressou grande preocupação com o possível uso de armas de destruição em massa pela Rússia contra a Ucrânia.

“Como o único país do mundo que sofreu ataques nucleares, exigimos fortemente que a ameaça ou o uso de armas nucleares pela Rússia nunca aconteça”, disse Hirokazu Matsuno, numa conferência de imprensa.

Em 17 de setembro, o Presidente dos Estado Unidos, Joe Biden, avisou o seu homólogo russo, Vladimir Putin, de que haverá consequências se a Rússia usar armas nucleares ou químicas na Ucrânia.

Numa entrevista ao programa “60 Minutos” da CBS, Joe Biden disse que haveria “consequências” e que os russos “se tornariam os maiores párias que o mundo já viu”. “A resposta dependerá da extensão do que eles fizerem”, avisou o líder democrata dos EUA.

O Japão tem vindo a impor sanções à Rússia, proibindo as importações de vários materiais e produtos deste país e congelando os bens de alguns cidadãos russos, incluindo os do primeiro-ministro, Mikhail Mishustin.

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de quase 13 milhões de pessoas – mais de seis milhões de deslocados internos e quase sete milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

A invasão russa – justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções em todos os setores, da banca à energia e ao desporto.

A ONU apresentou como confirmados 5.587 civis mortos e 7.890 feridos, sublinhando que os números reais são muito superiores e só serão conhecidos no final do conflito.

26 Set 2022

Coreia do Sul diz que Coreia do Norte testou míssil em direção ao mar

Os militares da Coreia do Sul dizem que a Coreia do Norte disparou hoje pelo menos um míssil balístico não identificado em direção ao seu mar oriental. O Estado-Maior Conjunto da Coreia do Sul não disse imediatamente que tipo de míssil era ou quão longe voou.

O lançamento ocorreu um dia depois de as autoridades sul-coreanas terem detetado sinais de que a Coreia do Norte estava a preparar-se para testar um míssil projectado para ser disparado de submarinos.

A Coreia do Norte acelerou as suas atividades de testes para um ritmo recorde em 2022, testando mais de 30 armas balísticas, incluindo os seus primeiros mísseis balísticos intercontinentais desde 2017, enquanto continua a expandir as suas capacidades militares, no meio de um impasse prolongado na diplomacia nuclear.

O lançamento ocorreu quando o porta-aviões nuclear USS Ronald Reagan e o seu grupo de ataque chegaram à Coreia do Sul para o exercício militar conjunto dos dois países para mostrar a sua força contra as crescentes ameaças norte-coreanas.

A ameaça norte-coreana também deverá estar na agenda da vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, quando esta visitar a Coreia do Sul na próxima semana, depois de participar no funeral, em Tóquio, do ex-primeiro-ministro japonês Shinzo Abe.

25 Set 2022

Antigo diplomata de Myanmar pede ao Japão para não legitimar junta militar em funeral de Abe

Um diplomata birmanês demitido pela junta militar de Myanmar, pela oposição ao golpe de Estado, criticou a decisão do Japão de incluir o atual embaixador birmanês entre os convidados para o funeral de Shinzo Abe.

Aung Soe Moe, um dos diplomatas autorizados a permanecer no Japão pelo governo japonês depois de ter sido afastado da embaixada de Myanmar (antiga Birmânia) no ano passado, disse que permitir a presença do embaixador Soe Han, juntamente com outros dignitários, no funeral de Estado do antigo primeiro-ministro nipónico, morto a tiro durante um comício eleitoral a 08 de julho, vai servir para legitimar a junta militar.

“O que os generais querem é o reconhecimento oficial do regime pela comunidade internacional” e, ao mesmo tempo, tornar o golpe de fevereiro de 2021 “um facto consumado”, disse Aung Soe Moe, de 53 anos, em conferência de imprensa, citado pela agência de notícias japonesa Kyodo.

O antigo diplomata referiu, como exemplo, a decisão do Reino Unido de não permitir a participação de qualquer delegação birmanesa no funeral da rainha Isabel II e afirmou que o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, devia tomar uma posição semelhante contra a junta.

“O Japão não convidou Min Aung Hlaing [líder da junta], mas isso não fará muita diferença, se o governo de Kishida permitir que o embaixador nomeado pela junta participe” no funeral de Estado, argumentou Aung Soe Moe.

