Novo filme de Luís Filipe Rocha “O teu rosto será o último” estreia hoje

O realizador português Luís Filipe Rocha, que chegou a filmar em Macau, acredita que “o território da família chega e sobra para contar a história da Humanidade”. Exemplo disso é o filme “O teu rosto será o último”, que estreia hoje em Portugal.

A longa-metragem de ficção chega agora aos cinemas mais de uma década depois de Luís Filipe Rocha ter lido o romance “O teu rosto será o último”, do escritor João Ricardo Pedro, e de ter comprado os direitos de adaptação.

“Fiquei absolutamente fascinado, arranjei um encontro com o escritor num café no Rossio, conversámos quatro horas. Parecia o [filme] ‘Casablanca’, o princípio de uma bela amizade”, lembrou o realizador em entrevista à agência Lusa.

Luís Filipe Rocha demorou a encontrar financiamento e a escrever o argumento a partir daquele romance de estreia, que valeu a João Ricardo Pedro o Prémio Leya 2011, mas o que o fez “tragar o anzol” da narrativa foi “a fascinante dificuldade” de alguém em não conseguir lidar com um dom.

Esse alguém é uma das personagens do romance e o protagonista do filme, Duarte, que nasceu com uma capacidade extraordinária de tocar piano, para a qual não estava preparado, e que renegou também pelas circunstâncias familiares em que cresceu, com um pai a lidar muito mal com os traumas da Guerra Colonial.

“Em todos os filmes que vi sobre artistas dotados, sobretudo na música, todas as histórias, a história do artista dotado, [o que sobressai] é o sacrifício, o martírio, a luta para impor o seu talento. O que me puxou foi essa fascinante dificuldade, a desarmonia entre um artista que recebe o dom de ser o maior ‘beethoviano’ do seu tempo, e o não-querer progressivo desse dom”, afirmou.

A vida de Duarte

A história situa-se, sobretudo, entre a revolução de 25 de Abril de 1974 e os anos 1990, acompanhando o crescimento de Duarte, entre a infância e a idade adulta, e a relação com os pais, na cidade, e com os avós paternos, no campo.

“O tema central é a luta do miúdo que aos 7 anos descobriu a música num piano sem som, uma espécie de epifania que o aterroriza, e depois o seu crescimento no seio da família; e há a História de Portugal que apanha a memória da ditadura, a guerra colonial e o pós-25 de abril”, disse o realizador.

O elenco integra Vicente Wallenstein, Nuno Nunes, Rita Durão, Adriano Luz, Pompeu José e Teresa Madruga, além dos jovens pianistas e actores Jaime Távora e Alexandre Carvalheiro.

Para o realizador, este “não é, de forma nenhuma, um filme sobre a Guerra Colonial”, mas ela está presente por circunstâncias da narrativa e como um dos “elementos de perturbação” do percurso do protagonista.

“Há uma tensão, para mim, narrativamente sempre, sempre exaltante que é a História e o indivíduo. Como é que individualmente todos nós, mesmo que não nos demos conta, estamos muito dependentes da História em que vivemos e morremos. [Por isso] defendo que para contar bem uma história podemos não sair do universo familiar. O território familiar chega e sobra para contar a história da Humanidade toda”, sublinhou o realizador.

Luís Filipe Rocha tem 76 anos e mais de 50 de percurso no cinema, desde que entrou, como actor, em “O recado” (1971), de José Fonseca e Costa. O primeiro filme, “Barronhos – Quem teve medo do poder popular?”, surgiria em 1976, seguindo-se “A Fuga” (1977), “Cerromaior” (1980), “Amor e dedinhos de pé” (1991), filmado em Macau com base no romance, com o mesmo nome, de Henrique de Senna Fernandes; “Camarate” (2000) ou “A outra margem” (2007), entre outros.

Também assinou duas obras de ficção que, tal como “O teu rosto será o último”, abordam “momentos decisivos” e transformadores na vida de alguém: “Adeus, pai” (1996), de transição da infância para adolescência, e “Sinais de Fogo” (1995), de passagem da adolescência para a idade adulta.

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