Hoje Macau BrevesHotel Estoril | Siza de fora do concurso público [dropcap style=’circle’]“J[/dropcap]á não está disponível para participar no concurso público”. Foi desta forma que o Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, confirmou à TDM a total saída de cena de um dos Pritzker portugueses, Álvaro Siza Vieira, do projecto de requalificação do Hotel Estoril. “Eu queria convidá-lo, mas como sabe aqui em Macau, hoje em dia, é tudo uma confusão. Infelizmente, lamento, vou preparar uma carta para agradecer ao senhor Siza Vieira”, disse ainda Alexis Tam, que referira tratar-se de uma “decisão politica”. O arquitecto já tinha referido que aceitava a decisão do Executivo de retirar o convite directo para o projecto e a realização de um concurso público.
Hoje Macau PolíticaJogo | Governo mantém previsão de queda de 13,35% O Secretário para a Economia e Finanças confirmou que a quebra nas receitas mantém-se igual às expectativas do Executivo [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Governo de Macau mantém a previsão de uma queda das receitas do jogo de 13,35% este ano, disse o Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong. Segundo o Secretário, citado num comunicado oficial, a diminuição das receitas nos primeiros cinco meses do ano corresponde às previsões do Governo. “Lionel Leong acrescentou que o Governo da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) prevê, para 2016, uma receita do jogo de cerca de 200 mil milhões de patacas, menos 13,35% comparado ao ano transacto, e que os dados dos últimos meses correspondem à previsão do Governo”, lê-se. Segundo a mesma nota, Lionel Leong afirmou que “o Governo está atento aos dados do corrente mês”, dado que “de acordo com a experiência, mesmo no período de crescimento, a receita do jogo no mês de Junho foi sempre inferior a mais de mil milhões do que a de Maio”, quando houve já uma quebra de cinco mil milhões. O Chefe do Executivo, Chui Sai On, quando da apresentação do orçamento da região para 2016, em Novembro último, reconhecendo uma postura cautelosa, avançou que o Governo previa que os casinos encerrem o ano com receitas na ordem de 200.000 milhões de patacas, menos 13,3% do que em 2015. Segundo o orçamento deste ano, o Governo de Macau prevê fechar 2016 com um ‘superavit’ de 18,213 mil milhões de patacas, apesar da diminuição das receitas dos casinos, a que são aplicados impostos directos de 35%. As receitas dos casinos de Macau iniciaram em Junho de 2014 uma curva descendente, depois de anos de crescimento exponencial. No conjunto de 2014 caíram 2,6%, em 2015 diminuíram 34,3% e nos primeiros cinco meses deste ano desceram mais 11,9% comparando com o período homólogo. Essa prolongada curva descendente, iniciada em Junho de 2014, resulta de um ‘cocktail’ de factores que analistas imputam aos efeitos da campanha anti-corrupção lançada por Pequim, ao golpe de confiança infligido por uma série de desfalques nas salas de jogo VIP (de grandes apostadores) e ao abrandamento da segunda economia mundial. A queda das receitas do jogo arrastou o Produto Interno Bruto (PIB) de Macau, que recuou 20,3% em 2015, naquela que foi a sua primeira contracção anual desde 1999, ano da transferência do exercício de soberania de Portugal para a China. Os analistas dividem-se quanto à possibilidade de Junho vir a marcar o primeiro mês de crescimento das receitas dos casinos ao fim de dois anos de quedas mensais homólogas consecutivas. Isto depois de a tendência verificada em Maio – mês em que as receitas dos casinos caíram 9,6% – ter sido mais negativa do que o esperado pelos investidores. David Chow acredita em desenvolvimento de elementos não-jogo David Chow, proprietário da Macau Legend, afirmou, depois da assembleia geral da empresa, que as receitas do Jogo, deste semestre, não se mostram fortes para impulsionar o próprio sector. A economia global e do interior da China não está saudável, diz o empresário, indicando que como Macau ainda está em fase de ajustamento económico, depois das últimas quedas, o crescimento da economia poderá demorar pelo menos mais um ano. Para David Chow a conclusão da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, aliada à exploração dos elementos não-Jogo e à possibilidade de turistas poderem viajar directamente para Macau a economia irá crescer consideravelmente. Em relação à reconstrução da Doca dos Pescadores, afectada pelo tempo, David Chow explicou que a obra poderá demorar mais tempo que o previsto, estando concluída, em principio, entre Agosto e o final de Setembro. O empresário explicou que vai aproveitar este tempo para adicionar mais elementos não relacionados com o Jogo, como por exemplo, a obra já começada do pavilhão dos dinossauros. Serão, diz, introduzidos mais restaurantes e zonas de lazer, como centros comerciais e centro de convenção, que possam estar ligados aos hotéis.
Hoje Macau SociedadeVideovigilância | Mais de 200 câmaras a funcionar em Julho [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] primeira fase do sistema de videovigilância no território vai começar a entrar em funcionamento já a partir de Julho, confirmou Leong Man Cheong, comandante da Polícia de Segurança Pública (PSP), citado pelo jornal Ou Mun. Em relação às outras três fases de instalação de câmaras, a PSP ainda está a trabalhar nas obras de instalação e pedidos, para tudo seja feito de forma ordenada, disse o responsável. A primeira fase do sistema de videovigilância vai levar à instalação de 219 câmaras nos arredores dos postos transfronteiriços, as quais começam a funcionar em Julho, dez meses após terem sido instaladas. As 263 e 338 câmaras da segunda e terceira fases, respectivamente, serão instaladas em zonas onde a insegurança é maior, nas principais vias e locais turísticos. Na quarta e última fase serão instaladas 800 câmaras de videovigilância em lugares mais isolados de Macau. Mesmo sem o recurso às câmaras, o comandante da PSP confirmou que houve um aumento de patrulhas em várias áreas. O regime jurídico da videovigilância em espaços públicos entrou em vigor em 2012 mas só agora está a ser plenamente implementado. Todos os dados capturados e questões relativas à instalação são da competência do Gabinete para a Protecção dos Dados Pessoais, para que os dados e imagem dos locais não sejam violados.
Hoje Macau SociedadeGalgos | Reportagem da ABC denuncia exportação ilegal [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Greyhound Racing NSW, órgão regulador das corridas de galgos do estado australiano de Nova Gales do Sul, acusou 179 treinadores e donos de cães de violarem as regras da indústria ao alegadamente enviarem, sem autorização, animais para a Macau. Segundo a emissora pública australiana, ABC, as acusações surgem no âmbito de uma investigação, lançada pelo órgão regulador estadual em Dezembro, a exportações de galgos para Macau. A investigação foi motivada após a divulgação de um trabalho do programa televisivo “7.30”, que revelou como centenas de galgos australianos, considerados demasiados lentos para competir, foram exportados para a Ásia, violando as regras das corridas. Lyn White, presidente da associação Animals Australia, alertou que as condições dos galgos em Macau são “repugnantes”, e disse ao programa, na altura, que a ida para Macau representa “para esses cães uma pena de morte”. O regulador do estado de Nova Gales do Sul baniu a exportação de galgos para Macau em 2013. Se os acusados forem considerados culpados, enfrentam multas, suspensão e possível desqualificação da modalidade desportiva. Organizações de todo o mundo, incluindo a Animals Australia, levam a cabo uma campanha para encerrar a pista de corridas de Macau, a seis meses do fim da concessão. Segundo a associação local de protecção dos animais Anima, centenas de cães são abatidos todos os anos por já não serem considerados rentáveis. Os animais estão frequentemente lesionados, são submetidos a treinos cruéis e acondicionados em espaços sem condições, segundo as associações.
Hoje Macau China / ÁsiaJapão protesta aproximação de navio de guerra chinês às Senkaku [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Governo japonês apresentou ontem um protesto formal junto do Executivo de Pequim após a aproximação de uma fragata da marinha chinesa às disputadas ilhas Senkaku, a primeira incursão do tipo. O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros nipónico, Akitaka Saiki, convocou o embaixador chinês em Tóquio, Cheng Yonghua, ao qual apresentou o protesto e transmitiu a sua preocupação relativamente à aproximação do navio de águas territoriais que o Japão considera suas, informou a diplomacia japonesa. O diplomata Cheng Yonghua defendeu, por seu lado, que a navegação do barco é totalmente justificável dado que Pequim sustenta que as ilhas Senkaku – chamadas de Diaoyu pela China e administradas de facto por Tóquio – são parte do seu território, explicaram fontes próximas do assunto à agência Kyodo. O contratorpedeiro japonês Setogiri confirmou que na madrugada de ontem uma fragata da marinha chinesa penetrou em águas contíguas aos ilhotes e permaneceu na zona durante quase três horas sem chegar a entrar em águas que o Japão considera suas. Navios da guarda costeira chinesa navegaram no passado com frequência pela zona, mas esta é a primeira vez que uma incursão envolve um barco militar. O Ministério da Defesa japonês também informou ontem que foi detectada a presença de três navios militares russos numa área contígua às Senkaku precisamente no momento em que o barco chinês navegava na zona. A disputa territorial entre a China e o Japão em torno das Senkaku/Diaoyu tem décadas, mas agravou-se em Setembro de 2012, depois de Tóquio ter anunciado a compra de três dos cinco ilhotes do pequeno arquipélago, de apenas sete quilómetros quadrados, administrado, de facto, pelo Governo japonês. O arquipélago desabitado, mas potencialmente rico em recursos minerais, fica no Mar da China Oriental, a cerca de 120 milhas náuticas de Taiwan, que também reclama a sua soberania, e a 200 milhas náuticas de Okinawa, no extremo sul do Japão.
