CUT | Cinema Experimental na Ilha Verde

Fechado durante vários anos, o Convento da Ilha Verde prepara-se agora para receber um dos seus primeiros eventos culturais: o Festival de Cinema Experimental de Macau, organizado pela Associação Audiovisual CUT. Entre 24 de Julho e 2 de Agosto, o público poderá ver cinema local e uma nova exibição do documentário “999”, de António Nuno Júnior

 

De um espaço abandonado e perdido na história, o Convento da Ilha Verde, antiga casa dos jesuítas em Macau, tornou-se agora um espaço de cultura, acolhendo a partir do dia 24 de Julho o seu primeiro evento: o Festival de Cinema Experimental de Macau, organizado pela Associação Audio-visual CUT. Haverá também exibições na Cinemateca Paixão.

A edição deste ano tem como tema “The Grass Is Always Greener On The Other Side” [A relva é sempre mais verde do outro lado], no sentido de descoberta de outras imagens nem sempre visíveis.

“O que queremos dizer quando dizemos que a relva é mais verde? Que verdades se escondem por trás desta imagem sedutora do outro lado? Com este foco temático, o festival deste ano apresenta oito programas com novas encomendas locais, exibições temáticas, cinema interactivo e apresentações ao vivo”, é descrito no cartaz. A organização convida, assim, o público a “desafiar a relação privilegiada entre o público e o ecrã, estimulando a reflexão sobre o papel das imagens em movimento, os mecanismos de produção de imagens e os seus diálogos com o mundo que nos rodeia”.

Destaque para três séries da secção “Made in Macao”, que este ano apresenta a comissão “Transparent Landscape Project”, em que quatro artistas e cineastas locais foram convidados a explorar “‘paisagens’ tangíveis e intangíveis através de experiências pessoais e pesquisas sobre a história local”, tratando-se de filmes que “questionam as dinâmicas de poder entre a câmara e a cidade, a presença e a ausência, o colonialismo e a transferência de soberania, o humano e o não humano”.

Nesta comissão, podem ver-se os filmes “Have You Still Remember Me?”, de Veronique Wong, que digitalizou as imagens da sua câmara Super 8 ao fim de 25 anos. Trata-se de um trabalho que “examina directamente a fase de transição da transferência de soberania a partir de um ponto de vista popular, relembrando a atmosfera fervorosa de vários eventos comemorativos na véspera do regresso de Macau”.

Segue-se “A Way To The End”, de Ao Ieong Mike; “Flor de Panchão”, de Kate Ao Ngan Wa, actualmente a residir na Polónia e que aborda também a questão da identidade de Macau. Na sinopse deste filme, lê-se a história de alguém que deixou Macau e tenta procurar a sua terra natal sem viajar para ela, “procurando vários artigos ‘Made in Macao’ através da Internet e de mercados de artigos em segunda mão, desencadeando uma busca por experiências de crescimento pessoal e suscitando reflexões sobre a identidade num contexto pós-colonial”.

Destaque também para o filme “Portal Below”, de Tang Chi Fai, centrado no encerramento do Canídromo. “O Canidrome Yat Yuen de Macau fechou e o som dos cães a ladrar desapareceu da noite para o dia. Centenas de galgos desapareceram sem deixar rasto, sem que se saiba o seu paradeiro, com excepção de um cão, chamado ‘New Spirit’, que ainda vagueia pela zona”, revela a sinopse do filme.

O regresso de 999

Na segunda série de “Made in Macau” dá-se o nome de “Made in Macao II – 999 Interactive Cinema” e traz de volta o documentário “999”, feito pelo realizador português António Nuno Júnior há 25 anos e que até já pode ser visto em plataformas de streaming como a Filmin.

Esta é a obra que mostra os momentos em que o realizador ia deixar Macau e voltar a Portugal, com a câmara a adoptar “uma perspectiva familiar, mas ao mesmo tempo desconhecida, do viajante, observando as ruas quotidianas de Macau e a grandiosidade das suas celebrações, captando as cenas das ruas das áreas vizinhas”.

“Este programa apresenta duas exibições: a primeira é um cinema interactivo, onde vários segmentos serão incorporados durante o processo de visualização, convidando o público a interagir com o ecrã através de imagens, texto e sons fornecidos no local. O realizador também se juntará ao público através de uma transmissão ao vivo para apreciar o filme em conjunto. A segunda exibição seguirá um formato tradicional, permitindo ao público assistir ao filme sem qualquer intervenção”, revela o cartaz.

Por sua vez, a terceira série de “Made in Macao” ganha o nome de “Made in Macao III – Urban Illusion”, em que haverá uma performance com o artista local Jason Fong, o grupo de música experimental Guia Experimental e o animador John Wong. Assim, “a antiga fachada do edifício, o espaço do jardim e o miradouro serão transformados num local experimental para os artistas, apresentando uma palestra performativa e uma mostra audiovisual para todos”.

Em foco

Este festival tem ainda como artistas em foco Deborah Stratman e Patrick Bokanowski, grandes nomes do cinema experimental e figurativo. Lao Keng U é o director e curador do festival.

A primeira sessão decorre no dia 24 de Julho na Cinemateca Paixão, tendo como filme de abertura, às 19h30, “Levianthan”, do grupo Sensory Ethnography Lab. Na sexta-feira, 25, é tempo de rumar ao convento para ver os filmes integrados na série “Made in Macao I – Transparent Landscape Project”, seguindo-se, no sábado, a exibição dos filmes da segunda série de “Made in Macao”, a partir das 20h; a série “New Vision I: Unearthing Memory”, a partir das 14; e depois a série “New Vision II: I’m a Cyborg, But That’s Ok?”, a partir das 16h.

Dia 27 de Julho, um domingo, as exibições começam às 14h no convento, com a segunda série de “Made in Macao”, seguindo-se os artistas em foco. A 1 de Agosto os filmes passam na Cinemateca Paixão, nomeadamente a série “Spotlight: de ‘Humani Corporis Fabrica'”, do grupo Sensory Ethnographic Lab. No dia 2 de Agosto o convento abre portas para o evento de encerramento, a partir das 19h30, com a série “Made in Macao III – Urban Illusion” e “Made in Macao I – Transparent Landscape Project”.

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