Hoje Macau SociedadeJogo VIP | Receitas sobem 55,7% no terceiro trimestre [dropcap]A[/dropcap]s receitas brutas do jogo VIP no terceiro trimestre deste ano registaram uma subida de 55,7 por cento em relação aos três meses anteriores, indicaram dados divulgados ontem pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ). No segundo trimestre, as operadoras tinham arrecadado 1,5 mil milhões de patacas no segmento de altas apostas. Nos três meses seguintes contabilizaram 2,3 mil milhões de patacas. Ainda assim, muito longe dos resultados obtidos em anos anteriores, e dos primeiros três meses do ano, quando registaram receitas de 14,8 mil milhões de patacas, apesar das contas reflectirem já o impacto da crise provocada pela pandemia da covid-19. Os últimos dados do jogo em Macau mostraram que as receitas dos casinos em Macau subiram 228 por cento em Outubro, comparativamente a Setembro, mas, mesmo assim, com uma quebra de 72,5 por cento relativamente a igual mês de 2019. A subida no jogo VIP acompanhou os resultados globais do mercado do jogo. Em Outubro, as operadoras que exploram o jogo no território arrecadaram 7,27 mil milhões de patacas, mais 5,05 mil milhões de patacas que no mês anterior.
Hoje Macau PolíticaSegurança nacional | Alerta contra forças externas [dropcap]“I[/dropcap]remos adoptar medidas eficientes de prevenção efectiva da infiltração e intervenção das forças externas e diligenciar no sentido de criar relações de desenvolvimento e segurança, de modo a garantir a estabilidade e segurança da RAEM e salvaguardar a segurança nacional”, declarou ontem o Chefe do Executivo. As Linhas de Acção Governativa indicam que o regime da defesa da segurança nacional vai ser aperfeiçoado de forma constante. Será ainda criada uma subunidade para executar a lei de segurança do Estado, e promovida a elaboração do projecto do regime do segredo da RAEM. O patriotismo está também associado às principais orientações para 2021. “Iremos maximizar a função da ‘Base de Educação Patriótica’ destinada aos jovens, conjugar os recursos pedagógicos nos âmbitos sociais, históricos e patrióticos, aprofundar o reforço da educação do amor pela Pátria e por Macau, o sentimento patriótico juntos dos estudantes e jovens, aumentando o seu sentido de orgulho e de responsabilidade em serem chineses”, descreveu Ho Iat Seng.
Hoje Macau Manchete PolíticaLAG 2021 | Governo mantém cheques pecuniários mas regras de distribuição podem mudar [dropcap]O[/dropcap] Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, anunciou esta tarde na Assembleia Legislativa (AL) as Linhas de Acção Governativa (LAG) para o próximo ano. A continuação dos cheques pecuniários à população é uma garantia do Executivo, ainda que a forma de distribuição dos mesmos possa vir a mudar. Segundo a TDM Rádio Macau, a “forma de distribuição” vai ser decidida “de acordo com as circunstâncias”. Actualmente os residentes permanentes recebem 10 mil patacas, enquanto que os residentes não permanentes recebem seis mil patacas. Ho Iat Seng prometeu “continuar a implementar medidas vocacionadas para o bem-estar da população” tal como “a comparticipação pecuniária, a devolução do imposto profissional, os benefícios de cuidados de saúde e apoio especial às famílias em situação vulnerável”. Fica também a garantia da continuação da “subvenção do pagamento de tarifas de água e de energia eléctrica”, entre outras medidas de apoio. O Chefe do Executivo frisou que “não obstante a contenção ao nível das despesas públicas, não serão reduzidas as despesas relacionadas com o bem-estar da população”, além de serem garantidas “as condições mínimas de vida e regalias de grupos vulneráveis”. Os valores dos apoios sociais mantém-se, portanto, iguais aos de 2019. Emprego para locais Para o ano financeiro de 2021, o Governo promete dar “prioridade aos trabalhadores residentes no acesso ao emprego”. Para ajudar os residentes que perderam o emprego por causa da pandemia, Ho Iat Seng promete “o alargamento do âmbito dos destinatários dos cursos de ‘formação remunerada’”, bem como apostar “na formação de reciclagem de trabalhadores afectados pelo impacto da pandemia para um acesso mais fácil a outros empregos”. Quanto aos trabalhadores não residentes, será optimizado o sistema de gestão, “implementando de forma rigorosa o mecanismo da sua entrada e saída no sentido de controlar o seu número conforme a evolução da situação epidémica e o desenvolvimento económico”.
Hoje Macau China / ÁsiaPelo menos sete mortos e sete em estado crítico num incêndio em Hong Kong [dropcap]P[/dropcap]elo menos sete pessoas morreram e sete estão em estado crítico, na sequência de um incêndio num edifício residencial em Hong Kong, noticiou hoje a imprensa local. As vítimas mortais foram três homens, três mulheres e uma criança de 09 anos, noticiou o jornal South China Morning Post (SCMP). Três homens e quatro mulheres foram hospitalizados, no domingo à noite, em estado crítico. Duas outras pessoas encontram-se em estado grave, indicou. O incêndio foi o mais mortal em Hong Kong em quase uma década. O apartamento terá acolhido uma reunião familiar, mas as autoridades estão a investigar se funcionava no local um restaurante sem licença. A maioria das vítimas é nepalesa. Os bombeiros informaram hoje numa conferência de imprensa que não havia medidas de segurança contra incêndios no edifício e que um dos presentes durante o evento conseguiu salvar-se ao subir pela janela da casa de banho do apartamento.
Hoje Macau SociedadeJogo | Cloee Chao pede bónus para trabalhadores [dropcap]A[/dropcap] Associação dos Direitos dos Trabalhadores do Jogo de Macau, liderada por Cloee Chao, exigiu ao Governo que pressione as operadoras a cederem o bónus do 13.º mês. A posição foi tomada na sexta-feira, com a entrega de uma carta na sede do Executivo. Apesar de agradecer às seis operadoras do jogo de Macau o esforço na protecção do emprego dos trabalhadores locais em época de pandemia, a associação alegou que este ano já não houve o bónus do Verão e que como “o pior [da crise] já passou”, com sinais de recuperação, as empresas têm capacidade para fazer face a mais esta despesa. Além disso, Cloee Chao defendeu que “as seis maiores empresas de jogo têm obtido lucros enormes ao longo dos anos, e quanto mais lucros fazem, mais responsabilidades têm de assumir, pelo que deveriam ser consideradas mais responsáveis pela promoção da recuperação económica de Macau e pela manutenção da estabilidade social”. A associação pediu ainda ao Governo que reconsidere a decisão de não injectar em 2021 as habituais sete mil patacas no Regime de Previdência Central Não Obrigatório. Esta é uma medida extraordinária que está indexada ao excedente orçamental. Como este ano e no próximo ano, deverá haver défices orçamentais, o Executivo suspendeu este apoio social. “Até o orçamento do Governo está no ‘vermelho’ este ano, o que mostra que o impacto da epidemia nas famílias dos cidadãos comuns é ainda maior”, salientou a associação face à necessidade de distribuição das sete mil patacas.