Hoje Macau China / ÁsiaTaiwan | Investidores pedem ao Governo concessões a Pequim Os investidores de Taiwan com interesses na China querem que a nova presidente, Tsai Ing-wen, recupere o Consenso de 1992 para eliminar obstáculos nas relações com Pequim e permitir-lhes fazer negócios à vontade. Tsai Ing-wen respondeu garantindo que está a fomentar relações “robustas, sustentáveis e previsíveis” com a China [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s investidores taiwaneses na China instaram a nova Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, a eliminar qualquer tipo de obstáculo nos laços com Pequim e a encarar com seriedade as relações comerciais com a segunda economia mundial. Numa reunião realizada na quarta-feira, o presidente da Associação de Empresas Taiwanesas Investidoras na China, Kuo Shan-hui, pediu ao Governo concessões a Pequim. Kuo pediu que o Governo da Formosa aceite o “Consenso de 1992” – que constituiu a base do intercâmbio entre os dois lados do Estreito durante os mandatos do Presidente Ma Ying-jeou (2000-2008) e que foi abandonado por Tsai Ing-wen. “Sem o reconhecimento do Consenso de 1992 haverá grandes obstáculos para qualquer esforço em impulsionar novos intercâmbios entre Taiwan e a China”, disse Kuo. Este consenso é a fórmula pela qual ambas as partes aceitam o princípio de que há uma só China, embora o significado desse conceito seja diferente para cada uma delas. O empresário pediu ao Governo para impulsionar a ratificação de um acordo comercial no domínio dos serviços assinado em 2013, mas bloqueado pelo parlamento, e que complete as negociações do acordo de comércio de bens com a China. “Relações robustas” a caminho Tsai, líder do independentista Partido Democrata Progressista (PDP), bloqueou desde 2013 a ratificação do acordo de serviços com a China e advertiu que não apoiará nenhum acordo com o regime comunista até ser aprovada pelo parlamento uma lei de supervisão dos referidos tratados. Os laços institucionais com a China encontram-se bloqueados desde a ascensão de Tsai, apesar de a nova Presidente ter prometido, no discurso de posse, em Maio, manter o ‘status quo’ nos laços com a China e uma administração não independentista, o que Pequim entende ser insuficiente. Em resposta aos pedidos dos empresários, Tsai disse que o Governo está comprometido em ajudar as empresas taiwanesas na China a enfrentar os desafios atuais, mas que também promove a transferência das mesmas para Taiwan e a sua expansão no plano da internacionalização. A Presidente de Taiwan acrescentou que está a fomentar relações “robustas, sustentáveis e previsíveis” com a China, procurando a estabilidade e a paz no Estreito. Há mais mercados Taiwan tem vindo a acumular recursos para ajudar os seus empresários a desenvolverem os mercados do sudeste da Ásia e Índia, no que designa de “nova política rumo ao Sul”, a qual não pretende competir com os investimentos da China mas antes complementá-los. Há mais de 70 mil empresas taiwanesas com operações na China, onde a ilha tem investidos 133.700 milhões de dólares, segundo dados do investimento acumulado de 1991 até 2013. O valor pode ser substancialmente maior se forem tidos em conta os investimentos feitos a partir de terceiros países. A China tem pressionado Tsai a aceitar que a ilha é parte do país com medidas como a redução do número de turistas chineses, um eventual bloqueio do envio de estudantes para a ilha, a diminuição das compras de produtos agro-pecuários e um cerco diplomático internacional.
Hoje Macau China / ÁsiaJapão | China expressa preocupações sobre derramamento nuclear [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] China está muito preocupada com as consequências do acidente nuclear ocorrido em 2011 em Fukushima e pediu que o governo japonês tome medidas de acompanhamento oportunas, disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Hua Chunying. A China espera que o Japão tome medidas efectivas para proporcionar informações oportunas, completas e precisas à comunidade internacional e proteja o ambiente oceânico, disse Hua em conferência de imprensa. A operadora da central, a Tokyo Electric Power Co., admitiu pela primeira vez na última segunda-feira que a sua insistência em descrever a tragédia como “dano de um reactor nuclear” nos últimos cinco anos havia “escondido a verdade”. O radioquímico marinho Ken Buesseler do Instituto Oceanográfico Woods Hole dos Estados Unidos disse que as consequências do acidente nuclear de Fukushima foram sem precedentes pois mais de 80% das substâncias radioactivas derramadas escoaram para o mar. A porta-voz chinesa disse que seu país espera que o Japão mantenha um alto sentido de responsabilidade para seu próprio povo, os povos dos países vizinhos e a comunidade internacional, acrescentando que a China deseja se comunicar com as partes envolvidas, incluindo a República da Coreia. A China também pediu que a Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA) reforce o monitoramento e a avaliação da água radioactiva, disse Hua. Após um terramoto seguido de tsunami em 2011, o Ministério das Relações Exteriores chinês advertiu sua população que seja prudente sobre viagens às áreas do desastre, segundo a porta-voz, dizendo que a advertência continua vigente.
Hoje Macau China / ÁsiaHong Kong | Lancôme reabre lojas após protestos Com medo dos protestos, fecharam-se a sete chaves na quarta mas ontem reabriram. Tudo por causa do cancelamento de um concerto de Denise Ho por, dizem, “motivos de segurança”. Denise acha que foi pelas suas convicções politicas. O Global Times, que iniciou a polémica ao criticar o evento, rejubilou por a Lancôme levar em consideração o público da China continental [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] empresa de cosméticos Lancôme reabriu ontem as suas lojas em Hong Kong, após ter fechado portas na véspera devido a protestos por a marca ter cancelado um concerto da cantora local, crítica da China, Denise Ho. Segundo o South China Morning Post, Denise Ho instou na sua página no Facebook toda a gente a erguer-se contra o que chamou de “terror branco que se tem vindo a espalhar” pela sociedade e a lutar pela liberdade de expressão. Na terça-feira, a cantora pediu explicações à marca francesa por a Lancôme, que pertence ao grupo L’Orèal, lhe ter cancelado um concerto, alegadamente devido às suas convicções políticas. Na quarta-feira, devido à marcação de protestos, as lojas e pontos de venda da marca estiveram fechados em Hong Kong, assim como os escritórios da L’Orèal. Entretanto, foi lançada uma petição na Internet para apelar ao boicote dos produtos Lancôme. O concerto promocional de Denise Ho, agendado para dia 19, foi cancelado após reacções negativas nas redes sociais da China continental ao apoio da artista ao Tibete e a movimentos pró-democracia como o Occupy Central (de Hong Kong). Em comunicado, a cantora considerou a situação “extremamente lamentável”, indicando estar a ser castigada por defender os seus direitos e afirmar as suas convicções. No domingo, a Lancôme disse que o evento tinha sido cancelado devido a “possíveis motivos de segurança”. O balcão de venda da marca no maior centro comercial de Times Square, em Hong Kong, foi encerrado, assim como o centro de beleza que a marca possui no mesmo edifício, depois de se saber que tinha sido convocado um protesto nas imediações. O organizadores do protesto, todavia, avisaram que poderão promover outras iniciativas se não houver resposta da marca. “O objectivo deste protesto é mostrar ao mundo que devemos manter-nos juntos e, através do boicote [aos seus produtos], mostrar à Lancôme e à L’Orèal que não se podem focar apenas no mercado chinês”, afirmou Avery Ng, da Liga dos Sociais-Democratas, um dos 12 grupos que participaram nos protestos na tarde de quarta-feira. Agitação na rede Entretanto, foi também lançada uma petição na internet para apelar ao boicote dos produtos da Lancôme que já reuniu mais de 4.000 assinaturas. A reacção dos internautas chineses surgiu em resposta a uma publicação do jornal de Pequim Global Times, no microblogue Weibo. O jornal questionou o evento, acusando a empresa de cooperar com “veneno de Hong Kong” e “veneno do Tibete”, ou seja, com uma apoiante da autonomia de Hong Kong e do Tibete. Alguns internautas chineses começaram, então, a apelar a um boicote à Lancôme. Após o anúncio do cancelamento do concerto, surgiram novas ameaças de boicote, desta feita do ‘outro lado da barricada’. O Global Times reagiu à notícia, dizendo que a marca francesa revelou “sabedoria” ao cancelar o concerto. Para o jornal, “os motivos são óbvios”: “Aparentemente, a Lancôme tomou mais em consideração os sentimentos do público da China continental, porque a China representa um mercado muito maior do que Hong Kong”. “Como empresa, deve procurar ganhos comerciais, uma sabedoria que deve revelar em situações complexas”, escreveu
