Judas cobrou 100 mil para colocar emblema da China na AL

[dropcap]A[/dropcap] instalação do emblema nacional da China na Assembleia Legislativa, requisito obrigatório à luz da nova lei dos símbolos nacionais, custou 98,5 mil patacas e foi feita em 14 dias pela empresa Judas Ung E.I..

A informação consta no portal das Obras Públicas. A adjudicação do trabalho foi feita por concurso público ao qual concorreram outras quatro propostas. A vencedora apresentou o preço mais baixo, assim como o prazo de execução.

A proposta mais elevado tinha sido apresentada pela empresa Va Tat Hong Material e Sistemas Anti-Fogo, que pretendia receber 376,7 mil patacas por um trabalho com a duração de 30 dias. A segunda proposta mais barata pertenceu à Companhia de Construção e Engenharia Civil Ip Fong, com preço de 110,5 mil patacas e um prazo de execução de 25 dias.

3 Jun 2019

Acontecimentos de Tiananmen noticiados em Portugal como “banho de sangue”

Há 30 anos, os acontecimentos na Praça Tiananmen foram noticiados nos jornais portugueses como um “banho de sangue” e geraram preocupações no poder político em Portugal. Hoje, em Lisboa, a Amnistia Internacional organiza uma acção de rua para recordar a repressão contra o movimento pró-democracia protagonizado por estudantes

 

[dropcap]A[/dropcap] imprensa portuguesa noticiou, há 30 anos, o massacre de Tiananmen como “um banho de sangue”, com multidões a defenderem-se com paus e pedras dos tanques e balas com que o governo chinês tentava aniquilar o movimento pró-democracia.

Há seis semanas que os estudantes ocupavam a praça de Tiananmen, no centro de Pequim, para exigir reformas democráticas, num movimento a que se juntaram muitos cidadãos e que começava a ter eco em outras cidades chinesas.

Na noite de 3 para 4 de Junho, os confrontos com o exército intensificaram-se e tropas forçaram a entrada no reduto ocupado pelos estudantes. Um telex emitido pela Lusa reportava: “Pequim entrou hoje no caos, com os soldados a dispararem indiscriminadamente sobre multidões exasperadas de cidadãos desarmados, enfrentando a morte para protestarem contra o que descrevem como os seus dirigentes fascistas”.

As embaixadas estrangeiras preparavam planos de retirada dos seus cidadãos e aconselhavam os residentes a não saírem de casa.

Os jornais davam conta de milhares de vítimas, com base em testemunhos, manifestantes e fontes diplomáticas. A China apenas reconheceu algumas centenas, entre soldados e manifestantes, invocando razões de segurança nacional para justificar o massacre.

As imagens que chegavam de Pequim chocavam o mundo. À comunidade internacional exigiam-se medidas e criticava-se a falta de acção. Os jornalistas debatiam-se com apreensões de materiais, censura e uma lei marcial que duraria um ano, como noticiava a Capital em 1990: “Tiananmen limpa de tropas. Levantada Lei Marcial em Pequim em oito meses”.

Preocupação lusitana

O movimento ganhara força nas universidades meses antes do massacre, onde os estudantes decretaram uma greve geral. Em Maio, a demissão de Deng Xiaoping e dos principais líderes chineses, como o primeiro-ministro, Li Peng, era exigida nas ruas de Pequim por um milhão de pessoas, numa manifestação de apoio a “centenas de estudantes em greve de fome”, conforme noticiou o Europeu.

O semanário Independente, à época dirigido por Miguel Esteves Cardoso e Paulo Portas, revelava o plano da diplomacia portuguesa para lidar com o problema, dias depois do massacre.

“Portugal manda Roberto Carneiro avisar a China” foi a manchete de 9 de Junho do semanário, para noticiar a viagem do então ministro da Educação a Macau, a pretexto do 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.

A ideia colhia o apoio do Presidente da República, Mário Soares, e do primeiro-ministro, Cavaco Silva, evitando-se assim envolver directamente o ministro dos Negócios Estrangeiros, João de Deus Pinheiro, o que daria “um caráter internacional” à viagem.

De acordo com o jornal, Roberto Carneiro levava no bolso uma mensagem de Soares e recados de Cavaco. Na mensagem, citada pelo jornal, Soares transmitia “grande preocupação” pela situação na China, afirmando esperar que não ameaçasse “a liberdade e segurança” do território de Macau, então sob administração portuguesa.

O chefe de Estado português falava ainda da “necessidade de restabelecimento dos equilíbrios sociais e políticos na China” como única forma possível de “cumprir em absoluto” a Declaração Conjunta Luso-Chinesa sobre o Futuro de Macau, a que Portugal se afirmava “inteiramente fiel”.

Durante a deslocação, Roberto Carneiro deveria também manter contactos com políticos e empresários, para aferir “sentimentos e intenções”, e proferir duas declarações, a primeira, à chegada, para manifestar a “solidariedade de Lisboa” com a população portuguesa de Macau, e uma segunda com alusão aos acontecimentos de Pequim, “condenando o uso arbitrário de violência sobre civis desarmados”.

A perseguição contra os líderes do movimento estudantil continuou muito para além de Junho de 1989, com alguns a procurarem asilo nos Estados Unidos e na Europa.

AI recorda movimento

A Amnistia Internacional (AI) Portugal vai assinalar os 30 anos do massacre com uma manifestação em Lisboa, um abaixo-assinado em defesa de um activista preso na China e o envio de mil postais ao Presidente chinês.

A manifestação está marcada para hoje, dia 3, data que marca o início da “invasão da Praça de Tiananmen” pelo exército chinês, disse à agência Lusa Teresa Nogueira, coordenadora da AI Portugal para as questões da China, recordando “as imensas mortes” civis que nunca foram reconhecidas pelas autoridades chinesas.

“Temos também postais já editados, dirigidos a Xi Jinping, dizendo que as famílias das vítimas ainda esperam que seja feita justiça, 30 anos depois”, indicou, alertando que continuam a ser detidos cidadãos por lembrarem os acontecimentos que culminaram no massacre de estudantes e outros civis reunidos na principal praça do centro de Pequim em defesa de reformas democráticas.

Mais uma vez será pedido às autoridades que reconheçam publicamente as vítimas, que levem a tribunal “os culpados pelas violações de direitos humanos” e que “acabem com a perseguição a todos aqueles que querem relembrar” os acontecimentos de há 30 anos.

Os postais serão enviados por todos os grupos da Amnistia em Portugal, de norte a sul do país.
Paralelamente, decorrerá uma recolha de assinaturas pela libertação de Chen Bing, “um activista que está preso por querer relembrar” o massacre, frisou.

Em entrevista à Lusa, Teresa Nogueira recordou que pouco depois dos acontecimentos, a China reconheceu a existência de cerca de 300 feridos e 30 mortos, entre soldados e estudantes, mas afirma que “foram muito mais, foram milhares de pessoas mortas e pensa-se que centenas de estudantes”.

Três décadas depois, as famílias continuam a pedir justiça, quer em colectivo, como as “Mães de Tiananmen”, quer individualmente, como é o caso de Chen Bing, tentando que seja feita uma reapreciação dos acontecimentos em que, diz Teresa Nogueira, as vítimas “ainda são consideradas culpadas pela tal revolta que visaria acabar com a estabilidade social”, na versão das autoridades chinesas.

“Logo a seguir, os próprios familiares das vítimas começaram a ser perseguidos, de tal maneira que as pessoas tinham medo de dizer que familiares seus tinham sido mortos nos acontecimentos”, lembrou a activista.

Perseguições continuam

Ainda hoje, segundo a responsável da AI Portugal, grupos de familiares directos das vítimas continuam a ser perseguidos e a ver as movimentações “muitíssimo restringidas”. São pessoas que “de vez em quando estão em prisão domiciliária, são constantemente vigiadas, por vezes cortam-lhes a Internet, as comunicações”, relatou.

Teresa Nogueira citou o caso de uma professora universitária em Pequim, cujo filho de 17 anos foi baleado no coração no dia 3 de Junho de 1989. “O marido já morreu, sem ter visto a justiça ser feita”, lamentou.