Entre os dignitários estrangeiros que confirmaram a presença no funeral de Abe, na terça-feira, incluem-se a vice-Presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, e o primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese.

Desde que foi expulso do Ministério dos Negócios Estrangeiros birmanês por se juntar ao movimento de desobediência civil contra a junta, Aung Soe Moe, primeiro secretário da embaixada birmanesa em Tóquio aquando do golpe militar, tem estado ativo no Japão pela restauração da democracia em Myanmar.

A comunidade birmanesa pró-democracia no Japão disse também não compreender o convite para o funeral do antigo primeiro-ministro japonês Shinzo Abe de um representante de um regime que está a reprimir violentamente os opositores, e pediu que a decisão seja reconsiderada.

Desde que a líder Aung San Suu Kyi e outros responsáveis democraticamente eleitos foram afastados do poder, a 01 de fevereiro de 2021, a junta matou mais de duas mil pessoas, deixou cerca de 974 mil deslocados e quase 12 mil pessoas foram arbitrariamente detidas e muitas torturadas, de acordo com dados da ONU.

O Japão condenou o golpe e instou a junta a inverter o seu curso, mas Tóquio não reconheceu o chamado “governo de unidade nacional” de Myanmar, formado em abril do ano passado, por representantes que se opunham à junta militar.

25 Set 2022

Hong Kong | Secretário das Finanças fala em recessão económica no final do ano

Hong Kong deverá terminar o ano em recessão, previu ontem o secretário das Finanças da região chinesa, cuja economia está a ser afectada pelas restrições ligadas à covid–19 e pelo aumento das taxas de juros.
“Há uma elevada probabilidade de que Hong Kong tenha um crescimento negativo do PIB este ano”, disse Paul Chan, em conferência de imprensa.

O território anunciou ontem uma subida em 0,75 pontos percentuais da principal taxa de juro de referência, para 3,5 por cento “uma taxa não vista em três décadas”, lembrou o dirigente.

O dólar de Hong Kong está indexado ao dólar norte-americano, obrigando assim a Autoridade Monetária de Hong Kong (HKMA, na sigla em inglês) a seguir o aumento anunciado na quarta-feira pela Reserva Federal norte-americana.

“As pessoas devem estar preparadas para que as taxas interbancárias do dólar de Hong Kong subam ainda mais”, avisou ontem o presidente executivo da HKMA, Eddie Yue Wai-man.

A subida da taxa de juro ocorre num momento em que a economia da região administrativa especial chinesa está já em “recessão técnica”, após registar um declínio no PIB durante os primeiros dois trimestres do ano.

Danos colaterais

Outrora um centro de transportes e logística asiático, Hong Kong ficou isolada do mundo durante mais de dois anos devido às políticas anti-pandémicas, de acordo com a estratégia de zero casos da China.

A partir de 12 de Agosto, Hong Kong passou a permitir aos viajantes permanecer em quarentena durante três dias num hotel designado, e depois submeterem-se a quatro dias de vigilância médica.

Paul Chan disse mostrou-se favorável a facilitar a entrada de pessoas vindas do estrangeiro, para promover um maior investimento, pois as pessoas estão mais cautelosas num ambiente de altas taxas de juros.

No domingo, o secretário das Finanças tinha previsto que o défice orçamental da cidade chegará este ano a 100 mil milhões de dólares de Hong Kong, o dobro das estimativas iniciais.

Depois do anúncio da subida das taxas de juro, a bolsa de valores de Hong Kong negociou em baixa, com o principal índice, o Hang Seng, a cair 1,96 por cento até às 15:45. O Hang Seng perdeu mais de 22 por cento do seu valor este ano, depois de já ter caído 14 por cento em 2021.

22 Set 2022

MNE chinês e português reúnem-se à margem da sessão da Assembleia Geral da ONU

Os dois ministros concordaram que, apesar da difícil conjuntura internacional, Portugal e a China souberam manter a amizade e as boas relações, sobretudo económicas. Segundo deixaram entender, o melhor ainda estará para vir

 

O Conselheiro de Estado chinês e Ministro dos Negócios Estrangeiros Wang Yi encontrou-se com o seu homólogo português, João Gomes Cravinho, na quarta-feira à margem da 77ª sessão da Assembleia Geral da ONU em curso.

