Joe Biden pretende manter “de momento” a política dos EUA em relação à China

[dropcap]J[/dropcap]oe Biden pretende manter “de momento” as tarifas impostas à República Popular da China pelos Estados Unidos, incrementadas pela administração de Donald Trump no quadro da guerra comercial entre Washington e Pequim.

“Não vou tomar nenhuma ação imediata, e isso diz respeito igualmente às tarifas alfandegárias”, disse o presidente eleito ao jornal New York Times, numa entrevista publicada ontem. “Não vou comprometer as minhas opções”, acrescentou Joe Biden.

As relações entre os dois países estão atualmente marcadas pela guerra comercial iniciada por Donald Trump, apesar das tréguas acordadas em janeiro entre Washington e Pequim. Por outro lado, Joe Biden mostrou-se bastante crítico contra Pequim em matérias relacionadas com direitos humanos.

Após a vitória nas presidenciais de novembro, Biden deu a entender que a futura administração vai procurar a renovação da política comercial de Washington com a Europa e os países da Ásia Pacífico no sentido de formar uma unidade capaz de enfrentar a República Popular da China.

No princípio do ano, Biden não poupou críticas ao Presidente chinês Xi Jinping. “É uma pessoa (Xi Jinping) que não tem um osso democrata em todo o esqueleto”, afirmou Joe Biden no princípio do ano.

A equipa que liderou a campanha eleitoral do Partido Democrata qualificou de “genocida” a campanha das autoridades da República Popular da China contra a minoria muçulmana uigur da província de Xinjiang.

2 Dez 2020

MNE da NATO aprovam relatório sobre implicações que China terá para a Aliança

[dropcap]O[/dropcap] secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, anunciou ontem que os ministros dos Negócios Estrangeiros da Aliança aprovaram um relatório que “analisa o desenvolvimento militar” da China e as implicações que terá para a NATO.

“Concordámos num relatório abrangente, que analisa o desenvolvimento militar da China, a sua atividade crescente na nossa vizinhança e as implicações que tem para a resiliência da NATO, incluindo no que se refere à fusão de tecnologias e à nossa infraestrutura crítica”, referiu Stoltenberg em conferência de imprensa.

As declarações foram feitas após uma reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) que contou também com a presença de parceiros do Japão, Austrália, Nova Zelândia e Coreia do Sul, tendo o tema principal sido “a mudança global no equílibrio de poder com a ascensão da China”.

À saída, Stoltenberg referiu que a China “não é um adversário” da Aliança, e pode criar “novas oportunidades” no tema do comércio ou do clima, mas “cria desafios”.

“A China tem o segundo maior orçamento de defesa no mundo e está a investir fortemente em novas capacidades [militares]. E a China não partilha os nossos valores, mina os direitos humanos, intimida outros países e está a envolver-se cada vez mais numa competição sistémica connosco”, sublinhou o secretário-geral.

Stoltenberg instou assim a “comunidade de democracias com ideias semelhantes” a “trabalhar em conjunto” de maneira a “reforçar a resiliência das sociedades, economias, instituições” e “defender a ordem [mundial] baseada em regras”.

Para tal, o secretário-geral referiu que foram discutidas novas medidas de cooperação com os parceiros da NATO que vão da “partilha de informações” à “promoção de abordagens comuns incluindo no ciberespaço ou no fortalecimento global de regras e normas sobre, por exemplo, no controlo de armas”.

“Nos últimos anos, vimos uma mudança significativa na nossa compreensão da China e uma crescente convergência dos pontos de vista tanto dentro da NATO, como com os nossos parceiros”, frisou Stoltenberg.

Frisando que a NATO tem de ter “uma abordagem mais global” no futuro, Stoltenberg sublinhou, ainda assim, que a Aliança se mantém disposta a cooperar com a China.

“Mantemo-nos preparados para colaborarmos com a China – como, aliás, já o estamos a fazer – enquanto potência emergente. Mas, enquanto potência emergente, a China também tem de respeitar a ordem internacional baseada em regras”, afirmou o secretário-geral da Aliança.

Os ministros dos Negócios Estrangeiros da NATO estiveram reunidos virtualmente esta terça e hoje tendo discutido, além da China, o fortalecimento da presença militar da Aliança no mar Negro.

2 Dez 2020

Joshua Wong diz que combate em Hong Kong continua após ter sido condenado

[dropcap]O[/dropcap] dissidente político de Hong Kong Joshua Wong disse ontem, após ser condenado a 13 meses e meio de prisão, que a sentença “não é o fim do combate” pela democracia e a liberdade. O líder estudantil pró-democracia de Hong Kong foi condenado hoje a 13 meses e meio de prisão pelo envolvimento nas manifestações na região administrativa especial.

“Não é o fim do combate (…) Pela frente temos outra batalha. Agora, vamos juntar-nos à luta na prisão ao lado dos numerosos e corajosos manifestantes, menos visíveis, mas essenciais à luta pela liberdade e democracia em Hong Kong”, declarou Joshua Wong.

As mensagens do activista foram divulgadas através das redes sociais poucos minutos após ter sido conhecia a sentença de Joshua Wong e de outros dois membros do movimento pró democracia de Hong Kong, Agnes Chow e Ivan Lam, condenados a 10 e a sete meses, respetivamente.

Antes de ser escoltado para fora do tribunal, Wong gritou aos apoiantes: “Sei que o caminho pela frente é difícil, mas vou aguentar-me”, com a multidão a gritar de volta palavras de apoio, descreveu a emissora pública de Hong Kong, a RTHK.

Apesar da sua juventude, Wong, que iniciou o seu activismo político aos 13 anos de idade, já passou algum tempo atrás das grades. Tem sido descrito por vários ‘media’ como uma das pessoas mais influentes do mundo, encarnando a opinião internacional sobre a resistência a Pequim na antiga colónia britânica.

Wong, de 24 anos, declarou-se culpado de organizar a manifestação e de incitar outros a juntarem-se. Chow, de 23 anos, também admitiu ter participado e incitado pessoas a juntarem-se à manifestação. Lam, de 26 anos, confessou-se culpado da acusação de incitamento.

A admissão de culpa dos três permitiu que a sentença fosse reduzida, face aos três anos de pena que arriscavam.

Os advogados dos três antigos líderes do agora dissolvido partido Demosisto tinham apelado a penas mais brandas, exortando o magistrado Wong Sze-lai a ter em conta a juventude do trio, o facto de Chow ter um registo sem mácula, e de nenhum deles ter participado em qualquer ato de violência durante o protesto.

Wong e Lam já tinham sido presos no passado após condenações relacionadas com o seu activismo, ao contrário de Chow, que em agosto chegou a ser detida, ao abrigo da lei de segurança nacional, mas sem que tenha sido deduzida qualquer acusação.

Milhares de pessoas cercaram o edifício em Wan Chai a 21 de junho do ano passado, exigindo a retirada da lei de extradição do Governo, reformas democráticas e que a polícia deixasse de descrever os protestos no início do movimento como motins.

A multidão bloqueou entradas, com alguns manifestantes a vandalizarem muros e a destruírem câmaras de vigilância, mas sem que tenham existido confrontos graves com a polícia, algo que foi frequente nos protestos de 2019, que levaram milhões de pessoas para as ruas.

2 Dez 2020

Filme “Mosquito” de João Nuno Pinto nomeado para prémio em festival chinês

[dropcap]O[/dropcap] filme “Mosquito”, de João Nuno Pinto, foi nomeado para o principal prémio do Festival Internacional de Cinema da Ilha de Hainan, no sul da China.

Num comunicado divulgado na segunda-feira, a organização do festival revelou que “Mosquito” está entre os 12 nomeados para os “Golden Coconut Awards”, na categoria de longa-metragem de ficção, cujo vencedor irá receber 250 mil yuan.

A terceira edição do festival vai decorrer entre 05 e 12 de dezembro na cidade de Sanya, com várias sessões de cinema marcadas para as praias da capital de Hainan, um popular destino turístico chinês.

“Mosquito”, com argumento de Fernanda Polacow e Gonçalo Waddington, é protagonizado pelo ator João Nunes Monteiro, no papel de Zacarias, um jovem militar enviado para África, na primeira guerra mundial.

O drama de guerra “é inspirado na história da chegada do meu avô a África. No entanto, o que se passou durante a sua longa e solitária caminhada pouco se sabe. É aqui que entra a ficção, a fabulação e o sentido que pretendo dar à narrativa”, explica o realizador João Nuno Pinto na nota de intenções.

“Mosquito” foi eleito o melhor filme internacional pela crítica da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em novembro.

Dias antes tinha recebido dois prémios na Mostra de Valência – Cinema del Mediterrani, em Espanha, de melhor fotografia para Adolpho Veloso, e de melhor banda sonora para o músico Justin Melland.

A longa-metragem foi ainda escolhida para abrir a edição deste ano do festival de cinema de Roterdão (Países Baixos), onde integrou também a Seleção Oficial.

“Mosquito” é o candidato de Portugal à categoria de Melhor Filme Ibero-Americano dos Prémios Goya de 2021, de Espanha, e foi um dos quatro filmes nomeados para uma candidatura portuguesa à categoria de Melhor Filme Internacional dos Óscares.

“Mosquito” é uma produção da Leopardo Filmes, de Paulo Branco, em co-produção com a Alfama Films Production (França), APM Produções (Portugal), Delicatessen Films (Brasil) e Mapiko Filmes (Moçambique), tendo sido rodado no país africano.

O filme chegou às salas portuguesas no início de março, pouco antes do encerramento e da declaração do estado de emergência, por causa da covid-19.

Ainda que com uma reduzida presença de espetadores em sala, “Mosquito” foi o sétimo filme português mais visto este ano, com 3.570 entradas, segundo dados do Instituto do Cinema e do Audiovisual, contabilizados até ao final de novembro. Além de “Mosquito”, João Nuno Pinto é ainda autor da longa-metragem “América” (2000) e das ‘curtas’ “Don’t swim” (2015) e “Skype me” (2008).

2 Dez 2020

LAG 2021 | Criado centro de exames chinês-português no IPM

[dropcap]A[/dropcap] secretária para os Assuntos Sociais e Cultura de Macau afirmou esta quarta-feira que o Instituto Politécnico de Macau (IPM) vai estabelecer um centro de exames chinês-português no território. Elsie Ao Ieong falava no debate sectorial das Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2021, na Assembleia Legislativa.

Este vai ser o primeiro centro de realização de exames nacionais de qualificação profissional para a área da tradução nas duas regiões administrativas especiais chinesas, Macau e Hong Kong.

“Estamos a criar um outro centro de exames com habilitação internacional. O IPM já entrou em contacto com os respectivos serviços e em tempo oportuno vamos publicar os resultados desses planos”, acrescentou a secretária, que no domínio da Educação e Juventude vai promover o desenvolvimento da “Aliança para o Ensino da Língua Portuguesa na Grande Baía”.

Neste âmbito, a Secretaria para os Assuntos Sociais e Cultura vai reforçar a “promoção da língua portuguesa” e a formação de quadros qualificados. Um dos objectivos é também “através da plataforma de recursos bilingues de Macau e dos países de língua portuguesa incrementar a cooperação entre Macau, as cidades da Grande Baía e os países” lusófonos, afirmou.

Por outro lado, a secretária indicou que, no mesmo domínio, o Governo vai reforçar a “educação do amor pela pátria e por Macau”, com o lançamento de actividades destinadas aos jovens e também através da divulgação generalizada de materiais didácticos complementares, incluindo sobre a Constituição da China e sobre a Lei Básica.

Estes materiais serão traduzidos, em inglês, para as escolas internacionais locais, e “em português para a Escola Portuguesa”, disse a responsável, numa resposta a questões colocadas por vários deputados, num debate dominado pela pandemia de covid-19. As autoridades de Macau vão encorajar as escolas internacionais a usar esses materiais didáticos, salientou.

2 Dez 2020

Bloomberg diz que casinos foram abordados sobre introdução do yuan digital, DICJ nega

A agência Bloomberg noticiou ontem que as operadoras de jogo foram sondadas pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos sobre a possibilidade de adoptarem moeda digital chinesa para compra de fichas de jogo. A notícia indica que as conversações começaram nos últimos meses e ainda estão em fase preliminar. O Governo negou a veracidade da notícia numa curta declaração

 

[dropcap]A[/dropcap] agência Bloomberg noticiou ontem que a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) tem abordado as operadoras de jogo, nos últimos meses, sobre a hipótese de adopção de moeda digital chinesa, o yuan digital, para a compra de fichas de jogo.

Porém, a meio da tarde de ontem, o organismo liderado por Adriano Marques Ho negou a veracidade da notícia. “Foram publicadas notícias a referir que a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos discutiu com as operadoras de jogo o uso de yuan digital nos casinos, o que é falso”.

Admitindo a possibilidade de entrada de moeda chinesa no mercado, o espaço de manobra negocial dos junkets desapareceria, tornando desnecessário o serviço de crédito em dólares de Hong Kong e de troca cambial para jogar.

Apesar de a Bloomberg, citando fontes próximas das concessionárias de jogo, referir que as conversas, negadas pela DICJ, foram preliminares, a possibilidade torna ainda mais premente a necessidade de as grandes empresas promotoras de jogo procurarem mercados para expandir os seus negócios, fora de Macau.

