VozesPromover o Desenvolvimento Económico Moderadamente Diversificado Hoje Macau - 9 Jul 2025 Oportunidades e Responsabilidades de Macau sob a Perspectiva do Empreendedorismo Jovem Lei Wun Kong * Kacee Ting Wong** É um facto amplamente reconhecido que o sector do jogo de Macau se encontra sob crescente pressão perante a emergência de novos centros de jogo nas regiões vizinhas. Mais preocupante ainda é o chamado “efeito de exclusão” causado pela preponderância excessiva da indústria do jogo, que dificulta a atracção de talentos e o crescimento de sectores não relacionados com o jogo, gerando desequilíbrios estruturais e obscurecendo as perspectivas de um desenvolvimento económico sustentável. Neste momento-chave de transição, Macau deve romper decisivamente com o hábito de dependência enraizado ao longo dos anos e adoptar uma postura de inovação e iniciativa no sentido de promover uma diversificação económica moderada. Esta via não é apenas o caminho certo para garantir um desenvolvimento robusto a longo prazo, mas constitui uma escolha estratégica inevitável para que Macau possa afirmar-se proactivamente no novo cenário competitivo. O forte empenho do Governo da Região Administrativa Especial (RAEM) no desenvolvimento da Ilha da Montanha (Hengqin) e no apoio aos empreendedores locais demonstra que a diversificação económica se tornou uma das prioridades da actual governação. Durante muito tempo, os elevados lucros do sector do jogo geraram, em alguns indivíduos e empresas locais, uma mentalidade de dependência, conduzindo a uma atitude passiva de espera por oportunidades dentro da cadeia de valor do jogo, em detrimento de uma exploração activa de novos sectores emergentes. Esta mentalidade conservadora, assemelhando-se a correntes invisíveis, não só limita o progresso de Macau no caminho da diversificação económica e da inovação social, como debilita a sua capacidade de resistência a choques externos. Merece atenção o facto de certas empresas permanecerem demasiado fiéis aos seus modelos operacionais tradicionais, descurando a formação da sua capacidade de inovação e a melhoria da sua adaptação às dinâmicas do mercado. Assim que o ambiente externo se altera, são severamente afectadas, evidenciando a urgência de transformar os modelos mentais e acolher uma cultura de renovação. Por conseguinte, sustentamos que o empenho do tecido empresarial na promoção da diversificação económica é tão essencial quanto — ou até mais premente que — os esforços do Governo da RAEM para reduzir a dependência do sector do jogo. Os jovens empreendedores locais e as pequenas e médias empresas devem assumir um papel central, rompendo com a mentalidade de conforto e tornando-se a força motriz da transformação industrial e do desenvolvimento inovador. Um exemplo paradigmático é o do Senhor Fu Tanglong, Presidente do Instituto de Investigação sobre Indústrias Digitais de Macau e Vice-Presidente Executivo da Associação de Transmissão em Directo de Macau. Desde o início da iniciativa da Grande Baía em 2019, o Senhor Fu decidiu lançar-se no Interior da China para empreender, movido pela sua confiança no comércio electrónico, explorando activamente as oportunidades económicas proporcionadas pelas novas tecnologias. Através dos seus programas de formação, auxiliou mais de 350 pequenas e médias empresas na sua reconversão digital e proporcionou formação em marketing digital e transmissão em directo a cerca de 4.000 jovens locais. Esta prática demonstra bem o espírito empreendedor que alia a coragem de explorar a visão estratégica ao aproveitamento das vantagens comparativas. A sua experiência de sucesso comprova que, com formação profissional adequada e tirando partido da posição geográfica e do ambiente político únicos de Macau, os jovens podem abrir novos horizontes no comércio electrónico, desenvolvendo carreiras pessoais e contribuindo para a transformação económica da Região. Só em 2023, a associação liderada pelo Senhor Fu ajudou os comerciantes locais de Macau a alcançar um volume de vendas superior a 16 milhões de dólares americanos (fonte: macaubusiness.com, 10 de Dezembro de 2024, “A Jornada de Empreendedorismo de um Jovem de Macau”). Outros exemplos inspiradores de jovens empreendedores não faltam. A Senhora Huang Yin tem-se dedicado à promoção e divulgação da medicina tradicional chinesa no território; a Senhora Chan Nga Lei, por seu turno, fundou a empresa E.C. Film Production Company Limited, contribuindo nos últimos anos para o desenvolvimento da indústria cinematográfica de Macau; e jovens talentos como Leng Ka Chan e Oscar Chan Tianlan foram eleitos em Agosto de 2024 pelo Macau Post como “Empreendedores de Excelência da Grande Baía”. Estes jovens empreendedores, ao explorarem activamente os recursos culturais e históricos únicos de Macau e ao desenvolverem projectos com forte identidade local, comprovam o imenso potencial da inovação ancorada na tradição. Estes casos de sucesso servem de inspiração para que as empresas reforcem o investimento em investigação e desenvolvimento, valorizando o património histórico-cultural de Macau e combinando as suas especificidades tradicionais com a criatividade contemporânea, com vista à criação de produtos inovadores com identidade macaense. A resposta activa destes indivíduos ao “Plano de Desenvolvimento Económico Moderadamente Diversificado 2024–2028” e às orientações do Governo da RAEM representa, na prática, a concretização das “quatro esperanças” expressas pelo Presidente Xi Jinping em Dezembro de 2024: impulsionar a diversificação moderada da economia; elevar a eficácia da governação da Região Administrativa Especial; construir plataformas de abertura ao exterior de nível mais elevado; e salvaguardar a estabilidade e a harmonia sociais. A atenção estratégica atribuída ao desenvolvimento da Ilha da Montanha reflecte, com clareza, o lugar de destaque que a diversificação económica ocupa na actual governação. De