Andreia Sofia Silva EntrevistaRem Urasin, pianista: “Tocar é sempre uma responsabilidade” Natural da república russa do Tartaristão, Rem Urasin está desde 2022 em Portugal devido à guerra na Ucrânia. A saída do país obrigou-o a refazer a vida e a carreira. Conhecido internacionalmente como intérprete de Chopin, o pianista russo actuou no dia 9 de Maio no Centro Cultural de Belém, onde falou com o HM sobre a ligação especial à obra de Chopin Que espectáculo podemos esperar esta noite? Essa é uma questão interessante. Música de Chopin. Sim, claro. Mas refiro-me ao ambiente do espectáculo, se traz algo de novo ao público que espera ouvi-lo tocar Chopin. Já ouvi muitas vezes a pergunta sobre o tipo de mensagem que vou transmitir ao público. Mas quando começamos a falar de música e do seu significado, ou da mensagem que transmite, todas as palavras, por norma, falham. Isto porque a música pode expressar muito mais. É essa a sua questão da central. Quando não existe nada que seja suficiente para expressar algo, a música ajuda. Todas as mensagens que trago para este concerto podem ser ouvidas esta noite. Para si, a música é e tem de ser suficiente. Totalmente, porque é um tipo de arte muito particular. É muito abstracta às vezes, por isso podemos expressar, ao mesmo tempo, muitas coisas. Não gosto muito de falar antes dos concertos sobre a música e sobre o que expressa, ou sobre o que o público tem de esperar. Não ajuda e leva-nos a uma percepção errada. Para mim, é como estar fora do ritmo. As palavras são muito precisas, e a música é muito mais do que isso. Mas adoro quando alguns concertos têm um narrador. Costumava tocar em muitos concertos neste formato, mas aí era uma narração especial, com base em documentos, cartas, algumas memórias de contemporâneos. Era algo diferente, porque nesse caso ajudava-nos a sentir a época e a atmosfera desse tempo. Permitia-nos ver através do olhar desses contemporâneos. Como se sente por estar a tocar em Lisboa, numa sala de espectáculos como a do Centro Cultural de Belém? Estou muito entusiasmado, porque é a primeira vez que toco em Lisboa e é muito importante para mim. Não é como a primeira vez que toquei em muitas cidades onde nunca estive antes. Portugal tornou-se quase a minha segunda casa, porque tivemos de deixar a Rússia há cerca de dois anos, quando começou a guerra na Ucrânia, e foi uma experiência muito estranha para mim porque nunca tinha estado em Portugal. Vim para viver. Claro que não foi bom para a minha carreira em termos de concertos, porque é tudo novo para mim. Senti-me estranho, como se estivesse numa segunda fase da quarentena [da pandemia], quando todos os artistas estavam fechados em casa. Mas de certa forma gostei desse período, porque me deu a possibilidade de tocar piano e pensar nas coisas. Tive tempo suficiente para isso. Mas foi um período em que os concertos se reduziram ao mínimo e foi uma experiência bastante estranha. Mas agora as coisas estão a voltar ao normal. Este será o meu primeiro contacto com o público de Lisboa, não português, porque vivo em Lagos. Nesse período em que esteve mais parado, que sensações o dominaram? Vazio? Não. O vazio é sentido por pessoas que não têm nada dentro. Sempre tive o suficiente dentro de mim para não me sentir vazio. Na verdade, senti o oposto, durante a quarentena e quando vim para Portugal. Senti falta de tempo para fazer tantas coisas. [A pandemia] foi um período trágico e dramático para a humanidade porque muitas pessoas estavam a morrer e a sofrer, mas também nos deu muito tempo, que é algo de precioso. Usei esse tempo para tocar novos programas para piano, para pensar em coisas para ler, não apenas relacionadas com música. É como na pintura, em que às vezes têm de se cumprir vários passos e olhar para outros ângulos. Começou a ter aulas de piano aos cinco anos no Conservatório de Cazã [capital da República do Tartaristão]. Imagino que tenha sido difícil submeter-se a uma disciplina tão rígida desde muito cedo. Não! Era divertido, sempre. Lembro-me de que o período em que ia para as aulas de música era incrível. Todas as manhãs acordava com o entusiasmo de que iria para a escola e fazer tudo o que adorava. Quando percebeu que Chopin era o seu compositor preferido? Quando sentiu algo especial a ouvir o compositor? A minha mãe conta que quando eu era bebé, com cerca de um ano, estava a brincar no chão e estava a passar um concerto de Chopin na televisão, e que eu meti os brinquedos de lado e comecei a ouvir com muita atenção. Claro que não me lembro disto. Mas a minha primeira professora, que era uma música extraordinária, também teve influência, pois descobriu a minha propensão para as composições de Chopin e transmitiu-me muitas coisas quando tinha cerca de 12 ou 13 anos. Na verdade, o meu primeiro recital de piano, quando tinha 13 anos, foi todo sobre Chopin. Foi escolha sua estudar piano, ou foi influência da sua família? Ambos. A minha mãe era geóloga e acreditava que eu iria ser geólogo também. Mas era uma grande fã de música e dava-me lições só por divertimento. Mas lembro-me de, desde sempre, ter a certeza de que queria ser músico profissional, com quatro ou cinco anos. Não tinha nenhumas dúvidas quanto a isso. Em 1995 venceu uma competição internacional de interpretação de obras de Chopin em piano, que se realizou em Varsóvia. Foi um marco fundamental na sua carreira? Claro. Foi muito importante para a carreira e em termos pessoais também, pois aprendi ainda mais sobre Chopin e a sua vida. Antes desse concurso ganhei uma competição juvenil em Moscovo, quando tinha 15 anos, e foi uma espécie de primeira fase para a competição de Varsóvia. Preparei-me para este momento durante muitos anos, foi um longo percurso. Foi uma sensação incrível porque esta competição em Varsóvia não é um evento local, toda a Polónia assiste, não apenas os músicos. O país vive muito a música de Chopin durante essas três semanas de Outubro. Quando se vence um concurso de Chopin ficamos com uma espécie de certificado (risos). Mas também é difícil porque ficamos com uma certa marca. É difícil convencer as pessoas de que faço coisas além de Chopin. Ouve e trabalha em torno de outros compositores, então. Sim, sem dúvida. Oiço compositores clássicos, e não apenas românticos, mas também contemporâneos. Também oiço compositores russos, por exemplo. Não gosta de marcas. Não penso que sejam uma coisa boa, talvez só para ajudar os ouvintes a saber o que podem esperar. Mas, ao mesmo tempo, é bastante limitativo numa série de coisas. O que diferencia Chopin de outros compositores? (Risos). Para mim é diferente porque o sinto de maneira diferente. É muito difícil explicar isso, porque é algo muito importante para nós e que nos é muito querido. Não gosto de colocar em palavras, o que sinto é suficiente. Prefiro tocar piano. Temos pianistas portugueses que também são grandes intérpretes em Chopin, como Maria João Pires. Já teve oportunidade de a ouvir? Ela é incrível. Ainda não tive a oportunidade de a ouvir ao vivo, infelizmente, mas ela é uma música extraordinária. Sinto que o que ela faz é muito semelhante do que faço. Ela é genial. Gostaria de assistir a um concerto dela, sem dúvida. Todos os grandes artistas devem ser ouvidos ao vivo, e sem dúvida que ela é uma grande artista. Depois de tantos anos de palco, ainda se sente nervoso antes de actuar? Claro. Sinto-me nervoso, às vezes, quando penso nos concertos que estão a chegar, porque é sempre uma grande responsabilidade. Quando nos tornamos… não digo famosos, porque é demasiado. Mas quando conseguimos ter alguma fama a responsabilidade aumenta porque as pessoas que vão aos concertos com algumas expectativas. Não gosto de pensar na fama demasiado, porque pensar muito nisso corrói. Há coisas mais importantes do que isso, como a genialidade da música que podemos atingir. Agora que vive em Portugal está a recomeçar do zero, presumo. O que pretende explorar de novo no piano? Fiquei chateado quando tive de suspender temporariamente o projecto que estava a desenvolver, intitulado “Great Romantics” [Os Grandes Românticos], devido à minha vinda para Portugal. Cheguei a fazer uma série de concertos dedicados a Chopin, toquei todas as suas composições. Este projecto consiste numa espécie de recital com um narrador. É muito interessante porque envolve o público para a atmosfera de época, e no caso da época romântica é bastante interessante. Trata-se de um projecto de larga escala porque envolve mais de 25 concertos, com diferentes compositores. Cada programa dedica-se a um compositor, sobre um particular período da sua vida. Comecei o projecto e fiz oito espectáculos, mas toda esta mudança obrigou-me a parar. Espero que, de alguma forma, possa concretizá-lo em Portugal porque gostaria de mostrar as minhas pesquisas e o resultado ao público.
Andreia Sofia Silva EventosExposição | Celebrar 60 anos de relações diplomáticas sino-francesas Foi inaugurada ontem a Exposição de Arte Sino-Francesa que conta com obras de pintura, vídeo, instalação ou fotografia de cinco artistas. A ideia é promover os 60 anos de relações diplomáticas entre a República Popular da China e França através da exibição de trabalhos de Francisco Ricarte, João Miguel Barros ou Alice Kok A China e França passaram a ter relações diplomáticas há 60 anos e, para recordar esta efeméride, pode ser vista desde ontem uma mpstra no Museu de Arte Contemporânea do Centro de Artes e Design da Universidade de Macau (UM). A Exposição de Arte Sino-Francesa é organizada também pela associação “Art Beyond Walls”, a Fusion e a Câmara de Comércio França-Macau, contando com trabalhos de cinco artistas com ligações a Macau, China e França. São eles João Miguel Barros, fotógrafo e curador; Cecília Ho, artista e curadora desta mostra; Alice Kok, co-fundadora da AFA – Art for All Society, artista e também curadora; Lampo Leong e Francisco Ricarte, arquitecto de formação e fotógrafo. Segundo um comunicado, esta iniciativa, ligada ao Festival French-May, visa “explorar e reinventar a fusão das duas culturas”, chinesa e francesa e “absorver a essência das duas civilizações”. Desta forma, podem ver-se “obras dinâmicas e intrigantes” à conta de inspirações baseadas “na sociedade, estilo de vida, tradições, património e conceitos históricos e filosóficos”. A exposição pode ser visitada até 31 deste mês. Mundo de possibilidades Cecília Ho, há muito ligada ao panorama artístico do território através da organização de eventos e curadoria, traz a esta mostra uma colecção de desenhos intitulada “Space of Possibility” [Espaço de Possibilidade]. “Com uma perspectiva artística, reinvento um novo espaço com a história, filosofia, literatura, arquitectura e cultura da China e França”, aponta Cecília Ho na descrição que faz sobre as suas obras. Existe, nestas obras, referências a Laozi, que discute “o Daoísmo e Descartes”, ou “Victor Hugo que partilha as emoções com Su Shi quando visita a campa da sua filha”. É também criada uma relação entre Li QingZhao e Louise Ackermann “na partilha do seu sofrimento” conjunto, imaginando-se também uma união entre o Arco do Triunfo e Buda, a Torre Eiffel e a Grande Muralha da China, ou a Catedral de Notre Dame e o Templo do Céu, em Pequim. Trata-se de uma série de trabalhos onde “não há restrições de tempo, distância, lugar, formato, razões, religião e conceitos”, tratando-se de um espaço artístico “em que tudo é possível”. No caso de João Miguel Barros faz-se a referência a “As Flores do Mal”, livro do autor francês Charles Baudelaire, na colecção de fotografias “L’Invitation Au Voyage / Invitation To The Voyage” [Convite à Viagem]. A apresentação é feita através de imagens focadas no momento de aterragem de aviões. Trata-se de uma “alegoria que simboliza o pensamento livre, um atributo para qualquer forma de manifestação cultural”. São imagens que fazem “a alegoria da viagem, porque a cultura apenas encontra expressão quando viaja e é bem-vinda”. Descreve ainda Barros que “um pensamento que não viaja, que fica estagnado, é um pensamento que não tem poder, estando condenado a morrer devido à falta de reconhecimento”. A inspiração em Baudelaire surgiu por se tratar “de um dos maiores poetas românticos franceses do século XIX”, sendo que o poema escolhido pelo fotógrafo faz parte da obra “As Flores do Mal”, publicada em 1857. “Baudelaire foi um pioneiro num tempo antes do surgimento dos aviões. Mas, antes e depois dele, houve muitos artistas e pensadores-livres que, de diferentes formas e até aos dias de hoje, aproveitaram as asas do vento para viajar para leste. Macau sempre foi um céu de segurança e hospitalidade, e aqui estamos nós hoje, em 2024, a celebrar”, descreveu ainda. Símbolos humanos Alice Kok apresenta a instalação “Artificial Subcounscious” [Subconsciente Artificial], enquanto Francisco Ricarte traz a esta mostra “The Hand Series” [Séries das Mãos]. Descreve o autor que a mão sempre foi um símbolo da “existência humana e de criatividade”. “Quando uma mão, e o braço, se movem para um certo ponto ou para apanhar algo que está perto, pode simbolizar também a procura de algo diferente ou que está fora do nosso elemento. Isso tem como significado a representação da intenção de usar ou misturar certos objectos, culturas, formas de expressão ou influências, no meio de tantas expressões”, apontou ainda. Por sua vez, Lampo Leong apresenta “InkScape”, um conjunto de pinturas que “incorpora a estrutura geométrica ocidental com as tradições de caligrafia do Oriente para atingir a sensibilidade da arte pós-moderna e, ao mesmo tempo, uma qualidade atmosférica etérea e as forças dinâmicas da energia da vida”.
