Albergue SCM | Taoísmo expresso em nova mostra de Gao Shiqiang

É hoje inaugurada uma nova exposição no Albergue da Santa Casa da Misericórdia. Trata-se de “Teatro Shanshi – Exposição Individual de Arte de Gao Shiqiang: Comemoração do 25.º Aniversário da Transferência da Administração de Macau para a China”, com obras em vídeo ligadas ao universo e paisagens taoistas

 

O Albergue da Santa Casa da Misericórdia (SCM) acolhe hoje, a partir das 18h30, a mostra de Gao Shiqiang intitulada “Teatro Shanshi – Exposição Individual de Arte de Gao Shiqiang: Comemoração do 25.º Aniversário da Transferência da Administração de Macau para a China”, uma exposição onde o público local poderá ver trabalhos de vídeos relacionados com o conceito de “Sanshi”, ligado ao espírito e corpos humanos, mas mantendo igualmente uma conexão ao taoísmo e à cultura chinesa.

Podem ser vistas obras que “têm como pano de fundo montanhas e águas”, revelando-se “a paisagem do desenvolvimento da China”, transmitindo-se “a diversidade de consciências e a profundidade do tempo e do espaço no mundo das montanhas e águas”.

Patente no Albergue SCM até ao dia 5 de Janeiro, esta mostra é organizada pelo Círculo de Amigos da Cultura (CAC) do Albergue SCM, e conta com curadoria de Noah Ng, ligado à direcção do CAC, e de Wu Qiong, vice-presidente do departamento de Arte Experimental da School of Intermedia Art [Escola de Arte Intermédia] da Academia Chinesa das Artes. Segundo o manifesto apresentado pelos curadores, esta exposição nasce de um projecto desenvolvido na Escola de Arte Intermédia intitulado “Shanshi, a Cosmotechnic”. No âmbito desta iniciativa, foram desenvolvidas actividades por um colectivo de criadores coordenado por Gao Shiqiang.

“Entendemos o ‘Teatro Shanshi’ como o esforço de um colectivo criativo para recriar uma performance em torno da ‘cena Shanshi'”, levando as paisagens e tradições taoistas para “ambientes urbanos e espaços de exposição” através do trabalho criativo.

Desta forma, a ideia de “Teatro Sanshi” remete para a apresentação “de um contexto de desenvolvimento completo de ‘Shanshi’ que transita da ideia de ‘oculto’ para um lado ‘visível’ através da justaposição das obras dos artistas de diferentes fases”. O chamado “espírito shanshi”, que está “enraizado nas tradições filosóficas taoistas, há muito que está impresso nos genes culturais do povo chinês, manifestando-se como uma forma holística única de percepcionar, compreender e ligar com o mundo”. Há, depois, uma interligação com a arte contemporânea, com a ideia de “Shanshi” a ser “constantemente objecto de uma viagem de ‘partida – regresso’ para a maioria dos artistas chineses”. Para os curadores, esta mostra no Albergue SCM constitui “uma prova deste fenómeno”.

Seis partes

Na galeria do Albergue SCM podem ser vistas seis obras de Gao Shiqiang realizadas entre os anos de 2007 e 2022. São elas “Butterfly Lovers”, uma peça inspirada “na pungente história de amor popular chinesa de Liang Zhu”, em que “duas figuras históricas que não existem no mesmo espaço-tempo são fundidas num contexto narrativo especial”. Para este trabalho, o artista recorreu ao “reflexo mútuo de três casais para restaurar o amor e a história retratados na lenda”.

Segue-se a peça “The Other There”, que “observa com frieza as aldeias ao longo da fronteira entre a China e a Rússia, as fábricas em Mudanjiang e as paisagens urbanas em Hangzhou”.

Neste caso, há uma “exploração de temas populares, como a modernização e o consumismo que parecem ser meramente superficiais”, sendo que, aqui, “o artista procura um outro olhar que consiga transcender” uma certa lógica causal.

“Spring” e “QingBang”, duas instalações-vídeo em Zhoushan, uma cidade costeira em Zhejiang, foram criadas simultaneamente. Gao refere-se a estes dois trabalhos de forma humorística, descrevendo “QingBang” como o cenário de “Spring”. “QingBang” é, assim, descrito como um vídeo que “desperta sentimentos de nostalgia através do sonho de amor de dois jovens, reflectindo ainda mais a contemplação do artista” sobre esse tal olhar próprio.

No caso de “Spring”, revela-se “o desenvolvimento de Zhoushan, uma cidade situada na vanguarda da costa sudeste”, um dos símbolos do movimento económico de Reforma e Abertura vivido na China a partir de meados dos anos 80.

As restantes peças, nomeadamente “Shanshi, a Cosmotechnic” e “Dawn”, pertencem à “Série Shanshui” de Gao. O primeiro inaugura a série, enquanto “Dawn” apresenta “uma vista panorâmica da ‘paisagem de mil milhas’ das montanhas Taihang através de um único take longo sob a forma de um rolo longo”.

Em termos gerais, a “Série Shanshi” visa “revitalizar a tradição, partilhando a experiência de ‘Shanshi’ e a visão do mundo que lhe está subjacente, criando um novo ‘caminho para a compreensão contemporânea do mundo”.

Ainda segundo os curadores, todos os trabalhos expostos nesta mostra permitem uma observação de “múltiplas camadas de ligações ou contrastes”, sob os conceitos de “tempo – espaço, narrativa – não narrativa, tradição – modernidade, templo – floresta de montanha, natureza – civilização”.

Gao Shiqiang nasceu em Shandong em 1971, estando ligado à criação e investigação de escultura situacional, instalação e vídeo experimental desde meados dos anos 90. No início da década de 2000, os seus trabalhos de investigação e ensino começaram a centrar-se na arte da imagem em movimento, dedicando-se também à investigação narrativa.

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