“Além disso, ainda actualmente aqueles que querem relembrar o que aconteceu e evitar que caia no esquecimento – tal como as autoridades chinesas tudo têm feito para que aconteça – continuam a ser perseguidos”, reiterou, evocando um caso recente.

“Em 2016, quatro activistas foram detidos porque produziram um vinho branco chamado Baijiu – um vinho típico chinês – e que engarrafaram, cuja marca registaram e que, depois de colocados os rótulos, puseram à venda”, contou. Mediante um jogo de palavras, os rótulos diziam “Lembrem-se de 89 – 04 de Junho”.

As garrafas estiveram à venda cerca de três semanas, até que as autoridades chinesas descobriram o que estava a passar-se e prenderam os quatro activistas”, afirmou Teresa Nogueira.

“Apenas foram julgados no princípio de Abril deste ano, depois de terem estado desde 2016 até agora presos sem julgamento”, acrescentou. Três elementos deste grupo foram condenados a três anos de prisão, com pena suspensa.

Chen Bing foi condenado a três anos e meio e continua preso. “É em relação a ele que vamos recolher assinaturas, durante a manifestação e vamos também colocar uma petição online”, avançou, indicando que está a decorrer, a nível mundial, uma acção urgente neste sentido.

Nos postais a enviar ao Presidente da República Popular da China constará a foto que celebrizou um dos manifestantes, sozinho frente a uma fila de tanques, e cujo nome e paradeiro permaneceram desconhecidos até hoje.

Macau, Taiwan, Hong Kong, Estados Unidos e Reino Unido são alguns dos territórios onde a data será lembrada, com vigílias, debates e outros eventos públicos, à semelhança da manifestação de Lisboa, que decorrerá na avenida 24 de Julho, frente à sede da EDP.

Algumas secções da AI decidiram também pedir aos parlamentos dos respectivos países que leiam um de três textos enviados pelo secretariado internacional: a declaração escrita em cativeiro pelo falecido activista Liu Xiaobo, quando da atribuição do Prémio Nobel da Paz, a Carta 08, um manifesto de que foi o primeiro subscritor e que esteve na origem da detenção ou uma carta das “Mães de Tiananmen”.

3 Jun 2019

Zhao Ziyang, o líder que aceitou dialogar com Tiananmen, foi preso e ostracizado

João Pimenta, da agência Lusa 

 

[dropcap]O[/dropcap] único alto quadro do regime chinês que há três décadas dialogou com os estudantes que lideravam o movimento pró-democracia da Praça Tiananmen acabou votado ao ostracismo, passando os últimos anos de vida em vigilância domiciliária.

Os trágicos acontecimentos ocorridos na noite de 3 para 4 de Junho de 1989 ditaram o destino do então secretário-geral do Partido Comunista Chinês (PCC) Zhao Ziyang e puseram fim à esperança de qualquer reforma política no país.

Iniciado por estudantes da Universidade de Pequim, o movimento pró-democracia da Praça Tiananmen foi esmagado pelos tanques do exército, ao fim de sete semanas de protestos.

Em meados de Abril, o luto pela morte de Hu Yaobang, defensor de uma maior liberalização na China, mas afastado da cúpula do Partido Comunista por “falta de firmeza face ao liberalismo burguês”, tornou-se rapidamente num protesto político.

Entre os estudantes, que começaram por exigir a “reabilitação” de Hu e o reconhecimento do seu trabalho reformista, começou-se também a gritar “Abaixo a ditadura”, “Viva a democracia e a ciência”.

A contestação estudantil alastrou-se a toda a sociedade chinesa e, em meados de maio, o Governo decretou a lei marcial em Pequim. Durante os protestos, Zhao abriu canais de diálogo directo entre os estudantes e o Governo, visando direccionar a China no que considerava “um rumo assente na democracia e num Estado de direito”.

O então secretário-geral do PCC, que morreu em 2005, ordenou uma cobertura jornalística das manifestações estudantis com inédita abertura, e pôs em andamento várias reformas legislativas, visando reformar a imprensa ou o ensino.

Após o Governo ter decretado a lei marcial, e sentindo que a facção mais ortodoxa do partido estava a ganhar vantagem, Zhao deslocou-se a Tiananmen para implorar aos estudantes que saíssem, se salvassem e negociassem com o Partido. “Nós já somos velhos, já não contamos”, disse-lhes.

Mas Zhao Ziyang acabou apagado da história chinesa por acções que o partido considerou terem sido “graves erros”. A China, que passou os últimos trinta anos a tentar apagar o 4 de Junho da memória colectiva, é hoje a segunda maior economia do mundo e principal potência comercial do planeta, tendo-se convertido num ‘player’ capaz de disputar a liderança global com os Estados Unidos.

O contrato social selado entre o Partido Comunista e o povo chinês é claro: o partido mantém uma autoridade indisputada e os privilégios da elite dominante e, em troca, assegura o crescimento económico, melhoria dos padrões de vida e elevação do estatuto global do país.

Mas Pequim terá abdicado de aplicar o que Zhao considera o “maior teste” ao socialismo: a abertura política. O seu objectivo era transformar a China num Estado moderno, democrático e socialista até ao ano 2000.

Desde que assumiu a liderança da China, em 2013, o actual Presidente chinês, Xi Jinping, tornou-se o centro da política chinesa e é hoje considerado um dos líderes mais fortes na história da República Popular, comparável ao seu fundador, Mao Zedong.

No ano passado, Xi conseguiu abolir o limite de mandatos para o seu cargo, criar um organismo com poder equivalente ao do executivo, para supervisionar a aplicação das suas políticas, e promover aliados a posições chave do regime.

Sob a sua direcção, a China tem reduzido liberdades na sociedade civil, meios académicos ou Internet. Entre uma sociedade cada vez mais próspera e instruída, o regresso a um poder mais centralizado e autoritário não será bem aceite, mas o país está hoje a desenvolver e testar tecnologia para identificar e vigiar potencias dissidentes, criando uma espécie de jaula virtual suportada pela inteligência artificial, câmaras com reconhecimento facial ou a análise de dados massivos (‘Big Data’).

“Em 1989, o regime foi apanhado de surpresa”, explica Louisa Lim, autora do livro “The People’s Republic of Amnesia: Tiananmen Revisited”, à Lusa, “mas não pretende cometer o mesmo erro duas vezes”.

2 Jun 2019

Repressão em Tiananmen transformou país em República Popular da Amnésia, diz Louisa Lim

Por João Pimenta, da agência Lusa

 

[dropcap]O[/dropcap] exército chinês matou há 30 anos, no centro de Pequim, estudantes desarmados que pediam reformas políticas, expondo o carácter repressivo do regime apesar da abertura económica promovida, transformando o país na República Popular da Amnésia, segundo a escritora Louisa Lim.

Os acontecimentos sangrentos ocorridos na noite de 3 para 4 de Junho de 1989, quando os tanques do exército foram enviados para pôr fim a sete semanas de protestos, são esta semana lembrados em várias partes do mundo, mas, na China, as autoridades conseguiram com sucesso assegurar uma amnésia colectiva sobre o sucedido.

Os protestos ganharam força durante maio de 1989, pouco após a morte do líder reformista Hu Yaobang, que dividiu a hierarquia do Partido Comunista (PCC) em facções.

Hu era tido como um protector dos intelectuais e defensor de uma maior liberalização, numa altura em que a liderança chinesa lançava reformas económicas. Ficou também conhecido por iniciar uma discussão pública para pôr fim ao “culto cego” ao fundador da República Popular, Mao Zedong, na sequência da Revolução Cultural (1966-1976), uma década vista hoje como catastrófica.

Mas os desvios da linha ortodoxa do partido – Hu chegou a afirmar que as teorias marxistas-leninistas defendidas por Mao não se aplicavam à China moderna e a pressionar por uma governação mais transparente – levaram à sua queda.

Na sequência de uma primeira vaga de protestos estudantis, em 1986, Hu foi criticado por ser permissivo com os manifestantes, e acabou por ser destituído pela cúpula do partido, em Janeiro de 1987, por “falta de firmeza face ao liberalismo burguês”. O luto após a sua morte rapidamente se tornou num protesto político.