Notando que “o povo chinês tem sentimentos amigáveis para com o povo português”, Wang disse que a relação China-Portugal resistiu ao teste das mudanças da paisagem internacional e alcançou um desenvolvimento sólido com base no entendimento mútuo e na confiança mútua.

“Os dois países avançaram na sua cooperação prática enquanto superavam o impacto da pandemia da COVID-19”, disse Wang, acrescentando que as exportações de produtos agrícolas e alimentares portugueses para a China estão a crescer rapidamente, e que a cooperação entre as grandes empresas de ambos os lados e a cooperação tripartida está a progredir sem problemas. “Tanto a China como Portugal estão empenhados na prática de um verdadeiro multilateralismo”, disse.

“Face às turbulências e transformações da situação internacional, a China está disposta a trabalhar com Portugal para defender conjuntamente o papel central da ONU nos assuntos internacionais, e promover a causa da paz humana, do desenvolvimento e do progresso”, afirmou ainda o MNE chinês.

Wang disse que Portugal, como membro importante da UE, tem desempenhado um papel positivo e construtivo nos intercâmbios China-UE: “A China espera compreensão mútua, apreciação mútua, coexistência pacífica e aprendizagem mútua com países europeus, incluindo Portugal, bem como respeito pelo caminho de desenvolvimento uns dos outros escolhido com base no seu respectivo legado histórico e cultural”.

Wang manifestou também a expectativa de que a UE adopte uma atitude objectiva, racional e imparcial e se mantenha fiel à corrente dominante da cooperação China-UE, de modo a obter resultados vantajosos para ambas as partes.

Pela sua parte, João Cravinho disse que os intercâmbios amigáveis entre Portugal e a China duraram séculos, e a cooperação prática bilateral em vários domínios desenvolveu-se rapidamente. “As empresas portuguesas têm um forte interesse em investir na China”, afirmou.

“A China desempenha um papel crítico na abordagem de desafios comuns, tais como a salvaguarda da paz e da segurança, e no combate às alterações climáticas. O lado português aprecia o papel positivo da China nos assuntos internacionais, e está pronto para manter intercâmbios de alto nível e promover diálogos estratégicos com o lado chinês”, acrescentou o ministro português.

“Portugal concorda com a diversidade de civilizações, apelando ao reforço da compreensão mútua através de um diálogo aberto e franco para criar uma atmosfera favorável à cooperação Portugal-China e UE-China”, conclui Cravinho.

As duas partes falaram muito da transferência suave de Macau através de negociações amigáveis entre os países, que criaram um destaque na cooperação, e comprometeram-se a aumentar conjuntamente o apoio à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

Chamando efectiva a prática de “um país, dois sistemas” em Macau, Cravinho disse esperar que “Macau continue a actuar como ponte para facilitar a cooperação Portugal-China”.

Os dois lados também trocaram pontos de vista sobre a questão da Ucrânia. Wang informou sobre a posição básica da China de promover conversações de paz e sobre o papel construtivo que tem desempenhado.

22 Set 2022

Filipinas consideram banir casinos virtuais chineses face a “custo social”

As autoridades filipinas anunciaram hoje que estão a considerar banir casinos virtuais, focados no mercado chinês, após uma recente onda de sequestros e crimes ligados às suas atividades.

O ministro das Finanças do país, Benjamin Diokno, apontou que os custos sociais superam as receitas tributárias geradas por aquelas empresas. O presidente do Senado, Juan Miguel Zubiri, indicou que o órgão legislativo do país está a estudar o assunto.

“Estamos à espera de um relatório (…) antes de tomar a decisão final”, disse Zubiri, em conferência de imprensa, referindo-se a um projeto de lei apresentado na segunda-feira, com o objetivo de banir ou penalizar o jogo ‘online’.

O senador disse concordar com o ministro sobre o “custo social” derivado das empresas, que incluem atividades criminosas como a lavagem de dinheiro, extorsão e até assassinatos.

Estas entidades, conhecidas como POGOs (Philippine Offshore Gaming Operators), são legais no arquipélago desde que o ex-presidente Rodrigo Duterte ascendeu ao poder, em 2016, e permitem que o público chinês jogue póquer ou roleta virtuais, que são atividades ilegais na China.

A polícia filipina resgatou, na semana passada, 43 cidadãos chineses na cidade de Angeles, no norte, que trabalhavam para um casino virtual. Entre janeiro e setembro de 2022, quinze dos 27 casos de sequestro nas Filipinas estiveram relacionados com a atividade dos POGOs, de acordo com dados divulgados pela polícia filipina.

