Canal dos Patos | Exposição colectiva no Armazém do Boi revela preocupações ambientais

São muitos os artistas que dão corpo à nova exposição que estará patente no Armazém do Boi a partir de 11 de Setembro, embora alguns dos trabalhos possam ser vistos numa pré-exibição até ao dia 20 deste mês. Chama-se “A Field Investigation from Shizimen to Canal dos Patos”, e representa um conjunto de explorações artísticas em torno de duas zonas que geram preocupações ambientais. O arquitecto André Lui, além de ser um dos artistas integrantes na mostra, dá apoio na pesquisa histórica

 

São mais de dez, os artistas que fazem parte da nova mostra do Armazém do Boi que promete ser, ao mesmo tempo, um estudo exploratório e artístico em torno das zonas de Shizimen e Canal dos Patos, com a China e a RAEM tão perto. A mostra colectiva intitula-se “A Field Investigation From Shizimen to Canal dos Patos” [Um Trabalho Investigativo de Campo de Shizimen ao Canal dos Patos] acontece entre os dias 11 de Setembro e 4 de Outubro, tendo como curadores Wang Jing e Noah Fong Chao, presidente do Armazém do Boi. André Lui, arquitecto de Macau, é um dos artistas participantes e, ao mesmo tempo, colabora na área da investigação histórica sobre estes espaços.

Outro dos artistas que integra esta exposição é Saiyin, com a série de trabalhos intitulada “Outsider”, que estará em pré-exibição até ao dia 20 de Agosto. “Outsider” inclui uma instalação, “em que o artista escolhe o musgo como o elemento mais básico para exprimir a sua identidade como portador de uma longa deambulação entre Macau e Zhuhai”, descreve-se no programa oficial.

Foram escolhidos musgos de Macau e de Zhuhai para serem plantados em conjunto, sendo que, nesta série artística, representam “plantas com estruturas sociais diferentes” e que também diferem nos seus atributos, “porque crescem em ambientes diferentes”.

O artista reflecte sobre as mudanças que estes musgos sofrem entre Macau e Zhuhai, com duas atmosferas diferentes, quase como aquilo que acontece com residentes que deambulam entre cá e lá. “O musgo, a planta mais insignificante e mais discreta da natureza, tem uma vitalidade tenaz. O musgo que cresce no chão é utilizado para exprimir a sua compreensão da identidade da migração e da deambulação”, descrevendo-se também, de forma metafórica, “o problema de identidade que enfrenta nos dois ambientes”.

Além da instalação, foi criado um filme sobre “a experiência de observar e compreender o mundo e a sociedade em que vive como um forasteiro”.

Observar aves

Outra série de trabalhos que também já pode ser vista no Armazém do Boi, mas em formato de pré-exposição, intitula-se “Observation of Activities of Seabirds at the Macao-Zhuhai Border” [Observação das Actividades das Aves Marinhas na Fronteira Macau-Zhuhai”, da autoria de He Junyan.

Trata-se de um projecto “que aborda questões contemporâneas através da observação de actividades das aves marinhas na ligação das cidades costeiras e ilhas”.

É feita uma análise à ligação entre o ser humano e o ecossistema, sobretudo “nas regiões de urbanização profunda e com sistemas de governação diversificados” como é o caso da região da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau.

Neste contexto, “os organismos têm de se adaptar não só ao ambiente natural alterado devido ao planeamento e desenvolvimento urbano, mas também ao planeamento e construção de instalações e estruturas para a gestão da fronteira”. Essa fronteira “existe tanto na consciência dos residentes como é evidente nos traçados urbanos”, descreve-se.

No caso das aves marinhas não se observa “a consciência” da existência de uma fronteira entre Macau e Zhuhai, pois embora “as suas capacidades de voo lhes permitam atravessar as fronteiras sem o constrangimento dos regulamentos fronteiriços”, a verdade é que as suas rotinas diárias “são afectadas por desafios de planeamento urbano”. Um dos exemplos é a construção de pontes, que obriga as aves a voar a maiores altitudes, “limitando as suas zonas de caça ao rio antes de se retirarem para os mangais em declínio” perto da zona transfronteiriça. Além disso, “o desenvolvimento extensivo de infra-estruturas em zonas recentemente recuperadas também obriga estas aves marinhas a redefinir o seu sentido de casa em vários territórios”.

Desta forma, “este projecto explora o nexo de ligação entre a natureza, cidade e biologia”, à luz de questões como a habitação, o espaço ocupado pelos seres humanos e a sua relação com a natureza.

Outro trabalho também já presente no Armazém do Boi, é “Despertar do Sonho no Canal dos Patos”, de Lu Jun. Sobre esta obra, o artista refere que, no ano 2000, ele e a mulher decidiram ir viver para junto do Canal dos Patos”.

“Durante o dia víamos das janelas as garças brancas a circular graciosamente à volta do Canal dos Patos, enquanto as garças nocturnas sobrevoavam o canal à noite. Durante os períodos de chuva intensa e de marés astronómicas, as águas do canal transbordavam para as margens de Macau. Do lado de Macau do Canal dos Patos, havia barracas e edifícios baixos. Sempre que o fogo de artifício iluminava o céu perto do Hotel Lisboa, eu e a minha mulher deliciávamo-nos a observá-lo das janelas da nossa casa”, pode ler-se.

Lu Jun recorda ainda que, em apenas duas décadas, “a margem oposta transformou-se num horizonte de estruturas imponentes”, sendo que “o outrora extenso Canal dos Patos encolheu gradualmente e está agora num estado de desidratação”, restando apenas “usar a arte digital para relembrar o passado”.

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