Um Grito no Deserto VozesDepois do confinamento Paul Chan Wai Chi - 25 Mar 202225 Mar 2022 Existe um ditado chinês que afirma que se a água for demasiado limpa não terá peixes. O motivo é muito simples, devido à falta de nutrientes e à falta de zonas para se esconderem, os peixes não sobrevivem. O mundo não pode erradicar as bactérias nem os vírus, na medida em que eles pertencem aos ecossistemas naturais. Desde que seja mantido o equilíbrio adequado, os mais variados organismos podem coexistir. Quando uma pessoa sofre uma infecção viral o corpo produz anti-corpos, que é uma forma de vacinação natural. Ao longo dos últimos dois anos, a humanidade enfrentou pela primeira vez o impacto da COVID-19. Como muitas pessoas têm uma imunidade fraca contra esta infecção, podem vir a adoecer. Para além de usar os medicamentos adequados, a investigação, a produção e a administração de vacinas são de vital importância para lidar com esta epidemia. Os resultados positivos da vacinação têm-se revelado cada vez mais evidentes. Os cientistas sabem muito bem que o vírus da COVID continua a sofrer mutações para sobreviver e para se adaptar e que a sua letalidade vai diminuindo à medida que a sua transmissibilidade vai aumentando. Finalmente, acabará por se tornar uma doença infecciosa com a qual a humanidade irá conviver normalmente. Algumas pessoas já avisaram que a política de “zero casos” de COVID-19 terá custos muitos elevados. Além disso, devido ao confinamento prolongado e ao indefinido fecho da circulação com outros países, os residentes do país ou região onde se pratique essa política não podem voltar à vida normal, nem podem ter actividades sociais. De cada vez que se intensificam as medidas preventivas, a economia é mais afectada, os trabalhadores perdem os seus empregos e a vida escolar é prejudicada. As pessoas que têm familiares no estrangeiro, sofrem com o isolamento prolongado e a ansiedade e a fadiga mental da população são preocupantes. Há duas formas de lidar com a questão da COVID-19, optar por uma política de “Zero Casos” ou por uma política de “coexistência com o vírus”, sendo que cada uma delas tem as suas justificações. Se tomarmos Hong Kong e Macau como exemplo, na última cidade foi implementada com sucesso a estratégia de “zero casos”, que efectivamente reduziu grandemente a importação e a propagação do vírus. Em Hong Kong, houve um grande surto da nova variante Ómicron. Segundo os cálculos da equipa de investigação da Faculdade de Medicina da Universidade de Hong Kong, cerca de 3,58 milhões de habitantes foram infectados com a COVID-19. Alguns dos meus amigos de Hong Kong, já recuperaram da infecção. Tinham sido vacinados, por isso não tiveram complicações sérias e já voltaram às suas vidas normais. Por outro lado, alguns peritos expressam a sua preocupação em relação às regiões que implementam a política de “zero casos de COVID-19”, porque se entrarem nessas regiões pessoas assintomáticas, pode desencadear-se um surto que afecte gravemente quem não esteja vacinado. Por isso, há quem defenda que a China deveria adoptar “o estilo chinês de coexistência com a COVID-19”, que deveria ser tido em consideração além da política actual de “zero casos de COVID-19”. Mas para além de “reduzir a zero os casos de COVID-19”, também deveríamos “reduzir a zero os vírus políticos”. Existem exemplos na História da China de “redução a zero dos vírus políticos”. Durante a Dinastia Han de Leste e a Dinastia Song da antiga China, os nomes de alguns indivíduos eram gravados em tábuas de pedra para os impedir, e mesmo aos seus descendentes, de se tornarem oficiais imperiais. Na História moderna da China, quando o Partido Nacionalista estava no poder perseguia e matava os comunistas. Singapura é uma cidade-estado asiática que optou pela política de “coexistência com a COVID-19”. Os países que adoptaram esta política foram abrindo progressivamente as suas fronteiras para revitalizar as suas economias. Estes países atingiram elevadas taxas de vacinação das suas populações para salvaguardar a saúde pública e garantirem a confiança necessária para as pessoas conviverem com o vírus. Singapura está sob o domínio autoritário do Partido de Acção Popular, no poder há muito anos. Permite a existência de partidos da oposição, mas limita o seu raio de acção através do sistema parlamentar e do sistema eleitoral. Neste aspecto, Singapura não pretende “reduzir a zero os vírus políticos”. Os governantes sensatos sabem que os pontos de vista da oposição servem para monitorizar o seu desempenho e que desempenham um papel importante para os ajudar a manter-se objectivos. A via asséptica e a via da promoção do desenvolvimento de anti-corpos no corpo humano são duas formas de combater as epidemias. A opção por uma delas é uma questão de escolha.