“A morte de Hu caiu como uma faísca na atmosfera altamente inflamável, marcada pela divisão entre a elite e insatisfação popular”, segundo os autores dos Papéis de Tiananmen, uma compilação de documentos secretos sobre os acontecimentos de 1989.

Os estudantes “lançaram actividades espontâneas de luto, como uma oportunidade para expressar a sua insatisfação com a direcção política do país”, lê-se naqueles documentos.

“Morreu o homem errado”, começou por se ler em cartazes afixados nas universidades, e depois nas ruas de Pequim, antes de os protestos ganharem força na Praça de Tiananmen.

Entre os estudantes, que começaram por exigir a “reabilitação” de Hu e o reconhecimento do seu trabalho reformista, começou-se também a gritar “Abaixo a ditadura”, “Viva a democracia e a ciência”.

Comboios cheios de manifestantes seguiam todos os dias para Pequim. Cerca de um milhão de pessoas chegou a ocupar a Praça Tiananmen. A contestação estudantil alastrou a toda a sociedade chinesa e, em meados de maio, o Governo decretou a lei marcial em Pequim.

Na noite de 3 de Junho, paraquedistas da 15.ª Divisão da Força Aérea chinesa, com as caras cobertas, foram transportadas por passagens secretas para o centro da capital, para, em conjunto com polícias paramilitares e os comandos, suprimirem os manifestantes.

Colunas de tanques chegaram dos subúrbios. No dia seguinte, o sangue dos estudantes, desarmados, correu em Pequim. Desde então, a China tornou-se, nas palavras da escritora Louisa Lim, a República Popular da Amnésia.

No ano seguinte, 12% dos jornais foram fechados, 32 milhões de livros apreendidos, 150 filmes proibidos e muitas dezenas de milhares pessoas presas. Os protestos produziram uma das mais icónicas fotografias do século XX – a imagem de um homem a bloquear a passagem de um tanque -, mas que continua praticamente desconhecida no país onde foi registada.

O contrato social selado entre o Partido Comunista e o povo chinês é claro: o partido mantém uma autoridade indisputada e os privilégios da elite dominante e, em troca, assegura o crescimento económico, melhoria dos padrões de vida e elevação do estatuto global do país.

Desde que assumiu a liderança da China, em 2013, o actual Presidente chinês, Xi Jinping, tornou-se o centro da política chinesa e é hoje considerado um dos líderes mais fortes na história da República Popular, comparável ao seu fundador, Mao Zedong.

No ano passado, conseguiu abolir o limite de mandatos para o seu cargo, criar um organismo com poder equivalente ao do executivo, para supervisionar a aplicação das suas políticas, e promover aliados a posições chave do regime.

Sob a sua direcção, a China tem reduzido liberdades na sociedade civil, meios académicos ou Internet. Entre uma sociedade cada vez mais próspera e instruída, o regresso a um poder mais centralizado e autoritário não será bem aceite, mas o país está hoje a desenvolver e testar tecnologia para identificar e vigiar potencias dissidentes, criando uma espécie de jaula virtual suportada pela inteligência artificial, câmaras com reconhecimento facial ou a análise de dados massivos (‘Big Data’).

“Em 1989, o regime foi apanhado de surpresa”, explica Louisa Lim, à Lusa, “mas não pretende cometer o mesmo erro duas vezes”.

2 Jun 2019

China fecha uma zona do Mar do Sul para treino militar

[dropcap]A[/dropcap] Administração chinesa anunciou o encerramento, entre hoje e terça-feira, de uma zona do Mar do Sul da China para realização de treinos militares. A Administração de Segurança Marítima da China informou que os exercícios serão hoje realizados durante todo o dia, decorrendo ainda durante meio dia na terça-feira, numa área próxima às ilhas Paracel.

A China reivindica todo o Mar do Sul da China como seu território, opondo-se fortemente à actividade naval na área por outros países. Outros cinco governos têm reivindicações sobrepostas, sobretudo relativas às ilhas Spratly, a Leste.

Esta faixa do Mar do Sul da China é rica em áreas de pesca, representando anualmente cerca de cinco triliões de dólares norte-americanos em comércio. Recentemente, a zona tem tido uma forte presença chinesa, uma forma de pressão da China para fazer reconhecer as suas pretensões.

Pequim construiu, inclusive, ilhas artificiais para poder estar mais presente no local.

2 Jun 2019

China adoptou “política correcta” na repressão à manifestação na Praça Tiananmen em 1989

[dropcap]A[/dropcap] repressão de 1989 à manifestação na Praça Tiananmen em Pequim foi a política correta a ser adoptada, disse hoje o ministro da Defesa chinês.

“Este incidente foi uma turbulência política e o Governo central tomou medidas para acabar com essa turbulência, o que foi a política correta”, disse o general Wei Fenghe durante um discurso num fórum de segurança em Singapura.

Perante uma plateia que integrava ministros da Defesa, altos militares e especialistas, o general Wei perguntou por que razão a comunidade internacional mantém a afirmação de que a China “não lidou com o incidente adequadamente”.

“Estes 30 anos provaram que a China viveu grandes mudanças”, disse ele, acrescentando que, graças à acção do governo, “a China desfrutou de estabilidade e desenvolvimento”.

Há 30 anos, Pequim foi o epicentro dos protestos encabeçados por estudantes, tendo sido mortos centenas, se não mais de mil manifestantes na Praça Tiananmen em 4 de Junho de 1989.

2 Jun 2019

Pequim responde a Washington com criação de lista negra de empresas estrangeiras

[dropcap]O[/dropcap] Governo chinês vai criar a sua própria lista negra de empresas estrangeiras “não fiáveis”, anunciou o Ministério do Comércio, em plena rivalidade comercial e tecnológica com os Estados Unidos.

Este anúncio surge depois de o gigante das telecomunicações chinês Huawei ter sido colocado em meados deste mês por Washington numa lista de empresas suspeitas às quais as entidades norte-americanas não podem vender equipamentos tecnológicos.

A Huawei, que depende dos ‘chips’ electrónicos de fabrico norte-americano para equipar os seus telemóveis, foi assim severamente atingida na sua própria existência, referem analistas citados pela AFP.

A medida anunciada esta sexta-feira por Pequim aparece como uma resposta à ofensiva da administração Trump contra a Huawei.

“As empresas, organizações e particulares estrangeiros que não obedecerem às regras do mercado, que se afastam do espírito de um contrato, que impõem embargos ou param de fornecer empresas chinesas por razões não comerciais e danificam gravemente os seus interesses e direitos legítimos serão colocados numa lista de entidades não confiáveis”, disse o porta-voz do Ministério do Comércio da China, Gao Feng.

Esta nova medida é anunciada na véspera da entrada em vigor de novas taxas aduaneiras punitivas na China sobre produtos norte-americanos, quase um ano depois do início das hostilidades comerciais desencadeadas pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

1 Jun 2019

Portugal exibe selecção de documentos da colecção “Chapas Sínicas” em Pequim

[dropcap]U[/dropcap]ma exposição com uma centena de documentos seleccionados da colecção “Chapas Sínicas” – Registos Oficiais de Macau durante a Dinastia Qing (1693-1886), vai ser inaugurada a 10 de Junho, em Pequim, na China.

De acordo com a Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB), a iniciativa, conjunta com o Arquivo Nacional da Torre do Tombo de Portugal, está inserida nos 40 anos de relações diplomáticas estabelecidas entre Portugal e a China.

Também se enquadra no 20.º aniversário da passagem da soberania de Macau para a República Popular da China, com celebrações ao longo de 2019.

A exposição “Chapas Sínicas – Histórias de Macau na Torre do Tombo” será integrada no Festival de Cultura de Portugal na China, e apresentada no Museu Nacional de Livros Clássicos, em Pequim.

Aberta ao público de 11 de Junho a 26 de Julho, a mostra apresentará uma selecção de mais de cem documentos, escolhidos de entre os cerca de mais de 3.600 que constituem a colecção “Chapas Sínicas” – Registos Oficiais de Macau durante a Dinastia Qing (1693-1886).