Hoje Macau VozesPlano Director V – Da Morfologia Urbana / O espaço canal [dropcap]E[/dropcap]m morfologia urbana importa tanto o que se concretiza, com as características e os atributos do que se concretiza. A tipologia urbana de espaço canal é caracterizada por um território rasgado por artérias onde os humanos circulam socialmente nas suas diversas formas de locomoção e de interacção urbana. A fronteira desses espaços constitui o limiar entre o público e o privado, e o mesmo significa territorialidade, segurança e privacidade. Naturalmente as configurações que disso podem resultar são diversas e as variações constituem manifestação cultural. Efectivamente, no espaço mediterrânico, o limiar desses canais era tendencialmente murado, e ainda é, independentemente de a edificação privada se estender, ou não, até esse limite. Disso resultava resguardo da luz, da territorialidade e da privacidade, senão mesmo contenção da ostentação privada que não era bem vista, sendo isso o que ainda persiste nas culturas a sul e a este do Mediterrâneo. Assim, as construções tinham poucas portas e janelas que dessem directamente para o espaço público, e tinham cortinas necessariamente. Aí, o espaço público era estritamente o necessário, porque não era de fácil manutenção, e nem sempre claro se o mesmo era de todos, ou antes, se era de ninguém. Foi também essa uma tradição que emergiu de densidades populacionais mais altas, i.e. onde a vida humana estava organizada em regimes de grande concentração e proximidade, numa cidade que representa o território em torno, e que se dedica a actividades predominantemente de entreposto comercial. Se nos distanciarmos desta realidade urbana ocidental, que sequer é estranha à oriental, e se progredirmos na direcção das tradições do norte europeu, que são as mesmas que proliferaram do outro lado do Atlântico, ao norte do continente americano, aí as ruas não são muradas sempre que a construção não se estende até ao limiar da rua, o espaço público abunda em climas onde é mais fácil manter estruturas de verde ambiental, e facilmente gera paisagem natural. É também uma tradição que emergiu de densidades populacionais mais baixas, onde poucas são as ruas que têm actividades comerciais. Aí, as construções já precisam de captar luz, as janelas são maiores e não se correm cortinas. Nos países de religião predominantemente protestante, correr cortinas é antes visto como encobrimento de algo que não é socialmente aceitável. Em verdade, circular à noite nas ruas de uma cidade holandesa, onde abundam edifícios com habitação no rés-do-chão, a tentação de um estrangeiro é mesmo olhar para os interiores das casas. E de tudo isso chegam ainda manifestações dispersas aos nossos dias, tais como, quando alguém responde a um anúncio de uma propriedade em Portugal, a primeira pergunta que faz é se está murada. Ou a avó que visita a casa dos netos na Holanda e vê as cortinas corridas, a primeira coisa que faz é abri-las, por causa do que os vizinhos possam pensar. Em verdade, as dispersões das semelhanças destas tradições foram no passado mais em torno de um mar, de um rio, ou de um canal. Resulta por isso curioso que, no passado, os humanos já estiveram mais próximo de poderem ser nacionais de meios hídricos, nas margens dos quais se fixaram, do que dos territórios continentais que a partir dessas margens se estendiam. E tudo teve a ver com os caminhos que se percorriam, dos quais o caminho pelo meio hídrico já foi o mais fácil e o mais público. As tradições urbanísticas ocidentais do sul e do norte, muito embora norteadas pelo mesmo modelo clássico de urbanização, resultaram de diferentes densidades demográficas, onde numa, a escassez era mais a edificação, e noutra, a escassez era mais o espaço público. Foi a revolução industrial que veio homogeneizar essas diferentes demografias urbanas do mundo ocidental e, no final do séc. XIX, a ocupação dessas cidades já se caracterizava na generalidade pelo aproveitamento do solo com construção até aos limites do espaço privado. Assim, o espaço canal, formado principalmente por ruas (os segmentos), mas também por praças (os nós), definidos pelos seus planos marginais (o alinhamento das fachadas dos edifícios), passou a ser a modalidade mais generalizada de definição do espaço urbano. Em verdade, o território urbano onde a construção esporadicamente se elevava, passou a ser toda igualmente elevada, apenas esporadicamente perfurada no miolo do domínio privado por pátios ou saguões, para ventilação e entradas de luz, e rasgada no domínio público por fundos canais onde toda a vida social se concentrava e acontecia, fosse nas rotinas diárias, como nas ocasionais, fosse para ligações distantes ou próximas. As ruas passaram a ser o suporte mais elementar de toda a organização social e económica urbanas, às quais os residentes da cidade pertenciam como a uma nação, da mesma forma como já tinham pertencido no passado a um mar, um rio ou um canal. Continua…
Hoje Macau EventosExposição | Edifício do Fórum Macau acolhe mostra de Alexandre Marreiros Na próxima quinta-feira, dia 19, é inaugurada, no edifício do Fórum Macau, a exposição “Whispering Rooms”, da autoria do arquitecto Alexandre Marreiros. O autor destaca o facto de se ter baseado nas ideias de “registar, conceitualidade e tempo” para realizar trabalhos que revelam uma Macau vazia em tempos de pandemia [dropcap]O[/dropcap] arquitecto e artista Alexandre Marreiros está de regresso às exposições individuais com “Whispering Rooms”, uma mostra que será inaugurada na próxima quinta-feira, dia 19, às 18h no edifício do Fórum Macau. A exposição, que tem portas abertas até ao dia 6 de Dezembro, insere-se na 12ª Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa, organizada pelo Secretariado Permanente do Fórum de Macau. “Whispering Rooms” tem produção executiva da Galeria 57 e curadoria do próprio Alexandre Marreiros e aborda a ideia de uma Macau vazia e silenciosa, uma realidade vivida nos primeiros tempos da pandemia da covid-19. O arquitecto destaca o facto de a mostra ir “de encontro a esta tríplice que considero fundamental: registar, conceitualidade e tempo”. “O conjunto de trabalhos que apresento será uma possível representação da ideia fragilizada, isolada, permeável e visível aos nossos olhos dos espaços inocupados. Um registo temporal da cidade que habito e que como muitas outras se encontrou desabitada, assombrada pelo silêncio e pelo vazio durante o presente ano de 2020”, descreve Alexandre Marreiros. Macau é, assim, representada como se fosse um “laboratório”, “vazia do que lhe faz dar sentido: as pessoas”. O autor aponta que “foi importante perceber esta transmutação em que nos encontramos obrigados a viver”. Registo e observação A maior parte dos trabalhos que integram “Whispering Rooms” foram feitos recorrendo à técnica mista sobre papel. Permanece “uma total ausência de figuras no espaço”, sendo esta “uma das linhas condutoras a que esta obra se propõe: registar o que fui observando durante o presente ano em Macau”. Alexandre Marreiros quis também, com este trabalho, “construir um território interrogativo do que representam estes espaços vazios”. O público poderá visitar esta exposição com o acompanhamento de Alexandre Marreiros. As visitas guiadas estão agendadas para o dia 28 de Novembro, entre as 11h e as 14h, e o dia 5 de Dezembro, entre as 14h e as 19h. À mostra junta-se um catálogo ilustrado com todas as obras expostas, com direcção de arte de Victor Marreiros, uma edição do Secretariado Permanente do Fórum Macau. Alexandre Marreiros estreia-se no edifício do Fórum Macau, mas já expôs em locais como o Museu de Arte de Macau, o espaço Creative Macau ou o espaço Art Garden, da AFA – Art for All Society. Em Portugal, expôs também na Casa da Cultura da Comporta. O arquitecto participou também no festival literário Rota das Letras onde apresentou a exposição “Ocupar o Imaginário”.