Hoje Macau h | Artes, Letras e IdeiasDiário (secreto) de Pequim (1977-1983) Parte I António Graça de Abreu Pequim, 8 de Setembro de 1977 Alegria, emoção ao chegar à China. O aeroporto pequeno numa manhã de sol, o grande retrato de Mao Zedong, a garganta presa. O acolhimento afectuoso, fraterno dos camaradas chineses, futuros companheiros de trabalho. O primeiro contacto com Pequim. Camponeses, carroças, casas pobres. As árvores bordejando a estrada, a vegetação repousante, as gentes que não conheço. A primeira decepção, a habitação que me destinaram, um apartamento feio, esquisito, mal mobilado. Vai ser preciso mudar esta casa. Estranha sensação do estranho. A primeira saída até ao centro da cidade. Pequim plana, avenidas largas, milhares e milhares de bicicletas, poucos automóveis sempre a buzinar. Trânsito desorganizado mas que funciona, reina uma grande ordem nesta desordem. Ainda hortas e terras cultivadas, os campos entram por dentro da cidade. Sempre muita gente. Transparece uma ideia de pobreza, não de miséria. A Praça Tian’anmen, a da Paz Celestial, enorme, vazia, majestosa. Amanhã faz um ano que morreu Mao Zedong. Cortejos com milhares de pessoas vêm depositar coroas de flores de papel nas tribunas da Praça, junto ao monumento dos Mártires da Revolução porque haverá cerimónias oficiais comemorativas do primeiro aniversário da morte de Mao. Ao fim da tarde, ainda uma visita e algumas compras na Loja da Amizade. Creio ser um dos grandes armazéns de Pequim, destina-se a estrangeiros e tem montanhas de coisas bonitas e baratas. Ao jantar, neste hotel que tal como a loja também se chama “da Amizade” e é uma Babilónia de línguas e gentes de todo o mundo, conversa com um velho casal brasileiro, a Raquel Cossoy e o Amarílio Vasconcelos, já com muitos anos de Pequim, e outro casal colombiano, todos refugiados políticos. Cansaço, um dia pleno. Pequim, 9 de Setembro de 1977 Edições de Pequim em Línguas Estrangeiras, agora o meu local de trabalho. Um edifício pesado, tipo caixote com seis andares, espartano, uma espécie de convento marxista-leninista-maoísta. Mas funcional. Os companheiros de trabalho que vão fazer as traduções que depois corrigirei e a quem vou ensinar mais português, todos risonhos, simpáticos falando razoavelmente a língua de Camões. A camarada Bai Yuhua e o camarada Fu Ligang, dois dos mais competentes tradutores, estudaram português em Macau. Na cave das Edições, cerimónia fúnebre muito simples em honra de Mao Zedong. Tudo a preto e branco, as cores do luto, mas com aparência de missa comunista. O retrato do revolucionário, as pessoas a curvarem-se diante da figura do falecido timoneiro, muitas coroas de flores de papel, dois discursos longos de que não entendi uma palavra. De tarde, visita ao Palácio de Verão. Um estupendo conjunto de construções no estilo tradicional chinês, não muito antigo — parece que é tudo dos séculos XVIII e sobretudo XIX – junto a um belo lago, com pavilhões, torreões, pagodes e, ao fundo, as montanhas a oeste da cidade. Hei-de voltar muitas vezes ao Palácio de Verão, não fica longe do Hotel da Amizade, talvez uns cinco quilómetros, e hoje vi apenas de relance, com os olhos. Eu quero conhecer, quero começar a meter a China dentro de mim. Pequim, 14 de Setembro de 1977 O presidente Mao Zedong repousa no mausoléu que acabou de ser inaugurado, a sul da praça Tiananmen. Fui ver o corpo do defunto que mais contribuiu para mudar a face da China. Grupos compactos de pessoas organizadas por entidades de trabalho, filas silenciosas de soldados, os rostos parados, compungidos, aguardavam a vez de entrar na construção de mármore, rectangular, nem bonita, nem feia onde jaz Mao. Juntei-me à fila ininterrupta que avançava num lento ritmo fúnebre. Lá dentro, na vasta antecâmara, uma grande estátua também de mármore de Mao Zedong, sentado, branco, irradiando a altivez e segurança do melhor período da sua vida. Logo depois o salão com o sarcófago de cristal e Mao coberto pela bandeira comunista, e ele, velho, encarquilhado, uma cara que parece de cera. À minha frente, o peruano Guillermo Delly que pertence a uns estranhos grupos maoístas lá da sua pátria, agora também acabado de chegar à China e que trabalha comigo nas Edições de Pequim — ele no semanário Beijing Zhoubao北京周报, o que dá Pekin Informe na língua de Cervantes –, pois o Guillermo levantou o braço e, de punho fechado, saudou Mao Zedong. Em 1970, já no ocaso dos dias mas ainda todo-poderoso, o grande líder confessou numa entrevista a Edgar Snow que entre as multidões imensas que gritavam Mao Zhuqi Wansui! 毛主席万岁ou seja “Viva o Presidente Mao”, um terço das pessoas eram sinceras, outro terço fazia o que via os outros fazer e o último terço era hipócrita. Em qual destes grupos entrará Guillermo Delly? E eu, que não fui capaz de erguer o punho, nem nunca gritei “Viva o Presidente Mao”? Dazhai, 16 de Setembro de 1977 A primeira viagem pelos atalhos imensos deste antiquíssimo Império do Meio, rumo a Dazhai 大寨 , a aldeia modelo da agricultura chinesa encravada nas montanhas da província de Shanxi, a uns mil e tal quilómetros de Pequim. Ontem à noite, a estação ferroviária da cidade. Gente por todo o lado, acocorada, dormitando no chão, correndo para os comboios com a filharada às costas, carregando quanta cangalhada pode. Estes chineses vêm a Pequim e aqui compram tudo o que não existe nas suas aldeias, perdidas no mundo. Carregam volumes descomunais, com os objectos mais inesperados e espalhafatosos que enchem tudo quanto é saco ou oscilam na extremidade de varas de bambus num equilíbrio certo sobre ombros calejados. O comboio pintado de verde-escuro com uma tira amarela, sólido, confortável, pelo menos para mim e para mais uns tantos privilegiados. A viagem foi paga pelas Edições de Pequim a meia dúzia de estrangeiros que lá trabalham. Eu sou um deles e tenho direito a ruanwoche軟臥車, ou seja as couchettes “carruagem cama fofa”. Aprendi hoje que existem mais três tipos de carruagens, a yingwoche硬臥車, ou seja, “carruagem cama dura” com sessenta beliches separados por tabiques, mais o “banco fofo”, almofadado e o “banco duro”, de pau, onde viaja a maioria dos chineses. Com o comboio em andamento, passei de carruagem para carruagem, para comprovar como se viaja de comboio na China. A minha carruagem tem apenas trinta e seis lugares distribuídos por doze compartimentos. As camas estão limpas, há toalhas, um candeeiro com abat-jour, sempre uma grande garrafa-termos com água quente e chá. E música chinesa. Por companheiro – somos apenas dois no compartimento – tenho um sudanês enorme, perto de dois metros de altura, de nome Ahmed Kehir, com feições de quase branco e pele negra. Pertence ao Partido Comunista do Sudão, vive exilado na China há doze anos, disseram-me ser um intelectual e poeta, trabalha na Beijing Zhoubao, edição em árabe e deve o bom tratamento ao facto de, há não sei quantos anos atrás, ter aparecido numa fotografia, divulgada por toda a China, ao lado de Mao Zedong, numa pretensa amena conversa com o grande timoneiro. O comboio partiu rigorosamente à hora marcada, deslizando nos carris com uma suavidade impressionante. A carruagem tem os interiores em madeira, é clara e bonita. Num dos extremos funciona um fogão a carvão de pedra, para aquecer água. A conversa, em mau inglês, com o sudanês. A situação política em Portugal, África. Pois. Quase a adormecer, chega um chinês para dormir no nosso quartinho rolante. Mudaram-no de carruagem, é um quadro do Partido Comunista. Terá uns sessenta anos, como cartão de visita diz-nos num inglês de trapos ter lutado na guerra contra a invasão japonesa, nas montanhas das províncias de Hebei e Shanxi. Depois, o sono confortável. (continua)
Hoje Macau China / ÁsiaTailândia | Primeiro país da Ásia a erradicar transmissão de VIH de mãe para filho A Tailândia fez jus à fama dos seus serviços de saúde erradicando a passagem do vírus VIH de mãe para filho. Além disso, os esforços concertados no país levaram também à redução do número de mulheres infectadas: passou de 15 mil casos em 2000 para 1.900 em 2014 – uma descida de 87% [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Tailândia tornou-se no primeiro país da região da Ásia-Pacífico a erradicar a transmissão do Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH) e a sífilis de mãe para filho, informou ontem a Organização Mundial de Saúde (OMS). A OMS também reconheceu o país asiático como o primeiro com um grande número de afectados que consegue o que a organização qualificou como um “feito extraordinário” e “um passo crucial para reduzir a epidemia do VIH”. “A Tailândia mostrou ao mundo que o VIH pode ser derrotado”, disse o director regional para o sudeste da Ásia da OMS, Poonam Khetrapal Singh, em comunicado. Aproximadamente 21 mil crianças nascem anualmente com VIH na região da Ásia-Pacífico, onde existem cerca de 200 mil menores afectados. Segundo a OMS, mulheres infectadas com o VIH têm entre 15 e 45 por cento de probabilidade de transmitir o vírus aos seus filhos durante a gravidez, parto ou durante a amamentação, mas o risco diminui para 1% se durante estes períodos lhes forem administrados anti-retrovirais. De acordo com o Ministério da Saúde da Tailândia, 98% das mulheres com VIH tem acesso a anti-retrovirais e a transmissão do vírus de mãe para filho foi reduzida a menos de 2%. As autoridades tailandesas estimam que em 2000 aproximadamente mil crianças tenham sido infectadas com VIH, número que diminuiu cerca de 90% em 2015, até aos 85 casos em todo o país, onde um universo de 450 mil vivia com este vírus em 2014. Além de conter a transmissão do VIH entre mãe e filho, a Tailândia também conseguiu reduzir o número de mulheres infectadas: passou de 15 mil casos em 2000 para 1.900 em 2014 – uma descida de 87%. A OMS destacou que o sistema de saúde pública da Tailândia garante o acesso universal aos cuidados médicos e que o mesmo cobre o tratamento de VIH, tanto para tailandeses como para a população imigrante. “A Tailândia deu a volta à epidemia e transformou a vida de milhares de mulheres e crianças afectadas pelo VIH”, disse o director do programa da ONU contra a sida, Michel Sidibé, no mesmo comunicado. “O progresso da Tailândia mostra o que se pode alcançar quando a ciência e a medicina são apoiadas com um significativo compromisso político”, acrescentou. A OMS fez o reconhecimento antes de a ONU reunir ontem representantes de todo o mundo para tentar acelerar a luta contra a sida e de modo a que se atinja o objectivo de erradicar a epidemia antes de 2030. Essa meta – fixada em 2015 nos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável adoptados pela ONU – chega depois de se ter conseguido, nos últimos anos, conter e reduzir a propagação da sida em todo o mundo.