De acordo com a DGLAB, os registos desta correspondência “reflectem as condições da sociedade, a vida das pessoas, as interacções político-administrativas, a gestão urbanística, a administração da justiça e tributária, e outros assuntos de natureza religiosa e comercial que ocorreram em Macau durante a dinastia Qing”.

A colecção “Chapas Sínicas” foi alvo de uma candidatura conjunta do Arquivo Nacional da Torre do Tombo de Portugal e do Arquivo Histórico da Região Administrativa Especial de Macau, e encontra-se, desde 30 de Outubro de 2017, inscrita pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) no Registo da Memória do Mundo.

Primeiramente exposta no dia 6 de Julho de 2018 no Museu das Ofertas sobre a Transferência de Soberania de Macau, no âmbito da edição inaugural do “Encontro em Macau – Festival de Artes e Cultura entre a China e os Países de Língua Portuguesa”, a exposição “suscitou enorme interesse e afluência de público”, recorda a DGLAB.

Após Pequim, será exposta em Portugal, no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Outubro de 2019. A cerimónia de inauguração contará com a presença da ministra da Cultura, Graça Fonseca, e terá lugar no dia 10 de Junho, pelas 15h00 horas.

1 Jun 2019

Três escritores portugueses participam no II Fórum Literário China-Portugal

[dropcap]O[/dropcap]s escritores portugueses Isabela Figueiredo, Bruno Vieira Amaral e José Luís Peixoto vão participar no II Fórum Literário China-Portugal, que vai decorrer em Pequim a 12 de Junho.

Segundo comunicado da Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB), o evento vai decorrer no Museu Nacional da Literatura Moderna Chinesa e vai contar com a presença da ministra da Cultura, Graça Fonseca, além da presidente da Associação de Escritores da China, Tie Ning.

Depois de uma primeira edição em Lisboa, em Junho de 2017, o segundo evento vai cruzar os três autores portugueses com os chineses Lu Min, Liu Zhenyun e Xu Zechen, numa conversa que será moderada por outro escritor, Qiu Huadong.

José Luís Peixoto já tinha participado na primeira edição, então ao lado de Gonçalo M. Tavares e Dulce Maria Cardoso. De acordo com o comunicado, o ponto alto será o painel subordinado ao tema “Visão e Imaginação”, marcado para a tarde.

Para a manhã, está marcada “uma apresentação sobre a literatura chinesa e portuguesa e a sua internacionalização”, com a directora de serviços do Livro da DGLAB, Maria Carlos Loureiro, e Qiu Huadong.

A medida insere-se no Festival de Cultura Portuguesa na China, promovido por Portugal no âmbito da celebração dos 40 anos do restabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países e os 20 anos da passagem da soberania de Macau para a República Popular da China.

“Este fórum acontece no âmbito do memorando de entendimento entre a República portuguesa e a China no domínio do livro e da literatura, assinado em 2015”, explica a DGLAB, no qual reforça a parceria entre Associação Chinesa de Escritores e este organismo.

1 Jun 2019

RAEM, 20 anos | Pequim conhecia tão mal Macau como Lisboa, diz Henriques de Jesus

[dropcap]O[/dropcap] negociador da transferência de soberania de Macau para a China José Henriques de Jesus lembra, em entrevista à Lusa, que a discussão sobre este território quase desconhecido de Lisboa e de Pequim teve vários episódios pitorescos, e nem sempre agradáveis.

“Nós, muitas vezes dizíamos: em Pequim, conhece-se tão mal Macau como em Lisboa”, contou à Lusa o economista, nomeado pelo então primeiro-ministro, Aníbal Cavaco Silva, para integrar a delegação encarregada de negociar a transferência de administração de Macau para a China que daria origem à declaração conjunta assinada em 1987.

Chefiada pelo embaixador Rui Medina, a equipa incluía ainda o embaixador João de Deus Ramos, que tinha aberto a embaixada em Pequim após o estabelecimento das relações diplomáticas com a República Popular da China em 1979), e o conselheiro de Mário Soares, Carlos Gaspar.

“A negociação era entre Portugal e a China, mas o sucesso havia de ser medido em Macau, foi sempre em Macau que pensei”, adiantou Henriques de Jesus, considerando que o resultado “foi bom” porque apesar de a presença portuguesa “nunca ter sido muito forte em Macau”, Portugal soube ultrapassar as dificuldades com “força anímica”.

Henriques de Jesus que tinha feito parte do governo do general Melo Egídio (1974-1981) como secretário adjunto do Governo para os assuntos económicos entre 1979 e 1981, descreve esses anos como “entusiasmantes” e explica que o seu trabalho em Macau começou com uma folha A4, onde tentou cruzar pontos fracos e pontos fortes.

“Quem chega hoje a Macau não imagina como era nos anos 70”, assinala, destacando os esforços desenvolvidos na acção política e governativa nesse período, o que permitiu “o grande salto” que “foi o princípio do desenvolvimento de Macau”.

Regressou alguns anos mais tarde para negociar o futuro de Macau num processo exigente, que durou seis meses, envolveu dez idas do grupo de trabalho a Pequim, aventuras logísticas “pitorescas” e “alguns episódios não muito agradáveis”.

Se no quadro negocial, os interesses portugueses “eram, não exactamente coincidentes, mas convergentes” com os interesses da China, que tinha adoptado o princípio “um país, dois sistemas, facilitando a negociação, não deixaram de ser registados “incidentes mais conflituosos”

Este começam, conta o antigo economista e ex-colega universitário de Cavaco Silva, quando os chineses começam por apresentar “praticamente uma tradução em português dos acordos com Hong Kong”, o que o lado português não podia aceitar.

Enquanto se esperava uma nova proposta, Henrique de Jesus é confrontado com o que descreveu como uma “tradução mais perfeita” das iniciativas chinesas.

“Para os chineses era mais fácil: já fizemos as negociações com os outros [o Reino Unido com quem antes tinham negociado a transferência de Hong Kong], agora vamos fazer com estes, o nosso problema é o mesmo, apresentamos a mesma coisa”, lembrou.

Mas não esteve pelos ajustes. “Eu disse: eu não embarco. Se não fosse uma atitude de firmeza, tínhamos embarcado para mostrar aos chineses apenas uma tradução mais perfeita dos documentos que nos tinham apresentado”, desabafa.

Acabou por não ser isso que aconteceu. “Refizemos os documentos todos à nossa maneira”, proposta que foi posteriormente – essa, sim – negociada, explicou.

Outra ocasião em que os chineses “foram muito desagradáveis”, deveu-se à data da transferência de soberania, que Portugal queria avançar no tempo e demarcar da data da transferência de soberania de Hong Kong, mas que a China recusava deixar ultrapassar o ano 2000.

“Vieram com o discurso de ‘colonialistas, fascistas, exploradores’. Nós ouvimos e retorquimos: vocês não têm vergonha de falar nisso, quando nos éramos um milhão quando chegamos a Macau? E vocês quantos eram? Aí, acabou a conversa”, sorri.

No fim acabou por ser escolhido o dia 19 de Dezembro do ano de 1999, para não deixar passar o milénio. A questão da nacionalidade foi outro entrave negocial em que “foi preciso ser bruto”. Os portugueses não abdicavam de manter a nacionalidade portuguesa para os que já a tinham – e que eram fundamentalmente chineses. A mesma “firmeza” foi exercida no que diz respeito à liberdade de culto.

Em todo o caso, Henriques de Jesus enfatiza que Portugal teve sempre relações com a China através de Macau “e de uma maneira intensa”, apesar de o país só ter formalmente estabelecido relações diplomáticas com a República Popular da China em 1979.

O economista acredita até que essa formalização só não aconteceu antes porque a China ainda não estavam preparara para o diálogo com Portugal sobre a transferência de Macau.

“Há situações em que não falamos para não ter de responder e eles não criaram o canal normal de diálogo para não terem de responder”, defende.