Andreia Sofia Silva DesportoCompetição de ginástica de trampolins este fim-de-semana A Associação de Trampolins e Desportos Acrobáticos de Macau (ATDAM) organiza este fim-de-semana uma competição de ginástica de trampolins intitulada “Macau Trampoline Gymnastics Championship 2024”. O evento decorre amanhã e domingo na Escola Internacional de Macau (TIS, na sigla inglesa), sendo composto pelas competições nos escalões de infantis, iniciados, juvenis e juniores nos aparelhos de mini-trampolim e tumbling. Está confirmada a presença de 103 ginastas de quatro escolas de Macau e de Hong Kong, nomeadamente a Escola Portuguesa de Macau, a Associação de Ginástica de Hong Kong, o Clube de Ginástica de Macau e a União Acro de Ginástica [Union Acro Gymnastics]. Semelhante competição foi organizada o ano passado, sendo que a ATDAM promove campeonatos desta modalidade deste 2014. “Única oportunidade” Ao HM, Nuno Fernandes, vice-presidente da associação, explica que a ATDAM foi criada para “promover, difundir e dirigir a ginástica de trampolins e os desportos acrobáticos na RAEM, já que a Associação de Ginástica Desportiva de Macau nada faz nesse sentido”. Esta competição acabou por transformar-se “na única oportunidade para os ginastas de Macau competirem nesta modalidade”, sendo que “a adesão a esta competição tem sido excelente, sempre a rondar os 100 ginastas”. Nuno Fernandes destaca também que existe a vontade, por parte da ATDAM, de promover “o fomento da modalidade”, embora tenham de se deparar “com poucos espaços com condições para a sua prática”. “Não seria difícil [encontrar esses espaços], mas não nos parece haver muita vontade. O caminho faz-se caminhando, e é com esse lema que temos vindo a observar o crescimento, lento, mas sólido, desta modalidade e dos seus aficcionados”, frisou. A ATDAM pretende também promover “treinos regulares, workshops, provas interclubes e intercâmbios com colectividades congéneres”, além de estabelecer ligações com outros clubes da modalidade e ainda com a federação e demais entidades internacionais. Outro dos objectivos presente nos estatutos, prende-se com a vontade de representação da modalidade de trampolins e desportos acrobáticos “dentro e fora do território e junto das instâncias superiores e das entidades oficiais”.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteNuno Fontarra, arquitecto: “Ocupamos o espaço que podemos” Nuno Fontarra, arquitecto principal da equipa da Mecanoo que tem em mãos o projecto da nova biblioteca central, apresenta uma palestra hoje, às 19h, no Centro Cultural de Macau. O arquitecto irá falar da filosofia de do trabalho do atelier e de como o escasso espaço interior do edifício do antigo Hotel Estoril foi projectado Vai hoje falar do projecto do Museu de História Natural que a Mecanoo está a desenvolver em Abu Dhabi. Até que ponto tem semelhanças com o projecto da Biblioteca Central? Vou abordar este projecto por ser o mais importante que estamos a fazer e porque tem algumas parecenças [com o projecto da Biblioteca Central], nomeadamente ao nível dos materiais. Trata-se de um museu, e nesse aspecto não tem muito a ver com o que estamos a fazer em Macau, mas é importante por ser um edifício público. É um museu icónico que vai interagir com a cidade. A maior parte dos museus não é muito interactiva com a população porque as pessoas vão uma vez e não usam o espaço, mas vou mostrar como o nosso projecto faz com que o museu interaja com a cidade à volta e qual a filosofia do atelier Mecanoo em relação a isso, para que não seja um objecto morto na cidade. Esta abordagem também foi pensada para a futura Biblioteca Central? A filosofia é a mesma: tem de interagir com a cidade o mais possível. É isso que é uma arquitectura moderna, não se tratando de um mero arquivo de livros, porque é o que se passa com a actual biblioteca [do Tap Seac]. A preocupação com a nova biblioteca não é apenas com os livros, mas sim construir uma interacção com a comunidade completamente diferente, com educação e cultura. E é assim que o Museu de História Natural vai funcionar também. Esta é talvez a primeira vez que a equipa da Mecanoo está no território, uma vez que o projecto da Biblioteca Central começou a ser feito à distância. Como está a ser este contacto presencial? A primeira fase do projecto foi toda feita à distância e depois fomo-nos adaptando. Deveríamos ter vindo a Macau. Até já estive em Shenzhen, mas os colegas chineses da minha equipa não conseguiram visto para ir para Macau, o que atrasou a visita. Mas agora já houve contactos com o Instituto Cultural (IC) e foram feitas visitas ao local. Dois terços da equipa está sediada em Macau e só eu ainda não tinha vindo. O meu nível de experiência permite-me perceber como a Praça do Tap Seac funciona. Por exemplo, teremos de mover umas árvores de sítio, e essa é uma parte importante do projecto, e perceber essas coisas e sentir a praça [é importante]. Na palestra vou também abordar isso, o facto de não existirem projectos feitos no abstracto, pois todas as coisas têm um contexto, funcionando de forma diferente em relação ao desenho. Esta palestra não é o momento oficial para apresentar o projecto, pois ainda está a ser feita essa preparação. Creio que o IC já tem uma data para começar a obra. Algumas particularidades do projecto que podem sobressair com esse contacto presencial com a Praça do Tap Seac e o espaço de construção? Sobressai a relação da piscina [com o espaço em redor], por exemplo, porque existe uma certa proximidade. [O Tap Seac] é a praça mais importante de Macau, bastante central, e é um sítio difícil para construir a biblioteca, pois não temos muito espaço. Mas esse é um problema geral em Macau. A falta de espaço obriga a que a biblioteca venha a servir o público de maneira bem mais flexível. Temos de aproveitar o máximo de espaço possível para a realização de actividades. É isso que a nova biblioteca vai ser. Em que fase concreta está o projecto? Têm enfrentado alguns desafios? Não tem sido muito complicado. Nesta fase começaram a ser retiradas peças do edifício que vão ser reutilizadas na biblioteca, nomeadamente o mural. Será necessário tratar o terreno, mas é importante frisar que precisamos um pouco mais de tempo pois estamos numa área complexa da cidade. O básico do projecto está pronto. Já começámos a trabalhar na execução, apesar de ainda não haver um dia definido para o arranque das obras. Até que ponto o projecto da biblioteca central se enquadra no espírito de trabalho da Mecanoo? A nossa filosofia tem por base a ideia de que os espaços funcionam para as pessoas. Durante muitos anos as bibliotecas eram arquivos de livros que só recebiam pessoas. Nos últimos anos têm sofrido uma transformação nesse sentido, e nós fazemos parte dessa transformação. Deixaram de ser apenas arquivos para serem activos dentro da cidade, com funções educativas ou apenas de entretenimento. A biblioteca central terá essa responsabilidade em relação a Macau, pois não havia condições para isso. O único senão é que há uma rua bastante dinâmica [Avenida Sidónio Pais], e não será fácil tirar o trânsito dali. Sei que a praça tem muitas actividades e a biblioteca pode ser um extra. Esse tipo de eventos não existe na biblioteca antiga e as pessoas do IC estão ansiosas para que haja na biblioteca nova. Ainda que em pequena escala, pois não será um edifício grande. Por exemplo, a biblioteca central em Xangai é uma coisa enorme. Mas na China os projectos de arquitectura têm outra escala. Na China cumprem-se objectivos. Não há propriamente uma necessidade das pessoas. Essa é a grande diferença. A nova biblioteca [em Macau] vai complementar as necessidades das pessoas, mas na China cumprem números. Uma biblioteca lá tem de ter um certo tamanho para cumprir determinada escala. É tudo mais matemático. Em Macau ocupamos o espaço que podemos. Pode avançar detalhes mais concretos de como será reaproveitado o interior do edifício? Vamos tentar abrir o mais possível o espaço do rés-do-chão ao público. Temos poucos metros quadrados, mas temos uma área grande de alçado que depois conecta com a rua. É isso que nos vai permitir ter um pequeno auditório com um pequeno café e uma zona com vista. Terá também umas escadas com ligação à zona de leitura. O que fazemos muito no nosso atelier é usar espaços de maneira dupla, a fim de os maximizar. Então essa zona poderá também servir para pequenas apresentações, pois há uma escadaria que serve de auditório. À medida que se vai para os pisos superiores os espaços vão tendo usos mais privados, para exposições, ou ainda salas para workshops, por exemplo. Haverá ainda uma sala que se pode alugar para uso da tecnologia que não se pode ter em casa, como é o caso das impressoras 3D. Este espaço pode ser usado por estudantes ou profissionais. Todo o espaço de circulação poderá ser aproveitado para mostras temporárias. Os pisos de baixo serão, de facto, zonas mais públicas. O último piso já terá uma sala de leitura mais calma, destinada a investigadores, por exemplo. Há um hall da biblioteca virada a parte de trás, em frente a uma escola [para a Estrada da Vitória] em que há uma área destinada à juventude, para crianças dos 12 aos 14 anos. Haverá ainda uma pequena parte para serviços administrativos, pois o IC preferiu destinar mais espaço do edifício para zonas públicas. O grande desafio foi, de facto, encontrar espaço. Poderíamos fazer uma biblioteca maior se estivesse na periferia, mas não estaria junto às pessoas. A localização da biblioteca central gerou bastante debate público e outras questões, como a concessão do projecto a um atelier estrangeiro. Sentiram pressão quando começaram a trabalhar? Não porque, em primeiro lugar, não somos holandeses, somos um escritório internacional. E depois a equipa não é apenas a Mecanoo, existindo um escritório local em Macau a colaborar connosco, a Joy Choi, e depois profissionais em Hong Kong. Os engenheiros são todos de Macau, da PAL AsiaConsult, e têm 33 por cento do projecto, somos sócios. Diria que 65 por cento, ou mais, da equipa é local. Depois temos pessoal na Holanda e chineses de Guangzhou e Shenzhen a colaborar connosco. Era importante maximizar o pouco espaço existente, pois a localização é perfeita. Isso é uma coisa que aprendemos com os holandeses, pois com eles o espaço muda com frequência. O IC parece estar a ser dinâmico o suficiente para que depois haja uma relevância em termos das actividades que são organizadas. Como vai funcionar a coordenação com a actual biblioteca e arquivo histórico? O actual edifício vai continuar a ter biblioteca como tem actualmente. A nova biblioteca vai complementar a antiga, mas não sei como será feita a gestão dessa coordenação. As necessidades administrativas do IC não interferiram nas necessidades das pessoas no que diz respeito à biblioteca, e é essa a parte interessante. Noutros casos temos situações terríveis, em que os clientes são bastante inflexíveis.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteTDM | O “problema” inicial e o sucesso das emissões, 40 anos depois A TDM nasceu a 13 de Maio de 1984. A data, coincidente com a celebração das primeiras aparições de Fátima, foi escolhida pelo Governador Almeida e Costa. Os 40 anos da TDM foram celebrados na segunda-feira em Lisboa, com uma palestra onde participaram algumas personalidades políticas que recordaram como o projecto da TDM foi “um problema” que acabou por se revelar um sucesso Há 40 anos, o panorama audiovisual local levou uma reviravolta com o nascimento da Teledifusão de Macau (TDM), a estação pública de televisão e de rádio que levou profissionais da RTP para o território para criar conteúdos informativos e de entretenimento sobre Macau, como até então não se tinha visto. A data do nascimento da TDM, celebrada oficialmente na segunda-feira, dia 13 de Maio, foi escolhida pelo Governador Almeida e Costa que, em 1984, liderava a Administração portuguesa, e que coincidia com o dia da efeméride religiosa das primeiras aparições de Nossa Senhora de Fátima aos três pastorinhos. A ideia era fazer um canal bilingue que fosse o espelho de duas línguas e culturas. A transferência de administração portuguesa de Macau para a China estava a chegar e a criação do canal transformou-se num dossier diplomático complexo e parte integrante das negociações. A história da TDM foi recordada na segunda-feira em Lisboa no Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) num evento que reuniu os profissionais da RTP que ajudaram a fazer o canal e a sua informação, mas também personalidades políticas portuguesas que testemunharam e participaram na criação da TDM. Todos destacaram as dificuldades de um projecto complexto que tinha tudo para nascer torto, mas que acabou por vingar. Disso deu conta Nicolau Santos, actual presidente do conselho de administração da RTP. “A TDM é um projecto notável que se afirmou em condições que não eram particularmente fáceis, com muitas pessoas que não falavam português. Esta é uma história de sucesso de que a RTP se orgulha particularmente. A TDM presta um serviço público moderno, eficaz e com forte impacto no território, sendo a defesa da língua portuguesa um dos objectivos estratégicos. Orgulhamo-nos muito do sucesso da TDM, que é a expressão do conhecimento e competências que a RTP possui na área do serviço público.” António Vitorino, figura do Partido Socialista (PS) e secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares do Governo português entre 1983 e 1985, com a tutela do audiovisual, foi mais claro quanto às dificuldades do nascimento da TDM. “A TDM era, na altura, um problema”, começou por dizer. “A TDM estava no coração de um dos temas mais delicados da Declaração Conjunta que era a questão dos direitos fundamentais como a liberdade de expressão e de imprensa, matéria a que a parte portuguesa era sensível. O mérito da intervenção sobre a TDM foi o meu colega de Governo, Carlos Monjardino, que persuadiu o Governador Pinto Machado a incluir a questão da TDM nas negociações sobre o contrato de jogo para garantir a sustentabilidade da televisão de Macau além da administração portuguesa do território”, recordou. Línguas de fora As primeiras emissões da TDM aconteciam apenas no horário das 18h às 23h e intercalavam entre chinês e português. Só mais tarde se criaram dois canais diferentes com conteúdos próprios, sendo que actualmente a TDM tem cinco canais, incluindo um com emissões em inglês. Desde cedo que a TDM se tornou numa questão diplomática, onde o bilinguismo era fundamental, destacou também António Vitorino. Não era apenas importante ter emissões locais em português, mas também em chinês. “O tema do bilinguismo era central nas negociações entre Portugal e a China. Este não era uma arma de arremesso, mas sim uma ferramenta forte utilizada pela parte chinesa para introduzir o chinês como língua corrente na Administração, que na sua maioria era composta por pessoas que tinham o português como língua de trabalho.” Além disso, recorda António Vitorino, Portugal “queria garantir que o português, que seria língua oficial [da RAEM], teria garantias de estabilidade”, sendo “imprescindível a garantia da manutenção de um canal bilingue” nas negociações para a Declaração Conjunta, assinada em Pequim em 1987. Segundo António Vitorino, a TDM com emissões bilingues constituía “um factor de confiança para a população de Macau e esse argumento foi muito bem aceite pela China”. “Um canal marcante” Maria de Belém Roseira, outra figura do PS, ex-candidata à presidência da República portuguesa e administradora da TDM entre 1986 e 1987, recorda que aceitou o cargo numa altura em que a empresa “atravessava problemas financeiros e de recursos humanos”. A responsável, que também classificou o nascimento da TDM como um “dossier complicado”, frisou que “nunca aceitaria ser presidente” e que veio para Macau para fazer os estatutos da empresa. “Quis vir-me embora, mas Pinto Machado achou que deveria continuar e fui ficando”. “Foi interessante perceber a importância estratégica da TDM e de como os chineses atribuíram à TDM uma atenção e sensibilidade que levaram a alguma alteração de comportamentos. Sentiu-se uma postura diferente até à assinatura da Declaração Conjunta e depois, porque as preocupações e princípios passaram a ser diferentes. A transição de Macau estava a prazo e era normal que os chineses tentassem ter uma presença mais marcante e de maior intervenção na gestão diária da empresa.” Maria de Belém falou ainda da polémica surgida em 1987 quando, já com Carlos Melancia como Governador, se tentou privatizar parcialmente a TDM com a entrada de um novo accionista, a Emáudio, ligada a Robert Maxwell. “Era apetecível do ponto de vista comercial um canal daquela natureza”, lembrou Maria de Belém. “Foi aí que surgiram as dificuldades com a Emáudio e Robert Maxwell e empresas que tiveram alguns problemas. Estavam a passar-se coisas que não me agradavam”, disse apenas, sem se prolongar em detalhes. Para a responsável, que também foi ministra da Saúde, a TDM “era realmente um canal muito marcante para a comunidade portuguesa que estava em Macau”, sendo que a língua tem hoje “um papel estratégico fundamental”. A prova de fogo Jorge Silva, um dos principais profissionais da TDM até hoje, recordou as primeiras emissões e os desafios em termos técnicos. “Na altura, a população de Macau via a TVB de Hong Kong e outros canais. A TDM foi uma pedrada no charco porque, pela primeira vez, Macau via-se a si própria, exibindo-se temas e reportagens sobre o território. O interesse da população no canal foi-se renovando e aumentando ao longo dos anos.” Assinada a Declaração Conjunta, começou-se a preparar a transição e a verdadeira prova de fogo da TDM em termos técnicos foi a transmissão em directo das cerimónias da transferência, a 20 de Dezembro de 1999. “A transferência de Hong Kong foi dois anos antes [1997] e aprendemos muito com essas transmissões. Eram muitos os convidados presentes, foram muitas horas no ar, cinco ou seis, e esse foi, talvez, o desafio mais marcante da TDM, tal como a chegada dos Governadores ao território. Tal implicava muitas horas de transmissão, desde o jetfoil até à chegada ao Palácio.” Se a TDM nasceu como projecto bilingue, será que se mantém na sua plenitude nos dias de hoje? Jorge Silva assegura que sim. “O espaço em língua portuguesa continua o mesmo. Com a separação dos canais continuamos a ter o mesmo espaço de emissão, formámos já jovens bilingues na redacção portuguesa, que dominam também o inglês e que são bastante úteis. A TDM está hoje muito virada para a troca de programas com o Interior da China e países de língua portuguesa.” O pivot de informação referiu também que “há o acordo entre a China e Portugal para a manutenção dos dois canais na TDM e seria bom que isso continuasse”. “Penso que a China vai honrar os seus compromissos como tem honrado. Os critérios editoriais são definidos pela própria empresa. Gostaria que esse espaço de liberdade e ideias continuasse na TDM e que Macau mantivesse essa autonomia e identidade própria, com ligação a Portugal, mas mantendo essa diferença no espaço e país em que estamos inseridos, que é a China”, concluiu. Carmen Amado Mendes, presidente do CCCM, destacou que “uma televisão de língua portuguesa em Macau tem, de facto, um papel essencial”. “Foi a televisão que foi dando a conhecer a realidade de Macau e todas as mudanças que foram ocorrendo ao longo de 40 anos. O crescimento da própria TDM é também inegável, tendo passado de um canal bilingue para ter cinco canais. Esperamos estar aqui daqui a 40 anos a falar sobre mais um aniversário e fazemos votos para que este crescimento se mantenha”, adiantou.