Embora ainda estejamos longe do anúncio de um plano formal para introduzir o yuan digital no mercado, a Bloomberg escreve que a imposição de uma moeda controlada pelo Governo Central, de fácil localização, pode ser a sentença de morte do sector junket, já fortemente afectado pela crise originada pela pandemia e pelo aperto regulamentar dos últimos anos.

Ontem de manhã, as acções da Galaxy Entertainment Group Ltd, operadora que regista um dos maiores volumes de receitas de jogo VIP, caíam 3 por cento. A Suncity Group Holdings Ltd começou o dia a cair 2,8 por cento, enquanto as acções da Wynn Macau Ltd. e da SJM Holding Lts. registavam quebras de 2,5 e 1,4 por cento.

Luz na escuridão

A introdução do yuan digital não só retira o papel dos junkets na troca cambial e acesso a crédito em dólares de Hong Kong, essencial aos grandes apostadores, como pode acrescentar alguma transparência ao sector.

O controlo cambial permite a Pequim exercer maior fiscalização no fluxo de capital que passa pelas mesas de jogo VIP. Algo que a Bloomberg descreve como um factor que pode afugentar apostadores do sector VIP do sistema de junkets, aumentando o controlo quanto à fuga de capitais e lavagem de dinheiro.

Independentemente do que possa acontecer, empresas como o Suncity movimentam-se para alargar o portfolio de investimentos a mercados no exterior.

O grupo liderado por Alvin Chau, por exemplo, aumentou a fatia de capital que já detinha num casino russo e divulgou há um mês que adquiriu a parcela maioritária de uma empresa que vai operar e gerir em exclusivo o principal resort de um projecto que está a nascer em Manila, nas Filipinas, e que pretende copiar o modelo do Cotai.

O projecto, identificado como Westside City Resorts, deverá começar a operar no último trimestre de 2022. Em resposta ao portal GGRAsia, a Suncity Group Holdings revelou que pretende desenvolver um produto competitivo para os consumidores do mercado asiático de jogo. “O nosso objectivo é construir e integrar resorts que satisfaçam o mercado ao longo de muitos anos, especialmente o nosso consumidor-alvo: os jovens clientes que gastam muito, que trabalham no duro e jogam no duro”, cita o portal dedicado às notícias ligadas ao mercado.

Apesar do plano de larga escala em Manila ainda estar na fase inicial, o grupo de Alvin Chau quer apresentar um hotel com estilo, subordinado ao tema “festa dia e noite”, com um design moderno e elegante.

Só neste projecto, o Suncity Group planeia ter uma oferta de 400 mesas para os segmentos VIP e massas, e assim como 1.200 slot machines. Em termos hoteleiros, está previsto que o resort tenha capacidade para 400 quartos de cinco estrelas, parque de estacionamento e infra-estruturas que permitam organizar grandes festas de “beira de piscina”, incluindo uma piscina de luxo.

Selecção natural

Se alguns grupos têm capacidade para levar operações para outros mercados, outros, de menor dimensão, não têm hipótese de permanecer à tona no competitivo oceano das empresas promotoras de jogo. A Bloomberg dá como exemplo Eric Leong, que trabalhou como junket, oferecendo serviços a apostadores chineses nas últimas décadas.

Face às circunstâncias de mercado, o empresário reinventou-se este ano e passou a importar bens de consumo, como cosméticos, e acessórios de luxo, como malas. “Nesta indústria, estão todos a tentar sobreviver da melhor forma que conseguem. Se a água for clara demais, não há peixe. Os grandes apostadores vão-se embora se os casinos se tornarem tão transparentes”, afirmou o empresário à agência internacional.

No mês passado, o jornal oficial China Daily referiu que a moeda digital, emitida pelo Banco Popular da China, o banco central chinês, ainda vai ter de passar por vários testes antes de ser introduzida em circulação. Uma coisa é certa, Shenzhen será o palco das primeiras experiências, algo expectável porque a cidade vizinha funciona praticamente sem dinheiro físico. Aliás, em 12 de Outubro, 50 mil residentes de Shenzhen receberam o prémio de uma lotaria em moeda digital.

Enquanto não é usada em larga escala, este formato dará, teoricamente, mais controlo ao Governo Central no fluxo de capitais e no combate à lavagem de dinheiro. Em Macau, esses esforços reflectiram-se em medidas como a instalação de tecnologia de reconhecimento facial nas caixas multibanco, banindo apostas em nome de terceiros e fiscalizando actividades bancárias fora do sistema autorizado.

A chegada do yuan digital é inevitável e vai muito além do uso nas salas VIP de Macau. A moeda faz parte do alargado plano de Pequim para ultrapassar o dólar norte-americano como a divisa no topo do sistema monetário internacional.

2 Dez 2020

Hong Kong | Activistas Joshua Wong, Agnes Chow e Ivan Lam condenados a penas de prisão

[dropcap]O[/dropcap]s activistas pró-democracia Joshua Wong, Agnes Chow e Ivan Lam foram hoje condenados a penas de prisão por organizarem um protesto junto à sede da Polícia de Hong Kong, em Junho de 2019. Joshua Wong, uma das caras mais conhecidas dos protestos pró-democracia em Hong Kong, foi condenado a 13 meses e meio de prisão, e Agnes Chow e Ivan Lam a 10 e a sete meses, respectivamente.

Antes de ser escoltado para fora do tribunal, Wong gritou aos apoiantes: “Sei que o caminho pela frente é difícil, mas vou aguentar-me”, com a multidão a gritar de volta palavras de apoio, descreveu a emissora pública de Hong Kong, a RTHK.

“Os arguidos apelaram aos manifestantes para sitiarem a sede [da Polícia de Hong Kong] e entoaram ‘slogans’ anti-polícia”, disse a juíza Wong Sze-lai. “A detenção imediata é a opção mais apropriada”, defendeu.

Agnes Chow explodiu em lágrimas ao ser condenada, segundo a agência de notícias France-Presse (AFP). Apesar da sua juventude, Wong, que iniciou o seu activismo político aos 13 anos de idade, já passou algum tempo atrás das grades. Tem sido descrito por vários ‘media’ como uma das pessoas mais influentes do mundo, encarnando a opinião internacional sobre a resistência a Pequim na antiga colónia britânica.

Wong, de 24 anos, declarou-se culpado de organizar a manifestação e de incitar outros a juntarem-se. Chow, de 23 anos, também admitiu ter participado e incitado pessoas a juntarem-se à manifestação. Lam, de 26 anos, confessou-se culpado da acusação de incitamento. A admissão de culpa dos três permitiu que a sentença fosse reduzida, face aos três anos de pena que arriscavam.

Os advogados dos três antigos líderes do agora dissolvido partido Demosisto tinham apelado a penas mais brandas, exortando o magistrado Wong Sze-lai a ter em conta a juventude do trio, o facto de Chow ter um registo sem mácula, e de nenhum deles ter participado em qualquer ato de violência durante o protesto.

Wong e Lam já tinham sido presos no passado após condenações relacionadas com o seu activismo, ao contrário de Chow, que em agosto chegou a ser detida, ao abrigo da lei de segurança nacional, mas sem que tenha sido deduzida qualquer acusação.

Milhares de pessoas cercaram o edifício em Wan Chai a 21 de junho do ano passado, exigindo a retirada da lei de extradição do Governo, reformas democráticas e que a polícia deixasse de descrever os protestos no início do movimento como motins.

A multidão bloqueou entradas, com alguns manifestantes a vandalizarem muros e a destruírem câmaras de vigilância, mas sem que tenham existido confrontos graves com a polícia, algo que foi frequente nos protestos de 2019, que levaram milhões de pessoas para as ruas.

2 Dez 2020

Óbito | Eduardo Lourenço morre em Lisboa aos 97 anos

[dropcap]O[/dropcap] ensaísta Eduardo Lourenço, de 97 anos, morreu ontem, em Lisboa, confirmou à agência Lusa fonte da Presidência da República. Professor, filósofo, escritor, crítico literário, ensaísta, interventor cívico, várias vezes galardoado e distinguido, Eduardo Lourenço foi um dos pensadores mais proeminentes da cultura portuguesa.

Eduardo Lourenço Faria nasceu em 23 de Maio de 1923, em S. Pedro do Rio Seco, no concelho de Almeida, no distrito da Guarda, Beira Alta.

Licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas, na Universidade de Coimbra, em 1946, aí inicia o seu percurso, como assistente e como autor, com a publicação de “Heterodoxia” (1949).

Seguir-se-iam as funções de Leitor de Cultura Portuguesa, nas universidades de Hamburgo e Heidelberg, em Montpellier e no Brasil, até se fixar na cidade francesa de Vence, em 1965, com actividade pedagógica nas principais universidades francesas.

Foi conselheiro cultural da Embaixada Portuguesa em Roma. Em 1999, passou a administrador não executivo da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, que tem em curso a publicação da sua obra integral.
Autor de mais de 40 títulos, possuiu desde sempre “um olhar inquietante sobre a realidade”, como destacaram os seus pares.

“O Labirinto da Saudade”, “Fernando, Rei da Nossa Baviera” são algumas das suas principais obras.
Eduardo Lourenço recebeu o Prémio Camões (1996) e o Prémio Pessoa (2011).

Entre outras distinções, recebeu as insígnias de Grande Oficial e a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique e a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.
Era Oficial da Ordem Nacional do Mérito, Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras e da Legião de Honra de França.

“Na verdade, falo de mim em todos os textos”, disse Eduardo Lourenço sobre a sua obra, citado pelo Centro Nacional de Cultura, nas páginas que lhe dedica ‘online’. “Cada um dos assuntos por que me interesso daria para ocupar várias pessoas durante toda a vida. [Mas como] não possuo vocação heteronímica, tenho procurado encontrar um nexo entre as minhas diversas abordagens da realidade”.

Luto nacional

O Presidente da República afirmou ontem que Portugal está muito grato ao ensaísta Eduardo Lourenço, ao ter dedicado “praticamente um século de serviço” ao país.

“Portugal está-lhe muito, muito grato. Foi praticamente um século de serviço à nossa pátria”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, que falava aos jornalistas no final das comemorações do 1.º de Dezembro, em Lisboa.

O Presidente da República realçou a “coincidência simbólica” de “o maior pensador sobre Portugal vivo” ter morrido no dia da Restauração da Independência. “Quase que parecia que teria que ser assim”, acrescentou.

O primeiro-ministro, António Costa, anunciou ontem que esta quarta-feira será dia de luto nacional, pela morte do ensaísta Eduardo Lourenço.

“Amanhã [quarta-feira] será dia de luto nacional, no dia em que dos despediremos do professor Eduardo Lourenço”, disse António Costa, que falava aos jornalistas à margem das comemorações do 1.º de Dezembro, em Lisboa.

1 Dez 2020

Plano Director VI – da morfologia urbana

[dropcap]D[/dropcap]e todas as áreas de intervenção do Projecto de Plano Director, os Aterros da Baía da Praia Grande é aquela que teve génese ou desenvolvimento menos espontâneos, e que mais importa interpretar o que presidiu a essa génese.

O Plano de Reordenamento da Baía da Praia Grande, prosseguiu as orientações que remontam e resultaram ainda do levantamento exaustivo das condições hidrológicas feitas por Adolpho Loureiro no final do Sec. XIX, que à data tinha em vista aliviar o assoreamento, que sempre constituiu tormento para a utilização e gestão do domínio hídrico em torno do território, nomeadamente de acesso ao Porto Interior. Tais orientações tinham em vista estreitar o estuário entre a península de Macau e a ilha da Taipa, acelerando o caudal fluvial e de maré, para limpeza de fundos e para alívio da manutenção do canal do denominado “rada”.

Presentemente a realidade não é mais a mesma, não pelo agravamento do assoreamento das margens, mas pela urbanização do estuário a montante, ao ponto de o estuário não mais se poder espraiar e acomodar as situações extremas de caudal fluvial e de maré, passando as orlas urbanas mais antigas e mais baixas a ser recorrentemente fustigadas por inundações.

Presentemente um sistema ainda por compreender nas suas características actuais, e que hoje se faz por modelos numéricos de simulação, para informar e orientar futuras intervenções urbanísticas.

À questão geomorfológica sucede o modelo urbano de ocupação, e aquilo que mais releva para o desenho da cidade.

Ao contrário dos outros aterros efectuados no passado, que vêm substituindo sucessivamente os contornos do litoral, o Plano de Reordenamento da Baía da Praia Grande manteve grande parte da morfologia original da margem, nomeadamente na Av. da República, gerando “ao largo” grande parte do solo novo.

Disso resultou que os contornos da baía passaram a poder ser apreciados mais de perto, que não apenas da ilha da Taipa, como também dessas margens poderia ser apreciada a morfologia de uma nova ilha. Ou seja, diversas possibilidades de gerar nova paisagem e de apreciar a já existente.

Para isso, a regra da malha urbana pautou-se por uma rede viária de diferentes hierarquias, onde são interiores as vias de trânsito mais intenso, e são periféricas as de trânsito local. Disso espera-se que as margens do aterro mantenham o equilíbrio das suas características, mesmo que o trânsito de circulação mais geral se intensifique.

Disso resulta resguardo para as imagens de contorno litoral, visualmente ricas de reflexos urbanos na água, sem que essas imagens fossem cortadas por grandes vias marginais ou que as mesmas viessem a ser intensificadas e difíceis de atravessar. Foram ainda previstas situações em que a própria edificação existisse directamente sobre a água para perfeita continuação do seu reflexo, como é o caso do edifício da Assembleia Legislativa.

