Poesia | Nuno Júdice faleceu este domingo aos 74 anos

Morreu este domingo o poeta português Nuno Júdice, aos 74 anos, vítima de doença prolongada. Júdice, considerado um dos principais nomes da poesia portuguesa contemporânea, e também um dos mais premiados, tanto a nível nacional como internacional, já tinha visto alguma da sua obra traduzida para chinês.

Mais recentemente, esse trabalho de tradução estava a ser feito uma segunda vez pelo académico, poeta e tradutor Yao Jingming, com a obra “O Peso do Mundo”, antologia de poemas. O projecto de tradução teve origem no 1573 – Prémio Internacional de Poesia, que foi atribuído em Sichuan a Nuno Júdice, tendo sido também patrocinada a edição do livro.

Em declarações ao HM em 2022, Nuno Júdice disse estar muito satisfeito por ver a sua poesia publicada numa outra língua, ainda por cima tão distinta do idioma original.

“A China tem uma longa tradição poética e há uma curiosidade e interesse pela poesia do mundo. Neste momento calhou-me a mim ter este prémio, o que dá mais relevo à minha carreira, sendo também prestigiante para a mim e para toda a poesia portuguesa. Portugal tem uma longuíssima relação com a China, e tendo em conta que estamos afastados, ter esta difusão da nossa literatura volta a formar o interesse na relação entre Portugal e a China.”

De resto, em Portugal já são muitas as vozes de pesar pela partida súbita do poeta.

“Foi com profundo pesar e sentida consternação que na Leya e principalmente na Dom Quixote tomamos conhecimento da triste notícia do falecimento de Nuno Júdice, hoje [domingo], em Lisboa, vítima de doença. Uma notícia que abalou todos os que trabalharam mais de perto com Nuno Júdice, mas, com toda a certeza, todos os seus muitos leitores e admiradores. E que sem dúvida deixa mais pobre a literatura e a poesia portuguesas”, pode ler-se no comunicado da editora Leya enviado à Lusa.

Letras e ensino

Nuno Júdice nasceu na Mexilhoeira Grande, em Portimão, no distrito de Faro, em 1949. Foi professor associado da Universidade Nova de Lisboa, instituição onde se doutorou em 1989 com a tese “O espaço do conto no texto medieval”. Poeta, ensaísta e ficcionista, Nuno Júdice foi, até 2015, professor na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

Júdice desempenhou o cargo de director da revista literária Tabacaria (1996-2009) e foi comissário para a área da Literatura da representação portuguesa na 49.ª Feira do Livro de Frankfurt. Desempenhou funções como conselheiro cultural da Embaixada de Portugal em Paris (1997-2004) e director do Instituto Camões na capital francesa.

Organizou a Semana Europeia da Poesia, no âmbito da Lisboa’94 – Capital Europeia da Cultura, e dirigiu a Revista Colóquio-Letras, da Fundação Calouste Gulbenkian. Literariamente, estreou-se em 1972 com o livro de poesia “A Noção de Poema”. Ao longo da carreira literária, Nuno Júdice foi distinguido com diversos prémios, entre os quais o Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-americana, em 2013, o Prémio Pen Clube, o Prémio D. Dinis da Casa de Mateus.

Recebeu o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, por “Meditação sobre Ruínas”, finalista do Prémio Europeu de Literatura.

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