Hoje Macau MancheteMong-Há | Deputado questiona ausência de pólo cultural Depois da inauguração do espaço “Anim’Arte Nam Van”, o deputado Si Ka Lon critica a falta de novidades em relação ao anunciado pólo cultural de Mong-Há, onde se situam as vivendas na Avenida Coronel Mesquita [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] deputado Si Ka Lon defendeu ao jornal Ou Mun que o Governo deve prestar mais atenção ao desenvolvimento cultural e artístico da zona de Mong-Há, uma semana após a inauguração da zona de lazer junto ao lago Nam Van, intitulada “Anim’Arte Nam Van”. Em declarações ao jornal Ou Mun, o deputado lembrou que o projecto pensado para a zona de Mong-Há continua por desenvolver, apesar de ter sido prometido nas Linhas de Acção Governativa (LAG). Por se tratar de uma zona que abrange a Avenida Coronel Mesquita e as tradicionais vivendas de traço colonial, o deputado Si Ka Lon considera que os departamentos públicos devem reforçar a sua cooperação e diminuir as burocracias, para que se possa avançar com o aproveitamento destas casas. Si Ka Lon disse ainda que não houve avanços quanto a esta promessa e que o projecto poderá demorar anos até que seja concretizado. Ao mesmo jornal de língua chinesa falou Lam Fat Iam, presidente da Associação da História Oral de Macau, que defendeu que a zona de Mong-Há possui muitos recursos turísticos, apelando ao Governo a que não discuta a questão apenas no papel. Lam Fat Iam referiu que o Governo precisa de apostar em mais mão-de-obra para tratar de toda a documentação histórica relacionada com a zona de Mong-Há, defendendo que, sem esse acervo documental, a transformação em pólo cultural não será um projecto perfeito. No papel Em Outubro do ano passado, o Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, disse existirem planos para reaproveitar os recursos turísticos e culturais na zona de Mong-Há, as quais incluíam as 12 moradias tradicionais. A ideia seria criar uma nova zona de turismo com uma forte ligação à cultura. A ideia contida nas LAG fazia referência à realização de um “planeamento geral sobre o conjunto das vivendas situadas no cruzamento entre a Avenida do Coronel Mesquita, a Estrada do Coelho do Amaral e a Rua Francisco Xavier Pereira”. Estará a ser pensada a criação da Casa Memorial de Xian Xing Hai, para que a zona possa albergar um museu para atrair turistas. Alexis Tam prometeu um prazo de dois a três anos para a reutilização destas vivendas, com a inclusão do templo, do Forte de Mong-Há e do espaço artístico Armazém do Boi. O Secretário da tutela prometeu novas informações sobre a área até finais do ano passado, mas, meses depois, nada de novo foi avançado.
Hoje Macau SociedadeHotel Estoril | Siza Vieira aceita recuo do Governo [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] arquitecto português Álvaro Siza Vieira diz “naturalmente” aceitar a decisão do Governo de Macau de realizar um concurso público para a reconversão do antigo Hotel Estoril, apesar de o projecto ter sido encomendado ao Prémio Pritzker. “Tomei conhecimento da decisão em organizar um concurso para o projecto respectivo, decisão que naturalmente aceitei, comunicando-o ao excelentíssimo Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura”, disse o arquitecto, em resposta escrita à Agência Lusa. Na sexta-feira, o Secretário Alexis Tam anunciou que por uma “questão política”, o projecto do hotel deixaria de ser entregue por ajuste directo a Siza Vieira, já que muitos arquitectos locais manifestaram interesse em participar, o que só seria possível com um concurso público. Questionado, ainda na sexta-feira, sobre se já tinha informado o arquitecto português, o governante respondeu que “muito por alto, informalmente”, indicando que Siza será convidado a participar no concurso. “Vai ser convidado, em vez de ser adjudicação directa. [O ajuste directo está] de acordo com a legislação. Só que isso foi a ideia do ano passado. Hoje em dia, a situação é diferente porque muitos arquitectos querem concorrer. No fim, é uma questão política”, afirmou Alexis Tam, citado pela Rádio Macau e pelo canal em português da TDM.
Hoje Macau BrevesNomeação de Jack Ma em Boletim Oficial [dropcap style=’circle’]F[/dropcap]oram publicados ontem dois despachos em Boletim Oficial (BO) que dão conta da nomeação do patrão da Alibaba, Jack Ma Yun, para dois conselhos consultivos. Jack Ma, que também é dono do jornal de Hong Kong South China Morning Post, vai ser consultor no Conselho de Ciência e Tecnologia e no Conselho para o Desenvolvimento Económico. Jack Ma deu esta segunda-feira uma palestra na Universidade de Macau em que defendeu a aposta no comércio electrónico por parte das Pequenas e Médias Empresas.
Hoje Macau EventosYoga | Dia Internacional festejado em Macau No próximo domingo a ilha de Coloane vai ser palco de um conjunto de actividades destinadas a celebrar a efeméride [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]uma organização do Grand Coloane Resort que cede o espaço e do Yoga Loft Macau, é festejada na RAEM a segunda edição de celebração do dia inteiramente dedicado ao Yoga. Se inicialmente o yoga é associado a uma prática antiga indiana, Rita Gonçalves proprietária do Yoga Loft e instrutora, afirma ao HM que o yoga “made in Índia” não corresponde totalmente à realidade”. A modalidade que tem vindo a sofrer múltiplas influencias de todo o mundo é cada vez mais uma mescla de técnicas e sugestões globais. “ O yoga hoje em, dia é propriedade do mundo” remata. Exemplo desta universalidade é a criação do seu dia internacional ter partido de uma sugestão da Confederação Portuguesa do Yoga que foi posteriormente reconhecida pela Organização das Nações Unidas em 2014. A data escolhida foi o 21 de Junho enquanto solstício de Verão mas é este ano antecipadamente celebrada na RAEM. Em Macau, no ano passado, a efeméride foi comemorada no Yoga Loft enquanto dia aberto e na edição actual será celebrada ao ar livre contando com uma aula às 11h30 da manhã e uma outra às 15h30. Para um dia mais completo os participantes na iniciativa podem também usufruir de descontos nas piscinas do resort restaurantes ou no aluguer de bicicleta. As aulas serão “simples” adianta Rita, de modo a que todos possam participar. A modalidade conta ainda com um aumento de adeptos geral que segundo Rita Gonçalves é devido essencialmente à necessidade das pessoas estarem com elas próprias. “Vivemos numa sociedade com muitos estímulos e este é um momento em que as pessoas passam um bocadinho a tratarem de si e a mimarem-se” adianta, sendo que há uma “necessidade das pessoas de voltar a uma relação intima e carnal consigo próprias”, motivos que considera estar na génese desta paixão crescente.