As autoridades filipinas, que já abriram uma comissão do Senado em 2020 para investigar atividades ilícitas relacionadas a essas entidades, agora estão a avaliar se devem encerrar as empresas de forma permanentemente.

A senadora Imee Marcos, irmã do Presidente filipino, revelou no domingo que Ferdinand Marcos é, em princípio, “favorável” ao encerramento.

22 Set 2022

Ucrânia | China apela a cessar-fogo após Moscovo anunciar mobilização parcial

A China apelou ontem ao diálogo e a que se apoie “qualquer esforço” que permita um cessar-fogo na Ucrânia, depois de o Presidente russo, Vladimir Putin, ter anunciado uma mobilização parcial. “Todos os esforços que levem a uma solução pacífica desta crise devem ser apoiados”, afirmou o porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Wenbin, em conferência de imprensa.

O porta-voz assegurou que a posição da China sobre o conflito “sempre foi clara e não mudou”. Esta passa por “respeitar a integridade territorial de todos os países”, incluindo a Ucrânia e, ao mesmo tempo, atentar para as “legítimas preocupações de segurança” da Rússia.

Pequim declarou repetidamente a sua oposição às sanções contra Moscovo por “não terem base no Direito internacional” e “não resolverem os problemas”.

Putin e o homólogo chinês, Xi Jinping, encontraram-se na quinta-feira passada na cidade uzbeque de Samarcanda, na véspera da cimeira da Organização de Cooperação de Xangai, liderada pela China e pela Rússia.

No início da reunião, Putin apreciou o facto de Pequim sempre ter mantido “uma posição equilibrada” sobre a Ucrânia, embora tenha admitido “perguntas e preocupações” por parte do líder chinês. Xi assegurou que está disposto a trabalhar com a Rússia para “prestar apoio mútuo” em assuntos relativos aos seus respectivos “interesses fundamentais”.

22 Set 2022

Ásia 2022 | Economias emergentes vão crescer mais que a China

O crescimento da economia chinesa em 2022 será superado pelos países em desenvolvimento da Ásia, pela primeira vez em 30 anos, disse ontem o Banco Asiático de Desenvolvimento. Num relatório, o banco prevê que a economia da China cresça 3,3 por cento este ano, uma revisão em baixa da previsão de 5 por cento feita em Abril, devido às políticas implementadas por Pequim para combater surtos de covid-19.

O Banco Asiático de Desenvolvimento (ADB, na sigla em inglês), cuja sede fica na capital das Filipinas, Manila, reviu também em baixa a previsão para o crescimento da economia chinesa para 2023, de 4,8 por cento para 4,3 por cento.

A China, a segunda maior economia do mundo e o principal motor económico da Ásia, verá o seu crescimento superado por países emergentes, como Índia (7 por cento), Filipinas (6,5 por cento), Vietname (6,5 por cento), Paquistão (6 por cento), Malásia (6 por cento) e Indonésia (5,4 por cento).

As causas

Ao abrigo da estratégia de “zero casos” de covid-19, a China tem apostado na testagem em massa da população e em confinamentos para evitar a propagação de casos de Ómicron, a variante dominante do novo coronavírus, considerada muito contagiosa. Essas medidas, juntamente com o aperto das políticas monetárias da maioria dos bancos centrais mundiais para combater a inflação e os efeitos económicos da guerra na Ucrânia, irão afectar o crescimento da China, previu o ADB.

“O crescimento na China enfrenta desafios vindos dos confinamentos recorrentes e de um fraco sector imobiliário”, disse o economista-sénior do banco Albert Park, num comunicado. Um especialista para a China do ADB Hao Zhang disse que os confinamentos decretados por Pequim “reduziram drasticamente” o crescimento, embora espere uma recuperação na segunda metade do ano, “com a melhoria dos serviços e da procura de casas”.

Park advertiu que “os riscos estão à espreita” para os países em desenvolvimento da Ásia, porque “uma desaceleração significativa na economia global prejudicará gravemente a procura pelas exportações da região”. “Um ajuste monetário mais forte do que o esperado nas economias desenvolvidas poderá levar a uma instabilidade financeira”, disse.

O ADB previu ainda que a inflação na China atinja 2,3 por cento, enquanto nas economias em desenvolvimento da Ásia atingirá uma média de 4,5 por cento.