Descreve Macau na actualidade como “uma terra onde as pessoas vivem bem” e “têm liberdade de expressão”, mas deixa um alerta quanto ao jogo: “A grande concentração da economia num produto pode vir a ter problemas e já tem, em termos sociais, desde que aconteceu a intensificação de licenças aos casinos. Neste momento Macau é um casino, à excepção de uma parte que tem sido conservada e valorizada pelos chineses”.

Situação que encara até “com um sorriso”, recordando que foi difícil alcançar essa salvaguarda nas negociações, porque os chineses aceitavam a palavra “conservação” do património, mas nunca aceitaram a “valorização” “Agora não há quem mais valorize o património do que os chineses”, remata.

1 Jun 2019

Casinos | Melco compra de 19,99% de acções de Crown Resorts por mil milhões de euros

[dropcap]A[/dropcap] operadora de hotéis e casinos Melco Resorts anunciou ontem a compra de 19,99 por cento das acções da maior operadora de casinos da Austrália, a Crown Resorts, por mais de 1,7 mil milhões de dólares australianos.

De acordo com o comunicado da Melco Resorts, uma das concessionárias do jogo em Macau, o grupo “assinou um contrato definitivo de compra” com o qual “adquirirá 135,35 milhões de acções da Crown (…) por um preço de 13 dólares australianos por acção”.

O negócio está assim avaliado em 1,759 mil milhões de dólares australianos“A transacção será concluída em duas parcelas iguais, em 6 de Junho de 2019 e até 30 de Setembro de 2019”, lê-se na mesma nota.

O presidente e director executivo da Melco Resorts, Lawrence Ho, ambiciona ter um lugar no conselho de administração da Crown, “de acordo com a sua [nova] posição” dentro da empresa.

“Vejo o investimento da Melco na Crown como uma incrível oportunidade de adquirir uma participação estratégica no que acredito ser o principal provedor de experiências de resort verdadeiramente integradas na Austrália”, disse o Lawrence Ho, filho do fundador da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), Stanley Ho.

Este acordo acontece pouco mais de um mês depois de a Wynn Resorts, com casinos nos Estados Unidos e Macau, ter posto fim às negociações para comprar a maior operadora de casinos da Austrália devido à divulgação prematura de discussões preliminares por parte da Crown. O grupo australiano tinha avançado estar em discussões confidenciais sobre uma oferta da Wynn.

1 Jun 2019

Hotéis e pensões com mais de um milhão de pessoas em Abril

[dropcap]M/dropcap]ais de um milhão de visitantes ficaram alojados nos hotéis e pensões de Macau, em Abril, o que representa uma descida de 2,2 por cento em relação a igual período do ano anterior, foi ontem divulgado.

Em comunicado, os Serviços de Estatística e Censos (DSEC) indicaram que 1.143.000 pessoas ficaram no território por um período médio de 1,4 noites, tal como em Abril de 2018.

A taxa de ocupação média atingiu 91,4 por cento, mais 0,3 pontos percentuais relativamente ao período homólogo, com destaque para a dos hotéis de cinco estrelas de 92,3 por cento.

No final de Abril estavam registados do território de Macau 117 hotéis e pensões, que representavam, em conjunto, 39 mil quartos. A oferta nos hotéis de cinco estrelas manteve-se nos 24 mil quartos, ou 63,4 por cento do total.

Os hóspedes provenientes da Coreia do Sul (40 mil) e de Hong Kong (137 mil) aumentaram 13,1 por cento e 1,3 por cento, respectivamente, em termos anuais. O número de hóspedes da China (774 mil) e de Taiwan (34 mil) desceu 2,8 por cento e 20,5 por cento, respectivamente, em relação a igual período de 2018, indicou a DSEC.

No mês em análise, 908 mil pessoas visitaram o território em excursões, um aumento de 20,2 por cento comparativamente a Abril de 2018.

Nos primeiros quatro meses do ano, 4.662.000 pessoas ficaram alojadas nos hotéis e pensões de Macau, ou mais 2,8 por cento do que em igual período do ano passado.

1 Jun 2019

GPDP | Huawei deu palestra sobre protecção de dados

[dropcap]A[/dropcap]llen Ting, conselheiro do Departamento dos Assuntos Jurídicos da Huwaei, esteve em Macau a convite do Gabinete para a Protecção de Dados Pessoais (GPDP) a dar uma palestra sobre a protecção de dados e as leis relacionadas com a segurança nesta área.

Na iniciativa, que ocorreu a 10 de Maio, participaram mais de 100 funcionários públicos e o comunicado do GPDP diz que a postura foi “muito activa”.

Na palestra, Allen Ting abordou o Regulamento Geral sobre a Protecção de Dados da União Europeia (General Data Protection Regulation, GDPR) e analisou as suas condições aplicáveis. Também as características jurídicas da segurança informática da China, assim como as medidas da protecção de dados pessoais do País estiverem em análise.

1 Jun 2019

China e países lusófonos com contratos de 101 mil milhões de euros

[dropcap]A[/dropcap] China e os países lusófonos assinaram 5.620 novos projectos na área de construção de infraestruturas entre 2008 e 2018, no valor de 101 mil milhões de euros, segundo um relatório divulgado ontem pelo Governo de Macau.

O número de trabalhadores deslocado pelos construtores chineses para os países de língua portuguesa, nesses 11 anos, atingiu os 203 mil, sendo que, destes, 19 mil estavam a trabalhar naqueles territórios no final de 2018, de acordo com o relatório apresentado na inauguração do 10.º Fórum Investimento e Construção de Infraestruturas (IIICF, na sigla em inglês), que terminou ontem.

Os mais recentes contratos assinados por empresas chinesas em Angola atingiram mais de 8.500 milhões de dólares, mas caiu de forma significativa para os 2.200 milhões de euros em 2018, pode ler-se no documento encomendado à Associação Internacional de Constructores da China.

Esta situação deveu-se a factores como a desaceleração económica e o aumento do défice fiscal, de acordo com o relatório.

O número de contratos assinados por empresas chinesas em Cabo Verde e na Guiné Bissau registou uma tendência decrescente.

Entre 2012-2018, o valor dos contratos e o volume de negócios associados a projectos de infra-estruturas financiados pelos países de língua portuguesas e que envolveram empresas chinesas atingiram, respectivamente, 36.200 e 39.300 milhões de dólares, sublinhando-se no relatório que este é o modelo predominante de financiamento na área da construção, seguido pelos empréstimos comerciais apoiados pelo governo chinês.

Angola, Brasil, Moçambique e Portugal são os países lusófonos nos quais se regista um maior envolvimento de empresas chinesas no desenvolvimento de infraestruturas, conclui-se no mesmo documento.

Dar trabalho

Na sessão de abertura do fórum, o vice-ministro do Comércio chinês disse que a China está a criar 700 mil empregos/ano desde 2010 nos países onde está a investir em infraestruturas.

Wang Bingnan garantiu que desde a primeira edição do fórum, em 2010, “foram criados anualmente 700 mil postos de trabalho” e investidos “30.000 milhões de dólares de financiamento para cooperação internacional para infraestruturas através de instituições financeiras chinesas”.

O governante chinês sublinhou que entre as maiores 250 empresas de construção mundial 69 são chinesas, o que leva Bingnan a concluir que a iniciativa internacional de Pequim de construção de infraestruturas “Uma Faixa, Uma Rota” é “um pilar muito importante para o desenvolvimento económico nacional” chinês.

1 Jun 2019

A Grande Dama do Chá

Por Fernando Sobral

 

[dropcap]O[/dropcap] escritório de Marina Kaplan no “Bambu Vermelho” era pequeno e despojado, mas acolhedor. Por detrás da cadeira onde ela se sentava, estava, em cima de um móvel de madeira maciça, uma estatueta de jade verde de um guerreiro chinês. A seu lado, uma fotografia de uma família que, devido à forma como estava vestida, deveria ser russa. Memória do passado que ela não queria esquecer. Ao lado de Marina, também sentado, estava Ezequiel de Campos. O seu sorriso era o de um sedutor. Os seus olhos azulados combinavam com o cabelo branco penteado para trás. Garantia segurança e, num advogado, isso era tudo. Entre a orelha esquerda e o pescoço via-se uma cicatriz. E ele parecia ter o prazer raro de a acariciar, de vez em quando, como uma velha ferida que nunca sarara. Talvez a acariciasse só para marcar distâncias.