Hoje Macau SociedadeJogo | Analistas defendem adiamento do concurso para novas licenças David Green e Pedro Cortés defenderam que o concurso público para a atribuição de novas licenças de jogo deve ser adiado, tendo em conta a enorme crise que o sector do jogo atravessa devido à pandemia da covid-19 [dropcap]A[/dropcap]nalistas defenderam à Lusa o adiamento do concurso público para as novas licenças do jogo devido à pandemia da covid-19 que afecta, sem precedentes, a economia da capital mundial dos casinos e os seus operadores. A poucos dias do Chefe do Executivo apresentar as Linhas de Acção Governativa (LAG) para o ano financeiro de 2021, as incertezas no território ainda são muitas, com as operadoras de jogo no território a apresentarem grandes prejuízos no terceiro trimestre do corrente ano. No próximo ano o Governo deveria apresentar o caderno de encargos para as concessionárias se prepararem para o concurso público agendado para 2022. “Não creio que a renovação da concessão deva ir em frente em 2022”, afirmou à Lusa analista David Green. O fundador da consultora especializada em regulação de jogos em Macau Newpage Consulting defendeu ainda que o Governo devia esperar pela recuperação da receita bruta do jogo. Nos primeiros 10 meses do ano, as perdas dos casinos foram de 81,4 por cento em relação ao igual período do ano anterior, em resultado do impacto da pandemia de covid-19 e das fortes restrições nas fronteiras. Só no final de Setembro passado, as autoridades chinesas retomaram a emissão de vistos em todo o país para Macau. O anúncio feito em Agosto, relativamente à criação de uma `lista negra’ de destinos turísticos de jogo em casinos por perturbarem a “ordem comercial do mercado de turismo no estrangeiro da China”, devia fazer também o Governo de Macau esperar pelas possíveis repercussões que esta medida de Pequim terá no território. Em Setembro, o Governo chinês estimou que a fuga de capitais do país, através de jogos de azar, ascenda a pelo menos um bilião de yuan, agravando os riscos de uma crise financeira. Por estas duas razões, frisou David Green, avançar com o concurso público é “convidar alguns descontos substanciais de investimento” por parte dos operadores de jogo. Muitas dúvidas O advogado Pedro Cortés, sócio da Rato, Ling, Lei & Cortés – Advogados, escritório que presta consultoria na área do jogo, também afirmou à Lusa ter muitas dúvidas que o caminho a ser seguido seja o do concurso público em 2022. “Nesta altura, o véu já deveria ter sido mais levantado, não obstante todos os constrangimentos que a situação pandémica tem colocado ao executivo”, disse. Apesar disso, Pedro Cortés diz que os sinais de que tanto as declarações do Chefe do Executivo e do secretário para a Economia e Finanças “têm ido no sentido do concurso”.
Hoje Macau Artes, Letras e Ideias hA sociedade está a mudar de base. O que acontece diante dos nossos olhos não é senão uma mudança de civilização (2018) RAOUL VANEIGEM No cruzamento de todos os lugares e de nenhum situa-se a encruzilhada do possível e do impossível [dropcap]U[/dropcap]m caos planetário assombra hoje as ruas e as cabeças. Estamos a sofrer os efeitos de um terramoto cujo epicentro está em toda a parte e em lugar nenhum. Tanto assim é que neste reino absurdo onde continuamos a subscrever um pretenso contrato social, nenhuma base, nenhum valor seguro oferece a ajuda da sua estabilidade. A mudança de civilização a que assistimos não se insere no círculo apocalíptico que fazia girar a peste, a fome, a sida, as guerras, as insurreições, a devastação atómica, a catástrofe ecológica. Resulta de uma evolução da história que, tendo atingido um impasse, revela a sua aberração original: o desvirtuamento de um devir humano, paralisado pelo surgimento de um sistema económico e social inadequado. O que surge em simultâneo é a superação que traça, como única saída, a fundação de uma civilização radicalmente diferente. A consciência de uma verdadeira humanidade exige o abandono das utopias putrefactas a que a opinião dominante sempre deu crédito. O Estado de Bem-Estar, a sociedade de bem-estar consumista na qual continuamos a tropeçar não prova que aquilo a que chamam de realidade é a verdadeira utopia: um lugar que não está em lugar nenhum e um tempo onde, representados por toda a parte, estão exilados do vosso próprio corpo? A rocha das velhas certezas despedaçou-se, não permitindo às evidências do passado senão uma rápida volta no frágil palco do espectáculo. Atingidos de frente por um passado em colapso e um futuro ensombrado pelo vazio do pensamento, os costumes e as mentalidades dobram-se sobre si mesmos, recuam para o que não mais tem lugar, falhando em abrir-se para o que ainda não existe e que, no entanto, está para nascer. O espectáculo da vida às avessas devora toda a esperança. Testemunhamos a renovação dos arcaísmos que fizeram a glória sangrenta do velho mundo. Embora cada retrocesso seja saudado pela fanfarra das novidades antigas, sabemos que nunca há volta atrás, que a cola estupidificante só produz efeito durante a colagem mediática, do furo, como dizem os jornalistas. Ontem, a crise económica havia revelado que era, na realidade, uma crise da economia. Evidência que, hoje, esconde outra. O desmoronamento do sistema revela, aos olhos que se abrem, algo que não é senão uma mudança de civilização. O desequilíbrio das sociedades resulta de um deslizamento das placas tectónicas, de uma total subversão das nossas condições de existência. Ainda não percebemos a infinidade de possibilidades que se abrem diante de nós. A exploração da vida é uma aventura que não tem comparação com a experiência labiríntica de sobrevivência, onde não temos nada mais a aprender, a não ser como escapar dela. A experiência da vida economizada foi um fracasso. Guiada pela consciência humana, a vida nada tem a demonstrar excepto a sua própria existência. O regresso da consciência humana A consciência proletária dotou de uma praxis – de uma prática inscrita nas condições particulares da história – essa consciência humana que o humanismo do Renascimento tinha revelado na sua forma intelectual, geradora, no entanto, de profundas convulsões psicológicas e sociais. O projecto proletário de uma sociedade sem classes foi além da ideologia humanista, rapidamente assumida pelo capitalismo filantrópico. Baseava na realidade vivida sob exploração, na existência consternada de milhares de homens, mulheres e crianças – da qual dará conta Flora Tristan –, a luta pela emancipação liderada pelo proletário, a fim de se libertar e de libertar o mundo da proletarização. A ascensão e o dinamismo do capitalismo produziram as condições históricas favoráveis ao nascimento de uma consciência proletária. A burocratização do movimento operário, a marginalização do sector produtivo e o tsunami consumista levaram a melhor. Os ganhos de ter estão destinados a perder-se. O que o ser adquiriu persiste. Embora o poder letárgico do capitalismo financeiro tenha confortado o sono do proletariado, o seu sonho permanece e é como se a consciência humana – de que a luta de classes se tinha, de certa forma, vestido historicamente – ressurgisse do fundo das trevas. Como se se preparasse para brilhar no quadro que a sociedade autogestionária lhe vai proporcionar. A consciência de ser e de querer ser humano nunca desaparece, desperta sempre dos seus entorpecimentos. Ao perceber, por meio de turbulências e confusões, que um processo de mudança radical está em acção, a inteligência sensível redescobre a consciência humana de que a consciência proletária e o seu projecto de emancipação se haviam revestido de forma historicamente fugaz. Tudo aquilo em que os homens acreditaram ruiu porque a sua credulidade levou-os sempre a confiar naquilo que os negou, sufocou e aniquilou. Eles têm essa qualidade extraordinária para se destruir, para odiar, para desprezar. Desconsideram aprofundar as alegrias que lhes competem em favor de um momento de amor, de felicidade, de criação. Um movimento de autogestão que não se empenhe, desde o início, em fazer com que a vida tenha precedência sobre a economia, apenas administraria a miséria de estar sob o jugo do ter. A robotização dos seres vivos não sobreviverá ao despertar da vontade de viver A experimentação das condições de sobrevivência atingiu o seu auge com as consideráveis melhorias que as tecnologias avançadas, o consumismo, a