22 Set 2022

Hong Kong | Pró-colonialista acusado de sedição

A polícia de Hong Kong anunciou a detenção, por alegada sedição, de um homem que prestava homenagem à rainha Isabel II junto ao consulado britânico no território chinês. Num comunicado divulgado na terça-feira, a polícia confirmou que o homem de 43 anos foi detido, perto do consulado, para investigação por suspeita de “ter cometido um acto com intenção sediciosa”, sem fornecer mais pormenores.

A imprensa local noticiou que, na segunda-feira, o homem estava a tocar música numa harmónica, incluindo o hino britânico e “Glória a Hong Kong”, uma canção de índole colonialista.

Tanto a canção como os slogans são considerados pelas autoridades chinesas como uma violação da lei de segurança nacional, imposta por Pequim em 2019, numa tentativa de acabar com a dissidência pública. O crime de sedição, ou insurreição, inscrito na lei ainda durante a administração britânica de Hong Kong, acarreta uma pena de até dois anos de prisão.

Figuras públicas em Hong Kong estão a ser escrutinadas sobre a sua resposta à morte da rainha, e a atrair críticas se forem vistas como demasiado admiradoras do seu reinado ou do domínio britânico em geral.

Nas redes sociais chinesas choveram críticas ao veterano actor e cantor de ópera chinesa Law Kar-ying por este ter publicado uma fotografia no exterior do consulado britânico no Instagram com uma legenda que inclui a frase: “Hong Kong foi uma terra abençoada sob o seu reinado”.

Criticado duramente por atribuir a prosperidade de Hong Kong ao domínio britânico, Law apagou a publicação e divulgou um vídeo de desculpas na rede social Weibo. “Eu sou chinês e amarei para sempre a minha pátria”. Sinto muito”, escreveu.

22 Set 2022

MNE | Wang Yi encontrou-se com Henry Kissinger

Washington está “errada” na sua percepção da China e não deveria vê-la como rival, disse Wang Yi, quer considera Kissinger como um “bom amigo do povo chinês”

 

Uma Guerra Fria entre a China e os EUA seria um “desastre” para ambos os países e para o mundo inteiro, disse o Ministro dos Negócios Estrangeiros Wang Yi, após encontro com o antigo Secretário de Estado dos EUA Henry Kissinger. Durante o seu encontro em Nova Iorque, Wang Yi descreveu Kissinger, que desempenhou um papel vital na normalização das relações entre Washington e Pequim nos anos 70, como um “bom amigo do povo chinês”.

Contudo, o diplomata mais graduado de Pequim advertiu que “um surto de uma nova Guerra Fria será um desastre para a China e os EUA, bem como para outras partes do mundo”, exortando Washington a adoptar uma política racional e pragmática em relação à China.

Segundo o ministro, Washington poderia fazê-lo honrando o seu anterior reconhecimento da posição da China de que Taiwan faz parte do seu território ao abrigo da política “Uma só China”. Wang Yi disse que a recente visita da Presidente da Câmara dos EUA Nancy Pelosi à ilha foi prejudicial para as relações Sino-EUA, tal como o US Congress Taiwan Policy Act 2022. Este último documento, que foi apoiado pela Comissão de Relações Externas do Senado dos EUA, tem como objectivo fornecer a Taipé milhares de milhões de dólares em ajuda à segurança.

Wang prosseguiu dizendo que os EUA têm “uma percepção errada da China”, encarando-a como “o seu rival mais proeminente e um desafiante a longo prazo”. “Algumas pessoas descreveram mesmo histórias de sucesso de intercâmbios China-EUA como sendo histórias fracassadas”. Ao fazê-lo, não respeitam nem a história nem a si próprios”, lê-se na declaração.

A reunificação pacífica com Taiwan é o “melhor desejo da China”, disse Wang, acrescentando que Pequim fará o seu melhor para alcançar este fim. Ele disse, no entanto, que quanto mais “desenfreadas” forem as actividades para a independência de Taiwan, “menos provável” será que a questão possa ser resolvida pacificamente.

Os seus comentários surgiram depois do Presidente dos EUA Joe Biden ter dito no domingo que as tropas americanas defenderiam Taiwan se a ilha fosse atacada pela China. Esta declaração provocou o repúdio de Pequim, que disse que “deplora e se opõe firmemente” a tal posição.