Hoje Macau China / ÁsiaHong Kong | Activistas pró-democracia absolvidos [dropcap style=’circle’]Q[/dropcap]uatro jovens activistas pró-democracia de Hong Kong, incluindo Joshua Wong, um dos líderes do movimento Occupy Central, foram ontem absolvidos da acusação de obstrução à polícia durante um protesto. Wong, de 19 anos, foi o rosto do que ficou conhecido como o Movimento dos Guarda-Chuvas, que levou à paralisação de zonas de Hong Kong durante mais de dois meses em 2014, com protestos nas ruas exigindo eleições totalmente livres para a escolha do chefe do Governo. “O resultado deste julgamento prova que se tratava de uma perseguição política”, disse Wong, após o veredicto do primeiro de muitos casos contra si. O jovem foi levado a tribunal devido a um protesto mais pequeno em Junho de 2014, antes das grandes manifestações, em que dezenas de pessoas se reuniram junto ao edifício da representação oficial de Pequim na cidade. Os manifestantes opunham-se ao “Livro Branco” da China que reafirmava o seu controlo sobre Hong Kong, chegando mesmo a queimar uma cópia do documento. Wong, o líder estudantil Nathan Law, e os activistas Raphael Wong e Albert Chan foram todos acusados de obstrução à polícia, que pode ser punida com penas de prisão de dois anos. Os quatro declararam-se inocentes e foram absolvidos pelo tribunal. Cerca de 20 apoiantes reuniram-se junto ao tribunal antes de a decisão ser conhecida, transportando guarda-chuvas amarelos, o símbolo do movimento pró-democracia de Hong Kong. “Não vamos baixar a cabeça perante as autoridades da China”, disse Law, antes de entrar no tribunal. Mas há mais… Num caso distinto, Wong foi julgado por uma manifestação em que os estudantes entraram dentro do recinto do complexo governamental, a 26 de Setembro de 2014, impulsionando protestos maiores que, dois dias depois, resultaram no lançamento, pela polícia, de gás lacrimogéneo contra a multidão. A decisão deverá ser conhecida no final deste mês. Wong enfrenta também acusações relacionadas com um protesto em Mong Kok, onde aconteceram os confrontos mais violentos do Occupy. Wong e Law foram ainda detidos no mês passado após tentarem parar, em plena estrada, a caravana onde seguia Zhang Dejiang, que preside à Assembleia Nacional Popular. Os dois foram libertados sob fiança.
Hoje Macau h | Artes, Letras e IdeiasBoy: patriota ou traidor? Em memória do 4 de Junho de 1989 祖国的杂种 Julie O’yang [dropcap style=’circle’]S[/dropcap]abem quem são os jovens da fotografia? Espero que algum dos meus amigos chineses reconheça nesta foto um dos seus antepassados e que fique orgulhoso de partilhar convosco uma estória há muito esquecida de um destes “boys”. Tudo começa num jogo de basebol, há 130 anos nos EUA. Este jogo ficou na História por ter sido ganho por uma equipa de jovens tímidos, vindos de um País muito, muito antigo: a China. As crianças da foto tinham, entretanto, crescido e eram, ao tempo, jovens que viviam na América há mais de 10 anos. A foto foi tirada em frente do edifício da Shanghai Merchants & Steamship Company, pouco antes da viagem que os levaria a atravessar o Oceano Atlântico. Estas crianças tinham em média 12 anos de idade e sobre os seus pequenitos ombros já se fazia sentir o peso da responsabilidade. Nos seus olhos podemos adivinhar o medo e a curiosidade por aquilo que os esperava no Novo Mundo. Quando pisaram pela primeira vez solo estrangeiro, usavam as longas vestes Manchus e saudaram as suas famílias de acolhimento com um tímido dagong (que sejas bem-sucedido). As crianças tinham sido enviadas numa missão que ficou conhecida como: fuguoqiangbing (富国强兵). (Tornem o nosso País próspero e as nossas Forças Armadas eficientes!), quatro caracteres que representam a essência da luta da China moderna, desde essa altura até aos nossos dias. A seguir foram distribuídos por diversas casas na Nova Inglaterra. Mais de 40 famílias americanas acolheram os jovens chineses, que rapidamente se adaptaram ao exotismo de uma nova vida. Com esforço ultrapassaram a barreira da língua e cada um deles veio a ser o melhor da sua classe. Os adolescentes chineses acompanhavam os seus pares na patinagem, na dança e no basebol e, mais importante do que tudo, passaram a pensar em inglês. Tudo o que era novo passou a ficar inscrito no seu ADN. Quando somos muitos novos todas as experiências têm um impacto tremendo. Os jovens adaptaram-se, não só, à cozinha estrangeira, como e, sobretudo, aos novos valores! Mais tarde foram estudar para as Universidades de Harvard, Yale, Columbia e para o MIT. Passaram a viver lado a lado de algumas celebridades do seu tempo, como por exemplo, Mark Twain. Os valores e os costumes chineses deixaram de estar presentes na sua formação. Quando finalmente foram obrigados a regressar a casa, prontos para dar o seu contributo e cumprir o dever de cidadãos exemplares, foi com relutância que se envolveram nos meandros da política chinesa. O dilema pessoal destes jovens passou a ser o dilema da Nação: sou patriota ou traidor? As suas histórias pessoais acabaram por sofrer diversas reviravoltas, onde beleza e tragédia andaram de mãos dadas. No fim das suas vidas, cada um dos protagonistas desta foto a preto e branco continuou a preferir que lhe chamassem: boy. Os episódios históricos na China não costumam ter um final feliz. A vida na China moderna parece-me sofrer uma oscilação febril entre avanços e recuos. É sabido que alguns dos boys ficaram nos EUA e que nunca mais regressaram a casa. Alguns deles não permitiram que os seus descendentes aprendessem chinês.
Hoje Macau China / ÁsiaJapão | Rapaz sai do hospital após ser abandonado numa floresta [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] rapaz de sete anos que sobreviveu durante quase uma semana após ser abandonado pelos pais numa floresta teve ontem alta do hospital, acabando com um drama que cativou o Japão e acendeu o debate sobre disciplina infantil. A polícia disse que os pais não vão ter nenhuma consequência por terem abandonado Yamato Tanooka como castigo por atirar pedras, apesar da revolta pública generalizada. Yamato estava muito alegre quando saiu do hospital municipal de Hakadate no norte da ilha de Hokkaido. Com um boné preto de basebol, parou a sorrir e acenou à multidão de jornalistas e curiosos. Segurava uma bola de basebol feita em papel que tinha mensagens de apoio escritas. Quando lhe perguntaram o que queria fazer, disse: “Basebol!”. Sobre se queria voltar à escola, respondeu com entusiasmo: “Quero ir!”. Depois de alguns minutos, que incluíram aplausos, o seu pai levou-o para uma carrinha e foram embora. Processo disciplinar O rapaz sobreviveu durante seis noites sozinho depois dos pais o terem deixado na estrada de uma montanha, no dia 28 de Maio, perto de bosques onde existem ursos. Muitos japoneses ficaram indignados com o casal, que disse ter forçado o filho a sair do carro para lhe dar uma lição depois de ele ter atirado pedras a carros e a pessoas. O pai disse que voltou atrás cinco minutos depois para o ir buscar mas não o encontrou. O caso acendeu o debate no Japão sobre disciplina parental. Algumas pessoas pediram compreensão para os pais, mas a maioria condenou a atitude excessiva. “Não vamos considerar isto um caso criminal”, disse à AFP um porta-voz da polícia de Hakkaido, acrescentando que o caso seria apenas encaminhado para a segurança social. Toru Numata, um advogado que lida com casos violência doméstica e abuso, disse à AFP: “Considerando os factores por detrás do caso, as hipóteses de tornar o caso processável são muito pequenas”. Numata disse que o foco seria provavelmente a saúde mental do rapaz e o possível trauma do episódio. Depois de Yamato ter deixado o hospital, as redes sociais celebraram a sua recuperação, e uma pessoa escreveu no Twitter: “Que bom que ele foi salvo… Dêem-lhe muitos beijos”. Mas alguns mostraram-se incomodados com a grande cobertura dos media. “Os media precisam de andar atrás dele?”, escreveu um utilizador. “Era melhor deixarem-no em paz”. A equipa de salvamento e os soldados passaram dias a vasculhar as florestas da montanha depois de Yamato ter desaparecido. A criança foi finalmente descoberta na passada sexta-feira, abrigada numa cabana de um campo de treino militar a cinco quilómetros do sítio onde foi abandonada. Yamato estava desidratado e foi levado para o hospital. A polícia interrogou-o durante uma hora no hospital, na segunda-feira, acompanhado pela mãe e pelos médicos, informou o jornal Tokyo Shimbun. O diário citou o que o rapaz disse à polícia: “Eu andei sozinho e não encontrei ninguém”, acrescentando que às vezes parava para descansar e chegou à cabana quando estava escuro. Yamato manteve-se quente ali, durante as noites frias, ao dormir entre dois colchões. Bebeu água de uma torneira, mas não tinha nada sólido para comer. O pai, Takayuki Tanooka, de 44 anos, disse na segunda-feira que pediu desculpa ao filho e que o rapaz o perdoou. “Eu disse-lhe: ‘O pai fez-te passar por um período difícil. Desculpa’”, disse Takayuki à rádio TBS. “E depois, o meu filho disse: ‘Tu és um bom pai. Eu desculpo-te’”, acrescentou Tanooka.
Hoje Macau EventosTaipa | Benfica a dobrar em jantar no Santos [dropcap style=’circle’]R[/dropcap]ealiza-se hoje o jantar que celebra o título de tricampeões do Benfica de Macau e do Sport Lisboa e Benfica. “O Santos”, restaurante emblemático não só da cozinha portuguesa como do amor ao clube, é o promotor da iniciativa, que pretende juntar a equipa da casa e os adeptos benfiquistas num ambiente de festa. À semelhança de anos anteriores, Santos Manuel Bruno Pinto, mais conhecido por “Santos”, proprietário do restaurante homónimo na vila da Taipa, faz questão de marcar o 35º Campeonato do clube Lisboeta. “Já nasci benfiquista, está-me no sangue”, começa por frisar ao HM, adiantando que o convívio de hoje à noite pretende comemorar as glórias do seu “querido Benfica”, que há anos não lhe dava uma vitória tão sofrida, e por isso, mais apreciada. O encontro, acrescenta, foi marcado no dia de folga do jogadores da equipa do Benfica de Macau para que todos possam celebrar juntos. O proprietário conta com casa cheia. As inscrições continuam a decorrer até ao final do dia de hoje. O jantar, que começa por volta das 20horas, tem um valor de 350 patacas, por pessoa, e explica o organizador está “tudo incluído”. “É com direito a tudo”, brinca.