democracia de mercado trouxeram para o conforto desses animais domesticados e com antolhos que são as mulheres e os homens obrigados ao trabalho. Como não celebrar o progresso extraordinário das ciências médicas e farmacológicas? Temos os meios para prolongar a duração da existência muito para além do tempo fixado pelo passado. A desvantagem é que o beneficiário, tanto quanto esse pastor a quem Zeus concedeu o pedido de um desejo, escolhe ser imortal. Tendo-se esquecido de especificar que era permanecendo jovem que o queria, viu-se enrugado, murcho, quebrado sob o efeito da velhice eterna. O que as novas terapias melhoram não é a vida mas a ansiedade prolongada, um desconforto que progride e seca, uma esterilização do viver que «vivifica» o mercado da saúde. A farsa do transumanismo. Embora o homem não tenha ainda dado lugar ao ser humano, a máquina de descerebrar e de tornar a vida lucrativa oferece a sua concepção do futuro e a sua imaginação advogando um transumanismo. Desprovido dos pitorescos, muito questionáveis psicopatas que outrora nos matraquearam com o eugenismo, a teoria das raças, a inferioridade da mulher e outras verdades devidamente acreditadas pela ciência, defende-se o projecto de uma tecnologia enxertada nos vivos para eliminar doenças, para retardar o envelhecimento e a morte, em suma, para se sobreviver com a perfeição de um robô num universo regulado por uma máquina de lucro, que colocou Deus no desemprego abolindo a sua função de grande relojoeiro. Os intelectuais que trabalham para aperfeiçoar a ordem das coisas tendem a esquecer que dentro de um tanque de guerra há um homem que, de repente, decide salvar a sua pele e os seus desejos. A pobreza do cinismo deles é terrível. Eles têm a arrogância do poder e a fraqueza do lacaio. É por estarmos de joelhos há tanto tempo que não conseguimos levantar-nos para lhes cuspir na cara? Porque é ajoelhados que gritamos: «Basta!» É ainda ajoelhados que, elevando os nossos gestos de ameaça e de revolta para o céu vazio, estimulamos o sarcasmo dos exploradores e dos seus mercenários mediáticos. O que podemos opor à tirania e aos seus ditames senão esta consciência humana que, baseando-se na vida e na liberdade dos seus desejos, se afirma, também ela, como um facto consumado? A vida é algo indiscutível. Não tem de prestar contas a ninguém, e ainda menos a um sistema cujas engrenagens estripam os “cavalheiros” que se envaidecem de as fazer girar. Às estratégias dos assentamentos desumanizantes, a autogestão generalizada opõe o surgimento das terras livres onde se concretiza, poeticamente, a nossa vontade de uma vida soberana. Esta é uma determinação que exclui qualquer debate, qualquer compromisso, qualquer diálogo com o «partido da morte». tradução de: VANEIGEM, Raoul, “La société change de base. Ce qui est en cours sous nos yeux n’est rien d’autre qu’une mutation de civilisation”, in Contribution à l’émergence de territoires libérés de l’emprise étatique et marchande – Réflexions sur l’autogestion de la vie quotidienne, Paris, Éditions Payot & Rivages, 2018, pp. 77-85.
Hoje Macau China / ÁsiaDetido criador de porcos chinês que elogiou advogados de defesa dos Direitos Humanos [dropcap]U[/dropcap]m proeminente criador de porcos na China, que elogiou publicamente o trabalho de advogados de defesa dos Direitos Humanos, foi submetido na segunda-feira a “medidas coercivas”, informaram as autoridades chinesas. Sun Dawu, presidente do Hebei Dawu Agriculture Group, está entre os suspeitos acusados de “provocar altercações e interromper a produção”, segundo um comunicado da polícia de Baoding, cidade da província de Hebei, situada a cerca de 100 quilómetros de Pequim. A polícia não avançou com mais detalhes. As “medidas coercivas” podem incluir detenção, prisão domiciliar ou libertação sob fiança com restrições à circulação. Em agosto passado, a polícia entrou em confronto com funcionários do Grupo Dawu, que tentavam impedir que funcionários de uma firma estatal demolissem um dos edifícios da empresa. Mais de 20 pessoas ficaram feridas, revelou Sun nas redes sociais. Uma fotografia mostrava agentes da polícia de intervenção, com capacetes e escudos de choque, a empurrar uma multidão. Outras fotografias mostravam hematomas e arranhões sofridos pelos manifestantes. Na terça-feira à noite, cerca de 300 policias foram à sede do Grupo Dawu e detiveram Sun Dawu e outros funcionários, avançou a agência Associated Press, que citou uma funcionária da empresa, não identificada. “Eles disseram que eram suspeitos de terem causado problemas e interromperem a produção, mas não temos ideia qual é o motivo”, disse a mesma fonte. “Alguns policias foram embora, mas outros permanecem na empresa”, contou. Sun tornou-se conhecido na China, em 2003, quando foi acusado de “arrecadar fundos ilegais” depois de solicitar investimentos para o seu negócio junto de amigos e vizinhos. Esse caso desencadeou uma onda de apoio público a Sun, numa altura em que os empresários que geram a maioria dos novos empregos e riqueza da China foram excluídos do sistema financeiro estatal. Foi condenado, mas foi lhe pena suspensa. O seu advogado disse que a opinião pública favorável provavelmente foi a razão para decretada uma pena leve. Desde então, Sun tem elogiado o trabalho de advogados que ajudam o público, num momento em que figuras jurídicas proeminentes têm sido presas e perseguidas pela administração do atual Presidente, Xi Jinping. O advogado de Sun no caso de 2003, Xu Zhiyong, desapareceu em fevereiro passado e outros ativistas dizem que foi preso e acusado de subversão contra o poder do Estado. “Os advogados podem permitir que as vítimas vejam um pouco de luz, mantenham um pouco de fé na lei e tenham esperança de vida”, disse Sun. Num comentário publicado após a prisão de advogados de defesa dos Direitos Humanos, em 2015, Sun escreveu: “Que problema é que isto reflete? Eu acho que esta é uma contradição entre a ‘manutenção da estabilidade social’ e a ‘manutenção dos direitos'”. Durante um surto de peste suína africana no ano passado, Sun envergonhou as autoridades chinesas ao difundir fotografias de porcos mortos entre os seus rebanhos. Sun reclamou que os reguladores não revelaram que a doença tinha atingido a província de Hebei. O surto de peste suína matou milhões de porcos na China e fez disparar o preço da carne de porco, a principal fonte de proteína animal na dieta chinesa.
Hoje Macau China / ÁsiaAmeaça de tufão obriga milhares a abandonarem casas nas Filipinas [dropcap]M[/dropcap]ilhares de pessoas nas Filipinas foram obrigadas hoje a deixar as suas casas devido à ameaça de um terceiro tufão em três semanas. A tempestade Vamco deve atingir a ilha de Catanduanes, devastada há menos de duas semanas pelo tufão Goni, antes de chegar hoje à noite ou quinta-feira de manhã à ilha de Luzon, a mais populosa do arquipélago, onde se localiza a capital do país, Manila. Esperam-se ventos destrutivos e chuvas torrenciais em partes do centro e do sul de Luzon, segundo a agência meteorológica filipina. Cerca de 50.000 pessoas que vivem na zona de trajetória do tufão receberam ordem para abandonar o domicílio, disse Alexiz Naz, porta-voz regional da defesa civil. A região de Bicol, situada a sul da ilha de Luzon e que deve ser atingida pelo Vamco quando este se dirigir para Manila, ainda não recuperou da recente passagem dos tufões Molave e Goni, que deixaram milhares sem casa. Partes desta região continuam sem eletricidade e com grandes limitações ao nível das telecomunicações mais de 10 dias após a passagem do Goni. Este tufão, o mais poderoso dos registados este ano, destruiu milhares de habitações e provocou inundações. Cerca de 400.000 pessoas foram retiradas das suas casas antes da chegada da tempestade, o que permitiu salvar numerosas vidas. Na ilha de Catanduanes os esforços para retirar as pessoas confrontam-se com a dificuldade de centros de abrigo de emergência terem sido destruídos pelo Goni. O tufão Vamco deve ser acompanhado de rajadas de vento que podem atingir os 130 a 155 quilómetros por hora antes de tocar terra, segundo os serviços meteorológicos. Em Manila e nas regiões vizinhas são esperadas chuvas fortes que podem causar inundações e deslizamento de terras. Uma média de 20 tempestades e tufões atingem as Filipinas anualmente, devastando colheitas e infra-estruturas e contribuindo para manter milhões de pessoas na pobreza.