Ou para mostrar a sua inacessibilidade. Quando Cândido chegou ao “Bambu Vermelho”, Ezequiel fez-lhe um sinal e disse-lhe:

– Bebes um vodka connosco?

Cândido sorriu e seguiu-o até à pequena sala onde Marina tinha o seu escritório. Cândido conhecera-o numa das noites que passara ali, há uns meses. Já então andava com Marina Kaplan.

– Continuas a tocar, Cândido?
– É a minha vida. Não sei fazer muito mais coisas.
– Sabes, não queres é sair do teu conforto. Temos de saber o que queremos. Eu sei que não gosto de jazz. É uma música que nos faz sentir quem ninguém ama ninguém.
– Pelo contrário, aproxima as pessoas, faz com que dancem perto uns dos outros.
– É exactamente por isso. As pessoas tocam-se, têm desejos. Concretizam-se. Mas evitam amar-se.

Dá muito trabalho.

Marina olhou para os dois. Não sabia se Ezequiel falava a sério. Nunca se sabia, porque era indecifrável a sua voz pausada. Dizia-se que Ezequiel era o homem melhor informado de Macau.

Ou, pelo menos, ele fazia com que todos acreditassem nisso. Cândido disse:

– És um homem muito informado sobre o que se passa em Macau.
– Enganas-te. Aqui ninguém sabe nada sobre ninguém. Apesar de todos acharem que sim.

O que Ezequiel queria dizer é que só ele sabia quase tudo sobre todos. Cândido bebeu um trago de vodka, que era de excelente qualidade.

– Como consegues arranjar este vodka, Marina?
– A Rússia não desapareceu. E há quem continue a saber fazer vodka. Os bolcheviques também o bebem. Às vezes, demais. Por isso não é proibido.

Dizendo isto, Marina agarrou no seu copo, elevou-o e levou-o aos lábios, bebendo tudo de um golo. E, depois, atirou o copo contra a parede, estilhaçando-o.

– O vodka é fogo. Faz com que ardam as nossas veias.

Cândido sorriu. Ezequiel ficou a olhar para a quantidade de vodka que ainda tinha no copo, mas não fez tenção de bebê-lo. Disse apenas:

– O fogo enerva-me. Há demasiado à nossa volta. Prefiro a prudência. Também deverias aprender isso, Cândido. Para que a nossa vida seja longa, e agradável, é conveniente sermos prudentes, não achas?

Ezequiel falava sobretudo para Marina. Cândido encolheu os ombros. Uma vidente dissera-lhe, um dia, que a sua linha da vida era longa. Morreria velho. Por isso poderia cometer todos os riscos.

Ezequiel pareceu adivinhar os pensamentos do músico, mas não deu muita importância a isso.

– Sabes o que é a prudência, Cândido?

Cândido assentiu. Respondeu:

– Acho que sim. Vivemos tempos perigosos. A guerra cerca-nos. Mas podemos evitá-la, não te parece? Mesmo que ela exista, podemos fingir que ela não existe.

– Diz-me, o que é que é que achas que conduz um homem para a guerra?
– Sei lá. A ignorância? A estupidez?
– Tudo isso e outra coisa, a imprudência. Porque é que os portugueses sobrevivem há quase 500 anos em Macau? Porque são prudentes. Sabem as suas forças e as suas fraquezas. Moldam-se.

Estão bem com todos. Que interessa agora estar ao lado dos japoneses ou dos ingleses? Um ganhará, outro perderá no fim. E esse não se adivinha. Ainda é mais difícil saber quem dos senhores da guerra chineses vencerá. Por isso há que ser pragmático. Macau é um porto de abrigo para todos. Sempre fomos comerciantes. Temos de colaborar com todos. Sabemos que isso é bom para nós e para os nossos interesses.

Cândido ouvia-o, mas olhava sobretudo para Marina. Continuava bela e insinuante. Ezequiel não era o seu único amante em Macau, pressentia. Ezequiel, indiferente ao olhar que Cândido e Marina trocavam, voltou a falar:

– Mantém os olhos sempre atentos, desconfia de tudo e, de preferência, evita morrer. O grande general Sun Tzu dizia que a mais preciosa faculdade dos reis era a manipulação divina dos cordéis, que consistia em pôr em funcionamento um serviço secreto. É preciso antever as jogadas dos outros. Porque a mesma mão que faz, também desfaz. Não podemos pensar que Macau está imune ao que se passa à volta. O paraíso tem sido, muitas vezes, destruído. Sempre pela mesma coisa, a guerra.

– O mundo é o nosso grande inimigo. Em tudo.

Ezequiel riu.

– Será. Mas se todos dominassem as leis da sedução como faz a Marina, este seria um mundo melhor.

Marina sorriu e beijou a face de Ezequiel. Este passou-lhe a mão pelo braço e depois voltou a fitar Cândido. Nesse momento bateram na porta do escritório. Jin Shixin entrou e aproximou-se devagar. Conhecia Ezequiel, através de Marina. Usava um clássico vestido chinês, o Cheongsam, justo, que lhe alongava a silhueta. Vestia-o sem calças por baixo, o que lhe dava um ar ainda mais sensual. Jin sabia usá-lo, porque era um vestido que obrigava a gestos bem cuidadosos. Rodeou a mesa e foi colocar-se, de pé, por detrás da cadeira onde estava sentada Marina. Sorriu para Cândido.

– Voltamos a encontrarmo-nos.
– Em melhores circunstâncias.
– É verdade.

Nem a face de Ezequiel nem a de Marina revelaram surpresa. Sabiam, claramente, o que se passara.

– De que falavam?

Cândido disse:

– Da guerra e de Macau.
– Então falavam da sobrevivência.

Marina sussurrou:

– Disso mesmo. Para sobreviver, às vezes, é preciso saborear as cinzas deixadas pelo fogo.
Jin Shixin não disse nada. Fixou o olhar em Cândido. Ela era uma mulher que sabia ler os homens sem deixar que a lessem. Sabia seduzir e só era seduzida quando isso lhe interessava. Mas a forma como olhava para Cândido revelava que ainda tinha dúvidas sobre ele. Ela disse então:

– Macau é a cidade dos amores impossíveis. Durante séculos atraiu comerciantes e padres em busca de ópio e de almas. Não se pode contentar todos para sempre.

– Tal como agora é impossível contentar japoneses e chineses, não é verdade?

Jin retorquiu:

– Não coloque os ocidentais fora da guerra.

Quando elevava a voz, Jin ficava com um ar elegante e altivo. Demasiado tentador. Ezequiel disse, apaziguador:

– Se tivermos um jardim e só lá estiverem plantadas rosas não será tão bonito como se lá tivermos flores diferentes. Em Macau e na Ásia se só tivermos uma cultura ou uma religião perde-se a diversidade. E a beleza.

Jin suspirou e respondeu:

– Isso é no mundo ideal. Não num tempo de guerra, onde todas as flores são destruídas.

1 Jun 2019

“Junho, Mês de Portugal” com teatro infantil e marionetas

[dropcap]O[/dropcap]s mais pequenos estão todos convidados para celebrar amanhã, 1 de Junho, o Dia Mundial das Crianças. Há espectáculos de marionetas e teatro, no âmbito do programa das festividades de “Junho, Mês de Portugal”, organizadas pela Casa de Portugal e pelo IPOR.

“A Magia do Circo” é uma história de marionetas, com doze personagens principais, e mais alguns amigos, que vão ganhar vida nas mãos da artista Elisa Vilaça. São figuras que habitam o mágico mundo circense, com palhaços, malabaristas, e outros convidados, que podem ser vistos por crianças a partir dos 6 meses em diante.

O espectáculo tem duas sessões no Conservatório de Macau, às 11h30 e às 15h00, e os bilhetes gratuitos podem ser levantados na Casa de Portugal.

