Albergue SCM | Susana Gaudêncio e Carla Castiajo apresenta exposição

“Aqueles Que Nos Querem Falar” é o nome da nova mostra do Albergue da Santa Casa da Misericórdia (SCM) protagonizada pela artista portuguesa Susana Gaudêncio, que se junta a Carla Castiajo. Ambas apresentam uma mostra com diversas expressões artísticas, que vão do vídeo à instalação, para nos mostrar mensagens e perspectivas de pensamento em silêncio

 

E se falássemos sem, de facto, falar? E se recorrêssemos a outros modos de comunicar onde não se usa a palavra ou o gesto, mas sim a ferramenta, a estrutura, para transmitir diversos pensamentos e ideias? Esta pode ser a ideia por detrás da exposição “Aqueles Que Nos Querem Falar”, da autoria das artistas Susana Gaudêncio e Carla Castiajo, e que se apresenta na próxima semana, dia 20, no Albergue SCM – Santa Casa da Misericórdia. A inauguração decorre a partir das 18h30, sendo que a exposição fica patente até ao dia 30 de Setembro na Galeria A2 do Albergue.

A curadoria está a cargo de Mafalda Santos e aqui se verifica o trabalho destas duas artistas que recorrem “ao vídeo, animação, escultura e instalação como meios de expressão, continuando uma narrativa onde a linguagem se cala, permitindo que o cintilar das imagens, o peso das pedras e a textura do cabelo se tornem novas letras”, refere o comunicado do Albergue SCM sobre a nova mostra.

Nestas criações, transmitem-se, assim, “pensamentos e perspectivas no silêncio, interpretando-se camadas e ressonâncias do ‘não verbal'”, acrescenta-se. Mafalda Santos descreve, no texto de curadoria que acompanha a exposição, que se trata aqui de uma junção de trabalhos artísticos “em que o gesto e a matéria se entrelaçam para invocar forças invisíveis, discursos não-ditos e dispositivos de sedução e resistência”.

Diversas práticas

Para Mafalda Santos, “as práticas de Susana Gaudêncio e Carla Castiajo desenvolvem-se a partir de investigações artísticas que cruzam pensamento crítico, gesto simbólico e experimentação material”, sendo que Susana Gaudêncio, que também é docente de arte na Universidade do Minho, “explora o legado histórico de conceitos como utopia, heterotopia e cidade, activando imagens e narrativas com forte carga política e poética”.

Por sua vez, Carla Castiajo “foca-se na potência simbólica dos materiais — em especial o cabelo humano — para construir objectos que evocam o corpo, a memória e o desejo, num território entre o ritual e o íntimo”. Esta artista opta por “partir do corpo para criar objectos de forte carga sensorial e simbólica”, nomeadamente cabelo humano, que é usado como “matéria, veículo de identidade, desejo e tabu”, construindo, dessa forma, “peças que oscilam entre a joalharia expandida e a escultura”. São uma espécie de “objectos íntimos e inquietantes, dotados de uma presença ambígua, que nos podem remeter para os objectos rituais africanos, fetiches, utilizados para propósitos como protecção, cura, adivinhação e comunicação com o mundo espiritual”.

Uma das peças presentes nesta mostra do Albergue SCM intitula-se “Abracadabra”, onde Susana Gaudêncio “explora a tensão entre a expressão política e a sua dimensão encenada, revelando o potencial encantatório da linguagem e da imagem como instrumentos de persuasão”.

Esta é uma peça que varia entre a escultura e a vídeo-animação, evocando-se “o gesto como inscrição e inscrição como encantamento”, com “discursos políticos são apropriados, redesenhados e devolvidos ao espectador como imagens que oscilam entre o real e o ritual”.

Há depois a instalação “Duelo-Dilema”, que é composta por 65 esculturas em gesso, com ligação “às letras do poema mágico ‘Abracadabra'”, onde se reencena “a escrita como acto performativo, uma coreografia de formas que evocam símbolos arcaicos, seres orgânicos e signos perdidos”.

Para Mafalda Santos, o conjunto das obras das duas artistas “propõem formas de escuta e manifestação, um espaço de comunicação sensível, lugar de fronteira entre o visível e o oculto, entre o gesto e a presença, entre a evocação a e interpelação”.

Susana Gaudêncio licenciou-se em Pintura na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, sendo também mestre em Belas Artes pelo Hunter College – City University of New York. É ainda doutorada em Belas Artes, ramo multimédia e audiovisuais, tendo como áreas de interesse, para criar, as “máquinas de imaginar” ou os conceitos de utopia, heterotopia e distopia.

Carla Castiajo tem também formação académica na área das artes, tendo feito o doutoramento em 2016 na Estonian Academy of Arts, onde desenvolveu um projecto artístico e de investigação intitulado “Purity or Promiscuity? Exploring Hair as Raw Material in Jewellery and Art”, onde explora, precisamente, a possibilidade de o cabelo humano ser usado como material artístico e a sua interconexão com as áreas da arte e da joalharia. Carla Castiajo estudou ainda na Suécia e licenciou-se em Arte e Design na Escola Superior de Arte e Design de Matosinhos, Portugal.

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