Hoje Macau BrevesJack Ma consultor do Governo de Macau [dropcap style=’circle’]J[/dropcap]ack Ma, fundador da rede de comércio electrónico chinesa Alibaba, vai ser consultor do Conselho para Desenvolvimento Económico e no Conselho de Ciência e Tecnologia do Governo da RAEM segundo um comunicado do Gabinete do Chefe do Executivo. Além do encontro com Chui Sai On, o também presidente da Associação Geral de Empresários da (província) Zhejiang participou ontem na cerimónia da fundação da União de Empresários da Zhejiang de Macau e partilhou ainda as suas experiências com os jovens do território. O jornal Ou Mun refere que o empresário considera que Macau tem falta de recursos, mas que enquanto porto que liga o mundo, as pessoas podem ter muitas oportunidades. Jack Ma pensa ainda que embora muitas pessoas digam que a situação económica de Macau não é boa, as oportunidades só aparecem nas crises. Ma afirmou que os jovens locais são bem-vindos para visitar e aprender com os empresários de Zhejiang.
Hoje Macau EventosJusta Nobre marca presença no Clube Militar [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Clube Militar de Macau recebe desde 2 de Junho mais um Festival de Gastronomia de Vinho de Portugal. Com a iniciativa a organização pretende presentear a RAEM com uma quinzena de divulgação e promoção com o que de melhor se faz na gastronomia portuguesa. Para o efeito o Clube faz questão de trazer “figuras proeminentes da cozinha nacional “, adianta Manuel Geraldes, e este ano conta com a presença da chef Justa Nobre considera “uma personalidade incontornável da gastronomia portuguesa”. A chef autodidacta transmontana começou em criança nas lides da cozinha inspirada pela mãe e pela avó, segundo adianta o site de Justa Nobre. Foi desde aí que a paixão, pelos vistos sem fim, pela culinária começou. Depois de estar à frente de vários restaurantes de renome, actualmente Justa Nobre chefia O Nobre, em Lisboa, e o Nobre Estoril. Os seus projectos não se esgotam por aí e o desenvolvimento de receitas e novos conceitos também fazem parte do seu ‘cardápio’ Já com dois livros publicados, Justa Nobre é Embaixadora do “Portugal Sou Eu” e da “Gastronomia Transmontana” bem como cara familiar em televisão, tendo sido júri da primeira edição do ‘Master Chef’ e presença assídua em jornais e revistas. Novos sabores Para além de ser uma oportunidade do Clube dispor de um menu especial representa ainda um momento de formação da equipa do restaurante “uma vez que o pessoal não tem nenhum português e é necessário haver acções de “on job training” e de refrescamento. A iniciativa culmina na elaboração de uma nova ementa que tem como base os pratos mais apreciados no decorrer do festival. Paralelamente decorre o festival de vinhos em que o restaurante tem ao dispor dos interessados um “buffet de vinhos que conta com a participação de todos os nossos fornecedores e importadores de vinhos”, acrescenta. A novidade deste ano reside na prova de vinhos com os respectivos fornecedores em que durante os 15 dias de festival de gastronomia e vinhos, o público tem oportunidade de fazer uma “prova guiada durante a qual é dada informação em modo pequena palestra acerca dos seus produtos” Esta é, para Manuel Geraldes uma “forma de contribuir para uma melhor divulgação e promoção do que se faz em Portugal” estando previstas cerca de oito sessões de provas de vinhos na edição que está a decorrer. O evento que teve início a 2 de Junho e fim marcado para dia 13, é agendado de forma a incluir tanto o Dia de Portugal como o de Santo António, associado ao aniversário do clube que é aqui comemorado. A decorrer desde 2000, o evento, segundo Manuel Geraldes tem tido um crescente sucesso sendo que, desde o ano passado, conta com duas edições anuais e com a participação dedicada aos vinhos. A segunda edição anual decorre no mês de Outubro coincidindo com mais uma época alta da região em que se junta a entrada do Outono a eventos como a Festa da Lusofonia.
Hoje Macau EventosFilme indiano Teen Pakau in Macau chega aos cinemas em 2017 Macau terra de luzes e ilusões mas também de história e tradição é o local escolhido para as filmagens de Teen Pakau in Macau. O filme inteiramente rodado em Macau já mexe nas ruas da RAEM e prevê ver a luz do dia em 2017 [dropcap style=’circle’]M[/dropcap]acau é o cenário integral do filme que está de momento em rodagem. Teen Pakau in Macau é uma produção ao jeito de Bollywood que conta com a realização de Johny Singh Rana. A produção da Golden Grapes Motion Pictures tem a colaboração da Associação dos Amigos de Nepal em Macau, da Companhia Internacional de Entretimento Precioso A&C Lda., e pretende narrar as aventuras e desventuras de três jovens indianos que trabalham na RAEM. O nome da película que por si só significa uma espécie de “bluffing” traz as ilusões de quem vem de fora viver nesta “bela cidade de Macau” adianta António Inácio, relações públicas da produção, ao HM. A escolha de Macau é devida ao gosto que a equipa sente pela terra na sua beleza, tradições e “glamour”. Este “ é talvez o primeiro filme a ser totalmente rodado na RAEM” adianta, enquanto considera que é também uma forma de a promover além fronteiras. Neste sentido foram inicialmente escolhidos os prontos turísticos de maior relevo como as Ruínas de São Paulo, o Templo de Ah Ma, a Fortaleza do Monte, o Aeroporto de Macau e a Torre de Macau bem como alguns hotéis e casinos de referencia da RAEM. Além dos lugares a produção afirma ainda a intenção deste ser um filme para Macau, mais até do que comercial “já que vamos cobrir quase todas as festividades e tradições multiculturais”. António Inácio sublinha que “depois de conhecer melhor Macau, estamos já a enquadrar também a cultura e a religião de acordo com as festividades locais, nomeadamente o Grande Prémio de Macau, procissões religiosas, etc.” Numa outra perspectiva, e na abordagem do jogo e dos casinos, sem fugir a este “cartão de visita” é intenção da produção abordar a situação em diferentes facetas tendo em conta também “os seu resultados negativos”. Apesar da promoção turística implícita, o RP refere ainda as dificuldades sentidas, nomeadamente por parte de alguns casinos e hotéis, na obtenção de aprovação para filmagens. Adianta que, devido a questões de planeamento, algumas casas comerciais não estão a fornecer as respectivas autorizações enquanto que outras pedem “uma quantia exorbitante” por alugueres de espaço em regime de exclusividade. Por outro lado, a produção conta já com a aprovação Instituto Cultural de Macau e das Forças de Segurança locais. A película que será um romance / comédia conta na equipa de actores com profissionais provenientes da Índia ou com origem mista nepalesa, sendo que a parte técnica integra residentes da região entre os quais António Inácio ou mesmo o produtor H. K Peter. Apesar da inclusão de profissionais locais, o RP fala da dificuldade por vezes em encontrar mão de obra especializada pelo que a produção se vê obrigada a recorrer ao estrangeiro. Teen Pakau Macau será falado em Hindi, mas legendado em inglês e chinês, sendo que é objectivo atingir os mercados internacionais bem como o da China Continental e tem data prevista de lançamento no primeiro semestre de 2017.
