Via do MeioComo o Pintor Li Zanhua Não Esqueceu Yelu Bei Paulo Maia e Carmo - 22 Out 2025 Yelu Abaoji (872-926), o chefe do povo nómada Khitan, palavra sinizada como Qidan, contrariando a tradição, resolveu instaurar no seu vasto território em 916 uma dinastia no estilo da desagregada dinastia Tang (618-907) e de todas as outras que a precederam, passando a sucessão do dirigente máximo a ser hereditária e não uma escolha de um conselho tribal. Chegou até, e mais uma vez contrariando a tradição nómada, a edificar uma «Suprema capital», Shangjing, Linhuangfu, pensada num padrão em quadrícula com ruas alinhadas ao estilo de Chang’an, a capital dos Tang. E se bem fossem os militares tribais a tomar as decisões, para a administração do Estado escolheu civis de etnia Han. Chamou a esse Estado Da Qidan e ser-lhe-ia postumamente atribuído o título de Taizu Tian Huangdi, «Celeste imperador Taizu». O seu sucessor alteraria o nome da dinastia para Liao e apesar de recuos posteriores seria essa a denominação que prevaleceria. Abaoji teve um filho, Yelu Bei (899-937), que nomeou Princípe herdeiro e a quem deu o título Renhuang Wang, «Imperial Rei dos Homens», entregando-lhe a governação do reino de Dongdan. E quando chegou o tempo da sucessão Yelu Bei esperava naturalmente herdar o título do pai porém a sua mãe, a implacável imperatriz viúva Shulu Ping (879-953) tinha outros planos e com sangue-frio e astúcia fez com que a sucessão recaísse sobre outro dos seus filhos. O que de improvável se seguiu na vida de Yelu Bei seria lembrado anos depois pelo poeta, calígrafo e pintor da dinastia Yuan, Zhu Derun (1294-1365). Junto à figura de um cavaleiro numa veloz cavalgada na Caça ao veado num rolo horizontal que era atribuído a Yelu Bei (tinta e cor sobre papel, 24,6 x 79,9 cm, no Metmuseum) escreveu: «Para escapar à perseguição de Yelu Deguang (r. como Liao Taizong, 927-947) ele atravessou o mar e chegou a Dengzhou (em Shandong) e aí prestou vassalagem ao imperador Mingzong (r.925-933) dos Tang tardios (923-936) e em troca foi-lhe concedido o nome Li e a comandadoria de Huaihai.» Li Zanhua seria pois o nome que desde então Yelu Bei usaria. Um nome – Li – de enorme prestígio porque esse era o nome da família reinante durante a dinastia Tang, oferecido pelo imperador Xianzong (r.805-820) aos fundadores dessa segunda do período das Cinco dinastias em recompensa da sua lealdade e que estes ostentavam, tal como o nome Tang, com orgulho. Li Zanhua, escreveu Zhu Derun, «costumava levar pinturas e livros quando viajava. Gostava de pintar cavaleiros com arcos, em caçadas ou excursões. As suas roupas e acessórios seguiam as convenções rústicas dos bárbaros porque era isso a que estava habituado e se sentia confortável. O modo como usava o pincel era suave e fino enquanto o dinamismo dos homens e dos cavalos corresponde ao espírito dos Tang do século VIII. Uma pintura que merece ser apreciada.»