Pelas 17h30, é a vez da peça “O Nabo Gigante” subir ao palco do Auditório da Casa Garden, um espectáculo de teatro oara a infância adaptado do conto tradicional russo, com o mesmo nome, recolhido por Alexis Tolstoi no séc. XIX. A história relata as inquietações de um casal idoso, que encontra na sua quinta um nabo que não pára de crescer. O conto popular tem ingredientes divertidos e é adequado a crianças a partir dos 5 anos de idade.

Trazido pela companhia ATE – Associação de Teatro Educação, a peça será contada pelos artistas Alexandre Sá e Rita Burmester, com organização do Instituto Português do Oriente.

1 Jun 2019

Acidentes | FGAM pagou 5,13 milhões a vítimas

[dropcap]D[/dropcap]esde a criação da RAEM, o Fundo de Garantia de Automóvel e Marítimo (FGAM) pagou 5,13 milhões de patacas para satisfazer pedidos de indemnizações por morte ou lesões corporais resultantes de acidentes com este tipo de veículos.

Os dados foram revelados por Benjamin Chan, presidente da Autoridade Monetária de Macau (AMCM), em resposta a uma interpelação do deputado Sulu Sou. Segundo o responsável a prioridade nos pagamentos vai para as pessoas que sofreram lesões corporais e das 49 notificações judiciais recebidas, 39 tiveram de ser resolvidas em tribunal.

Entre estes casos, 17 obrigaram o FGAM ao pagamento das indemnizações, sendo os restantes 22 pedidos de indemnização recusados. O deputado Sulu Sou tinha questionado o FGAM se haveria hipótese de disponibilizar adiantamentos ou empréstimos às vítimas, enquanto aguardam pelo andamento dos processos nos tribunais para fazerem face às despesas com os hospitais, mas o FGAM recusou a hipótese colocada. Benjamin Chan reconhece as “pressões financeiras” para as vítimas, mas explica que há outros métodos de auxílio, nomeadamente por parte do Instituto de Acção Social.

1 Jun 2019

Bancos | Países de Língua Portuguesa e Macau de acordo

[dropcap]O[/dropcap]s Bancos de Países de Língua Portuguesa e os congéneres de Macau assinaram ontem um acordo para aprofundar a ligação existente o que poderá levar a um maior investimento no continente africano.

Segundo o presidente do Fundo de Cooperação e Desenvolvimento China-África, Shi Jyiang, já foram feitos investimentos de 2 triliões de dólares norte-americanos em África e a instituição ainda tem disponíveis 800 milhões de dólares americanos.

“Estou sempre a pensar e a procurar projectos para investir”, afirmou o responsável durante o seu discurso. Shi explicou também que estes 800 milhões podem passar pelo bancos de Macau, como plataforma, uma vez que o Fundo de Cooperação e Desenvolvimento China-África não dispõe de um rede de bancos a retalho.

1 Jun 2019

Mais de um milhão de pessoas no aperfeiçoamento contínuo

[dropcap]M[/dropcap]ais de um milhão de pessoas participou desde 2011 até ao final de Março deste ano no Programa de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento Contínuo. Os números da iniciativa do programa foram revelados pelo director da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), Lou Pak Seng, em resposta a uma interpelação de Song Pek Kei.

“Até 31 de Março de 2019, o número total de participantes nas três fases ultrapassou um milhão. O programa foi bem acolhido pela população e obteve bons resultados”, considerou Lou.

Ao nível das preferências dos participantes os cursos técnico-profissionais são a principal escolha ao acolherem 61 dos participantes. Entre estes, as aulas de tradução linguística, comércio e gestão são as mais populares. Segundo a DSEJ, as preferências mostram que há um aumento nas competências e qualificações profissionais dos residentes, o que contribui para “o desenvolvimento diversificado da economia” local.

Fiscalização in loco

Um dos assuntos quem tem assombrado este programa são os eventuais casos de fraudes. No entanto, a DSEJ garante que tem feito inspecções in loco, além de ter implementado outras medidas de controlo.

De acordo com a informação enviada a Song Pek Kei, até 31 de Março deste ano, houve cerca de 2.800 inspecções nos locais das instituições que ministram estes cursos. Deslocações que resultaram em mais de 2.800 documentos analisados, em entrevistas a 1.000 pessoas e mais de 22.000 casos analisados de forma aleatória.

Durante as inspecções, os representantes da DSEJ passam entre 5 e 10 minutos nos locais, de forma a evitarem que as aulas sejam afectadas. A mesma informação revela também que desde Janeiro de 2019 as presenças dos alunos são inseridas num sistema electrónico, a que a DSEJ tem acesso, para certificar-se que as aulas decorrem dentro da normalidade.

Na mesma interpelação, o Governo deixa ainda a certeza que “caso sejam detectadas infracções ou ilegalidades são instaurados processos de averiguação administrativa ou são encaminhados para os órgãos de polícia criminal e órgãos judiciais”.

31 Mai 2019

IPM nega ter barrado entrada a jornalista

[dropcap]O[/dropcap] jornal Cheng Pou publicou ontem um artigo em que um repórter dizia ter sido barrado, quando tentava fazer a cobertura da cerimónia de formatura do Instituto Politécnico de Macau (IPM). Segundo um relato, o jornalista teria sido interceptado por um segurança que lhe teria pedido para se identificar.

Como outros jornalistas foram autorizados a passar e ele não, terá abandonado o local. Em resposta a esta exposição, o IPM explicou que foi um mal-entendido por parte de um guarda inexperiente e já pediu desculpas ao repórter: “O IPM não bloqueou ou impediu a entrada de qualquer jornalista na cerimónia de graduação. O que aconteceu foi que um jornalista se dirigiu a um dos guardas da segurança, perguntando se podia entrar. Este guarda nunca tinha sido confrontado com uma situação deste género e não soube como reagir de imediato”, começou por explicar a instituição, numa resposta ao HM.

“Dada a dimensão da cerimónia, [o guarda] teve receio de cometer algum erro e pediu ao jornalista para esperar. Talvez por a resposta ter demorado, o jornalista foi-se embora.

Só hoje [ontem], ao ler a notícia no jornal, o IPM soube do sucedido e tratou de apurar de imediato a verdade”, foi acrescentado.

O IPM garantiu também que foram dadas instruções aos seguranças para que situações deste género não se repitam no futuro e garantiu respeitar todas as leis do território, como as leis de imprensa.

31 Mai 2019

Emissão de dívida portuguesa em moeda chinesa “foi um sucesso”, diz ex-presidente do IGCP

[dropcap]O[/dropcap] ex-presidente do IGCP – Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública João Moreira Rato sublinha que “Portugal foi precursor em termos de emissões soberanas em ‘panda bonds’” e considera que “a operação foi um sucesso”.

“É uma iniciativa positiva ir procurar novas bases de investidores da forma o mais segura possível e com os menores riscos possíveis”, afirmou João Moreira Rato, em declarações à agência Lusa.

“Acho que esta operação, principalmente, representa para Portugal uma opção de entrar num mercado que no futuro pode ser muito representativo, mas que nesta fase ainda está numa fase de desenvolvimento insipiente”, acrescenta o ex-presidente do IGCP.

Para João Moreira Rato, “o que se espera é que, tendo sido um dos primeiros a entrar e acumulando alguma experiência neste mercado, Portugal fique bem colocado no futuro para ter acesso a uma outra base de investidores, que é uma base de investidores com um potencial enorme”.

Embora apontando a componente “política” da operação, que deve ser inserida no “contexto das relações bilaterais entre Portugal e a China”, João Moreira Rato considera que esta aposta numa “base de investidores novas pode ser importante no futuro” e constituiu uma “justificação técnica” para a opção pelas ‘Panda Bonds’.

Quanto ao risco associado à operação, o ex-presidente do IGCP admite que “a cobertura pode ser difícil”, mas não a considera “arriscada demais”: “Penso que o IGCP há de ter acautelado os riscos e esse, provavelmente, foi um dos factores que levou a que a operação fosse mais pequena”, referiu.

“[A operação] pode fazer sentido do ponto de vista financeiro, em termos de explorar novas bases de clientes. Agora o que se pode é questionar se não haveria outras bases de clientes que também deveriam ser pensadas e que poderiam ser mais baratas, mas isso são escolhas que depois têm de se fazer”, disse à Lusa.