Da mesma malha urbana existem ainda vias transversais de direcções aparentemente aleatórias que captam outros avistamentos distantes no interior daquela nova “ilha”.

E como efectivamente se trata de uma “ilha” artificial, admitiu-se um núcleo de construção mais elevada que decresce em três frentes de água, como se uma colina artificial se elevasse dos lagos, por analogia à morfologia natural da península e das demais ilhas em redor.

As encostas dessa “ilha” artificial formam-se pelos os pisos que acrescem ao edifício imediatamente em frente.

A Torre de Macau não fora prevista no plano, mas serve a mesma morfologia, como algo especial que acresce ao cimo de uma de uma elevação.

Nesse plano foi ainda prevista a possibilidade de intervenções icónicas, por via de dois “colossos” com a fisionomia de duas torres de base elíptica que marcavam a entrada nesta “ilha”, pelo “istmo” por onde se acedia a partir do N.A.P.E.

Entretanto, o aterro na zona Sul desta “ilha” foi acrescentado e aquele acesso em “istmo” perdeu expressão ou preponderância.

Presentemente essa preponderância reside exclusivamente no eixo da ponte Nobre de Carvalho, mas que o Projecto de Plano Director não aproveitou para ladear por algo que fosse mais que um “descampado”, nomeadamente reposicionando os dois “colossos” previstos no plano inicial, para que enquadrassem perspecticamente a abordagem da Praça Ferreira do Amaral pela ponte Nobre de Carvalho.

O projecto de Plano Director prevê para esta zona a concentração de elementos comerciais, turísticos e de diversões, pela construção de diversas instalações públicas e instalações turísticas e culturais, mas também instalações governamentais, sem, contudo, enunciar um guião para toda essa articulação funcional.

Pretende ainda integrar esta zona num percurso de atributos paisagísticos ao longo da costa a que chama “Cintura de Turismo Histórico na Zona Costeira” que, todavia, já existe, se bem que em trechos de temas e características diferentes, e que nem sempre é periférico.

Possivelmente a intervenção pertinente seria antes a interpretação e a caracterização de cada um desses trechos existentes, a forma de os articular, para que se transitasse de um segmento para outro segmento, e se lhes desse continuidade.

O Projecto de Plano Director admite que nesta zona as construções possam atingir a altura da colina da Penha até ao máximo de 62,7 metros (aproximadamente 20 pisos) mas não diz com que partido plástico de distribuição volumétrica, sendo certo que não foi isso o que se representou nas imagens prospécticas adiantadas pelo plano, que antes se pautam pela contenção da altura.

Em verdade, a contenção das alturas nas orlas dos planos de água retira oportunidade de reflexo da arquitectura no plano da água que são sempre atributos das cidades costeiras ou litorais.

A preocupação em causa aparentemente prendeu-se com a salvaguarda dos avistamentos notáveis, todavia, a notoriedade dos avistamentos resulta tanto do objecto avistado como do partido que disso se tira do local de onde é avistado.

É por essa razão que os pontos de avistamento se seleccionam e se salvaguardam do próprio objecto avistado. Isso porque tudo o que daí se avista, significa que esse objecto é daí igualmente avistado.

É antes sobre essa vista revertida que é possível tomar decisões sobre onde é importante que um avistamento chegue, para limitar a altura da construção a edificar por meio, assim como decidir onde se pode prescindir desse avistamento, para que nesse sector a edificação em altura possa acontecer e não resulte danosa.

À preocupação de conter a cidade na sua altura, deveria antes prevalecer a preocupação de definir significativamente a cidade na sua volumetria, que está ao alcance de um plano de intervenção. Não somente de contenção que é antes atribuição de medida cautelar, na ausência de plano de intervenção.

O Projecto de Plano Director pretende “sublinhar a imagem de cidade costeira”, mas nenhuma morfologia significativa sustentou à escala dessa paisagem costeira, que é aquela que tem capacidade de ser percepcionada a grande distância. O mesmo é dizer que pretende sublinhar palavras que não escreveu.

E estamos a falar da silhueta que tem capacidade de definir o icon gráfico por que uma cidade se identifica, que vem sido construído na RAEM aleatoriamente, e que um plano director tem capacidade de aferir e de aperfeiçoar (vd. Cidades atentas ao seu “skyline”, in HojeMacau, 05-10-2007).

1 Dez 2020

CNN | Documentos revelam falhas na gestão inicial do surto de Covid-19

[dropcap]A[/dropcap] China difundiu dados mais optimistas do que os estágios iniciais do surto do novo coronavírus sugeriam e tardou em confirmar casos já diagnosticados, segundo documentos internos das autoridades citados pela cadeia televisiva norte-americana CNN.

As conclusões avançadas pela CNN têm como base a análise de documentos internos das autoridades de saúde do país asiático. No total, são 117 páginas vazadas do Centro para Controlo e Prevenção de Doenças da Província de Hubei, onde foram diagnosticados os primeiros casos de covid-19.

Num relatório marcado com as palavras “documento interno, mantenham o sigilo”, as autoridades de saúde locais listam um total de 5.918 novos casos, detectados em 10 de Fevereiro, mais do que o dobro do número público oficial de casos confirmados nesse dia.

Este número nunca foi revelado na altura, já que o sistema de contabilidade da China parecia, no caos das primeiras semanas da pandemia, minimizar a gravidade do surto.

Um relatório produzido no início de Março apontou que as autoridades estavam a demorar, em média, 23 dias a confirmar o diagnóstico de pacientes que já apresentavam sintomas.

Erros de teste significaram ainda que a maioria das pessoas infectadas recebeu resultados negativos em 10 de Janeiro.

As primeiras medidas de contenção do surto foram prejudicadas pela falta de fundos e pessoal e uma burocracia complexa, que complicou o sistema de emergência da China, segundo as auditorias internas a que a CNN teve acesso.

A CNN afirmou também que houve um grande surto de gripe, no início de Dezembro, na província de Hubei, que não foi divulgado anteriormente.

Os documentos, que cobrem um período incompleto entre Outubro de 2019 e Abril deste ano, revelam o que parece ser um sistema de saúde “inflexível, limitado por uma burocracia organizada do cimo para baixo e procedimentos rígidos, inapropriados para lidar com a crise”, apontou a CNN.

“Em vários momentos críticos da fase inicial da pandemia, os documentos apontam evidências de erros claros e um padrão de falhas institucionais”, acrescentou.

Negação sínica

O Governo chinês rejeitou veementemente as acusações dos Estados Unidos e de outros governos ocidentais de que deliberadamente reteve informações sobre o vírus.

Em Junho passado, o Conselho de Estado da China defendeu que o Governo chinês sempre publicou informações sobre a epidemia de “forma oportuna, aberta e transparente”.

“Ao fazer um esforço total para conter o vírus, a China também agiu com grande sentido de responsabilidade para com a humanidade, o seu povo, a posteridade e a comunidade internacional. Forneceu informações sobre a covid-19 de forma totalmente profissional e eficiente e divulgou informações confiáveis e detalhadas o mais cedo possível numa base regular”, acrescentou.

Segundo a CNN, embora os documentos não ofereçam evidências de uma tentativa deliberada de ocultar informação, estes revelam várias inconsistências sobre o que as autoridades acreditavam que estava a acontecer e o que foi revelado publicamente.

Ontem, fez um ano desde que o primeiro paciente conhecido apresentou sintomas da doença em Wuhan, a capital da província de Hubei, segundo um estudo publicado no jornal médico Lancet.

As revelações ocorrem numa altura em que EUA e União Europeia pressionam a China a cooperar totalmente com uma investigação da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre as origens do vírus, que infectou já mais de 60 milhões de pessoas e matou 1,46 milhões em todo o mundo.

Até à data, no entanto, o acesso de especialistas internacionais aos registos médicos dos hospitais e dados em Hubei foi limitado. A OMS disse, na semana passada, que recebeu “garantias do Governo chinês de que uma viagem ao terreno” seria concedida como parte da sua investigação.

Os arquivos foram apresentados à CNN por denunciantes que pediram anonimato, segundo a cadeia televisiva. As fontes disseram trabalhar no sistema de saúde chinês e serem patriotas que desejam expor factos que foram censurados e homenagear os colegas que falaram anteriormente.

Os documentos foram verificados por seis especialistas independentes que examinaram a veracidade de seu conteúdo, segundo a CNN.

1 Dez 2020

Covid-19 | A pandemia vista por cinco prostitutos LGBT de Lisboa

Os trabalhadores do sexo estão dependentes de cada cliente e não recebem apoios do Estado. Por isso passam ao lado da covid-19 — e os clientes fazem o mesmo. Têm receios, mas dizem-se habituados a muitas outras doenças. Como é viver do sexo em época de máscaras e distanciamento?

 

[dropcap]A[/dropcap] mais famosa rua de prostituição de Lisboa era já uma sombra do passado e a pandemia fez o resto. Sandra vive aqui perto, por isso é num café do Conde Redondo, onde esteve a almoçar, que aceita encontrar-se comigo ao início de uma tarde de Outubro. Está sozinha numa mesa e larga o telemóvel para me estender a mão. Do empregado aos clientes, o dia de chuva esmoreceu humores. Sento-me e peço um café, tiro a máscara da cara e Sandra abre logo o jogo: “Assumo tudo o que faço, sou muito transparente.”

Sandra, de 37 anos, vive do sexo há duas décadas. Semblante amigável mas astuto, longos cabelos que de certo lhe ocupam horas em cuidados, mudou de sexo há menos de quatro anos e até já tem os documentos com nome feminino. Nasceu no Barreiro e cresceu em Santa Iria da Azóia, arredores da capital. Saiu cedo para viver à sua maneira, precisamente aos 16.

Fala-me dos pais e da infância marcada por alcoolismo, violência doméstica e prostituição da mãe. Sou levado pela curiosidade. Pergunto-lhe também quando percebeu que queria mudar de sexo, diz-me que “foi de um momento para o outro”. Só a custo voltamos ao assunto que nos juntou esta tarde. O relato é uma torrente.

“Pouco antes de darem o primeiro Estado de Emergência, estava na Suíça e tive de voltar para Lisboa. Estava um bocado assustada e fiquei a viver das poupanças durante dois meses, mas tinha cada vez mais chamadas dos clientes que viam os meus anúncios na internet e, em vez de os atender, em casa optei por videochamadas. Só que as brasileiras estavam aflitas e começaram a baixar o preço da câmara. Eles queriam pagar 10, 15 euros, eu disse não. Em Portugal, é fraco. Prefiro ir para fora, ganha-se mais e não te chateias tanto. Na Holanda rodo uma semana em cada cidade: Amesterdão, Roterdão, por aí fora. Estava em Friburgo quando começou isto tudo e tive de me vir embora.”

A pandemia, que assola a Europa desde o início do ano, tem vindo a alterar uma por uma todas as certezas que demos por garantidas. Em Portugal, onde as “medidas de contingência” colhem consenso político alargado, mas são cada vez mais contestadas pela sociedade civil, que possivelmente à boa maneira portuguesa cumpre tudo à vista de todos e quase nada longe de olhares indiscretos, o tecido social vai-se rompendo perante a estagnação compulsiva.

Há empresas e empregos destruídos e serviços de saúde incapazes de responder a outras doenças. A saúde mental e a paz de espírito estão em sobressalto, os cofres do Estado vão-se esvaziando, espreitam tragédias sociais de alcance desconhecido. Até as relações familiares estão sob ameaça neste Outono, com as autoridades a exibirem gráficos que alegadamente demonstram explosões de contágios entre pais, filhos, irmãos, tios, primos e avós.

São os dias da hipervigilância, da quarentena, do recolher obrigatório, da ilegalização do encontro, do prazer e do afecto. Porém, ao mesmo tempo, dias de realidades paralelas e comportamentos desalinhados ou, em certos momentos, criminais, conforme as excepções legislativas que as autoridades vão aprovando ao sabor dos números. Boletim em inícios de Novembro: mais de três mil mortos em Portugal, contados em função do “evento final” mais próximo do óbito e não a partir da causa primária (são mortos com covid-19 e não apenas por covid-19, critério que não se verifica em todos os países da União Europeia).

Se as festas furtivas de adolescentes rebeldes dão testemunho das realidades paralelas, também a intimidade comercial entra na lista. Foi o que me garantiram cinco prostitutos de Lisboa com quem falei ao longo de quatro semanas: três homossexuais, um bissexual e uma transexual. Relataram algum receio da covid-19 ao início, mas logo acrescentaram que suspender a actividade é simplesmente inconcebível.

Dependem de cada cliente para ganharem dinheiro e não têm outros rendimentos ou apoios do Estado, como o “lay-off” simplificado ou as prestações assistenciais.

Regresso a Sandra num café do Conde Redondo. No primeiro confinamento, em Março, os “clientes estavam desesperados”, diz-me. E não era com medo do vírus. Continuaram a querer combinar encontros, sem que ela cedesse. Muitos optaram pelo Parque Eduardo VII, conhecida zona de prostituição. Viu Sandra várias vezes. “Mais até do que noutras alturas e sem protecção”, garante. Aponta ao dedo à “falta de noção” e acrescenta que não teme a covid por aí além, por se considerar uma pessoa de boa saúde. Aliás, com vaidade, diz que em duas décadas de sexo remunerado nunca apanhou sífilis, hepatites ou outras doenças venéreas.