Hoje Macau China / ÁsiaDeputados pró-democracia de Hong Kong renunciam em massa [dropcap]O[/dropcap]s deputados pró-democracia de Hong Kong anunciaram hoje a renúncia de todos eles ao conselho legislativo da região semi-autónoma da China, após quatro terem sido afastados sob o pretexto de constituírem uma ameaça à segurança nacional. “Nós, [membros] do campo pró-democracia, permaneceremos ao lado dos nossos colegas que foram excluídos. Vamos renunciar em massa”, disse Wu Chi-wai, chefe dos quinze legisladores pró-democracia no parlamento local. O executivo de Hong Kong anunciou hoje que vai desqualificar os legisladores Alvin Yeung, Dennis Kwok, Kwok Ka-ki e Kenneth Leung. As desqualificações ocorreram depois de o Comité Permanente da Assembleia Nacional Popular (ANP) da China, que reuniu na terça e quarta-feira, aprovar uma resolução que afirma que aqueles que apoiam a independência de Hong Kong, recusam-se a reconhecer a soberania da China sobre a cidade, ameaçam a segurança nacional ou pedem a intervenção de forças externas nos assuntos da cidade, devem ser desqualificados. “Embora estejamos a enfrentar muitas dificuldades no futuro próximo na luta pela democracia, nunca, mas nunca desistiremos”, disse Wu Chi-wai. Wu disse que os legisladores pró-democracia vão entregar as suas cartas de demissão na quinta-feira. Durante a conferência de imprensa, os legisladores pró-democracia gritaram “força Hong Kong, permaneceremos juntos”, de mãos dadas. “Este é um acto de Pequim que visa soar o toque de morte na luta pela democracia em Hong Kong, porque eles pensariam que, de agora em diante, qualquer pessoa que eles considerem politicamente incorreto ou não patriota, ou simplesmente não lhes agradasse, poderiam simplesmente derrubá-lo”, disse a legisladora pró-democracia Claudia Mo. Pequim impôs este ano uma lei de segurança nacional, depois de meses de protestos anti-governamentais terem abalado a cidade no ano passado. “Em termos de legalidade e constitucionalidade, obviamente que, do nosso ponto de vista, isto é claramente uma violação da Lei Básica, e dos nossos direitos de participar nos assuntos públicos, e uma falha em observar o devido processo” legislativo, disse Kwok, um dos deputados desqualificados por Pequim, referindo-se à miniconstituição de Hong Kong. A líder de Hong Kong, Carrie Lam, disse hoje que os legisladores devem agir de maneira adequada e que a cidade precisa de uma assembleia composta por patriotas. “Não podemos permitir que membros do Conselho Legislativo julgados de acordo com a lei sejam incapazes de cumprir os requisitos e pré-requisitos para continuarem a trabalhar”, disse Lam. Uma renúncia em massa pelo campo pró-democracia deixará a legislatura de Hong Kong com apenas deputados pró-Pequim. O campo pró-Pequim já representa a maioria dos assentos, mas as renúncias podem permitir que os legisladores aprovem projetos de lei favorecidos por Pequim sem oposição. No início do ano, os quatro deputados agora desqualificados foram impedidos de concorrer às eleições legislativas, originalmente marcadas para setembro, antes do Executivo declarar que iria adiar as eleições por um ano, devido à pandemia do novo coronavírus. Eles foram desqualificados pelos seus apelos junto de governos estrangeiros para que impusessem sanções a Hong Kong e Pequim. Os quatro legisladores permaneceram nos seus cargos após o adiamento das eleições. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Wenbin, disse hoje que a desqualificação dos legisladores é necessária para manter o Estado de Direito e a ordem constitucional em Hong Kong. “Apoiamos firmemente o Executivo [de Hong Kong] no desempenho das suas funções, de acordo com a decisão do Comité Permanente”, disse Wang, em conferência de imprensa.
Hoje Macau SociedadeBNU | Destacado papel estratégico em negócios internacionais [dropcap]O[/dropcap] presidente do Banco Nacional Ultramarino (BNU) de Macau defendeu ontem que a instituição está “actualmente numa posição estratégica para apoiar os negócios entre a China e os países de língua portuguesa”. “O BNU faz parte do Grupo CGD [Caixa Geral de Depósitos], uma das maiores instituições financeiras da Europa, com uma vasta rede global em quatro continentes e sete países de língua portuguesa”, começou por salientar Carlos Álvares numa cerimónia que assinalou o facto de aquela instituição e o Banco da China continuarem a ser emissores de moeda em Macau nos próximos dez anos. “Para além de Macau, o BNU está também presente em Xangai e abriu uma sucursal em 2017 na nova zona de Hengquin de Zhuhai”, acrescentou. Carlos Álvares explicou que tal veio criar “mais oportunidades económicas”. Oportunidades para os países lusófonos que surgem não só para o desenvolvimento da Grande Baía, como também para a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”. Na mesma ocasião, o secretário para a Economia e Finanças salientou que “os dois bancos emissores têm cooperado desde sempre e de forma plena com a RAEM, colaborando activamente com as políticas definidas pelo Governo, com o intuito de assegurar a estabilidade do abastecimento monetário (…), e cumprindo os seus deveres de agenciamento na emissão de notas”.
Hoje Macau China / ÁsiaCovid-19 | China acredita que pode evitar segunda vaga no inverno [dropcap]U[/dropcap]m alto quadro da Saúde chinês expressou hoje confiança na capacidade do país para evitar uma segunda vaga de infeções de covid-19 este inverno, caso mantenha as precauções atualmente em vigor. Feng Zijian, vice-diretor do Centro Chinês para o Controlo e Prevenção de Doenças, disse à revista Caixin que a China “muito provavelmente vai evitar” uma segunda vaga de infeções, face à tendência atual e medidas preventivas. O país eliminou os surtos locais, exigindo o uso de máscaras em espaços fechados e nos transportes públicos. A China também exige quarentena de duas semanas para aqueles que chegam do exterior e baniu a entrada de viajantes estrangeiros oriundos de mais de dez países. As autoridades agiram rapidamente para lidar com os surtos locais, ao detetar e isolar contactos próximos de infetados, realizar testes em massa e, por vezes, através do confinamento de comunidades inteiras. A Comissão de Saúde da China anunciou hoje ter identificado um caso de contágio local, nas últimas 24 horas, na província de Anhui, centro do país, e 16 casos oriundos do exterior. Trata-se do terceiro dia consecutivo em que as autoridades chinesas reportam casos em áreas que há vários meses não registavam qualquer surto. O município de Tianjin, a cerca de 120 quilómetros de Pequim, registou também um caso no fim de semana. Xangai, a “capital” económica do país, diagnosticou um caso na segunda-feira – um funcionário do Aeroporto Internacional de Pudong. Os 16 casos importados foram diagnosticados nos municípios de Xangai (leste) e Tianjin (norte) e nas províncias de Sichuan (sudoeste), Liaoning (nordeste), Jiangsu (leste) e Shaanxi (noroeste). As autoridades chinesas disseram que, nas últimas 24 horas, 21 pacientes receberam alta, pelo que o número de pessoas infetadas ativas no país se fixou em 422, incluindo seis doentes em estado grave. A Comissão de Saúde da China não anunciou novas mortes devido à covid-19, pelo que o número permaneceu em 4.634. O país somou, no total, 86.284 infetados desde o início da pandemia, dos quais 81.228 recuperaram da doença. A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.263.890 mortos em mais de 50,9 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Hoje Macau China / ÁsiaCovid-19 | Hong Kong e Singapura acordam “bolha de viagens aéreas” a partir de 22 de novembro [dropcap]H[/dropcap]ong Kong e Singapura acordaram uma “bolha de viagens aéreas” a partir de 22 de novembro, sem que os visitantes das duas cidades tenham de cumprir quarentena, um primeiro passo para estimular o turismo durante a pandemia. De acordo com o plano, os turistas de ambas as cidades devem fazer testes de ácido nucleico antes do voo, após a chegada e antes do regresso, para provar que não estão infetados. Por outro lado, também terão de viajar em voos designados que levarão apenas passageiros que integrem a tal ‘bolha’, com um máximo de 200 pessoas. Inicialmente, haverá um voo diário para cada cidade, aumentando para dois a partir de 07 de dezembro. Hong Kong registou mais de cinco mil infetados e 108 mortos desde o início da pandemia. Singapura apresenta um número superior de contágios (mais de 58 mil), mas menos mortos (28). A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.263.890 mortos em mais de 50,9 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência de notícias France-Presse (AFP).