Kissinger adverte Biden

O Presidente dos EUA Joe Biden deveria demonstrar alguma “flexibilidade nixoniana” e tratar a China com paciência, disse o antigo Secretário de Estado Henry Kissinger à Bloomberg. O estadista disse que embora Washington devesse trabalhar para conter a influência de Pequim, isto “não pode ser alcançado através de um confronto permanente”.

Falando à Bloomberg numa entrevista publicada na quarta-feira, Kissinger argumentou que “Biden e as administrações anteriores foram demasiado influenciadas pelos aspectos internos da visão da China” e, na sua pressa em opor-se ao crescente poder, riqueza e influência de Pequim, não conseguiram apreender “a permanência da China”.

Como Secretário de Estado do Presidente Richard Nixon, Kissinger defendeu um compromisso diplomático com a China para impedir o seu alinhamento com a União Soviética durante a Guerra Fria. Anos de proximidade culminaram numa visita de Nixon a Pequim em 1972, após a qual a China abriu a sua economia ao Ocidente, abrindo o caminho para a ascensão do país ao estatuto de superpotência.

Trump e Biden na mesma pauta

Enquanto Kissinger pode ter facilitado a ascensão da China ao poder, as administrações Trump e Biden procuraram contrariar esta ascensão. Trump acusou Pequim de práticas comerciais desleais e impôs tarifas rígidas às importações chinesas, enquanto os militares listaram “o desafio [da China] no Indo-Pacífico” como a sua prioridade número um, uma classificação que permanece inalterada sob Biden.

Biden também manteve em vigor muitas das tarifas do seu antecessor, e formou o pacto de segurança AUKUS com o Reino Unido e a Austrália e os Parceiros no Acordo do Pacífico Azul (PBP) com o Japão, Austrália, Nova Zelândia e Reino Unido. Ambas as alianças – AUKUS, um pacto de segurança formal, e o PBP, um acordo mais informal – têm como objectivo combater a influência chinesa na região Indo-Pacífico.

Biden disse no domingo que os EUA interviriam militarmente se a China invadisse Taiwan. Seja deliberada ou acidental, a sua declaração rompeu com a política “Uma só China” da Casa Branca, um comunicado de 1972 redigido pelo Departamento de Estado de Kissinger que reconhece, mas não subscreve, a soberania da China sobre a ilha.

Embora os comentários de Biden tenham sido minimizados por funcionários da Casa Branca e do Departamento de Estado, mereceram-lhe uma reprimenda de Kissinger, que numa entrevista na reunião anual do Fórum Económico Mundial na estância suíça de Davos afirmou que “Taiwan não pode ser o centro das negociações entre a China e os Estados Unidos”.

“A questão de Taiwan não vai desaparecer”, continuou Kissinger. “Como tema directo de confronto, é obrigado a conduzir a uma situação que pode sofrer uma mutação no campo militar, o que é contra o interesse mundial e contra o interesse a longo prazo da China e dos Estados Unidos”.

“É claro que é importante impedir a hegemonia chinesa ou de qualquer outro país”, acrescentou Kissinger nos seus comentários à Bloomberg. Contudo, ele advertiu “isso não é algo que possa ser alcançado através de confrontos intermináveis”.

22 Set 2022

Pessoas com mais de 60 anos representarão 30% da população chinesa em 2035

A sociedade chinesa entrou num acelerado processo de envelhecimento, alertaram ontem as autoridades de saúde do país asiático, prevendo que, em 2035, cerca de 30 por cento da população da China terá mais de 60 anos. A sociedade chinesa está num estágio de “envelhecimento severo”, afirmou Wang Haidong, director do Departamento de Envelhecimento da Comissão Nacional de Saúde, em conferência de imprensa.

Wang estimou que, até ao final de 2025, cerca de 300 milhões de chineses, ou 20 por cento da população do país, tenham mais de 60 anos. A proporção deve aumentar para 30 por cento, ou 400 milhões de pessoas, até 2035. O funcionário apontou ainda para as disparidades geográficas da população envelhecida, que é “mais numerosa nas áreas urbanas”, mas “representa uma proporção maior” nas áreas rurais.

Em 2021, já existiam 10 jurisdições a nível provincial onde a população com mais de 60 anos representava pelo menos 20 por cento dos residentes. Essas áreas estão localizadas principalmente no nordeste e centro do país.