Hoje Macau China / ÁsiaPequim e Washington à procura de entendimentos Ontem e hoje Pequim acolhe mais uma edição do Diálogo Estratégico e Económico China-EUA. Na mesa estão as diferenças e a procura de entendimentos entre as duas potências mundiais sem esquecer os mais recentes apertos às ONGs, o excesso de produção industrial e a Coreia do Norte [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Diálogo Estratégico e Económico China-EUA que decorre em Pequim e reúne entidades governamentais de ambas as partes abriu ontem com Xi Jinping a exultar a importância de superar as diferenças enquanto que do outro lado do Pacífico, os EUA alertam para questões do excesso industrial, as restrições às ONGs e as sanções à Coreia do Norte. O Presidente chinês, Xi Jinping, apelou ontem à gestão de “diferenças dificilmente evitáveis” entre a China e os Estados Unidos da América de uma forma “pragmática” e com base na confiança e respeito mútuos. No discurso que abriu a oitava ronda do Diálogo Estratégico e Económico China – EUA, Xi afirmou que ambas as potências devem cooperar, ao invés de competir entre si, assegurando que as soluções podem ser encontradas, desde que os “esforços sejam redobrados”. Quanto às diferenças que não podem ser resolvidas no momento “temos de geri-las de uma forma pragmática e construtiva, colocando-nos no lugar do outro”, disse. Para Xi, China e EUA podem alcançar consensos desde que sigam “os princípios do respeito mútuo e igualdade”. Sem mencionar o aumento de tensões no Mar do Sul da China, que Pequim reclama na quase totalidade, Xi pediu uma maior coordenação bilateral em assuntos vinculados com a região Ásia-Pacifico em que “o vasto Pacífico devia ser um cenário para a cooperação inclusiva e não um campo para competir”, afirmou. O presidente chinês reviu ainda a evolução dos laços bilaterais sino norte-americanos desde que ascendeu ao poder, há três anos, e sublinhou que a relação cresceu em “amplitude e profundidade”, mas instou as duas partes a reforçar a comunicação para evitar “juízos estratégicos errados”. Do outro lado da mesa Por seu lado, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Jack Lew, transmitiu à liderança chinesa a sua preocupação com a nova lei daquele país para regular o trabalho das ONG estrangeiras, que considera ter ficado “debilitado”. No seu discurso de abertura Lew advertiu que a resolução deste assunto será importante para a relação bilateral entre as duas potências em que defende o papel das organizações não-governamentais na abertura e integração da China na economia mundial e a sua contribuição para cobrir as necessidades humanas básicas e incrementar o “êxito económico” do país. Ao mesmo tempo manifesta a sua preocupação “porque a China recentemente aprovou uma lei para administrar as ONG estrangeiras que debilita aqueles fundamentos, ao criar um ambiente pouco favorável para as ONG estrangeiras”, considerou. O mesmo responsável disse também que o presidente dos EUA, Barack Obama, e o seu homólogo chinês, discutiram pontos de vista diferentes relativamente às ONG, sendo que “resolver isto será importante para uma relação bilateral”, assinalou o secretário do Tesouro. Excesso de produção No plano económico, Lew destacou o processo de transição que atravessa a economia chinesa, a segunda maior do mundo, e qualificou como “essencial” o país colocar em marcha as reformas para a redução do excesso de capacidade industrial, a abertura de mais sectores ao investimento estrangeiro e o desenvolvimento do mercado de capitais. “O excesso de capacidade tem o efeito de distorcer e danificar os mercados globais”, disse, aplaudindo a decisão da China em tomar medidas para combater o problema. Pequim anunciou, no início do ano, planos para reduzir este excedente de produção na indústria do aço e do carvão chinesa, que desde há quatro anos resultam numa queda consecutiva dos preços. E na Coreia do Norte O Secretário de Estado norte-americano, John Kerry, assegurou que é “imperativo” continuar a pressionar a Coreia do Norte e apelou à China para trabalhar na mesma direcção que os Estados Unidos. Na presença do conselheiro de Estado chinês, Yang Jiechi, e o vice-primeiro ministro, Wang Yang, anfitriões do encontro, o responsável sublinhou a “necessidade” de ambos os países estarem “firmemente juntos”, no que toca ao regime norte-coreano. “Recentemente trabalhámos juntos para adoptar as sanções do Conselho de Segurança da ONU mais fortes de sempre impostas à Coreia do Norte, em resposta às sucessivas violações deste país de resoluções passadas”, recordou Kerry, em referência às medidas adoptadas após os ensaios nucleares realizados por Pyongyang. A China, um país que até há poucos anos referia a sua relação com a Coreia do Norte como sendo de “unha com carne”, começou a aplicar estas sanções em Abril. Porém, na semana passada, o Presidente chinês, Xi Jinping, recebeu uma delegação do país que lhe reiterou a aposta no desenvolvimento de armas atómicas. “Não há qualquer motivo para que qualquer país necessite de avançar para a criação de mais armas nucleares”, assinalou Kerry, acrescentando que “o mundo está a avançar na direcção oposta”. Os secretários norte-americanos de Estado, John Kerry, e do Tesouro, Jack Lew, encabeçam a delegação norte-americana, enquanto o lado chinês está representado pelo conselheiro de Estado Yang Jiechi e pelo vice-primeiro ministro Wang Yang.
Hoje Macau China / ÁsiaChina | Grupo Suning compra 70% do Inter de Milão [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] grupo chinês especializado no retalho de electrodomésticos Suning confirmou ontem a compra de 70% do clube italiano de futebol Inter de Milão, por 270 milhões de euros. Fundado em 1990 por Zhang Jindong, um dos homens mais ricos da Ásia e membro do principal órgão de consulta do Governo e do Partido Comunista da China (PCC), o Suning torna-se assim o primeiro grupo chinês a deter uma participação maioritária num clube dos cinco principais campeonatos europeus. Em comunicado, o grupo escreve que esta aquisição permitirá “estudar a experiência e conceitos avançados do futebol da Europa”, ao mesmo tempo que “abrirá a porta do campeonato italiano a jogadores chineses”. “Terá um valor incalculável para o futuro do futebol chinês”, realça. Em Dezembro passado, o Suning comprou o Jiangsu Sainty, nono classificado da Superliga chinesa, a uma empresa de têxteis com o mesmo nome, e ‘baptizou-o’ de Jiangsu Suning. No início do ano, o clube contratou os brasileiros Alex Teixeira, por 50 milhões de euros, e Ramires, por 30 milhões, a primeira e terceira contratação mais cara de sempre na China, respectivamente. A imprensa chinesa avança ainda que o grupo está em negociações para comprar a Stellar, uma das maiores agências de jogadores de futebol do mundo. A entrada de grandes grupos chineses no futebol coincide com o desejo de Pequim de converter o país numa potência futebolística à altura do seu poder económico e militar. O presidente chinês, Xi Jinping, assumiu já o desejo de ver a China qualificar-se para a fase final de um Mundial, organizar um Mundial e um dia vencê-lo. Segunda maior economia mundial, a seguir aos Estados Unidos, a China figura em 82.º no ‘ranking’ da FIFA, atrás de muitas pequenas nações em vias de desenvolvimento.
Hoje Macau h | Artes, Letras e IdeiasExposição | Macau e a Lusofonia Afro-Asiática em Postais Fotográficos É uma mostra de 260 postais fotográficos , na grande maioria datados de 1900 a 1930, período aúreo da circulação dos cartões ilustrados , que os impuseram como o mais marcante ícone da era da massificação das imagens ou da era do clichê. Documentando aspectos vários de Angola, Cabo Verde, Ex-Estado Português da Índia, Moçambique, S. Tomé e Príncipe,Timor e Macau, a sequência expositiva permite, entre outras, uma leitura de como a revolução tecnológica da 1ª Era Industrial se implantou na lusofonia afro-asiática. Luís Sá Cunha5> [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] 1a Era Industrial tem origem na invenção da máquina a vapor pelo engenheiro escocês James Watt, que a patenteou em 1769. A compreensão e aplicação dos processos da termodinâmica da força do vapor de água resultaram rapidamente na multiplicação da força do trabalho humano, operando a passagem da civilização agrária à civilização industrial, com uso das máquinas a vapor em produções massivas das fábricas de tecidos, ferramentas, papéis e… de outras máquinas mais poderosas. Se as repercussões no mundo económico foram imediatas, outras fundas aspirações iriam também rapidamente ter respostas: as ânsias humanas de comunicação, para vencer o espaço e o tempo. O mesmo Watt inventa logo de seguida processo de fazer cópias de documentos, comercializado com êxito em 1779. O processo litográfico era inventado em 1797 pelo actor Aloy Senefelder, alemão nascido em Praga, que aplicou uma tinta resistente ao ácido sobre uma placa calcária de fino grão, a que chamou planografia . Paralelamente, evoluíam avanços na Física e na Química, na óptica e nas lentes, tentando reproduzir imagens reais fixadas numa base. A técnica da fotografia surgiu em França em 1833, através de uma placa de cobre coberta com nitrato de prata, o daguerreótipo, do nome do sei inventor, Daguerre, logo seguida pela colotipia do científico inglês Henry Fox Talbot precursor das cópias sobre papel. Correm ao lado as técnicas de imprimissão e composição de fontes ou matrizes, com a linotipia e de seguida a monotipia, para textos, e com a litogravura e a fotogravura, para impressão de imagens. Surgem as revistas com ilustrações, sobretrudo a partir da última década do século. As técnicas fotográficas evoluem em rapidez e fidelidade à reprodução do real: dos pesados caixotes que requeriam 15 minutos de pose, passa-se à câmara portátil posta no mercado em 1888 pela Kodac com o genial slogan de promoção – “clique, que nós fazemos o resto”. As aplicações da máquina a vapor geram os grandes transatlânticos , as locomotivas e vias férreas transcontinentais, os cabos submarinos intercontinentais, e assim a agilização dos serviços de correios. O cartão postal Neste enquadramento exigente de novas formas de comunicação entende-se a aparição do cartão postal na Áustria em 1865, mais tarde promovido nas grandes mostras das novidades mundiais que foram as Feiras e Exposições Universais de Paris. O êxito do cartão postal