Hoje Macau China / ÁsiaHong Kong | Quatro deputados pró-democracia destituídos por alegada ameaça à segurança nacional [dropcap]H[/dropcap]ong Kong destituiu hoje quatro deputados pró-democracia do Conselho Legislativo, após Pequim ter aprovado uma resolução que permite ao Executivo do território depor os eleitos do cargo, caso constituam uma ameaça para a segurança nacional. O anúncio surgiu após o Comité Permanente do Congresso Nacional Popular chinês ter aprovado uma resolução para depor os deputados que apoiem a independência da cidade, que se recusem a reconhecer a soberania da China no território, cometam atos que ameacem a segurança nacional ou contactem forças externas para interferir nos assuntos da ex-colónia britânica, de acordo com a agência noticiosa estatal Xinhua. “Em conformidade com a decisão acima referida do Comité Permanente do Congresso Nacional Popular, o Governo [de Hong Kong] comunica […] que os seguintes quatro membros perderão imediatamente os seus lugares: Alvin Yeung, Dennis Kwok, Kwok Ka-ki e Kenneth Leung”, pode ler-se num comunicado do executivo. Em conferência de imprensa, os quatro deputados consideraram que a decisão “constitui uma clara violação da Lei Básica”, que garante autonomia ao território durante 50 anos após a transferência da soberania para a China, em 1997, denunciando ainda o desrespeito das garantias processuais. Na segunda-feira, 19 deputados do campo pró-democracia ameaçaram demitir-se em massa caso Pequim decidisse depor algum dos pró-democratas eleitos. A chefe do executivo de Hong Kong, Carrie Lam, deverá hoje realizar uma conferência de imprensa para abordar a decisão.
Hoje Macau Manchete SociedadeJogo | Galaxy segue trajectória positiva e melhora no terceiro trimestre As receitas da Galaxy subiram mais de 30 por cento no terceiro trimestre, em relação aos três meses anteriores, apesar de os resultados terem ficado muito aquém dos registados no período homólogo de 2019. Analistas apontam ainda para o crescimento de 13 por cento das receitas nos primeiros oito dias de Novembro [dropcap]O[/dropcap] grupo Galaxy, que opera casinos em Macau, apresentou ontem prejuízos de 943 milhões de dólares de Hong Kong no terceiro trimestre, mas registou um crescimento em relação aos três meses anteriores. Apesar do EBITDA (lucros antes de impostos, juros, amortizações e depreciações) negativo, o Galaxy Entertainment, que em 2019 arrecadou 4,1 mil milhões de dólares de Hong Kong, conseguiu subir 31 por cento, quando comparado com o desempenho entre Julho e Setembro. Um crescimento que a empresa justificou pelo esforço realizado na contenção dos custos. O regresso dos vistos generalizados na China continental, o principal mercado turístico de Macau, foi destacado pelo presidente do grupo. Mas Lui Che Woo admitiu que esta medida ainda não teve um impacto no terceiro trimestre, embora espere que acelere o número de visitantes nos últimos três meses do ano. Na informação enviada à bolsa de valores de Hong Kong, o Galaxy afirmou que continua apostado em investir em Macau e nos planos de expansão do grupo, em especial no Japão. Além disso, a operação foi repensada para minorar o impacto da crise nos resultados do grupo. A empresa “aproveitou a oportunidade para renovar, reconfigurar e introduzir novos produtos”, para garantir que os seus resorts “se mantêm competitivos e atraentes para os clientes”, de acordo com a mensagem de Lui Che Woo. Bons auspícios O mês de Novembro começou de forma encorajadora para o sector do jogo, segundo a projecção de várias consultoras, como a Bernstein e a JP Morgan. O crescimento sustentado e gradual das receitas das operadoras, pode ter resultado na subida de 13 por cento nos primeiros oito dias de Novembro, comparados com as três últimas semanas de Outubro. No total, as concessionárias podem amealhar receitas de 2 mil milhões de patacas nos primeiros oito dias deste mês, ou seja, cerca de 250 milhões por dia, de acordo com a previsão da Bernstein. A correctora estimou, numa nota divulgada na segunda-feira e citada pelo portal Inside Asian Gaming, que as receitas brutas dos casinos diminuam 67 por cento nos primeiros oito dias de Novembro, em comparação com o mesmo período do ano passado, mas que melhorem em relação à queda de 72,5 por cento registada em Outubro de 2020. “Esperamos que o número que visitantes continue a crescer ao longo das próximas semanas e meses, com a retoma dos turistas de jogo, à medida que os procedimentos fronteiriços são melhorados”, apontam os analistas. É ainda referido que o impulso decisivo do sector depende muito da questão dos vistos, com o regresso dos processamentos de vistos no próprio dia e da emissão electrónica, algo que ainda não tem data prevista. A JP Morgan preferiu destacar o progresso alcançado pelo jogo VIP, que terá regressado no terceiro trimestre a cerca de 25 por cento dos níveis registados antes da pandemia. Apesar de se manter no vermelho, é estimado que as receitas brutas de Novembro dos casinos de Macau tenham um declínio de 60 por cento em termos anuais, e que melhorem em Dezembro com perdas entre 50 e 55 por cento, também comparando com o período homólogo de 2019.
Hoje Macau EventosManuela Martins, pintora e professora de artes plásticas, morreu aos 88 anos [dropcap]F[/dropcap]aleceu ontem de madrugada, em Lisboa, aos 88 anos, Manuela Martins, pintora e professora de Artes Plásticas. Portuguesa, durante muito anos residente de Macau, notabilizou-se pelo seu trabalho artístico e pelo modo simples, afável e gracioso como transmitiu os seus conhecimentos a numerosos alunos. Mãe de Nuno Calçada Bastos e de Rui Calçada Bastos, realizou inúmeras exposições em Macau, nas quais, entre outros temas, retratou diversos aspectos desta cidade. Com uma formação muito académica como artista, fiel ao óleo sobre tela e às representações figurativas, Manuela Martins fez parte da geração que estudou nas Belas Artes, em Lisboa, nos anos 50. Colega de artistas conceituados como Lourdes Castro e José Escada, Manuela trilhou um caminho diferente, não inteiramente dedicado às artes. Ao contrário dos seus colegas que investiram a sério numa carreira, Manuela seguiu a vida “normal” de uma mulher. Para Rui Calçada Bastos, a mãe poderia ter chegado a outro patamar de visibilidade, se tivesse apostado apenas na pintura. No entanto, a vida proporcionou-lhe uma experiência que se reflectia na sua arte. “Sempre foi honesta consigo própria, pintando aquilo que via”, explicava o filho e organizador de uma exposição realizada em Macau em 2017, já sem a presença da pintora. Também aos jornalistas do Hoje Macau, que tiveram o enorme prazer de a conhecer e de com ela privar, Manuela Martins deixa imensas saudades. Até sempre, querida Manuela!