Pega no telemóvel. “Vou-te mostrar uma fotografia minha de rapazinho”. Em vésperas da transição, tinha um ar fechado, que não perdeu por inteiro. “Agora assumo-me como mulher, sou considerada transexual”, descreve.

“Como rapaz, era tímido. Agora sou desinibida, vou a todo o lado, ninguém me ofende nos cafés, as velhotas adoram-me. Há 20 anos comecei como gay, uma amiga disse-me que vinha para o Conde Redondo, que ganhava bem e conhecia rapazes bonitos. Comecei a vir e gostei. De dia trabalhava na Casa das Sandes e à noite vinha para aqui. Foi até hoje. Mas a rua já morreu, há por aí quatro ou cinco a trabalhar. E os clientes pagam pouco, também já não há tantos. Se era assim antes da covid, agora pior ainda. Ganhavas 50, 100 euros, mas gastavas logo 20 ou 30, o que é que juntavas? Nada. Na Holanda, se for preciso, fazes mil por dia.”

“Preferes a rua ou o atendimento em casa?”, pergunto.

“Apesar de tudo, gosto muito mais da rua, porque sou exibicionista. Em casa posso atender dois ou três, depois desligo o telefone e descanso”, responde com calma, mas à velocidade de quem está com muita pressa.

O depoimento de Sandra, a que não tarda se juntará o de um amigo travesti aparecido por acaso à mesma hora no café, indicia o segredo mal guardado: na prostituição, como no resto da vida social, os receios da covid-19 desanuviaram-se ao longo do tempo.

Um mês antes, no Príncipe Real, estive como outro prostituto da cidade, um brasileiro de 26 anos nascido em Curitiba. É o Ricardo. Põe a necessidade de ganhar a vida acima de tudo. Aparece de calções e “t-shirt”, o cabelo muito penteado, talvez alguma maquilhagem. Aproveita o início da conversa para se queixar dos primeiros tempos em Lisboa. Está por cá há três anos e meio.

“Comecei trabalhando num café onde sofria ataques de xenofobia dos clientes. Nunca esperei isto num país europeu que recebe imigrantes de vários países. Diziam ‘volta para a tua terra’ e coisas assim. Estava sozinho e precisava daquele trabalho para me manter legal. Hoje estou mais forte, naquela altura dependia muito e não podia responder. Aqui em Portugal fui despejado duas vezes, tive de dormir na recepção de um hotel, fingindo ser um cliente à espera. Já passei fome e grandes dificuldades.”

“Foi por isso que te dedicaste à prostituição?”
“Lógico. Foi a forma de dar a volta por cima. Um amigo cabeleireiro, que vivia muito bem, disse-me que fazia uns serviços por fora e comecei também. Hoje como em bons restaurantes, de alguns nem sei dizer o nome.

Já fui ao JncQuoi, na Avenida. Como boa comida, como nunca imaginei, e nem preciso de pagar a conta. Vou com os clientes, pagam tudo e ainda me pagam a mim para estar com eles. Cheguei há pouco dias de uma longa viagem à Áustria e à Alemanha, tenho tido experiências incríveis.”

Animado, inteligente, directo. Começou em 2018 e numa hora ganhava o equivalente a três dias no café. Conta-me que foi criado por uma avó, entretanto falecida, e pouca relação tem com a família. Recorda o Brasil e deixa o sublinhado: “Morro de vergonha do presidente”, Jair Bolsonaro. Pergunto-lhe se esteve a trabalhar durante as semanas do primeiro confinamento. A resposta sai disparada.

“Claro. Se parar, como é que pago a renda de casa? Eu vi os números sempre a crescer, as fronteiras a fechar…”
“E pensaste o quê?”

“Que ia ter alguma dificuldade, porque o número de clientes iria baixar. E baixou. Muitos deles têm mais de 45, 50 anos e é normal que quisessem ficar em casa. Perdi muitos, com certeza, mas consegui outros. A clientela continua. Talvez não todos os dias, como antigamente, mas de dois em dois dias com certeza”, diz-me, como quem se sente guardado por uma força maior que é filha da necessidade.
“Que pensas do coronavírus?”

“É só mais um risco. Não tenho outra maneira de ir buscar dinheiro, tenho de comer, viajar, pagar a renda”, repete Ricardo.” Ninguém tem nenhum cuidado especial, aqui, na Áustria ou na Alemanha.”

Há números a confirmar esta versão. Na verdade, a oferta e a procura só registaram quebras no início da primeira vaga. O responsável pelo ClassificadosX.net, uma das mais conhecidas plataformas de anúncios para adultos em Portugal, fonte de angariação de clientes para centenas de trabalhadores do sexo, partilhou comigo alguns dados.

Comecemos pela oferta. A 2 de Março — nove dias antes de a Organização Mundial da Saúde assumir a covid-19 como pandemia e muitos antes de Portugal ter declarado o Estado de Emergência e o confinamento geral obrigatório, o que veio a acontecer entre 18 de Março e 2 de Maio — o ClassificadosX tinha quase 14 mil anúncios registados. A 6 de Abril, eram pouco mais de 11 mil.

Neste período, as receitas reduziram-se para metade, até porque os administradores do “site” pediram directamente aos anunciantes para “colocarem os anúncios em pausa” até “as coisas voltarem à normalidade”. Por “e-mail” até fizeram “recomendações para trabalhadores do sexo contra o coronavírus”, caso não pudessem mesmo parar. Por exemplo: “Use luvas e preservativo em todos os actos sexuais”, “antes e após o atendimento deverá higienizar-se com água e sabão”, “minimize o contacto corporal, usando posições de menor contacto” e “evite beijos e aproximação facial”, etc.

Acontece que seis meses mais tarde, a 6 de Outubro, a oferta já tinha voltado ao normal, com cerca de 15 mil anúncios. Do lado da procura, a mesma coisa. Os gráficos mostram cerca de 36 mil visitas (“unique visitors”) ao ClassificadosX a 2 de Março, perto de 22 mil a 6 de Abril e mais de 38 mil a 6 de Outubro. A comparação tem por base a escolha de dias da semana iguais e inícios do mês. Por duas razões: porque, por exemplo, à segunda-feira há mais utilizadores do que à quarta (e muito mais do que ao domingo ou num feriado), e no início do mês há sempre picos (quando os portugueses têm mais dinheiro disponível para gastar).

Hugo, de 26 anos, tem um anúncio activo naquele “site”. Apresenta-se como acompanhante de luxo. Contactei-o através do WhatsApp e encontrámo-nos duas vezes. Primeiro numa esplanada, onde falámos longamente.

“Trabalho sexual, fazemos todos, mas para mim prostituição aplica-se a quem está na rua por necessidade e faz por qualquer preço. Sou acompanhante, tenho anúncios na internet, recebo em casa ou vou a casa.

Normalmente, faço viagens ao estrangeiro: Suíça, Alemanha, França, Espanha, Noruega. É outro tipo de serviço. Posso seleccionar a pessoa e às vezes só tenho de fazer massagens ou acompanhar o cliente a um jantar ou uma festa, o que pode ou não acabar em sexo”, conta-me, acrescentado que a mãe e a irmã mais velha estão a par e até são ajudadas por ele.

Em Janeiro esteve na Áustria. Com a crise global de saúde regressou a Lisboa. Passou três meses por cá, quase parado, e sentiu uma “redução drástica” da procura, tendo-lhe valido a “almofada financeira”, que tinha de parte, “já a pensar em imprevistos”. Depois a abertura do espaço aéreo e o aligeirar de restrições legais, levaram-no até Zurique, no início do Verão, onde não viu ninguém de máscara a não ser dentro dos transportes públicos. Manteve os preços e não cedeu à pressão de clientes que pretendiam pagar um pouco menos nesta fase atípica. São 60 euros por um momento rápido ou até 700 euros por uma noite, conforme o poder de compra do país que Hugo visita.

“Não tenho medo do coronavírus porque não faço parte de um grupo de risco. Corro um risco relativo, todos corremos riscos”, afirma.

“Mas se estiveste parado em Março e Abril é porque também tinhas receio”, contraponho.
“De certa forma, só que depois as coisas voltaram ao normal. É um dilema, mas não posso deixar de trabalhar. Tenho a minha médica, faço o PrEP [profilaxia pré-exposição, um medicamento que pode dar protecção contra o vírus da sida], paguei as minhas injecções contra a hepatite e o HPV. Sou uma pessoa com cabeça, nunca me relaxo nos cuidados, porque esta profissão é o que é. E um cliente é sempre um cliente, eles é que nos podem trazer alguma doença. Se me perguntares se tenho muitos cuidados com o coronavírus, respondo já que não tenho. Não há distância social nem máscara, é impossível numa actividade destas.”

Hugo tem uma presença pacata e mostra-se atencioso, confidencia laços de amizade com alguns fregueses assíduos que, por vezes, nem lhe pedem sexo, antes preferem desabafar sobre problemas com as mulheres, os filhos, o trabalho, as contas. Nasceu em Vila Franca de Xira, a meia-hora de Lisboa, veio estudar gestão hoteleira e decidiu começar um dia por influência de um namorado que já se dedicava à actividade. Tem bem presente a data: Agosto de 2018. Trabalhava à época num hotel da Avenida da Liberdade, “mas os ordenados portugueses não são os melhores” e não conseguia ter “uma vida minimamente estável”.

Uma semana depois desta conversa, abriu-me as portas de casa, na zona de Arroios. Estava de chinelos, calções fluorescentes e uma camisola de alças. Mostrou-me o Gucci, um cão recém-nascido que cabe na palma da mão. Na maçaneta da porta vi pendurado o saco de desporto com que vai quase todos os dias ao ginásio, daí o físico robusto de que claramente se orgulha.

O quarto é acolhedor. Sento-me na cama, vejo um televisor na parede e uma gravura com A Criação de Adão, de Miguel Ângelo. Hugo assume que toma Viagra antes de alguns encontros, “para que nada falhe”. Gosta de ter sempre música ambiente quando anda por casa. Fica-me gravada esta frase: “Atender um cliente é entrar na viagem dele.” Quando lhe falo da crise económica provocada pela covid-19, Hugo sentencia: “Um apoio do Estado por causa da pandemia? Até podia ser útil, mas não seria justo. Sei ver o que é certo e o que é errado. Se não pagamos impostos sobre o que ganhamos com este trabalho, porque é que vamos pedir ajuda ao Estado?”

Pela mesma altura, encontro-me no café da Ribeira das Naus com um rapaz negro que nasceu no Brasil, perto do Recife, e vive nos subúrbios de Lisboa desde que aqui chegou, há nove anos: Jonas, 23 anos, bissexual que só trabalha com homens. Revela uma visão muito aguçada das circunstâncias e do percurso que lhe é dado viver. Num sotaque brasileiro já muito apagado, dá-me detalhes sobre alguns traumas familiares. Diz que ainda não tem nacionalidade portuguesa porque atravessou “uma fase muito difícil” e não pôde tratar da documentação.

“Queres falar dessa fase?”
“Você é o jornalista, o que achar mais interessante para o seu artigo, pode perguntar. Nunca fui entrevistado e acho interessante”. Depois entra na biografia: “Aos 18 anos caí numa depressão, foi quando comecei a viver sozinho, uma fase de álcool, drogas, de sair todas as noites. Por essa altura, descobri também que havia uma forma de ganhar uns trocos, tendo prazer. Tive um companheiro e ao fim de três meses percebi que ele estava nesta vida. Foi uma queda ainda maior para mim, afundei-me ainda mais, mas a semente ficou plantada na minha mente. Descobri que era possível e um dia acabei por entrar, também por necessidade, porque vivia sozinho e estava mal. Pus um anúncio numa app, foi o caminho mais fácil.”

Considera-se acompanhante e sobretudo faz massagens eróticas, até por causa da pandemia, assim evitando o contacto físico directo. Puxa de um cigarro. Tem uma presença tímida e segura ao mesmo tempo. Explica-me que ainda hoje toma antidepressivos e admite ter fases mais cavadas, o que também lhe afecta a líbido. Daí o uso de “medicações naturais”, para “dar energia extra à mente e ao corpo”.

Jonas trabalhou em cozinhas e cafés. De forma intermitente regressa à prostituição, sempre em casa dos clientes, muitos dos quais homens solitários com mais de 50 ou 60 anos. Para além dos fixos, que chega a visitar duas vezes por semana, tem visto aumentar o número de novas solicitações nos últimos meses. Contactam-no a partir de anúncios na internet.

“Fiquei chocado por não terem deixado de pedir. Não tiveram medo, mesmo os que pertencem a grupos de risco. Por isso não deixei de trabalhar. Também não posso, preciso de sobreviver. Simplesmente tomo as minhas medidas: um banho antes de qualquer contacto e não pode haver troca de saliva, mesmo que insistam. Há pessoas que forçam o beijo, aí é o livre-arbítrio de cada um, mas eu aviso sempre que não”, conta Jonas, cuja atenção é de repente desviada para o ecrã do telemóvel, um cliente que lhe liga e ele decide ignorar.

Atalho a conversa, ele parece estar com pressa. Antes de se levantar e desaparecer em direcção ao Terreiro do Paço, diz que vai apostar cada vez mais nas “massagens eróticas com final feliz”. Está até convencido de que a covid-19 pode levar outros trabalhadores do sexo à mesma decisão, como forma de se protegerem. Andará muito assustado com as notícias? Nem tanto. “Mais me assusta o HIV”, justifica.