Andreia Sofia Silva Eventos“Little Black Note” | Primeiro livro de Vicky Lo traz mensagens inspiradoras “Little Black Note” é o nome do primeiro livro de Vicky Lo, residente de Macau, que apresenta aos leitores 22 mensagens inspiradoras divididas em cinco capítulos, complementadas com ilustrações. A ideia é “incentivar a auto-reflexão dos leitores”. A obra está à venda na Livraria Portuguesa, Pin-to Livros ou Amazon Vicky Lo é residente de Macau e acaba de se estrear nas lides editoriais. Com a chancela da Ipsis Verbis, o livro “Little Black Note” contém 22 mensagens inspiradoras para quem as lê e procura um caminho novo para os desafios do dia-a-dia. A obra está à venda online na plataforma Amazon, mas também em suporte físico na Livraria Portuguesa e Pin-to Livros. A obra, escrita em inglês, é o reflexo dos 15 anos da carreira de Vicky Lo, mas também um reflexo das suas “origens humildes”, contou ao HM. “A noção de ‘pequeno’ [do livro] simboliza algo modesto e despretensioso, mas capaz de causar impacto. O aspecto ‘negro’ [também do livro] deriva da crença de que a vida não é composta apenas por momentos claros e agradáveis, sendo uma mistura de alegria e tristeza, semelhante a uma tapeçaria tecida com diversos fios”, frisou. A autora destaca o “design minimalista e ilustrações que podem não estar em conformidade com a estética convencional”, mas que são “profundamente pessoais”. O termo “nota” presente no título do livro significa que “o conteúdo foi criado a partir de reflexões pessoais destinadas a elevar ou a provocar o pensamento, não só para mim, mas para todos os que as possam encontrar”. Uma surpresa desde o início “Little Black Note”, lançado em Abril, nem sequer era um objectivo inicial para Vicky Lo, tendo começado por ser “um projecto pessoal para captar inspirações fugazes”. A autora começou a escrever em 2018, nomeadamente “pequenas reflexões” espontâneas “que se foram acumulando, formando-se uma colecção significativa”. Em 2019, surgiu a ideia de editar um livro apenas para os amigos. “De entre um vasto leque de ideias, seleccionei 30 frases, colaborando com um designer criativo e uma gráfica para criar um pequeno lote de livros. O feedback encorajador que recebi foi catalisador para uma publicação mais alargada. O livro não é mais do que um compêndio de conselhos práticos e reflexões que pretendem ser do agrado dos leitores”, adiantou a autora. Vicky Lo entende que lançar uma obra sobre experiências no local do trabalho, ou com frases relacionadas com a área de desenvolvimento pessoal, acaba por estar “em sintonia com o espírito actual”, tendo em conta que “as pessoas procuram activamente crescer e ter um maior significado nas suas vidas profissionais”. A autora defende que “se nota bastante um desejo de orientação e de conhecimentos que possam conduzir à realização e ao sucesso”. Desta forma, “Little Black Note” tenta “colmatar esta lacuna, oferecendo diversas perspectivas e estratégias baseadas em experiências da vida real”. Abrir este livro realça também “a importância de abraçar a mudança, explorar novos caminhos e compreender que a procura de melhorias é uma viagem contínua”. “O meu objectivo é incentivar os leitores a considerarem abordagens alternativas e a verem o valor de cada experiência, seja ela convencional ou não”, rematou.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeTáxis | Exigidas mais funcionalidades com novas licenças O mercado prepara-se para receber 500 novas licenças de táxi e há quem defenda que está na hora de simplificar o sistema para que seja mais fácil a residentes e turistas chamar uma viatura, através da criação de uma plataforma unificada ou de um modelo de compensações e sanções a aplicar aos melhores e piores condutores de táxi Um deputado e um dirigente associativo desejam uma maior simplificação do actual modelo em vigor para se chamar um táxi, numa altura em que há 500 novas licenças a chegar ao mercado. O deputado Ngan Iek Hang defendeu, segundo o Jornal do Cidadão, a criação de uma plataforma unificada para se poder chamar um veículo. Ligado à União Geral das Associações de Moradores de Macau (UGAMM), Ngan Iek Hang apontou que o actual sistema de marcação de táxis funciona de forma instável, pelo que deveria existir a plataforma unificada para todos os táxis a fim de melhorar o sistema de marcações e a eficácia de todo o serviço. O deputado elogiou ainda a obrigatoriedade, com as novas licenças, da existência de meios de pagamento electrónicos, considerando ser algo mais conveniente para os clientes. No entanto, Ngan Iek Hang disse esperar que o Governo possa negociar com as empresas que fornecem este sistema de pagamento e com o sector financeiro para que possam ser criados meios de pagamento no formato “contactless” para cartões bancários. O deputado ligado à UGAMM exige ainda uma maior comunicação entre as novas empresas de táxis e o Governo para que estas possam ser mais transparentes quanto ao modelo de operação e gestão, tendo em conta que todas as empresas com as 500 licenças são novas no mercado. Ligação à Conta Única Por sua vez, o presidente da Associação dos Comerciantes e Operários de Automóveis de Macau, Leng Sai Wai, defende que o sistema de terminal de táxis, a que as novas viaturas têm de aderir, deve permitir também a marcação de viagens com ligação à plataforma da “Conta Única de Macau”, a fim de reduzir as dificuldades sentidas pelos residentes para chamar um táxi. De frisar que este sistema de terminal permite prevenir as infracções cometidas pelos taxistas, sendo a cobrança excessiva de tarifas e adição de destinos de chegada a meio da viagem as mais comuns. O dirigente recordou que a maioria dos taxistas prefere fazer serviços nas zonas turísticas dada a elevada possibilidade de conseguir apanhar novos clientes, mas os táxis a operar sob novas licenças devem prestar mais serviços nos bairros comunitários. Desta forma, o sistema de terminal deve supervisionar o percurso feito pelos taxistas, a fim de garantir que estes trabalham nas zonas menos turísticas do território e que não rejeitam clientes de forma intencional. Leng Sai Wai entende que cabe às autoridades chamar a atenção dos taxistas para que mudem a sua atitude na relação com os passageiros, agora que o mercado tem um sistema corporativo. Assim, o responsável defende a criação de subsídios para os dias feriados e trabalho nocturno para que os taxistas melhorem o serviço prestado, bem como um sistema de pagamento de compensações aos melhores condutores de táxi. Este sistema poderia também aplicar sanções caso os taxistas prestem um mau serviço, adiantou.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteTecnologia | Jovens e estudantes são os que mais usam IA em Macau A Inteligência Artificial é cada vez mais usada por residentes que procuram benefícios ao nível do trabalho e ensino, sobretudo ChatGPT e Poe. Jovens e estudantes dominam a utilização destas novas tecnologias. As conclusões constam no relatório “Tendências do Uso da Internet em Macau” da Associação para a Investigação na Área da Internet de Macau A Inteligência Artificial (IA) está a popularizar-se em todo o mundo e também em Macau, onde cada vez mais residentes recorrem a ferramentas como ChatGPT ou Poe, para produzir textos para diversos fins ou simplesmente para consultar informação. A conclusão consta do relatório “Internet Usage Trends in Macao” [Tendências do Uso da Internet de Macau], relativo a este ano, que aponta que, dos 1.502 entrevistados, todos residentes, 64 por cento conhece a IA enquanto 27 por cento já usou estas plataformas, “sendo as taxas de conhecimento e de utilização mais elevadas do que em 2023”. No ano passado, 50 por cento dos inquiridos dizia conhecer a IA. O ChatGPT é usado por 78 por cento dos inquiridos, seguindo-se o Poe com 19 por cento. O relatório indica ainda que “os grupos mais jovens e de estudantes apresentam taxas de utilização mais elevadas”. No que diz respeito aos objectivos com que usam estas plataformas, 22 por cento dos internautas espera que a IA “melhore a eficiência da aprendizagem ou o trabalho”, além de que 15 por cento recorre a estas ferramentas para “responder a questões da vida quotidiana”. Dos inquiridos, 49 por cento diz-se muita disposta a usar a IA no futuro, sendo que “a vontade dos jovens e estudantes é maior”. Tal demonstra que “a vontade dos internautas de utilizar a IA generativa está a aumentar gradualmente”. O relatório foi produzido pela Associação de Macau para a Investigação na Área da Internet [Macao Association for Internet Research – MAIR] juntamente com a consultora eRS e-Research, fundada por Angus Cheong, ex-académico da Universidade de Macau. Os 1.502 entrevistados têm idades compreendidos entre 6 e 84 anos, ou seja, foram inquiridas crianças sem idade escolar para terem capacidades de literacia que as habilitem a usar as ferramentas em questão. O relatório conta com Angus Cheong como investigador principal, além de ter sido produzido por Athena Seng, Jing Li, Wandy Mak, Erica Kwok, Candy Fong, Karen U, Holly Ho. As entrevistas realizaram-se em Janeiro deste ano. Os perigos associados Apesar da crescente penetração da IA no território, os autores do estudo não deixam de apontar riscos que estão associados a estas plataformas. “É ainda necessário ter bastante cuidado na aplicação da IA em cenários específicos”, pois os resultados “podem ser afectados por questões como a parcialidade dos dados, preconceitos e incorrecta compreensão semântica”, o que pode levar a IA a “distorcer os factos”. “As pessoas não devem aceitar cegamente a informação gerada pelo modelo, devendo aprender e a avaliar [os conteúdos] com exactidão e racionalidade”. Assim, sugere-se que no futuro “o Governo, o meio académico e empresas possam trabalhar em conjunto para reforçar opções de exploração e aplicação da IA”. “Com um esforço conjunto, Macau pode melhor promover o desenvolvimento da IA, ajudando a inovação e o progresso em vários sectores e proporcionando aos residentes formas mais convenientes e eficientes de aprender, trabalhar e viver”. Tal pode trazer “mais possibilidades e mudanças para o futuro” do território. Uso superior à média Em termos gerais, Macau apresenta uma taxa de utilização de internet de 93 por cento, enquanto a taxa de Internet móvel é de 91 por cento. O relatório destaca o facto de “a taxa de adopção da Internet ser superior à média mundial”, que é de 66 por cento, estando “entre as melhores da Ásia”. Para se perceber a evolução do uso da internet no território, importa referir que, em 2001, a taxa de utilização era de apenas 33 por cento, e que nos últimos cinco anos tem-se mantido sempre acima dos 90 por cento, entre 91 e 93 por cento. De destacar o facto de o Índice de Clivagem Digital ter diminuído para quase zero, sinónimo de que “os residentes de todos os estratos sociais têm iguais oportunidades de acesso à Internet”, sobretudo os telemóveis. Os residentes recorrem à internet sobretudo para fins de lazer e entretenimento, sendo que uma “elevada percentagem de agregados familiares possui computadores”. Destaque para o maior uso do tablet em relação ao computador de secretária ou portátil entre os consumidores locais. O acesso à internet é feito através do telemóvel, mas o estudo releva que “nos últimos anos um número crescente de internautas tem acedido à internet através da televisão”. À noite, a partir das 21h, é quando os internautas mais usam a internet, com a taxa de utilização a essa hora a “registar um crescimento significativo em comparação com dez anos atrás”. WeChat e Taobao ganham Em termos de actividades, a internet é usada, principalmente, para ler, ver e ouvir notícias, e aceder a redes sociais, com a plataforma WeChat a ser a mais usada por quase todos os grupos etários, seguindo-se o YouTube, Facebook e Whatsapp. O consumo de conteúdos audiovisuais surge logo de seguida em termos de popularidade, com o visionamento de filmes e séries em streaming, além de música. O documento refere que “os menores, os jovens e os grupos de estudantes apresentam taxas mais elevadas de participação em várias actividades audiovisuais e de entretenimento” na área do streaming. Nos últimos anos os utilizadores que usam a internet para estarem informados manteve-se nos 80 por cento, enquanto 70 por cento dos inquiridos costuma escrever comentários nas redes sociais. Em termos de comunicação social digital, observa-se que “as pessoas de meia-idade e os jovens, além das pessoas com níveis educacionais mais elevados, são mais propensos a participar em várias actividades relacionadas com a informação online”. Relativamente ao comércio online regista-se uma tendência de aumento, com 76 por cento dos entrevistados a afirmar que já fez compras desta forma, “sendo o Taobao a principal plataforma de compras online”. As compras são, sobretudo, de “produtos de cuidados da pele ou para necessidades diárias”. Um total de 83 por cento dos inquiridos fez pagamentos online. Alerta segurança Os investigadores colocaram ainda questões sobre a segurança online. Num território onde são frequentes os casos de burla online, o relatório mostra que, de facto, metade dos inquiridos diz ter tido problemas de privacidade ou segurança, “sendo o mais comum a fraude online, seguindo-se vírus em dispositivos, roubos de contas pessoais ou de palavras-passe”, ou mesmo “violação da privacidade”. Ainda assim, “cerca de 60 por cento dos internautas avaliam o estado actual da privacidade e segurança da Internet em Macau como seguro, proporção semelhante à registada no passado”. Os autores do estudo consideram que é preciso promover mais a literacia digital e ter em conta a necessidade de preservação da segurança. “As pessoas de meia-idade e os jovens adultos, bem como as pessoas com um nível de educação mais elevado e com emprego têm a probabilidade relativamente mais elevada de se deparar com vários tipos de problemas de privacidade e segurança na internet. Este facto pode estar relacionado com a sua utilização mais frequente da internet e com um maior nível de sensibilização.” Os autores acrescentam ainda que estes números “indicam que, embora o público tenha um certo nível de consciencialização e preocupação com a privacidade e a segurança na Internet, ainda há muitos desafios a enfrentar”. Os riscos nos jovens O relatório destaca também o facto de os utilizadores de internet serem cada vez mais jovens e do impacto negativo que isso pode causar a vários níveis, tornando-se fundamental aumentar a literacia digital dos mais novos. “Actualmente, a utilização da internet por menores centra-se em actividades de lazer e entretenimento. No futuro, estes devem melhorar a literacia cibernética, aprender e dominar conhecimentos e competências e organizar razoavelmente o seu tempo de utilização da Internet para melhor a utilizarem na sua vida e na sua aprendizagem”. Cabe ainda às escolas, famílias e sociedade “orientar os menores para o uso saudável da internet”, devendo as instituições de ensino “incorporar a literacia da internet no currículo para cultivar conhecimentos e competências dos alunos” nesta área, além de que os pais “devem reforçar a educação familiar dos menores para evitar a dependência excessiva da internet”. O uso de internet por parte de menores de idade atingiu 91 por cento, sendo que estes optam, em 95 por cento dos casos, para ver filmes e vídeos, seguindo-se o consumo de música, em 85 por cento dos casos, ou para jogar (88 por cento). No que respeita às redes sociais, 52 por cento usa o TikTok. A literacia digital nos jovens entre os seis e 11 anos é menor, pelo que é necessário “melhorar a segurança na Internet e os aspectos de auto-proteção”, é indicado.