Hoje Macau EventosMorreu Cruzeiro Seixas, um dos últimos surrealistas portugueses [dropcap]O[/dropcap] artista plástico Artur do Cruzeiro Seixas morreu ontem no Hospital Santa Maria, Lisboa, aos 99 anos, revelou a Fundação Cupertino de Miranda. “A Fundação Cupertino de Miranda lamenta profundamente a perda deste vulto da Cultura Nacional, que apoiou e acompanhou ao longo dos anos”, lê-se no comunicado que a fundação divulgou no Facebook. Cruzeiro Seixas, um dos nomes fundamentais do Surrealismo em Portugal, é autor de um vasto trabalho no campo do desenho e pintura, mas também na poesia, escultura e objetos/escultura. Em Outubro tinha sido distinguido com a Medalha de Mérito Cultural, pelo “contributo incontestável para a cultura portuguesa”, ombreando, com Mário Cesariny, Carlos Calvet e António Maria Lisboa, como um dos nomes mais revelantes e importantes do Surrealismo em Portugal, desde finais dos anos 1940. Cruzeiro Seixas, cuja obra está representada em colecções como as do Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado, Fundação Calouste Gulbenkian e Fundação Cupertino de Miranda, faria cem anos a 3 de Dezembro. Artur do Cruzeiro Seixas, nascido na Amadora em 3 de dezembro de 1920, doou a sua colecção em 1999 à Fundação Cupertino de Miranda, em Vila Nova de Famalicão, onde está situado o Centro Português de Surrealismo e onde está patente uma exposição permanente com as obras do autor. Actualmente estavam em curso várias iniciativas que assinalariam os 100 anos de aniversário do artista plástico, nomeadamente exposições na Biblioteca Nacional de Portugal e da Perve Galeria, em Lisboa, ambas patentes até Dezembro, e a edição da obra poética de Cruzeiro Seixas, iniciada em Junho e que se estenderá até 2021. Alguns trabalhos do artista chegaram a estar expostos em Macau, no Clube Militar, numa mostra realizada em 2017 pela Associação para a Promoção das Actividades Culturais.
Hoje Macau PolíticaDespedimentos | Ella Lei quer supervisão de empresas apoiadas pelo Governo [dropcap]E[/dropcap]m interpelação escrita, a deputada Ella Lei quer saber como o Governo supervisiona e acompanha os despedimentos em empresas que receberam subsídios através do Plano de apoio pecuniário aos trabalhadores, aos profissionais liberais e aos operadores de estabelecimentos comerciais. Recorde-se que o plano entrou em vigor há cinco meses, e os estabelecimentos comerciais que cumprem os requisitos podem receber de 15 mil a 200 mil patacas, segundo o número de funcionários. Está definido que no caso de as empresas despedirem sem justa causa dentro de seis meses depois da entrada em vigor do plano, são obrigados a devolver 15 mil patacas por cada funcionário despedido, ou a totalidade do apoio caso a empresa encerre. A deputada apontou que a taxa de desemprego continuou a subir, e acredita que os despedimentos não sejam pouco comuns na última metade do ano. Por outro lado, Ella Lei pergunta como é avaliada a eficácia do plano.
Hoje Macau China / ÁsiaEUA/Eleições | Governantes das Filipinas, Malásia e Japão parabenizam Joe Biden [dropcap]O[/dropcap] chefe de Estado das Filipinas e o primeiro-ministro da Malásia destacaram hoje as relações com os Estados Unidos, ao felicitar o Presidente eleito Joe Biden, nas presidenciais de 03 de novembro. “Em nome da nação filipina”, Rodrigo Duterte “felicita o antigo vice-Presidente Joe Biden, depois de ser eleito o novo Presidente dos Estados Unidos”, de acordo com um comunicado divulgado pela presidência das Filipinas. “As Filipinas e os Estados Unidos têm relações bilaterais e estamos comprometidos em estreitar ainda mais os laços com os Estados Unidos durante a administração Biden”, acrescentou a mesma nota. As Filipinas são um dos principais aliados históricos de Washington no Sudeste Asiático e os Estados Unidos contam várias bases militares em território filipino, mas durante a sua administração, Duterte aproximou-se da Rússia e da China. Por seu lado, o primeiro-ministro da Malásia, Muhyiddin Yassin, destacou a “histórica vitória” eleitoral de Biden, em comunicado. País do Sudeste Asiático diplomaticamente próximo dos Estados Unidos, a “Malásia dá grande importância às relações” com Washington, indicou o responsável, citado numa nota. “A Aliança de Cooperação Global EUA-Malásia continua a ser o marco geral de uma colaboração proativa, multifacetada e mutuamente benéfica para os dois países”, acrescentou o primeiro-ministro malaio. Joe Biden foi anunciado, no sábado, como vencedor das eleições presidenciais de 03 de novembro, de acordo com projeções dos ‘media’ norte-americanos. Segundo as projeções, Biden totaliza 290 “grandes eleitores” do Colégio Eleitoral, derrotando o candidato republicano e atual Presidente Donald Trump. A posse de Biden como 46.º Presidente dos Estados Unidos está marcada para 20 de janeiro de 2021. Primeiro-ministro japonês felicita Joe Biden O primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga, felicitou Joe Biden pela sua eleição como Presidente dos Estados Unidos e disse estar ansioso por trabalhar com ele pela “paz, liberdade e prosperidade” numa região onde a China exerce influência crescente. “Parabéns calorosos a @JoeBiden e @KamalaHarris. Estou ansioso por trabalhar convosco para reforçar ainda mais a aliança Japão-EUA e assegurar a paz, liberdade e prosperidade na região Indo-Pacífico e para além dela”, escreveu Yoshihide Suga na rede social Twitter. Eleito em setembro passado chefe do governo japonês, Suga afirmou que prosseguirá o trabalho do seu antecessor, Shinzo Abe, que mantinha boas relações com o Presidente norte-americano Donald Trump.
Hoje Macau SociedadeWynn Macau | Prejuízos de 280 milhões de dólares no terceiro trimestre [dropcap]A[/dropcap] operadora Wynn Macau registou prejuízos de 280,7 milhões de dólares no terceiro trimestre do ano, de acordo com dados divulgados pela empresa. A Wynn, que opera dois casinos na capital do jogo mundial e cuja maioria do capital é norte-americano, registara lucros no terceiro trimestre do ano passado de 104,1 milhões de dólares. Devido ao impacto da pandemia de covid-19 na economia, a empresa já apresentara perdas líquidas de 351,5 milhões de dólares no trimestre anterior, um resultado negativo sem precedentes. Contudo, apesar das perdas neste último trimestre, o director executivo da Wynn Resorts, Matt Maddox, destacou o facto de estarem a ser levantadas algumas das restrições fronteiriças em Macau, que respondem à dependência do território ao mercado turístico da China continental, o que tornou possível à operadora atingir o ponto de equilíbrio no EBITDA (lucros antes de impostos, juros, amortizações e depreciações).