A comparação parece ter lógica e surgiu noutros depoimentos que recolhi. O vírus da sida é um espectro sobre as sexualidades e terá moldado o comportamento de duas ou três gerações, mesmo se a infecção pode hoje ser tratada e até prevenida por meio de medicação. Tornou-se um perigo com que se lida, sem se evitar, mais ainda no caso dos trabalhadores sexuais. Eles estão familiarizados com esta e outras infecções sexualmente transmissíveis. Concluo que isso os torna menos inseguros face a um coronavírus que em muitos casos não provoca sintomas.

Estes indivíduos praticam uma actividade posta à margem, valorizam mais a liberdade pessoal do que a segurança e evidentemente tendem a desconfiar das autoridades, que consideram fonte de problemas e repressão. Sem dificuldade encontrei na internet um estudo publicado em Abril na revista “Nature”, segundo o qual quem tem pouca empatia com o sistema dificilmente cumpre recomendações e ordens de médicos ou governantes.

De resto, só um dos entrevistados disse ter sido contactado nos últimos meses por alguma entidade que lhe tivesse dado conselhos e informações específicas sobre a covid-19. Hugo recebeu alertas no telemóvel “sobre o que fazer com os clientes durante a pandemia”, através de mensagens do Espaço Intendente, projecto gerido por uma organização não-governamental e a funcionar desde 2016, onde pessoas envolvidas em sexo comercial podem fazer rastreio gratuito de doenças venéreas e receber aconselhamento.

Ainda o Conde Redondo. Agora, sim, entra o amigo de Sandra, que só trabalha na rua e há muito deixou de anunciar na internet. Chama-se João, 26 anos, natural da Amadora, na vida desde os 18. A conversa é longa, mas contém principalmente pormenores sobre o percurso de um rapaz frágil que aos 21 anos foi contactado pela mãe pela primeira vez. Alinha no discurso da amiga: que a rua “está muito mal”, mas ainda “dá para pagar as contas e sobreviver”.

“Estive fechado em casa durante três meses, completamente fechada”, recorda, trocando o feminino pelo masculino, ainda que se identifique como homem e homossexual. “Parei de fumar e tudo, porque não queria gastar dinheiro. Ainda não perdi o medo, mas tenho de trabalhar e estou outra vez na rua. Trabalho vestido de mulher, nunca consegui ser acompanhante como homem, não tenho coragem.”

Sem surpresa, as conversas alongam-se menos na covid do que nas questões morais e legais que a prostituição levanta. Numa esplanada da Ribeira das Naus, Jonas mostrou-se bem informado sobre o enquadramento da actividade e lembrou que “há uma lacuna na lei portuguesa”, que “não está lá nada escrito nem contra nem a favor” da prostituição (é assim desde o Código Penal de 1982).

Depois ganhou asas e ofereceu-me esta reflexão: “Isto acontece desde os primórdios da humanidade, não cometo nenhum crime, estou de bem comigo e com as pessoas. Não é a vida mais segura, principalmente ao nível da saúde e porque podes encontrar de tudo. Graças a Deus, até hoje todos os meus clientes foram impecáveis, até os que dizem que faltam cinco euros e não podem pagar tudo. Se calhar tenho boa intuição e um bom anjo-da-guarda. Não é vida que se deva ter às escondidas da esposa ou do marido, como muitas vezes acontece, mas enquanto estiver solteiro tenho o direito de fazer o que quiser. Se não ferir ninguém e houver consentimento de ambas as partes, é apenas uma troca de prazer que é paga.”

Os dilemas hão-de continuar vivos. Exploração, vício, sobrevivência. Liberdade, autonomia, prazer. A prostituição faz o seu caminho, flutua sobre convenções. As da moral e as da saúde, como sempre.

1 Dez 2020

Devolvida à China escultura em bronze usurpada e comprada por Stanley Ho

[dropcap]U[/dropcap]ma escultura em bronze que pertencia ao Antigo Palácio de Verão, em Pequim, e que foi comprada, em 2007, pelo bilionário Stanley Ho, retornou ao local de origem, 160 anos após ter sido usurpada por um contingente militar anglo-francês, reportou a agência Lusa.

A obra, uma cabeça de cavalo esculpida em bronze, é a primeira a ser devolvida ao Antigo Palácio de Verão a partir do exterior, segundo a agência noticiosa oficial Xinhua, que lista a peça como o “último tesouro perdido” do recinto.

A peça foi desenhada pelo jesuíta italiano Giuseppe Castiglione (1688-1766), um missionário que trabalhou durante mais de meio século para a corte dos Qing, a última dinastia imperial a governar a China.

A peça foi saqueada por tropas estrangeiras até ser comprada em leilão por Stanley Ho, por um valor equivalente a cerca de 70 milhões patacas. A Administração do Património Cultural Nacional da China (NCHA) reivindicou a peça e, em 2019, Stanley Ho doou-a ao Estado chinês.

O empresário, que morreu em Maio deste ano, disse estar “honrado por ter desempenhado um papel importante” no “resgate de relíquias chinesas do exterior”.

Missão histórica

Nos últimos anos, o NCHA intensificou esforços para localizar relíquias perdidas e, a partir de 2019, recuperou cerca de 140.000 peças do exterior, através de cooperação policial, acções judiciais, negociações e doações.

Construído no início do século XVIII, o Antigo Palácio de Verão (Yuanmingyuan) era um complexo de edifícios e jardins que alternavam arquitectura tradicional chinesa com a arquitectura europeia da época, realizada por Castiglione.

O palácio foi saqueado e destruído por soldados franceses e ingleses, em 1860, no contexto da Segunda Guerra do Ópio, por ordem do vice-rei britânico na Índia, Lord Elgin, que justificou esta decisão com a tortura e execução de alguns membros da uma delegação britânica que se tinham deslocado à China para negociarem com os líderes chineses.

Nas últimas décadas, várias vozes apelaram à reconstrução do palácio, para recuperar o património imperial e impulsionar o turismo, mas as autoridades preferem mantê-lo em ruínas para que continue a ser um símbolo das invasões estrangeiras, sofridas pela China nos séculos XIX e XX.

1 Dez 2020

Shenzhen | AI apela ao respeito pelos direitos de detidos que incluem luso-chinês

[dropcap]A[/dropcap] Amnistia Internacional (AI) apelou ontem a que os direitos dos doze jovens de Hong Kong, incluindo um luso-chinês, detidos na China, sejam respeitados, e lembrou que estes correm “risco iminente de tortura”.

“A situação destes 12 jovens é extremamente preocupante. Nos últimos 100 dias, eles foram submetidos a algumas das tácticas mais comuns do manual da polícia chinesa”, apontou a organização de defesa dos Direitos Humanos.

O grupo, que inclui o estudante universitário Tsz Lun Kok, detentor de passaporte português e chinês, tinha iniciado a viagem com destino a Taiwan, onde se pensa que procuravam asilo, quando a lancha em que seguiam foi interceptada, em 23 de Agosto, pela guarda costeira chinesa.

Os 12, a maioria ligados aos protestos anti-governamentais do ano passado, em Hong Kong, estão detidos há quase dois meses em Shenzhen por “travessia ilegal” das águas continentais. Dois detidos são ainda suspeitos de organizar a passagem ilegal da fronteira.

A Amnistia Internacional lembrou que os jovens “foram privados dos seus direitos básicos a um julgamento justo, incluindo a hipótese de escolher os seus próprios advogados”.

“As suas famílias tiveram repetidamente o acesso negado e pelo menos seis advogados foram ameaçados pelas autoridades chinesas para que desistissem dos casos”, lê-se no comunicado da organização.

A Amnistia Internacional documentou anteriormente vários casos em que indivíduos detidos na China continental, muitos deles defensores dos direitos humanos, foram privados do direito de consultar os advogados que eles ou as suas famílias escolheram.

Em alguns casos, as autoridades nomearam advogados para os detidos sem o consentimento das famílias. Em outros casos, as autoridades ameaçaram advogados para que desistissem dos casos.

“Tudo isto efectivamente equivale a privar os detidos do direito à representação legal. Indivíduos privados de representação legal frequentemente não têm acesso a informações sobre os seus direitos legais, tornando-os mais vulneráveis a procedimentos legais injustos”, apontou a organização.

Segurança nacional

O jovem de nacionalidade portuguesa tinha já sido detido em 18 em Novembro em Hong Kong, e mais tarde libertado, durante o cerco da polícia à Universidade Politécnica daquele território, sendo acusado de motim, por ter participado alegadamente numa manobra para desviar as atenções das forças de segurança com o objectivo de permitir a fuga de estudantes refugiados no interior.

O grupo inclui ainda o activista pró-democracia Andy Li, de 29 anos, anteriormente detido na região ao abrigo da nova lei de segurança nacional, aprovada pelo regime chinês, no final de Junho.

A lei de segurança nacional imposta por Pequim à região semi-autónoma de Hong Kong pune actividades subversivas, secessão, terrorismo e conluio com forças estrangeiras com penas que podem ir até à prisão perpétua, e levou vários activistas pró-democracia a refugiarem-se no Reino Unido e Taiwan.

1 Dez 2020

Ambiente | Caixas de esferovite proibidas a partir de Janeiro

[dropcap]A[/dropcap] importação e trânsito de utensílios de mesa descartáveis de esferovite passa a ser proibida a partir de 1 de Janeiro, altura em que entra em vigor o despacho do Chefe do Executivo que estabelece a restrição, publicado ontem no Boletim Oficial. A proibição inclui caixas para comida, tigelas, copos e pratos.

A Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) anunciou a medida como forma para “promover as medidas de restrições ao uso de plástico e melhorar a qualidade ambiental de Macau”, depois de um período de análise da “situação real de Macau e as experiências de outras regiões”. A medida já havia sido avançada pelo Governo em Julho.

Também em Setembro, a DSPA deixou a ideia de que a proibição era algo que estava a ser estudado, com a data de implementação ponderada para o início de 2021, tal como se vai verificar. Nessa altura, a informação foi revelada após uma reunião com activistas ambientais e a Associação Novo Macau.
Importa realçar que este tipo de materiais não é reciclável em Macau, o que significa que vão parar ao lixo comum.

O relatório ambiental de 2019 indicou que o território registou 550.249 toneladas resíduos sólidos urbanos, o que representou um aumento de 5,3 por cento em relação a 2018.

No ano passado, a quantidade ‘per capita’ diária de resíduos sólidos urbanos descartados foi de 2,24 quilogramas, mais 3,2 por cento do que em 2018, num território com cerca de 650 mil habitantes, e que recebeu, em 2019, cerca de 40 milhões de visitantes.

1 Dez 2020

Covid-19 | Portugueses resgatados de Wuhan regressam à cidade agora “mais segura” do mundo

[dropcap]P[/dropcap]ortugueses resgatados, em Fevereiro passado, de Wuhan, regressaram, entretanto, à cidade chinesa onde foram diagnosticados os primeiros casos da covid-19, e sentem-se agora “no sítio mais seguro do mundo”, após a China ter contido a epidemia.

Volvido quase um ano desde que foram detectados os primeiros casos de uma misteriosa pneumonia, a vida retornou à normalidade em Wuhan, enquanto o Partido Comunista Chinês parece ter reforçado a sua legitimidade, abalada inicialmente pela epidemia.

Situada no centro da China, a cidade, que permaneceu bloqueada durante mais de dois meses, obrigando ao resgate de milhares de estrangeiros, incluindo 20 portugueses, soma já meio ano sem novos casos. “Estamos no sítio mais seguro do mundo”, observa à agência Lusa o treinador de futebol Miguel Moreira, um dos 20 portugueses que, em Fevereiro passado, voou para Portugal, numa operação coordenada pelas autoridades europeias.

Cerca de um mês e meio depois de Moreira ter sido resgatado, o continente europeu tornou-se o epicentro da epidemia, ultrapassando a China no número total de casos.

No total, a Europa soma hoje mais de 17 milhões de casos e quase 390 mil mortes, segundo dados do Centro Europeu para a Prevenção e Controlo da Doença. A China soma 86.495 infetados e 4.634 mortos desde o início da pandemia, de acordo com dados do Governo chinês.

O antigo guarda-redes dos clubes Paços de Ferreira, Varzim e Mafra regressou, entretanto, a Wuhan, para prosseguir o seu trabalho numa academia de futebol da cidade.

A preocupação em Wuhan, cujos cerca de onze milhões de habitantes estiveram durante mais de dois meses confinados em casa e proibidos de sair da cidade, é agora quem chega do exterior, à medida que a China regista sobretudo casos importados.

“As velhinhas afastam os netos quando me veem; o segurança no meu condomínio faz sempre questão de verificar a minha temperatura antes de me deixar entrar”, descreve à Lusa António Rosa, professor de Design e Arte numa escola internacional de Wuhan, que foi também resgatado, mas acabou por voltar, em Maio passado.

A China, onde os primeiros casos da doença foram diagnosticados, no final de 2019, foi alvo de críticas pela gestão das fases iniciais do surto.

O Governo chinês recusou-se inicialmente a compartilhar amostras do vírus e resistiu a uma investigação transparente e independente.

Na primeira quinzena de janeiro, as autoridades de Wuhan reportaram apenas 41 pacientes, e descartaram que a doença fosse transmissível entre seres humanos.

Durante semanas, o número de pacientes manteve-se inalterado. Em 18 de janeiro, as autoridades de Wuhan permitiram ainda um banquete com 40.000 pessoas, com o objetivo de estabelecer um recorde mundial.