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteAICEP | Fórum anual focado na Inteligência Artificial termina hoje Chega hoje ao fim a 31ª edição do Fórum AICEP das Comunicações Lusófonas, focado na área da inteligência artificial, que trouxe a Macau representantes do sector das telecomunicações dos países de língua portuguesa. João Caboz Santana, presidente da AICEP – Associação Internacional das Comunicações de Expressão Portuguesa, destaca o desenvolvimento de Macau na área das telecomunicações “Criar Valor com Inteligência Artificial” é o mote da 31ª edição do Fórum AICEP das Comunicações Lusófonas, o encontro anual que junta representantes do sector das telecomunicações dos países de língua portuguesa e que arrancou ontem em Macau e que chega hoje ao fim. O evento, que trouxe a Macau a representante da autoridade reguladora das telecomunicações em Portugal, Sandra Maximiano, presidente do conselho de administração da ANACOM, conta ainda com representantes das autoridades locais na área das telecomunicações, nomeadamente Ebel Chan, vice-presidente comercial da CTM – Companhia de Telecomunicações de Macau, ou Derby Lau, directora dos Serviços de Correios e Telecomunicações. Em entrevista ao HM, João Caboz Santana, presidente da AICEP, frisou a importância de discutir as questões da Inteligência Artificial (IA) em Macau. “A IA suscita ainda muitas questões, existindo poucas respostas. É importante discutir de forma ampla este tipo de soluções, e não vale a pena tentar parar o vento com a mão. A IA traz soluções incontornáveis para as economias e sociedades, e é oportuno discutir este assunto em Macau. Temos um painel específico no fórum para discutir como devemos encarar a regulação deste sector, como é o caso das questões de segurança, privacidade e transparência. Nesta área, os quadros regulatórios dos países são, na maior parte, omissos”, disse. A iniciativa conjunta, que todos os anos se realiza num país ou região diferente do universo lusófono, pretende criar um espaço para discutir soluções com aplicação prática no mercado das telecomunicações. “A AICEP quer dar um importante contributo nas cooperações na área do digital”, frisou João Caboz Santana, que entende que a IA é, actualmente, “um dos mais importantes factores disruptivos do momento”. “Há quem diga que estamos a viver a quarta revolução industrial, e, de facto, no contexto dos importantes desafios que decorrem da transformação digital, a IA está a impactar fortemente todos os aspectos da nossa vida, rompendo, de forma generalizada, os nossos hábitos e formas de trabalhar, sendo importante estudar os seus progressos.” Para o presidente da AICEP, a IA é, cada vez mais, “uma mais-valia para pessoas e organizações”. “Temos de avaliar como conseguimos tirar melhor partido dessas soluções tecnológicas que vão permitir que as organizações melhorem a sua qualidade, aumentem a sua eficiência e reduzam entraves competitivos”, indicou o responsável. Grande “satisfação” Criada na Guiné-Bissau em 1990, a AICEP é constituída por todos os operadores de correios, telecomunicações e órgãos reguladores desta área dos países de língua portuguesa, incluindo Macau. “É grande motivo de satisfação continuarmos com esta ligação importante a Macau a fim de continuarmos com grandes actividades de cooperação em prol do desenvolvimento [do sector], pois, sendo nós uma associação focada no desenvolvimento das comunicações, devemos preservar um dos pilares estruturais da associação, que é a lusofonia.” O fórum, que conta também com a presença de representantes da área das telecomunicações de Hong Kong e China, representa “dois dias de trabalho em prol do desenvolvimento do sector das comunicações que é, talvez, um dos mais importantes motores de desenvolvimento de qualquer economia”. João Caboz Santana destaca a existência de “fortes laços de cooperação com os CTT e CTM em Macau, há vários anos”, entidades que categoriza como “importantes membros do nosso grupo associativo”. “O facto de estarem inseridos numa economia tão diferente da europeia, como é a asiática, faz com que haja uma partilha de desenvolvimento e soluções do que melhor que se vai fazendo nas economias asiáticas, já tão avançadas.” O responsável destaca a possibilidade de Macau, por estar integrada na economia chinesa, poder transmitir conhecimentos e experiências a outros países de língua portuguesa com menor grau de desenvolvimento na área das telecomunicações. “O desenvolvimento das telecomunicações nos países de língua portuguesa não é, de todo, semelhante, e temos de apostar nas soluções dos países mais desenvolvidos. Os países menos desenvolvidos têm, de facto, vantagens e benefícios oriundos dos que já têm um maior grau de desenvolvimento, podendo aprender com o que estão a fazer, evitando erros, saltando etapas e acelerando processos”, referiu. Neste sentido, “Macau, através dos seus membros [na AICEP], tem dado importantes contributos em prol da sustentabilidade e desenvolvimento de economias menos desenvolvidas no mundo português”. Camisola amarela Questionado sobre o grau de desenvolvimento do sector das telecomunicações de Macau face a Portugal e a outros países lusófonos, João Caboz Santana entende que o território está no pelotão da frente. “Macau já tem muito bom estado de desenvolvimento do sector das telecomunicações, com soluções bastante inovadoras e um mercado muito maduro e desenvolvido. Certamente que é um mercado que está na linha da frente no que diz respeito à oferta de produtos e serviços, sabendo oferecer aos mercados e clientes produtos com grande qualidade, a preços acessíveis e tão bons e avançados como o que de melhor se vai fazendo no resto da Europa.” Relativamente à progressiva integração do território na ilha de Hengqin e na Grande Baía, João Caboz Santa diz estar confiante e optimista, ainda que haja entraves a solucionar relacionados com diferenças de acesso a redes sociais e sistemas de pagamentos no mundo digital entre a RAEM e a China. “A ligação de Macau e China ao mundo que fala português é muito forte e ambas as partes desejam que se fortaleça. Há organizações locais, como é o caso do Fórum Macau, que têm feito um trabalho extraordinário no sentido de fazer crescer as relações entre todos. O facto de Macau estar cada vez mais inserido na economia chinesa não tem prejudicado a sua ligação aos países de língua portuguesa, bem pelo contrário.” O presidente da AICEP entende que “é do interesse da China e das regiões a existência de uma forte cooperação e intercâmbio em termos de trabalho, e isso reflecte-se também na área das telecomunicações”. “Macau tem sabido manter o desenvolvimento das comunicações em ligação com as comunidades lusófonas, proporcionando soluções que vão de encontro às necessidades dos clientes”, rematou. O segundo do dia do fórum, que arrancou hoje às 9h, conta com a presença de Raimundo do Rosário, secretário para os Transportes e Obras Públicas, que tem a tutela das telecomunicações no território. No mesmo painel falam ainda João Bento, CEO dos CTT em Portugal, bem como Derby Lau e Vandy Poon, administrador-delegado e CEO da CTM. De Portugal chega Alberto Pimenta, dos CTT em Portugal, que vai falar sobre as últimas novidades na área do comércio electrónico, enquanto Shi Wei, da Baidu AI Cloud, falará da área da IA na China. A regulação sobre a tecnologia em foco na edição deste ano do fórum será abordada no painel das 14h15 com a presença de Derby Lau, dos CTT locais, João Bento e Augusto Mota de Carvalho, presidente do conselho de administração da Angola Cables. Por sua vez, o “Impacto da IA no Mercado de Trabalho” será o tópico a debater a partir das 15h30, com a presença de Ivan Cheung, partner da consultora Delloite, na China ou José Arantes, director institucional e de arquivo da RTP – Rádio e Televisão de Portugal. Além do fórum de debate, realiza-se também a assembleia-geral da AICEP. O evento arrancou ontem no Hotel Sheraton.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaTrabalho | Ella Lei exige melhorias no combate a ilegais A deputada Ella Lei entende que a legislação local não é suficiente para combater os trabalhadores ilegais e dá como exemplo os profissionais de organização de casamentos que entram em Macau como turistas e trabalham temporariamente no território, bem como os motoristas transfronteiriços Há muito que a deputada Ella Lei, ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), coloca o trabalho ilegal na agenda. Na sua mais recente interpelação escrita submetida ao Governo o tema voltou a ser esse. Ella Lei entende que a legislação em vigor não é suficientemente eficaz para combater os casos de trabalho ilegal, e pede o reforço de inspecções realizadas em locais como estaleiros de obras ou armazéns. A deputada entende que a permanência de trabalhadores ilegais enfraquece o ambiente comercial das empresas locais, colocando em causa também os empregos dos residentes. Um dos exemplos apontados pela deputada é o dos motoristas que transportam mercadorias entre as fronteiras e que acabam por permanecer mais tempo em Macau do que o previsto, o que gera queixas do sector logístico local. “Como é que as autoridades supervisionam a situação. Quantas têm sido as inspecções feitas e as punições aplicadas nos últimos anos? Como é que as autoridades previnem os abusos do uso das licenças de condução entre fronteiras, assegurando os direitos laborais do sector de transportes?”, questionou. A responsável defende que o facto de os motoristas terem licença para conduzir entre territórios não significa que sejam qualificados para trabalhar em Macau. Segundo os regulamentos, estes só podem realizar o transporte de mercadorias entre a cidade de origem do interior da China e Macau, sem mais destinos incluídos. Uma vez que o território depende da importação de bens diversos e produtos alimentares, as autoridades locais permitiram que não residentes realizassem este serviço de transporte. Casamentos da discórdia Além das indústrias tradicionais, Ella Lei lança o alerta sobre novos segmentos de mercado que começam a receber em Macau pessoas que entram no território como turistas e que temporariamente realizam trabalho ilegal no território, uma situação associada ao desenvolvimento económico. Trata-se dos fotógrafos ou videógrafos de casamentos oriundos da China, bem como maquilhadores, que são contratados, muitas vezes através das redes sociais, pelos casais. Muitos residentes com empresas nesta área queixam-se, assim, da perda de clientes. “Os clientes são encontrados nas redes sociais para a prestação de serviços de maquilhagem ou fotografia, e os profissionais violam a lei quanto à finalidade da entrada no território, trabalhando ilegalmente. As receitas das empresas locais sofrem um impacto negativo”, frisou.
Andreia Sofia Silva SociedadeAeroporto com mais 66 % de passageiros face a 2023 O Aeroporto Internacional de Macau registou mais 66 por cento de volume de passageiros nos cinco dias de férias associados ao Dia do Trabalhador, ou seja, entre 1 e 5 de Maio, em relação a 2023. Segundo um comunicado da CAM – Sociedade do Aeroporto Internacional de Macau, registaram-se nestes dias 908 voos com 109.592 passageiros, sendo que o pico de voos ocorreu no dia 1 de Maio, com 201 voos e 26.314 passageiros. Já o aumento do movimento de aeronaves no aeroporto, foi de 59 por cento face ao mesmo período do ano passado. Em relação a 2019, trata-se de um aumento de 80 por cento no volume de passageiros e de 85 por cento no movimento de aeronaves. As rotas oriundas da China representaram 44 por cento do total, seguindo-se Taiwan com 11 por cento e rotas internacionais a representar 45 por cento. A CAM aponta, em comunicado, que pretende aumentar o número de rotas a circular por Macau para 22 percursos ligados ao interior da China, três a Taiwan e 14 internacionais, operados por 29 companhias aéreas. Descreve-se ainda que os passageiros passam a ter acesso a mais voos directos além de poderem beneficiar “da rede de rotas europeias e americanas, permitindo uma transferência de bagagem sem problemas e uma viagem conveniente para os seus destinos finais”. A CAM anunciou ainda que a Korean Air, companhia aérea sul-coreana, planeia lançar no segundo semestre deste ano, nomeadamente em Julho, uma nova rota de ligação entre Macau e Seul. Além disso, deverá ser lançada, antes do final do ano, uma nova rota entre Seul e Lisboa, o que irá permitir que os passageiros viajem directamente de Macau para Portugal via Seul. Cria-se, assim, “uma ponte de ligação entre os dois destinos, o que é conveniente para o turismo, cultura e economia”, destaca a CAM.