O envelhecimento da população da China apresenta vários “desafios para a prestação de serviços públicos e para a sustentabilidade da seguridade social”, alertou Wang. O especialista previu que o “grau de dependência dos idosos atingirá o seu nível máximo por volta do ano de 2050”.

Medidas insuficientes

As autoridades declararam, em Julho passado, que o número de habitantes da China, o país mais populoso do mundo, entrará em “crescimento negativo” antes de 2025. Durante mais de 30 anos, a China aplicou rígidos controlos de natalidade, ao abrigo da política “um casal, um filho”. Apesar de as autoridades terem abolido a política de filho único, em 2016, permitindo até três crianças por casal, os nascimentos continuaram a diminuir nos últimos cinco anos.

A taxa de natalidade da China caiu, no ano passado, para 7,52 nascimentos por 1.000 pessoas, a menor desde que os registos começaram em 1949, segundo o Gabinete Nacional de Estatísticas chinês. O maior custo de vida e propensão para famílias menores estão entre os motivos citados para o declínio no número de nascimentos.

De acordo com o último censo nacional, realizado a cada dez anos e apresentado em Maio de 2021, a China tem cerca de 1.412 milhões de habitantes, embora o envelhecimento e as baixas taxas de natalidade preocupem as autoridades.

20 Set 2022

BPC | País mantém taxa de juros de referência em 3,65 por cento

O Banco Popular da China (banco central) anunciou ontem que irá manter a taxa de juros de referência em 3,65 por cento, após ter realizado um corte de cinco pontos base há um mês. Na actualização mensal, a instituição indicou que a taxa de referência para empréstimos (LPR, na sigla em inglês) se vai manter no nível actual até pelo menos daqui a um mês.

Este indicador, estabelecido como referência para as taxas de juros em 2019, é usado para definir o preço de novos empréstimos – geralmente para empresas – e empréstimos com juros variáveis que estão pendentes de reembolso.

O cálculo é realizado com base nas contribuições para os preços de uma série de bancos – incluindo pequenos credores que tendem a ter custos de financiamento mais altos e maior exposição a crédito malparado -, e visa reduzir os custos de empréstimos e apoiar a “economia real”. A LPR a cinco anos ou mais – referência para o crédito à habitação – também não se alterou, mantendo-se em 4,3 por cento, depois de ter sofrido também um corte no mês passado, neste caso de 15 pontos base.

O banco central chinês atende, assim, às previsões dos analistas, que antecipavam que não haveria alterações nas principais taxas de juros da China após os cortes anunciados em Agosto.

20 Set 2022

Biotecnologia | Empresa chinesa clona espécime de lobo ártico

Uma empresa chinesa de biotecnologia clonou com sucesso um espécime de lobo ártico, um animal classificado pela União Internacional para a Conservação da Natureza como espécie ameaçada, informou ontem a imprensa local.

A clonagem, resultado de dois anos de pesquisa, foi anunciada pela empresa Sinogene Biotechnology, cem dias após o animal ter nascido. O lobo, chamado “Maya”, está bem de saúde, num laboratório da empresa, na província de Jiangsu, no leste do país, de acordo com os responsáveis pelo projeto, citados pela imprensa chinesa.

A célula doadora foi obtida a partir de uma amostra de pele de uma loba do ártico de origem canadiana. O óvulo veio de uma cadela, cuja raça não foi especificada, e a gestação foi desenvolvida por outra cadela, de raça Beagle, explicou o vice-diretor da Sinogene, Zhao Jianping.

Os cientistas implantaram um total de 85 embriões no útero de sete cadelas Beagle, disse Zhao, acrescentando que a escolha de um cão para gestar o clone se deve às semelhanças genéticas entre as duas espécies.

Segundo o director da empresa, Mi Jidong, este é o primeiro caso no mundo de clonagem de um lobo ártico.
“Maya” vai ser, mais tarde, transferida para Harbon Polarland, um parque temático na província de Heilongjiang (nordeste).

A Sinogene também anunciou que está a planear um acordo com o Parque de Vida Selvagem de Pequim, para continuar a pesquisar a aplicação de tecnologia de clonagem na criação e conservação de animais selvagens sob ameaça de extinção.