No entanto, já no final de dezembro, vários médicos da cidade começaram a alertar para os perigos de uma doença desconhecida. As autoridades agiram de imediato, não para conter o surto, mas punindo os denunciantes: a polícia deteve oito médicos para os “educar” sobre os perigos associados a espalhar rumores.

Várias evidências sugerem que o vírus quase certamente teve origem num animal, provavelmente um morcego, antes de evoluir e contagiar seres humanos. As autoridades chinesas baniram o comércio e consumo alimentar de animais selvagens, após o início do surto.

No entanto, à medida que a doença se alastrou pelo mundo, as autoridades e a imprensa estatal chinesa passaram a sugerir que a doença não teve origem no país.

Uma exposição temática sobre a luta de Wuhan contra o surto, no Centro de Exposições de Cultura da China, um pavilhão com 1.800.000 metros quadrados, no norte da cidade, exalta o papel do Partido Comunista Chinês, em particular do líder Xi Jinping, na luta contra a epidemia, mas não faz qualquer referência à origem da covid-19.

A exposição enaltece antes o apoio prestado pela China a países estrangeiros, incluindo o envio de equipamento médico e funcionários de saúde, e a generosidade dos líderes chineses em partilharem a “solução chinesa” com “organizações e países estrangeiros”.

Zhao Xiaosong, um estudante chinês, de 24 anos, que assiste à exposição, parece convencido.

“Em dois meses conseguimos derrotar a doença. Um feito único a nível mundial”, explica. “O Partido Comunista desempenhou um papel crucial”, diz.

29 Nov 2020

Construção civil | CCCC compra 23% da Mota-Engil por 169,4 milhões de euros

[dropcap]A[/dropcap] chinesa Communications Construction Company (CCCC) adquiriu uma participação de 23 por cento na Mota-Engil por 169,4 milhões de euros, confirmou sexta-feira a construtora portuguesa, em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

A empresa liderada por Gonçalo Moura Martins informou que a accionista Mota Gestão e Participações (MGP) vendeu à CCCC 55 milhões de acções a um preço de 3,08 euros por acção, escreve o Jornal Económico.

“A efectividade do acordo está, porém, dependente da verificação de várias condições precedentes, de índole legal e contratual, entre as quais se incluem a aprovação ou o consentimento por parte de diversas Entidade Públicas e a
confirmação por parte da CMVM de que o acordo e as operações nele previstas não impõem para a CCCC a obrigação de lançamento de uma oferta pública de aquisição”, salvaguardou a Mota-Engil.

O grupo, que ontem informou ter ganho três novos contratos no Peru por 125 milhões de euros, vai convocar “em breve” uma assembleia geral para dar ‘luz verde’ ao conselho de administração para aprovar o aumento de capital, “nos termos e condições a decidir por este órgão no momento oportuno”.

29 Nov 2020

Língua portuguesa faz parte do plano de assistência de Macau a Congjiang para erradicação da pobreza

[dropcap]A[/dropcap] Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) participa, desde 2018, no Plano de Erradicação da Pobreza do Conselho de Estado, centrando a sua acção na comarca de Congjiang, na província de Guizhou, um dos locais da China onde se tem verificado a existência dos níveis mais elevados de pobreza.

Curiosamente, o ensino da língua portuguesa faz parte da ajuda prestada pela RAEM. Trata-se de um projecto organizado pela Direcção de Serviços de Educação e Juventude e passa pelo envio de professores de Macau que, durante três semanas, terão como objectivo despertar o interesse dos alunos de Congjiang pelo Português.

A intervenção será efectuada em Maio de 2021, em quatro graus de ensino, do primário ao pré-universitário. Depois serão seleccionados os 30 melhores alunos, que receberão um convite para se deslocarem a Macau, para participarem num curso de Verão de língua e cultura portuguesa, com a duração de três semanas.

No princípio, foi assim

Claro que o ensino da língua portuguesa não passa de um pequeno aspecto no âmbito da ajuda que a RAEM tem prestado à comarca de Congjiang. Desde Maio de 2018, 27 acordos de assistência foram já assinados e implementados entre Macau e Congjiang, nas áreas da educação, saúde, turismo, indústria, trabalho, formação de quadros, etc.

E, na verdade, a assistência prestada pela RAEM tem dado os seus frutos. Congjiang tem uma área de 3244 quilómetros quadrados e conta com 385.330 habitantes, sendo que 94,8% pertencem às minorias étnicas Miao e Dong. Em finais de 2017, o número de pessoas consideradas pobres ascendia a 72.316, ou seja, 21% da população. Ora, em 2019, a incidência de pobreza em Congjiang havia descido já para 3,6% e para isso muito contribuiu a assistência prestada pela RAEM, em coordenação com o Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau (GL).

Só em 2018, na área educacional, a Fundação Macau proporcionou 30 milhões de yuans para a construção de uma escola primária, que viria a ser concluída em 2019 e que se encontra já em funcionamento. Na mesma área, também a Companhia de Construção Estatal da China doou 5 milhões de yuans para a edificação de uma escola primária, isto para além de outras 10 escolas e centros de saúde que contaram com a ajuda da Cruz Vermelha de Macau.

Na área do emprego, foram recrutados 429 trabalhadores para exercerem a sua profissão na RAEM, cada um pertencente a um agregado familiar diferente, no sentido de proporcionar a cada família uma melhoria substancial do seu rendimento. Também o GL financiou a ajuda a 3000 estudantes de famílias carenciadas, por três anos consecutivos, num total de 1,5 milhão de yuans por ano; e a Fundação Macau criou um programa de bolsas de estudo, no valor de 100 mil patacas/ano cada, que permitiu a deslocação e permanência em Macau de estudantes do ensino superior originários de Congjiang.

Na área económica, o Instituto de Promoção e Investimento de Macau (IPIM) convidou diversas empresas de Congjiang para participarem em feiras internacionais, tendo resultado na assinatura de 35 contratos.

Na área do turismo, a China Travel Service e a China International Travel Service, sediadas em Macau, promoveram a deslocação a Congjiang de mais de cinco mil visitantes e foi também promovido o primeiro Festival de Arte de Luz e Sombras Macau-Congjiang, que atraiu mais de 30 mil pessoas.

O ano das infra-estruturas

2019 foi um ano em que a assistência se centrou em infra-estruturas, de modo a melhorar a qualidade de vida dos cidadãos de Congjiang. Sob a liderança do GL, foi custeada e implementada a colocação de 560 lâmpadas, no valor de 1,7 milhão de yuans, alimentadas a energia solar, em cinco das mais pobres aldeias da comarca.

Além disso, o GL conseguiu obter da sociedade de Macau 6,64 milhões de yuans para a renovação de casas velhas em más condições, tendo recuperado um total de 715 habitações, em 10 aldeias de minorias étnicas. Também os casinos da RAEM contribuíram com cerca de dois milhões de yuans, aplicados na ajuda a camponeses, nomeadamente na renovação de estruturas como pátios, estradas e iluminação pública.

Por seu lado, a Fundação Macau proporcionou consultas médicas e operações a 193 pessoas com cataratas e forneceu 450 aparelhos de audição a gente necessitada, além de doar sete ambulâncias. Já a DSEJ criou um programa de treino para mais de 300 professores do ensino pré-primário, o que implicou a deslocação a Congjiang de especialista e, posteriormente, convidou 40 professores a deslocarem-se a Macau para a frequência de cursos especializados.

Também o Instituto Cultural da RAEM não quis ficar de fora destas iniciativas e convidou Congjiang para participar na Parada Internacional de Macau e no Festival de Artes de Macau o que, juntamente com a realização de um vídeo promocional em cantonês, feita pelos Serviços de Turismo, proporcionou um melhor conhecimento de Congjiang por parte da população de Macau.

Apesar da pandemia

Já neste ano, a ajuda a Congjiang foi reforçada pela realização de uma vídeo-conferência que juntou elementos do Gabinete de Ligação, do governo de Macau e do governo da província de Guizhou, no fim da qual foram assinados mais nove acordos de assistência.

Assim, foi acordada uma recolha de fundos na RAEM para o estabelecimento de 320 postos de assistência social para famílias necessitadas e sem rendimento estável. O projecto, lançado em Junho deste ano, já recolheu, entre Junho e Setembro a soma de 512 mil yuans.

Por outro lado, Macau comprou produtos agrícolas a Congjiang, como cogumelos secos, piri-piri e óleos, no valor de 2,5 milhões de yuans, beneficiando 2830 unidades familiares. O grupo Galaxy doou 1 milhão de yuans para a implementação de estações de tratamento sanitário em 21 aldeias, o que foi já realizado.

Mais escolas têm igualmente sido construídas com fundos de Macau, bem como mais ajuda na área da saúde tem sido implementada, nomeadamente com a doação de 200 aparelhos auditivos e 100 cadeiras-de-rodas eléctricas. Além disso, só em Agosto, foram instalados, em casas familiares, mais de 1000 esquentadores eléctricos.

Recentemente, o IPIM convidou oito empresas de Congjiang a participarem na Feira Internacional de Macau, onde assinaram vários acordos de exportação dos seus produtos.

No total, desde 2018, a RAEM já disponibilizou, em dinheiro e materiais, cerca de 120 milhões de yuans, como forma de contribuir para a erradicação da pobreza em Congjiang, além de contribuir com assistência cultural e intelectual para a elevação das condições de vida na comarca.

Guizhou, a província mais pobre da China

A província de Guizhou tem sido um dos principais cenários da batalha do Governo Central para a erradicação da pobreza, tendo merecido a especial atenção do presidente Xi Jinping, que a referiu em numerosas ocasiões. Desde 2012, data da realização do 18º Congresso do Partido Comunista Chinês em que foi estabelecida como meta, o plano de erradicação da pobreza em Guizhou fez com que o número de 9,23 milhões de pobres tenha decrescido para cerca de 300 mil em 2019, ou seja, de 26,8% da população total da província para 0,85%.

Em Guizhou, uma província montanhosa com acessos difíceis, habitada sobretudo por minorias étnicas, existiam 66 comarcas consideradas pobres. Em 2019, apenas 9 eram ainda classificadas como tal. Uma das estratégias passou pela construção de estradas que ligam comunidades rurais, dantes isoladas, numa geografia montanhosa que dificultava os acessos e a comunicação entre as diversas comunidades. No total foram construídos 77 mil quilómetros de estradas.

Com o mesmo objectivo, foi também implementado um projecto de recolocação de cerca de 1,8 milhão de pessoas, a maior de toda a China, além de ter sido promovida a modernização agrícola e desenvolvidos novos métodos de trabalho, o que levou a um enorme crescimento da produção.

Este ano, apesar da pandemia e de graves inundações, o plano continuou a as nove comarcas referidas conseguiram também ultrapassar, este Novembro, o nível de pobreza. Resta agora, segundo as autoridades, prosseguir na investigação de eventuais deficiências na execução dos planos, consolidar a produção de alta qualidade e assim eliminar desta província o estado de pobreza que há milhares de anos afligia a sua população.

29 Nov 2020

LAG 2021 | Governo continua a preparar o concurso público para novas licenças de jogo

[dropcap]O[/dropcap] secretário para a Economia e Finanças de Macau disse hoje que o Governo vai continuar no próximo ano os trabalhos legislativos para a renovação das concessões dos casinos, que chegam ao fim em 2022, apesar da pandemia.

O secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, que está hoje na Assembleia Legislativa para apresentar e discutir as Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2021 nas áreas sob a sua tutela, disse que o Executivo irá prosseguir com “os trabalhos da abertura do concurso para a atribuição das novas concessões para a atribuição dos jogos de fortuna e azar”.

O Governo deveria apresentar no próximo ano o caderno de encargos para as concessionárias se prepararem para o concurso público agendado para 2022, data em que chegam ao fim as actuais concessões.

Mas em 12 de novembro, dias antes de o executivo apresentar as LAG, analistas do jogo defenderam à Lusa o adiamento do concurso público para as novas licenças do jogo em Macau, devido ao impacto da pandemia da covid-19, que afetou gravemente a economia da capital mundial dos casinos, com as operadoras de jogo no território a apresentarem centenas de milhões de euros em prejuízos no terceiro trimestre do ano.

Nos primeiros 10 meses do ano, as perdas dos casinos foram de 81,4%, em relação a igual período do ano anterior, por causa da situação sanitária, que levou a fortes restrições nas fronteiras. Só no final de setembro foi retomada a emissão de vistos em toda a China continental para Macau.

No documento de apresentação das LAG, o Governo escreveu que, “em virtude do decurso do prazo dos contratos de concessão para a exploração de jogos de fortuna ou azar em casino, em junho de 2022, proceder-se-á continuamente aos trabalhos visando a abertura do concurso para a atribuição de novas concessões para a exploração de jogos de fortuna ou azar em casino”.

O executivo precisou ainda que vai incentivar “as concessionárias e subconcessionárias de jogos de fortuna ou azar” ao “alargamento das atividades correlativas não-jogo”.

O secretário para a Economia e Finanças recordou hoje o impacto da pandemia de covid-19 no território, afirmando que “os objetivos globais na área da Economia e Finanças são a estabilização da economia [e] a manutenção do emprego”, além da “prevenção e controlo da pandemia e a retoma das atividades económicas”.

Para esse fim, o governante disse que o Executivo quer diversificar a economia, fortemente dependente do turismo e dos casinos, apostando nomeadamente na indústria farmacêutica, na área da medicina tradicional chinesa.