Andreia Sofia Silva EventosCinemateca Paixão | Maio traz ciclo de cinema dedicado a Cheong Chi Wai O realizador de Macau Cheong Chi Wai tem direito, este mês, a um ciclo de cinema dedicado aos quatro filmes que realizou até agora. As películas podem ser vistas no próximo fim-de-semana, com duas exibições no domingo. Destaque ainda para dois filmes exibidos no âmbito do ciclo “May Charms” Um novo mês na Cinemateca Paixão arranca com o destaque dado a um realizador local. O nome escolhido é Cheong Chi Wai, cujos quatro filmes produzidos até à data serão exibidos no próximo sábado a partir das 16h e domingo a partir das 11h30 e 14h. Cheong Chi Wai, nascido em Macau, acabou por se formar em realização, com licenciatura e mestrado, na Universidade Nacional de Artes de Taipei, Taiwan. Realizou um estágio na Golden Horse Film Academy, que organiza os grandes prémios de cinema desta região, além de ter trabalhado também na academia de cinema na Bucheon International Fantastic Film Festival Film Academy, e no projecto “FIRST Training Camp”. Estreou-se em nome próprio com “Someone Who Was Lost”, filmado em Hong Kong, tendo apresentado, em 2012, “La Maison de la Memóire” [A Casa da Memória] que conta a história de um homem que está desempregado, mas que todos os dias finge que sai de casa para ir trabalhar. A mãe faz de tudo para proteger a família, enquanto o filho sonha estudar no estrangeiro. Os constrangimentos e dificuldades por que têm de passar no dia-a-dia leva-os a tentar perceber o que está nos seus corações. Um aparente final feliz acaba por mostrar que, afinal, nem tudo está resolvido. Depois desta película, Cheong Chi Wai apresentou, em 2015, “Cup Noodles”, uma história simples que gira em torno de duas raparigas, duas taças de noodles e um segredo. No ano seguinte, foi a vez de estrear “Log in Dinner”, que remete para a solidão sentida por tantos idosos que vivem sozinhos. Neste caso, é o chefe de cozinha reformado Wei que vive uma vida monótona e repetitiva, e que um dia organiza um jantar com o seu filho, nora e neto, onde a comunicação não flui. A vida ganha nova cor quando Wei descobre um canal online em que uma jovem grava o seu jantar. O filme mais recente deste realizador, “The Son”, é de 2019 e centra-se numa jovem mulher que descobre um filho que o marido teve de uma anterior relação. Charmes de Maio “May Charms” é o nome do outro ciclo de cinema que pode ser visto este mês na Cinamateca Paixão e que apresenta dois filmes: “All Shall Be Well”, realizado este ano em Hong Kong, e que será exibido na próxima sexta-feira, domingo, e depois nos dias 18 e 25. Este filme, do realizador Ray Yeung, estreou-se mundialmente na secção “Panorama” da 74.ª edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim, tendo ganho um “Teddy Award” pelo melhor filme com a temática LGBTQ+. A película foi ainda o filme de abertura na 48.ª edição do Festival de Cinema de Hong Kong. “All Shall Be Well” gira em torno da história do casal lésbico Angie e Pat, cujo rumo da relação se altera quando Pat morre de forma súbita. “(Ab)normal Desire”, filme japonês que teve ontem a sua primeira exibição, será novamente exibido no sábado, bem como nos dias 15, 19 e 28. Esta obra é do realizador Yoshiyuki Kishi e baseia-se no romance de sucesso “Seiyoku”, de Ryo Asai. Ainda em “May Charms” será exibido “The Old Oak”, de Ken Loach, nos dias 18, 22, 26 e 29 deste mês. Este filme recebeu em Cannes a nomeação “Palma d’Ouro” em 2023, além de que Ken Loach já venceu por duas vezes esta distinção no mesmo festival de cinema. Este ciclo encerra-se com “Snow Leopard”, exibido nos dias 16, 21, 25 e 29. Este filme teve a sua estreia mundial no Festival de Cinema de Veneza, tendo sido dirigido pelo realizador tibetano Pema Tseden. Trata-se de uma história de “humanidade e espiritualidade, vida e fé”, girando em torno do tema do lugar do homem na sociedade. Clássico chinês Importa ainda mencionar, no programa deste mês da Cinemateca Paixão, da exibição de um clássico do cinema chinês restaurado. Nos dias 12, 17 e 25 de Maio será exibido “Terrorizers”, de 1986, que ganhou, no mesmo ano, a categoria de “Best Feature Film”, dos Golden Horse Awards, além de ter obtido o prémio Leopardo de Prata no Festival de Cinema de Locarno do ano seguinte. Da autoria de Edward Yang, o filme conta a história do casamento de Yu Feng e Li Zhong, construindo um contexto em torno dos sentimentos de solidão, despeito e violência na sociedade moderna.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteZona A | Redução de espaços verdes no plano pormenor não preocupa Anunciado em Março, o Plano de Gestão para a Zona Este prevê uma menor área verde face ao prometido em 2022. Arquitectos desvalorizam a alteração, afirmando que o planeamento de Macau tem de ser feito a uma escala metropolitana ou com foco na zona costeira. Ainda assim, existem críticas ao planeamento dos aterros O futuro mora na zona norte e na conexão que terá à zona A dos novos aterros, criando um novo foco habitacional e societário, com promessas de mais infra-estruturas e acessos. Anunciado em Março, o Plano de Gestão para a Zona Este – Distrito 2, que comporta a zona A e ilha artificial que estabelece a conexão com a zona A, tem, afinal, menos 50 por cento de espaços verdes face ao que foi prometido pelo Governo na consulta pública de 2022. Segundo o portal Macau News, a quebra em termos de espaços verdes ou vazios é hoje 47 por cento menor, passando de 711 mil metros quadrados para 373,719. A grande maioria do espaço contemplado no plano será usado para habitação, que irá albergar cerca de 96 mil moradores. Ainda segundo a mesma fonte, “o plano não menciona se o Governo Central assinou ou não um projecto de recuperação de 0,36 quilómetros quadrados que foi proposto em 2022”. Caso este projecto vá avante, o novo terreno “deverá ser reservado para espaços verdes e será construído na área entre a costa noroeste da Zona A e a costa nordeste da península de Macau”. Nos 373.719 metros quadrados previstos para a área verde do plano, inclui-se a construção de um corredor verde central que atravessa de norte a sul do aterro, prevendo-se ainda a implementação de “corredores de arborização que ligam as extremidades este e oeste da área de intervenção, delimitada por quatro zonas, e um corredor verde marginal a envolver a costa”. A redução de espaços verdes não assusta os arquitectos André Ritchie e André Lui, que preferem olhar para alternativas que se vão criando em torno do rápido desenvolvimento do território. “Relativamente ao ambiente verde da zona A, penso que não nos devemos concentrar apenas na taxa de ecologização, pois trata-se de uma zona com uma importante linha costeira. O planeamento deve centrar-se no aproveitamento da linha costeira como um novo espaço de lazer”, disse André Lui. Já André Ritchie, arquitecto que esteve ligado ao projecto de construção do Metro Ligeiro, considera que está na altura de pensarmos no desenvolvimento urbanístico de Macau de uma forma global e integrada na Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. “Não podemos mais pensar o planeamento de Macau e o ordenamento territorial apenas à escala da RAEM. Temos de olhar para a escala da Grande Baía. Não é de todo inconcebível pensarmos que Macau pode ter uma densidade populacional maior e que, à nossa volta, temos espaços verdes disponíveis. No meu caso, moro na Taipa, e demoro menos tempo a ir a Hengqin do que ao posto fronteiriço da futura zona A. Demoro mais tempo a ir até este posto fronteiriço do que depois na ponte a caminho de Hong Kong. Aí faço caminhadas em Lantau, tenho esse contacto com a natureza”, exemplificou. Em termos de integração e interligação territorial, o arquitecto destaca o alargamento das possibilidades de condução, com a política que permite a circulação em Guangdong, e o facto de “as fronteiras serem hoje mais permeáveis”, o que levou as vidas dos residentes a uma “escala metropolitana”. André Ritchie dá também o exemplo de cidades europeias, nomeadamente Lisboa, onde cada vez mais a população vive nos subúrbios, deslocando-se de carro ou transportes e trabalhando no centro. “Temos espaços verdes aqui à volta, e bastante perto. Aí atenua-se um pouco [a falta de espaços verdes], pelo que não encaro esta questão como merecedora de grande preocupação”, apontou. Necessidade de reformulação André Ritchie adiantou que “a grande maioria das pessoas concorda com a criação de mais áreas verdes e esses espaços vazios, que são bem-vindos a Macau, dada a alta densidade habitacional que existe”, sobretudo na zona norte. Contudo, o planeamento do território exige “equilíbrio entre interesses públicos e privados, políticos e económicos”, destacou. “Os planos têm de ser revistos periodicamente. Não sei se entre o período da consulta pública e dois anos depois, se o Governo não terá entendido o enquadramento geral da cidade, no contexto da Grande Baía, com fronteiras cada vez mais maleáveis.” “Com essas mudanças, os planos são revistos e isso tem de ser encarado com alguma naturalidade. Mas poderá levantar-se a questão de eventuais espaços verdes que poderiam estar construídos e que agora não serão implementados”, disse. Oportunidades perdidas O arquitecto Mário Duarte Duque tem uma posição contrária, lamentando a redução dos espaços verdes e afirma que os novos aterros são “intervenções marcantes no desenvolvimento urbanístico da RAEM dada a sua dimensão” que, no entanto, “tiveram poucos avisos em consideração e que, até agora, não consolidaram conhecimento”. Do ponto de vista da forma urbana, os novos aterros “também não nutrem grande entusiamo” por parte do arquitecto. Isto porque “pela primeira vez na RAEM prosseguiram-se com planos de pormenor onde apenas as infra-estruturas estiveram em comando, e não a forma urbana”, pelo que “a geografia e a arquitectura não tiveram intervenção de relevo”. O arquitecto destaca ainda o facto de a elaboração dos planos de pormenor, ao abrigo do novo Plano Director da RAEM, pecarem por tardio em termos de ordenamento. “Promoveu-se a elaboração de planos pormenor para que a ocupação dos lotes não continuasse a ser feita por Plantas de Condições Urbanísticas (PCU) avulsas e discricionárias. O certo é que quando foi efectuada a consulta pública para o plano pormenor da zona A já tinha existido a necessidade de elaborar PCU e os edifícios estavam já em construção. Neste cenário, muito pouco há a recomendar que possa ser de oportuna utilidade.” Questão de temperaturas Mário Duarte Duque realça também as consequências climáticas do excesso de construção. “O facto de, na versão final do plano pormenor, se terem comprometido áreas verdes inicialmente previstas significa que, aí, o espaço urbano será mais quente do que o inicialmente estimado, se é que foi estimado. A temperatura atmosférica das cidades é consequência dos materiais da camada superficial.” O arquitecto entende que o plano pormenor “prepara-se para se apropriar de corpos de água, sem tirar partido do modelo de aterros preconizado”, devido “à possibilidade de compensar a redução de espaço livre com acréscimo de área de aterro”. Tendo em conta que os aterros em construção vieram dotar a RAEM “de um significativo perímetro de frente hídrica”, tal significa que existe uma “importante componente reguladora da temperatura atmosférica”. Reduzir espaços verdes, ou livres, tem um impacto negativo na relação da cidade com a água envolvente e a radiação solar, denota ao HM Mário Duarte Duque. “A água precisa de muito mais radiação solar para elevar a sua temperatura, comparativamente com o solo e com os materiais de que as cidades são feitas. Ou seja, para a mesma radiação solar, a água aquece menos, e essa diferença não só é geradora de equilíbrio, como desenvolve ventos locais nas frentes hídricas, que penetram no espaço urbano mediante uma adequada forma urbana, e que são desejáveis. Prescindir desses corpos de água significa afastar a cidade ainda mais da sua frente hídrica, e anular características que são favoráveis”, rematou. A zona destinada a habitação prevista no plano pormenor da zona tem uma área total de 433.649 metros quadrados, servindo para a construção de 49 lote de edifícios e 15.255 metros quadrados de área comercial distribuídos em três lotes.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaDefinição dos preços das casas económicas sem ilegalidades, diz CCAC O Comissariado contra a Corrupção (CCAC) considera que não existem quaisquer ilegalidades cometidas pelo Governo na definição dos preços de venda e rácios bonificados da habitação pública. Esta é a conclusão de uma investigação levada a cabo após um grupo de residentes ter apresentado uma queixa formal no CCAC sobre alegadas irregularidades no processo de definição de preços das futuras casas nos lotes B4, B9 e B10 da zona A dos novos aterros, afixados no despacho do Chefe do Executivo publicado em Abril. O CCAC conclui que o despacho “está em consonância com as disposições da antiga Lei da Habitação Económica”, além de que o conteúdo das queixas “não está relacionado com ilegalidade ou irregularidade de procedimentos ou actos administrativos, estando apenas em causa actos normativos ou medidas administrativas” do Executivo. Segundo a mesma análise, a decisão quanto aos montantes usados para calcular os valores foi discricionária, pois “não existe na lei normas imperativas sobre esta matéria”. Além disso, entende-se que “existiu confusão, segundo o conteúdo das queixas, entre os pré-requisitos para a apreciação e aprovação de candidaturas, nomeadamente, o limite mínimo de rendimento mensal dos candidatos, e os critérios de preços de venda da habitação económica”. Para o CCAC “não existe, de facto, uma relação obrigatória de indexação no âmbito jurídico entre essas duas realidades”. Informar melhor Em relação às críticas de falta de transparência sobre os preços das casas económicas, o CCAC confirmou que “a Administração Pública e os serviços competentes esclareceram, de imediato e por diversas formas, o público sobre a forma concreta de cálculo dos preços de venda e dos rácios bonificados de habitação económica”, confirmando-se, assim, “a legalidade da forma de cálculo”. Ainda assim, o organismo defende que os serviços públicos devem “ponderar mais sobre os trabalhos de divulgação de informações e de promoção da generalização dos conhecimentos nesta área”.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeDia do Trabalhador | Nem os feriados salvaram os negócios locais Apesar de Macau ter recebido mais de 600 mil turistas nos cinco dias associados aos feriados do 1º de Maio, a verdade é que o pequeno comércio não registou mais clientes. Pelo contrário: dados da Federação da Indústria e Comércio de Macau Centro, Sul e Distritos falam em quebras de 30 a 40 por cento. Na zona norte, porém, o mau tempo até ajudou os residentes a ficarem em Macau e consumirem Não está fácil a vida dos pequenos lojistas e comerciantes. Apesar do território ter recebido, nos cinco dias associados ao feriado do 1º de Maio, Dia do Trabalhador, um total de 604.395 visitantes, uma média de 120.879 por dia, a verdade é que os negócios não ganharam com isso. Segundo um balanço feito pela Federação da Indústria e Comércio de Macau Centro, Sul e Distrito, os comerciantes dos sectores do comércio e retalho nas zonas centro e sul do território registaram quebras de vendas na ordem dos 30 a 40 por cento em termos anuais. Citado pelo jornal Exmoo, Lei Cheok Kuan, presidente da federação, explicou que, apesar do fluxo de visitantes não ter sido mau, os consumidores optaram por não comprar nas lojas devido ao mau tempo que se registou. Além disso, o responsável diz que os visitantes adoptaram uma postura mais prudente em matéria de consumo em relação a igual período do ano passado. Apenas as lojas com vendas online registaram uma menor quebra no volume de negócios, acrescentou o responsável. Se o impacto das fortes chuvas que caíram em Macau se sentiu mais na zona centro e sul, a verdade é que a zona norte, que há muito sofre com a quebra do consumo por parte de residentes, até beneficiou com a chuva. Porém, segundo Wong Kin Chong, presidente da Associação Industrial e Comercial da Zona Norte de Macau, as chuvas que caíram na última semana de forma abundante, e que pioraram a situação do trânsito, poderão ter contribuído para os residentes comprarem mais no território. O responsável disse que o número de visitas dos turistas nesta zona ficou abaixo do previsto, mas os negócios até registaram uma subida ligeira, sendo que o sector da restauração registou um crescimento no volume de negócios na ordem dos 10 por cento. Sistema mudou A quebra do consumo em algumas zonas do território, com mais ou menos turismo, e potenciada por diversos factores, mostra que o modelo de negócio e consumo registou alterações nos últimos anos e, segundo os responsáveis, há que reagir face a esse cenário. Lei Cheok Kuan entende que houve, de facto, uma mudança na forma como se consome nos dias de hoje, com um domínio das vendas online. Pelo contrário, há quebras sucessivas na chamada economia real, nas compras feitas presencialmente, defendeu. Porém, no caso de Macau, e apesar de ser um dos territórios integrantes da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, não existe uma integração plena no sistema de comércio online do país, defendeu. Lei Cheok Kuan frisou que Macau tem plataformas de pagamentos electrónicos e de venda de produtos, mas persistem entraves e burocracias nas áreas da importação e exportação de mercadorias, sem esquecer a logística. Lei Cheok Kuan alertou que, se o Governo não melhorar estes entraves ao comércio, as pequenas e médias empresas não conseguem fomentar as vendas, mesmo que tenham presença online. Assim sendo, o dirigente associativo pede que sejam criados mais incentivos públicos para o desenvolvimento do sistema de vendas online e melhoria do sector logístico. Além destas questões, Wong Kin Chong entende que uma melhoria no sistema de trânsito também traria benefícios, bem como apoios adicionais às empresas. Já Wong Kin Chong, entende que deve haver um equilíbrio entre o aumento dos turistas e o sistema de transportes no dia-a-dia, pois a população queixa-se do congestionamento de turistas sentido nos cinco dias associados ao feriado do Dia do Trabalhador. Dados divulgados pela Direcção dos Serviços de Turismo (DST) depois do fecho da edição revelam que entre os dias 1 e 5 de Maio Macau recebeu 605 mil visitantes, mais 23,2 por cento face à média diária do mesmo período do ano passado. A taxa média de ocupação hoteleira atingiu cerca de 89,2 por cento. Só no dia 3 de Maio visitaram Macau 154 mil pessoas, “sendo o maior número de entradas diárias registado durante os feriados do Dia do Trabalhador”. Trata-se de um acréscimo de 23,2 por cento face a 1 de Maio de 2023. Em termos da estrutura das fontes de visitantes, 487 mil vieram do Interior da China, 78 mil de Hong Kong, 80 mil da região de Taiwan e 32 mil internacionais. Relativamente à taxa de ocupação máxima diária dos hotéis foi de 95 por cento, sendo que a taxa média de ocupação, nos cinco dias, foi de 89,2 por cento, um aumento de 4,5 pontos percentuais em comparação com os feriados do Dia do Trabalhador do ano passado. A taxa de ocupação mais elevada foi registada no dia 2 de Maio, atingindo os 95,1 por cento.