compreende-se por ser meio de comunicação rápido, fácil, de baixo custo, substituindo as longas cartas fechadas, mais morosas e caras, da epistolografia romântica. O cabo-submarino e os cartões postais inauguram as mensagens “telegráficas”, no sentido de limitadas a curtas palavras, que os tempos exigiam. Na década de 90 começam a surgir os postais fotográficos ou ilustrados, que conjugam o discurso da saudade (reverso) com a visão do exótico (anverso): as famílias podem agora ver onde está o seu parente querido, as formas e cores das longínquas paragens, e sentem a sensação de uma proximidade que atenua a separação. O postal faz circular o discurso dos afectos e da nova visão do mundo , expostos ao mundo, porque viajam à vista de toda a gente. O postal é agora um documento bifronte, tem duas faces e dois discursos, é o primeiro produto post-industrial em que o conteúdo artístico se conjuga com um meio de informação ou em que o veículo da informação se vai acolher crescentemente ao elemento artístico . Os postais passam a ser o primeiro grande álbum de massas da ilustração do mundo, alargam a globalização tornando-a familiar, divulgando cidades, portos, monumentos, ícones mundiais, etno-grafias, povos e trajes, tipos humanos nunca vistos, cenários e publicidade. Na apreciação do filósofo alemão Walter Benjamin ele significa a passagem do regime da ocorrência única ao regime da ocorrência de massa, conjugando uma mensagem privada com outra reprodutível e assim massiva. É a primeira grande manifestação das indústrias culturais e indício da massificação social a deflagrar em crescendo. Mas o cartão postal fotográfico não se limita a duas faces inteiras, é geometria quadripartida, porque não há apenas frente e verso, mas neste esquerda e direita, remetentes e destinatários, e mais ainda as transgressões do reverso sobre as imagens, para as legendar, comentar, sublinhar etc., e há o texto manuscrito e o texto tipográfico: “O que eu prefiro no postal ilustrado é que não sabemos o que é o verso e o reverso, aqui ou ali, perto ou longe (…) nem o que é mais importante, imagem ou texto, e no texto a mensagem, a legenda ou o endereço”. Eis um belo resumo formal do postal na visão de Jacques Derrida . De facto, tudo num cartão postal é significante, mesmo apenas um endereço. Na vária opinião de filósofos, o postal fotográfico é “um dos mais exaustivos quanto fragmentários inventários visuais” da figuração do mundo, e “inventor da prosa do mundo por uma humanidade sem nome”. As suas imagens proliferando, viajando, prestáveis a serem coleccionadas, constituem matérias do arquivo visual de uma época, expressam um tempo como discurso e como memória, “como história e reinvenção da história”, sendo o mais relevante ícone da “febre de imagens” da “Era do clichê” (Deleuze ), ou da “violência das imagens” ( Jean Luc Nancy) , dando também matéria à “febre de arquivo” (Jacques Derrida) dos nossos dias. Invenção do turismo — uma estratégia de sedução Expostos ao olhar do mundo, “imagens distribuídas ao domícílio” na expressão de Paul Valéry, os postais vão ser o instrumento das indústrias culturais na deflagração do fenómeno do turismo, distribuindo impressões belas do mundo pelo mundo. Operando a maquilhagem do real num caixilho recortado do espaço, seleccionando o mais belo no mais favorável enquadramento, eliminando o que perturbe as sensibilidades dominantes, os cartões fotográficos impuseram-se como máscaras da sedução (Derrida) e constituindo uma estereotipia da sedução (Pierre Klossovski) incitantes do turismo. A exibição de um postal fotográfico passou a ser mostra pública de prestígio social da nova burguesia crescente, prova de frequência dos mais famosos e admiráveis sítios mundiais. A sofreguidão das imagens vem satisfazer a sofreguidão do exótico, a eliminação de distâncias e de fronteiras antes só acessíveis a poucos. Os centros urbanos, sobretudo os litorâneos, lugares de escala dos grandes transatlânticos, pressentem os novos tempos e aprestam-se a maquilhar-se, a colorir-se, ajardinar-se, a seguir a nova estratégia da sedução, para imprimirem o seu nome nos mapas das grandes rotas do mundo. A fotografia/ cartão fotográfico – fonte da História No final dos anos XX do século passado deu-se uma revolução nos critérios da análise histórica que deu origem a uma nova historiografia, por alguns chamada nova história, por superação da fundamentação exclusiva em documentos escritos e nas áreas política, diplomática, militar e económica, e com consideração de uma concepção holística da História. A história total passou a ter em conta os factos sociais no seu conjunto e inter-relação, como os sistemas culturais dominantes, a história das mentalidades, as sensibilidades sociais, as representações colectivas, a linguagem do traje e das modas etc.. Assim, a discursividade informativa da fotografia e do postal fotográfico passou a ser chamada a lugar importante de reconstituição da memória social. Este nova concepção aconteceu em França, com início das novas propostas defendidas pela École des Annales e expostas na revista “Annales d’Histoire Économique et Sociale” (1929), onde sobressaíam dois nomes de renome mundial, Lucien Fèvre e Marc Bloch. Esta escola prolongou-se por três gerações de grandes historiadores, onde podem distinguir-se Fernand Braudel, Pierre Chaunu, George Duby, Jacques Le Goff, Philipe Ariès, Pierre Nora etc., numa continuidade que se vai arrimando à antroplogia estruturalista de Lévi-Strauss e à epistemologia de Michel Foucault. Jacques Le Goff fez um dos enunciados básicos da metodologia avaliativa dos registos, com a distinção entre documento (1) e monumento (2): documento — marca de uma materialidade concreta do passado, como pessoas, lugares, equipamentos urbanos e rurais, estruturas urbanas etc. , (o que é uma escolha do historiador); monumento — como símbolo de uma época, herança do passado, o que ela estabelece como (única) imagem a ser transmitida ao futuro. Mas é Le Goff quem logo desconstrói o que disse ser uma ilusória dicotomia analítica, porque o material informativo/documental resulta da selecção, sensibilidade, critério subjectivo de quem o elabora e selecciona, e assim todo o documento é monumento, e como tal e no limite, todo o documento é mentiroso. Uma sócio-semiótica do processo histórico É dentro e a par deste movimento analítico que se gera a necessidade de mais profunda leitura dos signos, para uma interpretação sócio-semiótica da documentação histórica, onde expressões verbais, simbólicas, plásticas, de gestos, atitudes, olhares, comportamentos, trajes, linguagens, são vistos na intertextualidade dos vários códigos de compreensão do ser em trânsito no mundo. As categorias universais do signo , propostas pelo considerado grande iniciador da semiótica, Charles Sanders Peirce( 1839/1914) , primeiridade, secundidade, terceiridade, imediatismo consciente do fenómeno, entendimento do fenómeno pela consciência e interpretação e categorização dos fenómenos, constituiu quadro triádico também enquadrante da leitura dos signos visuais para posterior socio-semiótica dos fenómenos histórico-sociais. A fotografia começou a ser analizada em si própria como encenação de intertextualidade de todos os seus adereços componentes, não como simples analogon de uma realidade na sua fisicalidade concreta, mas na organização e interpretação dos seus conteúdos internos ( Umberto Eco, Ernest Gombrich). Não como um pedaço recortado e isolado do fluxo do tempo, mas como um continuum que projecta signos de interpretação para o futuro e tem no futuro uma outra e mais completa interpretação. De outra perspectiva, a fotografia por si só é histórica e, no dizer de Roland Barthes, não deve ser vista como ilustração do texto escrito, como este não deve ser o seu comentário (“la photo n’ illustre le texte, ceci ne commente la photo”) “A imagem (diz Barthes) transforma-se numa escrita, a partir do momento em que é significativa (…) uma fotografia será, para nós, considerada fala exctamente como um artigo de jornal (…) fechar os olhos é fazer a imagem falar no silêncio, a fotografia é subversiva quando pensativa”. Em figuras de gente, deve-se olhar para o traje e os adereços da vestuária, e, mais do que para o olhar, para os olhos, como recomenda Barthes. A leitura da fotografia do jovem Franz Kafka por Walter Benjamin é a mais icónica ilustração disto. Espelho e reinvenção dos impérios europeus Os discursos visuais publicitados pela circulação dos postais fotográficos podem ser vistos como espelho e reinvenção da história da expansão dos impérios europeus, sobretudo no continente africano. É que os postais não se limitavam a satisfazer o gosto pelo exótico da pupila superficial das massas citadinas europeias. Divulgando a vida dos interiores africanos, os seus usos e costumes, sistemas sociais, tecnologias ancestrais, construindo uma imagem do Outro civilizacionalmente atrasado e inferior, as imagens dos postais foram instrumento (nolens volens) da fundamentação moral às operações de uma Europa tecnicamente evoluída, belicamente poderosa, sobre núcleos tribais “primitivos”. Eis o discurso da fotografia monumento, selectiva do que uma geração intenta passar ao futuro. Limitada no seu fixismo bidimensional, a fotografia que exibe o orgulho das grandes inovações da Era Industrial — transtlânticos, portos, caminhos de ferro, estações de cabo submarino e de meteorologia, maquinarias etc. — deixa fora do caixilho ou empenumbra aquilo que se mobilizou de energia braçal para os construir, como o que em plantações de sisal, café, amendoim etc., se produzia à custa de exploração do trabalho ou da semi-escravatura. Álbum da cultura dominante, o postal também provoca, questiona, incita o olhar a aprofundar-se em dimensões meta-icónicas. Ao lado do discurso hegemónico europeu, regista também outros de incentivo à preservação das hierarquias tradicionais útil à administração europeia, e à assimilação e à integração de classes locais, que se europeizam para alcançar superior estatuto social. Tudo é cenário: na Europa a África é cenarizada, mas também aproveita os adereços desse teatro para revestir a imagem do Outro, fotografando-se com o guarda – roupa do homem da city, de cartola ou canotier, ou com chapéus emplumados à la mode de Paris. E isto, da gradação dos tons da pele ao guarda-roupa, só a fotografia pode falar à História.