VozesNexus Amélia Vieira - 11 Jul 2025 Uma obra colossal é esta de Yuval Noah Harari! Juntar as peças de um pensamento tão refinado e urgente requer também alguma solidão e rotina diárias que pode colidir com a dispersão lançada nas camadas mais trepidantes de uma certa humanidade que se mexe demais e constrói pouquíssimo. Mais: que não correlaciona há muito, factos, diálogos e profecia, e vive na poeira dos dias com características desconexas face ao desígnio temporal. E para que serve, quem o liga e desliga, desvenda e conecta o que é evidentemente esta experiência que foca o abismo e sua magnitude? Alguns Noés que constroem as suas Arcas e levam todas as espécies na esperança que as águas baixem, as lágrimas cessem, o sangue não corra, e que podem bem ser versões avançadas da salvação. O prólogo, aquele texto que é preciso descodificar, aparece-nos como um portal para outra dimensão nunca antes visto na versão entrelaçada entre reflexão, poema e ciência, uma grande coluna onde nos vamos mais tarde adentrar para não mais sair até ao último fôlego, e todos sabemos, embora ninguém o denuncie, o quão difícil é chegar ao fim de um livro com seiscentas páginas, porém a diagonal forma de leitura também pode ser considerada como agente positivo na ordem da avidez de muitos leitores, e quanto mais é feita, mais empilhados de livros se fica, e isso é uma atmosfera bonita, quanto muito, requer respeito. Hoje, nós temos no entanto de saber apanhar boleia da «Nuvem» uma certa consciência alada que condense até a uma manifestação outra todas as coisas que ansiamos saber. Da Idade da Pedra à Inteligência Artificial, todo um roteiro a que o autor acrescenta, História Breve das Redes de Informação. São onze os capítulos: 1- O que é a informação? 2- Narrativas: Nexos Ilimitados, 3- Documentos: Os Tigres de Papel também Mordem, 4- Erros: A Fantasia da Infalibilidade, 5- Decisões: Uma História Breve da Democracia e do Totalitarismo, 6- Novos Membros: O Que Distingue os Computadores da Prensa de Gutenberg, 7- Implacável: A Rede Não Dorme, 8- Falível: A Rede Costuma Enganar-se, 9- Democracias: Ainda Somos Capazes de Conversar? 10- Totalitarismo: O Poder Total aos Algoritmos? 11 – A Cortina de Silício: Império Global ou Cisão Global? Estamos num tempo de reversão onde os orçamentos para a defesa aumentam a grande velocidade, mas no início deste século a despesa mundial em saúde era mais alta do que a da defesa, tudo se precipitou para o grau máximo da narrativa dos perigos fabricados, e este irromper belicista chama os cidadãos a tirar conclusões sem o arrastão do delírio tremule das vozes ofensivas que pretendem ensimesmar os povos para um tempo ulterior às suas reais circunstâncias. Compreendemos nitidamente que nada vai ser assim – explica exemplarmente o livro em causa – que sublinha ainda o golpe de Estado algorítmico. A nossa psicosfera já mudou drasticamente, e ela não é regressiva, o limbo envolvente não nos devolverá nenhum conceito perene acerca das nossas façanhas, nem a audácia de uma qualquer rebelião será ouvida nas superfícies vindouras. Uma estagnação intrépida é o ponto de partida para rasurar de vez o idealismo tormentoso das nossas civilizações, e ela está a acontecer. Esta obra mostra o quanto estamos exauridos e é brilhante a correlacionar todos os factos onde o epílogo é tão exemplar como o prólogo. O nuclear parece-nos um sistema pesado, difícil de por em prática, porém, a leveza das redes transmissoras da Inteligência Artificial, derrotá-lo-á. Este nosso humano está em vias de colisão com alguma coisa até improvável nos seus sonhos mais visionários. Para que nos situemos, Nexus indica-nos alguns caminhos.