acordo com dados estatísticos, a Zona de Cooperação Aprofundada Guangdong-Macau em Hengqin já acolhe mais de 56.000 entidades comerciais e mais de 10.000 empresas tecnológicas, constituindo um pilar fundamental para a transformação económica de Macau. O novo Governo da RAEM atribui grande importância à expansão das relações económicas e comerciais com os países de língua portuguesa, tendo previsto, logo no seu primeiro ano de mandato, uma missão oficial a Portugal. O Secretário para a Economia e Finanças, Senhor Tai Kin Ip, sublinhou recentemente que o papel de Macau como ponte entre a China e os países lusófonos é insubstituível. Reiterou ainda que a Região irá potenciar a sua plataforma de ligação, com ênfase no desenvolvimento da indústria tecnológica como vector estratégico para alcançar a diversificação económica (China Daily, 27 de Junho de 2025). Importa igualmente assinalar o papel crescente dos estudantes macaenses em Portugal, que se têm vindo a tornar protagonistas dinâmicos do intercâmbio entre as sociedades chinesa e portuguesa. A promoção de uma renovação de mentalidades exige o esforço colectivo de todos os sectores da sociedade macaense e um avanço coordenado em múltiplas frentes. A nível individual, os residentes de Macau devem cultivar uma visão prospectiva, romper com os modelos profissionais convencionais e adquirir competências especializadas em sectores emergentes como a economia digital, as indústrias criativas ou a medicina tradicional chinesa, reforçando continuamente a sua vantagem competitiva. As empresas, enquanto protagonistas do desenvolvimento económico, devem abandonar a passividade, adoptar uma postura proactiva de transformação, reforçar os investimentos em inovação tecnológica e investigação de produtos, e estreitar a cooperação com o Interior da China e com os mercados internacionais. Ao mesmo tempo, deverão procurar aprofundar as suas ligações com a Grande Baía e com os mercados exteriores, convertendo as vantagens de Macau enquanto plataforma em oportunidades comerciais concretas. Na realidade, o sector privado, pela sua eficiência, flexibilidade e orientação competitiva, desempenha um papel particularmente relevante na concretização da diversificação económica. Não obstante, é inegável que muitas empresas enfrentam o problema dos elevados custos de financiamento, o que pode limitar a sua capacidade de investimento — como tem sido amplamente discutido, inclusive em publicações académicas como o Blue Sky Blog da Faculdade de Direito da Universidade de Columbia. Para dar resposta a esta dificuldade, o Governo da RAEM lançou o “Plano de Apoio ao Empreendedorismo Jovem”, oferecendo empréstimos sem juros a jovens locais com espírito empreendedor mas com recursos limitados, proporcionando-lhes assim um apoio substancial. Esta medida traduz a visão governativa de pavimentar o caminho para a juventude e reforça o consenso social de que os jovens devem aproveitar esta conjuntura favorável e sair da sua “zona de conforto”. Mais importante ainda: os jovens locais, que vivem este momento crucial de transição, devem assumir conscientemente a missão histórica de conduzir Macau rumo a um modelo de desenvolvimento económico sustentável e diversificado. Em vez de questionarem “o que Macau pode fazer por mim?”, devem interrogar-se “o que posso eu fazer por Macau e pelo meu País?”, cultivando uma atitude de iniciativa e de serviço, fazendo da prosperidade nacional e regional a sua vocação. A nova geração deve libertar-se da dependência de uma via única de emprego no sector do jogo e alargar os seus horizontes profissionais, apostando na aprendizagem contínua e no aperfeiçoamento das suas competências — não apenas como exigência de desenvolvimento pessoal, mas também como imperativo para optimizar a estrutura de talentos da Região e promover o progresso social. Do ponto de vista estratégico nacional, o desenvolvimento de Hengqin contribuirá igualmente para a integração profunda de Macau na Grande Baía. A aplicação firme e contínua das importantes directrizes do Presidente Xi Jinping permitirá a Macau seguir com segurança o caminho certo traçado pelas políticas nacionais, rumo a um futuro promissor e previsível. Tal como a História nos ensina, os períodos de dificuldade são também momentos propícios à consolidação de consensos e à superação com determinação. Macau encontra-se numa encruzilhada histórica. Romper com a inércia, renovar conceitos e redefinir o rumo do desenvolvimento não é apenas urgente — é inadiável. Neste contexto de transformação, todos devemos apoiar de forma firme as políticas do Governo da RAEM nos domínios económico e social. Perante os desafios inevitáveis da transição económica, a sociedade macaense deve unir-se, empenhar-se com convicção no processo de diversificação, e promover, com espírito inovador e coesão social, a modernização da estrutura produtiva. Se, como escreveu Dickens, os piores tempos são também os melhores, então os empresários macaenses não devem perder a confiança perante as adversidades, mas sim enfrentá-las com coragem e criatividade, adoptando modelos de gestão inovadores capazes de responder aos desafios da transição económica e do progresso tecnológico. A sociedade como um todo deve abandonar o imobilismo, encarar as mudanças com valentia e transformar as dificuldades em oportunidades. Só com a acção concertada de indivíduos, empresas e autoridades será possível dar passos firmes na via do desenvolvimento económico moderadamente diversificado, escrevendo um novo capítulo na história de Macau — um capítulo de prosperidade duradoura e de progresso sustentável. *Presidente da Associação de Promoção Jurídica de Macau e Consultor Sénior do Think Tank “Sonho Chinês” ** Advogado, Investigador Associado do Centro de Estudos da Lei Básica de Hong Kong e Macau da Universidade de Shenzhen, Presidente do Think Tank “Sonho Chinês” e Deputado do Conselho Distrital de Hong Kong