Hoje Macau InternacionalEUA | Biden diz que é tempo de sarar e tornar a América respeitada O Presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, defendeu no sábado que é tempo de sarar e unir a América e de fazer com que o país volte a ser respeitado no mundo. Kamala Harris afirmou que apesar de ser a primeira mulher na vice-presidência não será a última [dropcap]J[/dropcap]oe Biden subiu ao palco para o seu primeiro discurso ao som de “Glory Days” de Bruce Springsteen, e falou de uma fé renovada no amanhã, em dias melhores e em tornar a América respeitada no mundo novamente. As primeiras palavras foram para a família, começando pela mulher: “sou o marido de Jill”, disse o presidente eleito, “e não estaria aqui sem o amor dela”. Depois, Biden falou da América que não quer ver: não quer ouvir falar, disse, de uma América “onde não é possível”. Dirigindo-se aos eleitores que votaram no Presidente e candidato republicano, Biden disse: “compreendo a vossa desilusão esta noite. Eu também já perdi um par de vezes, mas agora vamos dar uma oportunidade uns aos outros”. Afirmando que “todo o mundo está a olhar para a América”, o Presidente eleito dos Estados Unidos reafirmou a máxima de que o seu país “é um farol para o mundo”. “Concorri a este cargo para restaurar a alma da América, para reconstruir a espinha dorsal desta nação, a classe média, para fazer a América respeitada no mundo outra vez, e para nos unir aqui em casa”, afirmou perante uma multidão em Wilmington, no estado de Delaware. Sublinhando que a sua primeira tarefa será controlar a pandemia do novo coronavírus, Biden disse que essa é a única forma de voltar a uma vida normal e anunciou a criação de um grupo de cientistas de topo e especialistas para ajudarem a definir o plano de acção que entrará em vigor em 20 de Janeiro, quando tomar posse. Católico assumido, Joe Biden recordou que “a Bíblia diz-nos que há um tempo para tudo, um tempo para colher, um tempo para semear e um tempo para curar. É tempo de curar na América”. Joe Biden foi anunciado, no sábado, como vencedor das eleições presidenciais, de acordo com projecções dos ‘media’ norte-americanos. Segundo as projecções, Biden totaliza 290 delegados do Colégio Eleitoral, derrotando o candidato republicano e actual Presidente Donald Trump. A posse de Biden como 46.º Presidente dos Estados Unidos está marcada para 20 de Janeiro de 2021. Voz de Kamala Harris A vice-Presidente eleita dos Estados Unidos, Kamala Harris, afirmou no discurso da vitória que apesar de ser a primeira mulher a aceder ao cargo não será a última. Harris agradeceu aos norte-americanos por terem votado pela “esperança, unidade, decência, ciência e verdade” para iniciar “um novo dia” no país. “Embora possa ser a primeira mulher neste cargo, não serei a última. Porque cada menina que nos vê esta noite, vê que este é um país de possibilidades”, disse, em Wilmington, no estado do Delaware. Vestida de branco como as sufragistas, no mesmo ano em que se comemorou o centenário do direito das mulheres a votar nos Estados Unidos, Harris garantiu que não teria chegado a este momento sem aquelas activistas e sem os milhões de norte-americanas que votaram nas presidenciais de 3 de Novembro. A vice-Presidente eleita prestou também homenagem a “gerações de mulheres, negras, asiáticas, brancas, latinas e nativas norte-americanas que, ao longo de toda a história, abriram caminho para o momento desta noite”. “Mulheres que lutaram e tanto sacrificaram pela igualdade, a liberdade e a justiça para todos, incluindo mulheres negras, com as quais frequentemente não se conta, mas que frequentemente demonstram ser a coluna vertebral da nossa democracia”, sublinhou. Harris dirigiu-se também às crianças: “Sonhem com ambição, liderem com convicção e atrevam-se a olhar para vós próprios de uma forma como os outros nunca vos viram, simplesmente porque nunca o viram antes”. A ainda senadora democrata pelo estado da Califórnia proferiu o discurso antes da intervenção do Presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, a quem agradeceu por ter “tido a audácia” de “escolher uma mulher como vice-Presidente”. “Tentarei ser a vice-Presidente que Joe Biden foi para o Presidente [Barack] Obama: leal, honesta e preparada, e acordar todos os dias a pensar em vós e nas vossas famílias”, garantiu. Harris comprometeu-se a trabalhar “para salvar vidas e derrotar a pandemia” de covid-19, para reconstruir a economia e combater a crise climática e para “eliminar a raiz do racismo sistémico no sistema de Justiça e na sociedade” norte-americana, razão dos protestos deste ano nos Estados Unidos. No início da intervenção, Kamala Harris citou o líder do movimento dos direitos cívicos John Lewis, que morreu este ano: “A democracia não é um estado, é um acto”, usando esta citação para reflectir sobre “a luta e o sacrifício” que implicam proteger esta forma de Governo.
Hoje Macau China / ÁsiaEUA/Eleições | Redes sociais chinesas festejam Biden, órgãos oficiais recomendam cautela [dropcap]O[/dropcap]s internautas chineses celebraram efusivamente a vitória de Joe Biden, enquanto a imprensa estatal reagiu também com optimismo, mas recomendou cautela, face à crescente complexidade nas relações Estados Unidos-China. “Deus salvou a América”, reagiu Gao Zhikai, intérprete do antigo líder chinês Deng Xiaoping e actualmente um dos mais conhecidos comentadores da televisão chinesa, num comentário difundido na rede social Wechat. “[Donald] Trump ainda está a tentar manter-se à tona, mas mil veleiros passam um barco a afundar”, descreveu, recorrendo a um ditado chinês. Memes e mensagens congratulatórias para Joe Biden inundaram as redes sociais chinesas às primeiras horas da madrugada na China, ilustrando a impopularidade de Donald Trump no país. “Estás despedido”, escreveu um internauta chinês, num comentário dirigido a Trump, na rede social Weibo, o Twitter chinês. “Sinto-me feliz que os norte-americanos estejam finalmente a mostrar alguma inteligência e a exercitar o que consideram ser o seu conceito superior de democracia”, acrescentou. “É um grande dia para o mundo e um evento ainda melhor para a China”, descreveu outro internauta. Nos últimos meses, a insistência de Trump em apelidar a covid-19 de “vírus chinês” contribuiu para antagonizar as percepções sobre o líder norte-americano. “Donald Trump vem no topo da lista dos homens mais odiados na China”, comentou Penny Li, uma chinesa que viveu quase dez anos na Austrália, à agência Lusa. “[O secretário de Estado] Mike Pompeo está logo a seguir”. Moderado e maduro Alguns órgãos de comunicação chineses expressaram esperança de que Biden estabilize as relações entre Washington e Pequim, mas alertaram sobre futuras tensões entre as duas grandes potências. Outros sugeriram que a democracia norte-americana está em declínio. “O resultado [das eleições] pode inaugurar um ‘período de amortecimento’ nas tensas relações China – EUA, e oferece uma oportunidade para retomar a comunicação de alto nível e reconstruir a confiança estratégica mútua”, escreveu o Global Times, jornal oficial do Partido Comunista Chinês, num artigo em que cita especialistas chineses. Biden vai ser “mais moderado e maduro” do que Trump nas relações externas, previu o jornal. O Southern Daily, um jornal oficial de Guangdong, escreveu que, embora Biden provavelmente tratará a Rússia, e não a China, como a maior ameaça externa aos Estados Unidos, os chineses “não se devem iludir”. “Uma coisa é certa, as coisas nunca mais voltarão a ser como antes”, apontou. “O mundo mudou”. A imprensa do regime chinês explorou também a crescente divisão na sociedade norte-americana para descrever um país “caótico” e em “declínio”. Hu Xijin, editor do Global Times, lembrou, no Weibo, que “a sociedade norte-americana agora está altamente dividida, o que cria terreno propício para mais instabilidade política”.