“Uma única indústria faz surgir uma única fonte de emprego. Por essa razão, necessitamos de promover com urgência a diversificação da economia para ultrapassar, de forma gradual, o problema da predominância de uma única indústria no nosso PIB [Produto Interno Bruto]”, apontou, recordando que 75% das receitas do território vêm da indústria do jogo.

Lei Wai Nong anunciou igualmente o reforço do investimento público na economia, com 18,5 mil milhões de patacas destinados às obras públicas, no próximo ano.

27 Nov 2020

CCM | “Constelações”, de Wang Chong, sobe ao palco em Janeiro 

[dropcap]O[/dropcap] Centro Cultural de Macau (CCM) recebe, entre os dias 29 e 30 de Janeiro, o espectáculo “Constelações”, uma produção do Théatre du Rêve Experimental de Pequim e encenação de Wang Chong. Esta é uma dramatização romântica avant-garde e inspira-se no trabalho do dramaturgo Nick Payne, que estreou em Londres em 2012. Esta peça subiu a muitos palcos mundiais, do West End à Broadway, tendo a versão norte-americana estreado como protagonista o consagrado actor de Hollywood, Jake Gyllenhaal.

“Constelações” conta uma história que gira em torno da relação entre uma cosmologista, um apicultor e a multiplicidade de escolhas que estes fazem em diversas dimensões, com diferentes desfechos. O espectáculo mistura uma “linguagem cinemática num enquadramento dramático para ilustrar a imensidão do universo e a dimensão da solidão humana”. Wang Chong “utiliza mais de dez câmaras na sua produção, construindo uma perspectiva dualista na representação da ideia de universos paralelos”.

A seguir aos espectáculos o CCM apresentará duas tertúlias que contam com a presença de Wang Chong, que “vai partilhar com o público algumas das suas concepções teatrais”. A peça será em mandarim, mas com legendas em chinês e inglês. Os bilhetes estão à venda a partir deste domingo, dia 29.

26 Nov 2020

Cinema | Festival Internacional de Curtas-Metragens começa na próxima terça-feira 

Começa na próxima terça-feira, dia 1 de Dezembro, mais uma edição do Festival Internacional de Curtas-Metragens de Macau. Até ao dia 8, o público poderá ver cinema europeu e asiático de vários géneros, que vão desde a animação ao documentário, além do cinema feito em Macau. Este sábado, o festival chega à cidade do Porto, em Portugal, por iniciativa da OPPIA – oPorto Picture Academy

 

[dropcap]A[/dropcap] edição deste ano do Festival Internacional de Curtas-Metragens de Macau, promovido pela Creative Macau e Instituto de Estudos Europeus de Macau, começa na próxima terça-feira, dia 1 de Dezembro, no Teatro D. Pedro V. Nesse dia, às 17h30, actua, no palco do teatro, a banda local Blademark, seguindo-se uma exibição de duas curtas-metragens: “Amore, Non é Como Pensi”, de Sergiy Pudich e “Summertime”, de Andra tévy.

No dia 2 de Dezembro é a vez de dar destaque ao cinema iraniano, com a secção “Expanded Cinema: Modern Cinema – Iranian Short Films”, que começa às 14h.

A primeira película a ser exibida é “Ant’s Apartment”, de Tofiq Amani, filmado em 2014 nos desertos do Iraque. Trata-se da história de uma família de três membros que moram num apartamento de formigas nos desertos do Iraque no período do pós-guerra. Tofiq Amani nasceu no Curdistão em 1981 e estudou cinema na Sociedade de Cinema Jovem Iraniano, em 2004. Em 2006, realizou o seu primeiro filme, “Goli Paraw”. Nessa tarde, o Festival Internacional de Curtas-metragens de Macau exibe ainda os filmes “You’re Still Here”, “The Silence”, “Wine”, “Slaugtherhouse” e “The Last Sin”. A secção destinada ao cinema iraniano acontece também nos restantes dias do festival.

A partir das 16h serão exibidos uma série de documentários, incluindo o português “Aegean”, de Tomás Barão da Cunha. Filmado o ano passado, este documentário aborda a crise dos refugiados na costa do mar Egeu. Seguem-se os documentários “Letters from Prison”, “Who Killed Chiquito Chaves?”, “Mud Road” e “Someone Else – The Story of Titus Gandy”.

O programa do dia 2 de Dezembro completa-se ainda com a exibição de curtas-metragens de animação, a partir das 17h30, onde se inclui a curta de Taiwan “Uma Aventura no Comboio”, do realizador Hsiao-Shan Huang.

UM em destaque

O cartaz do dia 3 de Dezembro destaca a produção cinematográfica local. A partir das 16h serão exibidas várias curtas-metragens inseridas na secção “Expanded Cinema: Film School – University of Macau”, com títulos como “A Decision”, “Anti-Vírus Diary” ou “Coffee in a Pop Bottle”, entre outros.

No dia 6 de Dezembro chegam mais documentários, com destaque para “Majestosa Macau”, do realizador local Jacky Cheong. O documentário, realizado este ano, foi filmado para celebrar os 20 anos da criação da RAEM e o aniversário da transferência de soberania do território.

O último dia do festival, marcado para 8 de Dezembro, destina-se à exibição dos filmes vencedores desta edição e à realização da gala de atribuição dos prémios. Destaque ainda para o concerto de Hoi Lei Lei, às 17h30 no Teatro D. Pedro V.

Antes do arranque do evento em Macau, a cidade do Porto, em Portugal, recebe este sábado uma extensão do festival em colaboração com a OPPIA – oPorto Picture Academy.

Serão exibidos os filmes “Skin”, de Guy Nattiv; “Dante vs. Mohammed Ali”, de Marc Wagenaar; bem como o documentário “Histórias de Lobos”, de Agnes Meng, que estará presente no evento. Será também exibida uma curta-metragem de animação de Macau, intitulada “The Lighthouse”, da autoria de Jay Pui Weng Lei. A projecção dos filmes no Porto termina com “Hold On”, de Bart Schrijver, da Holanda.

Segundo uma nota divulgada pela OPPIA, trata-se de uma “selecção muito exclusiva de filmes premiados neste prestigiado festival internacional”. Esta não é a primeira vez que a OPPIA trabalha em parceria com a organização do festival, pois o ano passado estreou os filmes do VIII Douro Film Festival em cine-concerto na abertura da 11ª edição do festival, no Teatro D. Pedro V. Além disso, o director da OPPIA – Douro Film Festival, Cristiano Pereira, já fez parte do júri em duas edições do festival de Macau.

26 Nov 2020

Cinema | Festival Internacional de Curtas-Metragens começa na próxima terça-feira 

Começa na próxima terça-feira, dia 1 de Dezembro, mais uma edição do Festival Internacional de Curtas-Metragens de Macau. Até ao dia 8, o público poderá ver cinema europeu e asiático de vários géneros, que vão desde a animação ao documentário, além do cinema feito em Macau. Este sábado, o festival chega à cidade do Porto, em Portugal, por iniciativa da OPPIA – oPorto Picture Academy

 

[dropcap]A[/dropcap] edição deste ano do Festival Internacional de Curtas-Metragens de Macau, promovido pela Creative Macau e Instituto de Estudos Europeus de Macau, começa na próxima terça-feira, dia 1 de Dezembro, no Teatro D. Pedro V. Nesse dia, às 17h30, actua, no palco do teatro, a banda local Blademark, seguindo-se uma exibição de duas curtas-metragens: “Amore, Non é Como Pensi”, de Sergiy Pudich e “Summertime”, de Andra tévy.

No dia 2 de Dezembro é a vez de dar destaque ao cinema iraniano, com a secção “Expanded Cinema: Modern Cinema – Iranian Short Films”, que começa às 14h.

A primeira película a ser exibida é “Ant’s Apartment”, de Tofiq Amani, filmado em 2014 nos desertos do Iraque. Trata-se da história de uma família de três membros que moram num apartamento de formigas nos desertos do Iraque no período do pós-guerra. Tofiq Amani nasceu no Curdistão em 1981 e estudou cinema na Sociedade de Cinema Jovem Iraniano, em 2004. Em 2006, realizou o seu primeiro filme, “Goli Paraw”. Nessa tarde, o Festival Internacional de Curtas-metragens de Macau exibe ainda os filmes “You’re Still Here”, “The Silence”, “Wine”, “Slaugtherhouse” e “The Last Sin”. A secção destinada ao cinema iraniano acontece também nos restantes dias do festival.

A partir das 16h serão exibidos uma série de documentários, incluindo o português “Aegean”, de Tomás Barão da Cunha. Filmado o ano passado, este documentário aborda a crise dos refugiados na costa do mar Egeu. Seguem-se os documentários “Letters from Prison”, “Who Killed Chiquito Chaves?”, “Mud Road” e “Someone Else – The Story of Titus Gandy”.

O programa do dia 2 de Dezembro completa-se ainda com a exibição de curtas-metragens de animação, a partir das 17h30, onde se inclui a curta de Taiwan “Uma Aventura no Comboio”, do realizador Hsiao-Shan Huang.

UM em destaque

O cartaz do dia 3 de Dezembro destaca a produção cinematográfica local. A partir das 16h serão exibidas várias curtas-metragens inseridas na secção “Expanded Cinema: Film School – University of Macau”, com títulos como “A Decision”, “Anti-Vírus Diary” ou “Coffee in a Pop Bottle”, entre outros.

No dia 6 de Dezembro chegam mais documentários, com destaque para “Majestosa Macau”, do realizador local Jacky Cheong. O documentário, realizado este ano, foi filmado para celebrar os 20 anos da criação da RAEM e o aniversário da transferência de soberania do território.

O último dia do festival, marcado para 8 de Dezembro, destina-se à exibição dos filmes vencedores desta edição e à realização da gala de atribuição dos prémios. Destaque ainda para o concerto de Hoi Lei Lei, às 17h30 no Teatro D. Pedro V.

Antes do arranque do evento em Macau, a cidade do Porto, em Portugal, recebe este sábado uma extensão do festival em colaboração com a OPPIA – oPorto Picture Academy.

Serão exibidos os filmes “Skin”, de Guy Nattiv; “Dante vs. Mohammed Ali”, de Marc Wagenaar; bem como o documentário “Histórias de Lobos”, de Agnes Meng, que estará presente no evento. Será também exibida uma curta-metragem de animação de Macau, intitulada “The Lighthouse”, da autoria de Jay Pui Weng Lei. A projecção dos filmes no Porto termina com “Hold On”, de Bart Schrijver, da Holanda.

Segundo uma nota divulgada pela OPPIA, trata-se de uma “selecção muito exclusiva de filmes premiados neste prestigiado festival internacional”. Esta não é a primeira vez que a OPPIA trabalha em parceria com a organização do festival, pois o ano passado estreou os filmes do VIII Douro Film Festival em cine-concerto na abertura da 11ª edição do festival, no Teatro D. Pedro V. Além disso, o director da OPPIA – Douro Film Festival, Cristiano Pereira, já fez parte do júri em duas edições do festival de Macau.

26 Nov 2020

Casinos | Fitch prevê quebras entre 50 e 60% no início de 2021

No 1.º semestre de 2021, a Fitch prevê quebras entre 50 e 60 por cento nas receitas brutas de jogo dos casinos de Macau e aponta que as melhorias vão continuar no semestre seguinte com a eventual chegada de uma vacina contra a covid-19 e o possível relaxamento as medidas nas fronteiras entre Macau e Hong Kong

 

[dropcap]A[/dropcap] agência de notação financeira Fitch indicou ontem esperar quebras entre 50 e 60 por cento nas receitas do jogo de Macau, durante os meses do primeiro semestre de 2021, relativamente a igual período de 2019.

“Prevemos quebras mensais de 50 a 60 por cento nas receitas, em relação a 2019, ao longo da primeira metade de 2021”, devido às dificuldades de emissão de vistos individuais na China, de acordo com um comunicado citado pela agência Lusa.

Para a Fitch, os procedimentos de pedido e de emissão de vistos individuais e de grupo, suspensos pelas autoridades chinesas no início da pandemia, variam consoante a província chinesa, o que dificulta a entrada dos visitantes em Macau.

Ainda assim, o tom do cenário traçado pela Fitch, segundo o portal GGR Asia, é animador para o caso de Macau.

“Os mercados de jogo mais dependentes dos visitantes locais vão continuar a recuperar a um ritmo rápido”, pode ler-se no comunicado.

Olhando mais para a frente, segundo o GGR Asia, a Fitch acrescentou prever também um crescimento no segundo semestre de 2021 em relação ao primeiro, “liderado pelo segmento de massas ‘premium'”, depois de uma eventual redução das restrições nas viagens de e para Hong Kong e da possibilidade da comercialização de uma vacina contra a covid-19.

A agência de notação financeira aponta ainda que, apesar de as concessões de jogo em Macau terminarem em 2022, o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, pode optar por “extensões anuais”, sublinhando continuar a acreditar que o concurso público de renovação das seis concessões e subconcessões “será pragmático”.

Sinais visíveis

Recorde-se que o “empurrão” dado pela retoma na emissão de vistos turísticos individuais e de grupo, para vir a Macau, desde o Interior da China a partir do dia 23 de Setembro, parece ter começado a nutrir resultados palpáveis aquando da apresentação dos resultados do mês de Outubro.