20 Set 2022

Diplomacia | Rússia coloca aproximação à China como prioridade

No rescaldo da cimeira que juntou Putin e Xi em Samarcanda, o Kremlin apela ao reforço da cooperação entre os dois países

 

Um alto funcionário de segurança russo disse ontem, durante uma visita à China, que o Kremlin colocou com um dos seus principais objectivos políticos fortalecer as relações com Pequim. Nikolai Patrushev, secretário do Conselho de Segurança Nacional, descreveu o “fortalecimento da parceria abrangente e da cooperação estratégica com Pequim como uma prioridade incondicional da política externa da Rússia”.

Patrushev – que é uma das figuras mais próximas do Presidente russo, Vladimir Putin – falava durante uma reunião com Guo Shengkun, um alto funcionário do Partido Comunista da China, a quem transmitiu a mensagem de que os dois países “devem mostrar uma prontidão ainda maior para o apoio mútuo e o desenvolvimento da cooperação, nas actuais circunstâncias”.

Num comunicado, o gabinete de Patrushev disse que China e Rússia concordaram em “expandir as trocas de informações sobre o combate ao extremismo e tentativas estrangeiras de minar a ordem constitucional”.

As autoridades chinesas e russas também sublinharam também a necessidade de expandir a cooperação em segurança cibernética, bem como de fortalecer os contactos entre as suas agências de luta contra o terrorismo.

Preocupações chinesas

A reunião de ontem aconteceu uma semana depois de Putin ter conversado presencialmente com o seu homólogo chinês, Xi Jinping, no Uzbequistão, na primeira cimeira entre os dois países desde que o líder russo decidiu invadir a Ucrânia.

Uma declaração do Governo chinês emitida após a cimeira não mencionou especificamente a Ucrânia, mas clarificava que Xi prometeu “forte apoio” aos “interesses centrais” da Rússia.

Nos últimos meses, a China e a Índia aumentaram as importações de petróleo e gás russos, ajudando Moscovo a compensar as sanções ocidentais.

Durante a cimeira com Xi, na quinta-feira passada, Putin elogiou o Presidente chinês por manter uma abordagem “equilibrada” sobre a invasão da Ucrânia e disse estar disponível para discutir as “preocupações” de Pequim sobre este conflito.

20 Set 2022

Tsunami | Alerta levantado após forte sismo no leste de Taiwan

O alerta de tsunami para a costa sudeste de Taiwan, depois de ter sido registado um forte sismo, foi levantado.
O epicentro do sismo, que ocorreu pouco depois das 14:44 locais, estava localizado a cerca de 50 quilómetros a norte da cidade de Taitung, a uma profundidade de dez quilómetros, disse o Instituto de Estudos Geológicos dos Estados Unidos (USGC).

O gabinete de meteorologia de Taiwan disse que o sismo teve uma magnitude de 6,8 na escala de Ritcher. Já o USGC avançou que o sismo teve uma magnitude de 7,2, mas depois baixou este valor para 6,9.

A Agência Meteorológica Japonesa e o Centro de Alerta para Tsunamis do Pacífico emitiram um aviso de tsunami pouco depois do sismo e, algumas horas depois, emitiram uma declaração a dizer que já não havia risco de tsunami.

A Agência Nacional de Bombeiros de Taiwan disse que uma pessoa morreu após ter sido atingida por uma máquina que caiu numa fábrica de cimento, na cidade de Yuli, perto do epicentro.

Segundo o Ministério da Saúde, 79 pessoas procuraram tratamento médico ou foram enviadas para o hospital.
Na cidade de Yuli, um edifício com uma loja de conveniência no rés-do-chão desabou. Vídeos da Agência Central de Notícias de Taiwan mostram residentes em pânico a saírem apressados do edifício enquanto este desabava debaixo de uma espessa nuvem de poeira.

Segundo a administração dos caminhos-de-ferro de Taiwan (TRA), um comboio descarrilou na estação de Hualien, após a queda de um bloco de betão durante o sismo. Fotos publicadas pela agência Taiwanesa mostram seis vagões do comboio inclinados na estação. A TRA, que dizia que 20 passageiros estavam a bordo, não comunicou quaisquer feridos. O sismo também foi sentido na capital Taipé e na cidade de Kaohsiung, no sudoeste do país.

Nas redes sociais, os residentes colocaram vídeos de candeeiros do tecto e pinturas a balançar.
O sismo mais mortífero de sempre registado em Taiwan, com uma magnitude de 7,6, ocorreu em Setembro de 1999 e matou mais de 2.400 pessoas.

19 Set 2022