“Tenho a certeza que a escolha está bem fundamentada tecnicamente pelo IGCP, a partir daí é uma escolha mais política do Ministério das Finanças entre a opção A, B ou C”, acrescentou.

Portugal colocou ontem dois mil milhões de renmimbi (260 milhões de euros) em ‘Panda Bonds’ a três anos com juros anuais de 4,09%, anunciou em comunicado o tesouro português.

Segundo um comunicado divulgado na página da Internet do IGCP, a procura dos investidores pelos títulos “foi forte”, 3,165 vezes o montante colocado, tendo permitido rever em baixa a taxa de juro para 4,09%.

Em 27 de maio, o IGCP tinha anunciado que iria colocar dois mil milhões de renmimbi (260 milhões de euros) em ‘Panda Bonds’ a três anos com a taxa de juro a variar entre 3,90% e 4,5%.

Esta operação de ‘Panda Bonds’ foi a primeira emissão em moeda chinesa de um país da zona euro e a terceira de um país europeu. Com esta operação Portugal acedeu ao terceiro maior mercado de obrigações do mundo, refere ainda o IGCP.

A emissão realizada pelo IGCP só avançou depois de Portugal ter tido ‘luz verde’ das autoridades chinesas para emitir títulos de dívida em moeda chinesa – as chamadas ‘Panda Bonds’.

“Um sinal económico”

A emissão de dívida feita por Portugal em moeda chinesa é um sinal “mais económico do que político”, disse à agência Lusa Carla Fernandes, do Instituto Português de Relações Internacionais da Nova.

A investigadora do IPRI-Nova disse que a aproximação entre Portugal e China é algo que já está a acontecer “há muito tempo” e tem-se estreitado depois da visita do presidente chinês, Xi Jinping, a Portugal, no ano passado.

Carla Fernandes recordou que, durante esta visita, foram assinados vários protocolos, incluindo um para a emissão das ‘Panda Bonds’, que hoje foi concretizada.

Mais recentemente, foi o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que visitou a China, recordou a investigadora, salientando que as boas relações entre os dois países tiveram a sua prova principal na transferência “muito pacífica” da soberania de Macau para a China.

Carla Fernandes deu ainda conta de que entre os países europeus “Portugal está no grupo” dos que contam com melhores relações com a China, tendo também a conta as ligações históricas entre os dois países ao longo de vários séculos.

31 Mai 2019

China acusa Estados Unidos de “terrorismo económico”

[dropcap]A[/dropcap] China declarou hoje que a guerra comercial bilateral iniciada pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, com taxas alfandegárias punitivas e sanções contra empresas chinesas, é “terrorismo económico”.

“Somos contra a guerra comercial, mas não temos medo dela”, declarou o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Zhang Hanhui, em conferência de imprensa.

“Opomo-nos firmemente a este recurso sistemático às sanções comerciais, às taxas alfandegárias e ao proteccionismo. Esta instigação premeditada de um conflito comercial é terrorismo económico, chauvinismo económico e assédio económico em estado puro”, advertiu.

A declaração do responsável chinês surgiu no momento em que a China se mostra progressivamente mais ofensiva perante aquilo que considerou serem pressões intoleráveis de Washington.

A guerra comercial entre as duas potências intensificou-se desde que Washington aumentou, no início deste mês, as taxas alfandegárias punitivas sobre produtos chineses.

Donald Trump reforçou também a pressão sobre o gigante das telecomunicações chinês Huawei, “número dois” mundial dos ‘smartphones’ e líder planetário das redes móveis de quinta geração (5G).

Em nome da segurança dos Estados Unidos, uma lei proíbe desde o ano passado as administrações federais de comprarem equipamentos e serviços do grupo, ou de trabalharem com empresas terceiras que sejam clientes da Huawei.

A administração de Trump proibiu também as empresas norte-americanas de venderem tecnologia à Huawei, colocando em risco o aprovisionamento crucial para o gigante chinês de componentes electrónicos produzidos nos Estados Unidos.

“O unilateralisno e o assédio crescem e afectam gravemente as relações internacionais e os princípios fundamentais”, sublinhou Zhang Hanhui.

“Este conflito comercial terá igualmente um impacto negativo importante sobre o desenvolvimento e o relançamento da economia mundial”, advertiu o responsável chinês.

Perante o ataque de Trump, meios de comunicação social e responsáveis políticos chineses lançaram a ameaça de reduções nas exportações de terras raras para os Estados Unidos, o que poderá vir a privar as empresas norte-americanas de um recurso essencial para as tecnologias de ponta.

A China assegura mais de 90% da produção mundial deste conjunto de 17 metais, indispensáveis no fabrico de ‘smartphones’, ecrãs plasma, veículos eléctricos, mas também de armamento.

30 Mai 2019

Malásia vai continuar a usar equipamentos Huawei, diz Primeiro-ministro

[dropcap]A[/dropcap] Malásia vai continuar a usar os equipamentos do gigante das telecomunicações chinês Huawei “tanto quanto possível”, anunciou hoje o primeiro-ministro malaio, Mahathir Mohamad.

A “Huawei tem um enorme avanço, mesmo sobre a tecnologia norte-americana” e “o Ocidente” deve aceitar o domínio crescente das nações asiáticas, considerou o dirigente de 93 anos, por ocasião de um fórum económico em Tóquio.

A empresa chinesa tem meios de investigação e de desenvolvimento “bem mais importantes que toda a Malásia”, disse.

“Por isso, vamos tentar usar a tecnologia [da Huawei] tanto quanto possível”, acrescentou. Em vez de ameaçar os rivais, “os Estados Unidos devem aceitar a concorrência. Algumas vezes a China sairá vitoriosa, outras vezes serão os Estados Unidos”, disse o governante malaio.

Em plena guerra comercial contra Pequim, a administração do Presidente norte-americano, Donald Trump, proibiu recentemente as empresas dos Estados Unidos de venderem tecnologia à Huawei, “número dois” mundial dos ‘smartphones’, o que coloca em risco o aprovisionamento crucial para o gigante chinês de componentes electrónicos produzidos nos EUA.

Washington suspeita, sem até agora ter apresentado quaisquer provas, que a Huawei permite aos serviços de informações chineses de utilizar o seu material para espiar as comunicações nas redes móveis mundiais.

“Sim, talvez espiem. Mas o que há exactamente para espiar na Malásia? Somos um livro aberto”, afirmou Mahathir Mohamad. “Todos sabem que, se um país nos quiser invadir (…), nós não resistiremos, seria uma perda de tempo”, concluiu.

Em Abril passado, o Governo da Malásia anunciou que vai retomar um projecto de ligação ferroviária, de 668 quilómetros de comprimento, que liga a costa ocidental da Malásia aos estados rurais orientais, numa ligação essencial à iniciativa chinesa de construção de infraestruturas “Uma Faixa, Uma Rota”.

O acordo foi alcançado depois de o construtor chinês ter baixado os custos, sendo agora de 44 mil milhões de ringgits, uma descida de um terço em relação ao custo inicial de 65,5 mil milhões de ringgits.

Em Agosto de 2018, Mahathir Mohamad cancelou também a construção de dois oleodutos, financiados pela China e avaliados em milhares de milhões de dólares, no final de uma visita oficial a Pequim, onde esperava renegociar os termos dos contratos, apoiados por bancos estatais chineses.

30 Mai 2019

Crime | Macau, Hong Kong e Guangdong reforçam combate

[dropcap]A[/dropcap]s forças policiais de Macau, de Hong Kong e da província chinesa de Guangdong reuniram-se terça-feira para reforçarem a cooperação no combate à associação criminosa, imigração ilegal e exploração de prostituição, informaram ontem as autoridades.

O encontro decorreu na cidade de Foshan e juntou responsáveis das polícias de investigação criminal das três regiões que integram o projecto da Grande Baía.

As forças policiais partilharam estudos sobre as novas formas de cooperação no combate à criminalidade transfronteiriça, bem como as estratégias face a fenómenos como o tráfico de droga, crimes de burla e branqueamento de capitais.

30 Mai 2019