De acordo com a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), apesar de terem caído 81,4 por cento em termos anuais, as receitas brutas de jogo do mês de Outubro totalizaram o segundo melhor registo de 2020, ficando apenas atrás de Janeiro.

Detalhando, em Outubro de 2020, as receitas brutas dos casinos de Macau registaram uma subida em termos mensais de 7,27 mil milhões de patacas, materializando uma subida de 5,05 mil milhões de patacas (mais 228 por cento) em relação a Setembro, altura em que as receitas foram de 2,21 mil milhões de patacas.

As previsões do Governo de Macau indicaram um orçamento deficitário para 2021 e, devido ao impacto da pandemia, as receitas de jogo deverão ficar pelos 130 mil milhões de patacas. Em 2019, os casinos registaram, em 2019, receitas de 292,4 mil milhões de patacas.

26 Nov 2020

Óbito | O mundo despede-se de Maradona, o maior futebolista de todos os tempos

Diego Armando Maradona morreu na quarta-feira. A estrela da selecção argentina faleceu em casa no seguimento de um ataque cardíaco, depois de ter sido hospitalizado no início do mês. O mundo inteiro reagiu com pesar e o Governo argentino decretou três dias de luto oficial. Aos 60 anos, desaparece uma lenda que ficará para sempre na história do futebol mundial

 

[dropcap]O[/dropcap] dia de ontem começou com a notícia da morte de Maradona, o mago do futebol que atingiu a eternidade ainda em vida, multiplicando pelo mundo inteiro mensagens de profundo pesar.
Diego Armando Maradona morreu esta quarta-feira, na sua casa, avança o jornal argentino Clarín. A confirmação da morte foi também dada pelo seu agente e amigo Marias Morla à agência espanhola EFE.

Ao longo do dia de ontem, milhares de adeptos emocionados acorreram ao palácio presidencial, a Casa Rosada, para se despedirem de el pibe de oro, o menino de ouro, numa cerimónia transmitida para todo o mundo.

Quem andou por Buenos Aires ontem à tarde pensou que a Argentina tivesse voltado à primeira fase do confinamento como forma de combater o coronavírus. De repente, o país ficou num silêncio espesso como se o tempo tivesse parado. Uma dor como se todos os argentinos tivessem perdido um parente próximo em comum. Nas portas dos clubes por onde Maradona passou como jogador ou como técnico, o silêncio era recortado por alguma oração e pelo pranto contido que se transformava em lágrimas quando se tentava explicar o que se sentia.

“Primeiro pensei que fosse uma mentira quando recebi uma mensagem com a notícia. Depois, pensei que, se fosse verdade, ele poderia sair como numa finta, como sempre fez com os adversários. Desta vez, ele não conseguiu fintar. Estou destruída”, diz à Lusa, entre lágrimas, Patricia Ortiz (46) na porta do Boca Jrs, clube do qual Maradona era adepto e que foi o trampolim para a sua carreira internacional. Patricia leva um ramo de flores e um rosário. “Vamos sentir saudades. Será a nossa lenda”, afirma.

À porta do Boca Jrs, os fãs foram chegando aos poucos. Os carros passavam como numa procissão improvisada. De quando em quando, o silêncio era interrompido por um aplauso.

“Ele foi lendário por onde passou aqui na Argentina e no mundo, mas, com o Boca, teve uma relação especial, de amor. Aqui ele era o Diego do povo”, acrescenta Diego Moreno (30) cujo nome foi uma homenagem do pai ao jogador.

“É verdade. Ele não jogava pelo dinheiro. Era por amor ao futebol. Foi o maior e o mais humilde de todos. Um dos poucos que jogava pelo que sentia”, destaca Delia (62), que enaltece as conquistas de Maradona, apesar da carreira reduzida pelas drogas.

O antigo capitão da selecção argentina, que actualmente era treinador do Gimnasia de la Plata, foi hospitalizado no dia 2 de Novembro devido a anemia e desidratação, apresentando igualmente estado depressivo. Os exames a que foi submetido revelaram a presença de um hematoma subdural.

Depois de sair do hospital, foi noticiado que Maradona terá dado entrada numa clínica de reabilitação para tratamento à dependência ao álcool.

A par do brasileiro Pelé, que completou 80 anos em Outubro, Maradona é considerado um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos com uma carreira marcante com passagens pela selecção argentina, com a qual conquistou o Campeonato do Mundo, e no Nápoles onde levou a equipa italiana aos melhores resultados da sua história, incluindo a conquista de duas ligas italianas, as únicas do palmarés do clube, e uma Taça UEFA.

Enquanto treinador, o argentino teve o ponto alto da carreira quando orientou a selecção do país durante dois anos, tendo alcançado os quartos de final do Mundial2010, na África do Sul, competição em que foi derrotado pela Alemanha (4-0).

Foi pelo seu papel em levar ao Nápoles à glória em Itália que o astro argentino foi homenageado na cidade italiana em 2017, recebendo o título de cidadania honorária.

Mais alta é a queda

A vida de Diego Maradona foi marcada por muitos problemas de saúde decorrentes da sua vida de excessos.
Em 2000, teve um ataque cardíaco, após uma overdose de drogas, durante umas férias em Punta del Este, no Uruguai, a que se seguiu um longo processo de cura em Cuba. Em 2004, numa altura em que pesava mais de 100 quilos, sofreu outro enfarte em Buenos Aires, e chegou a ser submetido a uma cirurgia de estômago para perder peso.

A vida desportiva daquele a quem “os argentinos tudo perdoam”, nascido a 30 de Outubro de 1960 num bairro pobre dos subúrbios de Buenos Aires chamado Villa Fiorito, iniciou-se aos nove anos, no Cebollitas, e prosseguiu aos 15 no Argentino Juniores.

Quatro anos passados, e já como campeão mundial sub-21, Maradona juntou-se ao Boca Juniores, clube com o qual conquistou o seu primeiro título de campeão, em 1981.

Um ano depois, e após participação na primeira de quatro fases finais de um Mundial (Espanha82), o jogador transferiu-se para o FC Barcelona, clube onde apenas venceu uma Taça do Rei, frente ao eterno rival, o Real Madrid. Espanha marcou também a lesão mais grave na carreira do argentino. Fractura do tornozelo esquerdo, provocada pelo defesa Andoni Goikoetxea, do Atlético de Bilbau. Corria o ano de 1983. A lesão afastou-o dos relvados durante mais de três meses.

Esta primeira etapa espanhola ficou também assinalada por uma hepatite, logo no ano da chegada à Catalunha, doença que o impediu de jogar por três meses. Se a isso se juntar a expulsão no Brasil-Argentina no Mundial82, a passagem pelos estádios espanhóis ficou aquém daquilo que se esperava da estrela argentina.

Vida napolitana

A “maldição espanhola” levou o Nápoles a contratar Maradona em 1984. A opção italiana veio a revelar-se um misto de “céu e inferno” para o jogador.

Em Itália, levou o Nápoles, pela única vez na sua história, a sagrar-se por duas vezes campeão: 1987 e 1990. Ganhou ainda uma Taça UEFA (1989), uma Taça de Itália (1987) e uma Supertaça italiana (1991).
Inspirado pelos ares de Itália, Maradona carregou a selecção argentina até ao segundo título mundial (depois do Argentina78), ao vencer a Alemanha na final do México86, por 3-2. Nesse torneio ficou célebre o episódio da “mão de Deus”, lance assim definido pelo próprio, para justificar o golo marcado com a mão frente à Inglaterra nos quartos de final, jogo ganho pelos sul-americanos, por 2-1.

Numa entrevista ao jornal Daily Mail, o antigo guarda-redes inglês, Peter Shilton, afirmou que o astro argentino foi “o maior jogador contra o qual alguma vez jogou”, mas reforçou: “O que não gosto é que ele nunca tenha pedido desculpa”. “Em nenhum momento admitiu ter feito batota, ou que gostaria de pedir desculpa (…) Em vez disso, usou a sua expressão ‘mão de Deus’. Não foi justo”, afirmou. “Parece que tinha grandeza, mas infelizmente não tinha desportivismo”, observou. Shilton, de 71 anos, admitiu que a sua vida “está há muito ligada à de Diego Maradona”, mas não da maneira de que teria gostado. O antigo guarda-redes inglês lamentou a morte de Maradona e enviou as condolências à família.

Do relvado às clínicas

Quatro anos depois do México96, de novo liderada por Maradona, a Argentina repetiu a final do Mundial (Itália90), afastando os anfitriões nas meias-finais (1-1, 4-3 nas grandes penalidades). Mas os alemães desforraram-se e venceram o torneio (1-0 na final).

Apesar da fase italiana ser a mais vitoriosa na sua carreira, foi também, para muitos, o período em se deixou enredar pelo consumo de droga (cocaína). Foi expulso do Nápoles, em 1991.

A saída de Itália levou-o de novo a Espanha, para uma época sem história no Sevilha (1992/93). Daí rumou à Argentina para jogar pelo Newell’s Old Boys (1993/94), regressando ao Boca Juniores (1995/97), onde terminou a carreira, com 37 anos.

Pelo meio, ficou uma passagem efémera pelo Mundial EUA94, onde Maradona teve um controlo antidoping positivo (efedrina). Isso valeu-lhe a expulsão da prova e posterior castigo de um ano, aplicado pela FIFA.

Ao longo da vida submeteu-se a vários tratamentos de desintoxicação de droga, o mais famoso dos quais, em 2000, quando passou uma temporada em Cuba, onde surgiu publicamente ao lado de Fidel Castro.
Maradona regressou aos palcos mediáticos ao assumir o comando técnico da selecção argentina (manteve uma permanente tensão com a imprensa), levando a equipa até aos quartos de final no Mundial2010, na África do Sul, eliminada pela Alemanha (4-0).

Após este desaire, e apesar do apoio dos adeptos argentinos, Dieguito, El Pibe de Oro, El Diez ou Pelusa – nomes pelos quais é carinhosamente tratado na Argentina – abandonou a selecção das Pampas.
A federação argentina chegou a propor a retirada da camisola 10 do equipamento oficial, em homenagem a Diego Armando Maradona.

País em lágrimas

“Por ocasião da morte de Diego Armando Maradona, o Presidente decreta três dias de luto nacional a partir desta data”, disse a Presidência da Argentina, num breve comunicado.

Alguns minutos depois, o chefe de Estado argentino usou a sua conta na rede social Twitter para expressar gratidão pelos momentos de “felicidade” que o jogador deu ao povo do seu país. “Levaste-nos ao ponto mais alto do mundo. Fizeste-nos imensamente felizes. Foste o maior de todos. Obrigado por teres existido, Diego. Vamos sentir a tua falta, por toda a vida”, escreveu Alberto Fernández, que também divulgou uma foto na qual aparece a abraçar Maradona.

Em declarações à rádio, o chefe de Estado recordou mais tarde que em Fevereiro passado se encontrou com Maradona, com quem falou, “durante muito tempo”, sobre futebol. “Sempre resgatei o melhor dele, o genuíno, o original. O que ele não gostava, dizia; e o que gostava, também dizia”, recordou Fernández.

O Presidente disse que guarda memórias “indeléveis” do antigo jogador de futebol, à época em que representava a equipa de Argentinos Juniors, clube do qual o Presidente argentino é adepto.
“Sentimos que éramos os mais fortes do mundo com Diego. É uma perda horrível”, acrescentou Fernández.

Por sua vez, a ex-Presidente e actual vice-Presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, expressou a sua tristeza pelo falecimento do ex-jogador argentino. “Muita tristeza … Muita. Um grande deixou-nos. Adeus, Diego. Amamos-te muito. Um grande abraço aos seus familiares e entes queridos”, escreveu a ex-Presidente na sua conta de Twitter.

26 Nov 2020

Hong Kong | Carrie Lam anuncia medidas acordadas com Pequim para resgatar a economia

[dropcap]H[/dropcap]ong Kong anunciou ontem um pacote de estímulos, acordado com Pequim, para resgatar a região semi-autónoma, cuja economia vai sofrer uma contracção de 6,1 por cento, em 2020, devido aos “distúrbios civis, pandemia e situação política internacional”.

Num longo discurso proferido perante o Conselho Legislativo, a chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, assegurou que a antiga colónia britânica recebeu “golpes sem precedentes”, nos últimos anos, que “minaram gravemente a estabilidade social”.

Lam destacou o impacto económico da pandemia da covid-19, a “agitação social proveniente da oposição” e “actos que ameaçam a segurança nacional devido à interferência de forças externas”.

“Devem ser encontrados meios para tirar Hong Kong do impasse e restaurar a confiança pública”, apontou.
Lam defendeu as suas últimas visitas a Pequim, onde concordou em promover a integração no projeto Área da Grande Baía, que inclui Macau e várias cidades da província de Guangdong, e que visa transformar o sudeste da China numa mega metrópole de referência internacional no sector financeiro e tecnológico.

A líder do governo da antiga colónia britânica anunciou também um plano para ligar as bolsas de valores da China e de Hong Kong, o que permitirá que mais empresas da China continental beneficiem da ligação de Hong Kong ao mundo enquanto praça financeira.

“Hong Kong tem de aproveitar as oportunidades que a China lhe oferece”, acrescentou.
Lam anunciou ainda que o seu Executivo vai apresentar um projecto de lei para “alterar os decretos sobre a tomada de posse de funcionários públicos”, bem como uma campanha educacional para “melhorar a compreensão sobre o Estado de Direito”.

26 Nov 2020