Guerra comercial | China e Brasil puxam por integração regional face política dos EUA

Lula da Silva vai estar em Pequim na próxima semana para participar na Cimeira China-CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos). Face à política económica agressiva de Donald Trump, Pequim e Brasília acertam agulhas para continuar a promover acordos bilaterais que beneficiem as duas nações

 

O Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, desloca-se na próxima semana à China, num momento em que os dois países procuram aprofundar a integração regional da América Latina, num contexto marcado pela guerra comercial desencadeada por Washington.

Lula participará, em Pequim, na Cimeira China-CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), agendada para os dias 12 e 13 de Maio, tendo também previsto um encontro bilateral com o homólogo chinês, Xi Jinping. A deslocação coincide com as negociações entre Pequim e Brasília sobre a eventual construção de uma ligação ferroviária até ao porto de Chancay, construído pela China no Peru e inaugurado em 2024.

No ano passado, Xi e Lula estabeleceram a integração do Brasil ao Pacífico como um dos quatro pilares estratégicos das relações sino-brasileiras, durante uma visita de Estado do líder chinês ao país sul-americano.

De acordo com a imprensa chinesa, uma delegação chinesa, composta por 11 funcionários da empresa estatal China State Railway Group e do Ministério dos Transportes da China, visitou no mês passado o Brasil para “análises técnicas”.

O Brasil já desempenha um papel importante na segurança alimentar da China, representando mais de 20 por cento das importações agrícolas e pecuárias do país asiático. A guerra comercial desencadeada pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, deverá reforçar ainda mais essa procura.

Washington aumentou as tarifas sobre produtos chineses até 145 por cento nas últimas semanas. Pequim retaliou com taxas adicionais de 125 por cento sobre produtos norte-americanos e suspendeu as compras de produtos agrícolas.

O ministro da Agricultura e Pecuária brasileiro, Carlos Fávaro, assegurou que o Brasil vai aproveitar todas as oportunidades geradas pela guerra comercial entre Pequim e Washington.

“Das crises nascem oportunidades. E o Brasil está atento às oportunidades e vai ampliar as trocas comerciais”, declarou, citado pela imprensa brasileira.

Benefícios colaterais

O Brasil tem beneficiado das disputas comerciais entre as duas maiores economias do mundo desde a primeira guerra comercial, iniciada durante o primeiro mandato presidencial de Donald Trump (2017-2021). Desde então, a China aumentou as compras de soja ao país para reduzir a dependência dos EUA.

Em 2024, a China importou um total de 105 milhões de toneladas de soja, das quais 22,14 milhões provinham dos EUA, representando 21,1 por cento do total – uma queda de 13,3 por cento face a 2018.

Durante o mesmo período, as importações chinesas de soja do Brasil atingiram 74,65 milhões de toneladas, representando agora 71,1 por cento do total, de acordo com dados das alfândegas chinesas.

O acesso ao Oceano Pacífico permitiria ao Brasil e aos países vizinhos contornarem as rotas marítimas tradicionais do Atlântico, reduzindo significativamente os tempos de trânsito e os custos logísticos das exportações agrícolas, como a soja, a carne bovina e os cereais.

O porto de Chancay também pode ajudar Pequim a diversificar as opções de transporte marítimo e reduzir a dependência do Canal do Panamá, uma rota que acentuou as tensões diplomáticas e geopolíticas com os Estados Unidos.

Os objectivos estratégicos de Pequim e Brasília inserem-se na política de Lula para a CELAC. Lula promoveu o retorno do Brasil à organização intergovernamental, após o país se ter retirado do bloco em 2019. O movimento sinalizou a retomada da integração regional como prioridade da política externa brasileira, através do projecto Rotas de Integração da América do Sul.

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