Andreia Sofia Silva PolíticaCasas de câmbio | Coutinho defende actualização da legislação O deputado José Pereira Coutinho interpelou o Governo quanto à necessidade de actualizar a legislação sobre o funcionamento das casas de câmbio, tendo em conta que o diploma base, o Regime de Constituição e Actividade das Casas de Câmbio, vigora desde 1997. Segundo o deputado, a legislação “está manifestamente desactualizada da realidade e não resolve os múltiplos problemas relacionados com a troca de divisas”. Coutinho relaciona a desactualização da lei com o aumento dos casos de burla no território envolvendo troca de dinheiro, ligado ainda ao facto de “as concessionárias de jogos praticarem taxas de juros elevadas e monopolizarem ‘artificialmente’ este negócio”. Os empresários locais, por sua vez, “enfrentam dificuldades na obtenção de espaços para arrendamento para instalar casas de câmbio que possam oferecer taxas de câmbio mais baixas e competitivas”. Assim, “a ausência de opções de casas de câmbio com taxas mais vantajosas”, contribui para mais casos de burlas associadas a trocas de dinheiro, com as vítimas a considerarem estes esquemas “alternativas às altas taxas de juros praticadas pelas concessionárias de jogos”. Coutinho não esquece ainda os “avanços das novas tecnologias”, não abrangidos pela lei antiga.
Andreia Sofia Silva EventosRua da Felicidade acolhe Semana da Moda e exposição Se pensarmos no mundo da moda, há sempre cidades que assumem o protagonismo em matérias de produção de colecções, elegância e beleza. Destaca-se Milão, Paris ou Londres, na Europa, embora, nos últimos anos, a moda asiática se venha destacando cada vez mais, com a crescente presença de Pequim ou Hong Kong nos palcos mundiais desta indústria. Macau, com uma dimensão bem mais reduzida, quer agora dar os primeiros passos na profissionalização deste sector, aliando o universo da moda ao património. Depois do lançamento do projecto “Zona Pedonal da Rua da Felicidade”, eis que a operadora de jogo Wynn apostou na “Semana da Moda da Rua da Felicidade”, convidando estilistas locais a apresentarem as suas colecções. O desfile na zona pedonal da Rua da Felicidade decorreu na sexta-feira, tendo contado com a presença de dez marcas locais de moda “que melhor se destacaram em termos de criatividade e originalidade” no convite aberto lançado anteriormente pela operadora de jogo. Assim, foram apresentadas as colecções destes estilistas para a época da Primavera/Verão deste ano, com 70 conjuntos a poderem ser vistos. Como complemento a esta semana da moda, a Wynn decidiu criar uma exposição temporária destas roupas, que podem ser vistas pelo público na Rua da Felicidade até ao dia 2 de Junho. A ideia é que esta exposição possa ser “uma janela para o mundo elegante da moda de Macau”, além de contribuir para “aumentar a visibilidade das marcas locais e gerar mais oportunidades de negócio”. Parcerias locais Este evento foi organizado em conjunto com algumas das entidades locais que mais trabalho têm realizado em prol do desenvolvimento de uma indústria de moda em Macau, nomeadamente o Centro de Produtividade e Transferência de Tecnologia de Macau (CPTTM) e a Faculdade de Ciências Humanas e Artes da Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau (MUST). O Instituto Cultural é também a entidade dinamizadora deste tipo de eventos que visam dar um novo aproveitamento a espaços antigos da cidade. Com a realização da semana da moda e consequente exposição, a Wynn diz querer também “revitalizar as empresas da comunidade através das artes e da cultura”, além de “oferecer uma experiência única de turismo cultural e de moda aos residentes e visitantes”. Destaca-se ainda a importância da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau na ligação a este tipo de iniciativas. “Através da arte e cultura a Wynn espera atrair mais visitantes a Macau e à zona da Grande Baía criando novas e ricas experiências turísticas, além de festividades vibrantes”, lê-se ainda. Apesar de ter uma indústria da moda já com alguns nomes locais, a verdade é que são poucos os desfiles realizados para a comunidade local. Destaca-se o evento Macau Fashion Link que, em 2011, trouxe ao Albergue da Santa Casa da Misericórdia diversos nomes do mundo da moda lusófono, como Dino Alves ou a macaense Bárbara Barreto Ian. Com maior frequência, realizam-se desfiles de moda no Cotai a fim de mostrar o trabalho desenvolvido por designers locais formados no CPTTM.
Andreia Sofia Silva EventosFAM | Teatro em patuá apresenta “Unga Istrêla ta vem” A 34.ª edição do Festival de Artes de Macau (FAM) já arrancou e, no próximo fim-de-semana, traz a estreia de mais uma peça em patuá, com o cunho dos Dóci Papiaçam di Macau. Trata-se de “Unga Istrêla ta vem”, em português, “Chega uma Estrela”. O cartaz do FAM inclui ainda a apresentação de uma ópera em cantonense Um dos grandes atractivos do programa do Festival de Artes de Macau (FAM) chega no próximo fim-de-semana pela mão dos Dóci Papiaçam di Macau. A peça “Unga Istrêla ta vem”, “Chega uma Estrela”, em português, apresenta-se no grande auditório do Centro Cultural de Macau (CCM) no sábado e domingo a partir das 20h. A peça, escrita e encenada por Miguel de Senna Fernandes, presidente da Associação dos Macaenses, centra-se em torno de Délia, uma professora de teatro, e Giselda, uma ex-junket que está à beira da falência por ter ficado sem emprego. As grandes temáticas do território vão-se contando à medida que a vida destas duas mulheres se cruza, sempre com laivos de ironia e humor tão próprios do teatro em patuá, crioulo tipicamente macaense e já em vias de extinção. De frisar que o teatro em patuá passou a estar inscrito, em 2021, na Lista do Património Cultural Intangível da China. Também no próximo fim-de-semana se apresenta, no Parisian Theatre, o espectáculo de ópera cantonense “Sob a Árvore dos Pagodes”, protagonizado pela Associação de Ópera Cantonense Zhen Hua Sing. O espectáculo de sábado começa às 19h30 e, no domingo, acontece às 14h30. A peça centra-se em torno do mundo das divindades, quando a Sétima Fada, filha do Imperador Celeste, espreita o mundo dos comuns dos mortais a partir do céu. É então que esta fada se comove com as dificuldades de Dong Yong, filho que tenta sepultar o pai com a maior dignidade possível. Cansada da vida divina e perfeita que leva nos céus, a Sétima Fada desce à terra e casa-se com Dong Yong debaixo da árvore de pagodes. Porém, o romance só passa a ser do conhecimento do imperador 100 dias depois, e é aí que as dificuldades dos apaixonados começam. Esta história é a base da lenda chinesa de Dong Yong e da Sétima Fada que permanece no imaginário popular até hoje, tendo já inspirado muitos espectáculos de ópera e séries de televisão. A versão que agora se apresenta no FAM foi criada pela associação local de ópera, levando ao palco o consagrado actor Chu Chan Wa juntamente com um elenco de actores locais. Arte em todo o lado Por sua vez, no Teatro D. Pedro V, é a vez de subir ao palco o espectáculo “Frankenstein/Criaturas”, sábado e domingo em dois horários, nomeadamente às 15h e às 20h. Com encenação do grupo “Espaço para Agir”, em colaboração com a companhia japonesa “Momentos Teatrais” esta peça baseia-se na história de “Frankstein”, de Mary Shelley, escrita há quase 200 anos, estabelecendo agora uma conexão com a tecnologia. A pensar nos mais pequenos inclui-se ainda no programa do FAM a peça “O Livrinho”, encenada pelo Teatro Baj, com sessões entre sexta-feira e domingo para bebés dos seis aos 18 meses e crianças dos 18 meses aos três anos. O espectáculo acontece no Estúdio II do CCM. Destaque ainda para a inauguração, no sábado, da exposição “Foco: Integração Artística entre a China e o Ocidente nos Séculos XVIII-XIX”, patente no Museu de Arte de Macau (MAM). Esta exposição apresenta um total de 300 peças de pinturas de exportação e obras no estilo de George Chinnery, provenientes principalmente do MAM e do Museu de Guangdong. Apresenta-se ainda uma selecção de obras oriundas do Museu de Arte de Hong Kong. Segundo a organização do FAM, têm lugar nesta mostra “três perspectivas distintas ao nível do estilo, técnicas e materiais”, revelando-se o “diálogo visual e a integração entre a China e o Ocidente, promovidos por artistas locais e estrangeiros no Delta do Rio das Pérolas, durante os séculos XVIII e XIX”.
