Tailândia | ONU pede fim de transacções com Myanmar

O relator especial das Nações Unidas para os Direitos Humanos na Birmânia (Myanmar), Thomas Andrews, pediu ontem à Tailândia para suspender as transacções financeiras com a Junta Militar, impedindo a compra de armamento.

Perante uma comissão parlamentar em Banguecoque, Andrews recordou que a Tailândia é neste momento o primeiro aliado financeiro da Junta Militar, no poder em Myanmar, e que usa os bancos tailandeses para adquirir armamento que é utilizado contra civis.

O relator especial da ONU assinalou que a Junta Militar está neste momento afectada pelas ofensivas armadas das forças da oposição sendo que o Exército pretende multiplicar os ataques contra os civis que se encontram sob o abrigo de hospitais e mosteiros.

Andrews considera o plano dos militares do Myanmar uma “brutalidade sem fim”.

Assim, alertou que a “Junta pretende destruir (partes) do país que não pode controlar”.

Na intervenção parlamentar, que está a ser divulgada através das redes sociais, Andrews referiu-se ao relatório apresentado pelas Nações Unidas há duas semanas e que “demonstra” que as transacções com vista à compra de armas, através da Tailândia, atingiram os 60 milhões de dólares entre 2022 e 2023 e 120 milhões de dólares entre 2023 e o primeiro semestre de 2024.

O responsável das Nações Unidas recordou que os fundos são canalizados através de transacções complicadas e intermediários que compram componentes para helicópteros e aviões de guerra, assim como armas usadas para atacar a população civil.

“Os bancos tailandeses podem não ter consciência do aumento significativo das transacções cujos fundos provêm da Junta Militar para material bélico sofisticado usado para atacar civis”, disse.

O relator recordou que Singapura conseguiu reduzir drasticamente este tipo de transacções após uma investigação ao sistema bancário local.

Após a publicação do relatório da ONU, o Banco Central da Tailândia afirmou que as entidades do país obedecem às leis internacionais sobre lavagem de capitais, apesar de se ter comprometido a investigar em caso de se verificarem irregularidades.

Caos instalado

Na Birmânia, os grupos armados da oposição têm alcançado “algumas vitórias militares em várias regiões do país”.

As Forças de Defesa do Povo Mandalay e a guerrilha Ta’ang, que se opõem à Junta Militar, anunciaram ontem que tomaram uma cidade da província de Mandalay, norte, tendo apreendido 600 armas e munições, além de peças de artilharia.

Esta ofensiva faz parte da segunda fase da “operação 1027” lançada no dia 25 de Junho no norte e nordeste do país.

Na primeira fase da operação, que teve início em 27 de Outubro de 2023, vários guerrilheiros e milícias capturaram numerosos alvos no Estado de Shan, tendo os combates alastrado posteriormente a outras partes do país.

O golpe militar de 2021 pôs fim a dez anos de transição democrática agravando as situações de violência, com milhares de jovens a juntarem-se a grupos armados que lutam contra o Exército.

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