Andreia Sofia Silva SociedadeG2E Asia realiza-se em Macau em Junho ao lado da Asian IR Expo A G2E Asia está de regresso a Macau depois de um longo interregno devido à pandemia, marcado pela presença em Singapura. Desta vez, aquela que é considerada uma das maiores feiras da indústria do jogo e resorts irá realizar-se entre os dias 4 a 6 de Junho no Venetian. A ideia, segundo um comunicado do evento, é revelar as últimas novidades na área dos casinos, resorts integrados e entretenimento associado a este universo, com uma grande ligação à temática das novas tecnologias. O regresso da G2E Asia a Macau serve ainda para comemorar os 15 anos de existência do evento, que este ano se realiza em conjunto com a Asian IR Expo. Espera-se, assim, a apresentação das últimas novidades em matéria de gestão de identidade em espaços de jogo, segurança, hotelaria e ainda a gestão de relacionamento entre operadores e clientes. O evento contará com uma “Zona de Tecnologia” [Technology Zone] e ainda com um “Palco de Conversas sobre Tecnologia” [Tech Talk Stage]. Serão apresentados mais de 100 expositores num espaço com mais de 20 mil metros quadrados. “Dar-se-á prioridade tanto à quantidade como à qualidade dos expositores”, sendo que tanto a G2E Asia como a Asian IR Expo dizem estar comprometidos “com o principal objectivo que é serem pontos-chave para a indústria, criando valor e oportunidades para todos os accionistas” das empresas presentes. Espera-se três dias de sessões “com conteúdos ricos” protagonizados por “líderes do sector, influencers ou especialistas”, com foco em temáticas como o panorama financeiro dos mercados de jogo asiáticos, dois painéis dedicados “aos mercados emergentes, com foco na Tailândia e Médio Oriente” e ainda uma sessão com especialistas de tecnologia a discutir o impacto da inteligência artificial nesta área e matérias de cibersegurança. Segundo um comunicado da G2E Asia, irão participar responsáveis de bancos de investimento e consultoras, como é o caso do Morgan Stanley, Bloomberg Intelligence ou ainda a PricewaterhouseCoopers. Foco no desporto No caso da Asian IR Expo, trata-se de um evento “emergente dedicado à indústria dos resorts integrados”, sendo este o segundo ano da sua realização. Além das zonas dedicadas aos painéis sobre tecnologia, este evento, paralelo à G2E Asia, terá ainda uma “Zona de Desporto e Entretenimento” [Sports and Entertainment Zone], focada nos temas da gestão desportiva, entretenimento ao vivo e marketing ligado ao desporto. Conta-se ainda com um painel de oradores neste evento paralelo, nomeadamente Helena de Senna Fernandes, directora da Direcção dos Serviços de Turismo, ou ainda Leong Wai Man, presidente do Instituto Cultural, entre outros.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteJoão Santa-Rita, arquitecto | As cidades invisíveis João Santa-Rita trouxe ao Albergue SCM a exposição “Desenhar para Revelar”. A mostra, que termina amanhã, tem como epicentro o conflito entre o edificado e espaços vazios em tecidos urbanos imaginados. O arquitecto e antigo colaborador de Manuel Vicente não crê no desaparecimento da arquitectura portuguesa de autor em Macau “Desenhar para Revelar” contém desenhos feitos nos últimos cinco anos. Que mensagens transmitem estes esboços? A exposição inaugurou primeiro em Lisboa. Não é uma exposição sobre Macau, mas ao mesmo tempo é, no sentido em que não se reporta a nenhuma cidade em particular, mas, ao mesmo tempo, a todas. Por isso mesmo foi concebida para ser itinerante. É uma forma de celebrar o que é a cidade e o que são as suas componentes do espaço público e construído. São desenhos que traduzem esse diálogo do conflito entre o edificado e o não edificado. Macau é, como todas as cidades, um lugar que tem espaços para serem vividos pelas pessoas e outros que estão envolvidos por edifícios. Os desenhos são também sobre o papel que os edifícios desempenham numa cidade, se são de acompanhamento ou se marcam determinados lugares. São desenhos que não são do foro do real. De alguma forma implicam alguma pesquisa. Mas são imaginados, ficcionais? Sim, são desenhos ficcionais. A primeira série de desenhos da exposição é quase uma série de reflexão ou elogios sobre a forma como os espaços públicos foram evoluindo na sua forma, desde a Roma antiga até aos nossos dias. É uma sequência de 12 desenhos. Sobre o Novo Bairro de Macau em Hengqin. Decerto percebeu que a integração regional de Macau está em marcha… são fundamentais estes projectos? Das quais que mais me surpreenderam em Macau face a 2019 foi aperceber-me da actual envolvente do território. Passou de um conjunto de ilhas despovoadas para uma grande ocupação e desenvolvimento. Macau já não é um território isolado, que apenas tinha uma companheira, Zhuhai, e que hoje tem um desenvolvimento que se propaga além daqueles limites. Percebi que já existe alguma vida, com deslocações, por exemplo. Imagino que isso também possa modificar a própria vida de Macau neste relacionamento. Em termos de planeamento urbanístico, a época em que fez arquitectura em Macau era uma fase de plena experimentação? Nessa altura, e reporto-me aos anos 80, Macau vivia muito à conta dos planos que se iam fazendo. Não havia um plano director, e as coisas, no coração da cidade, eram feitas mediante a gestão urbanística corrente, com as regras de construção. Havia os planos, mas iam crescendo por agregação. Sei que o plano director foi uma questão bastante debatida, e foi certamente um grande passo na transformação de Macau. É um plano mais orientador e abrangente do que a fase em que se ia desenvolvendo plano a plano, sem nunca existir uma visão estratégica sobre o território. Planeava-se conforme as necessidades, mas não havia uma ideia conjunta de como o território se iria desenvolver ou relacionar com os territórios envolventes. Se pensarmos na dinâmica que têm estas áreas, em que as coisas se desenvolvem num instante, é fundamental ter essa visão abrangente sobre um território. Considera que surgiram erros, difíceis de colmatar, saídos desse panorama? Não lhe sei bem dizer, porque Macau, no período em que lá vivi, a ocupação [dos solos] era muito centrada no que já estava construído, nomeadamente a zona do ZAPE, pois não havia ainda sequer o NAPE. A zona desenvolvida terminava sensivelmente no Hotel Lisboa. Havia umas coisas dispersas na Taipa, umas torres onde habitavam muitos professores, funcionários do Governo e de outras instituições, e pouco mais do que isso. Creio que esse tipo de gestão não terá sido danoso para o território. Já apanhei o final do período em que estavam a ser planeados alguns projectos, mas não a sua implementação. Quando regresso a Macau, quase 20 anos depois, já estava muita coisa transformada, então não tenho a visão do que possa ter corrido melhor ou pior nessa altura. Trabalhou com Manuel Vicente. Foi uma boa experiência, o que mais aprendeu com ele? É difícil dizer que não se aprendeu nada com ele. Aprende-se sempre muito. Já tinha uma relação forte com ele, sobretudo porque o meu pai e Manuel Vicente partilharam trabalho durante muitos anos, num atelier conjunto. Não era alguém que me fosse estranho, mas era alguém com quem tinha muita vontade de trabalhar. Foi logo muito surpreendente a escala do que se fazia, que era completamente distinta de Portugal, muito maior. Manipulávamos programas e projectos completamente distintos, edifícios de escritórios, grandes edifícios de habitação. Em Lisboa experimentava trabalhar em projectos de edifícios com quatro ou cinco andares, mas quando cheguei a Macau trabalhámos logo um edifício com 17 andares, o World Trade Center. De alguma forma variava a própria velocidade com que era necessário que as coisas ocorressem em Macau. Em Portugal, os projectos podiam ser feitos no prazo de um ano ou dois, mas em Macau aquilo acontecia em dois ou três meses. Isso obrigava a uma forma de trabalhar e pensar o projecto muito distinta, a definir estratégias particulares para cada um e depois desenvolvê-las, sempre num processo muito participativo. Isso foi o que gostei em Macau e no atelier de Manuel Vicente. O seu imaginário tinha muito a ver com a experiência de vida e vivências no território, e isso era muito gratificante. Considera que depois da transição as autoridades deram maior atenção à preservação do património do que nos anos 80? A forte identidade de Macau sempre dependeu muito disso, da preservação de muitos traços do seu passado e da sua ocupação em diversos momentos. Aí reside a diferença, pois não se trata apenas de um território novo, tem um passado. A forma como o património foi protegido e tratado foi fundamental. Eram coisas que no final da minha estadia, quer da parte do Instituto Cultural ou de outras entidades do Governo começavam a ser abordadas, além de todo o trabalho de protecção que tinha sido feito no passado. Começava-se a fazer a ocupação desse património. Quando saí de Macau estavam em curso algumas obras como a biblioteca [no Tap Seac], o Arquivo Histórico, o edifício Ritz no Leal Senado. Aí já se ocupavam edifícios antigos para revitalização e abandonava-se a ideia de construir de novo. O bairro de São Lázaro, onde precisamente está a minha exposição (no Albergue SCM), é uma zona que foi preservada no seu todo, com partes mais ou menos vividas e ocupadas. A arquitectura de Macau feita por profissionais portugueses tem vindo a desaparecer um pouco. Há o risco de desaparecimento dessa arquitectura de autor em língua portuguesa? Quando estive em Macau qualquer obra sobressaía, porque o território era muito mais pequeno. Quando saí de Macau estava a começar a construção do edifício de Manuel Vicente junto à praça Lobo D’Ávila. Tinha evidência porque sobressaía na Macau da altura, e havia projectos de colegas que também tinham impacto, e destaco o do Banco Nacional Ultramarino. Sei que há colegas que continuam a actividade, que está mais espalhada e mais escondida, por tudo o que se passa à volta. É uma situação diferente, porque na altura só praticamente quem estava no território é que trabalhava aqui, havia poucos trabalhos que vinham do exterior, e hoje em dia há uma enorme pulverização dos gabinetes que trabalham em Macau. A escala, sobretudo, é outra. Há muitos arquitectos que estão mais ligados às empresas dos casinos, haverá certamente menos gabinetes a trabalhar, mas penso que haverá sempre a possibilidade de trabalho para os arquitectos radicados no território, não só da parte dos que cá estão há mais tempo, mas também da parte de jovens arquitectos. O Metro Ligeiro foi uma oportunidade, por exemplo, para alguns desses gabinetes terem intervenção. O World Trade Center, que foi um edifício marcante em Macau, hoje em dia está completamente diluído, por exemplo. Está escondido. Deixou de ter essa marca.
Andreia Sofia Silva SociedadeConstrução civil | Índice salarial real com quebra de 2% O índice do salário real pago aos trabalhadores da construção civil foi de 92,3 por cento no primeiro trimestre do ano, o que, eliminando o efeito da inflação, constitui uma quebra dois por cento em termos trimestrais. Os dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) revelam que, no caso dos trabalhadores da construção civil com residência, o índice foi de 94,1, o que constitui uma quebra de três por cento. No primeiro trimestre o salário médio diário dos trabalhadores deste sector foi de 759 patacas, menos 2,1 por cento face ao último trimestre de 2023. Tal deve-se “à diminuição da contratação de trabalhadores com salários diários mais elevados, na fase de conclusão de algumas instalações de entretenimento de grande envergadura”. Ainda nos primeiros três meses do ano o salário médio diário de residentes foi de 969 patacas, menos 1,5 por cento face ao último trimestre de 2023, enquanto o ordenado dos trabalhadores não residentes foi de 684 patacas, menos 1,3 por cento face ao mesmo período homólogo.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteSérgio Proença apresenta hoje livro sobre planos urbanísticos de Macau, Índia portuguesa e Timor “Macau, Índia e Urbanismo de Timor – Continuidade e Ruptura na Implantação do Planeamento Urbano entre 1934 e 1974” é hoje apresentado na Casa Garden às 18h30. A obra, da autoria de Sérgio Proença, partiu de um estudo a planos urbanísticos dos antigos territórios portugueses a Oriente. Em Macau, o planeamento intensificou-se a partir dos anos 70, apesar de constrangimentos financeiros Que comparações podemos fazer, em traços gerais, aos planeamentos urbanísticos de Macau Índia portuguesa e Timor nestes anos? Verificamos desigualdades? Os planos elaborados para os três territórios enquadram-se num contexto cultural arquitectónico e urbano comum em cada momento, permitindo-nos definir “grandes famílias”, ou seja, planos formalistas, modernos e planos da cidade-território. Ou seja, entre 1934 e 1974 os 26 planos podem ser enquadrados em quatro famílias conceptuais que partilham características comuns. O caso de Macau é particularmente rico, pois não havia apenas encomendas impostas ou feitas a partir de Lisboa, mas muitas das coisas foram produzidas por quem estava no território. [Entre os três territórios] houve ritmos e intensidades próprias. O plano mais antigo e os mais recentes são de Macau, mas existe uma maior ausência nos anos intermédios. No caso do Estado da Índia, houve uma maior intensidade de elaboração de planos entre os anos de 1959 e 1960 para acentuar a presença portuguesa naquele território, mas com a passagem [de administração] para a União Indiana, naturalmente não se elaboraram mais planos. Em Timor existiu uma maior produção logo após a Segunda Guerra Mundial, aproveitando a presença no território do arquitecto coordenador do Gabinete de Urbanização do Ultramar. Macau teve as suas especificidades, com o período de maior intensidade de produção [de planos urbanísticos] a corresponder ao início da década de 70. O Estado Novo começou em 1933. Porquê iniciar este estudo em 1934? Esse ano corresponde à publicação de um decreto que obrigava à elaboração de planos para todas as cidades com um número de população acima de determinado limite. Falamos de capitais de distrito ou cidades com algum movimento turístico e económico. Isto gera em Portugal e nos territórios ultramarinos a necessidade de produção de planos urbanísticos e a sua implementação. O livro trata mais da parte de concepção destes planos. Conseguem traçar-se algumas semelhanças porque existiam influências de cultura urbana portuguesa, mas também de uma cultura internacional. Em cada um dos períodos históricos existiam correntes ou princípios que iam determinar paradigmas. Como se verificavam estas semelhanças no caso de Macau? Não se verificavam tanto na arquitectura, na concepção de edifícios, mas mais no modo de conceber a cidade. No caso de Macau havia uma particularidade, por se notar uma influência do que se passava em Hong Kong. Hong Kong terá influenciado, em parte, o plano urbanístico do Porto Exterior, nomeadamente na criação de passagens aéreas entre quarteirões e edifícios, com uma espécie de circulação pedonal que podia ser feita longe do chão. Falamos já na década de 60, neste caso. Acabava por haver uma espécie de cultura global que vai influenciando, mas sempre com adaptações locais. Atrevo-me a dizer que estes territórios não tinham para Portugal a mesma importância ao nível de investimento como tinham os territórios da África portuguesa, que, no fundo, eram mais exigentes e maiores, onde os recursos extraídos também eram outros. O número de cidades aí também era maior, o que obrigava também a mais investimento. Tal obrigava que as propostas urbanísticas tivessem uma certa consciência e fossem, até certo ponto, mais parcimoniosas. Tratava-se de planos formados segundo os mesmos princípios, mas havia a noção de que, para serem implementados, precisavam de ser conscientes face ao contexto em que se fazia a intervenção. Em alguns casos não podiam ser assim tão intuitivos. Aliás, os que foram não chegaram a ir para a frente, e isso acabava por ser contraproducente. Que tipo de profissionais locais intervieram no urbanismo de Macau? Existia uma certa mobilidade de profissionais. Naturalmente que os processos continuavam a ser produzidos pelos gabinetes em Lisboa, mas existiam serviços locais que, muitas vezes, apoiavam de forma intensa espaços de caracterização e de análise dos territórios, mas depois faziam parte das equipas que implementavam os planos, sobretudo nas fases mais tardias. Inicialmente a elaboração de planos era muito controlada pelos profissionais de Lisboa, a partir da década de 60 [isso muda]. Os planos mais tardios acusavam uma certa necessidade de flexibilização, uma adaptação ao tempo e a estes territórios. No caso de Macau nota-se que há uma consciência de que os planos, para serem elaborados, precisam de suporte económico, não bastava apenas o conhecimento técnico. Esse suporte financeiro vinha dos Planos de Fomento. Neste caso dependia muito do investimento privado, para efeitos de execução das fases de construção, que não eram totalmente suportadas pelo poder público. Há um plano para o desenvolvimento turístico de Coloane que chegou a ser feito por fundos privados. No caso de Macau, que planos urbanísticos destaca? Falamos de uma fase em que não se tinha dado a expansão maior do território, e a pouca que havia não era tão rápida como a que assistimos nas últimas décadas. No início do século XX há um plano de arruamentos na zona do Porto Interior e da baixa, de 1925, que propunha a criação de ruas à semelhança do que tinha sido feito em algumas cidades europeias, ainda no século XIX. A maior parte destes projectos não foi para a frente. Hoje teríamos uma Macau substancialmente diferente se todos os projectos tivessem sido feitos. Houve falta de investimento, estavam em causa interesses? Era necessário, para começar, uma administração forte e que se sobrepusesse a eventos privados. Depois era necessária capacidade financeira para conseguir expropriar. Não existia nem uma coisa, nem outra. O plano de 1935 não era complexo, não passava, no fundo, de uma planta, mas tinha um sentido operativo muito grande. Na década de 60 já era completamente diferente, pois existiam arquitectos que tinham trabalho noutros territórios, como João Maria do Carmo, que tinha trabalhado em Moçambique. Foi ele que coordenou o plano para a nova zona central de Macau, o Porto Exterior, e dentro desse plano havia um outro, parcelar, que correspondia ao que é hoje em torno do casino Lisboa, antes de se criar a zona do NAPE. Esse plano teve várias fases e correspondeu a um planeamento mais estruturado, consubstanciado em fases de análise e caracterização, tentando responder a expectativas económicas que pudessem existir para esta zona. Eram planos que, apesar do seu arrojo, eram muito conscientes. Eram também inovadores? Mais do que inovação, acompanhavam o espírito da época. Uma das grandes qualidades era a aplicação dos princípios que estavam em voga adequados a um sítio, isto para a grande maioria dos planos. Sempre existiu essa capacidade de leitura, e não falamos de sítios que não tivessem memória, com décadas e séculos de história. Os projectos na zona da Baía da Praia Grande, ou de desenvolvimento da Taipa, foram também fundamentais? O plano de 1971 contém uma série de definições que acabaram por ser consubstanciadas nos anos seguintes. Houve a capacidade de projectar no tempo coisas que acabam por acontecer de uma maneira diferente do que se previa, e aí reside a capacidade de adaptação, com os planos a serem menos deterministas. Os planos das décadas de 30 e 40 baseavam-se muito naquela imagem do que iria ser feito. Depois, quando chegamos a fases mais tardias, o planeamento já era mais abstracto. As infra-estruturas de mobilidade continuaram a ser importantes para a definição formal de uma estrutura já em movimento. O plano de 1971 propunha, por exemplo, parcelamentos, infra-estruturas rodoviárias em Coloane e as bases para o aeroporto. Macau poderia ser hoje um território mais moderno em termos urbanísticos? Há cerca de 20 anos que não vou a Macau e, pelo que vejo, é hoje uma cidade bastante diferente. A última vez que a visitei não achei, de todo, que não fosse uma cidade moderna. Penso que se conseguiu obter um equilíbrio das diferentes velocidades [de desenvolvimento]. A capacidade que uma cidade tem de incorporar tempos diferentes é, para mim, uma qualidade, e esta é tanto maior se não abdicarmos de nenhuma das partes [velocidade de construção e zona antiga da cidade].
Andreia Sofia Silva EventosLivraria portuguesa | Sonia Leung em Macau para falar da sua obra Sonia Leung, poetisa e escritora de Hong Kong, estará em Macau este fim-de-semana para uma série de eventos em torno da sua escrita, com foco no livro “The Girl Who Dreamed – A Hong Kong Memoir of Triumph against the Odds”. Na Livraria Portuguesa esperam-se conversas com a autora e workshops de escrita criativa Os amantes da literatura que se faz em Hong Kong, em inglês, podem desfrutar este fim-de-semana do contacto com a autora Sonia Leung, que vem à Livraria Portuguesa para dois eventos onde irá falar da sua obra, nomeadamente do seu mais recente livro, “The Girl Who Dreamed – A Hong Kong Memoir of Triumph against the Odds”. Sonia Leung é uma poetisa e escritora que já ganhou diversos prémios, nomeadamente o “Wordview 2023”, concurso anual de poesia do Reino Unido, sem esquecer as edições de 2015 e 2016 dos prémios Hong Kong Top Story. Sonia Leung estreou-se em 2020 na área da literatura com uma colecção de poesia bilingue, escrita em inglês e chinês, intitulada “Don’t Cry, Phoenix”. “The Girl Who Dreamed: A Hong Kong Memoir of Triumph against the Odds” é o seu segundo livro, sendo que o terceiro, “Three-inch Heaven – Chinese Women’s Stories of Resilience and Determination” já está a ser ultimado. Este sábado, a partir das 17h, decorre o evento “Confissões Corajosas – Parte I”, que conta com a presença da autora e de Julia Ying Zhu, docente da Universidade Politécnica de Macau. Segundo um comunicado da Livraria Portuguesa, esta sessão convida o público “a acompanhar a autora enquanto ela observa o que aprendeu no caminho para se tornar uma escritora de memórias, na esperança de a ajudar na sua própria viagem”. “The Girl Who Dreamed” é, assim, um livro sobre as memórias de Sonia, descrevendo “as suas dificuldades e tristezas com um enorme detalhe”. A obra é, acima de tudo, “uma história de aventuras e um conto do triunfo”, proporcionado a quem o lê, “uma exploração rica das alegrias da leitura, escrita, bem como dos actos de comer e viver no contexto cultural chinês”. Este livro leva, portanto, os leitores não chineses a emergir “neste mundo de uma forma perfeita”. Escreve com ela No domingo, dia 5, a partir das 15h, é dia de escrever em parceria com a autora de Hong Kong. “Confissões Corajosas – Parte 2” leva os participantes a realizar exercícios de escrita em torno do conceito de memórias, além de querer dar uma nova visão a este género literário, “frequentemente menosprezado” pelos críticos. O menosprezo revela-se ainda mais se se tratar de “livros de mulheres”, pois estas memórias passam a ser rotuladas de “confessionais”, aponta o mesmo comunicado. “Este workshop pretende resgatar a noção de ‘confessar’ para todos os que passem por momentos difíceis e desejem escrever sobre eles com franqueza. Muitos críticos, e também o público em geral, ainda não compreendem que, quando nos ‘confessamos’, procuramos a comunhão das nossas experiências, aumentando o conjunto do que significa ser profundamente humano.” Sobre este workshop, descreve-se ainda que “através da escrita corajosa de memórias, compreendemos as nossas próprias narrativas de vida e aprendemos com as dos outros”, pois “quanto mais escrevemos de forma artística, mais reconhecimento obtemos”. “O workshop ‘Confissões Corajosas’ permitir-vos-á fazer ouvir as vossas vozes”, refere-se ainda. O workshop inicia-se com um exercício de 15 minutos em que se pede aos participantes para compararem a escrita a comida, estabelecendo uma ligação com os cinco sentidos, a fim de perceber quais os que podem estar a ser negligenciados. Isto porque “quando falamos de comida, evocamos todos os sentidos”. Segue-se um exercício de 35 minutos em que se pretende responder à questão “Porque é que importa escrever sobre a vida”, onde se recriam memórias de infância num permanente diálogo com os sentidos, como se de um puzzle se tratasse. Criam-se também personagens em torno dessas memórias. Depois, irá escrever-se uma carta para alguém que se ama ou odeia, se teme ou alguém que provoca divertimento. Contudo, o destinatário deve ser alguém a quem nunca confessamos os nossos sentimentos. A sessão irá ainda abordar técnicas da escrita de memórias, nomeadamente para a escolha de temas e estilos de escritas, propondo-se depois um exercício de escrita em torno de uma fotografia da infância, em que se pede para “usar a voz e sensibilidade de quem se era quando a fotografia foi tirada”, em comparação com a personalidade actual do autor do texto.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteFRC | Sandro Mendonça fala hoje do impacto das ‘Big Tech’ Sandro Mendonça, recentemente nomeado Fellow Economist da Comissão Europeia, estará hoje na Fundação Rui Cunha para falar das cinco grandes empresas tecnológicas Apple, Microsoft, Google, Amazon e Facebook e da ligação ao mercado europeu. Ao HM, declara que Macau começa a ter bons exemplos na área da tecnologia Marcas como Apple, Microsoft, Google, Amazon e Facebook fazem parte do dia-a-dia de cada um de nós. Nas regiões administrativas especiais é comum o uso de aparelhos criados por Steve Jobs, bem como a rede social de Mark Zuckenberg, enquanto na China aposta em alternativas, com a Baidu, Tencent, ByteDance ou Temu. O posicionamento que as cinco empresas tecnológicas ocupam no mundo e, em particular, no mercado europeu será hoje tema de uma conferência promovida pela Fundação Rui Cunha (FRC) e que conta com a presença de Sandro Mendonça, professor associado do departamento de economia do ISCTE Business School – Escola de Negócios do Instituto Universitário de Lisboa, cronista da Macau Business. O académico foi recentemente nomeado Fellow Economist da Comissão Europeia, para liderar um projecto de análise ao papel e impacto das Big Tech na Europa até 2040. Aliás, esse será o âmbito da conferência que irá apresentar na FRC, intitulada “The Future of Big Tech” [O Futuro das Grandes Tecnológicas]. Ao HM, Sandro Mendonça destaca que estas empresas dominam “de forma consistente” o sector tecnológico mundial desde 2010, tanto em “termos de capitalização bolsista, lucros ou alcance nos mercados internacionais”. As cinco grandes empresas “estão por todo o lado”, quer “nos sistemas operativos móveis e fixos, na busca na Internet, nas redes sociais, nas vendas por comércio electrónico ou no armazenamento de dados empresariais em nuvem”. Com menor presença na China, embora no país o Windows “esteja por todo o lado, assim como os Iphones”, estas tecnológicas “estão fortemente em Macau e Hong Kong”. “Quando lançamos o escrutínio sobre estas gigantes megapolistas, alguns padrões vêm ao de cima. É notório que nenhuma delas é europeia, tendo, todas o seu quartel-general nos EUA.” O académico destaca ainda “um facto central que pode ser chocante”, no sentido em que “o investimento destas tecnológicas em investigação e desenvolvimento, num só ano, é maior do que todo o esforço conjunto nesta área que os 27 países da União Europeia fazem num programa-quadro, ou seja, em sete anos”. Sandro Mendonça coordenou um estudo sobre a presença destas cinco empresas no mercado europeu para o Directorado-Geral da Investigação e Inovação (DG Research) em Bruxelas, intitulado “O Futuro das Grandes Tecnológicas na Europa” [The Future of Big Tech”, já publicado. “Fome de inovação” Segundo um comunicado da FRC, a conferência de hoje alerta para o facto de estas “Big Tech” terem vindo “para ficar”, tratando-se de empresas que “não conseguem estar paradas, tendo fome de inovação”. Citado pela mesma nota, Sandro Mendonça destaca que as “grandes empresas tecnológicas aproveitam as infra-estruturas em nuvem, os modelos de negócio das plataformas digitais e, cada vez mais, as tecnologias de Inteligência Artificial, para captar áreas de mercado em expansão e alcançar um desempenho superior”, embora continuem a estar mais ausentes do mercado europeu. Há ainda “outros gigantes internacionais a aproximarem-se, como a Alibaba ou a Tencent”. Desta forma, Sandro Mendonça irá debruçar-se sobre o papel da Europa “numa economia totalmente orientada para o mercado” e ainda sobre “as soluções convencionais, como a regulamentação e a política de concorrência”, e se estes instrumentos serão “suficientes para lidar com as repercussões” oriundas do posicionamento destas empresas. “Será altura de passarmos à fase neoliberal e de nos envolvermos num activismo industrial informacional do tipo disruptivo? Ou, pelo contrário, será que o incremento da descentralização empresarial resolverá quaisquer falhas temporárias de competitividade e governação europeias?”, questiona o responsável. Questionado pelo HM sobre a ligação destas grandes empresas tecnológicas ao mercado chinês, o académico defende que o país saído do processo de reforma e abertura liderado por Deng Xiaoping “nunca se deixou enfeitiçar pelo mercado”. “A China usou o mercado, mas não se deixou levar por ele. Parece-me que a China dos nossos dias tem uma base inovadora endógena, o que lhe dá centralidade e criatividade. Dá-lhe também maior autonomia e maior segurança, pois está menos sujeita a chantagens que outros lugares que são dependentes de outros para efeitos de tecnologia, segurança e sistemas financeiros”, declarou. Bons exemplos de Macau Numa altura em que o Governo local quer apostar no sector da tecnologia para diversificar a economia, o HM questionou Sandro Mendonça quanto às reais capacidades do território para o fazer. O autor declarou que o “futuro está perto”, pelo facto de Macau estar incluído no “Silicon Valley chinês”, ou seja, a Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. Contudo, na hora de fomentar o desenvolvimento, Sandro Mendonça deixa um alerta: “Macau só serve aos residentes, à China e ao mundo se continuar a ser Macau”, preservando a sua identidade. “Dou um exemplo real e prático, que já é um caso significativo que resulta da cooperação entre Zhuhai, Hengqin e Macau. Hengqin conseguiu atrair uma jovem engenheira de Pequim, Lyu Jinyan, para um projecto radicalmente importante para a China, o desenvolvimento de biomateriais para a área médica.” Neste contexto, foi lançado, no final do ano passado, “um produto complementar a esta agenda de longo prazo”, intitulado “Machloom 麥士能”, virado “para o bem-estar e reparação da fadiga cerebral”, que já marca alguma presença em farmácias locais e que “ostenta o símbolo das Ruínas de São Paulo no símbolo comercial” do produto. Outro exemplo de sucesso destacado por Sandro Mendonça diz respeito às empresas “e-Research Solutions” e da “uMax Data Technology”, consultoras e tecnológicas fundadas por Angus Cheong, formado na Universidade de Macau. Angus Cheong lançou um instrumento multi-modal movido a inteligência artificial chamado DiVoMiner”. Sandro Mendonça lamenta a pouca visibilidade que este projecto tem a nível local. “Tudo isto é mais conhecido lá fora do que em Macau. Lá fora [Angus Cheong] é conhecido, escutam a sua opinião. Não sei porque estas empresas, de raiz local, não são mais conhecidas.” Papel dos portugueses “Vejo aqui o papel histórico de Macau, uma área híbrida em que novas propostas de negócio ganham uma camada cultural que lhes agrega valor e potencial para escalar internacionalmente”, referiu o académico, que aponta “o grande trabalho de contexto” que se encontra em curso, também feito “por portugueses que acreditam nas virtudes das boas relações Oriente-Ocidente”. Sandro Mendonça destaca os casos de Rui Pedro Cunha, presidente da Câmara de Comércio Macau-Europa, Bernardo Mendia, na qualidade de secretário-geral da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa, e ainda Rodrigo Brum, que deixou o Fórum Macau há uns anos para fundar a Câmara de Comércio e Indústria dos Países de Língua Portuguesa na Grande Baía de Guangdong, Hong Kong e Macau (China). “Estamos com boas dinâmicas em curso. Espero que prossigam, pois não é cedo”, remata. A palestra de hoje começa às 18h30 e integra-se no ciclo “Roda de Ideias” promovido pela FRC. Sandro Mendonça está de regresso a Macau depois de, em Abril, ter falado, também na FRC, sobre “A Mudança nas Comunicações: Do 5G à IA através das Plataformas Digitais”.